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Universidade Estadual do Ceará Faculdade de Veterinária Programa de Pós-Graduação em Cências Veterinárias José Maurício Fonteles Gomes Caracterização dos dermatófitos e leveduras isolados de lesões sugestivas de dermatomicoses em cães Fortaleza, Ceará 2004

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  • Universidade Estadual do Cear

    Faculdade de Veterinria

    Programa de Ps-Graduao em Cncias Veterinrias

    Jos Maurcio Fonteles Gomes

    Caracterizao dos dermatfitos e leveduras

    isolados de leses sugestivas de dermatomicoses

    em ces

    Fortaleza, Cear

    2004

  • 2

    Universidade Estadual do Cear

    Faculdade de Veterinria

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias

    Jos Maurcio Fonteles Gomes

    Caracterizao dos dermatfitos e leveduras

    isolados de leses sugestivas de dermatomicoses em

    ces

    Fortaleza, Cear

    2004

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Faculdade de Veterinria da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincias Veterinrias. rea de Concentrao: Reproduo e sanidade de carnvoros Orientador: Prof. Dr. Marcos Fbio Gadelha Rocha

  • 3

    Universidade Estadual do Cear Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa

    Faculdade de Veterinria Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias

    Ttulo do Trabalho: Caracterizao dos dermatfitos e leveduras isolados de leses

    sugestivas de dermatomicoses em ces.

    Autor: Jos Maurcio Fonteles Gomes

    Defesa em 09/12/2004 Conceito obtido: Satisfatrio

    Banca Examinadora:

    __________________________________

    Marcos Fbio Gadelha Rocha, Prof.Dr.

    Orientador

    _________________________________ _______________________________

    Salette Lobo Torres Santiago, Profa. Dra. Jos Jlio Costa Sidrim, Prof.Dr.

    Examinadora Examinador

    __________________________________

    Maria Ftima da Silva Teixeira, Profa. Dra.

    Examinadora

  • 4

    Devemos buscar amigos como buscamos livros... mendigo o homem que no tem amigos Annimo

  • 5

    A Deus. Aos meus pais, Aguilberto e Nuplia.

    minha esposa Danielle e meu filho Rafael.

    Dedico

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Doutor Marcos Fbio Gadelha pela pacincia, estmulo, confiana e

    acima de tudo amor profisso.

    Ao Professor Doutor Jos Jlio Costa Sidrim pelo exemplo de profissionalismo e

    dedicao.

    Biloga Raimunda Smia Brilhante, pela inestimvel orientao e colaborao.

    Ao Mdico Veterinrio Jos Ricardo Henz, pela amizade e incentivo.

    minha esposa Danielle e meu filho Rafael pelo amor a mim dedicado.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Faculdade de

    Veterinria da Universidade Estadual do Cear, pela oportunidade de crescimento

    humano e profissional.

    Ao Centro Especializado em Micologia Mdica da Universidade Federal do Cear

    pelo essencial suporte tcnico.

    Aos colegas, funcionrios do CEMM, amigos e todos aqueles que contriburam

    direta e indiretamente na realizao deste trabalho.

  • 7

    RESUMO

    Esta dissertao estuda os aspectos epidemiolgicos e laboratoriais das

    dermatomicoses de ces na cidade de Fortaleza, bem como avalia dois protocolos

    teraputicos convencionais, associados ao levamisol. Cento e vinte e sete ces suspeitos de

    dermatomicoses foram submetidos avaliao clnica e micolgica. A avaliao clnica

    consistiu do histrico clnico, exame fsico e caractersticas de manejo. Na avaliao

    micolgica, o espcime clnico era submetido ao exame direto e cultura fngica. Os fungos

    isolados foram correlacionados com as caractersticas clnicas dos animais acometidos. Os

    ces com dermatofitose por Microsporum canis foram separados em 4 grupos de 6 animais,

    submetidos aos seguintes protocolos teraputicos: 1 Griseofulvina (50 mg/kg/sid/po); 2

    Griseofulvina associada ao levamisol (2,2 mg/kg/a cada 2 dias/po); 3 Cetoconazol (10

    mg/kg/sid/po); 4 Cetoconazol associado ao levamisol. O tratamento se estendeu por 30

    dias, sendo realizadas avaliaes clnicas e micolgicas semanalmente. Foi estabelecida

    uma tabela de escores, previamente estipulada, de acordo com a severidade das leses

    clnicas. Foram identificados 33 ces (25,98%) portadores de dermatopatia fngica. Os

    dermatfitos e leveduras compreenderam, respectivamente, 28 (84,84%) e 5 (15,15%). Os

    dermatfitos identificados foram M. canis (n=22; 78,57%), Microsporum gypseum (n=4;

    14,29%), Trichophyton tonsurans (n=1; 3,57%) e Microsporum fulvum (n=1; 3,57%). Dentre

    as leveduras, foram isoladas: Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) e Candida tropicalis

    (n=1; 20%). Observou-se que o M. canis mais freqente em animais de plo longo do que

    o M. gypseum (p=0,0140). Os animais domiciliados em apartamento foram mais acometidos

    por M. canis, enquanto os domiciliados em casa, por M. gypseum (p=0,0140). Os animais

    portadores de M. pachydermatis apresentaram prurido mais intenso (p=0,0060) e plo mais

    oleoso (p=0,0015) quando comparados com os ces acometidos com dermatfitos. Quanto

    aos tratamentos, observou-se que no houve diferena estatstica significativa entre os

    grupos II, III e IV. Os animais do grupo 1, tiveram uma diferena estatstica significativa em

    relao aos demais grupos. A associao de levamisol aos protocolos teraputicos no se

    mostrou vantajosa. Em suma, a dermatofitose representa papel importante nas

    dermatopatias fngicas e a griseofulvina, ainda , a melhor opo teraputica para o

    tratamento de M. canis.

  • 8

    ABSTRACT

    The purpose of this study was to evaluate the epidemiological and clinical

    features of the canine dermatomycosis in the city of Fortaleza. The possible improvement of

    two conventional therapeutic protocols was also evaluated, associated to the levamizole.

    Hundred and twenty-seven dogs with clinical suspected dermatomycosis were submitted to

    the clinical and mycological evaluation. The clinical evaluation consisted of the clinical

    report, physical exam and handling characteristics. In the mycological evaluation, the clinical

    specimen (hair and/or skin) it was submitted to the direct microspcopy and fungal culture.

    The isolated fungi were correlated with the clinic characteristics of the attacked animals.

    Twenty-four dogs with dermatophytosis were separate in four groups of 6 animals. Each

    group was treated with the following therapeutic protocols: 1 Griseofulvin (50 mg/

    kg/sid/po; 2 - Griseofulvin combined with Levamizole (2.2 mg/kg/every other day/sid/po); 3

    Ketoconazole (10 mg/kg/sid/po); 4 - Ketoconazole combined with Levamizole. The treatment

    lasted 30 consecutive days. The dogs were examined once a week and the severity of

    lesions was scored semi-quantitatively. In addition, hair samples were collected from each

    dog once a week for a fungal culture. Thirty three dogs (25.98%) with fungal dermatopathy

    were identified after primary cultivation. The dermatophytes and yeast consisted of 28

    (84.84%) and 5 (15.15%), respectively. The identified dermatophytes were Microsporum

    canis (n=22; 78.57%), Microsporum gypseum (n=4; 14.29%), Trichophyton tonsurans (n=1;

    3.57%) and Microsporum fulvum (n=1; 3.57%). The following were isolated from the yeast:

    Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) and Candida tropicalis (n=1: 20%). It was observed

    that M. canis was more frequent in long-haired animals than M. gypseum (p=0.0140).

    Animals keep in apartments are attacked more by M. canis, and those in houses, by M.

    gypseum (p=0.0140). The animals with M. pachydermatis presented more intense itching

    (p=0.0060) and more oily hair (p=0.0015) when compared with the dogs with M. canis.

    Significant differences in clinical scores were not seen among the groups 2, 3 and 4. The

    dogs of the group 1, had a significant statistical difference in relation to the other groups.

    Briefly, the dermatophytosis represents an important fungal disease of dogs and the

    griseofulvin is still the best therapeutic option for the treatment of M. canis.

  • 9

    SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS 11

    INTRODUO 12

    REVISO DE LITERATURA 14

    1. Dermatofitose. 14

    1.1. Aspectos histricos 14

    1.2. Epidemiologia 15

    1.3. Patogenia 17

    1.4.Dermatofitose versus sistema imunolgico 18

    1.5. Diagnstico 19

    1.5.1. Exame direto 20

    1.5.2. Isolamento primrio em meios de cultura 20

    1.5.3. Diferenciao microscpica das colnias 21

    1.5.4. Perfurao de plo in vitro 22

    1.5.5. Teste da Urease 22

    1.5.6. Prova de requerimentos vitamnicos 23

    1.6. Tratamento da dermatofitose 23

    1.6.1. Griseofulvina 23

    1.6.2. Derivados azlicos 24

    1.6.3. Alilaninas 26

    1.6.4. Morfolnicos 27

    1.6.5. Lufenuron 28

    1.6.6. Vacinas 28

    2. O uso de imunomoduladores 28

    2.1. Levamisol 29

    JUSTIFICATIVA 32

    HIPTESE CIENTFICA 33

    OBJETIVOS 34

    Objetivos gerais 34

    Objetivos especficos 34

    MATERIAL E MTODOS 35

    RESULTADOS E DISCUSSO 40

    CONSIDERAES FINAIS 52

  • 10

    ARTIGOS ANEXOS 54

    Artigo anexo 1: Epidemiological anda clinical features of canine dermatophytosis

    in northeast Brazil 55

    Artigo anexo 2: A study of the efficacy of the combination of Levamisole to

    Griseofulvin and Ketoconazole in the treatment of the canine Microsporum

    canis infection 67

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 68

    ANEXOS 78

    Anexo 1: Ficha de avaliao clnica e micolgica 78

    Anexo 2: Ficha de acompanhamento clnico e micolgico semanal 79

    Anexo 3: Fichas de acompanhamento clnico e micolgico individuais 80

  • 11

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    C - Graus Celsius

    CEMM Centro Especializado em Micologia Mdica

    cm - Centmetros

    Gr - Grupo

    kg - Quilograma

    LPMN - Leuccitos polimorfonucleares

    mg - Miligrama

    M. canis - Microsporum canis

    M. gyseum - Microsporum gypseum

    M. pachydermatis - Malassezia pachydermatis

    PO - Por via oral

    SID A cada 24 horas

    UFC Universidade Federal do Cear

    % - Por cento

  • 12

    INTRODUO

    As dermatopatias, isoladas ou associadas a outros distrbios drmicos,

    constituem um do principais motivos de visitas s clnicas e hospitais veterinrios.

