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São Paulo, UNESP, Geociências, v. 29, n. 1, p. 81-104, 2010 81 CARACTERIZAÇÃO DOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DE BASE MINERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO: SUBSÍDIO À MINERAÇÃO PAULISTA Marsis CABRAL JUNIOR 1 , Saul Barisnik SUSLICK 2 , Wilson SUZIGAN 2 (1) Instituto de Pesquisas Tecnológica do Estado de São Paulo, IPT. Avenida Prof. Almeida Prado, 532, Cidade Universitária – Butantã. CEP 05508-901. São Paulo, SP. Endereço eletrônico: marsis@ipt. br (2) Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-970. Campinas, SP. Endereço eletrônico: [email protected] Introdução Aglomerações e Arranjos Produtivos Locais - APLs: Conceitos Gerais e Aplicação na Indústria Mineral A Mineração no Estado de São Paulo Caracterização dos APLs de Base Mineral no Estado de São Paulo Metodologia de Identificação e Classificação Entendimento da Aplicação Associada dos Discriminantes para Identificação de APLs Seleção das Atividades Econômicas para Identificação dos APLs de Base Mineral Tipologia dos APLs de Base Mineral Especialização Produtiva dos APLs Identificados Procedimentos de Aplicação da Metodologia de Reconhecimento e Caracterização Tipológica Resultados Obtidos: APLs de Base Mineral no Estado de São Paulo APLs de Base Mineral Identificados Especialização Produtiva dos APLs de Base Mineral Estrutura Produtiva dos APLs de Base Mineral Análise dos Resultados: Características Gerais e Importância dos APLs de Base Mineral Identificados Considerações Finais Agradecimentos Referências Bibliográficas Apêndices RESUMO – Buscando efetuar o reconhecimento das principais aglomerações produtivas de base mineral no Estado de São Paulo, este artigo aborda a estruturação da mineração paulista e sua tendência em se concentrar geograficamente. Os procedimentos adotados para identificação estatística, mapeamento e caracterização tipológica dessas aglomerações incorporam conceitos e determinantes aplicados, sobretudo, na Indústria de Transformação (quociente locacional - QL, participação relativa do emprego região/estado e número mínimo de estabelecimentos), sendo ajustados e complementados por parametrização da especialização produtiva específica para a Indústria Mineral. São reconhecidos 30 potenciais arranjos produtivos locais (APLs), com especialização em 10 substâncias minerais, sobressaindo- se os de águas minerais, areia e brita para construção civil, argilas para fins cerâmicos, e rochas carbonáticas. É comum também o encadeamento de indústrias de transformação, sendo mais proeminentes na mineração de agregados, onde se articulam concentrações de empresas de artefatos de concreto, nos mínero-cerâmicos, nos quais a produção de argila abastece as expressivas aglomerações de cerâmica vermelha e de revestimentos, além da indústria de águas minerais. O fato de vários APLs terem peso significativo em seus segmentos econômicos e (ou) nas economias dos seus territórios atesta o papel de destaque que podem desempenhar na implementação de políticas setoriais, bem como no desenvolvimento de suas localidades. Palavras-chave: arranjo produtivo local, mineração, recursos minerais, desenvolvimento, São Paulo. ABSTRACT – M. Cabral Junior, S.B. Suslick, W. Suzigan - Characterization of local productive arrangements for mineral base in the state of São Paulo: subsidy to mining paulista. This article discusses the structuring of mining industry in the State of Sao Paulo and its tendency to concentrate geographically, seeking to perform the recognition of its main clusters. The procedures adopted for statistical identification, mapping and typological characterization of these agglomerations incorporated concepts and some determinants applied to the manufacturing industry (indices of specialization, relative participation of employment in a regional level as compared to a state level, and minimum number of firms). The values of theses determinants had to be adjusted and combined with specific parameters of the productive specialization for the mining industry, considering different types of raw materials. Thirty potential clusters with specialization in ten non-metallic minerals were recognized. Among them, mineral water, sand, crushed stone, ceramic clays, and carbonate rocks are highlighted. The forward chaining of the mining activities linked with the manufacturing industry is also very common. This situation is far more developed in the context of the mineral aggregate extractive sector - which presents a forward linkage with some concentrations of firms for concrete products. The same situation appears in the clay mining – that supply the expressive tiles and structural ceramics clusters –, and in the mineral water industry. Considering that several of these agglomerations have a significant weight in their own productive segments and the local economies, they play an important role in the performance of sectorial policies, as well as in local development. Keywords: cluster, mining, mineral resources, development, São Paulo.

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São Paulo, UNESP, Geociências, v. 29, n. 1, p. 81-104, 2010 81

CARACTERIZAÇÃO DOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAISDE BASE MINERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO:

SUBSÍDIO À MINERAÇÃO PAULISTA

Marsis CABRAL JUNIOR 1, Saul Barisnik SUSLICK 2, Wilson SUZIGAN 2

(1) Instituto de Pesquisas Tecnológica do Estado de São Paulo, IPT. Avenida Prof. Almeida Prado, 532,Cidade Universitária – Butantã. CEP 05508-901. São Paulo, SP. Endereço eletrônico: marsis@ipt. br

(2) Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Cidade Universitária Zeferino Vaz.CEP 13083-970. Campinas, SP. Endereço eletrônico: [email protected]

IntroduçãoAglomerações e Arranjos Produtivos Locais - APLs: Conceitos Gerais e Aplicação na Indústria MineralA Mineração no Estado de São PauloCaracterização dos APLs de Base Mineral no Estado de São Paulo

Metodologia de Identificação e ClassificaçãoEntendimento da Aplicação Associada dos Discriminantes para Identificação de APLsSeleção das Atividades Econômicas para Identificação dos APLs de Base MineralTipologia dos APLs de Base MineralEspecialização Produtiva dos APLs IdentificadosProcedimentos de Aplicação da Metodologia de Reconhecimento e Caracterização Tipológica

Resultados Obtidos: APLs de Base Mineral no Estado de São PauloAPLs de Base Mineral IdentificadosEspecialização Produtiva dos APLs de Base MineralEstrutura Produtiva dos APLs de Base Mineral

Análise dos Resultados: Características Gerais e Importância dos APLs de Base Mineral IdentificadosConsiderações FinaisAgradecimentosReferências BibliográficasApêndices

RESUMO – Buscando efetuar o reconhecimento das principais aglomerações produtivas de base mineral no Estado de São Paulo, esteartigo aborda a estruturação da mineração paulista e sua tendência em se concentrar geograficamente. Os procedimentos adotados paraidentificação estatística, mapeamento e caracterização tipológica dessas aglomerações incorporam conceitos e determinantes aplicados,sobretudo, na Indústria de Transformação (quociente locacional - QL, participação relativa do emprego região/estado e número mínimo deestabelecimentos), sendo ajustados e complementados por parametrização da especialização produtiva específica para a IndústriaMineral. São reconhecidos 30 potenciais arranjos produtivos locais (APLs), com especialização em 10 substâncias minerais, sobressaindo-se os de águas minerais, areia e brita para construção civil, argilas para fins cerâmicos, e rochas carbonáticas. É comum também oencadeamento de indústrias de transformação, sendo mais proeminentes na mineração de agregados, onde se articulam concentrações deempresas de artefatos de concreto, nos mínero-cerâmicos, nos quais a produção de argila abastece as expressivas aglomerações de cerâmicavermelha e de revestimentos, além da indústria de águas minerais. O fato de vários APLs terem peso significativo em seus segmentoseconômicos e (ou) nas economias dos seus territórios atesta o papel de destaque que podem desempenhar na implementação de políticassetoriais, bem como no desenvolvimento de suas localidades.Palavras-chave: arranjo produtivo local, mineração, recursos minerais, desenvolvimento, São Paulo.

