caracterizaÇÃo acÚstica das vogais mÉdias...

63
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ESTUDOS LINGUÍSTICOS GISELE BRAGA SOUZA CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS DO PORTUGUÊS FALADO EM BARCARENA/PA BELÉM/PA 2015

Upload: others

Post on 09-Sep-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICACcedilAtildeO

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM LETRAS

MESTRADO EM LETRAS ndash ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS

GISELE BRAGA SOUZA

CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM

BARCARENAPA

BELEacuteMPA

2015

GISELE BRAGA SOUZA

CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM BARCARENAPA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da

Universidade Federal do Paraacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em LetrasLinguiacutestica

Orientadora Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz

Beleacutem 27 de fevereiro de 2015

Presidente da banca

___________________________________________________

Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz ndash UFPA

Membro externo

___________________________________________________

Prof Dr Miguel Oliveira Jr ndash UFAL

Membro interno

___________________________________________________

Prof Dr Doriedson do Socorro Rodrigues ndash UFPACampus de Cametaacute

Suplente

___________________________________________________

Prof Dra Raimunda Cristina Benedita Caldas ndash UFPACampus de Braganccedila

A Deus que eacute meu guia e a Socorro

Cosme e Bruna minha fortaleza

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus

objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida

Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e

confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e

acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos

A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de

dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais

precisasse

A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo

valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria

Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor

compartilhado

Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer

academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por

sempre estar perto mesmo quando estaacute longe

Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na

busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre

A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse

pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o

auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional

Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por

partilhar conhecimentos tatildeo preciosos

Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas

conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no

curso muito mais divertida e agradaacutevel

A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a

ajuda prestada

A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo

auxiacutelio financeiro

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela

oportunidade de crescimento acadecircmico

A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste

trabalho

Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como

conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar

seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua

epifania

Joseacute Luiz Fiorin

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 2: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

GISELE BRAGA SOUZA

CARACTERIZACcedilAtildeO ACUacuteSTICA DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS DO PORTUGUEcircS FALADO EM BARCARENAPA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da

Universidade Federal do Paraacute como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em LetrasLinguiacutestica

Orientadora Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz

Beleacutem 27 de fevereiro de 2015

Presidente da banca

___________________________________________________

Prof Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz ndash UFPA

Membro externo

___________________________________________________

Prof Dr Miguel Oliveira Jr ndash UFAL

Membro interno

___________________________________________________

Prof Dr Doriedson do Socorro Rodrigues ndash UFPACampus de Cametaacute

Suplente

___________________________________________________

Prof Dra Raimunda Cristina Benedita Caldas ndash UFPACampus de Braganccedila

A Deus que eacute meu guia e a Socorro

Cosme e Bruna minha fortaleza

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus

objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida

Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e

confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e

acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos

A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de

dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais

precisasse

A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo

valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria

Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor

compartilhado

Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer

academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por

sempre estar perto mesmo quando estaacute longe

Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na

busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre

A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse

pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o

auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional

Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por

partilhar conhecimentos tatildeo preciosos

Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas

conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no

curso muito mais divertida e agradaacutevel

A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a

ajuda prestada

A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo

auxiacutelio financeiro

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela

oportunidade de crescimento acadecircmico

A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste

trabalho

Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como

conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar

seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua

epifania

Joseacute Luiz Fiorin

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 3: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

A Deus que eacute meu guia e a Socorro

Cosme e Bruna minha fortaleza

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus

objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida

Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e

confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e

acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos

A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de

dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais

precisasse

A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo

valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria

Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor

compartilhado

Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer

academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por

sempre estar perto mesmo quando estaacute longe

Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na

busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre

A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse

pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o

auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional

Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por

partilhar conhecimentos tatildeo preciosos

Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas

conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no

curso muito mais divertida e agradaacutevel

A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a

ajuda prestada

A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo

auxiacutelio financeiro

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela

oportunidade de crescimento acadecircmico

A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste

trabalho

Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como

conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar

seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua

epifania

Joseacute Luiz Fiorin

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 4: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo primeiramente a Deus que sempre me deu forccedila para lutar pelos meus

objetivos A Ele sou imensamente grata por mais esta conquista na minha vida

Aos meus pais Socorro e Cosme meus exemplos de vida por todo o apoio e

confianccedila por estarem ao meu lado sempre por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos e

acreditarem na realizaccedilatildeo dos mesmos

A minha irmatilde Bruna companheira de todas as horas por ser um exemplo de

dedicaccedilatildeo e inteligecircncia por me ajudar com os graacuteficos tabelas e tudo o que eu mais

precisasse

A minha avoacute Ceci pelo auxiacutelio na minha criaccedilatildeo por me passar princiacutepios tatildeo

valiosos e pela certeza de que a minha vitoacuteria eacute a sua vitoacuteria

Aos meus tios e tias primos e primas por todo o carinho incentivo e amor

compartilhado

Ao Viniacutecius por me incentivar a ingressar no mestrado por me motivar a crescer

academicamente por apoiar meus planos por todo o amor que a mim tem dedicado e por

sempre estar perto mesmo quando estaacute longe

Aos meus queridos Silvia e Francisco por serem incansaacuteveis ao me auxiliarem na

busca pelos informantes e na coleta dos dados Agradeccedilo pelo carinho de sempre

A minha orientadora Prof Dra Regina Cruz por despertar em mim o interesse

pela Foneacutetica Acuacutestica desde o primeiro contato com a disciplina Sou muito grata por todo o

auxiacutelio estiacutemulo confianccedila paciecircncia e pelo exemplo profissional

Aos meus professores do mestrado em especial ao Prof Dr Abdelhak Razky por

partilhar conhecimentos tatildeo preciosos

Aos meus colegas de mestrado pelas experiecircncias compartilhadas pelas

conversas pela companhia nas viagens a eventos acadecircmicos e por tornarem a vivecircncia no

curso muito mais divertida e agradaacutevel

A minha colega Mara Reis pelo auxiacutelio com o programa PRAAT e por toda a

ajuda prestada

A Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pelo

auxiacutelio financeiro

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras da Universidade Federal do Paraacute pela

oportunidade de crescimento acadecircmico

A todos que de uma forma ou de outra contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo deste

trabalho

Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como

conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar

seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua

epifania

Joseacute Luiz Fiorin

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 5: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

Sem conhecer a Linguiacutestica natildeo haacute como

conhecer a linguagem natildeo haacute como decifrar

seus misteacuterios natildeo haacute como revelar sua

epifania

Joseacute Luiz Fiorin

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 6: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

RESUMO

O presente estudo visa caracterizar acusticamente o portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

tendo como foco as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica falada no municiacutepio de

BarcarenaPA Esta pesquisa eacute vinculada ao projeto Norte Vogais integrante do

PROBRAVO que tem como um de seus objetivos analisar acusticamente o sistema vocaacutelico

aacutetono do Portuguecircs Brasileiro (PB) falado no estado do Paraacute O corpus total eacute composto por

amostras de fala de 18 (dezoito) informantes nativos de BarcarenaPA estratificados

socialmente em sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima

de 45 anos) e niacutevel de escolaridade (fundamental meacutedio e superior) Ao todo 818 realizaccedilotildees

das vogais meacutedias pretocircnicas orais foram analisadas sendo 411 anteriores e 407 posteriores

Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto sobre futebol por meio do qual os

informantes selecionados produziram 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica No tratamento dos dados foram tomadas medidas de F1 e F2 (Hz) das vogais alvo

Constatou-se a partir da anaacutelise empreendida que os falantes da variedade estudada datildeo

preferecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias resultado que corrobora com a hipoacutetese

apresentada nos estudos variacionistas realizados pela equipe do projeto Norte Vogais Aleacutem

disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase

o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia

da variante meacutedia aberta No caso das posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem

diferenciados Em contrapartida na fala masculina as variantes anteriores estatildeo bem

discriminadas e a variante alta e a meacutedia fechada posteriores estatildeo muito proacuteximas

distanciando-se significativamente na variante meacutedia aberta posterior Uma tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo das vogais tambeacutem foi observada

PALAVRAS-CHAVE Vogais meacutedias pretocircnicas Anaacutelise acuacutestica Portuguecircs brasileiro

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 7: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

ABSTRACT

This study aims to acoustically characterize the Portuguese spoken in the AmazonParaacute

focusing unstressed medium vowels of language variety spoken in BarcarenaPA This

research is linked to the Norte Vogais project part of PROBRAVO which has as one of its

goals acoustically analyze the unstressed vowel system of Brazilian Portuguese (BP) spoken

in the state of Paraacute Total corpus is formed by 18 (eighteen) speech samples of native

informants from BarcarenaPA socially stratified for sex (male and female) age group (15-25

years 26-45 years and above 45 years) and level of education (elementary middle and

upper) In the whole 818 occurrences were analyzed being 411 front vowels and 407 back

vowels Data were obtained from the reading of a text about football whereby the selected

informants produced 53 words containing the vowels in pretonic position In data processing

measures of F1 and F2 (Hz) of the target vowels were taken Thus we present preliminary

aspects of the behavior of middle unstressed vowels in the language variety spoken in

BarcarenaPA It was found from the analysis undertaken that speakers of the studied range

give preference to the maintenance of middle vowels similar to that found in variationists

researches made by the members of Norte Vogais project In addition it was found that in

case of front vowels the high variant occupies almost the same acoustic space occupied by

the medium closed and the two variant maintains a large distance from the medium open in

the female speech In the case of the back vowels they occupy very different acoustic spaces

in female speech In contrast in the male speech the variants of front vowels occupy very

different acoustic spaces and the high variant and the closed of front vowels are very similar

and significantly distant from the medium open variant A tendency to centralization of

vowels was also observed

KEYWORDS Medium unstressed vowels Acoustic analysis Brazilian Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 8: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 ndash Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da

Amazocircnia Paraense de acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela

Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

20

Figura 02 ndash Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo

utilizada na pesquisa

35

Figura 03 - Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de

medidas

38

Figura 04 ndash Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos

dados

39

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 9: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 ndash Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA 30

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 10: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Meacutedia dos valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada e

nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

40

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 11: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 ndash Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no

texto utilizado para a coleta de dados de fala lida

34

Quadro 02 ndash Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo

dos informantes

36

Quadro 03 ndash Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica preliminar da variedade de

BarcarenaPA

37

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 12: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

41

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

42

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

43

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da

terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

44

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina do corpus de fala lida da variedade de Barcarena

(BE1) classificadas por escolaridade

46

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina do corpus de fala lida da variedade de

Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

47

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala feminina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais

meacutedias pretocircnicas da fala masculina nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e

Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas

nas variedades de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 13: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL 16

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

22

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA 30

31 Localizaccedilatildeo 30

32 Histoacuteria 31

33 A escolha da localidade particularidades sociais e poliacuteticas 31

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA 33

41 Perfil dos sujeitos 33

42 Coleta de dados 33

43 Tratamento 35

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 40

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 52

REFEREcircNCIAS 54

ANEXOS 57

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 14: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

14

INTRODUCcedilAtildeO

O sistema vocaacutelico aacutetono do portuguecircs brasileiro jaacute foi objeto de investigaccedilatildeo de

diversos estudos principalmente sob a perspectiva da Sociolinguiacutestica Variacionista No

norte do Brasil destacam-se as pesquisas empreendidas pelo projeto Norte Vogais sediado na

Universidade Federal do Paraacute que eacute integrante do PROBRAVO (Projeto Descriccedilatildeo Soacutecio-

Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs do Brasil)

A equipe da UFPA integrante do PROBRAVO jaacute tendo realizado diversas

pesquisas de cunho variacionista e avanccedilado bastante nas descriccedilotildees do portuguecircs falado na

Amazocircnia Paraense estabeleceu uma nova diretriz refinar os resultados das descriccedilotildees

sociolinguiacutesticas procedendo agrave anaacutelise acuacutestica das vogais aacutetonas do portuguecircs falado no

estado do Paraacute Nesse sentido o referido projeto jaacute conta com corpora de quatro variedades

locais Beleacutem ndash BE0 ndash (CRUZ 2011 CRUZ COSTA SILVA 2012) Cametaacute ndash BE4 ndash

(MORAES 2014) Mocajuba ndash BE5 ndash e Braganccedila ndash BE3 ndash (CAVALCANTE em

andamento)

Nessa perspectiva o presente estudo vinculado ao Norte Vogais tem como

objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas da variedade linguiacutestica

falada no municiacutepio de BarcarenaPA Diante da importacircncia que as vogais tecircm para as

distinccedilotildees dialetais no Portuguecircs Brasileiro esta pesquisa visa trazer grandes contribuiccedilotildees

para os estudos linguiacutesticos revelando caracteriacutesticas acuacutesticas do sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense

A metodologia adotada segue as diretrizes estabelecidas por Cruz (2011) em seu

estaacutegio poacutes-doutoral na New York University Sendo assim o estudo conta com amostras de

fala de 18 informantes os quais foram estratificados em sexo (feminino e masculino) faixa

etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental

meacutedio e superior) No tratamento dos dados foram tomadas as medidas do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes com o auxiacutelio do programa PRAAT Para o tratamento estatiacutestico

foi utilizado o programa Excel Ao todo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407 posteriores

