características da interação em contexto de ensino regular e em contexto de ensino...

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A dissertação enfoca as características da interação construída em sala de aula em situações de ensino-aprendizagem de português-língua estrangeira. Apresenta como um diferencial importante a interdiciplinaridade para promover interações mais desafiadoras aos alunos.

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    fl. :-:;~;;;,::::. f'i:; 1(/~v(), '{:!;? D vcva

    :.JfGn:::'ids. pc.';: .... L ..... ------------

    ... _.,_-r_.~ 7 ; ;r / Jbl1}~4.d.t~,J~....... ~--- --~"-~--"~"""'' f ,,._, .. - r {)4 ~--_&

    "Hi?vp tl' ~:rc.Jtc; C. fc,,./J 'n /1-'(,i>

  • Orientador: Prof. Dr. Jos Carlos P~ de ,Almeida Filho

    Candidata: Ana Cecilia Cossl Bizon

    Banca Examinadora:

    I Prof. Dr. Jos Carlos Paes de Almeida Filho

    Profa. Dra. Mli~J do Couto Cavalcanti

    'I lj Prof. Dr. Lynn Marl~Menezes de Souza

  • Aosidll&pllis, Hlldtllra e AjftmSO elrm4m, Etltillo, Jtuli, e ZiMtr:ID,

    i

    qtu umpre eativertUN cotttlgo em todo& O& meu 8mUJtl.

  • ..

    AGJUDECIMENTOS

    Ao pro fosso r Jos Carlos Paes de Almeida Fi 1/w, pela aten/Jo na orienta/Jo acadhnlca e respeito pela minho personalidade e ritmo de trabalho. Pela sempre confiana e por partillwr comigo amizade tiJo cara e 11Xperincias enriquecedoras que, oo longo desses anos de convlllimcia, me amadureceram como pessoa e profiS!liono/ .

    .A. Carmen Zink Bolognini, por ter me levado a conhecsr a desafiadora e apaixontmte rea de ensino de Portugubs para Estrangeiros, e a pesquisa em Lingllstica Aplicada.

    Aas profo=res John Robert Schmitz, pelas sugestiks feitas por ocasi/Jo do exame de qualljica/Jo e Maria Jos Coraclni, pelas leituras coP~W~rsas durante a realiza/Jo do troba/lw .

    .. profossora Marilda do Couto Cavalcanti, pela aten/Jo e inmiaras sugestes feitas lambem por ocasi/Jo do exame de quo/ljica/Jo e ao longo de toda a fase de dlsserta!Jo .

    .A. profossora Leonor Lambe/lo, pela altl"fllo e tncentiw constantes .

    .A.. profeS!IOras e aos alunas dos cursos de Portugubs para Estrangeiros que se dlspusBram a participar desta pesquisa, cam os quais aprendi muito.

    s amigas: Teima, pela pacincia e por compreender a m.portAncia que o processo de dlsserta/Jo assumiu ptFa mim; J){;bora Baghin, pela presena sempre iluminado e amizade stncsra; Marisa Morlta s Maria de Lourdes Til/lo, pelo incan>~Jwll incentiw e palavras de carinho nos momentos dijlceis; Beth Font/Jo, pelas inmeras conwrsas, leituras e l"f"IJdNes em COfW'IO que multo qp.doram na realiza/Jo deste trabalho; Ligia Ferrarl, C/lmdla Pdua e Ktla Marques pelas ldldas compartillwdas em convilnas s reunies.

    Aos foncionrios do IEL e do :urox pelo attmdimento Stlltlprfl atencioso.

    Ao Carlinhos pelo apoio nas gravalJes em vldeo das QM/as de interven/Jo.

  • v

    A UNICAMP, CAPES e FAEP pelo apoio financeiro na rtJalizao ckste trabalho.

    E a todos que, ck alguma mmwira, contrlbuiram para tornar este trabalho possvel.