ABSTRACT – M. Cabral Junior, S.B. Suslick, W. Suzigan - Characterization of local productive arrangements for mineral base in thestate of São Paulo: subsidy to mining paulista. This article discusses the structuring of mining industry in the State of Sao Paulo and itstendency to concentrate geographically, seeking to perform the recognition of its main clusters. The procedures adopted for statisticalidentification, mapping and typological characterization of these agglomerations incorporated concepts and some determinants appliedto the manufacturing industry (indices of specialization, relative participation of employment in a regional level as compared to a statelevel, and minimum number of firms). The values of theses determinants had to be adjusted and combined with specific parameters of theproductive specialization for the mining industry, considering different types of raw materials. Thirty potential clusters with specializationin ten non-metallic minerals were recognized. Among them, mineral water, sand, crushed stone, ceramic clays, and carbonate rocks arehighlighted. The forward chaining of the mining activities linked with the manufacturing industry is also very common. This situation isfar more developed in the context of the mineral aggregate extractive sector - which presents a forward linkage with some concentrationsof firms for concrete products. The same situation appears in the clay mining – that supply the expressive tiles and structural ceramicsclusters –, and in the mineral water industry. Considering that several of these agglomerations have a significant weight in their ownproductive segments and the local economies, they play an important role in the performance of sectorial policies, as well as in localdevelopment.Keywords: cluster, mining, mineral resources, development, São Paulo.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda a estruturação do setormineral no Estado de São Paulo, focalizando-seespecialmente a sua organização em aglomeraçõesindustriais especializadas na produção de bens e produ-tos minerais.

Embora comum em parcela importante dosmunicípios paulista, os empreendimentos de mineraçãoapresentam-se preferencialmente concentrados emdeterminadas localidades, em decorrência de fatorescomo a natureza do substrato geológico, proximidadede mercados e base infraestrutural privilegiada. Essasconcentrações de empresas de mineração podem ainda,no mesmo território, agregar indústrias de transfor-mação intensivas em insumos minerais produzidoslocalmente. Exemplos típicos, em São Paulo, são asaglomerações mínero-cerâmicas que integram aprodução de matérias-primas argilosas e a fabricaçãode produtos de cerâmica vermelha e revestimentos.Em outras situações, têm-se também concentraçõesespecializadas no beneficiamento e produção demateriais minerais acabados, caso da atividademarmorista na Região Metropolitana de São Paulo.

Por outro lado, as aglomerações geográficas esetoriais de empresas vêm obtendo espaço crescentena agenda das políticas governamentais, tanto parapromoção de determinados segmentos industriais, comotambém para o desenvolvimento local, ou até mesmoregional. De fato, a aceitação dos amplos benefícioseconômicos e sociais oriundos do desenvolvimento dasaglomerações encontra-se evidenciada na literatura,como também tem servido de incentivo aos governos,em suas diversas instâncias, na adoção de políticasdedicadas à promoção dessas estruturas de produção.Essas aglomerações correspondem a organizaçõesprodutivas localizadas tratadas como clusters, distritosindustriais, ou também, como comumente designadas

na literatura nacional, arranjos ou sistemas produtivoslocais (APLs/SPLs).

Levando-se em conta as características estruturaisda mineração paulista, sobretudo a sua tendência emse concentrar geograficamente e, por conseqüência, opapel relevante que o fortalecimento das aglomeraçõesprodutivas de base mineral pode desempenhar noprocesso de modernização e aprimoramentocompetitivo dessa indústria em São Paulo, este trabalhoefetua a identificação sistemática, mapeamento ecaracterização tipológica dos principais aglomeradosmínero-industriais do Estado. Trata-se de um primeiropasso no delineamento da configuração da estruturaprodutiva do setor mineral paulista, bem como noestabelecimento de referências que possam subsidiara interposição de políticas públicas e ações empresariaisorientadas à dinamização dessas aglomerações e,conseqüentemente, o desenvolvimento em bases maissustentadas do setor mineral paulista.

Além deste primeiro tópico introdutório, no qual écontextualizado e definido o objetivo do trabalho, esteartigo inclui mais quatro partes. Consta da segundaparte, uma breve conceituação sobre as economias deaglomeração, com atenção especial aos arranjos produ-tivos locais e a caracterização dessa forma particularde organização da produção geograficamente localiza-da no contexto da indústria mineral. Na terceira parteé apresentada uma síntese sobre o perfil produtivo dosetor mineral paulista. A quarta parte é dedicada àexposição da metodologia empregada para o reconhe-cimento, mapeamento e definição taxonômica dasaglomerações, e da sua aplicação e caracterização dospotenciais APLs de base mineral no Estado. No quintotópico são tecidas algumas considerações sobre osresultados alcançados e possíveis desdobramentos dosestudos relatados.

AGLOMERAÇÕES E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APLs:CONCEITOS GERAIS E APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA MINERAL

Internacionalmente, o interesse nas vantagenscompetitivas e inovativas associadas à localização dasempresas ressurgiu a partir da década de 70, respaldadoem experiências exitosas de algumas economiasregionais, cuja fonte do dinamismo encontrava-seancorada na aglomeração dos agentes que interagiamlocalmente. Como casos paradigmáticos na literaturapodem ser citados, entre outros, a região da TerceiraItália, o Vale do Silício na Califórnia (EUA) e a regiãode Baden-Wurttemberg na Alemanha, que servirampara fundamentar um novo conceito para qualificarestas modalidades de aglomerações de empresas.

No Brasil, a abordagem sobre concentraçãogeográfica e setorial de agentes econômicos e osganhos associados ao fenômeno de aglomeração ganhaexpressão a partir de meados da década de 90. Nesseperíodo, vários termos foram sugeridos para retratarexperiências de concentração espacial de empresas einstituições, relacionadas em torno de determinadaatividade econômica, bem como a existência e a intensi-dade das interações entre esses agentes territorialmenteinterligados.

Qualificações que foram empregadas no Brasilpara definir as estruturas produtivas localizadas

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incluem, entre outras, a simples adoção do termo inglêscluster (p.ex. Schmtiz, 1995; Suzigan, et al., 2001),comunidades industriais (Bazan & Schmtiz, 1997),arranjos produtivos locais (Lastres & Cassiolato, 2003;Cassiolato & Lastres, 2003) e sistemas locais deprodução (Suzigan et al., 2004). Mais do que enfoquesespecíficos que os autores pretendem imprimir em seusestudos, a profusão de tratamentos reflete, sobretudo,a multiplicidade de experiências de aglomeraçõesanalisadas e a própria complexidade deste fenômeno,que dificulta o estabelecimento de uma definição maisprecisa e consensual.

Sem desconsiderar variantes e tentativas de maiorprecisão terminológica, adotou-se para as estruturasprodutivas aqui analisadas a designação de arranjosprodutivos locais, ou simplesmente APLs, em funçãode ser o termo mais difundido nos trabalhos nacionaise estar praticamente consagrado pelos órgãos degoverno e instituições apoiadoras. Mais importante é aconcepção conferida a essa modalidade de aglome-ração. Como considerado neste trabalho, os APLscorrespondem à concentração geográfica de empresase instituições com vínculos associados a um determinadosetor ou atividade econômica, e têm com principaldiferencial competitivo a capacidade de geração deeconomias externas, desenvolvidas, em primeirainstância, de maneira espontânea (externalidadesmarshallianas).

O economista Alfred Marshall, em seu trabalhoenfocando os distritos industriais ingleses (ou comoentão denominou “indústrias localizadas”) no final doSéculo XIX, foi o precursor no reconhecimento dasvantagens obtidas pela concentração espacial de firmasespecializadas, considerando como forças responsáveispela formação das aglomerações e pela eficiência dasempresas concentradas geograficamente, as quaisconceituou de economias externas, a seguinte tríadede fatores: oferta de mão-de-obra especializada nasatividades do arranjo produtivo, implantação de empresassubsidiárias à atividade principal e ambiente propício àdifusão de conhecimentos sobre seus negócios,tecnologia e processos inovativos (Marshall, 1982).