A motivaccedilatildeo da pesquisa surgiu aleacutem do interesse pelo tema despertado nas

aulas da disciplina Foneacutetica Acuacutestica em virtude da carecircncia de descriccedilotildees acuacutesticas do

portuguecircs falado no norte do Brasil e da ausecircncia de estudos linguiacutesticos realizados no

municiacutepio de BarcarenaPA

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 15: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

15

Dessa forma a presente dissertaccedilatildeo estaacute estruturada da seguinte forma no

primeiro capiacutetulo satildeo abordadas algumas pesquisas sobre o sistema vocaacutelico aacutetono do

portuguecircs falado no norte do Brasil especialmente as realizadas pelo projeto Norte Vogais

no segundo capiacutetulo alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do portuguecircs brasileiro e seus

respectivos resultados satildeo mostrados no terceiro capiacutetulo satildeo apresentadas as

particularidades da localidade estudada BarcarenaPA no quarto capiacutetulo haacute a descriccedilatildeo dos

procedimentos metodoloacutegicos adotados na pesquisa e no quinto capiacutetulo os resultados satildeo

exibidos e discutidos

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 16: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

16

Capiacutetulo 1 O VOCALISMO AacuteTONO NO NORTE DO BRASIL

O primeiro estudo sobre o vocalismo aacutetono envolvendo variedades faladas na

Amazocircnia Paraense eacute a tese de doutorado de Nina (1991) que descreve e analisa o

comportamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica na fala de moradores da aacuterea

metropolitana de BeleacutemPA agrave luz da Sociolinguiacutestica Variacionista Nesse sentido a autora se

propocircs analisar os ambientes condicionadores da regra variaacutevel de alteamento e de

abaixamento tanto das vogais posteriores quanto das anteriores

Por meio de registro informal na coleta de dados Nina (1991) formou um corpus

de 30 gravaccedilotildees de informantes nativos de BeleacutemPA Os falantes foram estratificados em

escolaridade faixa etaacuteria sexo e zona geograacutefica de residecircncia Os niacuteveis de escolaridade

foram divididos em primaacuterio ginasial colegial e universitaacuterio A faixa etaacuteria por sua vez

contou com trecircs grupos 25 a 35 anos 36 a 50 anos e de 51 anos em diante

Nina (1991) utilizou o programa computacional VARBRUL para o tratamento

estatiacutestico dos dados A autora considerou como variaacutevel dependente as vogais o e e em

posiccedilatildeo pretocircnica interconsonacircntica As variaacuteveis independentes consideradas na pesquisa

consistiram nos seguintes grupos de fatores estruturais natureza da vogal seguinte qualidade

da vogal candidata natureza das consoantes adjacentes travamento silaacutebico posiccedilatildeo da vogal

candidata em relaccedilatildeo agrave acentuada do contexto Aleacutem destes fatores de ordem linguiacutestica

foram considerados os seguintes grupos de fatores sociais escolaridade idade sexo zona

geograacutefica de residecircncia

Segundo a referida autora os falantes de sua pesquisa mostraram-se mais

inclinados agrave regra de abaixamento do que a de alteamento baseando-se nos inputs de 29 para

o alteamento de o e o da regra de abaixamento de 36 na anaacutelise de e o input corresponde

22 para o alteamento e 34 para a regra de abaixamento Estes resultados a levam a afirmar

que o alteamento eacute mais frequente na vogal recuada o do que na vogal natildeo recuada e Aleacutem

disso a pesquisadora verificou uma propensatildeo para a manutenccedilatildeo da pronuacutencia das vogais

meacutedias o que a faz considerar que haacute um equiliacutebrio entre manutenccedilatildeo alteamento e

abaixamento

Em relaccedilatildeo ao alteamento os resultados para o controle deste fenocircmeno

indicaram que as vogais anteriores satildeo mais propensas ao alteamento do que as posteriores

As vogais e e o quando seguidas de vogal alta tocircnica ou aacutetona imediata tendem a sofrerem

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 17: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

17

alteamento A contiguidade do traccedilo alto da vogal contextual tambeacutem apareceu como

favoraacutevel ao alteamento

Depois de Nina (1991) outros estudos tambeacutem de caraacuteter variacionista foram

empreendidos Em particular destacaremos aqui os trabalhos realizados pela equipe do

PROBRAVO da Universidade Federal do Paraacute

Desde 2007 quando se tornou integrante do grupo PROBRAVO o projeto Norte

Vogais jaacute procedeu a descriccedilotildees do processo de variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em cinco localidades do Estado do Paraacute i) Cametaacute (RODRIGUES amp

ARAUacuteJO 2007) ii) Mocajuba (CAMPOS 2008) iii) Breves (CASSIQUE et al 2009 DIAS

et al 2007 OLIVEIRA 2007) iv) Beleacutem (SOUSA 2010 CRUZ et al 2008) e v) Breu

Branco (MARQUES 2008 COELHO 2008 CAMPELO 2008) Todos estes estudos

compreendem descriccedilotildees sociolinguiacutesticas de cunho variacionista que apresentam um

tratamento quantitativo dos dados Aleacutem das vogais pretocircnicas as vogais postocircnicas natildeo

finais tambeacutem jaacute foram objeto de estudo da referida equipe que procedeu agrave descriccedilatildeo das

mesmas na variedade do portuguecircs falada em Cametaacute (COSTA 2012)

A seguir satildeo apresentados os resultados de alguns dos estudos mencionados

anteriormente a saber Rodrigues e Arauacutejo (2007) sobre as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em Cametaacute Dias et al (2007) sobre o alteamento na fala rural de Breves

Oliveira (2007) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica na fala urbana de Breves Campos (2008)

sobre o alteamento no portuguecircs falado em Mocajuba Marques (2008) sobre o alteamento

no portuguecircs falado em Breu Branco Cruz et al (2008) sobre a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem e Sousa (2010) sobre a variaccedilatildeo

das meacutedias pretocircnicas na fala urbana de Beleacutem

Rodrigues e Arauacutejo (2007) trataram da variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado em CametaacutePA O corpus foi composto por amostras de fala de 36

informantes os quais foram estratificados em sexo faixa etaacuteria e escolaridade As variantes

consideradas foram manutenccedilatildeo abaixamento e alteamento Os autores constataram que a

presenccedila de vogais nasais propicia o alteamento seguido da presenccedila de pausa em contexto

seguinte de fricativas glotais aleacutem da presenccedila de vogal alta em posiccedilatildeo contiacutegua Aleacutem

disso os informantes mais velhos e de menor escolaridade satildeo os que mais realizam o

alteamento

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 18: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

18

Dias et al (2007) trataram do alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas na aacuterea

rural de BrevesPA O corpus utilizado na pesquisa contou com relatos de 36 informantes

nativos da localidade totalizando 2624 dados do fenocircmeno Os resultados mostraram uma

tendecircncia agrave ausecircncia de alteamento (57) em relaccedilatildeo agrave presenccedila de alteamento (43) na

variedade investigada Verificou-se tambeacutem que a presenccedila da vogal i ou u contiacutegua agrave

siacutelaba pretocircnica favorece a aplicaccedilatildeo da regra assim como a distacircncia pois quanto menor a

distacircncia maior a possibilidade de o fenocircmeno ocorrer Outro resultado importante foi a

presenccedila superior das vogais meacutedias-altas em detrimento das meacutedias-baixas

No estudo de Oliveira (2007) foram analisados dados provenientes de 42

informantes nativos de BrevesPA residentes da aacuterea urbana da localidade Os dados

mostraram que a ocorrecircncia de alteamento da vogal meacutedia pretocircnica vem diminuindo

significativamente jaacute que o percentual para o alteamento eacute de somente 19 e para natildeo

alteamento eacute de 81 Um resultado interessante diz respeito ao ambiente favorecedor do

alteamento da vogal meacutedia pretocircnica na variedade estudada as vogais tocircnicas meacutedias

(abertas e fechadas) satildeo as que mais favorecem a elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica

Na pesquisa de Campos (2008) realizada a partir de dados coletados de 48

informantes no municiacutepio de MocajubaPA contatou-se i) a vogal alta i na tocircnica como

favorecedora do alteamento ii) que vogais altas em posiccedilatildeo contiacutegua a siacutelaba tocircnica

aumentam a possibilidade de ocorrecircncia do fenocircmeno c) que a presenccedila de onset vazio

favorece o alteamento Aleacutem disso mostrou-se que o fenocircmeno ocorre em maior proporccedilatildeo

na fala daqueles que possuem menor escolaridade Todavia em termos percentuais verificou-

se que a ausecircncia de alteamento (51) eacute superior agrave presenccedila (47)

Marques (2008) investigou o alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado no municiacutepio de Breu BrancoPA Para tal foram analisadas 824 ocorrecircncias

do fenocircmeno em estudo Os resultados evidenciaram que no caso das meacutedias anteriores a

presenccedila de nasalidade a vogal contiacutegua onset vazio tanto na siacutelaba alvo como na siacutelaba

seguinte e siacutelabas leves satildeo favorecedores do alteamento O estudo tambeacutem apontou que o

alteamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um fenocircmeno de baixa produtividade e estaacute prestes

a ser extinto do falar da localidade em virtude do intenso fluxo migratoacuterio na regiatildeo sudeste

do Paraacute

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 19: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

19

Cruz et al (2008) trataram da harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das vogais meacutedias pretocircnicas

no portuguecircs falado nas ilhas de Beleacutem (PA) com um corpus de 1592 ocorrecircncias do

fenocircmeno estudado coletado de 24 informantes estratificados socialmente Os resultados

obtidos por Cruz et al (2008) mostraram que a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica eacute

favorecida a) por vogais altas na tocircnica seja esta oral ou nasal b) por vogais altas imediatas

c) pelas siacutelabas com onset vazio seja da siacutelaba contendo a vogal objeto seja da siacutelaba seguinte

a esta d) pelo baixo grau de escolaridade e e) pela maior faixa etaacuteria A anaacutelise dos dados

mostrou que a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica das meacutedias em posiccedilatildeo pretocircnica eacute um fenocircmeno

estaacutevel no falar das ilhas de Beleacutem com tendecircncia a uma gradual perda desta marca no dialeto

local

O estudo de Sousa (2010) tratou do alteamento das vogais meacutedias em posiccedilatildeo

pretocircnica no portuguecircs falado na aacuterea urbana de BeleacutemPA O corpus foi constituiacutedo por 48

entrevistas coletadas de informantes pertencentes a uma amostra estratificada na qual se

controlaram as variaacuteveis faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e 46 anos em diante) sexo e

grau de escolaridade (natildeo-escolarizado fundamental meacutedio e superior) Na anaacutelise final

foram submetidos ao programa Varbrul 1434 dados 776 das variantes de e e 658 das

variantes de o Os resultados mostraram que no dialeto em questatildeo predomina a ausecircncia de

ocorrecircncia de alteamento (64) das vogais meacutedias pretocircnicas em detrimento da presenccedila de

alteamento (36)

Como foi possiacutevel verificar no caso das vogais meacutedias pretocircnicas todos os

resultados sobre as variedades do portuguecircs da Amazocircnia paraense no vieacutes sociolinguiacutestico

apontam para uma tendecircncia agrave preservaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas em detrimento do

alteamento como eacute possiacutevel verificar na Figura 02 produzida pela coordenaccedilatildeo do projeto

Norte Vogais que exibe os resultados das pesquisas realizadas em Breves (urbano rural e

geral) Cametaacute Beleacutem (urbano e rural) Mocajuba e Breu Branco

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 20: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

20

Figura 01 Tendecircncia agrave manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no Portuguecircs da Amazocircnia Paraense de

acordo com os resultados dos trabalhos realizados pela Equipe do Projeto Norte Vogais da UFPA

A maior fonte sobre variaccedilatildeo no portuguecircs do Brasil em termos de vocalismo

aacutetono consiste no estudo de Antenor Nascente que defende uma divisatildeo dialetal por meio da

qual o nordeste e norte apresentariam determinadas variantes diferentes daquelas do restante

do Brasil Mais especificamente os dialetos do norte e nordeste apresentariam as variantes

abertas das vogais meacutedias pretocircnicas estas sendo totalmente ausentes nos dialetos do sul

Entretanto as investigaccedilotildees conduzidas no seio do PROBRAVO tecircm demonstrado que a

questatildeo natildeo eacute tatildeo simples como parece De um lado existem os aspectos estruturais

correlacionados ao comportamento dessas vogais de outro estatildeo as implicaccedilotildees sociais que

se correlacionam natildeo apenas agraves caracteriacutesticas dos falantes mas tambeacutem a atitude do ouvinte

que muitas vezes denota um comportamento estigmatizante frente ao falar diferente