  • RESUMO

    Esta pesquisa f()N!liza as ClllliCt

  • di:fenmcada, assumindo responsabilidades e oomprometendo-s com o processo de aprendizagem na negociao.

    Da anlise dos dados pde-se depreender que momentos de engajamento e comprometimento (e no angajlllliJlllto e no comprometmento) do aprendiz nas interaes em sala de aula ocomm nos dos contextos de ensino pesquisados - o regular e o interventivo - dependendo principalmente da taref proposta pelo professor e do seu modo de controle dos eventos interativos. No entanro, os !llllll1lllllos de angaj8lllflllto!comprometmento mostrnram-se mais freqentes 110 oon!eXIo de ensino interventivo. A anlise dos dados evideociou ainda uma srie de estruturas de participao, alm daquelas apontadas na literatura resenhada T

  • NDICE

    Capitulo 1 - Wstric:o da Pesquisa !. Introduo 02 U. O Problema: A Interao Profussor-Aluno, Aluno-Aluno em Sala de 03

    Aula 1.2. O Portugw!s pan Estrangeiros no Bnlsil: Breve Panorama de sua 07

    Trajetria Aceila!ldo o Desafio: Um Histrioo Pormenorizado

    1.3. Foco de Estudo desta Pesquisa 14 1.4. Contextua.lizando o Trabalho de Pesquisa 15

    !.4.1. Os Plopsitos do Projeto "Interao e Relevilncia no Ensino 15 de Lnguas"

    1.4.2. Contextos de Pesquisa do ~elo "Interao e Relevilncia no 20 Ensino de Lnguas"

    1.5. Metodologia de Pesquisa 21 1.5.1. Pressupostos Etnogrficos 21 !.S. L L A Pesquisa Etnogrfica 21 1._5 .1.2. Os Contextos de Pesquisa e seus Estilos de Pesquisa 24

    Emogrfica 1.5.2. o Desenho desta Pesquisa 27 1.5.3. Os Cenrios de Pesquisa e a Coleta de Registros 29 1.5.3.1. Os Sujeitos de Pesquisa 32 1.5.4. l'roce2.5. A Interao no Prooesso de Ensino-Aprendizagem 62 2.5.1. AinteraioFaceaFace 63 2.5.2. A Interao em Sala de Aula 65 2.5.3. A Interao e a Aquisio de Lnguas segundo Kraslten 89 2.5.4. A Interao e a Aprendizagem segundo Vygotsky 94

  • Captulo 3 - Anlise dos Dados 3. Introduo 102 3.1. Perli! dos Sujeitos de Pesquisa I 03

    3.1. L Perfil dos Professores l 03 3.1.2. Perli!dosA!UIIDs 103

    3.2. Parte I: O contexto de Ensino Regular 106 3.2. L Os Bastidores das Salas de Aula: GRNFE e GRFE 106 3.2.2. Macro-anlise do Contexto de Ensino Regular 116 3.2.2.1. Procedimentos de Construo da Aula 118 3.2.2.2. Deveres assumidos pelo professor em sala de aula 130 3.2.3. Micro-anlise do Contexto de Ensino Regular 148 3.2.3.1. Prooedim.enros de Construo da Aula 149 3.2.3.2. Caractersticas da Interao em Sala de Aula no Contexto de !52 Ensino Regular 3.2.4. Concluso Parcial 170

    3.3. Parte li: O Contexto de Ensino Inte!ventivo 173 3.3. L Os bastidores das Salas de Aula: GINFE e GlFE 173 3.3 .2 Macr