    Dentro do atendimento clnico de carnvoros domsticos, estas constituem 30%,

    independente da localizao geogrfica e do desenvolvimento scio-econmico

    regional (Larson et al., , 1980). A introduo de mtodos diagnsticos mais

    confiveis das dermatopatias, vem evidenciando o crescente aumento de infeces

    por fungos queratoflicos dos gneros Microsporum e Trichophyton, ou seja, as

    dermatofitoses (Brilhante et al, 2003). Paralelamente ao avano no diagnstico

    clnico-laboratorial, a avaliao do potencial zoontico destas enfermidades se

    reveste de importncia, devido proximidade destes animais com os seres

    humanos.

    Diagnosticar, instituir terapias e manejos adequados para dermatofitoses

    correlacionando-as com a enfermidade em seres humanos, tornou-se um constante

    desafio aos clnicos e pesquisadores.

    A base para a abordagem teraputica das dermatofitoses est no diagnstico

    clnico-laboratorial preciso. A elaborao de um fluxograma de procedimentos,

    envolvendo uma completa anamnese, exame clnico apurado e a adoo de

    tcnicas laboratoriais adequadas, constitue a base do diagnstico e

    conseqentemente, o subsdio mais importante para a escolha do agente

    teraputico e das medidas de controle e manejo.

    Em alguns animais observa-se que mesmo munido dos cuidados supra

    citados, tanto na avaliao clnica quanto laboratorial, estes no respondem

    adequadamente aos protocolos teraputicos escolhidos (Scoot et al., 1996). A partir

    da melhor compreenso dos diversos mecanismos de resposta imunolgica do

    hospedeiro frente s dermatofitoses, alguns autores tm relatado que nos animais

    no responsivos aos tratamentos clssicos, geralmente h uma resposta

    imunolgica mediada por clulas, comprometida.

    Frente a esta constatao, torna-se plausvel a otimizao das condutas

    teraputicas, associando os antifngicos clssicos drogas capazes de estimular ou

  • 13

    mesmo de restabelecer a capacidade de resposta imunolgica, como os

    imunomoduladores, por exemplo. Esta combinao no s amplia o efeito

    teraputico dos antifngicos como tambm pode criar condies de competncia

    imunolgica frente a estes e outros patgenos.

    As drogas ditas imunomoduladoras ainda esto cercadas de incertezas

    quanto sua eficcia e viabilidade clnica. Dentre estas drogas, o Levamisol,

    frmaco j conhecido por sua ao anti-helmntica e seu baixo custo, tem se

    mostrado particularmente eficiente na estimulao da imunidade mediada por

    clulas. Seu mecanismo de ao e sua eficcia j foram objetos de estudos em

    vrias enfermidades humanas com resultados ora promissores ora contraditrios.

  • 14

    REVISO DE LITERATURA

    Os fungos, objeto de estudo na micologia humana e veterinria, so agentes

    de processos infecciosos denominados micoses, que podem ser classificadas

    clinicamente, de acordo com o local de instalao do agente infeccioso, em

    superficiais, subcutneas e sistmicas. As micoses superficiais, genericamente

    chamadas de dermatomicoses, podem ser classificadas em micoses superficiais

    estritas e dermatofitoses (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004). As

    dermatomicoses so definidas como o conjunto de entidades clnicas causadas por

    fungos causadores de alteraes nas camadas mais superficiais do extrato crneo.

    Os dermatfitos e algumas leveduras so os principais grupos de microrganismos

    implicados nas dermatomicoses (Sidrim & Rocha, 2004). A descrio dos

    dermatfitos ser realizada detalhadamente, a seguir, em virtude deste grupamento

    fngico ser o principal objeto de nosso estudo.

    1. Dermatofitoses

    1.1. Aspectos histricos

    As dermatofitoses parecem ser to antigas como a prpria histria da

    humanidade. Segundo Greer (1994), a existncia de fungos queratinoflicos

    saprfitas inicia-se no perodo mesozico, onde podem ser referidas em espcies

    zoofilicas e com posterior adaptao, passando a ser antropoflicas.

    O estudo das dermatofitoses teve incio em 1839, quando Robert Remak

    elucidou a etiologia do favus. Em seguida, em 1842, David Gruby redescobre o

    agente etiolgico do favus ratificando a etiologia das tinhas (Sidrim & Moreira, 1999;

    Sidrim & Rocha, 2004).

    Aps aproximadamente 50 anos, os dermatfitos foram estudados por

    Raymond Jacques Andrien Sabouraud e em seu tratado, denominado Les teignes,

  • 15

    os dermatfitos foram enquadrados em quatro gneros: Achorion, Trichophyton,

    Epidermophyton e Microsporum.

    Emmons, em 1934, revalidou a taxonomia assexuada dos dermatfitos,

    extinguindo o gnero Achorion, ficando os dermatfitos classificados nos trs

    gneros restantes at a atualidade. Em 1960, a reproduo sexuada foi estudada

    por Donald Griffin, corroborando os estudos anteriormente realizados por Nannizzi,

    em 1926. Em 1986 ocorreu a classificao sexuada dos dermatfitos em um nico

    gnero Arthroderma (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).

    Nos dias atuais encontramos um grande nmero de fungos pertencentes aos

    gneros Trichophyton, Epidermophyton e Microsporum. Entretanto, a denominao

    dermatfito atribuda somente aos fungos pertencentes a esses gneros que so

    queratinoflicos capazes de causar enfermidades em humanos e animais (Sidrim &

    Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).

    1.2. Epidemiologia

    Nos animais domsticos, as dermatofitoses, consideradas como micoses

    superficiais, possuem grande interesse pelo seu potencial zoontico, podendo ser

    transmitidas de uma espcie animal para outra, bem como do animal para o homem,

    ou ainda, mais raramente, do homem para os animais (Richard et al., 1994). No

    meio urbano, 20% das infeces fngicas humanas, acometendo pele glabra, so de

    origem animal, em decorrncia do contato prximo com animais de estimao,

    como, ces e gatos (Crespo et al., 2000).

    Os animais so considerados como um reservatrio de dermatfitos

    zooflicos, sendo a sua incidncia varivel de acordo com o clima e com o seu

    habitat. Conseqentemente observa-se variao de incidncia tanto relacionada

    proximidade do homem com os seus animais de estimao como a caracterstica

    ambiental (Cabaes et al., 1997).

  • 16

    Estudos sobre a incidncia e etiologia das dermatofitoses em animais tm

    apresentado diferentes resultados, podendo variar de 7% a 40%, em ces, e de 9%

    a 46 %, em gatos (Lewis et al., 1991; Sparkers, 1994; Cabaes, 2000; Brilhante et

    al., 2003).

    O Microsporum canis o responsvel pela maioria de casos de micoses em

    ces e gatos e o mais freqente dermatfito zooflico de humanos (Simpanya &

    Baxter, 1996, Cabaes, 2000), seguido de Trichophyton mentagrophytes e

    Microsporum gypseum (Larsson 1980; Gambale et al., 1987; Gambale et al., 1993;

    Brilhante et al., 2003) em diversas reas geogrficas.

    Dentro da relao entre seres humanos e animais, no se pode atribuir

    potencial zoontico somente aos animais domsticos que apresentem quadro clnico

    de dermatofitoses, mas tambm animais assintomticos, portadores do

    microrganismo como parte de microbiota da pele normal (Romano, 1997; Cabaes

    et al., 1997), em at 88% de prevalncia (Sparkers, 1994). Observa-se uma estreita

    correlao entre estes portadores assintiomticos e a boa adaptao de M. canis

    aos plos e pele destes pequenos animais (Moriello & DeBoer, 1991).

    Os animais portadores assintomticos de fungos dermatofticos, quando

    mantidos em ambientes livres de estruturas fngicas, podem manter-se com exames

    micolgicos negativos, provando assim que o animal nada mais do que um reflexo

    do seu ambiente, de suas condies de manejo (Sparkes et al., 1994) e

    provavelmente do seu status imunolgico (Dahl, 1994). Para determinar se o

    animal encontra-se com dermatofitoses, necessrio que o exame direto seja

    positivo, bem como haja isolamento do microorganismo em culturas primrias,

    correlacionando com a sintomatologia clnica (Moriello et al. , 2002).

    Diante de indefinies quanto ao papel exato do reservatrio animal nas

    dermatofitoses humanas causadas por fungos zooflicos, sabido que a ausncia de

    um reservatrio animal inviabiliza a contaminao homem a homem por cepas de M.

    canis aps a quarta passagem (Rippon, 1985).

  • 17

    Quanto s raas, pode ser observada uma maior prevalncia em ces da raa

    Yorkshire Terrier, Poodle e Pastor Alemo e gatos Persa (Lewis et al., 1991;

    Cabaes, 2000; Brilhante et al., 2003). Teoricamente os plos alongados facilitam as

    condies timas de temperatura e umidade para que as estruturas fngicas fiquem

    protegidas contra a dissecao, favorecendo assim a sua propagao. Tais

    evidncias conflitam com trabalhos realizados sobre dermatofitoses em humanos,

    onde o plo curto favorece a implantao de artrocondios. A presena de

    substncias na pele como sebo e suor, ou ainda fatores genticos podem ser

    considerados fatores de susceptibilidade de algumas raas s dermatofitoses

    (Sparker, 1993).

    A sazonalidade das dermatifitoses rene dados conflitantes, pois alguns

    autores no descrevem dados relevantes quanto mudana na flora dermatoftica,

    quanto ao perodo ou estao do ano (Baxter, 1973). J outros autores identificam

    diferenas na freqncia de dermatfitos, sendo mais prevalente no vero (Lewis,

    1991).

    1.3. Patogenia

    O processo infeccioso primrio clssico est relacionado, principalmente, a

    enzimas produzidas pelo dermatfito e a foras mecnicas. A enzima queratinase

    pode estar ou no ativa, podendo desenvolver ou no quadros clnicos de

    dermatofitose (Sidrim & Rocha, 2004).

    Nas dermatofitoses, os plos quando parasitados sempre so

    secundariamente a infeco da pele. Tal infeco encontrada na regio do folculo

    piloso, invadindo assim a camada crnea da epiderme, que se aprofunda em direo

    ao infudbulo piloso. O dermatfito em contato com a queratina remove a cutcula e

    retoma o plo (Sidrim & Moreira, 1999). Ao chegar nesse estgio da infeco do

    plo, cada espcie fngica manifesta suas particularidades. Esses diversos aspectos

  • 18

    parasitrios levaram Sabouraud a descrever cinco tipos de parasitismos pilosos:

    endotrix, megasprico ectotrix, micride ectotrix, microsprico e fvico.

    Os dermatfitos desenvolvem-se crescendo do centro para as bordas,

    resultando, no final de alguns dias, em leses circulares discretas, com reas de

    alopecia, bordos eritematosos e vesiculares, que circunscrevem uma parte central

    descamativa. Possuem intensa descamao associada ou no resposta

    inflamatria, resultante da atividade queratinoltica (Sidrim & Moreira, 1999).