Outro resultado relevante das investigaccedilotildees feitas pela equipe do PROBRAVO

compreende a inexpressiva ocorrecircncia de vogais meacutedias baixas nas posiccedilotildees aacutetonas o que

contraria como jaacute mencionado anteriormente a divisatildeo dialetal de Antenor Nascente na qual

os dialetos do norte do Brasil se caracterizariam por apresentarem uma tendecircncia agrave realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias abertas nas posiccedilotildees aacutetonas em oposiccedilatildeo aos dialetos do Sul do Brasil que

prefeririam as vogais meacutedias fechadas por outro lado reforccedilam a hipoacutetese de Silva Neto

(1957) de que o Paraacute compreenderia uma ilha dialetal na classificaccedilatildeo de Antenor Nascente

entre os dialetos do Norte do Brasil

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 21: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

21

Desse modo avanccedilou-se bastante nas descriccedilotildees sociolinguiacutesticas das vogais

meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense Este avanccedilo apontou para a

necessidade de reflexotildees mais profundas sobre o assunto Nesse sentido diante da

particularidade das vogais da Amazocircnia Paraense dentro do projeto Norte Vogais optou-se

por proceder a um refinamento nas anaacutelises empreendidas e desta vez por observar mais de

perto seus aspectos acuacutesticos A presente pesquisa ao realizar um estudo acuacutestico das vogais

meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BarcarenaPA insere-se nesta nova perspectiva de

investigaccedilatildeo

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 22: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

22

Capiacutetulo 2 ANAacuteLISES ACUacuteSTICAS DE VOGAIS NO PORTUGUEcircS

BRASILEIRO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados alguns estudos acuacutesticos sobre as vogais do

portuguecircs do Brasil a saber Moraes et al (2002) Callou et al (2009) Abaurre Sandalo e

Madruga (2013) e Escudero et al (2009) No que diz respeito agrave variedade do portuguecircs falado

no estado do Paraacute satildeo destacadas as pesquisas feitas pela equipe do Norte Vogais vinculada agrave

Universidade Federal do Paraacute (CRUZ et al 2012 MORAES 2014)

Moraes et al (2002) analisou acusticamente as vogais orais tocircnicas pretocircnicas e

postocircnicas de cinco centros urbanos do Brasil Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro

Salvador e Recife Neste estudo primeiramente por meio dos valores do primeiro (F1) e

segundo (F2) formantes foi estabelecido o espaccedilo acuacutestico do portuguecircs culto das cinco

capitais brasileiras Em seguida procedeu-se agrave anaacutelise dos sistemas vocaacutelicos nas trecircs

posiccedilotildees acentuais de cada dialeto Posteriormente foi realizada a comparaccedilatildeo dos sistemas

vocaacutelicos tocircnicos do portuguecircs do Brasil e do portuguecircs europeu com as vogais cardeais

Os dados foram obtidos por meio de um corpus de fala espontacircnea coletado a

partir de entrevistas informais de 15 locutores com formaccedilatildeo universitaacuteria (trecircs de cada aacuterea

urbana) estratificados em trecircs faixas etaacuterias (25 a 35 anos 36 a 56 anos e 56 anos de idade)

Foram medidas 15 ocorrecircncias de cada vogal por informante utilizando o programa

Interactive Laboratory System (ILS) em um total de 1575 vogais tocircnicas 1395 pretocircnicas e

675 postocircnicas

Na anaacutelise quantitativa de cunho laboviano verificou-se que o processo de

anteriorizaccedilatildeo da vogal i tem maior probabilidade de ocorrer em Recife e Rio de Janeiro

seguido de Porto Alegre Satildeo Paulo e Salvador e que a probabilidade de articulaccedilatildeo mais

posterior de a eacute verificada em Salvador seguida de Recife Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Porto

Alegre Em relaccedilatildeo ao abaixamento contatou-se que Recife e Salvador apresentam um maior

grau do referido processo seguidas de Rio de Janeiro Salvador e Porto Alegre

Do ponto de vista acuacutestico observou-se que no sistema pretocircnico no eixo

horizontal (anterioridadeposterioridade) o sistema do Rio de Janeiro eacute o que se destaca dos

outros pois a vogal alta anterior e as posteriores satildeo mais perifeacutericas Nos demais sistemas

natildeo se verificaram variaccedilotildees significativas com exceccedilatildeo da vogal mais baixa de Salvador

que eacute bem posteriorizada Jaacute no eixo vertical (altura) observaram-se as maiores diferenccedilas

nos cinco dialetos investigados Satildeo Paulo possui as vogais mais elevadas e o a mais baixo

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 23: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

23

sendo um sistema mais polarizado jaacute que apresentou uma maior distacircncia acuacutestica entre as

vogais i a e u Em contrapartida o sistema menos polarizado eacute o de Porto Alegre

seguido de perto por Recife jaacute que as vogais altas e a baixa satildeo mais proacuteximas

Para o estudo das vogais postocircnicas utilizou-se o pacote de programas

VARBRUL com os dados obtidos na anaacutelise acuacutestica do programa ILS Os percentuais

indicaram que Recife e Salvador tecircm um sistema mais compacto abaixando as altas mas natildeo

a baixa acompanhado por Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que apresentaram comparativamente

um sistema menos compacto jaacute que natildeo abaixam as vogais altas i e u mas abaixam a vogal

a Jaacute Salvador tem um sistema intermediaacuterio com percentual miacutenimo de abaixamento

Na comparaccedilatildeo da meacutedia geral do sistema pretocircnico com relaccedilatildeo ao tocircnico e

postocircnico verificou-se que no sistema pretocircnico haacute a posteriorizaccedilatildeo das anteriores e a

anteriorizaccedilatildeo das posteriores No sistema postocircnico por sua vez verificou-se uma elevaccedilatildeo

mais acentuada da vogal baixa a permanecendo as vogais altas i e u quase inalteradas em

relaccedilatildeo agraves pretocircnicas Dessa forma concluiu-se que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as

vogais altas e eleva a vogal baixa

Em relaccedilatildeo agrave comparaccedilatildeo do portuguecircs do Brasil com o portuguecircs de Portugal e

com as vogais cardeais observou-se que na dimensatildeo vertical (F1) os sistemas do portuguecircs

europeu (PE) e portuguecircs brasileiro (PB) satildeo bastante similares exceto i e u que no PB satildeo

significativamente mais baixas que no PE Quanto agraves vogais cardeais verificou-se que i) as

vogais baixas a e E satildeo significativamente mais altas tanto no PB quanto no PE e as

vogais altas i e u em contrapartida satildeo mais baixas fenocircmeno que se observa sobretudo

no PE em que i e u apresentam alturas semelhantes agraves das vogais cardeais e e o Tal

distribuiccedilatildeo pode ser caracterizada como um processo de compactaccedilatildeo

Na dimensatildeo horizontal (F2) constatou-se que os sistemas do PE e do PB satildeo

bem diferenciados em seus pontos extremos (i e u) sendo o PE bem mais proacuteximo das

vogais cardeais enquanto o PB se mostra consideravelmente mais centralizado Esta

tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo se verifica igualmente nas demais vogais do PB principalmente o

e e O PE mostra realizaccedilotildees mais perifeacutericas sendo intermediaacuterias entre o portuguecircs do

Brasil e as vogais cardeais Com relaccedilatildeo ao a o PB se assemelha mais agrave vogal cardeal a

anterior enquanto o a do PE ocupa posiccedilatildeo intermediaacuteria entre as cardais a e e

Nesse sentido o estudo de Moraes et al (2002) no acircmbito variacionista

constatou-se que haacute dois processos fonoloacutegicos que diferenciam os dialetos das capitais o de

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 24: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

24

anteriorizaccedilatildeo e abaixamento de i e o de posteriorizaccedilatildeo e abaixamento de a Do ponto de

vista acuacutestico chegou-se a conclusatildeo de que haveria uma tendecircncia de tornar-se o portuguecircs

brasileiro mais compacto distanciando-se tanto do portuguecircs europeu quanto das vogais

cardeais

Callou et al (2009) apresentam resultados de trabalhos variacionistas sobre as

vogais e a partir da anaacutelise acuacutestica de dados formulam algumas hipoacuteteses relativas ao

sistema pretocircnico do portuguecircs do Brasil e agrave manutenccedilatildeo do processo de harmonia vocaacutelica

neste sistema e sua completude no portuguecircs de Portugal

Segundo os referidos autores estudos recentes sobre a harmonia vocaacutelica do

portuguecircs brasileiro sob o vieacutes da sociolinguiacutestica laboviana apontam para uma baixa

produtividade da regra A assimetria de comportamento das vogais tocircnicas i e u eacute

destacada De modo geral haacute maior possibilidade de a vogal anterior i desencadear o

processo de elevaccedilatildeo da meacutedia pretocircnica que a sua correspondente posterior u

Para Bisol (1989 apud Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-

se agrave forma trapezoidal da cavidade oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a

produccedilatildeo de vogais anteriores do que de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u

Todavia isto natildeo se confirmou no espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas do portuguecircs do Brasil

apresentado por Callou et al (2009) Estes autores mencionam o estudo de Moraes et al

(2002) o qual confirma que [i] e [u] em siacutelaba tocircnica em algumas cidades apresentam o

mesmo valor para o primeiro formante (altura) Sendo assim a razatildeo para o comportamento

assimeacutetrico das duas vogais como propulsoras do processo de harmonia vocaacutelica natildeo estaria

relacionada agrave altura de F1

Desse modo os autores levantam o seguinte questionamento a elevaccedilatildeo da vogal

corresponderia a um uacutenico processo sob o roacutetulo de harmonia vocaacutelica ou a dois tipos de

processo um de natureza fonoloacutegica e outro de natureza foneacutetica Outra questatildeo levantada

consiste nos motivos pelos quais ldquoum processo concluiacutedo haacute pelo menos dois seacuteculos no

portuguecircs europeu ainda permaneccedila em variaccedilatildeo estaacutevel no portuguecircs do Brasilrdquo (CALLOU

et al 2009 p 100) Para tentar responder tais questotildees satildeo apresentadas as tendecircncias

articulatoacuterio-acuacuteticas observadas no sistema tocircnico pretocircnico e postocircnico do portuguecircs

brasileiro

Sendo assim satildeo exibidos os resultados da pesquisa de Moraes et al (2009) que

caracterizaram acusticamente as realizaccedilotildees das tocircnicas pretocircnicas e postocircnicas dos dialetos

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 25: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

25

de Porto Alegre Satildeo Paulo Rio de Janeiro Salvador e Recife Como jaacute mencionado

anteriormente o referido estudo constatou que no sistema pretocircnico acontece a

posteriorizaccedilatildeo das vogais anteriores e a anteriorizaccedilatildeo das posteriores e no sistema

postocircnico ocorre a elevaccedilatildeo da vogal central baixa resultando em um sistema mais

compacto Concluiu-se assim que o processo de atonizaccedilatildeo centraliza as vogais altas e eleva

a vogal baixa A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo tambeacutem eacute evidenciada na comparaccedilatildeo do sistema

tocircnico do portuguecircs brasileiro com o portuguecircs europeu

Diante disso Callou et al (2009) levantaram a possibilidade de que a perda da

produtividade da regra de harmonia vocaacutelica tenha como explicaccedilatildeo a tendecircncia articulatoacuterio-

acuacutestica do sistema do portuguecircs do Brasil a qual diferentemente da de Portugal eacute a

centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Os autores ainda refletindo sobre os resultados de Moraes et al (2002)

observaram que a distinccedilatildeo entre as vogais altas pretocircnicas derivadas da regra de harmonia

vocaacutelica e as vogais altas subjacentes se mostrou acusticamente significativa Embora os dois

tipos de vogal apresentem a mesma altura [u] e [i] derivados satildeo mais perifeacutericos sendo mais

proacuteximos das respectivas vogais tocircnicas

Abaurre Sandalo e Madruga (2013) analisaram acusticamente a ocorrecircncia de

harmonia vocaacutelica em dados de Porto Alegre e Salvador utilizando a mesma metodologia

corpus e experimento de Kenstowicz e Sandado (2011) A hipoacutetese testada foi a de que o

comportamento fonoloacutegico do a em relaccedilatildeo a sua participaccedilatildeo em harmonia depende da

dispersatildeo acuacutestica desta vogal em relaccedilatildeo ao sistema vocaacutelico do qual ela faz parte

No referido estudo trabalhou-se com dados de um falante de Porto Alegre e um

de Salvador universitaacuterios do sexo masculino com idades entre 25 e 35 anos O corpus

utilizado foi composto por palavras paroxiacutetonas trissilaacutebicas com todas as possiacuteveis

combinaccedilotildees de vogais do portuguecircs na posiccedilatildeo pretocircnica e na posiccedilatildeo tocircnica Dessa forma

obteve-se o total de 170 palavras lidas em uma frase veiacuteculo (Ela disse ______ devagar)

