caracterizaÇÃo acÚstica das vogais mÉdias...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute
INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICACcedilAtildeO
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS
MESTRADO EM LETRAS ndash ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS
GISELE BRAGA SOUZA
CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM
BARCARENAPA
BELEacuteMPA
2015
GISELE BRAGA SOUZA
CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM BARCARENAPA
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da
Universidade Federal do Paraacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em LetrasLinguiacutestica
Orientadora Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz
Beleacutem 27 de fevereiro de 2015
Presidente da banca
___________________________________________________
Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz ndash UFPA
Membro externo
___________________________________________________
Prof Dr Miguel Oliveira Jr ndash UFAL
Membro interno
___________________________________________________
Prof Dr Doriedson do Socorro Rodrigues ndash UFPACampus de Cametaacute
Suplente
___________________________________________________
Prof Dra Raimunda Cristina Benedita Caldas ndash UFPACampus de Braganccedila
A Deus que eacute meu guia e a Socorro
Cosme e Bruna minha fortaleza
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus
objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida
Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e
confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e
acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos
A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de
dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais
precisasse
A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo
valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria
Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor
compartilhado
Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer
academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por
sempre estar perto mesmo quando estaacute longe
Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na
busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre
A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse
pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o
auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional
Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por
partilhar conhecimentos tatildeo preciosos
Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas
conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no
curso muito mais divertida e agradaacutevel
A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a
ajuda prestada
A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo
auxiacutelio financeiro
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela
oportunidade de crescimento acadecircmico
A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste
trabalho
Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como
conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar
seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua
epifania
Joseacute Luiz Fiorin
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
GISELE BRAGA SOUZA
CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS
PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM BARCARENAPA
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da
Universidade Federal do Paraacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Mestre em LetrasLinguiacutestica
Orientadora Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz
Beleacutem 27 de fevereiro de 2015
Presidente da banca
___________________________________________________
Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz ndash UFPA
Membro externo
___________________________________________________
Prof Dr Miguel Oliveira Jr ndash UFAL
Membro interno
___________________________________________________
Prof Dr Doriedson do Socorro Rodrigues ndash UFPACampus de Cametaacute
Suplente
___________________________________________________
Prof Dra Raimunda Cristina Benedita Caldas ndash UFPACampus de Braganccedila
A Deus que eacute meu guia e a Socorro
Cosme e Bruna minha fortaleza
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus
objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida
Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e
confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e
acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos
A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de
dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais
precisasse
A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo
valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria
Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor
compartilhado
Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer
academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por
sempre estar perto mesmo quando estaacute longe
Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na
busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre
A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse
pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o
auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional
Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por
partilhar conhecimentos tatildeo preciosos
Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas
conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no
curso muito mais divertida e agradaacutevel
A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a
ajuda prestada
A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo
auxiacutelio financeiro
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela
oportunidade de crescimento acadecircmico
A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste
trabalho
Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como
conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar
seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua
epifania
Joseacute Luiz Fiorin
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
A Deus que eacute meu guia e a Socorro
Cosme e Bruna minha fortaleza
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus
objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida
Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e
confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e
acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos
A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de
dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais
precisasse
A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo
valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria
Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor
compartilhado
Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer
academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por
sempre estar perto mesmo quando estaacute longe
Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na
busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre
A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse
pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o
auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional
Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por
partilhar conhecimentos tatildeo preciosos
Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas
conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no
curso muito mais divertida e agradaacutevel
A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a
ajuda prestada
A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo
auxiacutelio financeiro
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela
oportunidade de crescimento acadecircmico
A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste
trabalho
Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como
conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar
seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua
epifania
Joseacute Luiz Fiorin
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus
objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida
Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e
confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e
acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos
A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de
dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais
precisasse
A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo
valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria
Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor
compartilhado
Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer
academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por
sempre estar perto mesmo quando estaacute longe
Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na
busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre
A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse
pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o
auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional
Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por
partilhar conhecimentos tatildeo preciosos
Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas
conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no
curso muito mais divertida e agradaacutevel
A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a
ajuda prestada
A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo
auxiacutelio financeiro
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela
oportunidade de crescimento acadecircmico
A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste
trabalho
Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como
conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar
seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua
epifania
Joseacute Luiz Fiorin
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como
conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar
seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua
epifania
Joseacute Luiz Fiorin
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
RESUMO
O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de
BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do
PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico
aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por
amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados
socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima
de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees
das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores
Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os
informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo
Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo
preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese
apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem
disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase
o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia
da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem
diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem
discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas
distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada
PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
ABSTRACT
This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute
focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This
research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its
goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken
in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native
informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25
years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and
upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back
vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected
informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing
measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary
aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in
BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range
give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists
researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in
case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by
the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in
the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces
in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very
different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar
and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of
vowels was also observed
KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da
Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela
Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
20
Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo
utilizada na pesquisa
35
Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de
medidas
38
Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos
dados
39
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e
nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
40
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no
texto utilizado para a coleta de dados de fala lida
34
Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo
dos informantes
36
Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de
BarcarenaPA
37
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
41
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
42
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
43
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da
terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
44
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena
(BE1) classificadas por escolaridade
46
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de
Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
47
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais
meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e
Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas
nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
22
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30
31 Localizaccedilatildeo 30
32 Histoacuteria 31
33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33
41 Perfil dos sujeitos 33
42 Coleta de dados 33
43 Tratamento 35
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52
REFEREcircNCIAS 54
ANEXOS 57
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
14
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de
diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No
norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na
Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-
Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)
A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas
pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na
Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees
sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no
estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades
locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash
(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em
andamento)
Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como
objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica
falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as
distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees
para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense
A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu
estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de
fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa
etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental
meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico
foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores
A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas
aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do
portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no
municiacutepio de BarcarenaPA
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
15
Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no
primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do
portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais
no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus
respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as
particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos
procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo
exibidos e discutidos
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
16
Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL
O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na
Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o
comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea
metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se
propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de
abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores
Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus
de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em
escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade
foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez
contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante
Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento
estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em
posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa
consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade
da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal
candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica
foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona
geograacutefica de residecircncia
Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais
inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para
o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde
22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar
que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem
disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais
meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e
abaixamento
Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno
indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores
As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
17
alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como
favoraacutevel ao alteamento
Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram
empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do
PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute
Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte
Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp
ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS
et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu
Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos
compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um
tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo
finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das
mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)
A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados
anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves
Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)
sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento
no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo
das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem
Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36
informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes
consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a
presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto
seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem
disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o
alteamento
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
18
Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea
rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes
nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma
tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na
variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave
siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a
distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a
presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas
No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42
informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados
mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo
significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo
alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do
alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias
(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica
Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48
informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como
favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica
aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio
favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo
na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-
se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)
Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias
do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a
presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba
seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o
alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes
a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste
do Paraacute
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
19
Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas
no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do
fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados
obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute
favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas
c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte
a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados
mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno
estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto
local
O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo
pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48
entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se
controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e
grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final
foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das
variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de
ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de
alteamento (36)
Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os
resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico
apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do
alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto
Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e
geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
20
Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de
acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA
A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo
aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da
qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante
do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes
abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul
Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a
questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais
correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que
se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte
que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente
Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO
compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que
contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual
os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo
das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que
prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto
(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente
entre os dialetos do Norte do Brasil
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
21
Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais
meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a
necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da
particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se
por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de
perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais
meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de
investigaccedilatildeo
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
22
Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS
BRASILEIRO
Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do
portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e
Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado
no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave
Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)
Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e
postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro
Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e
segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco
capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs
posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas
vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais
Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a
partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea
urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)
Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa
Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e
675 postocircnicas
Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de
anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro
seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais
posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto
Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior
grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre
Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo
horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos
outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas
natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador
que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas
nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
23
sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as
vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre
seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas
Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas
VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais
indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo
a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente
um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal
a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento
Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e
postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a
anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo
mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em
relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as
vogais altas e eleva a vogal baixa
Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e
com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs
europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo
significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as
vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as
vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo
no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal
distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo
Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo
bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das
vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta
tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o
e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do
Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a
anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e
Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista
constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
24
anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de
vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs
brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais
cardeais
Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as
vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao
sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica
neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal
Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do
portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa
produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute
destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o
processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u
Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-
se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a
produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u
Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil
apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al
(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o
mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento
assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria
relacionada agrave altura de F1
Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal
corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de
processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada
consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no
portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU
et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias
articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs
brasileiro
Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que
caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
25
de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado
anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a
posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema
postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais
compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva
a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema
tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu
Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da
produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-
acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a
centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)
observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia
vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois
tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais
proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas
Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de
harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia
corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o
comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da
dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte
No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um
de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus
utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis
combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma
obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)
Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os
dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais
proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O
interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a
regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
26
maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais
alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]
Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de
harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho
de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais
tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo
entre estes valores
A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e
meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo
harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano
apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo
por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo
Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na
pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia
vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos
analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre
O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as
caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu
tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais
aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou
especiacuteficos do dialeto
O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de
Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra
metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia
fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)
Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do
portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens
adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram
a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo
poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0
(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)
deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
27
brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no
portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos
As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos
falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de
um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do
tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os
vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa
sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No
primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal
final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco
ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo
No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram
observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um
fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da
vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que
elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o
portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia
alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do
pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira
No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte
Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral
no Departamento de Linguiacutestica da New York University
O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e
acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram
utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram
estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria
(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e
superior)
Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por
meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou
com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta
1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
28
variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados
anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo
formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856
ocorrecircncias foram analisadas
Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das
vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da
Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se
constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas
Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina
as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas
apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores
todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala
masculina
Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes
(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do
portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz
et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram
estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade
A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos
selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a
estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor
sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais
pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos
dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de
posteriores
O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior
frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo
distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo
bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina
Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as
quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
29
(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de
variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece
bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais
baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na
fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais
acentuada
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
30
Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA
Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de
modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma
31 Localizaccedilatildeo
Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de
Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99
859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo
alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas
De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do
Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e
Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito
sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se
com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e
Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em
estudo
Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA
Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
31
32 Histoacuteria
Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que
trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os
primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram
catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de
freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros
histoacutericos mais exatos
Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram
conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de
propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de
Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos
acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem
Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da
presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada
como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois
termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena
33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos
O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave
condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-
portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do
desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para
outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso
inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes
(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos
de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma
anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e
por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da
fala da localidade
De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave
implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
32
mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees
significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas
e sociais
Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial
diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada
de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece
em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e
ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de
serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos
naturais
Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico
As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de
existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo
vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio
das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando
um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana
[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e
de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside
atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do
distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e
de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo
social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)
Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash
nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma
reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que
outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana
Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de
muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute
mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade
referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que
Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital
paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de
outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
33
Capiacutetulo 4 METODOLOGIA
Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A
metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais
estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado
41 Perfil dos sujeitos
O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao
protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas
para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de
Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo
para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes
deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses
casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo
poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade
Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino
masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel
fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de
texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente
42 Coleta de dados
Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por
meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)
fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta
Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos
presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores
favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho
variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
34
Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de
dados de fala lida
e o
aposentado bebidas aposentado bonecas
cabeludos cervejas corujas costurar
certificado escravo comer costureiras
empregos fechado comandante rocambole
estante menino meninas borracha domingo
futebol pequeno hospitais coleacutegios
mosqueteiros preciso moeda cozinha
pescador presidente mosqueteiros morador
presente presiacutedio poliacutecia namorados
querida remeacutedios Rondocircnia profundo
repolhos segundo toalha sobrinho
setenta senhoras procissatildeo tomate
tesoura teatro
veado vergonha
O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a
paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma
leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que
a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees
ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar
sobre o tema
Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de
compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a
pesquisa
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
