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1 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DAS VERTENTES DE ÁREAS DE RISCO A VOÇOROCAMENTO DO SETOR NORTE DO NOVA VITÓRIA (MANAUS/AM) Anne Carolina Marinho Dirane 1 Tairo Pinto de Freitas 1 Vanessa Gomes Vianna¹ RESUMO A pesquisa realizada buscou caracterizar as vertentes das áreas que se encontram em risco ambiental no bairro Distrito Industrial II. Os aspectos identificados para subsidiar este trabalho foram: a) encosta (comprimento, declividade e forma); b) voçorocas (área de contribuição, tipo, forma e dimensões); e, c) a distância entre as incisões e as residências; d) declividade e forma das vertentes, assim como a orientação das voçorocas foram obtidas através da bússola nos segmentos (médio, inferior e superior) da vertente e/ou da voçoroca. As voçorocas foram classificadas baseando-se nos modelos de tipo e forma, enquanto que, a área de contribuição e as dimensões foram identificadas através da trena. Palavras chave: Vertentes. Voçorocamento. Área de risco. Distrito Industrial II 1 Especialização em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental na Faculdade Metropolitana de Manaus - FAMETRO

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CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DAS VERTENTES DE ÁREAS DE RISCO A VOÇOROCAMENTO DO SETOR NORTE DO NOVA VITÓRIA

(MANAUS/AM)

Anne Carolina Marinho Dirane1

Tairo Pinto de Freitas1

Vanessa Gomes Vianna¹

RESUMO

A pesquisa realizada buscou caracterizar as vertentes das áreas que se

encontram em risco ambiental no bairro Distrito Industrial II. Os aspectos

identificados para subsidiar este trabalho foram: a) encosta (comprimento,

declividade e forma); b) voçorocas (área de contribuição, tipo, forma e

dimensões); e, c) a distância entre as incisões e as residências; d) declividade

e forma das vertentes, assim como a orientação das voçorocas foram obtidas

através da bússola nos segmentos (médio, inferior e superior) da vertente e/ou

da voçoroca. As voçorocas foram classificadas baseando-se nos modelos de

tipo e forma, enquanto que, a área de contribuição e as dimensões foram

identificadas através da trena.

Palavras chave: Vertentes. Voçorocamento. Área de risco. Distrito Industrial II

INTRODUÇÃO

A caracterização de vertentes tem como pressuposto básico que esta

alude a um sistema hidrodinâmico ajustado a um conjunto de parâmetros nos

quais os materiais superficiais inconsolidados são sustentados por forças

coesivas e de fricção, respectivamente de natureza química e física. Nessa

perspectiva, a compreensão dos processos atuantes nas vertentes, como a

erosão dos solos e os movimentos de massa, constitui elemento fundamental

para o estudo da evolução dessas formas de relevo.

1 Especialização em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental na Faculdade Metropolitana de Manaus - FAMETRO

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A erosão dos solos embora seja um dos fenômenos naturais mais

estudados, ainda é pouco compreendida, principalmente no que se refere a sua

previsão, tanto no espaço quanto no tempo. Tal dificuldade resulta, dentre

outras razões, das complexas interações entre os diversos fatores

condicionantes, os vários mecanismos de ruptura dos solos, as características

de transporte, além da intervenção humana, cada vez mais freqüente. Sabe-se

também que as diferentes feições erosivas observadas na natureza encontram-

se associadas a processos bem específicos, fato este que dificulta ainda mais

geomorfológicos, pode-se dizer que a erosão é o processo que envolve o

destacamento e o transporte de solos e fragmentos de rochas, tanto no

domínio das encostas como no fluvial. A erosão ocorre sempre que a força de

cisalhamento excede a força de resistência, resultante de propriedades

mecânicas intrínsecas aos materiais. Ao passo que os movimentos de massa

(landslides ou mass movement) correspondem ao deslocamento de terra ou

rocha pela ação da gravidade.