Em relaccedilatildeo agraves vogais tocircnicas o estudo observou que a grande diferenccedila entre os

dialetos de Porto Alegre e Salvador estaacute nos valores das vogais meacutedias baixas que estatildeo mais

proacuteximas de [a] no dialeto gauacutecho e mais proacuteximas das meacutedias altas no dialeto baiano O

interessante eacute que [a] estaacute na mesma regiatildeo de F1 para ambos os falantes de modo que a

regiatildeo instaacutevel eacute portando a das meacutedias Quanto agraves vogais pretocircnicas verificou-se que a

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 26: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

26

maior diferenccedila estaacute nas vogais altas [i] e [u] que no dialeto gauacutecho apresentam F1 mais

alto estando assim mais baixas proacuteximas agraves meacutedias altas [e] e [o]

Com o intuito de verificar se haacute bases acuacutesticas para atestar a presenccedila de

harmonia vocaacutelica com vogais baixas na tocircnica nas duas variedades estudadas no trabalho

de Abaurre Sandalo e Madruga (2013) foram medidos os valores de F1 de todas as vogais

tocircnicas e pretocircnicas nos dados de cada dialeto e observou-se a significacircncia da correlaccedilatildeo

entre estes valores

A partir da observaccedilatildeo dos dados relativos somente agraves vogais baixas na tocircnica e

meacutedias na pretocircnica concluiu-se que na comparaccedilatildeo os dados de Porto Alegre Salvador natildeo

harmoniza com baixa em contrapartida no dialeto gauacutecho este fato ocorre O dialeto baiano

apresenta muitas ocorrecircncias de vogais baixas nas pretocircnicas mas tais ocorrecircncias natildeo satildeo

por harmonia conforme atestou a metodologia e teste acuacutestico do referido estudo

Sendo assim a ausecircncia de correlaccedilatildeo relevante entre os valores de F1 na

pretocircnica e tocircnica faz com que Abaurre Madruga e Sandalo (2013) constatem que harmonia

vocaacutelica com vogais baixas natildeo ocorre em Salvador Por outro lado os fatos acuacutesticos

analisados estatisticamente evidenciam que haacute harmonia com vogais baixas em Porto Alegre

O objetivo do estudo desenvolvido por Escudero et al (2009) foi investigar as

caracteriacutesticas acuacutesticas das sete vogais orais que o portuguecircs brasileiro e o portuguecircs europeu

tecircm em comum na posiccedilatildeo tocircnica a saber i e ε a ɔ o u e a partir disso descobrir quais

aspectos do sistema vocaacutelico do portuguecircs satildeo universais especiacuteficos do portuguecircs ou

especiacuteficos do dialeto

O estudo contou com 40 falantes 20 do portuguecircs do Brasil e 20 do portuguecircs de

Portugal sendo que metade dos falantes de cada dialeto era formada por homens e a outra

metade por mulheres A anaacutelise acuacutestica foi feita com base na duraccedilatildeo na frequecircncia

fundamental (F0) no primeiro formante (F1) e no segundo formante (F2)

Com o intuito de obter grupos de participantes do portuguecircs brasileiro e do

portuguecircs europeu relativamente homogecircneos e comparaacuteveis foram selecionados jovens

adultos de ensino superior da maior metroacutepole de cada paiacutes Nesse sentido os requisitos eram

a) eles deveriam ter vivido tanto em Satildeo Paulo como em Lisboa por toda a vida b) eles natildeo

poderiam falar uma liacutengua estrangeira com uma proficiecircncia de 3 ou mais em uma escala de 0

(ldquonatildeo compreendo uma palavrardquo) a 7 (ldquoeu compreendo como um falante nativordquo) e c)

deveriam ser estudantes de graduaccedilatildeo com menos de 30 anos de idade Para o portuguecircs

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 27: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

27

brasileiro a idade meacutedia das mulheres foi 223 anos e a dos homens foi de 225 anos no

portuguecircs europeu a idade meacutedia das mulheres foi 198 anos e a dos homens foi de 187 anos

As vogais alvo i e ε a ɔ o u foram ortograficamente representadas aos

falantes como i ecirc eacute a oacute ocirc e u respectivamente inseridas em uma sentenccedila escrita na tela de

um computador Cada vogal foi produzida como a primeira em uma sequecircncia dissiacutelaba do

tipo CVCV na qual as duas consoantes era duas oclusivas ou fricativas surdas idecircnticas Os

vocaacutebulos foram produzidos em duas posiccedilotildees frasais em isolamento e inseridos numa

sentenccedila imediatamente seguinte As sentenccedilas foram lidas duas vezes em dois blocos No

primeiro bloco o vocaacutebulo isolado teria como vogal final e e no segundo teria como vogal

final o Um exemplo de um vocaacutebulo isolado com sentenccedila poderia ser no primeiro bloco

ldquoPecircpe Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo e no segundo bloco ldquoPecircpo Em pecircpe e pecircpo temos ecircrdquo

No total foram analisadas 5600 realizaccedilotildees das vogais alvo as quais foram

observadas com o auxiacutelio do programa PRAAT Um dos resultados encontrados foi um

fenocircmeno especiacutefico da liacutengua nas duas variedades do portuguecircs a duraccedilatildeo intriacutenseca da

vogal eacute maior do que em muitas outras liacutenguas Em relaccedilatildeo agraves diferenccedilas observou-se que

elas residem na duraccedilatildeo jaacute que o portuguecircs brasileiro tem vogais tocircnicas mais longas que o

portuguecircs europeu no F1 pois a vogal anterior meacutedia baixa apresenta sua contraparte meacutedia

alta de forma mais fechada no portuguecircs europeu do que no brasileiro e no tamanho do

pitch1 que eacute maior na variedade europeia do que na variedade brasileira

No norte do Brasil destacam-se os estudos realizados no seio do projeto Norte

Vogais que seguem a metodologia estabelecida por Cruz (2011) em seu estaacutegio poacutes-doutoral

no Departamento de Linguiacutestica da New York University

O trabalho feito por Cruz et al (2012) compreende um estudo qualitativo e

acuacutestico das vogais meacutedias pretocircnicas do portuguecircs falado em BeleacutemPA Para tal foram

utilizadas amostras de fala de 18 informantes nativos da capital paraense os quais foram

estratificados seguindo os moldes sociolinguiacutesticos sexo (feminino e masculino) faixa etaacuteria

(15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 45 anos) e escolaridade (niacuteveis fundamental meacutedio e

superior)

Os informantes produziram vocaacutebulos contendo as vogais pretocircnicas alvo por

meio da leitura de um texto sobre futebol O texto elaborado pela equipe de pesquisa contou

com a presenccedila de 51 vocaacutebulos alvo que foram selecionados com base no contexto de alta

1 Efeito acuacutestico produzido pela vibraccedilatildeo das cordas vocais

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 28: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

28

variabilidade que os mesmos apresentaram em estudos sociolinguiacutesticos realizados

anteriormente Na anaacutelise dos dados foram tomadas as medidas do primeiro e segundo

formantes das vogais pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT Ao todo 856

ocorrecircncias foram analisadas

Diante das anaacutelises preliminares foi constatada a preferecircncia pela manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias corroborando com as descriccedilotildees sociolinguiacutesticas jaacute realizadas pela equipe da

Universidade Federal do Paraacute Todavia os resultados contrariam tais descriccedilotildees quando se

constata que as variantes baixas ocorrem em maior nuacutemero do que as variantes altas

Concluiu-se tambeacutem que no caso das anteriores tanto na fala feminina quanto na masculina

as variantes alta e meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e que ambas

apresentam uma grande distacircncia da variante baixa Por outro lado em relaccedilatildeo agraves posteriores

todas elas ocupam espaccedilos acuacutesticos bastante delimitados tanto na fala feminina como na fala

masculina

Outro estudo acuacutestico realizado pela equipe do Norte vogais eacute o de Moraes

(2014) A autora teve por objetivo caracterizar acusticamente as vogais meacutedias pretocircnicas do

portuguecircs falado na zona rural do municiacutepio de CametaacutePA Assim como a pesquisa de Cruz

et al (2012) o estudo contou com amostras de fala de 18 informantes que foram

estratificados da mesma forma em sexo faixa etaacuteria e escolaridade

A coleta de dados foi realizada por meio de um teste de imagens Os 72 vocaacutebulos

selecionados foram produzidos pelos informantes diante da projeccedilatildeo de imagens referentes a

estes vocaacutebulos solicitando-se que fossem reproduzidos duas ou trecircs vezes para que o melhor

sinal sonoro fosse considerado na pesquisa A partir da tomada de F1 e F2 das vogais

pretocircnicas alvo com o auxiacutelio do programa PRAAT foi realizada a anaacutelise acuacutestica dos

dados O corpus total contou com 455 ocorrecircncias de vogais meacutedias anteriores e 473 de

posteriores

O estudo mostrou assim como na capital paraense um alto iacutendice de manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas nos dados de CametaacutePA As vogais baixas apresentaram maior

frequecircncia do que as variantes altas Diante do espaccedilo acuacutestico no qual as variantes estatildeo

distribuiacutedas por sexo e faixa etaacuteria nota-se que em relaccedilatildeo agraves anteriores as variantes estatildeo

bem discriminadas tanto na fala feminina como na fala masculina

Quando agraves posteriores elas aparecem bem proacuteximas principalmente [u] e [o] as

quais na fala as mulheres ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala da primeira

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 29: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

29

(15 a 25 anos) e terceira (acima de 45 anos) faixas etaacuterias evidenciando um alto grau de

variaccedilatildeo entre tais variantes A exceccedilatildeo fica por conta vogal alta posterior que aparece

bastante deslocada das demais na fala dos jovens (15 a 25 anos) do sexo masculino As vogais

baixas por sua vez apresentam-se significativamente distantes das demais vogais tanto na

fala feminina como na fala masculina mas na fala das mulheres esta distacircncia eacute bem mais

acentuada

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 30: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

30

Capiacutetulo 3 SOBRE A LOCALIDADE ESTUDADA

Neste capiacutetulo satildeo abordadas algumas particularidades da localidade estudada de

modo a apresentar a comunidade e a importacircncia de realizar um estudo linguiacutestico na mesma

31 Localizaccedilatildeo

Barcarena eacute um municiacutepio paraense pertencente agrave macrorregiatildeo metropolitana de

Beleacutem e agrave microrregiatildeo de Beleacutem Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) estaacute dividido em dois distritos a sede e Murucupi A populaccedilatildeo residente eacute de 99

859 pessoas A quantidade de homens eacute maior do que a de mulheres e a populaccedilatildeo

alfabetizada eacute formada por 78253 pessoas

De acordo com Barros et al (2011) o distrito de Murucupi eacute formado pela Vila do

Conde Vila Nova Vila Itupanema Vila Satildeo Francisco Vila Laranjal Vila dos Cabanos e

Vila Arienga abrigando tambeacutem todos os grandes projetos de mineraccedilatildeo local O distrito

sede por sua vez abriga os poderes executivo legislativo e judiciaacuterio Barcarena limita-se

com os municiacutepios de Abaetetuba e Ponta de Pedras atraveacutes da Baiacutea do Marajoacute Beleacutem e

Acaraacute O Mapa 01 retirado da paacutegina virtual do IBGE mostra a localizaccedilatildeo do municiacutepio em

estudo

Mapa 01 Localizaccedilatildeo do municiacutepio de BarcarenaPA

Fonte Dados cartograacuteficos copy2014 Google

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 31: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

31

32 Histoacuteria

Os registros histoacutericos satildeo bastante raros sendo difiacutecil encontrar bibliografia que

trate da histoacuteria do municiacutepio de BarcarenaPA Segundo informaccedilotildees do IBGE (2014) os

primeiros habitantes foram os iacutendios Aruans os mesmos que durante a Colocircnia foram

catequizados pelos padres jesuiacutetas elevando posteriormente o povoado agrave categoria de

freguesia sob a invocaccedilatildeo de Satildeo Francisco Xavier de Barcarena em 1758 Natildeo haacute registros

histoacutericos mais exatos

Antes de 1709 as terras onde hoje eacute situado o municiacutepio de Barcarena eram

conhecidas pelo nome de Fazenda Geribirieacute e mais tarde como Missatildeo Geribirieacute de

propriedade dos jesuiacutetas antes de se converter na freguesia de Satildeo Francisco Xavier de

Barcarena Ateacute os primeiros trinta anos do seacuteculo XX sua histoacuteria estaacute bastante ligada aos

acontecimentos poliacutetico-administrativos e territoriais da capital Beleacutem

Alguns historiadores tambeacutem afirmam que o nome do municiacutepio se originou da

presenccedila no assentamento populacional de uma grande embarcaccedilatildeo que havia sido batizada

como Arena e a qual os habitantes da localidade chamavam de barca A junccedilatildeo dos dois

termos resultou com que a o municiacutepio ficasse conhecido como Barcarena

33 Particularidades espaciais e aspectos poliacuteticos

O municiacutepio de Barcarena sofreu muitas mudanccedilas nos uacuteltimos tempos devido agrave

condiccedilatildeo de polo industrial abrigando grandes empresas do ramo minero-metaluacutergico-

portuaacuterios Em virtude disso muitas pessoas migraram para a cidade para usufruir do

desenvolvimento trazido pelas induacutestrias e os nativos tiveram que ser remanejados para

outras aacutereas afetando em muito o modo de vida jaacute existente na localidade Por isso

inicialmente esta pesquisa seria de cunho variacionista e investigaria a fala dos migrantes