  • Apndiee3

    Apodlce4

    ApndiceS Apodlce6

    Apndice 7 ApndiceS Apndice!! Apndice lO

    Figuras

    Questionrio para professoras dos contextos de ensino 316 regular

    pesqulsedos (Pl e P2) 316 Respostas de Pl 318 Respostas de P2 Questionrios para os alunos 325 Questionrio I 325 Questionrio li 327 Ementas e Programas dos Cursos Regulares 328 Provas Finais dos Contextos de Ensino Regular 332 GRNFE - 2" semestre de 1991. GRFE - 2" semestre de 1991. Tarem- oifurenas Cultuntis" - GRNFE 335 Material Didtico: Histria e Cultura do Bnsil- Unidade I 337 Material Didtico: Exercidos Lingsticos 348 Avaliao - G!NFE 350

    ndice de Figuras, Quadros e Tabelas

    Figura 1 o ])esenbo da Pesquisa 28 Figura 2 O Modelo de ()perno Global de Ensino de Lnguas (Almeida 46

    Filho, 1993) Figura 3 Diagrama Represemativo da Di1iatao do Movimentn 60

    Comlmicativo em suas Diversas Tendncias Contemporneas (Baghin, D.C.M., Bizon, A.C.C., Fenari, L.L. & Almeida Filho, J.C.P., 1994)

    Figura 4 Esc,;;..=< Represemativo do Movimentn entre SA-SP (Laugl>- Sl Hamid, 1990)

    FiguraS Diagrama Represemativo do Processo de Inlerallo (Valsiner, 99 1992)

    Quadros Quadro 1 Quadro Representativo dos Marcadores de Engajamento 86

    lnlerativo (Lauga-Hamid, 1990) Quadro 2 Quadro Rl!plll!llllllato das Tarefils Ligada ao Maior ou 86

    Menor Englyamento llltenltivo (l.lluga-Hamid, 1990) Quadro 3 Quadro dos Eventos llltenltivos Pnodominantes llliS Aulas dos 124

    Contextos de Ensino Regular Pesqtsados (R.itoal A) Quadro 4 Quadro dos Eventos Intemtivos Pnodominantes llliS Aulas dos 125

    Contextos de Ensino Regular Pesqtsados (R.itoal B) QuadroS Quadro dos Eventos llltenltivos Pnodominantes na Aula do 149

    GRNFE 13-ll -91- P2 - (R.itoal A)

  • ..

    Quadro 6 Quadro dos Eventos lntenltivos Predominantes na Aula do !50 GRNFE -13-11-91- P2 (V

  • ...

    CONVENES PARA A TRANSCRJO DOS DADOS

    As convenes utilizadas pam a transcrio dos dados foram baseadas parcialrrum:te em Mas:cu.schi (1986):

    p Pp A AA Al,A2, etc A3? AXXX o () ?

    [[ [ l I ( ) (xxxx) I maiscula

    (( ))

    LI

    professor profussor-pesquisador aluno no identificado vrios ou todos os alunos ao mesmo tempo aluno identificado provavelmeute A3 liOIIIIl prprio pausa breve pausa longa entonao II8C

  • CAPTULOl

    HISTRICO DA PESQUISA

  • CAPITULO!

    1. INTRODUO

    As pesquisas desenvolvidas em sala de aula no Brasil so bastanle recenJes e inauguram a afumao desse espao como ambiente potencial para a produo terica relevente relacionada ao ensino-aprendizagem de lnguas (ct: Cavalcanti e Moita Lopes (1991). No mbito dessa tradio de pesquisa etno!!Jfica, a pesquisa interveniiva I, tambm IllC6ll!e, mostra-ee cada vez mais urgente, pois viabi!iza no apenas a observao, anlise e estudo critico dos quadros j instaurados, mas a proposta de modificao desses quadros e posterior anlise critica dos mesmos.

    A rea de pesquisa acadmica em ensino-apnmdizagtm de Portugus-Lngua Estrangeira tem acompanhado com dificuldade o contnuo crescimento de demande nessa rea, incrementado principalmente nos ltimos anos com a impllmtao do Merooaul. Tambm so poucas as publicaes de livros didticos no mercado sendo que a maioria desses insere-se ainda numa tradio vinculada aos moldes estruluralistas de ensinar e aprender lnguas. Grande parte doa professores, ainda sem formao especializada nessa rea, no dispe de muitas opes nesse sentido.