    1.4. Dermatofitoses versus sistema imune

    Acredita-se que a imunidade celular seja a frao do sistema imunolgico

    responsvel pelo controle das dermatofitoses (Marsh & Artis,1984; Dahl, 1987;

    Dahl, 1993). As dermatofitoses so combatidas pelo hospedeiro atravs de

    mecanismos imunolgicos mediado por clulas, sendo a imunidade adquirida

    atravs da infeco ativa. A reao inflamatria ocasionada pela instalao dos

    dermatfitos, leva a maior atividade proliferativa das clulas queratinizadas, levando

    distribuio do fungo por estruturas mais profundas da pele como o bulbo piloso

    (Ogawa et al., 1998) Mecanismos de imunidade inespecfica evitam a penetrao do

    dermatfito na derme e na corrente sangnea, at mesmo naqueles animais em

    que a imunidade especfica para tal fungo esteja ausente ou comprometida (Ogawa

    et al., 1998).

    Antgenos presentes na parede celular ativam o sistema complemento atravs

    da via alternativa, levando a inibio do crescimento fngico por diversos

    mecanismos, estimulados e mediados por fatores deste sistema.

    Concomitantemente, a atividade de leuccitos polimorfonucleares (LPMN) parece

    estar tambm envolvida na linha de defesa do hospedeiro, sendo a ao destas

    clulas, mediada freqentemente por componentes do sistema complemento (Dahl

    et al., 1986). O fator C5a parece estar envolvido na capacidade quimiotxica para

    LPMN quando da presena de hifas de dermatfito. J o fator C3b est envolvido na

    adeso de neutrfilos ao fungo, agindo como uma ponte de opsonizao entre o

    fungo e os receptores para C3b e C3bi dos neutrfilos Cr1 e Cr3 (Dahl et al., 1986).

  • 19

    Assim, os neutrfilos parecem ter a capacidade parcial de eliminar os fungos ou

    simplesmente inibir seu crescimento atravs de dano subletal parede fngica, ou

    cobrindo a superfcie de fungos para diminuir a captao de nutrientes. Em suma, os

    componentes imunolgicos do plasma e os LPMN efetivamente inibem o

    crescimento fngico (Dahl, 1994) Esta atividade previne a septicemia fngica.

    Acredita-se que a ativao de complemento e interaes com neutrfilos tambm

    pode acontecer na pele, inibindo o desenvolvimento fngico, quando estes tentam

    escavar mais profundamente a pele, atravs da produo de enzimas queratolticas,

    invadindo o estrato crneo da epiderme vivel (Berk et al., 1976).

    Outro aspecto imunolgico das dermatofitoses a existncia de

    especificidade relativa da resposta celular. Isto se reveste de importncia no

    apenas em termos de defesa do hospedeiro, mas tambm com respeito a

    desenvolvimento de vacinas que poderiam prevenir e imunizar os animais e pessoas

    suscetveis. Alguns pesquisadores acreditam que existem antgenos comuns a todos

    os dermatfitos e outros especficos para cada espcie (Tamagi et al. 1977;

    deSanchez & MacKenzie, 1983; MacCarthy & Dhal, 1989; Dahl, 1994)

    1.5. Diagnstico das dermatofitoses

    As enfermidades micticas tm importncia distinta dentro das patologias

    veterinrias devido ao seu potencial zoontico. Apesar da grande incidncia dessas

    micoses em nosso meio (Brilhante et al., 2003), bem como, a existncia de espcies

    fngicas capazes de produzir diversos quadros clnicos, o diagnstico de tais

    molstias comumente e indevidamente realizado apenas pelos aspectos clnicos,

    sem o devido diagnstico laboratorial (Hay, 1995; Brilhante et al., 2003).

    O diagnstico e subseqente tratamento das micoses deve ser atrelado aos

    diagnsticos laboratoriais (Hay, 1995). Justifica-se tal afirmativa devido aos

    possveis erros na etiologia baseados exclusivamente na avaliao clnica, as

    diferenas dos padres de sensibilidade aos antifngicos entre as espcies e

    particularidades da microbiota fngica, demonstrado na variao da populao

    fngica de regio para regio (Rubio et al, 1999).

  • 20

    1.5.1. Exame direto

    O exame direto do espcime clnico a etapa inicial do processamento

    laboratorial. Tal exame indispensvel no diagnstico, visto que, quando feito por

    micologistas experientes, acarretar uma maior rapidez no diagnstico, bem como,

    maior agilidade no tratamento (Brilhante et al., 2003).

    Na anlise, utilizam-se diversas preparaes clarificantes, podendo ser citado

    o hidrxido de potssio (KOH), em concentrao de 30%. Tais preparaes em

    lmina e lamnula podem ser visualizadas em microscopia ptica em objetivas de

    10X ou de 40X, sendo sua interpretao feita a partir da ausncia ou presena de

    elementos fngicos. Em caso de parasitismos, em pele e unha, por dermatfitos, a

    presena de hifas artroconidiadas fundamenta o diagnstico. Em relao ao plo, o

    parasitismo deve ser descrito a partir do tamanho do artrocondio e se est por

    dentro ou por fora do plo.

    1.5.2. Isolamento primrio dos fungos em meios de cultura

    O isolamento primrio uma etapa indispensvel na identificao do agente

    etiolgico das micoses. Este preparado simultaneamente ao exame direto, onde

    alquotas de plos e escamas de pele so semeadas, na maioria das vezes, em

    meios de cultura ricos em glicose e peptona. Depois de semeados, os tubos so

    incubados, entre 25C e 30C, durante perodos variveis de acordo com o agente

    etiolgico envolvido. No caso de cepas dermatofticas, as colnias so visualizadas

    aps 7 dias de incubao. No momento que as macrocolnias so detectadas,

    segue-se para a anlise das caractersticas macromorfolgicas, onde so levados

    em considerao relevo, textura, bem como a presena ou ausncia de pigmento

    (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).

  • 21

    A textura das colnias pode ser enquadrada como veludosa, algodonosa,

    furfurcea (com aspecto de farinha), arenosa, bem como penungenta (Sidrim &

    Moreira, 1999). Em relao aos tipos de relevo, as colnias podem ser classificadas

    como cerebriforme, rugosa e apiculada (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha,

    2004).

    1.5.3. Diferenciao microscpica das colnias

    O estudo micromorfolgico feito a partir do isolamento primrio, sendo uma

    pequena alquota da colnia retirada do gar e montada entre lmina e lamnula com

    corante lactofenol azul algodo. A montagem observada em microscopia tica em

    objetiva de 40X. Nestas preparaes podem ser visualizadas estruturas de

    reproduo (macrocondios e microcondios), bem como, estruturas de

    ornamentao (hifas nodulares, pectinadas entre outras). Os macrocondios de M.

    canis podem ser facilmente visualizados em tais montagens.

    Aliado a tais preparaes, outra tcnica pode ser utilizada para promover o

    estudo microscpico das estruturas de ornamentao e frutificao; bem como, a

    sua disposio ao longo da hifa, sendo esta metodologia denominada de

    microcultivo em gar batata, padronizada por Kern e Blevins (1997) e descrita a

    seguir: Em placas de Petri esterilizadas, contendo montagem com trs lminas,

    deposita-se um pequeno bloco de gar batata de 1 cm x 1 cm. Nas extremidades

    desse bloco, semeiam-se alquotas de colnias do fungo e delicadamente cobre-se

    essa montagem com lamnula estril, mantendo-se este preparado em ambiente

    mido, durante 7 dias. Aps o perodo de incubao, a temperatura ambiente, a

    lamnula retirada com o auxlio de uma pina e montada com lactofenol azul

    algodo em lmina, sendo, posteriormente, observada em microscopia tica na

    objetiva de 40X. Tais preparaes so mais laboriosas, entretanto, de fundamental

    importncia para estudos quantitativos.

  • 22

    1.5.4. Perfurao de plo in vitro

    Esta prova tem como objetivo visualizar se o fungo perfura ou no o plo, in

    vitro. Este teste foi preconizado por Badillet, em 1987, e baseia-se em manter cabelo

    de criana loura pr-pbere, esterilizado em gar gelosada, sendo alquotas de

    fungos repicadas sobre o plo. A placa incubada a temperatura ambiente (25C)

    durante perodos de 7 a 30 dias. Nesta prova, o microrganismo vai dispor da

    queratina como nica fonte nutricional. Aps o perodo de estocagem, monta-se o

    plo entre lmina e lamnula com lactofenol azul algodo. Esta preparao , ento,

    visualizada em microscopia tica no aumento de 40X. O teste considerado positivo

    se for observado perfuraes perpendiculares ao longo do plo. Alguns fungos,

    como, por exemplo, cepas de M. canis, perfuram o plo, ou seja, tais fungos

    possuem enzimas capazes de degradar a queratina, in vitro, como fonte de energia

    (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004)

    1.5.5. Teste da urease

    Esta prova bioqumica processada em meio de Christensen, e detecta a

    presena ou ausncia da enzima urease produzida pelo fungo. Este meio rico em

    uria, assim, quando em contato com a enzima urease, produzida por algumas

    espcies de fungos, hidrolisado com liberao de amnia, acarretando mudanas

    de pH, que vira para um pH alcalino e, posteriormente, ocorre a viragem do

    indicador para rseo intenso. A metodologia simples e consiste em semear

    fragmentos da colnia no Meio de Christensen e incubar a temperatura ambiente (25

    C) por 96 horas. O resultado considerado positivo quando houver a mudana do

    meio de amarelo para rseo e considerado negativo quando o meio se mantiver

    amarelo. Esta prova positiva para cepas de M. canis (Sidrim & Moreira, 1999;

    Sidrim & Rocha, 2004).

  • 23

    1.5.6. Prova de requerimentos vitamnicos

    Esta prova utilizada para diferenciao de cepas baseadas em exigncias

    nutricionais. Os meios de cultura utilizados so enriquecidos com cido nicotnico,

    tiamina, histidina e inositol, sendo a base do gar T1 ao T5 a casena e do gar T6 e

    T7 o nitrato de amnia. Tais meios sero detalhados a seguir: T1 (gar base

    casena), T2 (gar base casena com inositol), T3 (gar base casena com tiamina e

    histidina), T4 (gar base casena com tiamina), T5 (gar base casena com cido

    nicotnico), T6 (gar base nitrato de amnia) e T7 (gar base nitrato de amnia com

    histidina).

    Para o repique, primeiramente faz-se uma suspenso das cepas de

    dermatfitos em soluo salina, usando como padro a turvao 2 da escala de Mac

    Farland. Esta suspenso semeada em todos os tubos, e, aps repicagem,

    incubada a temperatura ambiente, por 15 dias. Logo aps o perodo de incubao,

    as leituras so feitas comparativamente. As cepas de M. canis crescem em todos os

    meios testados (Sidrim & Moreira, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).

    1.6. Tratamento das dermatofitoses

    H vrias classes de drogas antifngicas utilizadas em protocolos

    teraputicos das dermatofitoses, a saber: griseofulvina, derivados azlicos e

    alilaminas (Sidrim & Rocha, 2004) e mais recentemente a amorofina (Zaug, 1989) e

    as equinocandinas (Denning, 1997).