(grupo de controle e ancoragem) No entanto pelo nuacutemero insuficiente de migrantes oriundos

de uma soacute localidade encontrados ateacute o final do ano de 2013 optou-se por proceder a uma

anaacutelise acuacutestica dos falantes nativos de Barcarena os quais sofreram influecircncia da migraccedilatildeo e

por isso poderiam apresentar particularidades interessantes para a caracterizaccedilatildeo acuacutestica da

fala da localidade

De acordo com Rodrigues (2011) a criaccedilatildeo de uma aacuterea destinada agrave

implementaccedilatildeo de um distrito industrial em Barcarena ocasionou em duas deacutecadas profundas

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 32: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

32

mudanccedilas no espaccedilo e na paisagem no municiacutepio com impactos no meio ambiente alteraccedilotildees

significativas no modo de vida da populaccedilatildeo local e introduccedilatildeo de novas atividades produtivas

e sociais

Ainda segundo o referido autor Barcarena apresenta uma configuraccedilatildeo espacial

diferenciada com duas conotaccedilotildees bastante distintas A primeira ocorre em meados da deacutecada

de 1980 com a instalaccedilatildeo da planta industrial metaluacutergica e portuaacuteria A segunda acontece

em meados da deacutecada de 1990 e nos primeiros anos do seacuteculo XXI com a dinamizaccedilatildeo e

ampliaccedilatildeo das atividades portuaacuterias aleacutem da implantaccedilatildeo de empresas prestadoras de

serviccedilos o que ocasionou uma relaccedilatildeo entre ocupaccedilatildeo espontacircnea e a degradaccedilatildeo dos recursos

naturais

Antes das deacutecadas de 1970 e 1980 Barcarena apresentava um cenaacuterio bucoacutelico

As atividades econocircmicas estavam concentradas no meio rural nas primeiras deacutecadas de

existecircncia do novo municiacutepio Elas eram agricultura de subsistecircncia pesca extrativismo

vegetal e artesanato Tudo isso foi modificado drasticamente em janeiro de 1980 com o iniacutecio

das obras do Projeto AlbrasAlunorte Este processo acabou gerando

um reordenamento do espaccedilo social uma inversatildeo brusca na proporccedilatildeo rural-urbana

[] implicando numa transformaccedilatildeo acelerada em suas formas de sobrevivecircncia e

de seu cotidiano Eacute interessante assinalar que na aacuterea do nuacutecleo urbano reside

atualmente uma populaccedilatildeo que corresponde a mais da metade da populaccedilatildeo do

distrito-sede e que sendo em quase totalidade constituiacuteda por migrantes da regiatildeo e

de outras partes do paiacutes vem adicionando uma nova dimensatildeo poliacutetica a este espaccedilo

social (MAIA MOURA 1999 p 138-139)

Nesse sentido as instalaccedilotildees do Projeto AlbrasAlunorte e da Vila dos Cabanos ndash

nuacutecleo urbano criado para abrigar os trabalhadores das faacutebricas ndash promoveram uma

reestruturaccedilatildeo socioespacial no municiacutepio fazendo com que a maioria da populaccedilatildeo que

outrora ocupava o meio rural passasse a morar na aacuterea urbana

Mesmo com todas as particularidades jaacute citadas Barcarena natildeo tem sido alvo de

muitas atenccedilotildees considerando-se a dificuldade em encontrar estudos jaacute realizados e ateacute

mesmo a proacutepria histoacuteria do municiacutepio Muitas investigaccedilotildees realizadas na localidade

referem-se a impactos ambientais ou satildeo de cunho sociopoliacutetico Desse modo ainda que

Barcarena pertenccedila agrave mesorregiatildeo metropolitana de Beleacutem e esteja bem proacutexima da capital

paraense em virtude das mudanccedilas sofridas pelo reordenamento deste espaccedilo social e de

outros fatores a fala barcarenense merece ser objeto de um estudo linguiacutestico

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 33: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

33

Capiacutetulo 4 METODOLOGIA

Neste capiacutetulo satildeo mostrados os procedimentos metodoloacutegicos adotados A

metodologia empregada nesta pesquisa segue as diretrizes do projeto Norte Vogais

estabelecidas por Cruz (2011) ao qual este estudo eacute vinculado

41 Perfil dos sujeitos

O corpus final contou com a participaccedilatildeo de 18 sujeitos que foram submetidos ao

protocolo experimental de coleta de dados Todos tiveram que respeitar as condiccedilotildees exigidas

para obtenccedilatildeo de dados representativos ou seja eles precisavam ser paraenses natos de

Barcarena ou no caso de natildeo terem nascidos na localidade em questatildeo deveriam ter vindo

para a localidade nos primeiros anos de vida No caso da terceira faixa etaacuteria os informantes

deveriam ter fixado residecircncia na mesma antes dos 25 anos Vale frisar que mesmo nesses

casos todos os participantes da pesquisa satildeo paraenses natos De modo geral os sujeitos natildeo

poderiam ter ficado por mais de dois anos residindo em outra cidade

Depois de selecionados os sujeitos foram estratificados em sexo (feminino

masculino) faixa etaacuteria (15 a 25 anos 26 a 45 anos e acima de 46 anos) e escolaridade (niacutevel

fundamental meacutedio e superior) Como o protocolo experimental prevecirc etapa de leitura de

texto os sujeitos analfabetos foram excluiacutedos naturalmente

42 Coleta de dados

Segundo as diretrizes do projeto Norte Vogais o corpus deve ser coletado por

meio de dois protocolos experimentais rigorosamente controlados a) teste de imagens e b)

fala lida Nesta pesquisa satildeo analisados os dados oriundos do segundo protocolo de coleta

Para o protocolo de fala lida foi utilizado um texto contendo os 53 vocaacutebulos

presentes no Quadro 01 abaixo Os vocaacutebulos foram selecionados considerando os fatores

favorecedores da variaccedilatildeo das meacutedias pretocircnicas apontados nos estudos de cunho

variacionista realizados pela equipe do projeto Norte Vogais

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 34: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

34

Quadro 01 Lista dos vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias alvo presentes no texto utilizado para a coleta de

dados de fala lida

e o

aposentado bebidas aposentado bonecas

cabeludos cervejas corujas costurar

certificado escravo comer costureiras

empregos fechado comandante rocambole

estante menino meninas borracha domingo

futebol pequeno hospitais coleacutegios

mosqueteiros preciso moeda cozinha

pescador presidente mosqueteiros morador

presente presiacutedio poliacutecia namorados

querida remeacutedios Rondocircnia profundo

repolhos segundo toalha sobrinho

setenta senhoras procissatildeo tomate

tesoura teatro

veado vergonha

O texto intitulado ldquoA marca da nacionalidade brasileirardquo aborda o futebol e a

paixatildeo do brasileiro pelo referido esporte Cada informante teve dez minutos para fazer uma

leitura preacutevia do texto e familiarizar-se com o mesmo antes do iniacutecio da gravaccedilatildeo Antes que

a leitura em voz alta fosse solicitada foram feitas perguntas sobre o texto Como as gravaccedilotildees

ocorreram no periacuteodo de copa do mundo muitos informantes ficaram agrave vontade para falar

sobre o tema

Vale frisar que foi solicitado que cada informante assinasse o termo de

compromisso no caso de o mesmo concordar com o uso de seu material de fala para a

pesquisa

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 35: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

35

43 Tratamento

Apoacutes a conclusatildeo da coleta de dados passou-se ao tratamento dos mesmos que

compreendeu

1) Segmentaccedilatildeo do sinal de aacuteudio de cada informante no programa PRAAT em seis niacuteveis

enunciado palavra alvo duraccedilatildeo da palavra alvo siacutelaba vogal e duraccedilatildeo da vogal como

ilustra a Figura 02

Figura 02 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da segmentaccedilatildeo utilizada na pesquisa

2) Extraccedilatildeo dos arquivos de aacuteudio e textgrid de cada vocaacutebulo alvo das gravaccedilotildees originais

com o programa PRAAT seguida de codificaccedilatildeo

Os informantes recebem um coacutedigo que identifica dialeto sexo escolaridade e faixa

etaacuteria de cada um Adaptou-se o coacutedigo fornecido pelo projeto AMPER-POR Dessa forma a

variedade de Barcarena eacute identificada pelo coacutedigo BE1 Para a identificaccedilatildeo do sexo utilizam-

se as letras maiuacutesculas M (sexo masculino) e F (sexo feminino) No caso da faixa etaacuteria o

coacutedigo utilizado comprende os algarismo 1 (15 a 25 anos) 2 (26 a 45 anos) e 3 (acima de 45

anos) O niacutevel de escolaridade eacute identificado pelas letras maiuacutesculas A (baixo niacutevel de

escolaridade fundamental) B (niacutevel meacutedio) e C (niacutevel superior de ensino) Para identificaccedilatildeo

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 36: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

36

do tipo de protocolo de coleta de dados satildeo utilizadas a letra X para os dados obtidos com o

teste de projeccedilatildeo de imagens e a letra Y para os dados de fala lida Por uacuteltimo haacute a

identificaccedilatildeo da ordem cronoloacutegica do informante que vai de 01 a 18 Uma vez o coacutedigo

montado ao lado do mesmo escreve-se a palavra alvo seguida de seu nuacutemero de ocorrecircncia

no corpus gravado para a identificaccedilatildeo de cada aacuteudio e seu respectivo textgrid no programa

PRAAT Tais informaccedilotildees estatildeo sinterizadas no Quadro 02 a seguir

Quadro 02 Codificaccedilatildeo adotada pelo projeto Norte Vogais para a identificaccedilatildeo dos informantes

Coacutedigo Significado

B Portuguecircs brasileiro

E Norte Vogais

0 Beleacutem

1 Primeira Faixa Etaacuteria (15 a 25 anos de idade)

2 Segunda Faixa Etaacuteria (26 a 45 anos de idade)

3 Terceira Faixa Etaacuteria (46 anos em diante)

F Informante do sexo Feminino

M Informante do sexo Masculino

A Grau de Escolaridade (Fundamental)

B Grau de Escolaridade (Meacutedio)

C Grau de Escolaridade (Superior)

0118 Ordem Cronoloacutegica do Informante

Y Coacutedigo do Protocolo de Fala Lida

De posse destas informaccedilotildees segue o Quadro 03 que apresenta os informantes

por meio de seu respectivo coacutedigo e a duraccedilatildeo de cada gravaccedilatildeo utilizada na anaacutelise acuacutestica

O tempo total de gravaccedilatildeo foi de 01h39min38seg

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 37: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

37

Quadro 03 Corpus utilizado na anaacutelise acuacutestica da variedade de BarcarenaPA

Informante

Duraccedilatildeo da gravaccedilatildeo

BE1F1A01Y 04min31seg

BE1F1B02Y 03min57seg

BE1F1C03Y 03min42seg

BE1M1A04Y 04min13seg

BE1M1B05Y 03min30seg

BE1M1C06Y 03min56seg

BE1F2A07Y 06min52seg

BE1F2B08Y 04min10seg

BE1F2C09Y 04min28seg

BE1M2A10Y 17min36seg

BE1M2B11Y 05min02seg

BE1M2C12Y 04min26seg

BE1F3A13Y 07min07seg

BE1F3B14Y 04min58seg

BE1F3C15Y 04min06seg

BE1M3A16Y 06min26seg

BE1M3B17Y 05min18seg

BE1M3C18Y 05min20seg

3) Levantamento das ocorrecircncias das palavras alvo por informante e por tipo de coleta de

dados

4) Identificaccedilatildeo das variantes ocorridas por vocaacutebulo considerando os dados de cada

informante

5) Organizaccedilatildeo dos dados obtidos em uma planilha Excel para o registro das medidas

acuacutesticas tomadas de cada vogal alvo

Concluiacutedas todas as etapas acima retornou-se ao programa PRAAT para as

tomadas de medidas fiacutesicas de cada vogal alvo como descrito abaixo Vale ressaltar que a

escala de pitch utilizada na anaacutelise foi para as mulheres de 100 Hz-350 Hz e para os

homens de 70 Hz-200 Hz

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 38: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