Essas economias externas incidentais podem serreforçadas por outras vantagens proporcionadas pelaação conjunta e cooperação dos agentes privados epúblicos que atuam localmente, compondo o queSchmitz e associados designaram de eficiência coletiva(Schmitz, 1995, 1997; Schmitz & Nadvi, 1999). Nessecontexto de aglomerações, no qual permeiam externa-lidades incidentais e planejadas, as micro, pequenas emédias empresas - MPMEs, que são maioria nos APLs,usufruem de vantagens competitivas que não sãopossíveis de ser obtidas isoladamente.

Trata-se de um conceito plenamente aplicável ao

setor mínero-industrial, com experiências importantestanto no cenário brasileiro como internacional. OsAPLs de base mineral, como aqui conceituados,constituem aglomerações com especialização produtivaem bens minerais, podendo ocorrer relações vertica-lizadas, com agregação de indústrias de transformaçãoconsumidoras de insumos minerais produzidoslocalmente. Ao primeiro caso correspondem os APLsespecializados em substâncias minerais, comercia-lizadas como bens primários, in natura ou beneficiados- produtores de areia, rocha para brita, de mineraisindustriais como caulim, feldspato e filito, entre outros.Entre os exemplos de aglomerações verticalizadas, oslevantamentos existentes apontam que entre os maiscomuns estão os mínero-cerâmicos e os de rochaornamental (blocos, chapas e produtos acabados).

Como acontece também em outras modalidadesde APLs, ao núcleo industrial de convergência econô-mica podem ser atraídos outros segmentos da cadeiaprodutiva, como fornecedores de insumos (equipa-mentos, embalagens) e serviços, bem como contar coma presença de organismos externos, como órgãos degoverno, representações empresariais, e instituições decrédito, ensino e inovação. Com graus variados deinteração e com possibilidade de dispor de processoscooperativos, admite-se que esse conjunto de atoresarticulados localmente em torno da cadeia mínero-industrial seja beneficiado por economias externas, quefavorecem a competitividade dos negócios de basemineral centralizados no território. A Figura 1 ilustrade maneira esquemática o conjunto de agentespassíveis de estar presentes nos APLs de base mineral.

Uma peculiaridade dos APLs de base mineral é asua situação locacional inerente à dotação mineral, que,por sua vez, está vinculada à natureza geológica doterritório. Isto faz com que esse tipo de aglomeraçãose implante em locais que disponham de recursosminerais compatíveis à sua especialização produtiva.

No entanto, em função da trajetória evolutiva, adependência do suprimento mineral local pode assumirimportância diferenciada na dinâmica econômica daaglomeração, sendo distinguidos neste trabalho doismodelos básicos – APLs de base mineral de voca-ção mineral e mínero-industriais.

O primeiro refere-se àqueles estruturalmente maissimples, dirigidos essencialmente à produção desubstâncias minerais, cuja economia gira em torno daindústria extrativa. Conseqüentemente, além de fatoresexternos de mercado, têm como fator fundamental aoseu desenvolvimento a disponibilidade de recursosminerais no sítio local. Esses são os APLs, basicamente,de vocação mineral, fornecedores de matérias-primasa outras indústrias (construção civil e indústrias detransformação).

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O segundo tipo diz respeito às aglomeraçõesverticalizadas, com a produção de substâncias minerais(minerações) encadeadas a indústrias de transfor-mação. O eixo central do APL abriga empresas demineração, de beneficiamento ou formulação dematérias-primas minerais (p.ex. serrarias de rochas,centrais de massa cerâmica), e indústrias de produtosacabados (p.ex. marmorarias, cerâmicas). Como nomodelo anterior, o início de sua história, além de outrosfatores locacionais como infraestrutura e proximidadede mercados, está vinculado à disponibilidade derecursos minerais. No entanto, a depender da inten-sidade ou da rota tecnológica de expansão das ativi-dades a jusante da mineração, pode haver umdescolamento das indústrias de transformação do APLem relação ao suprimento mineral local. Isto nãosignifica necessariamente que a indústria mineral doterritório perca força ao longo do tempo, mas, sobre-tudo, que, em decorrência do crescimento das atividadesde transformação, associadas ou não a mudançastecnológicas, o APL passa a ser cada vez mais umconsumidor de matérias-primas minerais de outrasregiões ou mesmo de outros países.

Casos exemplares de progressão evolutiva deAPLs mínero-industriais são os de rocha ornamentalde Carrara (Itália) e Cachoeiro de Itapemirim (ES -

FIGURA 1. Modelo esquemático de APL de base mineral: conjunto de agentes – empresas,instituições privadas e públicas, e estruturas de suporte potencialmente presentes.

Brasil). Ambos foram estabelecidos em território comdisponibilidade de recursos minerais qualificados (osfamosos mármores Carrara, e os mármores brancos egranitos do Espírito Santo). Como caracterizado peloBusiness Growth Initiative (2002) para o caso italiano,e que pode ser estendido ao maior APL brasileiro derochas ornamentais, o crescimento dessas aglome-rações deu-se por um forte deslocamento da centra-lidade econômica do aglomerado para as atividades debeneficiamento, transformando-os em grandes pólosde processamento de rochas (brasileiro no caso deCachoeiro de Itapemirim e internacional no caso deCarrara).

Quanto mais a especialização produtiva forsubordinada ao suprimento de matérias-primas locais,maior será a influência dos fatores locacionais, comodimensão, qualificação e acesso às reservas minerais(especialmente nos aspectos logísticos e ambientais)no desenvolvimento da aglomeração.

Visando embasar o reconhecimento dos poten-ciais APLs de base mineral no Estado é apresentadono item subseqüente uma síntese sobre o perfil damineração paulista, baseada especialmente na aborda-gem detalhada efetuada por Cabral Junior et al. (2008)envolvendo as características geológicas, econômicase tecnológicas do setor mineral no Estado.

Fonte: elaborado pelos autores.

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A MINERAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

O desenvolvimento experimentado pelo Brasil,notadamente a partir da década de 1950, mesmo quearrefecido em períodos de menor dinamismo de suaeconomia, tem imprimido uma demanda sempre cres-cente de recursos minerais. À frente desse processo,o Estado de São Paulo centralizou a mais expressiva ediversificada economia industrial do País, com muitossetores intensivos em insumos de natureza mineral, comconsumo em níveis praticamente equivalentes aosmercados europeus e norte-americanos.

As indústrias paulistas abastecem-se de substân-cias minerais, na forma de bens primários, manufa-turados, semi-manufaturados ou de compostos. Trata-se de um complexo universo de consumo, que compre-ende cerca de 50 segmentos dos mais diversos setoresindustriais, incluindo a construção civil, siderurgia,cimento, cerâmico e indústrias químicas diversas, sendoresponsáveis pela absorção de mais de 70 variedadesde substâncias (Cabral Junior et al., 2008).

A indústria mineral instalada em São Paulocontribui com uma parcela razoável desse expressivovolume de bens minerais consumidos. Como umaatividade que se desenvolveu de forma atrelada aocrescimento urbano e industrial do Estado, a mineraçãopaulista é constituída dominantemente por MPMEs,voltadas predominantemente ao suprimento do mercadointerno estadual.

A despeito de São Paulo não ser conhecido comoum estado minerador, ele se insere entre os grandesprodutores de bens minerais do País, a partir daextração, em território paulista, de mais de duas dezenasde variedades de substâncias minerais, que se destinamao abastecimento da indústria de transformação(setores cerâmico, siderúrgico, cimenteiro, vidreiro, entreoutros), como insumos para a agricultura e, de formarobusta, para a construção civil. Os valores oficiais daprodução foram da ordem de R$ 2,1 bilhões em 2005(Anuário Mineral Brasileiro – AMB, DNPM, 2006), oque correspondeu a 6,6% do total nacional (excluindoos hidrocarbonetos – petróleo e gás natural), situando-se como o 4º maior Estado produtor, abaixo de MinasGerais (44,5%), Pará (21,9%) e Goiás (7,6%). ATabela 1 apresenta a relação das principais substânciasminerais produzidas no Estado, seus valores e volumesminerados em 2005, o contexto geológico e principaissetores industriais de consumo.