    1.6.1. Griseofulvina

    A griseofulvina foi isolada a partir do Penicillium griseofulvum, em 1939,

    sendo tambm obtida por sntese. a droga de primeira escolha no tratamento das

    dermatofitoses (Heit & Riviere, 1995; Moriello & DeBoer, 1991).

    O mecanismo de ao da griseofulvina ocorre atravs da sua penetrao na

    clula fngica, por um processo energia-dependente. Por conseguinte, interage com

  • 24

    os microtbulos desfazendo o fuso mittico, provocando uma inibio no processo

    de mitose fngica e consequentemente na multiplicao do microrganismo (Heit &

    Riviere, 1995; Knasmmuller et al., 1997; Costa & Grniak, 1999; Sidrim & Rocha,

    2004).

    A griseofulvina bem absorvida, por via oral, sendo sua absoro

    intensificada pela ingesto concomitante de alimentos gordurosos, sofre

    biotransformao heptica extensa, por conjugao e oxidao, sendo excretada

    principalmente na forma de metablitos inativos por via renal (Heit & Riviere, 1995;

    Knasmmuller et al., 1997; Costa & Grniak, 1999).

    A griseofulvina mostra uma atividade fungisttica importante sobre espcies

    de fungos dos gneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Sendo,

    portanto, utilizada exclusivamente em infeces dermatofticas (Heit & Riviere, 1995;

    Costa & Grniak, 1999). Tal frmaco pode, ainda, ser utilizado em associao com

    medicamentos tpicos, como clotrimazol, miconazol, cetoconazol entre outros, em

    casos de dermatofitoses por M. canis em gatos (Sparker et al., 2000).

    Os distrbios gastrintestinais, tais como: nuseas, vmitos e diarria, tm sido

    seus efeitos indesejados mais freqentes. A griseofulvina pode causar, ainda,

    hepatotoxicidade e atividade teratognica ( Heit & Riviere, 1995; Knasmmuller et al.,

    1997).

    1.6.2. Derivados azlicos

    Esta classe de medicamentos antifngicos forma um grupo de compostos

    sintticos, com estrutura qumica semelhante e com amplo espectro de atividade

    antifngica, sendo, muitos deles, tambm, ativos contra algumas bactrias Gram

    positivas, sendo estes divididos em dois grandes grupos, a saber: os derivados

    imidazlicos e os triazlicos (Farias & Giuffrida, 2002)

    Os derivados imidazlicos, para uso clnico, so representados pelo

    clotrimazol, miconazol, econazol, bifonazol, isoconazol, tioconazol, oxiconazol,

    sertaconazol, terconazol e cetoconazol etc. Os derivados triazlicos (fluconazol,

  • 25

    itraconazol e voriconazol) so antifngicos com largo espectro de atividade, eficazes

    tanto em micoses sistmicas como em superficiais (Farias & Giuffrida, 2002).

    Todos os derivados azlicos interferem na sntese do ergosterol, bloqueando

    a enzima 14--demetilase, do citocromo P-450 do fungo, e, por conseguinte,

    impedindo a demetilao do precursor lanosterol em ergosterol. Esta propriedade

    dos azis prejudica a funo da membrana celular, aumentando a sua

    permeabilidade (Heit & Riviere, 1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim e Rocha,

    2004).

    O mais significativo frmaco do grupo dos imidazlicos o cetoconazol, este

    apresenta espectro de atividade contra vrios fungos causadores de micoses

    profundas; bem como eficaz para vrias espcies de Candida e dermatfitos. O

    uso dos imidazis tpicos, como: clotrimazol, econazol, bifonazol, isoconazol,

    oxiconazol, sertaconazol etc., restringem-se s micoses superficiais, em especial as

    dermatofitoses. O itraconazol tem sido utilizado com sucesso no tratamento de

    dermatofitoses refratrias (Heit & Riviere, 1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim &

    Rocha, 2004).

    O cetoconazol bem absorvido, por via oral, mas, por ser dibsico, necessita

    da acidez gstrica para dissoluo e absoro, sob a forma de hidrocloreto. Dessa

    forma, seu uso com frmacos que aumentam o pH gstrico, produz um antagonismo

    farmacocintico, sendo, portanto, contra-indicado (Heit & Riviere, 1995; Costa &

    Grniak, 1999). Este frmaco apresenta-se, amplamente, ligado s protenas

    plasmticas (85-92%). Sofrem biotransformao heptica, especialmente por

    oxidao, O-desalquilao e hidroxilao, dando origem a vrios metablitos

    inativos, que so eliminados principalmente atravs da bile; porm, cerca de 10%

    destes so excretados por via renal e, por ltimo, cerca de 2-4% da droga

    eliminada inalterada. O cetoconazol, a exemplo do que ocorre com outros imidazis

    de uso tpico exclusivo, tais como: clotrimazol, econazol, bifonazol, isoconazol,

    oxiconazol, sertaconazol etc., praticamente no so absorvidos atravs da pele e

    mucosas; logo, sua formulao tpica, tem uma ao exclusivamente local. O

    itraconazol bem absorvido, por via oral, sendo que sua biodisponibilidade

    mxima quando ingerido juntamente com uma refeio. A exemplo do cetoconazol,

    a absoro do itraconazol altamente dependente do pH gstrico, mostrando,

  • 26

    tambm, uma grande afinidade por protenas plasmticas (99%). O itraconazol sofre

    intensa biotransformao heptica, originando vrios metablitos, dentre os quais se

    destaca o hidroxiitraconazol, que, por sua vez, apresenta uma atividade antifngica

    importante (Sidrim & Rocha, 2004).

    Distrbios no trato gastrintestinal, tais como: anorexia, nuseas, vmitos,

    diarria e hepatotoxicidade, podem aparecer durante a terapia com o cetoconazol.

    Seus efeitos endcrinos, do tipo: ginecomastia, diminuio da libido, impotncia,

    oligospermia etc., resultantes do bloqueio na sntese dos esterides andrognicos. A

    exemplo do que ocorre com imidazis de uso tpico, como: clotrimazol, isoconazol,

    oxiconazol, sertaconazol etc., o cetoconazol, quando administrado topicamente,

    pode apresentar aes deletrias apenas localmente, como: irritao, eritema e

    prurido. O surgimento de efeitos colaterais terapia com itraconazol, no to

    comum, podendo alguns pacientes apresentar nuseas, vmitos, diarria e

    distrbios hepticos. Ademais, diferentemente do observado com o cetoconazol, o

    itraconazol, no interferem na sntese de esterides do hospedeiro (Heit & Riviere,

    1995; Costa & Grniak, 1999; Sidrim & Rocha, 2004).

    1.6.3. Alilaminas

    A naftifina e seu anlogo a terbinafina representam o grupo de frmacos

    sintticos, as alilaminas, que foram descritas como frmacos de utilizao clnicas no

    tratamento das micoses superficiais por Balfour e Fauulds em 1992. Tem mostrado

    atividade fungicida contra ampla variedade de dermatfitos, bolores e alguns fungos

    dimrficos, e atividade fungisttica contra Candida albicans (Heit & Riviere, 1995;

    Abdel-Rahman & Nahata, 1997).

    O seu mecanismo de ao se baseia no bloqueio da biosntese do

    ergosterol, um componente essencial das membranas celulares fngicas, atravs da

    inibio da enzima fngica, a esqualeno epoxidase (Heit & Riviere, 1995).

    A tolerabilidade destes frmacos geralmente alta aps administrao tpica

    ou oral. Em estudos comparativos, a incidncia de efeitos adversos associados ao

    uso de terbinafina, por via oral, foi inferior quela observada com a griseofulvina e

    semelhante ao itraconazol. As reaes adversas mais comuns so aquelas

  • 27

    relacionadas irritabilidade do aparelho digestivo (nuseas, vmitos) e as alteraes

    de carter dermatolgico (vermelhido, prurido). Observam-se mais raramente

    alteraes nos sistema nervoso central (tremores, incoordenao motora) e

    alteraes no paladar (Abdel-Rahman & Nahata, 1997). A terbinafina surgiu como

    uma nova opo teraputica para dermatofitoses, tanto em humanos como em

    animais (Millanta et al., 2000).

    1.6.4. Morfolnicos

    Os derivados morfolnicos representam um novo grupo qumico de

    antifngicos, no relacionados com as outras drogas antifngicas atualmente

    disponveis. Estes agem atravs da inibio da biosntese do esterol, bloqueando

    dois processos enzimticos sucessivos, ou seja, inibindo a biotransformao do

    lanosterol em zymosterol pelo bloqueio da enzima C-14 esterol redutase e inibindo

    no evento subseqente da sntese do ergosterol da biotransformao do fecosterol

    em episterol pelo bloqueio da enzima C-8 esterol isomerase, estas diferentes das

    inibidas pelas alilaminas ou pelos azis (Kerkenaar, 1987; Polak, 1988).

    A amorolfina o nico derivado morfolnico em uso clnico, com atividade

    fungicida contra a maioria dos fungos de importncia clnica como dermatfitos,

    leveduras, fungos filamentosos no dermatfitos, fungos demceos e fungos

    dimrficos. Apesar da possibilidade de uso oral a amorolfina est disponvel

    somente para o tratamento tpico das leses fngicas, associados ou no ao

    tratamento parenteral com outra droga antifngica, particularmente a griseofulvina

    (Polak, 1988).

    Seu baixo nvel de absoro percutnea estabelece uma excelente

    tolerabilidade, no sendo descritos efeitos colaterais, exceto aqueles de carter local

    e transitrio como eritema, prurido. Sendo contra-indicado em reas muito extensas

    e inflamado, fmeas prenhes, filhotes e fmeas lactentes (Polak, 1988).

  • 28

    1.6.4. Lufenuron

    uma benzoilenilurea que interfere na sntese da quitina sendo comumente

    usado para o controle de pulgas. A quitina um componente crtico da parede

    externa do fungo e drogas que interferem na sntese da quitina podem tambm ter

    atividade antifngica. O uso do lufenuron para o tratamento da dermatofitose em

    ces e gatos foi bem descrito em vrios estudos (Bem-Ziony & Arzi, 2000; Moriello et

    al., 2002; DeBoer et al., 2003).

    1.6.5. Vacinas

    H trs estudos que reportam o uso de vacinas fngicas usadas em gatos

    para preveno da dermatofitose (DeBoer & Moriello, 1995; Manoyan et al., 2000)

    Uma vacina de dermatfitos morta, est disponvel nos Estados Unidos para o

    tratamento de M. canis em gatos. Este produto autorizado para a preveno de

    leses, mas no doena. Nenhuma vacina preveniu a infeco ou uma cura mais

    rpida, quando comparando animais vacinados com grupos controle. Porm, a

    vacinao foi associada com uma ligeira diminuio da severidade da infeco inicial

    quando comparada com animais no vacinados. O Interesse em vacinar ces como

    um tratamento ou profilaxia, continua sendo uma rea de intenso interesse,

    principalmente por causa de sucesso da vacinao de raposas contra dermatofitose

    (Bredahl et al., 2000).