A característica principal de tais processos é o destaque simultâneo de

certa massa bem definida de solo ao longo de uma superfície de ruptura, em

que o material removido (solo, rocha, lixo, etc.) projeta-se encosta abaixo

acionado pela água e deslocada pela força gravitacional sendo diretamente

condicionado por sua fluidez e pela forma da encosta, podendo depositar-se na

área de convergência de fluxos (anfiteatro) e/ou alinhando-se ao longo de

terracetes marginais. Além da quebra natural do equilíbrio dinâmico entre os

elementos da paisagem, o uso irregular do solo (via ocupações em áreas com

inclinação superior a 45°) é fator importante para o surgimento, tanto de feições

erosivas, quanto de cicatrizes de movimentos de massa. Em decorrência disso,

inúmeros problemas socioeconômicos e ambientais eclodem, principalmente

nas áreas urbanas, haja vista o adensamento habitacional acentuado em áreas

susceptíveis a tais processos geodinâmicos (erosão e movimentos de massa).

Dessa maneira, os primeiros atingidos pela instabilidade dos materiais nas

encostas são os próprios residentes, propiciando que tais espaços sejam

caracterizados como áreas de risco.

A cidade de Manaus caracteriza-se por unidades de relevo marcadas

por vales e interflúvios tabulares entrecortados por canais hidrográficos

(igarapés), cujas encostas, regionalmente chamadas de barrancos, são

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densamente ocupadas pela população, aumentando, portanto, a

suscetibilidade a processos geodinâmicos, e conseqüentemente propiciando a

formação de áreas de risco.

O objetivo geral deste trabalho é caracterizar as vertentes das áreas de

risco e diagnosticar o perfil social dos moradores do setor norte do bairro

Distrito Industrial II – Manaus (AM), e os objetivos específicos são os seguintes:

a) identificar as formas das vertentes (morfologia e morfometria) e das feições

erosiva e/ou tipo de movimento de massa; b) destacar as características da

vertente: vegetação, grau de encrostamento do solo (em superfície) e

inclinação superficial; c) mensurar os parâmetros dimensionais (comprimento,

largura e profundidade) das feições erosivas e sua respectiva distância para as

habitações; d) identificar a capacidade de infiltração da água; e) identificar a

origem dos moradores, as causas que motivaram a migração para o bairro, e a

percepção destes quanto aos riscos ambientais existentes no local.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Processo Erosivo

A erosão é uma ação natural que ocorre desde os primórdios e com

maior destaque na época atual, e que há muito tempo vem sendo estudada,

porém ainda não se chegou à sua total compreensão.

O início do processo ocorre quando as partículas do solo são

desprendidas e transportadas pelo fluxo de água e depositadas em outra parte

do terreno. Segundo Guerra (2006) essa ação se dá de duas maneiras: a

primeira na remoção de partículas; e, a segunda no transporte desse material.

O desenvolvimento contínuo básico da ação de erodir é de fundamental

importância para a compreensão da forma de ocorrência de erosões e as

possíveis conseqüências dessas ações.

A dinâmica erosiva é controlada por fatores de erodibilidade,

que são as propriedades físico-químicas dos solos e a segunda

é a erosividade, que pode ser entendida pela característica das

chuvas (GUERRA, 1994 p 39).

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Os processos erosivos que atuam no solo agem de duas formas, a

primeira é referente ao fluxo de água que atinge o solo na superfície e que

pode ser concentrado ou difuso, desagregando as partículas para facilitar o

transporte e a segunda ocorre na subsuperfície através de dutos e macroporos.

A erosão efetua-se através de vários mecanismos, dentre os quais se

destacam: deslocamento de partículas pelo impacto das gotas de chuva;

transporte de partículas de solo por escoamento superficial difuso e por fluxos

concentrados; e, por movimentos de massa localizados. A atuação dos

mecanismos de erosão resulta em diversas feições erosivas como os pedestais

(demoiselles) que apontam a ocorrência do salpicamento e a remoção de

agregados menores pela ação do escoamento superficial laminar. As feições

erosivas de retrabalhamento são indiretamente critérios para compreender o

processo e os fatores envolvidos no surgimento, organização e evolução

destas feições (GUERRA et al., 2005).

Durante as chuvas grande parte da água atinge diretamente o solo,

principalmente os desprovidos de cobertura vegetal. Os efeitos das gotas de

chuva variam de acordo com diferentes fatores, como a intensidade que

dependendo da energia cinética das gotas pode atuar com maior ou menor

facilidade na ruptura dos agregados; e a duração do evento chuvoso que é o

tempo da precipitação e o volume total.