Das 21 substâncias minerais produzidas no Estado,os agregados – areia e rocha britada, empregados innatura na construção civil, respondem por 67% dovalor total aqui gerado (R$ 1,4 bilhões) e a 85% (R$125 milhões t) em termos de quantidade. As 6 principaissubstâncias abarcam, em conjunto, 95% do valor totalproduzido, representado pelos três bens minerais de

utilização direta ou indireta na indústria da construçãocivil (areia, rochas para brita e calcário para cimento ecal) e por água mineral, rocha fosfática para fertilizantese areia industrial, destinada principalmente às indústriasde fundição e vidro. Os demais 5% da produçãocompreendem 16 variedades de bens minerais, que sãoconsumidos por uma ampla série de segmentoseconômicos, destacando-se os setores cerâmico, vidrei-ro, agrícola, siderúrgico, de fundição, papel e celulose,e químico.

Levando-se em conta as limitações do sistema decoleta de informações do DNPM e a presença deparcela significativa de lavras informais, depreende-seque as estatísticas oficiais estão acentuadamentesubestimadas, podendo-se inferir que sejam lavradasanualmente no Estado pelo menos 200 milhões detoneladas de substâncias minerais. Participam dessaprodução mais de 3.000 minerações, predominadoamplamente os empreendimentos de pequeno e médioporte, com características distintas quanto aos volumesde extração, qualidade dos produtos, índices de produ-tividade, grau de mecanização, bem como quanto aoatendimento às exigências da legislação mineral e ambi-ental e, conseqüentemente, quanto ao controle ambientaldos empreendimentos (Cabral Junior et al., 2008).

Apesar da mineração em São Paulo, comparati-vamente com outras atividades econômicas, não seruma atividade caracteristicamente geradora de umgrande número de empregos diretos, ela compõe a basede importantes cadeias produtivas, caso do setor deconstrução civil, dos diversos segmentos da indústriacerâmica, das indústrias cimenteira e vidreira, e daagricultura. Segundo os dados computados no AMB(DNPM, 2006), os postos de trabalho vinculadosformalmente à mineração situam-se em torno de 15mil. Isto sem considerar aqueles outros envolvidos nasfases de pesquisa, ou sem contrato de trabalho, emminerações clandestinas, e em lavras pelo regime delicenciamento, que não são contabilizados nas esta-tísticas oficiais.

Com relação à localização dos empreendimentosminerários, a grande maioria dos municípios paulistasconta com alguma produção, legalizada ou não, havendoconcentrações significativas nas regiões Metropolitanade São Paulo, no cinturão Sorocaba-Itu-Campinas, noVale do Paraíba e no Vale do Ribeira e adjacências(Itapeva, Apiaí e Capão Bonito).

Aspecto notável é que a dotação mineral, geral-mente associada a outros fatores como proximidadede mercados, infraestrutura privilegiada e cultura em-presarial, tem conduzido a nucleação da atividade demineração em sítios específicos no Estado, promovendoa formação de aglomerados produtivos.

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TABELA 1. Principais substâncias minerais produzidas no Estado de São Paulo:valores, quantidade, setores de consumo e fontes geológicas - ano base 2005.

Fonte: elaborado a partir de informações de IPT (1982); Cabral Junior & Almeida (1999); Sintoni & Tanno (1997); AMB – DNPM, 2006; Cabral et al. (2008).

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As tendências do mercado, em suas diversasdimensões, sinalizam pela demanda crescente deinsumos minerais, pressionando a ampliação daprodução mineral no Estado. Frente a essa pressãocrescente, as deficiências tecnológicas e de gestão dosetor indicam a necessidade de modernização dosegmento produtivo e de políticas para planejamento eordenamento da atividade, no sentido de garantir o

suprimento em bases sustentáveis e a competitividadedas cadeias produtivas abastecidas pela indústriamineral estadual.

É nesse contexto que ganham importância asaglomerações produtivas de base mineral, cujo fortale-cimento tem condições de contribuir para o aprimo-ramento tecnológico e competitivo do setor mineral noEstado.

CARACTERIZAÇÃO DOS APLs DE BASE MINERALNO ESTADO DE SÃO PAULO

METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

A metodologia de identificação estatística, mapea-mento e caracterização tipológica de APLs aplicadabaseia-se nos procedimentos introduzidos por Suzigane colaboradores (Suzigan et al., 2004; Suzigan, 2006),sendo utilizado o índice de especialização – QuocienteLocacional (QL) -, calculado por classes de atividadeseconômicas selecionadas da Indústria Extrativa Minerale da Indústria de Transformação, e por microrregiõesdo Estado. Esta função é combinada com duasvariáveis de controle – participação do emprego daclasse econômica na microrregião em relação ao totaldo emprego no Estado (P) e número mínimo deestabelecimentos (E).

A base de dados para o estabelecimento das trêsvariáveis é a Relação Anual de Informações Sociaisdo Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS/MTE(ano base de 2004), da qual são extraídas as informa-ções de empregos e estabelecimentos. Comoreferência geográfica de análise foi utilizada a divisãode microrregiões (MRs) adotada pelo Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística - IBGE, abrangendoum universo de 63 unidades no Estado de São Paulo.

A associação dos três determinantes – QL, P e Eé tratada por critérios de valores adequados no sentidode se constatar a existência de microrregiões comdensidade industrial e importância econômica associadaà produção mineral, que permitem caracterizá-las comoportadoras de concentrações industriais que configurempotenciais arranjos produtivos locais de base mineral.

A metodologia avança na complementação dessasinformações processadas por uma nova análiseefetuada a partir de consulta à base de dados doCadastro Mineiro do DNPM - Departamento Nacionalda Produção Mineral/MME (sistema que reúneinformações sobre os processos de direitos mineráriosvigentes no País). Este segundo recurso metodológicopossibilitou uma maior desagregação da atividademineral nas aglomerações selecionadas, permitindo adeterminação da especialização produtiva em termosdo tipo de substância produzida, evoluindo-se na

caracterização da indústria mineral concentradalocalmente.

Entendimento da Aplicação Associada dosDiscriminantes para Identificação de APLs

O Quociente Locacional (QL) expressa aespecialização relativa de uma dada região emdeterminado segmento industrial, comparativamente àparticipação dessa mesma indústria no espaço definido,no caso o território paulista. Trata-se de um indicadorsimples, mas, no entanto capaz de relacionar caracte-rísticas fundamentais para a definição de umaaglomeração: a especificidade de um setor dentro deum dado território (município ou região), o seu pesoem relação à estrutura industrial do território, o signi-ficado do setor para a região de referência (abrangên-cia estadual ou federal), e a dimensão total da estruturaindustrial na região de referência.

O valor elevado do QL para uma determinadaatividade econômica em uma região é indicativo daespecialização produtiva daquela atividade na economialocal. A conjugação das duas variáveis de controle – Pe E permite corrigir eventuais imperfeições associadasà aplicação do índice de especialização na identificaçãode APLs.

Há três situações básicas em que o QL demaneira isolada pode refletir distorções. A primeiraacontece quando o valor elevado do índice de especia-lização se dá em função do baixo desenvolvimentoindustrial da região, sendo que a presença de poucasunidades produtivas pode dar um realce expressivo aoQL e, consequentemente, supervalorizar o território emtermos de concentração produtiva. Como tratamentoa esta distorção do QL é utilizado o discriminante P,medidor da participação da microrregião no empregototal do Estado naquela determinada classe industrial,que afere a sua real importância econômica. Umasegunda situação ocorre quando o elevado QL estárelacionado, particularmente, à presença de uma grandeempresa na localidade, não correspondendo à consti-tuição de uma concentração geográfica de indústrias.