38

6) Tomada de medida de F1 na parte central da vogal alvo

7) Tomada de medida de F2 na parte central da vogal alvo

8) Tomada de medida de duraccedilatildeo em milissegundos

9) Tomada de medida de F0 tambeacutem na parte central da vogal

A Figura 03 abaixo mostra como satildeo obtidas tais medidas O exemplo ilustrado eacute

a retirada do valor de F1 da vogal alvo Os trecircs nuacutemeros antes do ponto que aparecem na

janeta Praat Info satildeo registrados como a medida do primeiro formante (F1) Do mesmo

ocorre com a retirada das medidas de F2 e F0

Figura 03 Janela do programa PRAAT contendo um exemplo da tomada de medidas

Para a tomada de medidas de parte dos dados tambeacutem foi utilizado o script

analyse_tierpraat criado por Daniel Hirst da Universidade de Aix-Marseille (Franccedila) cedido

pelos alunos da Universidade Federal de Alagoas Mesmo sendo um grande recurso natildeo foi

dispensada a confirmaccedilatildeo dos resultados com a tomada manual de medidas

10) Registro dos valores obtidos na planilha Excel como mostra a Figura 04 abaixo Antes de

realizar o tratamento estatiacutestico foram realizadas tomadas de meacutedias e desvio padratildeo para

verificar a relevacircncia dos valores

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 39: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

39

Figura 04 Janela do Excel demonstrando como eacute feita a organizaccedilatildeo dos dados

De posse dos valores de meacutedia e desvio padratildeo de F1 e F2 das variantes

estudadas foram elaborados graacuteficos no programa Excel de modo a possibilitar a

visualizaccedilatildeo do comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas em relaccedilatildeo ao espaccedilo acuacutestico

No capiacutetulo seguinte os referidos graacuteficos satildeo exibidos e satildeo feitas as devidas observaccedilotildees

sobre os mesmos

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 40: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

40

Capiacutetulo 5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

A anaacutelise dos dados de BarcarenaPA mostra que o portuguecircs falado na Amazocircnia

Paraense tem no niacutevel acuacutestico 4 variantes para as vogais meacutedias pretocircnicas i) alteamento

como em p[i]quenom[u]eda ii) manutenccedilatildeo como em pr[e]siacutediob[o]rracha iii)

abaixamento como em p[E]scadorr[O]camboles e iv) enfraquecimento da vogal ou perda do

vozeamento como em fut[oslash]bolc[oslash]sturar Este resultado eacute similar ao encontrado na pesquisa

realizada por Cruz et al (2012) para os dados de BeleacutemPA com o protocolo de fala lida e

por Moraes (2014) para os dados de CametaacutePA com o protocolo de teste de imagens

Ao todo no presente estudo foram analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias

pretocircnicas orais 414 na fala masculina e 404 na fala feminina sendo 411 anteriores e 407

posteriores Na Tabela 01 eacute possiacutevel observar o nuacutemero de ocorrecircncias de cada variante por

sexo os valores das meacutedias e desvio padratildeo de F1 e F2 em Hz

Tabela 01 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e desvio padratildeo dos

valores em Hz de F1 e F2 de cada variante analisada

Dessa forma constata-se que a manutenccedilatildeo foi a variante mais frequente A

variante [e] foi a que apresentou o maior nuacutemero de ocorrecircncias seguida da variante [o] tanto

na fala masculina como na fala feminina Este resultado corrobora com a constataccedilatildeo

levantada nos estudos sociolinguiacutesticos de que o portuguecircs brasileiro falado no Paraacute

privilegia a manutenccedilatildeo (RODRIGUES E ARAUacuteJO 2007 DIAS et al 2007 CASSIQUE et

al 2009 OLIVEIRA 2007 CAMPOS 2008 MARQUES 2008 CRUZ et al 2008

SOUSA 2010)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 45 70 399 456 1884 2062 62 49 245 277

e 146 101 439 486 1844 2102 45 52 153 238

E 22 27 535 595 1734 1974 47 75 102 189

O 29 41 601 641 1079 1154 41 81 159 149

o 113 87 524 533 1195 1141 98 58 383 209

u 59 78 503 492 1297 1268 89 73 300 273

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 41: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

41

Depois das variantes meacutedias fechadas as variantes altas satildeo as mais preferidas

pelos falantes de BarcarenaPA indicando que o alteamento depois da manutenccedilatildeo eacute a

variante mais frequente na variedade do portuguecircs falada na localidade estudada As variantes

baixas por sua vez ocorrem em menor nuacutemero evidenciado que o abaixamento eacute a variante

menos preferida na fala da comunidade

De posse das meacutedias de F1 e F2 em Hz das variantes investigadas por meio dos

dados de fala lida de BarcarenaPA foi elaborado o Graacutefico 01 a seguir que mostra o espaccedilo

acuacutestico destas variantes nos dois sexos feminino e masculino

Graacutefico 01 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1)

A anaacutelise acuacutestica dos dados de BarcarenaPA demonstra que na fala feminina

em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante

meacutedia fechada e as duas manteacutem uma grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que

evidencia um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [e]2 resultado que se assemelha ao encontrado

nas pesquisas em BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na fala masculina as variantes anteriores satildeo

2 Segundo Sandalo e Abaurre (2013 apud Moraes 2014) quando haacute uma grande proximidade entre as variantes temos mais indiacutecios de um alto grau de variaccedilatildeo entre elas mas quando se percebe um maior distanciamento

entre as mesmas haveraacute a indicaccedilatildeo de um menor grau de variaccedilatildeo

i

e

E

O

o

u

i

e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 42: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

42

bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico embora a distacircncia entre [i] e [u] seja menor do que a

de ambas para a variante [E]

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam

significativamente na variante meacutedia aberta Esta proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo

entre [u] e [o] na fala masculina Estes resultados tambeacutem se aproximam dos encontrados na

pesquisa realizada na capital paraense

Na comparaccedilatildeo do comportamento das variantes entre os dois sexos observa-se

que na fala feminina haacute a maior tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo jaacute que haacute a posteriorizaccedilatildeo de [i] e

a anteriorizaccedilatildeo de [u] Nota-se tambeacutem que as variantes posteriores ocupam espaccedilos

acuacutesticos bem semelhantes na fala dos dois sexos embora na fala masculina [u] e [o]

estejam mais proacuteximas entre si e menos distantes de [O] do que na fala feminina

Para uma observaccedilatildeo melhor os dados a seguir estatildeo graacuteficos elaborados

considerando a faixa etaacuteria e o sexo Os dados relativos agrave escolaridade seratildeo exibidos

posteriormente

Graacutefico 02 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da primeira faixa etaacuteria investigada (15 a 25 anos)

i

e

E

O

o

u

i

e

E O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i fala feminina fala masculina

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 43: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

43

Por meio do Graacutefico 02 eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria de 15 a 25 anos

as variantes [i] e [e] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina e que ambas

manteacutem uma distacircncia significativa da variante aberta [E] Jaacute na fala masculina as variantes

anteriores encontram-se bastante diferenciadas no espaccedilo acuacutestico mesmo que [i] e [u] se

mantenham mais proacuteximas entre si e distantes de [E] No caso das variantes posteriores [u] e

[o] ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico mantendo uma relativa distacircncia da

variante aberta [O] na fala masculina Na fala feminina por sua vez o espaccedilo de cada vogal eacute

bem delimitado Nesse sentido constata-se que o grau de variaccedilatildeo na fala feminina eacute maior

entre a variante alta e fechada anteriores e na fala masculina eacute maior entre a variante alta e

fechada posteriores

Outro ponto interessante a se observar eacute a distacircncia significativa que as variantes

baixas da mantecircm em relaccedilatildeo agraves demais variantes de modo que na fala masculina a distacircncia

que [E] manteacutem das outras variantes anteriores eacute bem mais acentuada do que a distacircncia de

[O] para as demais variantes posteriores Aleacutem disso eacute possiacutevel verificar que na faixa etaacuteria

de 15 a 25 anos a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute mais evidenciada na fala feminina

Graacutefico 03 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de

fala lida da variedade de Barcarena (BE1) da segunda faixa etaacuteria investigada (26 a 45 anos)

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

750

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1(Hz)

i i fala masculina fala feminina

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 44: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

44

Por meio do Graacutefico 03 que mostra o espaccedilo acuacutestico das variantes da faixa etaacuteria

de 26 a 45 anos eacute possiacutevel verificar que em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante alta e a meacutedia

fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico tanto na fala feminina como na fala

masculina Dessa forma haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e [u] na fala de ambos os sexos

na referida faixa etaacuteria No caso das posteriores verifica-se que na fala feminina o espaccedilo

acuacutestico de cada variante eacute bem diferenciado embora [i] estejam mais proacuteximas entre si e

distantes de [E] Jaacute na fala masculina [u] e [o] estatildeo muito proacuteximas o que indica um alto

grau de variaccedilatildeo entre estas variantes sendo que ambas apresentam uma distacircncia

significativa da variante baixa [O]

No que diz respeito agrave centralizaccedilatildeo das vogais a tendecircncia ao referido fenocircmeno eacute

mais evidenciada na fala masculina Outro fato importante a se destacar eacute que a vogal u

ocupa o mesmo espaccedilo acuacutestico em ambos os sexos

A seguir estaacute o graacutefico referente a terceira faixa etaacuteria investigada acima de 45

anos de idade que traz mais informaccedilotildees acerca dos dados levantados na pesquisa

Graacutefico 04 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas do corpus de fala

lida da variedade de Barcarena (BE1) da terceira faixa etaacuteria investigada (acima de 46 anos)

e

E

i

O

o

u

e

E

i

O

o

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

e e fala feminina fala masculina

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 45: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

45

No Graacutefico 04 que traz os dados da faixa etaacuteria acima de 45 anos nota-se que as

variantes anteriores apresentam espaccedilo acuacutestico bem delimitado tanto na fala feminina quanto

na fala masculina Isso implica afirmar que ao contraacuterio das demais faixas etaacuterias a variante

alta e a meacutedia fechada anteriores em ambos os sexos natildeo possuem um alto grau de variaccedilatildeo

nos dados dos informantes com idade acima de 45 anos

No que diz respeito agraves vogais posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados na fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a

meacutedia fechada ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico e se distanciam significativamente na

variante meacutedia aberta Aleacutem disso a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais pode ser observada

com mais evidecircncia na fala feminina

Diante da observaccedilatildeo dos graacuteficos divididos por faixa etaacuteria verifica-se que os

mais jovens (primeira e segunda faixa etaacuteria) variam mais do que os velhos (terceira faixa

etaacuteria) As variantes anteriores [i] e [e] e as posteriores [u] e [o] apresentaram grau de

variaccedilatildeo elevado na fala de ambos os sexos feminino e masculino tanto na faixa de 15 a 25

anos como na de 26 a 45 anos A fala masculina foi que mais apresentou graus de variaccedilatildeo

acentuados entre [u] e [o] estando presentes nas trecircs faixas etaacuterias estudadas Sendo assim de

modo geral os homens variam mais do que as mulheres e a faixa etaacuteria na qual haacute maiores

iacutendices de variaccedilatildeo eacute a segunda de 26 a 45 anos

A tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais na primeira e na terceira faixa etaacuteria ficou

mais evidenciada na fala feminina Na segunda faixa etaacuteria de 26 a 45 anos a referida

tendecircncia apresentou-se com mais evidecircncia na fala masculina

Os graacuteficos a seguir trazem informaccedilotildees acerca do papel da escolaridade e satildeo

divididos por sexo Assim eacute possiacutevel observar o comportamento das vogais em funccedilatildeo destas

duas caracteriacutesticas dos informantes

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 46: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

46

Graacutefico 05 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 05 que mostra os dados da fala feminina distribuiacutedos por

escolaridade verifica-se que [i] e [e] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do ensino

superior e tecircm praticamente a mesma posiccedilatildeo na fala do ensino fundamental sendo a

distacircncia para a variante baixa [E] bastante significativa nos dois niacuteveis Jaacute na fala do ensino

meacutedio a disposiccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico eacute bem diferenciada

No caso das posteriores [u] e [o] ocupam quase o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala

do ensino superior estando bastante afastadas da variante baixa [O] Em contrapartida na fala

do ensino fundamental e meacutedio as mesmas variantes apresentam-se bem distintas no espaccedilo

acuacutestico

Desse modo na fala do sexo feminino ensino fundamental e ensino superior

apresentam um alto grau de variaccedilatildeo entre a variante alta e a meacutedia fechada anterior O ensino

superior tambeacutem demonstra um grau de variaccedilatildeo elevado entre a variante alta e a meacutedia

fechada posterior O que tambeacutem chama a atenccedilatildeo eacute o fato de a variante [o] ocupar

praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala feminina do ensino fundamental e meacutedio Vale

destacar que a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais eacute evidenciada na fala de todos os niacuteveis de

escolaridade mais ainda na fala do ensino fundamental

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

u

i e

E

O

o u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 47: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

47

Graacutefico 06 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

do corpus de fala lida da variedade de Barcarena (BE1) classificadas por escolaridade