    2. O uso de imunomoduladores

    O sistema imune dos animais superiores desenvolveu-se com a finalidade de

    conferir defesa ao hospedeiro contra milhares de ameaas potenciais,

    provenientes de doenas parasitrias, infecciosas e neoplsicas. No entanto,

    durante muito tempo os mecanismos fundamentais que direcionam e regulam os

    mecanismos imunes tem sido em sua maioria, pobremente definidos. Nos dias

    atuais nosso conhecimento do sistema imunolgico, se bem que incompleto, tem

    progredido ao ponto de agora podermos influenciar muitos dos mecanismos que

    controlam a atividade imunolgica (Foster, 2004). Este conceito forma a base da

  • 29

    imunomodulao; isto , a potencializao ou o aumento dos mecanismos de

    resposta imune especfica ou inespecfica (Foster, 2004).

    Existe um interesse crescente entre os clnicos em relao s falhas da

    quimioterapia antimicrobiana. Observa-se que a quimioterapia convencional

    otimamente eficaz s em animais com sistemas imunolgicos intactos e funcionais.

    Sua eficcia pode estar seriamente comprometida em animais imunossuprimidos ou

    imunodeficientes. Apesar da existncia de drogas antimicrobianas potentes, ainda

    existe um nmero substancial de infeces bacterianas e fngicas de grave ameaa

    vida. A crescente, desordenada e excessiva utilizao destes frmacos pode estar

    relacionado a efeitos txicos colaterais, reaes de hipersensibilidade e seleo de

    microorganismos resistentes (Foster, 2004).

    A manipulao farmacolgica do mecanismo imune oferece possibilidades

    promissoras na clnica mdica veterinria como o controle de hipersensibilidades, o

    tratamento de doenas auto-imunes, a preveno da rejeio de transplantes; assim

    como, tratamento coadjuvante nas doenas infeciosas, virais, bacterianas e fngicas

    em pacientes imunodeprimidos (Waune & Jassen, 1991). Entretanto, o uso clnico

    de imunomoduladores tem, at o momento, focalizado principalmente o seu papel

    como uma modalidade teraputica em medicina humana para auxiliar no tratamento

    de alguns tipos de cncer (Dhal, 1994). O uso de imunomoduladores no tratamento

    ou na preveno de doenas infecciosas comparativamente tem recebido menor

    ateno. Est se tornando cada vez mais evidente que os imunomoduladores

    encontraro aplicaes significantes no aumento das defesas dos hospedeiros

    nestas patologias infecciosas. Numerosas evidncias tm mostrado que os

    imunomoduladores possuem a caracterstica de potencializar a resposta imune para

    vacinas, restaurar a imuno-competncia em animais imuno-comprometidos, bem

    como promover a potencializao inespecfica de resistncia contra infeces,

    aumentando assim a eficincia da teraputica convencional (Wauwe & Jassen,

    1991).

    2.1. Levamisol

    O levamisol um ismero levgiro do tetramisol. Originalmente foi introduzido

    como um agente anti-helmntico na dcada de 60, se revelando logo como uma

  • 30

    droga capaz de aumentar a competncia imunolgica de animais imunodeprimidos.

    A primeira indicao desta capacidade foi determinada por Renoux & Renoux

    (1971). Eles mostraram que o tratamento de ratos vacinados contra Brucella abortus

    com levamizol resultou em proteo melhorada contra estes microorganismos. Este

    achado ativou um fluxo de pesquisas experimentais e clnicas do levamizol como

    imunomodulador. A concluso global destes estudos foi que o levamizol possui

    propriedades de restabelecer respostas imunes deprimidas em animais e humanos,

    mas sem nenhum efeito imunoestimulante em indivduos imunocompetentes

    (Symoens & Rosental, 1977, Wauwe & Janssen, 1991). Assim, o levamizol foi

    indicado para induzir melhoria clnica em pacientes com infeces crnicas ou

    doenas inflamatrias como herpes, estomatite, artrite reumatide e sndrome

    nefrtica (Symoens et al. 1979; Wauwe & Janssen, 1991). Em contraste com este

    resultado favorvel, resultados clnicos obtidos no tratamento de doenas

    neoplsicas foram considerados inconclusivos, embora um nmero respeitvel de

    estudos animais revelou que o levamizole tem efeito anti-metasttico,

    particularmente quando a droga era usada como um adjuvante para terapias

    antineoplsicas convencionais (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) (Amery,

    1981). Associado a estes achados favorveis, observou-se em estudo semelhante

    que o levamizol induzia um granulocitopenia reversvel em aproximadamente 2% de

    todos os pacientes testados (Symoens et al, 1979), levando a um desinteresse

    quanto a utilizao da droga como imunomoduladora. Recentemente, esta falta de

    perspectiva teraputica parece ter se acabado, estudos relatam que o levamizol

    droga adjuvante eficaz na immunoterapia de melanoma e carcinoma de clon,

    melhorando a sobrevivncia global e reduzido a incidncia de metstase comparado

    ao grupo controle (Quirt et al, 1999).

    O levamisol tem a capacidade para melhorar, ou at mesmo restabelecer a

    atividade deficiente de clulas que participam na resposta imune celular-mediada,

    em particular macrfagos e linfcitos T. Funes celulares inerentes ao sistema

    imunolgico podem ser aumentadas, como a fagocitose, quimiotaxia, migrao

    celular, aderncia, morte intracelular e hipersensibilidade tardia (Symoens et al.,

    1979; Wauwe & Janssen, 1991). Os efeitos do levamisol sobre os linfcitos B,

    indiretamente atravs dos linfcitos T, extremamente variado. A produo de

    imunoglobulinas especficas pode ser pequena, aumentada ou suprimida (Renoux,

    1978). Entretanto, a elevada atividade de linfcitos B inibida pela atividade do

  • 31

    levamisol, sugerindo a reduo de IgG, IgM e os nveis de imunocomplexos

    circulantes aps tratamentos a longo prazo (Symoens et al, 1979)

  • 32

    JUSTIFICATIVA

    A introduo de novos conceitos, enfocando o uso de drogas

    imunomoduladoras, como, por exemplo, o levamisol, associadas terapia

    antifngica convencional, tem sido um importante avano na clnica de pequenos

    animais. Contudo, fazem-se necessrios estudos epidemiolgicos, clnico-

    laboratoriais e teraputicos, investigando a real eficcia e viabilidade clnica desta

    associao de drogas, em ces acometidos de dermatomicoses, em especial nos

    casos de dermatofitoses.

  • 33

    HIPTESE CIENTFICA

    O conhecimento prvio dos aspectos clnico-laboratoriais e epidemiolgicos

    associado a melhorias do status imunolgico, favorece o sucesso teraputico das

    infeces dermatofticas causadas por Microsporum canis.

  • 34

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Realizar um estudo detalhado das dermatofitoses canina, enfocando os

    aspectos epidemiolgico, clnico-laboratoriais e teraputicos.

    Objetivos Especficos

    - Fazer uma triagem clnica de ces com leses sugestivas de dermatopatia

    fngica;

    - Determinar os principais agentes fngicos causadores destas leses;

    - Estabelecer os aspectos clnico-epidemiolgicos presentes nas dermatopatias

    fngicas;

    - Comparar a eficcia da griseofulvina e cetoconazol, in vivo, sozinhos e

    associados ao levamisol, no controle da dermatofitose canina por Microsporum

    canis.

  • 35

    MATERIAL E MTODOS

    Animais

    Foram utilizados ces, de raas diversas, ambos os sexos, oriundos do

    atendimento de rotina da Clnica Veterinria So Francisco, localizada na regio

    metropolitana de Fortaleza, portadores de dermatopatias fngicas diagnosticadas,

    atravs de exame clnico e anlise micolgica. Estes foro mantidos em seus

    domiclios de origem sob guarda de seus respectivos proprietrios.

    Exame clnico

    Todos os animais foram submetidos a completa identificao e a exame

    clnico prvio, composto de anamnese, histrico e caracterizao das leses, sendo

    as informaes compiladas em ficha de exame padronizada (Anexo 1). O referido

    exame foi novamente realizado do 7, 14, 21 e 28 dia aps o incio do protocolo

    teraputico.

    Anlise micolgica

    A anlise micolgica constou de exames laboratoriais, inicialmente para

    diagnstico de dermatomicoses nos ces com suspeita clnica e posteriormente no

    7, 14, 21 e 28dia aps o incio do protocolo teraputico no caso dos ces com

    dermatofitose por M. canis. A metodologia usada em tais procedimentos descrita a

    seguir.

    Colheita do espcime

    A colheita do espcime clnico foi a primeira etapa do diagnstico laboratorial.

    A colheita foi realizada no consultrio pelo prprio veterinrio previamente treinado e

    munido do material de coleta. As amostras foram colhidas aps uma rigorosa

    limpeza das leses com lcool isoproplico a 70%, e com o auxlio de uma lmina

    de bisturi estril n 22, sendo realizada uma vigorosa raspagem das bordas de todas

    as leses ativas, assim como fragmentos de pelos destas leses, dispersas por todo

  • 36

    o corpo ou de carter focal. Estas amostras foram acondicionadas em frascos

    plsticos estreis e remetidos ao laboratrio de micologia em no mximo 7 dias.

    Exame direto

    O exame direto era a segunda etapa do diagnstico laboratorial micolgico.

    Com as amostras oriundas da colheita eram colocada uma pequena quantidade de

    escamas e fragmentos de plos sobre uma lmina de microscopia, sendo

    adicionadas 2 gotas de hidrxido de potssio a 30% e sobre esta se colocou uma

    lamnula. Aps 10 minutos a preparao era levada microscopia tica em objetiva

    de 40X para a observao de elementos fngicos presentes ou no na amostra

    examinada.

    Cultura

    A cultura a etapa fundamental no isolamento e identificao dos fungos.

    Aps o exame direto as amostras eram semeadas em meio de culturas (gar

    Sabouraud, gar Sabouraud mais cloranfenicol e gar Sabouraud mais cloranfenicol

    mais cicloeximida) sendo os tubos incubados entre 25C e 30C durante 7 a 14 dias.

    Os tubos eram observados diariamente aps o 3 dia de incubao indo no mximo

    at o 15 dia. No instante em que as macrocolnias eram evidenciadas estas eram

    analisadas quanto s caractersticas macromorfolgicas (relevo, textura, presena

    de pigmento). Os procedimentos para identificao das leveduras foram realizadas

    de acordo com o preconizado por Sidrim & Rocha (2004).

    Diferenciao microscpica das colnias

    A partir de uma pequena alquota da colnia retirada do gar do isolamento

    primrio, era montado sobre lmina de microscopia, corado com lactofenol azul

    algodo e recoberta com lamnula. Tal preparao era levada microscopia tica

    em objetiva de 40X, objetivando identificar estruturas reprodutivas e ornamentais do

    fungo.