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Para a correção desta falsa indicação, são empregadasinformações sobre o número de estabelecimentos, oque possibilita a avaliação sobre a existência de umnúmero significativo de empresas para constituir umaaglomeração. A inclusão de um filtro seletivo, expressopor um número mínimo de estabelecimentos (E),propicia a exclusão de microrregiões em que aespecialização produtiva, indicada por um QL elevado,é conseqüência da presença de um número restrito deempresas de maior porte. A terceira circunstância naqual a aplicação do índice de especialização apresentalimitações na discriminação das aglomerações produti-vas ocorre em regiões economicamente mais desen-volvidas, com estrutura industrial diversificada e comgrande número de postos de trabalho. Nestes locais, aidentificação de aglomerações também pode sersubsidiada pela associação dos outros dois discrimi-nantes - número mínimo de estabelecimentos (E) e pelaadoção de uma porcentagem mínima da participaçãodo emprego da classe econômica na microrregião emrelação ao total do emprego no Estado (P).

Seleção das Atividades Econômicas paraIdentificação dos APLs de Base Mineral

Quanto às atividades econômicas relacionadas àindústria mineral, foi utilizada a desagregação setorialsegundo classes de atividade econômica (quatro dígitos),definidas na CNAE – Classificação Nacional deAtividades Econômicas do IBGE.

A seleção dos segmentos da indústria extrativa ede transformação mineral levou em conta o conjuntode substâncias minerais produzidas no Estado e osrespectivos setores consumidores, sintetizados naTabela 1.

Foram selecionadas nove atividades econômicas,duas da Indústria Extrativa Mineral, que abarcam asprincipais substâncias minerais produzidas no Estado,e sete da Indústria de Transformação, passíveis depossuir integração vertical com a produção mineral. ATabela 2 relaciona as atividades econômicas selecio-nadas, estabelecendo a correspondência com assubstâncias minerais em produção no Estado e, paraalguns casos da Indústria de Transformação, sãodestacados os segmentos industriais abrangidos dentroda classe da CNAE.

Tipologia dos APLs de Base Mineral

O estabelecimento de uma tipologia para os APLsde base mineral tem como objetivo uma primeiradiferenciação e qualificação das aglomerações, nosentido de subsidiar o entendimento de seu significadoeconômico e de melhor orientar políticas, emconsonância com os padrões particulares da estruturaprodutiva e institucional de cada APL. Para a subdivisão

tipológica dos APLs, adota-se o sistema de classi-ficação definido e aplicado nos trabalhos de Suzigan etal. (2004); Suzigan (2006).

A classificação foi parametrizada em função deduas condicionantes: a importância do aglomerado parao desenvolvimento do seu sítio locacional e relevânciapara o seu setor industrial dentro do Estado. Aexpressão do aglomerado para o território é traduzidapelo índice de especialização – QL, enquanto osignificado para o setor é mensurado pela participaçãodo emprego da atividade na microrregião em relaçãoao total de emprego daquela classe no Estado (P). Acombinação entre essas duas variáveis (QL e P)permite estabelecer quatro tipologias diferenciadas paraos APL: núcleos de desenvolvimento setorial-regional, como aqueles que se destacam duplamente,pela significativa importância para o desenvolvimentolocal ou regional e para o setor econômico no qual assuas atividades estão nucleadas; vetores avançados,que constituem aglomerações que possuem grandeimportância para o setor, mas encontram-se atenuadosem um tecido econômico mais expressivo e diversifi-cado, geralmente inseridos em regiões metropolitanasou em grandes centros industrializados, sendo poucorelevantes para a economia regional ou local; vetoresde desenvolvimento local, ao contrário dos vetoresavançados, são aglomerações que têm uma presençaimportante na região, mas não possuem umacontribuição decisiva para o setor principal a que estãovinculadas; e embriões de arranjo produtivo, corres-pondentes aos APLs em estágios mais incipientes dedesenvolvimento, tendo pouca relevância para o seusetor e para a região de inserção, onde coexistem comoutras atividades econômicas.

Especialização Produtiva dos APLs Identificados

A metodologia de reconhecimento de APLs comaplicação dos três determinantes – QL, P e E -, feitacom dados da RAIS/MTE segundo às sub-atividadeseconômicas de 4 dígitos da CNAE, não permite umaadequada desagregação para a Indústria Mineral. Oscódigos 14.10-9 / Extração de pedra, areia e argila e14.29-0 / Extração de outros minerais não-metálicosabrangem praticamente toda a produção do Estado (verTabela 2). Isto faz com que seja necessária a adoçãode um mecanismo complementar para aprimorar acaracterização das aglomerações reconhecidas, parti-cularmente para os segmentos da Indústria ExtrativaMineral, em termos de especialização sobre tipos debens minerais produzidos.

Dessa forma, subsequentemente ao procedimentode identificação e classificação dos APLs, efetua-seum novo tratamento de informações sobre títulosminerários a partir da base de dados do Sistema Cadas-

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TABELA 2. Relação de atividades econômicas selecionadas e correspondentessubstâncias minerais em produção no Estado de São Paulo.

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tro Mineiro do DNPM, que identifica, localiza e mostraa situação legal dos processos minerários, disponívelpara consulta na respectiva página institucional naInternet (DNPM, 2007).

Esse tratamento de informações dos títulos mine-rários possibilitou a desagregação das duas classeseconômicas (Extração de Pedra, Areia e Argila; Extraçãode Outros minerais não-metálicos) em 9 substânciasminerais.

Procedimentos de Aplicação da Metodologia deReconhecimento e Caracterização Tipológica

Os procedimentos de identificação, mapeamentoe caracterização tipológica de APLs de base mineralno Estado são efetuados em três etapas (Figura 2):• 1ª etapa: envolve o reconhecimento das micror-

regiões com especialização produtiva relacionadadiretamente à Indústria Mineral, por meio daaplicação dos determinantes – QL, P e E, e orefinamento do perfil de produção de cada MRem termos de substâncias minerais lavradas;

• 2ª etapa: para se avançar na caracterização daestrutura produtiva das aglomerações de base

mineral, aplica-se o mesmo processo de iden-tificação e qualificação, adequando-se os critériosdos determinantes, para as atividades da Indústriade Transformação potencialmente correlatas àIndústria Extrativa Mineral; adicionalmente,efetua-se um rastreamento das demais micror-regiões com especialização produtiva diferenciadadestas atividades, mas que não dispõem de umnúmero mínimo de estabelecimentos para cons-tituírem aglomerações (critério único seletivobaseado no QL); e

• 3ª etapa: é feito o cruzamento entre as duas moda-lidades de especialização – Indústria Extrativa ede Transformação Mineral, de modo a agregar nasmicrorregiões com concentração geográfica dasclasses de mineração as atividades correlatas, oque permite delinear o arranjo mais completo daestrutura produtiva das aglomerações de basemineral.

O Quadro 1 apresenta as quatro classes tipo-lógicas estabelecidas e os respectivos critérios ado-tados para seleção das aglomerações por atividadeeconômica.

FIGURA 2. Metodologia de reconhecimento e caracterização dos APLsde base mineral: fluxograma dos principais procedimentos efetuados.

Fonte: elaborado pelos autores.

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QUADRO 1. Critérios adotados para identificaçãoe classificação tipológica dos APLs de base mineral.

Para as três atividades econômicas abrangentesda produção mineral, a única diferenciação de critérioseletivo para captação das aglomerações é o númeromínimo de estabelecimentos das classes na micror-região: para a Extração de Pedra, Areia e Argila éexigido um valor crítico igual ou superior a 10 estabe-lecimentos, enquanto para a Extração de MineraisIndustriais e Águas Minerais emprega-se um critériomenos restritivo, de pelo menos 5 estabelecimentos namicrorregião, em função da menor expressão dessasindústrias. Para a identificação dos arranjos produtivosde menor densidade industrial, atribuídos ao estágioembrionário de desenvolvimento, os determinantes QL

e P são aplicados em duas combinações, o quepossibilita o reconhecimento de aglomerações comrelativo realce local e daquelas com tênue destaque noseu setor industrial, respectivamente expressas porvalores limiares de QL ou P maior do que 1 e menor doque 5 (QL) e 0,05 (5% - P).