    Dadas as poucas pesquisas existentes com fuco especfiro na investigao dos processos de construo do ensino-aprendizage de Portugus-Lngua Estrangeira, e a necessidade no somente de mllexllo acerca dos processos vigentes, mas de possibilidade de instaurao de processos outros que sejam potencialmente capazes de conceber o ensin~ de furma difurenciada, passveis tambm de anlise critica, optou-ee por fuc.:J.ar, neste llabalbo, o prooesso de ensino-aprendizage de Portugus-Lngua Estrangeira no somente sob a perspectiva de anlise descritiva, mas tambm sob a perspectiva de procedimentos de interveno em sal de aula.

    Este captuJD 1rata primeinunente do problema que deu origem a esta pesquisa A seguir, aborda a metodologia discutindo o carter e!noi!Jfico de investigao centrada na sala de aula e explcita os estilos de pesquisa etnoi!Jfica nela adotados. Para encerrar, apresenta e discute os procedimentos e instrumentos utilivulos para a coleta de dedos.

  • 1.1. O PROBLEMA: A INTERAO PROFESSOR-ALUNO, ALUNO..ALUNO EMSALADEAULA

    3

    O objetivo desta pesquisa de llB1llreza qualitativa e de tipo etnogrfioo inteipretar a construo do processo interativo de ensino/aprendizagem de Lngua Portuguesa ensinada oomo Lngua Estrangeira a flantes adultos no nativos em sitw!o de imerso oo Billllil em ambiente universitrio. H dois contextos sendo considerados: mn contexto primrio e mn secundrio.

    O contexto primrio constitu-se de uma sitw!o de ensino de Portugus para Estrangeiros (PE, daqui por diante) oom um grupo de aprendizes de procedncias diversas e no flantes de espanhol de mna universidade paulista (GPNFE, daqui por diante)Z Neste contexto, dois estilos de pesquisa etnogrfica furam desenvolvidos: uma pesquisa analtioo-descritiva da situao de ensino regular ministrada pelos proressores titulares da instituio observada; e uma pesquisa nterventiva onde a autora desta dissertao atuou oomo profilssora interveniente no processo, ministrando aulas oom uma abordagem de ensino declaradamente difurenciada - a saber, mna proposta de ensino lntenllsc:lpHnar-3 -e genericameste oommcativa.

    O contexto secundrio constitu-se de uma situao de ensino de PE oom um grupo de estudantes flanles de Espanhol (GPFE4, daqui por diante), onde os mesmos dois estilos de pesquisa etnogrfica furam realizados, nas mesmas ooudies e simultanesmeste realizao da pesquisa no contexto primrio.

    preciso ressaltar, no eutamo, que o contexto secundrio fimcioiUil apenas oomo coutrapouto para a construo de uma linha de argumentao e oomo funte de euriquecimeuto dos dados, uma vez que um tzabalho oom dois oontextos e dois momentos difimlnciados em cadi. mn tomarJ-a por demais complexo e extanso para as pretenses de mna dissertao de mestrado. As razes pelas quais optou-se por cousiderar apenas o GPNFE oomo fuoo primrio seriio explicitadas e discutidas

    ~maisad.i.'lte. Consideroo-se tal contexto desenvolvendo a partir dele dois estilos distintos

    de pesquisa etnogrfica oom o intuito de :responder s seguintes perguntas de pesqwsa:

    1. Como se ClllllCteriza a interao no processo de ensmo-aprendizagem no contexto de ensino regular e no contexto de ensino nterveutivo? Quais os papis do aluno e do professor uos dois oontextos?