  • 37

    Teste da perfurao de plo in vitro

    Uma pequena alquota retirada do gar do isolamento primrio era repicada

    em placas de Petri contendo cabelos de criana pr-pbere e incubada na

    temperatura de 25C durante 14 dias. Aps este perodo montava-se uma amostra

    do cabelo sobre lmina de microscopia, sendo corada com lactofenol azul algodo

    sendo visualizada em microscpio tico com objetiva de 40X. Era considerada

    positiva para Microsporum canis a amostra que apresentava perfuraes

    perpendiculares ao eixo principal do cabelo.

    Teste da urease

    Fragmentos de colnia, oriunda do isolamento primrio era semeada em meio

    de Christensen, incubando a 25C por 4 dias. Era considerado positivo para

    Microsporum canis o cultivo que apresentasse mudana de colorao amarela para

    rseo.

    Teste de requerimentos vitamnicos

    Para realizao de deste teste foi realizada uma suspenso da colnia a ser

    testada, em soluo salina, com um incuo correspondente ao padro 2 na escala

    de McFarland. Semeava-se ento em meios de cultura enriquecidos (T1- gar base

    casena, T2 gar base casena com inositol, T3 gar base tiamina e histidina, T4

    gar base casena com tiamina, T5 gar base casena com cido nicotnico, T6

    gar base nitrato de amnia e T7 gar base nitrato de amnia com histidina)

    incubados a 25C por 15 dias. A interpretao era realizada por quantificao

    subjetiva e comparativa do crescimento fngico presente em cada tubo.

    Protocolo e avaliao teraputica

    Os ces positivos para dermatofitose foram divididos em grupos de seis

    animais onde receberam tratamentos semelhantes dentro do mesmo grupo, com

    posologia individualizada de acordo com seu peso. Os grupos eram fechados, de

    acordo com o nmero de amostras positivas para dermatofitose por Microsporum

    canis. Grupo 01 Foi tratado com Griseofulvina por via oral na dose de 50 mg kg-1 de

  • 38

    peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos. Grupo 02 Foi tratado com a associao

    de Griseofulvina na dose de 50 mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias

    consecutivos e Levamisol (Griffin et al, 1994) por via oral na dose de 2,2 mg kg-1 de

    peso a cada 48 h por 30 dias consecutivos. Grupo 03 Foi tratado com Cetoconazol

    por via oral na dose de 10 mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos.

    Grupo 04 Foi tratado com a associao de Cetoconazol por via oral na dose de 10

    mg kg-1 de peso a cada 24 h por 30 dias consecutivos e Levamisol por via oral na

    dose de 2,2 mg kg-1 a cada 48 h por 30 dias consecutivos. Griseofulvina,

    cetoconazol e levamisol foram preparadas em cpsulas personalizadas para cada

    co.

    A avaliao clnica e as culturas fngicas foram realizadas no 7, 14, 21 e

    28 dia aps o incio do tratamento. A cada exame, a severidade das leses era

    subjetivamente avaliada, usando um sistema de contagem de escores conforme

    tabela 01 e 02 respectivamente.

    Tabela 01 Sistema de escores para avaliao da severidade das leses

    Escore Aumento Alopecia Eritema Caspa/Crostas Leses Pstulas da leso satlites folicutares primria 0 no no no no no no 1 at 10% leve leve leve leve leve 2 10 -25 % moderada moderada moderada moderada moderada 3 acima de 25% severa severa severa severa severa

    Tabela 02 Sistema de escores para avalio micolgica _______________________________________________________

    Escore 1 semana 2 semana 3 semana 4 semana

    0 Negativo Negativo Negativo Negativo 1 Positivo Negativo Negativo Negativo 2 Positivo Positivo Negativo Negativo 3 Positivo Positivo Positivo Negativo

    4 Positivo Positivo Positivo Positivo _______________________________________________________

  • 39

    Todos os proprietrios dos ces foram orientados quanto a no permitir o

    contato com outros animais assim como a criteriosa higiene do ambiente onde os

    ces estavam sendo tratados.

    Anlise estatstica

    O estudo do levanatmento epidemiolgico foi conduzido utilizando anlise

    varivel descritiva. O teste de Fisher foi usado para a anlise das associaes entre

    as variveis categorizadas. Os resultados foram considerados significantes para um

    valor de p

  • 40

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Este estudo foi realizado em 127 ces com suspeita de dermatopatia fngica.

    Baseado na positividade da cultura fngica, trinta e trs ces (25,98%) foram

    positivos para dermatopatia fngica aps realizao de cultivo primrio. Dentre os

    espcimes clnicos positivos, vinte e oito (84,84%) apresentavam dermatfitos e

    cinco espcimes (15,15%) continham leveduras (tabela 03).

    Tabela 03 -Relao de espcimes clnicos positivos e suas caractersticas

    clnicas, epidemiolgicas e laboratoriais.

    Esp. Cln

    Raa Id a d e

    S e x o

    Pelagem Caract. Clnicas

    Caract. Manejo

    ContactHuman

    o contaminado

    Ex. Diret

    o

    Cultura Cepa Estoc.

    01 Poodle b M Longa B,H,J 2,6,8 No Pos M.canis 01-2-064 02 Weima a F Curta H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-2-092 03 Poodle c F Longa C,H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-3-001 04 York e M Longa C,D,E,L 2,4,8 No Neg M.canis 01-2-090 05 Labrad a F Curta B,E,I 1,4,7 No Neg M.pachydermatis 01-2-059 06 Srd a M Longa C,D,H,J 1,4,8 No Pos M.canis No est. 07 Cocker f M Longa A,D,G,J 1,4,7 No Neg M.pachydermatis 01-2-061 08 Cocker f F Longa B,D,F,L 2,4,8 No Neg C.tropicalis 01-2-063 09 York d M Longa B,D,F,L 2,4,8 No Neg M.fulvum 01-2-065 10 Fox a F Curta F,I 1,4,7 No Neg M.gypseum 01-2-062 11 York d M Longa B,D,E,I 1,5,7 No Pos M.canis No est. 12 Poodle f M Longa A,D,G,J 2,4,8 No Neg M.pachydermatis 01-2-060 13 Pinsher b F Curta B,D,H,I 1,4,7 No Neg M.canis No est. 14 York b F Longa B,H,J 2,4,7 Sim Pos M.canis No est. 15 Beagle c F Curta A,H,I 2,4,9 No Pos M.canis 01-3-004 16 Labrad c M Curta B,H,I 1,4,7 No Pos M.gypseum 01-3-003 17 Dasch c M Curta C,H,J 2,6,8 Sim Neg M.canis 01-3-061 18 Srd d M Curta C,E,I 2,4,7 No Neg M.canis 01-2-134 19 York b F Longa B,D,H,I 2,4,8 No Pos M.canis 01-2-133 20 Dober b M Curta C,D,E,J 1,5,7 No Pos M.gypseum 01-2-188 21 Poodle b M Longa B,E,J 1,4,7 No Pos M.canis No est. 22 Labrad a M Curta E,J 1,4,7 No Pos M.gypseum 01-5-184 23 Poodle f F Longa A,D,F,L 2,5,7 No Neg M.pachydermatis No est. 24 York a M Longa H,J 2,4,7 No Pos M.canis 01-5-186 25 York f F Longa B,D,F,L 2,4,8 No Pos M.canis No est. 26 York h F Longa C,H,I 2,4,8 No Neg M.canis 01-5-189 27 Pinsher a F Curta B,H,I 2,5,7 No Pos T.tonsurus 01-5-187 28 Srd d M Longa B,H,J 2,4,8 No Pos M.canis 01-5-190 29 Poodle d M Longa H,I 2,4,8 No Neg M.canis 01-5-185 30 Poodle d F Longa C,H,J 1,4,7 No Neg M.canis 01-4-016 31 Poodle d F Longa B,E,J 2,5,8 Sim Pos M.canis 01-4-017

    Legenda de Caractersticas Clnicas: a- 0 a 6 meses, b- 6 12 meses, c- 1 - 2 anos, d- 2 - 4 anos, e- 4 6 anos, f- 6 8 anos, g- 8 10 anos, h- Acima de 10 anos. Legenda de Caractersticas Clnicas: A-Prurido Intenso, B- Prurido Moderado, C- Prurido Leve, D- Seborria, E- Plo Seco F- Plo Alopcico G- Plo Tonsurado, H- Plo Normal, I- Leso Focal, J- Leso Multifocal, L- Leso Difusa Legenda de Caractersticas de Manejo: 1- Habitat casa, 2- Habitat Apartamento, 3- Habitat Stio/Fazenda/Casa de praia, 4- Alimentao Rao, 5- Alimentao caseira, 6- Alimentao ambas, 7- Banhos domiciliares, 8- Banhos em PetShop, 9- Banho em ambos

  • 41

    Dentre os dermatfitos isolados (n=28), foram identificadas as seguintes

    espcies: Microsporum canis (n=22; 78,57%), Microsporum gypseum (n=4; 14,29%),

    Trichophyton tonsurans (n=1; 3,57%) e Microsporum fulvum (n=1, 3,57%). Dentre as

    leveduras, foram isoladas, Malassezia pachydermatis (n=4; 80%) e Candida

    tropicalis (n=1; 20%) (Tabela 03).

    Entre os espcimes clnicos positivos para dermatfitos, as raas mais

    representativas foram: yorkshire terrier (32,14%, n=9), poodle (21,42%, n=6) e sem

    raa definida (10,71%, n=3). Outras raas, em conjunto, perfizeram um total de

    35,71% (n=10). Quanto positividade para leveduras, as raas poodle e cocker

    spaniel ingls se destacaram (Tabela 03).

    Observou-se que 54,54% (n=12) dos ces portadores de dermatofitose

    moravam em apartamento e 45,46% (n=10) moravam em casa. M. canis foi mais

    freqente em animais domiciliados em apartamento do que M. gypseum, que mais

    freqente em animais residentes em casas (p=0,0140) (Tabela 04). Similarmente

    aos dermatfitos, as leveduras foram mais incidentes em ces residentes em

    apartamento (Tabela 04).

    Tabela 04. Correlao entre tipo de habitat e fungo isolado.

    Habitat neg. M. canis

    M. pachydermatis

    C. tropicalis

    T. tonsurans

    M. gypseum

    M. fulvum

    total

    Apto 53 16 2 1 1 -- 1 74 Casa 37 6 2 -- -- 4 -- 49 Stio 4 -- -- -- -- -- -- 4 Total 94 22 4 1 1 4 1 127

    M. canis mais freqente em animais de apartamento do que M. gypseum, que mais freqente em animais de casa (p=0,0140).

    As faixas etrias mais insidiosas para dermatfitos foram de 2 a 4 anos (n=8;

    36,36%), seguida de 0 a 6 meses (n=6; 21,42%) e 6 meses a 1 ano (n=6; 21,42%).

    No tocante s leveduras, a faixa etria compreendendo 6 a 8 anos representou 80%

    dos espcimes clnicos envolvidos (Tabela 03).