No Graacutefico 06 haacute as informaccedilotildees referentes agrave fala masculina nas trecircs

escolaridades estudadas Por meio dele observa-se que a variante [i] ocupa quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico que [e] na fala do ensino fundamental e que ambas mantecircm uma grande

distacircncia da variante baixa [E] Nos demais niacuteveis as variantes ocupam espaccedilos acuacutesticos

bem diferenciados sendo que na fala do ensino meacutedio e do superior as vogais [i] e [e]

apresentam a mesma disposiccedilatildeo no espaccedilo acuacutestico

Em relaccedilatildeo agraves posteriores [u] e [o] ocupam o mesmo espaccedilo acuacutestico na fala do

ensino meacutedio e nos demais niacuteveis fundamental e superior as variantes ocupam espaccedilos bem

diferenciados sendo que [u] apresenta o quase a mesma disposiccedilatildeo espacial na fala do ensino

fundamental e do superior

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute o espaccedilo acuacutestico ocupado pelas variantes baixas

anterior e posterior que ocupam praticamente o mesmo espaccedilo acuacutestico nas trecircs

escolaridades o que tambeacutem ocorre com a variante [e] que possui quase a mesma disposiccedilatildeo

na fala dos trecircs niacuteveis

i e

E

O

o

u

i

e

E

O

o

i

e

E

O

o u

u

350

400

450

500

550

600

650

700

500 1000 1500 2000 2500

F2 (Hz)

F1 (Hz)

i i i fundamental meacutedio superior

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 48: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

48

Sendo assim percebe-se que na fala masculina haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre

[i] e [e] na fala do ensino fundamental e entre [u] e [o] na fala do ensino meacutedio A tendecircncia agrave

centralizaccedilatildeo por sua vez eacute evidenciada na fala do ensino fundamental

Por meio dos Graacuteficos 05 e 06 que trazem os dados e BarcarenaPA distribuiacutedos

por sexo e escolaridade dos informantes constata-se que a [i] e [e] ocupam quase o mesmo

espaccedilo acuacutestico na fala do ensino fundamental tanto entre as mulheres quanto entre os

homens indicando que haacute um alto grau de variaccedilatildeo entre as referidas variantes na fala de

ambos os sexos na variedade da localidade estudada O ensino meacutedio tanto na fala feminina

como na fala masculina apresenta as variantes anteriores bem distribuiacutedas no espaccedilo acuacutestico

evidenciando que neste niacutevel de escolaridade natildeo haacute grau de variaccedilatildeo acentuado nas

anteriores

O grau de variaccedilatildeo elevado entre [u] e [o] eacute verificado na fala do ensino superior

entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens Jaacute o ensino fundamental tanto

na fala feminina quanto na fala masculina mostra uma distribuiccedilatildeo de variantes posteriores

bastante diferenciada no espaccedilo acuacutestico o que indica que natildeo haacute alto grau de variaccedilatildeo entre

as posteriores no referido niacutevel de escolaridade Quanto agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das

vogais ela se mostrou com mais evidecircncia na fala do ensino fundamental em ambos os sexos

Em relaccedilatildeo agrave tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo no portuguecircs brasileiro que foi

evidenciada pelos dados de BarcarenaPA Moraes et al (2002) utilizando a metodologia

variacionista observaram que no sistema pretocircnico ocorre posteriorizaccedilatildeo das vogais

anteriores e anteriorizaccedilatildeo das posteriores (ver capiacutetulo 2) Tal tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo foi

evidenciada tambeacutem na comparaccedilatildeo do sistema tocircnico do portuguecircs do Brasil com o de

Portugal Segundo os autores a perda da produtividade da harmonia vocaacutelica no portuguecircs

brasileiro talvez se explique pela tendecircncia articulatoacuteria deste sistema que ao contraacuterio da de

Portugal eacute a centralizaccedilatildeo e natildeo o alteamento

Outro ponto a ser destacado diz respeito agraves vogais altas Quando se investigou a

assimetria de comportamento das vogais alta anterior e posterior como propulsoras do

processo de harmonia vocaacutelica percebeu-se que a vogal anterior tem a maior probabilidade de

elevar a meacutedia pretocircnica do que sua correspondente posterior Segundo Bisol (1989 apud

Callou et al 2009) a menor forccedila articulatoacuteria de u deve-se agrave forma trapezoidal da cavidade

oral o que viabilizaria um espaccedilo vertical maior para a produccedilatildeo de vogais anteriores do que

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 49: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

49

de posteriores Dessa forma i seria mais alto que u Todavia isto natildeo se confirmou no

estudo de Callou et al (2009) diante do espaccedilo acuacutestico das vogais tocircnicas

No estudo de Moraes et al (2002) confirma-se que i e u em siacutelaba tocircnica em

algumas cidades apresenta o mesmo valor para F1 que estaacute relacionado agrave altura da vogal

Nos dados da presente pesquisa observou-se o comportamento das vogais derivadas [i] e [u]

jaacute que o sistema analisado eacute o pretocircnico Verificou-se que as medidas de F1 da vogal alta

anterior e de sua correspondente posterior derivadas satildeo bastante proacuteximos na fala feminina

o que de certa forma aproxima-se dos resultados encontrados no estudo dos referidos autores

no sistema tocircnico Todavia na fala dos homens percebeu-se uma grande diferenccedila de valores

de F1 sendo o valor de [i] bem menor do que o de [u] o que por conseguinte corrobora com

a ideia de que vogais derivadas satildeo acusticamente diferenciadas (CALLOU et al 2009)

No tocante ao fato de [u] e [o] ocuparem quase ou o mesmo espaccedilo acuacutestico em

grande parte dos dados haacute uma hipoacutetese levantada nos estudos do portuguecircs brasileiro a de

que a diferenccedila entre as referidas vogais posteriores natildeo seja definida apenas pelo primeiro e

segundo formantes que correspondem agrave altura e posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo da liacutengua

respectivamente Segundo Leite et alii (2006 apud Callou et al 2009) a diferenccedila entre tais

vogais tambeacutem pode ser dada pelo terceiro formante (grau de arredondamento dos laacutebios)

considerando-se que em alguns casos [u] e [o] possuem o mesmo valor de F1 e valores

muito proacuteximos para F2 Entretanto para que esta hipoacutetese seja confirmada eacute necessaacuterio um

volume maior de dados e um estudo mais avanccedilado segundo Callou et al (2009)

Com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees entre as variedades paraenses jaacute

investigadas do ponto de vista acuacutestico pelo projeto Norte Vogais foram elaborados graacuteficos

que trazem informaccedilotildees sobre os dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 50: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

50

Graacutefico 07 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala feminina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

No Graacutefico 07 que traz os dados da fala feminina observa-se que as variantes

ocupam espaccedilos acuacutesticos semelhantes nas trecircs variedades principalmente no caso das

variantes anteriores [i] e [e] que satildeo muito proacuteximas entre si e distantes de [E] em Barcarena

Beleacutem e Cametaacute Quanto agraves posteriores Beleacutem destoa de Barcarena e Cametaacute por apresentar

o [u] mais distante das demais variantes

Graacutefico 08 Meacutedias de valores em Hz de F1 e F2 das trecircs variantes das vogais meacutedias pretocircnicas da fala masculina

nos dados de Barcarena (BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 51: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

51

No Graacutefico 08 que traz os dados da fala masculina verifica-se que assim como

na fala masculina [i] e [e] satildeo muito proacuteximos entre si e distantes de [E] nas trecircs variedades

estudadas Jaacute as variantes posteriores de modo geral apresentam espaccedilos acuacutesticos distintos

de uma variedade para outra mas Barcarena se assemelha agrave Cametaacute em virtude da grande

proximidade entre [u] e [o]

Graacutefico 09 Percentual de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas nas variedades de Barcarena

(BE1) Beleacutem (BE0) e Cametaacute (BE4)

Por meio do Graacutefico 09 eacute possiacutevel constatar que as variantes altas [i] e [u]

apresentam um percentual de ocorrecircncia maior em Barcarena Jaacute a meacutedia anterior [e] ocorre

com mais frequecircncia em Beleacutem e a meacutedia posterior [o] em Cametaacute A baixa anterior [E] por

sua vez apresenta-se um maior nuacutemero ocorrecircncias em Cametaacute e a baixa posterior [O] em

Beleacutem Tais resultados indicam que a manutenccedilatildeo eacute a variante preferida pelos falates do

estado do Paraacute e que Barcarena ao contraacuterio de Beleacutem e Cametaacute apresenta o alteamento

como a segunda variante de maior preferecircncia

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 52: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

52

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo principal caracterizar acusticamente as vogais

meacutedias pretocircnicas da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA Para tal o corpus

analisado foi composto por amostras de fala de 18 informantes nativos de localidade

estudada Tais informantes foram submetidos a um protocolo de fala lida que contou com um

texto formado por 53 vocaacutebulos contendo as vogais meacutedias pretocircnicas alvo Ao todo foram

analisadas 818 realizaccedilotildees das vogais meacutedias pretocircnicas orais sendo 411 anteriores e 407

posteriores

A partir das tomadas de medidas de F1 e F2 em Hz foi possiacutevel observar que na

variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA os falantes datildeo preferecircncia agrave manutenccedilatildeo

das vogais meacutedias pretocircnicas corroborando com os resultados obtidos pelas pesquisas

sociolinguiacutesticas jaacute empreendidas pelo projeto Norte Vogais intregrante do PROBRAVO no

portuguecircs falado no Paraacute

Aleacutem disso verificou-se que na fala feminina em relaccedilatildeo agraves anteriores a variante

alta ocupa quase o mesmo espaccedilo acuacutestico da variante meacutedia fechada e as duas manteacutem uma

grande distacircncia da variante meacutedia aberta o que indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [i] e

[e] Este resultado se assemelha ao encontrado nos dados de BeleacutemPA e CametaacutePA Jaacute na

fala masculina as variantes anteriores satildeo bem discriminadas no espaccedilo acuacutestico

Quanto agraves posteriores as mesmas ocupam espaccedilos acuacutesticos bem diferenciados na

fala feminina Em contrapartida na fala masculina a variante alta e a meacutedia fechada estatildeo

muito proacuteximas e se distanciam consideravelmente da variante meacutedia aberta Esta

proximidade indica um alto grau de variaccedilatildeo entre [u] e [o] na fala masculina Tais resultados

tambeacutem se aproximam dos encontrados na pesquisa realizada na capital do Paraacute

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria constatou-se que i) os mais jovens (15 a 25 anos 26 a

45 anos) variam mais do que os velhos (acima de 45 anos) ii) de modo geral os homens

variam mais do que as mulheres e iii) a faixa etaacuteria na qual haacute maiores iacutendices de variaccedilatildeo eacute a

segunda de 26 a 45 anos Quanto agrave escolaridade observou-se que haacute um alto grau de variaccedilatildeo

entre as variantes alta e meacutedia fechada anteriores na fala de ambos os sexos e que um grau de

variaccedilatildeo elevado entre as variantes alta e meacutedia fechada posteriores eacute verificado na fala do

ensino superior entre as mulheres e na fala do ensino meacutedio entre os homens

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 53: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

53

No que diz respeito a outros estudos feitos no portuguecircs falado no Brasil

verificou-se a tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das vogais no espaccedilo acuacutestico defendida por Moraes

et al (2002) principalmente na fala das mulheres Aleacutem disso notou-se que o F1 (altura) e o

F2 (posteriorizaccedilatildeoanteriorizaccedilatildeo) das vogais alta e meacutedia fechada posteriores satildeo bastante

proacuteximos em grande parte dos dados o que de certa forma reforccedila a hipoacutetese de Leite et alii

(2006 apud Callou et al 2009) na qual a diferenccedila entre as vogais talvez seja dada pelo F3

(grau de arredondamento)

Diante da realizaccedilatildeo deste trabalho estima-se que as descobertas acerca das

vogais da variedade do portuguecircs falada em BarcarenaPA contribuam para os estudos

descritivos do portuguecircs falado na Amazocircnia Paraense e que uma pesquisa de cunho

sociolinguiacutestico possa ser realizada na localidade a fim de que os dados possam ser

comparados Aleacutem disso espera-se que futuras pesquisas no campo da Foneacutetica Acuacutestica

possam ser auxiliadas pelas constataccedilotildees aqui apresentadas

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 54: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

54

REFEREcircNCIAS

ABAURRE M B M SANDALO F MADRUGA M R Dispersatildeo e harmonia vocaacutelica em

dialetos do portuguecircs do Brasil Organon Porto Alegre v 28 n 54 p 13-30 janjun 2013

Disponiacutevel em lthttpseerufrgsbrindexphporganonarticleview3727027045gt Acesso em

201114 agraves 10h15min

BARROS M J B SILVA J M P da NAHUM J S O plano plurianual e a gestatildeo

territorial de obras pelo poder local em Barcarena - Paraacute In NAHUM J S (org) Dinacircmicas

territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute Beleacutem Editora Accedilaiacute

2011

CALLOU D LEITE Y MORAES J e MACHADO L Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais

no portuguecircs brasileiro siacutelabas pretocircnicas e tocircnicas In HORA D da (org) Vogais no

ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa Ideia 2009 pp 133-144

CAMPELO M A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Anteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

CAMPOS B Alteamento vocaacutelico em posiccedilatildeo pretocircnica no portuguecircs falado no Municiacutepio

de Mocajuba-Paraacute 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paraacute

Beleacutem UFPA

CASSIQUE O et al Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Preacute-tocircnicas no portuguecircs falado em Breves