O mesmo procedimento é adotado para as seisclasses da Indústria de Transformação associadas àbase mineral, envolvendo a identificação e hierar-quização tipológica das correspondentes aglomerações.O procedimento de captação é similar ao da indústriamineral, feito pela aplicação associada dos trêsdeterminantes (QL, P e E), sendo estabelecido para

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todas as classes o mínimo de pelo menos 10 estabe-lecimentos por microrregião como o número de corte,o que equivale exatamente aos mesmos critériosadotados na Indústria de Pedra, Areia e Argila. Comple-mentarmente, é feita uma nova filtragem com intuitodo rastreamento de outras MRs com número deestabelecimentos abaixo da linha de corte definida comolimiar para a constituição de uma aglomeraçãoprodutiva, isto é, MRs com menos de 10 estabeleci-mentos, mas que possuam uma concentração geográ-fica diferenciada das classes correlatas à atividademineral, comparativamente às suas correspondentesparticipações médias no Estado. Para a identificaçãodas MRs nesta situação é utilizado como único indicadoro QL maior do que 1.

RESULTADOS OBTIDOS: APLS DE BASE MINERAL NO

ESTADO DE SÃO PAULO

APLs de Base Mineral Identificados

Com resultado da aplicação dessa metodologia dereconhecimento de aglomerações, foram identificados30 potencias APLs de base mineral no Estado de SãoPaulo. A Tabela 3 apresenta a relação das microrre-giões selecionadas, com o delineamento da estruturaprodutiva das aglomerações de base mineral, indicadopelas modalidades de concentrações de industriaisextrativas e de transformação mineral associadaslocalmente, incluindo-se as respectivas classificaçõestipológicas e discriminantes quantitativos apurados(número de empregos e de estabelecimentos, índicede especialização – QL e índice de participação – P).

Considerando-se apenas as concentrações dasindústrias extrativas, foi reconhecido um total de 47agrupamentos de minerações, distribuídos nos 30potenciais APLs mapeados.

Desses agrupamentos, dois são distinguidos comonúcleos de desenvolvimento setorial-regional,caracterizando-se como aglomerações que possuemelevada importância para a região e, simultaneamente,para o seu segmento industrial no Estado. Corres-pondem à indústria de águas minerais na região deAmparo e de minerais industriais na região de Itapeva,não por acaso, conhecidos, respectivamente, porepítetos como Circuito Paulista das Águas e Capitaldos Minérios.

Foram reconhecidas 7 aglomerações tipificadascomo vetores de desenvolvimento local: dois dossegmentos de extração de pedra, areia e argila nasMRs de Capão Bonito e Registro; quatro da extraçãode minerais não-metálicos nas MR de Capão Bonito,Amparo, Piedade e Registro; e um de água mineral naMR de São João da Boa Vista . De acordo com atipologia adotada, trata-se de aglomerados que são

muito importantes para as respectivas regiões, noentanto não possuem expressão significativa para orespectivo segmento produtivo no Estado.

Foram também identificadas 8 aglomerações deempresas enquadradas como vetores avançados, quese distinguem pelo elevado peso em relação aosegmento no Estado, porém são pouco expressivas nocontexto da estrutura produtiva da região. Geralmente,estão inseridos em regiões mais desenvolvidas e comestrutura socioeconômica diversificada e integrada,exemplificados pelas concentrações das indústriasminerais na região de São Paulo e microrregiões saté-lites, Guarulhos, Osasco e Mogi das Cruzes, bem comoas regiões de Campinas, São José dos Campos eSorocaba.

Complementarmente, com os filtros atenuados, foipossível selecionar mais 30 aglomerações em faseembrionária, traduzindo concentrações industriais queapresentam pouco realce na estrutura produtiva regionale dentro de seu segmento no Estado, podendo repre-sentar tanto aglomerados emergentes como já em fasede decadência. A Figura 3 permite uma visualizaçãoespacial da distribuição das aglomerações da indústriaextrativa mineral no território paulista, bem como suasdimensões econômicas, tomando-se com referência omontante de empregos.

Observa-se que grande parte das aglomeraçõesocupa as porções centro-leste e sul do Estado. De formageral, os APLs mais proeminentes da porção orientalestão associados a sítios que, além da aptidãogeológica, guardam proximidade com os mercadosconsumidores, relacionados aos principais centrosurbanos do Estado. Já as três aglomerações da regiãosul do Estado (Itapeva, Capão Bonito e Registro), estãoinstaladas dominantemente em face da dotaçãomineral dos terrenos geológicos do Vale do Ribeira earredores.

Especialização Produtiva dos APLs de Base Mineral

Como procedimento complementar, paraaprimorar a caracterização dos 30 APLs identificadoscom respeito à especialização produtiva em termos desubstâncias minerais, foram analisados os dados dostítulos minerários do Sistema Cadastro Mineiro.

O cruzamento das informações possibilitou adesagregação das três classes econômicas (Extraçãode Pedra, Areia e Argila; Extração de Outros mineraisnão-metálicos; e Engarrafamento e Gaseificação deÁguas Minerais) em 10 substâncias minerais: areia(construção civil e fins industriais), argila para finscerâmicos diversos, rocha para brita e ornamental,rochas carbonáticas, caulim, quartzo industrial, filito,feldspato, argilas bentoníticas e água mineral (Tabela4 e Figura 4).

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TABELA 3. APLs potenciais da Indústria Mineral no Estado de São Pauloe principais atividades econômicas agregadas.

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FIGURA 3. Mapa dos potenciais APLs da Indústria Mineral do Estado de São Paulo.

Sobressai a produção de areia e argila, respecti-vamente, com 22 (73%) e 14 (47%) das aglomeraçõesmapeadas com indicação de lavras destas substânciasminerais, seguida de rocha para brita (8 MRs - 27%),que mais raramente pode incluir fins ornamentais, erochas carbonáticas (6 MRs - 20%), além de águamineral (15 MRs - 50%). De maneira mais restrita, háindicações também de microrregiões com produçãoespecializada em outros importantes minerais industriais,como caulim (3 MRs - 10%), quartzo (2 MRs - 7%),além de filito, feldspato e bentonita/argilas descorantes(todos com especialização em uma MR). Apenas aMR de Guaratinguetá não apresenta uma espe-cialização produtiva mais saliente.

Estrutura Produtiva dos APLs de Base Mineral

Como já abordado nos itens introdutórios, um dosimportantes diferenciais dos APLs é a sua potencia-lidade em atrair atividades correlatas, como forne-cedores de insumos, máquinas e equipamentos eserviços. O adensamento da cadeia produtiva, a partirda articulação territorial de atividades correlatas,constitui uma das fontes mais significativas deeconomias externas nos arranjos produtivos locais(Suzigan, 2006).

Nos casos dos APLs de base mineral identificadosno Estado, uma característica relevante é o comumencadeamento das atividades econômicas de trans-formação mineral com os segmentos da indústriamineral (ver Tabela 3 e Figura 5).

Desse conjunto de aglomerações, 29 apresentamatividades econômicas agregadas à mineração(exceção é a MR de Piedade), evidenciando o comumadensamento, mais ou menos importante dependendoda região, das cadeias produtivas de base mineral noEstado. Isto se verifica com relação aos APLs especia-lizados na produção de agregados (areia e brita paraconstrução civil), que contam com encadeamentos,sobretudo, com aglomerações de empresas de arte-fatos de concreto, nos APLs com minerações decalcário que suprem concentrações produtivas de cal,nos APLs mínero-cerâmicos, onde a produção de argilasustenta, particularmente, os expressivos aglomeradospaulistas de cerâmica estrutural e de revestimentos,além da indústria de águas minerais na qual a produçãoe envase se dão de maneira integrada.