  • 42

    Observou-se que 45,45% e 75% dos animais positivos para M. canis e M.

    gypseum, respectivamente, eram do sexo masculino. Entre os animais positivos para

    M. pachydermatis observou-se 50% de machos (Tabela 03).

    Quanto ao tipo de pelagem, os ces portadores de M. canis apresentavam

    pelagem longa (n=16, 72,72%), ou pelagem curta (n=6, 27,28%). Todos os ces

    positivos para M. gypseum apresentaram pelagem curta (n=4)(Tabela 05).

    Observou-se que o M. canis mais freqente em animais de plo longo do que

    aqueles com M. gypseum. Este ltimo foi mais freqente em animais de plo curto

    (p=0,0140) (Tabela 05). Nos ces portadores de M. pachydermatis observou-se:

    pelagem longa (n=3) e pelagem curta (n=1) (Tabela 05).

    Tabela 05. Correlao entre tipo de pelagem e fungo isolado. pelagem neg. M.

    canis M.

    pachydermatis C.

    tropicalis T.

    tonsurans M.

    gypseum M.

    fulvum total

    Curta 33 6 1 -- -- 4 1 45 Longa 61 16 3 1 1 -- -- 82 Total 94 22 4 1 1 4 1 127

    M. canis mais freqente em animais de pelo longo do que M. gypseum, que mais freqente em animais de pelo curto (p=0,0140).

    Foi observado que o padro de distribuio das leses induzidas por M. canis

    apresenta-se da seguinte forma: leses multifocais (n=11; 50%), leses focais (n=9;

    40,9%) e leses difusas (n=2; 9,1%). J o perfil das leses causadas por M.

    gypseum foi: leses focais (n=2; 50%) e leses multifocais (n=2; 50%). A M.

    pachydermatis induziu leses multifocais (n=2; 50%), leso difusa (n=1; 25%) e

    leses focais (n=1; 25%) (Tabela 03). Observou-se que as dermatopatias por M.

    pachydermatis est mais associada a leses difusas do que aquelas por M. canis

    (p=0,098) (Tabela 06).

    Tabela 06. Correlao entre o tipo de leso e microorganismo isolado

    Leso neg. M. canis

    M. pachydermatis

    C. tropicalis

    T. tonsurans

    M. gypseum

    M. fulvum

    total

    focal 37 9 -- -- -- 2 1 49 multifocal 36 11 2 -- -- 2 -- 51

    difusa 21 2 2 1 1 -- -- 27 total 94 22 4 1 1 4 1 127

    M. pachidermatis est mais associado a leso difusa do que M. canis (p=0,098)

  • 43

    Dentre as caractersticas clnicas, o prurido foi observado nos ces portadores

    de M. canis nos seguintes percentuais: prurido moderado (n=10; 45,46%), prurido

    leve (n=8; 36,36%), prurido intenso (n=1; 4,54%) e ausncia de prurido (n=3,

    13,64%). Nos ces portadores de M. gypseum observaram-se: prurido moderado

    (n=1; 25%), prurido leve (n=1, 25%) e ausncia de prurido (n=2; 50%). Entre os ces

    com M. pachydermatis observaram-se prurido intenso (n=3; 75%) e prurido

    moderado (n=1; 25%) (Tabela 03). Foi averiguado que as infeces por M.

    pachydermatis esto mais associadas a um prurido intenso do que aqueles por M.

    canis (p=0,0060) (Tabela 07).

    Tabela 07. Correlao entre o grau de prurido e fungo isolado.

    Prurido neg. M. canis

    M. pachydermatis

    C. tropicalis

    T. tonsurans

    M. gypseum

    M. fulvum

    total

    No 13 3 -- -- -- 2 -- 18 Leve 17 8 -- -- -- 1 -- 26

    moderado 29 10 1 1 1 1 1 44 intenso 35 1 3 -- -- -- -- 39

    total 94 22 4 1 1 4 1 127 M. pachydermatis est mais associado a um prurido intenso do que M. canis (p=0,0060).

    O aspecto do plo e presena de seborria tambm foram objetos de

    investigao. Por conseguinte observou-se que entre os ces portadores de M.

    canis, 72,72% apresentavam plo normal (n=16), 22,73% plos ressecados (n=5) e

    4,55% com reas alopcicas (n=1). Dentre estes ces, 27,27% apresentavam

    seborria (n=6). Os ces com M. gypseum apresentaram: plo seco (n=2; 50%),

    plo normal (n=1; 25%) e com reas alopcicas (n=1; 25%). Dentre estes ces

    somente um apresentava seborria (n=1). Entre os ces portadores de M.

    pachydermatis foi observado: plo oleoso (n=2, 50%), plo normal (n=1; 25%) e com

    reas alopcicas (n=1, 25%). Dentre estes ces 75% apresentavam seborria (n=3).

    Observou-se que animais acometidos por M. pachydermatis est mais associado a

    plo oleoso do que aqueles acometidos por M. canis (P=0,0015) que por sua vez,

    est mais associado ao plo normal do que o M. gypseum (p=0,1039) (Tabela 08).

  • 44

    Tabela 08. Correlao entre o aspecto do plo e fungo isolado.

    tipo de pelo

    neg. M. canis

    M. pachydermatis

    C. tropicalis

    T. tonsurans

    M. gypseum

    M. fulvum

    total

    seco 32 5 1 -- -- 2 -- 40 normal 43 16 -- -- -- 1 1 61

    alopcico 4 1 -- -- 1 1 -- 7 oleoso 15 -- 3 1 -- -- -- 19 total 94 22 4 1 1 4 1 127

    M. pachyidermatis est mais associado a pelo oleoso do que M. canis (p=0,0015) e M. canis est

    mais associado ao pelo normal do que M. gypseum (p=0,1039).

    No presente trabalho, o percentual de animais positivos em relao ao

    nmero de animais suspeitos de dermatopatia fngica superficial foi de 25,98%. Este

    achado est de acordo com a literatura, onde referido um percentual de 7 a 58%

    (Aho, 1980; Faggi et al, 1987; Lewis et al, 1991, Sparkes et al, 1993; Marchisio et al,

    1995; Cabaes, 1997; Nobre, 1998; Paixo et al, 2000; Guzman-Chavez, 2000;

    Cabaes, 2000; Machado, 2001; Brilhante et al, 2003).

    Dentre os dermatfitos isolados observou-se que o M. canis foi responsvel

    por 78,57%, seguido por M. gypseum com 14,29%. Tais achados confirmam que o

    M. canis o mais importante dermatfito que acomete ces (Baxter, 1973;

    Kristensen & Krogh, 1981; Marchisio et al, 1995; Cabaes et al, 1997; Paixo et al,

    2000; Brilhante et al, 2003). Entretanto, foi encontrada uma incidncia relativamente

    alta de animais positivos para M. gypseum (15,38%) em relao a trabalhos

    publicados por diversos autores (Sparkes et al., 1993; Simpanya & Baxter, 1996;

    Cabaes et al., 1997; Paixo et al., 2002; Brilhante et al., 2003).

    Em nosso estudo foi encontrado outros dois animais positivos para

    dermatofitose por M. fulvum e T. tonsurans. Tal achado congruente com trabalhos

    anteriormente publicados, onde, tais dermatfitos foram implicados em infeces

    dermatolgicas ocasionais em ces e gatos (Sinski & Floural, 1984; Demange et al,

    1992; Rueda, 2002).

    Observou-se que o M. canis foi mais freqente em animais residentes em

    apartamento do que aqueles positivos para M. gypseum, que foi mais freqente em

    ces residentes em casas com jardim (Tabela 04). Tal evidncia pode ser explicada

  • 45

    pelo fato do M. gypseum ser um dermatfito geoflico (Rocha & Sidrim, 2004).

    Portanto o ambiente fator relevante na incidncia deste dermatfito em ces,

    conforme anteriormente relatado por Sparkes (Sparkes et al, 1993). Outros autores

    relacionam a prevalncia mais alta de dermatofitose s condies gerais sob as

    quais os animais so criados; incluindo o nvel de higiene do ambiente, densidade

    populacional e proximidade com humanos (Marchisio et al, 1995; Sparkes et al,

    1993).

    As leveduras isoladas compreenderam 15,15% dos espcimes clnicos

    positivos. Os agentes isolados foram Malassezia pachydermatis e um co acometido

    por Candida tropicalis. O fato da M. pachydermatis ser frequentemente isolada do

    conduto auditivo de ces com otite externa e da pele de animais com dermatite,

    ambas as enfermidades pruriginosas (kennis et al, 1996; Bonde et al, 1997;

    Charach, 1997), compactua com o dado encontrado em nosso estudo, onde se

    evidenciou uma relao entre animais positivos por M. pachydermatis e quadros de

    prurido intenso.

    O animal acometido por C. tropicalis, apresentava quadro clnico atpico, visto

    que, as espcies de Candida demonstram uma marcante predileo pelas

    membranas mucosas, reas de juno mucocutnea, perneo, ouvido externo,

    comissuras ungueais e na cavidade oral (Pichler et al., 1985; Greene & Chandler,

    1990; Griffin et al, 1994). O referido animal apresentava leso alopcica, seca e

    difusa, apresentando-se, portanto, diferente dos casos descritos na literatura.

    Observamos uma maior prevalncia de dermatofitose entre as raas yorkshire

    terrier e poodle, dado este, tambm encontrado por outros autores (Cabaes et al,

    1997; Cabaes, 2000; Brilhante et al, 2003). Isto pode ser explicado a partir da

    hiptese de que animais de plo longo possuem uma maior predisposio

    dermatopatias fngicas superficiais, por manter condies microclimticas da pele

    favorveis ao desenvolvimento fngico, ou seja, umidade e temperatura adequadas.

    Esta hiptese se reveste de significado quando em nosso trabalho encontramos uma

    maior prevalncia de M. canis em ces de pelo longo (Tabela 05).

    Os fatores microclimticos superficiais que promovem a proliferao da

    Malassezia spp. so a hiperproduo de seborria, aumento da umidade, perda da

  • 46

    integridade da barreira cutnea e infeces bacterianas concomitantes (Mason,

    1993). Estes dados so congruentes com o nosso trabalho, onde encontramos que

    os animais infectados por M. pachydermatis esto mais associados ao pelo oleoso e

    presena de seborria (Tabela 08).

    No foi observado grau de significncia entre a idade e os animais infectados;

    entretanto, a maior percentagem de animais acometidos (36,36%) foi encontrada na

    faixa etria de dois a quatro anos de idade.

    Existe uma enorme variabilidade dos padres dermatolgicos das

    dermatomicoses em ces (Foil, 1994). O padro de distribuio das leses cutneas

    dos animais infectados com dermatfitos e M. pachydermatis so extremamente

    variveis, podendo ser observado leses focais nicas, multifocais e difusas

    (Svejgaard, 1986; Foil, 1994;). Em nosso estudo, encontramos apenas (p=0,098) em

    animais acometidos por M. pachydermatis uma maior prevalncia de leses difusas

    (p=0,098). Estes dados so compatveis com os achados clnicos de Mason & Evans

    (1991), que descrevem a presena de dermatite generalizada (difusa) em

    dermatomicoses por M. pachydermatis .