35
43 Tratamento
Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que
compreendeu
1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis
enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como
ilustra a Figura 02
Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa
2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais
com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo
Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa
etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a
variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-
se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o
coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45
anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de
escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
36
do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o
teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a
identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo
montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia
no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa
PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir
Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes
Coacutedigo Significado
B Portuguecircs brasileiro
E Norte Vogais
0 Beleacutem
1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)
2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)
3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)
F Informante do sexo Feminino
M Informante do sexo Masculino
A Grau de Escolaridade (Fundamental)
B Grau de Escolaridade (Meacutedio)
C Grau de Escolaridade (Superior)
0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante
Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida
De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes
por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica
O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
37
Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA
Informante
Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo
BE1F1A01Y 04min31seg
BE1F1B02Y 03min57seg
BE1F1C03Y 03min42seg
BE1M1A04Y 04min13seg
BE1M1B05Y 03min30seg
BE1M1C06Y 03min56seg
BE1F2A07Y 06min52seg
BE1F2B08Y 04min10seg
BE1F2C09Y 04min28seg
BE1M2A10Y 17min36seg
BE1M2B11Y 05min02seg
BE1M2C12Y 04min26seg
BE1F3A13Y 07min07seg
BE1F3B14Y 04min58seg
BE1F3C15Y 04min06seg
BE1M3A16Y 06min26seg
BE1M3B17Y 05min18seg
BE1M3C18Y 05min20seg
3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de
dados
4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada
informante
5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas
acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo
Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as
tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a
escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os
homens de 70 Hz-200 Hz
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
38
6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo
7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo
8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos
9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal
A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute
a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na
janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo
ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0
Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas
Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script
analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido
pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi
dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas
10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de
realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para
verificar a relevacircncia dos valores
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
39
Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados
De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes
estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a
visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico
No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees
sobre os mesmos
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
40
Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO
A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia
Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento
como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)
abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do
vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa
realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e
por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens
Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias
pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407
posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por
sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz
Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos
valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada
Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A
variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto
na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo
levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute
privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et
al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008
SOUSA 2010)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277
e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238
E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189
O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149
o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209
u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
41
Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas
pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a
variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes
baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante
menos preferida na fala da comunidade
De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos
dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo
acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino
Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1)
A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina
em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante
meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que
evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado
nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo
2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento
entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo
i
e
E
O
o
u
i
e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
42
bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a
de ambas para a variante [E]
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam
significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo
entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na
pesquisa realizada na capital paraense
Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se
que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e
a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos
acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]
estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina
Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados
considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos
posteriormente
Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)
i
e
E
O
o
u
i
e
E O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i fala feminina fala masculina
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
43
Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos
as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas
manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes
anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se
mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e
[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da
variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute
bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior
entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e
fechada posteriores
Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes
baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia
que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de
[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria
de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina
Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de
fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
750
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1(Hz)
i i fala masculina fala feminina
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
44
Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria
de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia
fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala
masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos
na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo
acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e
distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto
grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia
significativa da variante baixa [O]
No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute
mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u
ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos
A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45
anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa
Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala
lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)
e
E
i
O
o
u
e
E
i
O
o
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
e e fala feminina fala masculina
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
45
No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as
variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto
na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante
alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo
nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos
No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a
meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na
variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada
com mais evidecircncia na fala feminina
Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os
mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa
etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de
variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25
anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo
acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de
modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores
iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos
A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou
mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida
tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina
Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo
divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas
duas caracteriacutesticas dos informantes
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
46
Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por
escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino
superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a
distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino
meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada
No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala
do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala
do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo
acuacutestico
Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior
apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino
superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia
fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar
praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale
destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de
escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
u
i e
E
O
o u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
47
Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade
No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs
escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande
distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos
bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]
apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico
Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do
ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem
diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino
fundamental e do superior
Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas
anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs
escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo
na fala dos trecircs niacuteveis
i e
E
O
o
u
i
e
E
O
o
i
e
E
O
o u
u
350
400
450
500
550
600
650
700
500 1000 1500 2000 2500
F2 (Hz)
F1 (Hz)
i i i fundamental meacutedio superior
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
48
Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre
[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave
centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental
Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos
por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo
espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os
homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de
ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina
como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico
evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas
anteriores
O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior
entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto
na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores
bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre
as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das
vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos
Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi
evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia
variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais
anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi
evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de
Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs
brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de
Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento
Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a
assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do
processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de
elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud
Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade
oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
49
de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no
estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas
No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em
algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal
Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]
jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta
anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina
o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores
no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores
de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com
a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)
No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em
grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de
que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e
segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua
respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais
vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)
considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores
muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um
volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)
Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute
investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos
que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
50
Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes
ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das
variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena
Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar
o [u] mais distante das demais variantes
Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina
nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
51
No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como
na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades
estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos
de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande
proximidade entre [u] e [o]
Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena
(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)
Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]
apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre
com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por
sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em
Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do
estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento
como a segunda variante de maior preferecircncia
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
52
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais
meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus
analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade
estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um
texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram
analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407
posteriores
A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na
variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo
das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas
sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no
portuguecircs falado no Paraacute
Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante
alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma
grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e
[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na
fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico
Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na
fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo
muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta
proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados
tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute
Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a
45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens
variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a
segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo
entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de
variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do
ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
53
No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil
verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes
et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o
F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante
proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii
(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3
(grau de arredondamento)
Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das
vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos
descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho
sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser
comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica
possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
54
REFEREcircNCIAS
ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em
dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013
Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em
201114 agraves 10h15min
BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo
territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas
territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute
2011
CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais
no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no
ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144
CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio
de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute
Beleacutem UFPA
CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves
(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa
Ideia 2009 pp 163-184
CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise
experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento
COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado
no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE
2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-
finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia
v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
55
CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis
(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University
(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011
_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em
Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE
FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012
DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do
municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da
Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min
ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European
Portuguese 2009 Disponiacutevel em
lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves
20h30min
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA
lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico
s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h
KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese
Harmony and Dispersion MIT ms 2011
MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na
Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo
da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999
MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do
portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed
Unicamp 2002
MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do
municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014
(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)
NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro
UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
56
OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de
BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)
RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs
falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista
In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo
no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126
RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos
distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S
(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute
Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011
SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de
Janeiro Presenccedila 1977 [1957]
SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana
do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal
do Paraacute Beleacutem UFPA
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
57
ANEXOS
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
58
ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida
A marca da nacionalidade brasileira
No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do
mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do
tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque
na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele
velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde
o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada
pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho
Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados
deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de
funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os
hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual
ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde
Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas
com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute
comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio
Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas
refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo
Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador
que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono
profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em
uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior
vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um
certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um
segundo imaginar jogar a toalha
Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite
noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees
constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros
alimentos de nossa culinaacuteria brasileira
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
59
Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo
(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute
preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por
partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa
naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir
Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os
meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um
presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014
Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra
Em amarelo - vocaacutebulos alvo
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
60
ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do (a) Participante__________________________________________________
Endereccedilo ______________________________________________________________
______________________________________________________________________
Telefone (____)_________________________________________________________
Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________
Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)
Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo
1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense
caracterizaccedilatildeo acuacutestica
2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do
Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs
falado no municiacutepio de Barcarena (PA)
3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras
relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo
4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha
participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados
cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para
fins cientiacuteficos
5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados
em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha
identidade seja revelada
6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a
pesquisadora_______________________________________a qualquer momento
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
61
Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua
utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de
consentimento
Assinatura do informante
Data
______
Assinatura do pesquisador
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
62
ANEXO III Ficha do informante
Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO
Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute
Mocajuba Breves e Barcarena
Coordenaccedilatildeo
FICHA DE INFORMANTE
Coacutedigo correspondente ____________
Nome (iniciais do nome)
Idade
Sexo
Niacutevel de escolaridade
Data e local da gravaccedilatildeo
Com consentimento escrito
Sem consentimento escrito
PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Observaccedilotildees____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309
63
ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e
desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria
1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)
2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)
3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241
e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281
E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268
O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122
o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218
u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241
e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247
E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155
O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102
o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197
u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248
Variante
Nordm de
ocorrecircncias
Meacutedia Desvio
F1 F2 F1 F2
Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem
i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335
e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171
E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137
O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175
o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195
u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309