1.2 Sulcos, ravinas e voçorocas

A erosão dos solos tem causas relacionadas à própria natureza, como a

quantidade e distribuição das chuvas, a declividade, o comprimento, a forma

das encostas, o tipo de cobertura vegetal e também a ação do homem, como o

uso e o manejo da terra que na maioria das vezes, tende a acelerar os

processos erosivos (GUERRA e MENDONÇA, 2004).

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Figura 1: Sulco, ravina e voçoroca

Pode-se observar em áreas de solo exposto feições erosivas em sulcos

e ravinas (figura 01) traços acentuados de sua ação. Durante o período de

chuva, o escoamento se concentra em pequenos filetes, que são

hierarquizados, passando a alimentar uma calha principal mais desenvolvida,

os sulcos. Os sulcos são considerados instáveis, podendo ser eliminados

facilmente com a preparação do solo, contudo se for ignorado, pode-se

aprofundar originado uma ravina (FARIA, 1996).

As ravinas são canais incisos em forma de “V” que resultam do

desequilíbrio natural ou da ação antrópica cuja formação não se difere dos

sulcos, ocorrem quando a velocidade do fluxo de água aumenta na encosta e

se torna concentrado. O ravinameto geralmente tem início a partir de um ponto

na encosta, relacionado à extensão da vertente ao topo do solo (HORTON,

1945 apud FARIA, 1996), uma vez que a capacidade do solo armazenar água

excede, ocorre o escoamento. A maior parte do sistema de ravinas é

descontinua, isto é, não tem nenhuma conexão com a rede de drenagem fluvial

(MORGAN, 1986 apud GUERRA, 1994).

A retirada de vegetação deixa o solo mais suscetível aos processos

erosivos, além disso, o uso do solo para fins agrícolas tende a antecipar as

mudanças no teor de matéria orgânica acelerando o processo de formação de

ravina. É importante ter o conhecimento do processo de formação das incisões

e sua capacidade de transportar sedimentos, objetivando a redução dos

impactos causados pelo processo erosivo.

As voçorocas são incisões erosivas profundas no terreno, com paredes

laterais íngremes e fundo chato no formato tipo “U”, podendo ocorrer ou não

fluxo de água no seu interior, podem ter dezenas de metros e largura. As

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voçorocas podem ser naturais ou resultado da ação humana principalmente

nas áreas urbanas.

No caso das voçorocas de origem antrópica, Bigarella e Mazuchswski

(1985), apontam os seguintes condicionantes; a) ravinamento de áreas rurais

podem ter evolução catastrófica, do ponto de vista da perda do solo e danos

materiais; b) nos movimentos de massa freqüentes ao longo dos cortes nas

rodovias, onde ocorreu a desestabilização das encostas e como conseqüência

os deslizamentos de terra; c) dos fluxos hidrológicos subsuperficiais como os

dutos de drenagem tubulares no interior dos solos, que quando estão próximos

a superfície acarretam o desabamento do teto, causando o afundamento da

superfície do solo.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 Natureza da pesquisa

A metodologia empregada neste trabalho foi constituída por diversas

técnicas desenvolvidas em três etapas, tendo como finalidade central o alcance

dos objetivos desta pesquisa. A natureza da pesquisa é qualitativa, pois analisa

as incisões cadastradas em campo.

2.2 Objetivos

O objetivo da pesquisa é de cunho exploratório, pois investiga as causas

e conseqüências do surgimento das incisões.

2.3 Procedimentos

Os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos em três etapas:

1) revisão bibliográfica; 2) trabalhos de campo; e, 3) análise dos dados

coletados em campo.

A primeira etapa constituiu-se da revisão bibliográfica e teve como

objetivo fornecer fundamentação teórica sobre o tema em discussão,

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objetivando a compreensão das características ambientais das vertentes de

áreas de risco e suas implicações sociais, além de fornecer subsídios para

análise dos dados coletados em campo.

Os trabalhos de campo foram realizados entre os anos de 2009 e 2010,

tendo como objetivo principal a consecução dos objetivos específicos da

pesquisa.

Os parâmetros identificados/mensurados foram: a) o sentido de

crescimento das incisões por meio da mensuração das dimensões como o

comprimento, a largura e a profundidade das incisões erosivas e das áreas de

contribuição e as distâncias entre as casas e as voçorocas; b) tipos e formas

das feições erosivas; c) feições de retrabalhamento e movimentos de massa; d)

tipos de moradia; e) presença de tubulação de esgoto doméstico e vegetação

nas voçorocas; f) depósitos tecnogênicos.