    Todos os ces tratados responderam positivamente aos protocolos

    teraputicos institudos, com diminuio excelente das contagens de clnico e

    avaliao micolgical (Tabela 09 e 10).

    Tabela 09. Soma dos escores das avaliaes clnicas e micolgicas tempo grupo 01 grupo 02 grupo 03 grupo 04 Co 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

    1sem 7 9 5 9 7 10 7 10 6 6 6 12 6 8 9 8 7 9 8 8 8 7 12 7 2sem 3 7 4 7 6 7 4 7 5 5 5 10 5 7 7 5 5 7 6 7 6 6 7 3

    3sem 3 2 1 3 3 3 4 5 3 4 4 6 3 5 4 3 4 5 5 5 4 4 5 1

    4sem 1 1 1 1 1 1 2 3 1 2 2 1 1 2 2 1 1 3 1 3 1 0 2 0

  • 47

    Tabela 10. Escores individuais de avaliao clnica e micolgica de cada

    animal dentro de seu grupo.

    Avaliao clnica (escores) Avaliao micolgica (cultura)

    Co n

    1 sem

    2 sem

    3 sem

    4 sem

    1 sem

    2 sem

    3 sem

    4 sem

    escore

    01 6 3 3 1 + - - - 1 02 8 6 2 1 + + - - 2 03 5 4 1 1 - - - - 0 04 9 7 3 1 - - - - 0 05 7 6 3 1 - - - - 0

    g r u p o 1 06 9 7 3 1 + - - - 1

    07 7 4 4 2 - - - - 0 08 9 7 5 3 + - - - 1 09 6 5 3 1 - - - - 0 10 6 5 4 2 - - - - 0 11 5 5 4 2 + - - - 1

    g r u p o 2 12 11 10 6 1 + - - - 1

    13 6 5 3 1 - - - - 0 14 8 7 5 2 - - - - 0 15 8 7 4 2 + - - - 1 16 8 5 3 1 - - - - 0 17 7 5 4 1 - - - - 0

    g r u p o 3 18 8 7 5 3 + - - - 1

    19 8 6 5 1 - - - - 0 20 8 7 5 3 - - - - 0 21 7 6 4 1 + - - - 1 22 7 6 4 0 - - - - 0 23 11 6 5 2 + + - - 2

    g r u p o 4 24 6 3 1 0 + - - - 1

    Analisando-se a soma dos escores das anlises clnicas e micolgicas, pode-

    se concluir que nas semanas 1, 2 e 4 a diferena entre os escores no

    estatisticamente significativa. Essa diferena no-significativa pode ser causada pelo

    reduzido tamanho amostral. Em relao semana 3, pode-se concluir que existe

    diferena nos escores. Analisando-se a semana 3, os grupos 2, 3 e 4 no

    apresentam diferenas significativas (Qui-quadrado 0,353 com significncia 0,8381).

    Juntando-se esses dados para a composio de um nico grupo e comparando-se

    com o grupo 1, nota-se uma diferena significativa, sendo o grupo 1 o que apresenta

    valores mais baixos para a soma dos escores (valor z calculado -2,929 com

    significncia exata 0,0025) (Tabela 11 e 12).

  • 48

    Tabela 11. Estatsticas bsicas das soma dos escores das avaliaes clnicas e micolgicas.

    Grupo Semana Mnimo Mximo Mdia Desvio Padro

    1 1 5 10 7,83 1,835 2 3 7 5,67 1,751 3 1 3 2,50 0,837 4 1 1 1,00 0,000 2 1 6 12 7,83 2,563 2 4 10 6,00 2,191 3 3 6 4,33 1,033 4 1 3 1,83 0,753 3 1 6 9 7,83 1,169 2 5 7 6,00 1,095 3 3 5 4,00 0,894 4 1 3 1,67 0,816 4 1 7 12 8,33 1,862 2 3 7 5,83 1,472 3 1 5 4,00 1,549 4 0 3 1,17 1,169

    Tabela 12. Teste de kruskal-Wallis para a diferena de escores entre os grupos

    Semana Rank mdio Qui-quadrado

    Significncia

    grupo1 grupo2 grupo3 grupo4 1 12,75 10,67 12,83 13,75 0,633 0,8889 2 12,42 11,50 13,25 12,83 0,217 0,9747 3 5,42 15,58 13,83 15,17 8,794 0,0322 4 9,00 16,08 14,50 10,42 4,866 0,1818

    Por intermdio do grfico de soma de escores clnicos e micolgicos (Figura

    1) pode-se notar que em todos os casos os tratamentos so eficientes na reduo

    dos escores, porm, devido diferena apresentada na semana 3, pode-se concluir

    que o tratamento realizado no grupo 1 o que apresenta resultados mais

    significantes.

  • 49

    grupo1 grupo2 grupo3 grupo4

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    1 sem 2 sem 3 sem 4 sem

    som

    a d

    os

    esco

    res.

    Figura 01 Representao grfica da soma dos escores clnicos e

    micolgicos

    A representao grfica acima mostra que o grupo tratado s com

    griseofulvina apresentou diminuio da severidade das leses de forma mais

    evidente que os outros grupos de tratamento. Na a avaliao micolgica, trs ces

    do grupo 01, trs ces do grupo 02, dois ces do grupo 03 e trs ces do grupo 04,

    apresentaram cultura fngica positiva na primeira semana de tratamento. Um co do

    grupo 01 e outro do grupo 04 ainda apresentavam cultura fngica positiva na

    segunda semana de tratamento (Tabela 10).

    Em nosso estudo foi demonstrado que a griseofulvina e o cetoconazol so

    antifngicos eficientes. Entretanto, no grupo tratado com a griseofulvin, houve

    reduo da severidade das leses mais rpida que os demais protocolos. Tal

    observao compatvel com trabalhos previamente publicados, confirmando a

    eficincia desta droga no tratamento da dermatofitose em ces e gatos por

    Microsporum canis (Moriello & DeBoer, 1995; Balda et al., 2002)

    No foi observado efeitos adversos e/ou colaterais em qualquer grupo de

    tratamento com griseofulvina micronizada. Foi aconselhado aos proprietrios,

    associar o medicamento a comida gordurosa, o que garantiu bons nveis de

    absoro e facilitou a adeso do animal ao tratamento. conhecido que vrios

  • 50

    fatores, independente do espectro de ao in vitro da griseofulvina, podem afetar

    sua efetividade no tratamento da dermatofitose canina. O tamanho da partcula da

    droga, os efeitos adversos e/ou colaterais e a dieta pobre em gorduras, podem ser

    mencionados (Farias & Giuffrida, 2002).

    O cetoconazol mostrou ser efetivo nos dois grupos de tratamento, com

    reduo progressiva da severidade das leses e cultura fngica, no apresentando

    efeitos adversos que pudessem levar interrupo do tratamento. Esta droga muito

    usada em dermatomicoses refratrias foi associada resistncia fngica in vitro.

    Seu custo mais elevado, maior possibilidade de efeitos adversos e/ou colaterais que

    a griseofulvina j foi descrito como fator limitante na sua utilizao nos protocolos

    teraputicos primrios (Farias & Giuffrida, 2002). Porm uma grande preferncia por

    tal droga no tratamento das dermatofitoses observada entre os clnicos de

    pequenos animais. Tal opo pode ser explicada por desconhecimento de tais

    aspectos teraputicos que mostram que a griseofulvina droga de primeira escolha

    na terapia das dermatofitoses. Diante da possibilidade de insucesso da primo-terapia

    com a griseofulvina a melhor opo seria o itraconazol ou a terbinafina, por

    possurem efeitos teraputicos superiores ao cetoconazol (Moriello, 2004).

    A introduo do levamisol para os protocolos teraputicos no demonstrou

    melhorar a eficincia destes. No houve diferenas estatsticas na reduo na

    severidade das leses dermatofticas, na cultura fngica e no tempo de tratamento.

    Vrios estudos relatam que o levamisol droga capaz de reestabelecer a resposta

    imune deprimida em animais e humanos, mais sem qualquer efeito de melhorara na

    imunidade de animais saudveis (Symoens & Rosental, 1977). Porm em estudo

    subseqente de Symoens (1979) relatou que o levamisol induziu melhora clnica em

    pacientes com infeces crnicas ou doenas inflamatrias. O mesmo autor afirma a

    capacidade para reestabelecer e/ou aumentar a atividade deficiente de celulas que

    participam na resposta imune celular-mediada (Symoens et al., 1979). A observao

    clnica em nosso estudo mostra que aparentemente o levamisol no melhora a

    relao do hospedeiro (co) perante a infeco por M. canis. Tal observao

    respaldada pela no otimizao dos protocolos teraputicos quando associado a

    esta droga, diante de uma avalio clnica e micolgica sem diferena significante

    em relao aos demais grupos de tratamento. A explicao para este fato que a

    ao do levamisol no linfcito B, indiretamente, atravs da ao sobre os linfcitos T,

  • 51

    extremamente variado. A produo de imunoglobulinas especficas pode ser

    inalterada, aumentada ou at mesmo suprimida (Renoux, 1978).

  • 52

    CONSIDERAES FINAIS

    A partir deste estudo, encontramos que as dermatofitoses canina

    constituem uma importante dermatopatia na rotina de atendimento clnico

    veterinrio. A freqncia desta enfermidade, observada em ces da regio

    metropolitana de Fortaleza, representa em torno de um quarto de todas as

    dermatopatias suspeitas de dermatomicoses.

    Dentre os dermatfitos, o Microsporum canis tem papel relevante seguido de

    Microsporum gypseum. O M. canis mais freqente em animais de plo longo do

    que aqueles acometidos por M gypseum, que por sua vez, mais freqente em ces

    de plo curto. O habitat tambm se mostrou fator importante na epidemiologia das

    dermatofitoses, sendo o M. canis mais freqente em ces residentes em

    apartamentos do que aqueles positivos para M. gypseum, mais observado em ces

    residentes em casas com jardim.

    As leveduras representadas principalmente pela Malassezia

    pachydermatis se mostraram menos importante nas dermatopatias fngicas em

    ces. Em suma, as infeces por M. pachydermatis apresentaram-se como leses

    difusas, plo oleoso e quadros de prurido intenso. Tal evidncia correlata no

    envolvimento desta levedura em quadros de dermatite seborrica pruriginosa

    disseminada em ces.

    A terapia antifngica com a griseofulvina para infeces dermatofdicas

    por M. canis, representou a melhor escolha, pois esta se mostrou eficaz, barata e

    bem tolerada no tratamento comparativamente com o cetoconazol. A associao de

    protocolos teraputicos clssicos com griseofulvina e cetoconazol, ao levamisol, no

    se mostrou vantajoso. No foi possvel de observar diminuio do tempo de

    tratamento e maior velocidade na regresso das leses clnicas.

    Por fim, a conscientizao crescente, a formao tcnica continuada e a

    disseminao de centros de diagnstico micolgico, revelam ser os passos a serem

    dado