(PA) In HORA D da (org) Vogais no ponto mais oriental das Ameacutericas Joatildeo Pessoa

Ideia 2009 pp 163-184

CAVALCANTE C O sistema vocaacutelico do portuguecircs falado em Braganccedila Paraacute anaacutelise

experimental Beleacutem UFPAILCCML (Projeto de Dissertaccedilatildeo de Mestrado) em andamento

COELHO M L A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Posteriores Pretocircnicas no Portuguecircs Falado

no Municiacutepio de Breu Branco(PA) uma Abordagem Variacionista Beleacutem UFPAILCFALE

2008 (Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

COSTA R M da S CRUZ R C F Anaacutelise qualitativa das vogais meacutedia postocircnicas natildeo-

finais no portuguecircs falado no municiacutepio de Cametaacute (Pa) Revista Letras amp Letras Uberlandia

v 28 n 1 pp 253-272 jan|jun 2012

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 55: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

55

CRUZ R Projeto de Pesquisa Brazilian Amazon Portuguese vowel system acoustic analysis

(Processo BEX175410-6) Brasiacutelia CAPESFulbright New York New York University

(Relatoacuterio teacutecnico-cientiacutefico aprovado) 2011

_______ COSTA M SILVA A C Vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs falado em

Beleacutem Paraacute anaacutelise qualitativa e acuacutestica In IV SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL DE

FONOLOGIA Anais Porto Alegre UFGRS Instituto de Letras 2012

DIAS M et al O alteamento das vogais preacute-tocircnicas no portuguecircs falado na aacuterea rural do

municiacutepio de Breves (PA) uma abordagem variacionista Revista Virtual de Estudos da

Linguagem (REVEL) Porto Alegre n 9 v 5 jul 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwrevelinfbrsite2007_pdf9artigosgt Acesso em 171014 agraves 20h08min

ESCUDERO P et al A cross-dialect acoustic description of vowels Brazilian and European

Portuguese 2009 Disponiacutevel em

lthttpwwwfonhumuvanlpaulpapersPortuguese2009pdfgt Acesso em 14072014 agraves

20h30min

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA

lthttpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=150130ampsearch=||infogrE1fico

s-informaE7F5es-completasgt Acesso em 250514 agraves 18h

KENSTOWICZ M SANDALO F Pretonic Vowel Reduction in Brazilian Portuguese

Harmony and Dispersion MIT ms 2011

MAIA M L MOURA E A F Da Farinha ao Alumiacutenio os caminhos da modernizaccedilatildeo na

Amazocircnia In PREFEITURA MUNICIPAL DE BARCARENA Subsiacutedios para um Estudo

da Histoacuteria do Municiacutepio de Barcarena Barcarena Secretaria Municipal de Cultura 1999

MORAES J CALLOU D LEITE Y Caracterizaccedilatildeo acuacutestica das vogais tocircnicas do

portuguecircs culto In M Kato (org) Gramaacutetica do Portuguecircs Falado vol V Satildeo Paulo Ed

Unicamp 2002

MORAES M L As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs falado na zona rural do

municiacutepio de Cametaacute uma caracterizaccedilatildeo acuacutestica Cametaacute UFPACUNTINS 2014

(Trabalho de Conclusatildeo de Curso em Letras)

NINA T Aspectos da Variaccedilatildeo Foneacutetico-Fonologica na fala de Beleacutem Rio de Janeiro

UFRJFaculdade de Letras 1991 (Tese de Doutorado em Liacutengua Portuguesa)

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 56: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

56

OLIVEIRA D Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica no portuguecircs falado na aacuterea urbana do municiacutepio de

BrevesPA uma abordagem variacionista Beleacutem UFPA 2007 (Plano PIBICCNPq)

RODRIGUES D ARAUacuteJO M dos P As vogais meacutedias pretocircnicas e e o no portuguecircs

falado no municiacutepio de CametaacutePA ndash a harmonizaccedilatildeo vocaacutelica numa abordagem variacionista

In BISOL L BRESCANCINI C (Org) Cadernos de Pesquisa em Linguiacutestica Variaccedilatildeo

no Portuguecircs Brasileiro vol 3 Porto Alegre novembro de 2007 pp 104-126

RODRIGUES J E C Ocupaccedilatildeo e uso da terra como indicador de risco ambiental nos

distritos de Murucupi e Vila do Conde municiacutepio de Barcarena - PA In NAHUM J S

(org) Dinacircmicas territoriais e poliacuteticas no municiacutepio de Barcarena no Estado do Paraacute

Beleacutem Editora Accedilaiacute 2011

SILVA NETO S da Introduccedilatildeo ao Estudo da Liacutengua Portuguesa no Brasil 4 ed Rio de

Janeiro Presenccedila 1977 [1957]

SOUSA J A Variaccedilatildeo das Vogais Meacutedias Pretocircnicas no Portuguecircs Falado na Aacuterea Urbana

do Municiacutepio de BeleacutemPA 2010 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal

do Paraacute Beleacutem UFPA

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 57: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

57

ANEXOS

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 58: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

58

ANEXO I Texto utilizado no protocolo de fala lida

A marca da nacionalidade brasileira

No ano de 2010 foi realizado um dos mais ricos e belos eventos esportivos a Copa do

mundo de futebol sediada na Aacutefrica do Sul Desde a copa de setenta com a conquista do

tricampeonato a seleccedilatildeo brasileira passou a ser mais querida por todos principalmente porque

na equipe tinha os ldquotrecircs mosqueteirosrdquo Peleacute Garrincha e Tostatildeo formando assim aquele

velho slogan ldquoA taccedila do mundo eacute nossardquo Desde o pequeno menino ateacute o mais anciatildeo desde

o sobrinho ateacute o vovozatildeo do comandante ao aposentado eacute percebida a paixatildeo desenfreada

pelo futebol e acima de tudo pela seleccedilatildeo canarinho

Em dias de jogos do Brasil ldquotudo eacute fechadordquo Como num domingo os namorados

deixam de visitarem suas amadas as costureiras param de costurar coleacutegios param de

funcionar a poliacutecia para em frente a qualquer televisor espalhado pelas ruas e ateacute mesmo os

hospitais entram no ritmo da copa Eacute como se fosse uma procissatildeo verde e amarela na qual

ateacute o nosso presidente participa Eacute uma paixatildeo avassaladora que conquista o paiacutes inteiro desde

Oiapoque ao Chuiacute de Rondocircnia ao Piauiacute As senhoras se encontram na cozinha as meninas

com suas bonecas nos preacutedios o morador da direita comenta com o da esquerda que jaacute iraacute

comeccedilar o jogo Todas em frente agrave TV para acompanhar o tal episoacutedio

Haacute ateacute maior oferta de empregos terceirizados como a venda de bebidas cervejas

refrigerantes e ateacute remeacutedios para possiacuteveis ldquochiliquesrdquo

Nesta eacutepoca os jogadores escalados treinam como escravo reza a lenda do pescador

que eles chegam a treinar ateacute dezesseis horas por dia Tirar o domingo para descansar Sono

profundo Nem pensar Comer demais Jamais Eacute preciso estar sempre alerta a tudo como em

uma peccedila de teatro E nem ouse a pensar que a torcida perdoaraacute um jogo perdido Eacute a maior

vergonha para os jogadores que satildeo xingados de tudo burros veados com direito ateacute a um

certificado de incompetecircncia mas apesar de tudo isso os jogadores natildeo devem nem por um

segundo imaginar jogar a toalha

Jaacute o teacutecnico sofre a pior das cobranccedilas aleacutem de ter que treinar os jogadores dia e noite

noite dia tem de aguumlentar os xingamentos de todos os tipos e passar por situaccedilotildees

constrangedoras servindo de alvo para ovos tomates repolhos rocamboles entre outros

alimentos de nossa culinaacuteria brasileira

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 59: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

59

Eacute necessaacuterio tambeacutem ter um grande cuidado com os ldquohermanos cabeludosrdquo

(Argentinos) que parecem mais corujas de olhos bem abertos atraacutes de marcar logo um gol Eacute

preciso cortaacute-los do meio do caminho com uma tesoura chamada raccedila e determinaccedilatildeo por

partes de nossos craques Passar uma bela borracha em todos os adversaacuterios Pois assim nossa

naccedilatildeo se alegraraacute ateacute o valor de nossa moeda poderaacute subir

Vamos apoiar a nossa seleccedilatildeo Se o Brasil natildeo ganhar eacute possiacutevel ateacute que todos os

meliantes fujam revoltados dos presiacutedios Temos que trazer o caneco para exibirmos como um

presente em nossa estante Jaacute que em 2010 natildeo deu rumo a 2014

Em rosa ndash vocaacutebulos com vogais meacutedias que podem ser usados como corpus extra

Em amarelo - vocaacutebulos alvo

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 60: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

60

ANEXO II Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do (a) Participante__________________________________________________

Endereccedilo ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Telefone (____)_________________________________________________________

Outra indicaccedilatildeo relevante_________________________________________________

Nome da Pesquisadora Principal Dra Regina Ceacutelia Fernandes Cruz (UFPACNPq)

Instituiccedilatildeo Universidade Federal do Paraacute Instituto de Letras e Comunicaccedilatildeo

1 Tiacutetulo do estudo O sistema vocaacutelico do portuguecircs da Amazocircnia Paraense

caracterizaccedilatildeo acuacutestica

2 Propoacutesito do estudo Caracterizar a atitudes linguiacutesticas dos falantes nativos do

Portuguecircs Brasileiro sobre as variantes das vogais meacutedias pretocircnicas no portuguecircs

falado no municiacutepio de Barcarena (PA)

3 Compensaccedilatildeo financeira Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees financeiras

relacionadas agrave minha participaccedilatildeo no estudo

4 Incorporaccedilatildeo ao banco de dados do Projeto acima referido Os dados obtidos com minha

participaccedilatildeo na forma de gravaccedilotildees em aacuteudio seratildeo incorporados ao banco de dados

cujos responsaacuteveis zelaratildeo pelo uso e aplicabilidade das amostras exclusivamente para

fins cientiacuteficos

5 Confidencialidade Compreendo que os resultados deste estudo poderatildeo ser publicados

em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais sem que minha

identidade seja revelada

6 Se tiver duacutevidas quanto agrave pesquisa descrita posso telefonar para a

pesquisadora_______________________________________a qualquer momento

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 61: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

61

Aceito participar neste estudo e em ceder os meus dados para o banco de dados e sua

utilizaccedilatildeo para fins cientiacuteficos Receberei uma coacutepia assinada deste formulaacuterio de

consentimento

Assinatura do informante

Data

______

Assinatura do pesquisador

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 62: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

62

ANEXO III Ficha do informante

Projeto Vogais do Portuguecircs do Brasil - PROBRAVO

Variedades Linguiacutesticas da Amazocircnia Paraense - Projeto Norte Vogais ndash Beleacutem Cametaacute

Mocajuba Breves e Barcarena

Coordenaccedilatildeo

FICHA DE INFORMANTE

Coacutedigo correspondente ____________

Nome (iniciais do nome)

Idade

Sexo

Niacutevel de escolaridade

Data e local da gravaccedilatildeo

Com consentimento escrito

Sem consentimento escrito

PessoaEquipe responsaacutevel pela recolha e anaacutelise

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Observaccedilotildees____________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309

Page 63: CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS MÉDIAS …repositorio.ufpa.br/jspui/bitstream/2011/6741/1/Dissert... · 2019. 5. 22. · Os dados foram obtidos a partir da leitura de um texto

63

ANEXO IV Nuacutemero de ocorrecircncias das variantes das vogais meacutedias pretocircnicas meacutedia e

desvio padratildeo dos valores em Hz de F1 e F2 por faixa etaacuteria

1ordf faixa etaacuteria (15 a 25 anos)

2ordf faixa etaacuteria (26 a 45 anos)

3ordf faixa etaacuteria (acima de 45 anos)

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 10 26 384 473 1954 2034 50 43 331 241

e 52 46 433 503 1846 2089 36 35 166 281

E 11 9 546 638 1761 1990 62 87 97 268

O 7 12 573 693 1064 1205 48 89 43 122

o 42 26 512 548 1192 1218 111 61 407 218

u 20 32 476 499 1192 1324 98 55 274 264

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 19 19 432 463 1803 2128 46 48 155 241

e 45 50 458 494 1828 2058 42 59 151 247

E 13 9 538 604 1715 1971 40 59 97 155

O 10 10 674 674 1028 1182 29 63 44 102

o 38 33 545 545 1113 1140 75 64 290 197

u 15 25 494 500 1236 1237 57 71 188 248

Variante

Nordm de

ocorrecircncias

Meacutedia Desvio

F1 F2 F1 F2

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

i 16 25 373 432 1936 2042 65 49 258 335

e 50 50 427 462 1855 2159 51 49 143 171

E 11 9 531 545 1729 1959 50 48 116 137

O 12 19 608 591 1075 1107 48 51 139 175

o 28 28 513 504 1192 1070 76 33 312 195

u 23 21 499 472 1284 1220 92 95 276 309