Quanto ao tipo de voçoroca foi utilizado o sistema classificatório

elaborado por Oliveira e Meis (1985), que descreve três tipos: a) conectadas –

associada ao escoamento hipodérmico e/ou subterrâneo nas partes baixas da

encosta, podendo ser considerada um canal de primeira ordem; b)

desconectadas – encontram-se na parte superior da encosta, estaria ligada ao

escoamento superficial e não poderia ainda ser considerado um canal de

primeira ordem em virtude de não estarem ligadas à rede de drenagem; c)

integradas - junção das duas formas anteriores (voçorocas conectadas e

voçorocas desconectadas), formando uma só incisão erosiva.

No que tange as formas das incisões, empregou-se a proposta organizada

por Bigarella e Mazuchowski (1985) que descrevem seis formas: linear,

bulbiforme, dendrítica, entreliça, paralela, composta, e uma sétima, a

retangular, acrescida por Vieira (1998).

2.4. Área de estudo

A área de estudo apresenta uma ocupação que decorre tanto do déficit

habitacional, quanto pela ausência de planejamento e fiscalização do Poder

Público que permite que a população se instale em áreas de risco. A ocupação

de tais áreas facilita a deflagração de enchentes e de processos erosivos

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devido a retirada da vegetação, e evidentemente quem sofre a resposta da

natureza são os habitantes desses locais.

O bairro do Distrito Industrial II localizado na zona leste apresenta

quantidade expressiva de áreas com processos erosivos e movimentos de

massa (MOLINARI e VIEIRA, 2004), condição que levou a escolha deste para

o presente estudo. Diante do exposto, torna-se relevante identificar as

características das vertentes, como forma de levantar dados e/ou subsídios

para que, em outro momento, se possam estabelecer bases técnicas

fidedignas para a prevenção ao risco a processos erosivos e movimentos de

massa nas vertentes da cidade de Manaus.

Figura 2: Área de estudo.

2.5 Instrumentos

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram uma trena de 5m, bússola

de brutton, e GPS Garmin.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Identificaçao das incisões

Este capítulo tem por objetivo descrever as mensurações de três

voçorocas que geram risco ambiental (tabela 1). Desta forma serão

identificados: a) o tipo e a forma das incisões; b) declividade e orientação das

voçorocas; c) dimensões: comprimento, largura e profundidade (incisões e área

de contribuição); d) respectivas distâncias das moradias às voçorocas; e) teste

de infiltração; e, f) feições de retrabalhamento erosivo.

No bairro Distrito Industrial II foram identificados 19 voçorocas, das

quais 7 apresentam risco (gráfico 01), no entanto, fizeram parte da pesquisa

somente 3 incisões que estão localizadas no setor norte. Para o planejamento

urbano, o conhecimento da dinâmica das vertentes contribui, para racionalizar

o uso adequado e evitar deslizamentos de encostas, entre outros eventos

catastróficos, muito comuns em cidades com expansão urbana acelerada

(CASSETTI, 1983).

De acordo com GUERRA (1997) as vertentes são planos de declives

variados que divergem das cristas ou interflúvios enquadrando o vale. Também

podemos afirmar que uma vertente é simplesmente um pedaço da superfície

terrestre inclinado em relação à horizontal, obtendo um gradiente, um vetor

orientado no espaço. Popularmente é conhecida como “barranco” e suas

extensões adjacentes, onde podem ser visualizadas as ações do intemperismo,

transporte e deposição de matérias, erosões naturais e antrópicas.

Guerra afirma,

Para se adotar práticas de conservação do solo é preciso

conhecer bem o processo erosivo como um todo sendo preciso

entender a erosão desde seus primeiros estágios, ou seja, a

partir do momento em que as gotas da chuva começam a bater

no solo provocando a ruptura dos agregados, pela ação do

splash ate causar a selagem do solo, dificultando assim a

infiltração, promovendo o escoamento difuso a que se

concentra formando as voçorocas (1999 p. 34).