Além das regiões de São Paulo e Campinas que,como centros populacionais e da dinâmica econômicado Estado, tendem a polarizar a concentração das ativi-dades de base mineral, destacam-se outros APLs

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TABELA 4. Especialização produtiva dos potenciais APLs da Indústria Mineral no Estado de São Paulo.

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FIGURA 4. Distribuição da especialização produtiva dos APLs da Indústria Mineral no Estado de São Paulo.

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FIGURA 5. APLs de base mineral e atividades econômicas agregadas.

interioranos com elevada densidade de aglomeraçõesinter-relacionadas – São João da Boa Vista, Mogi dasCruzes, Sorocaba, Rio Claro, Piracicaba e Mogi Mirim.Cada um deles agrupa 6 atividades econômicas comple-mentares, sendo que os quatro primeiros contam comconcentrações industriais com importância regional e/ou setorial. Na seqüência, os APLs de Itapeva, Limeira,Jundiaí e Bragança Paulista abrigam cinco atividades,sendo que os três primeiros também incluem núcleosindustriais com importância regional e/ou setorial. OutroAPL que ganha realce é o de Registro, onde a indústriamineral está articulada em três aglomerados comgrande valor na economia da região, traduzida por trêsvetores de desenvolvimento local.

ANÁLISE DOS RESULTADOS: CARACTERÍSTICAS GERAIS

E IMPORTÂNCIA DOS APLS DE BASE MINERAL

IDENTIFICADOS

Uma análise comparativa por meio de indicadoresnúmero de empregos e estabelecimentos evidencia osignificativo peso das aglomerações de base mineral,

perfazendo em torno de 75% no cômputo de todaindústria extrativa no Estado (Tabela 5).

Esta constatação demonstra a relevância que ofortalecimento das aglomerações de base mineral podeexercer no desenvolvimento da indústria mineralpaulista. A importância setorial das aglomerações étambém salientada pela classificação tipológica. Empelo menos 8 microrregiões (núcleos de desenvol-vimento regional-setorial e vetores avançados) asconcentrações das atividades extrativas possuempresença pronunciada na indústria mineral do Estado(MRs de Amparo, Itapeva, São Paulo, Mogi das Cruzes,São José dos Campos, Campinas, Guarulhos e Osasco).Isto é amplificado quando se verifica que em 10microrregiões as atividades de transformação a jusantetêm importância para as suas indústrias no Estado (MRsde São João da Boa Vista, São Paulo, Mogi das Cruzes,Campinas, Sorocaba, Limeira, Rio Claro, Jundiaí, Tatuíe Pirassununga), o que reforça o impacto que a quali-dade do suprimento mineral pode exercer na competiti-vidade dessas cadeias produtivas em São Paulo. Ainda

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TABELA 5. Comparativo entre a Indústria Mineral Paulista e os APLsidentificados pelos indicadores número de empregos e estabelecimentos.

quanto à dimensão do encadeamento entre as atividadesextrativas e de transformação mineral, dados elucida-tivos correspondem à relação de empregos e estabele-cimentos. Para o conjunto dos APLs parte-se depatamares de cerca 10.300 e 800 nas atividadesextrativas, envolvendo a jusante ao redor de 48.300empregos e 2.900 empreendimentos das indústrias detransformação mineral, o que perfaz um total quesupera, respectivamente, 58.600 empregos e 3.650empreendimentos para toda a cadeia produtiva de basemineral no APLs mapeados no Estado (ver Tabela 5).

O fato de vários dos APLs destacarem-se tambémnas economias de seus sítios de inserção, o que éindicado, sobretudo, nas aglomerações com atividadesdas industriais extrativas e de transformação mineralcaracterizadas como núcleos de desenvolvimentoregional-setorial e vetores de desenvolvimento local(ver Tabela 3), faz com que nessas situações a promo-ção das aglomerações possa ter também repercussãono desenvolvimento local. São identificadas 12 micror-regiões nas quais os segmentos minerais e indústriasrelacionadas (associadas ou não) assumem relevânciaem suas economias, o que equivale em torno de 20%das MRs de todo o território paulista (MRs de Amparo,Itapeva, Capão Bonito, Registro, São João da Boa Vista,Piedade, Mogi das Cruzes, Limeira, Rio Claro, Jundiaí,Tatuí e Pirassununga).

Outro aspecto a ser observado é a expressão donúmero de aglomerações da Indústria Mineral. AExtração de Pedra, Areia e Argila é destacadamentea atividade com o maior número de concentraçõesindustriais, constituindo aglomerações em 27 microrre-giões, sendo seguida de longe pela Extração de MineraisNão-Metálicos (15) e pela Indústria de Água Mineral(5). Como já visto, em primeiro lugar, isto reflete aelevada agregação dessa primeira classe, que noEstado abarca 10 diferentes segmentos produtivos. Noentanto, um outro componente que corrobora para onumeroso conjunto de aglomerações diz respeito ànatureza das algumas substâncias englobadas nessaclasse econômica: constituem bens minerais deocorrência geológica comum e de baixo valor unitário.Como pode ser observado pela especialização produtivados potenciais APLs de base mineral (ver Tabela 4),os casos mais expressivos estão relacionados àsminerações de areia para construção civil e argilas parafins cerâmicos, sendo que a relativa facilidade nalocalização de jazidas e o baixo valor dessas substânciasinduzem a concentração da produção dessas substân-cias próximo aos centros urbanos e industriais de maiordemanda mineral.

Analisando-se a especialização produtiva emtermos de substâncias minerais produzidas e as associa-ções locais de indústrias de transformação, como

Fonte: elaborado com base nos dados da RAIS, 2004 (MTE, 2006).

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indicado nas Tabelas 3 e 4, e as características do mer-cado mineral paulista, é possível qualificar alguns APLsestruturalmente mais simples, cuja economia está cen-tralizada na indústria extrativa mineral, caracterizando-se como os denominados APLs de vocação mineral.Casos típicos são as aglomerações de São José dosCampos e Registro que, que apesar de contarem comconcentrações de indústrias de artefatos de concretoe cimento, são principalmente grandes produtores deareias para construção de civil para outras regiões doEstado. Aglomerações mais verticalizadas, onde aprodução de substâncias minerais está voltadabasicamente ao suprimento das indústrias locais,constituindo APLs mínero-industriais, têm, entre osexemplos mais desenvolvidos, os especializados emprodutos de cerâmica vermelha e revestimentos(exemplos das MRs de Limeira e Rio Claro).

Avaliando-se, no contexto do mercado mineralpaulista, o conjunto de APLs de base mineral diagnos-ticados, uma apreciação preliminar por modalidade deespecialização produtiva pode ser assinalada:

a) As aglomerações com concentrações de empresasde mineração de areia e de produtos associadospara construção civil são as mais numerosas edisseminadas no Estado, concentrando parcelaconsiderável das MPEs de base mineral, sendocomum problemas de defasagem tecnológica e degestão empresarial.

b) O segmento produtivo de brita é um dos maisorganizados, homogêneos e atualizados tecnologi-camente, constituindo aglomerações de pequenas,médias, e, por vezes, grandes empresas. Nosúltimos anos, vem apresentando uma tendência deconcentração no mercado e expansão de grandesempresas verticalizadas do setor de construçãocivil, que integram grandes pedreiras.

c) As aglomerações de rochas carbonáticas têmassociação preferencial com as indústrias de cal ecimento, tendo-se também concentrações indus-triais voltadas à produção de calcário para insumoagrícola (Rio Claro e Piracicaba). O setor cimen-teiro é concentrado, com empresas verticalizadas,operando com minas cativas. Nos demais merca-dos predominam PMEs, com necessidades deaprimoramento tecnológico e com possibilidadesde ampliação e diversificação de mercado.

d) Pelo dinamismo vivenciado pelo mercado brasileirona última década, os APLs de águas minerais têmperspectivas favoráveis de expansão, atração denovos empreendimentos associados à cadeia pro-dutiva e de negócios correlatos (hotelaria, ecoturis-mo, entre outros), bem como do ingresso maisvigoroso no mercado externo.

e) Nos APLs com especialização produtiva de mine-rais industriais, apesar de não ser possível distinguirencadeamentos evidentes com outras indústrias,pelas características mais especiais de suas jazidas(p.ex. talco, filito, feldspato, bentonita), o aporteintegrado de tecnologia de caracterização deminério, lavra e beneficiamento pode gerar vanta-gens comparativas a esses territórios facultando-lhes a atração de novos investimentos, comampliação da produção, por vezes de maneiraconsorciada, e verticalização (p.ex. empreen-dimentos tipo centrais de matérias-primas e massascerâmicas).

f) Os APLs mínero-cerâmicos são os mais exube-rantes do Estado, com cerca de uma dezena deaglomerações com expressão setorial e (ou)importância nas economias locais, onde sobressaia interdependência entre a mineração de argila eas grandes concentrações de cerâmicas estruturaise de revestimentos. A distribuição das aglomera-ções de cerâmica estrutural e de revestimentosguarda íntima relação com os terrenos geológicosportadores das principais jazidas de argila. Emprimeiro plano, distingue-se uma seqüência deAPLs que acompanha a Depressão PeriféricaPaulista, associando-se às minerações queexploram a extensa faixa de afloramentos derochas pelíticas permocarboníferas da Bacia doParaná. Constituem uma faixa que se estende dosul do Estado (MR de Itapeva) até a porçãonordeste (MR de São João da Boa Vista), prati-camente contínua, e com regiões em que aaproximação das concentrações industriais chegaa formar uma amalgamento de aglomerações.Levantamentos sobre produção e consumo deargilas para fins cerâmicos em outros países(USGS, 2010), analisados comparativamente comos dados do Estado de São Paulo obtidos nestetrabalho, sugerem que este conjunto seqüencialde aglomerações reúne a mais expressiva concen-tração de empresas de cerâmica vermelha erevestimento das Américas, configurando o quepode ser designado de Cinturão Mínero-Cerâmico Paulista. A delimitação mais precisadas fronteiras destes APLs só pode ser efetuadapor meio de pesquisa de campo, na qual além dalocalização geográfica da estrutura produtiva,deve-se juntar outros laços de articulação, comorelações cooperativas, bases institucionais e degovernança. Os outros APLs mínero-cerâmicosdo Estado distribuem-se de maneira isolada, comas principais aglomerações situando-se no OestePaulista, associadas às faixas lindeiras dos prin-cipais rios (Paraná, Tietê e Paranapanema), de ondeprovém o suprimento mineral.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscou-se avançar na caracte-rização da estrutura produtiva do setor mineral paulista,constatando a proeminente concentração geográficadessa indústria no Estado, polarizada em 30aglomerações produtivas.

Deve-se levar em conta que, apesar da consis-tência dos resultados alcançados no reconhecimentosistemático dos potenciais APLs de base mineral, essainiciativa constitui um passo inicial para selecionar asaglomerações mais significativas no Estado, bem comopara subsidiar a formulação de políticas de promoçãodas aglomerações do setor mineral. Como ressalva,salienta-se a limitação da metodologia aplicada naidentificação dos APLs de base mineral, que se baseiano tratamento de dados de empresas formalizadas daRAIS (MTE) e do Cadastro Mineiro (DNPM-MME).Isso faz com que tanto os APLs reconhecidos possamter sua dimensão econômica subestimada, comotambém não serem identificadas aglomeraçõesconstituídas em grande parte por empresas informais,circunscrevendo o resultado do processo de mapea-mento aos núcleos formalizados das principaisaglomerações de base mineral do Estado.

Um desdobramento deste trabalho deve necessa-riamente abranger estudos de caso com levantamentosem campo para se delinear com dados diretos ascaracterísticas específicas da estrutura produtiva e demercado das aglomerações. Somente comconhecimentos sobre a história, evolução, organizaçãoindustrial e sobre os catalisadores de externalidadespositivas, tais como maturidade da governança,intensidade das articulações empresariais e presençade instituições de apoio, poderão ser definidas políticaspúblicas e diretrizes de ações empresariais ajustadasàs condições locais dos APLs e mais promissoras paraequacionar problemas particulares e estimular o seudesenvolvimento em bases sustentáveis.

De modo geral, essas medidas devem buscar,entre outros diferenciais competitivos, aliar o aprimora-mento tecnológico e o incremento das capacitações

empresariais à intensificação da confiança mútua entreos agentes, com o desenvolvimento de práticascooperativas, e o fortalecimento das instituições e dagovernança local das aglomerações.

Tendo em vista a dependência do desenvolvimentodos APLs de base mineral, em maior ou menor grau,da disponibilidade de recursos minerais no território,outros fatores que assumem importante papel na suacompetitividade dizem respeito aos condicionantesambientais e a outras aptidões de uso e ocupação dosolo. Atuando na apropriação e disponibilização de umrecurso natural, a mineração constitui uma atividadepotencialmente modificadora do meio ambiente,podendo propiciar uma série de impactos ambientaisindesejáveis. Além disto, por se desenvolver emespaços geográficos geralmente exclusivos e dedimensões consideráveis, a mineração compete comoutras formas de uso e ocupação do solo, tais como aagricultura, pecuária, turismo, assentamentos urbanose a própria preservação e conservação ambientais. Emsituações de empresas aglomeradas, os impactosambientais se tornam cumulativos e a competição peloespaço geográfico tende a ser acirrada, o que pode,inclusive, resultar em conflitos entre a mineração eoutras atividades ou formas de ocupação.

Desse modo, a sustentabilidade dos APLs de basemineral, por meio da garantia do suprimento qualificadode insumos minerais, tem como componente importantea atuação técnica e socialmente responsável do setorprodutivo, o que deve abranger o aproveitamento otimi-zado dos recursos, a minimização de impactosambientais, a reabilitação das áreas mineradas e oestabelecimento de uma relação harmoniosa com ascomunidades e atividades econômicas dos entornos.Adicionalmente, o poder público assume tambémfunção fundamental, no sentido de promover oordenamento territorial do APL, regulando e conciliandoa mineração com as demais vocações econômicas e apreservação da qualidade ambiental do território (muni-cípio ou arranjos municipais).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, e aos pesquisadores AyrtonSintoni, pela minuciosa revisão crítica do texto, e Isabel Cristina C. Fiammetti, pela colaboração na elaboração das ilustrações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICES

(1) O cálculo do QL no Estado é definido pela seguinte expressão:

São Paulo, UNESP, Geociências, v. 29, n. 1, p. 81-104, 2010 104

Valores de QL superior a 1 significam que a participação relativa do setor i no território A é mais elevada doque a participação relativa deste mesmo setor na média da região de referência (estado). Nesta situação,considera-se que o território analisado apresenta certo grau de especialização produtiva no setor em questão,sendo que quanto maior for o QL, maior será o grau de especialização deste setor no território em comparaçãoao restante da região. A situação inversa, isto é, valores de QL inferior 1 (ou igual), significam que não háindicação de especialização do setor analisado no território em questão.

(2) O roteiro e critérios seguidos para a análise sistemática das informações sobre títulos minerários podemser sumarizados nos procedimentos seguintes:

• Busca refinada por municípios e consolidada por MR do IBGE (consultas efetuadas nos meses de Novembro,Dezembro/2006 e Janeiro/2007).

• Filtros de seleção – diplomas legais indicativos que a empresa esteve apta a operar, pelos menos em parteno período entre 2000 e 2006:

• Seleção de processos com Concessão de Lavra e Registro de Licenciamento: verificação dos DadosEssenciais para identificação da substância/s titulada e Histórico do Processo para constatação de ter pelomenos um Relatório Anual de Lavra (RAL) ou cobrança de CFEM pelo DNPM entre 2000-2006; e

• Considerado apenas uma empresa por MR.

Manuscrito Recebido em: 19 de janeiro de 2010Revisado e Aceito em: 15 de fevereiro de 2010