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A tabela (1) destacar-se-á somente as voçorocas que contribuem para

as áreas das 3 incisões, destacando as que apresentarem maior e menor valor

representativo da amostra, assim como comparação de forma sistemática, via

média aritmética, dos dados coletados. Desta forma foram identificados: a) o

tipo e a forma das incisões; b) dimensões: largura, profundidade e comprimento

(incisões e área de contribuição); c) respectivas distâncias das moradias às

voçorocas; d) declividade e orientação das voçorocas.

A forma predominante é a retangular, na qual apresentam todas as

voçorocas. Isto denota que, a maioria das incisões apresenta alto grau de

evolução. Quanto ao tipo de incisão foi identificado que todas são conectadas,

que se encontram interligadas com canal fluvial adjacente (rede de drenagem

atual).

A evolução da voçoroca é causada por vários mecanismos que atuam

em diferentes escalas temporais e espaciais. Todos derivam de rotas tomadas

pelos fluxos de água, que podem ocorrer tanto na superfície como em

subterrâneo. (COELHO NETTO apud OLIVEIRA, 1999).

3.2 Morfometria das incisões

Outro dado importante a ser ressaltado refere-se a quatro variáveis:

comprimento, largura, profundidade e área de contribuição das incisões, onde

foi destacado o maior e menor valor, a primeira variável confere que a voçoroca

3 apresenta maior dimensão 54,92m e a menor 9m é conferida a voçoroca 1

resultando em média 20,97 de comprimento por incisão, apesar das diferenças

dimensionais ambas apresentam grande atividade erosiva.

Tabela 1: Morfometria das incisões

MORFOMETRIA DAS INCISÕES

  Voçoroca 1 Voçoroca 2 Voçoroca 3

Tipo Conectada Conectada Conectada

Forma Retangular Retangular Retangular

Comprimento (m) 9 19 54,92

Largura (m)Sup. 6,1 2 17

Inf. 6 2 30

Profundidade 3 5,5 8

Área de contribuição 33,2 25,7 8,15

Declividade 26° 15° 10°

Orientação NW-SE NW-SE N-S

Qtd. Casas 1 1 2

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3.3 Voçoroca 1

A voçoroca (1) é do tipo conectada, possui forma retangular (figura 3) e

encontra-se bastante ativa. Sua área de contribuição apresenta 33,20m,

profundidade de 1,20m e 9,20m de comprimento e 6,10m de largura. Esta

incisão encontra-se abaixo de uma canaleta totalmente instabilizada por falta

da parte inferior da incisão, outro fato a ser destacado é que na parte mediana

há rachaduras que permitem maior concentração do fluxo de água para

incisão. Pode-se identificar também presença de lixo e madeira alojados dentro

da incisão. Além desta zona de convergência de água foi identificada a

abertura, no lado esquerdo, de uma ravina com 16m na área de contribuição. O

sentido de crescimento da voçoroca (1) é NW-SE e 26° de declividade.

Figura 3: Croqui da voçoroca 1

A montante da incisão existe uma moradia de alvenaria distante 7,50m,

e uma fossa sanitária que lança todos os dejetos domésticos para o fundo do

vale, um fator que possivelmente pode estar ocasionando o crescimento desta

incisão juntamente com a canaleta instalada neste local.

Outro fator indicativo da instabilidade da incisão é a presença de

grande quantidade de sedimentos depositados dentro da voçoroca, causados

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por movimentos de massas presentes na cabeceira, no meio e na parte inferior

da feição.

Um parâmetro para mensuração do aumento da voçoroca 1 é o

monitoramento da distância entre esta e uma árvore presente a 1,50m da

cabeceira, dado obtido na primeira mensuração. O escoamento superficial

concentrado decorrente do fluxo de água proveniente do esgotamento

doméstico da residência localizada na borda da voçoroca instabilizou a

cabeceira da vertente, diminuindo em 30 cm a distância da árvore para a

incisão. Um dado importante a se destacar é a pouca/nenhuma presença de

vegetação dentro da incisão.

Apesar da pequena morfometria apresentada nesta voçoroca, pode-se

afirmar que a voçoroca 1 apresenta maior probabilidade de aumento de

dimensão, tal fato é explicado por encontra-se em grande declividade, assim

como pelo entalhe ocasionado pelos dois canais de convergência de água a

montante, denotando alto risco a deslizamento.

3.4 Voçoroca 2

A voçoroca 2 além de estar próxima da voçoroca 3 apresenta sua

forma e tipo parecido, podendo futuramente se tornar uma só. A área de

contribuição é de 25,70m, e possui 2m de largura na cabeceira, 4m no meio e

2m na parte inferior, 19m de comprimento e 5,50m de profundidade (figura 26).

O sentido de crescimento da voçoroca 2 é NWO-SE, e 15° de declividade e em

seu entorno há uma casa localizada a 4m de distância.

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Figura 4: Croqui da voçoroca 2.

Esta voçoroca apresenta grande instabilidade, visto que há presença

de material depositado a jusante por movimento de massa, em três pontos

distintos, o primeiro próximo a canaleta no lado esquerdo, o segundo encontra-

se na parte média da incisão no lado direito e o terceiro próximo à vegetação

no lado esquerdo. Estes fatores influenciam o risco ambiental, pois há

presença de uma moradia a 4m de distância da cabeceira da incisão.

A cabeceira desta incisão é cortada por uma canaleta, que se encontra

muito deteriorada, permitindo que grande parte do fluxo seja despejada fora,

tornando a área muito instável devido a concentração de água. No interior da

voçoroca a presença de lixo e todo tipo de material orgânico proveniente das

casas é despejado, nota-se uma quantidade expressiva de vegetação na

vertente da voçoroca.

3.5 Voçoroca 3

A voçoroca 3 é do tipo conectada e possui forma retangular. O

comprimento da incisão é 54,92m e largura na cabeceira 17m e na parte

inferior 30m e área de contribuição com 8,15m. A profundidade desta incisão é

de 8m. À cabeceira existe uma casa que está distante 3,20m da incisão (figura

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3). Esta voçoroca encontra-se circunscrita pela pista principal e uma rua

periférica.

Um indicador de instabilidade é presença de movimento de massa (no

lado esquerdo-superior e direito-inferior) e canos de esgoto doméstico a 16m

(no lado esquerdo). Esta incisão apresenta duas casas em seu entorno, uma

localizada no lado esquerdo da incisão a 16,60m e a segunda no lado direito a

3,20m de distância.

Figura 5: Croqui da voçoroca 3.

A voçoroca 3 é marcada pela presença de feições erosivas como

caneluras, sulcos laterais, movimentação de massa e presença rarefeita de

vegetação, principalmente na parte mediana.

Por ser uma incisão cujas dimensões de comprimento são grandes e

há casas em seu entorno, é inevitável a presença de tubulação de água,

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propiciando instabilidade em pontos específicos da voçoroca seja pela

movimentação de massa ou por reafeiçoamento ocasionado pelo escoamento

concentrado superficialmente.

CONCLUSÃO

O presente estudo propiciou a compreensão da relação homem e meio

ambiente e sua complexidade, uma vez que passa por vários problemas

ambientais, esses relacionados a erosão dos solos, intensificados pela

intervenção humana. A erosão dos solos vem sendo um dos problemas

ambientais mais preocupantes, o processo de voçorocamento é uma forma de

degradação desse meio sendo ocasionada naturalmente e principalmente pelo

homem.

Incisões erosivas como o voçorocamento, causam impactos ambientais

e sociais, principalmente quando situadas em áreas urbanas – criando desta

forma assentamentos humanos em áreas ambientalmente sensíveis.

O bairro Distrito Industrial II apresenta grande atividade erosiva a

princípio de ordem natural (fatores denudantes), mas devido às atividades

humanas degradantes estas aceleram e, conseqüentemente ocasiona o

retrabalhamento das feições existentes no local, principalmente via

escoamento superficial concentrado, fluxo esse que tem sua origem, neste

caso, no esgotamento doméstico.

Estes aspectos são confirmados a partir dos dados mensurados ao

longo desta pesquisa, por exemplo, no que se refere à forma e o tipo das

incisões, pôde-se constatar que estas apresentam a forma retangular, o que

representa o estágio mais avançado de entalhe de uma voçoroca. Já o tipo de

incisão erosiva destaca-se que são conectadas ao fundo do vale, ou seja, o

entalhe ainda não alcançou na parte a montante as vertentes, podendo esta

forma crescer cada vez mais em direção às áreas de contribuição da feição

erosiva.

REFERÊNCIAS

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