    2 GPNFE Grupo& ~I*" NioF-do !1Aponbo1 l Este termo ser discut:ido mais ~~diante e htmbtf:m no Capttulo 2. 4 GI'FE Gmpodo ,_!JII&paaF-do~-

  • 4

    2.Quais so as diferenas/semelhanas na construo do processo interativo de ensino-aprendilJlj;em de um contexto em relao ao outro?

    Enlenda-se por "caracterizao' aqui o conjunto de trw;os proeminentes/distintivos de um processo de ensino-aprendizagem 6Xlllllruldo a partir de uma perspectiva de interao professor-aluno e aluno-aluno.

    A Interao tem sido unanimemente considerada por autores acadmicos inleressados na investigao de questes concernentes aos processos de construo de conhecimentos e do ensin.o-aprendizag de linguas, mais especificaznmrte daqueles ligados res de Educao, Psicologia, Linglstica e Lingustica Aplicada (Stevick. 1976; Gumperz, 1981, 1982, 1986; Tannen, 1986; Mey, 1987; Orlaruli; 1987; Cazden, 1988; Ellis, 1988; Daberu> et alii, 1990; Vygotsky, 1991a e b5; Kleiman, 1991; Smolka, 1991; Coracini, 1992; Erickson, !992; Almeida Filho, 1993 e outros) como futor fimdamental para que o processo de aprendizagem/aquisio da L-alvo pelo aprendiz se efetive. a partir da relao l:lteratiVa entre professor/alunosttextns6 ( seja ela de que natureza for) em sala de aula que a construo ou re-e!aborao do conbecimenlo se processa (ou no).

    No contexto brasileiro de ensino de linguas --..:tgeiras so muitas as deficincias e problemas relacionados implementao do procesao de interao em sala de aula que diminuem a qualidade do ensino e agravam as Iimitaea da aprendizagem. Os alunos chegam a passar anos estudando a lingua-alvo (L-alvo) sem que, no .,_, sejam capazes de atuar oomunicativamente em inleraes na lngua --..:tgeiia (LE), negociando, (re)criando e produzindo sentidos. Tal situao odvm, eutre outros :fiores, da pouca e/ou m formao dos professores, que pouco sabem sobre a ~ 7 de ensino sobjacente ao material didtico que ctilizam em sala de aula, e dos prooodimentos tnetodolgioos adotados.

    Algumas pesquisas confirmam essas deficincias e problemas, como a de Almeida Filho e! alii (1991) que investigou a utilizao de livros didticos em sala de aula de lingua inglesa em escola pblica; e as de Colin Rodea (1990) e de Fonto (1991) que realizaram etnografias analtico-descritiva da sala de aula de !'E em ambieote universitrio.

    '4' .diio bruildn. partir do.~ """"""' (1934). 'Otmno......,."tomadoaquid&"""""furm&oomo,....cpdopor&=&caodlin(l980~imdown - ...,.llo que~ nilo"' ,._"""'""" mu todo ......W ("""""' viowd, "")....lo oo""""""' do ....... ~-7 -..,. "IXll1fllllml" aqui 001110 ~ de um ~ {umitas ...,. -) de princlpico 1ericoo, ~e........,""""'" oobre a....,... d& ~bem"""" de_., de l{ll"

  • A julgar pelo reoonhecimento, por parte dos pesquisadores e profissionais da rea de Lingulstica Aplicada, da importllncia conferida interao oomo elemento central desencadeador do processo de ensiruHlprerufu:ag so ainda muito poucos os trabalbos desenvolvidos fucando e estudando a construo desse processo em sala de aula, ainda mais no que diz respeito ao contexto especfico de ensino-aprendizage de Portugus/Lngua Estrangeira, to carente de produes acadmicas .

    Por isso, torna-se urgente a realzao de mais llllbalhos que estudem os aspectos envolvidos na construo da interao em sala de aula, suas carncteristicas, elementos influenciadores e variantes que incidem sobre essa construo, podendo nos revelar, assim, maior compreenso acerca de especificidades do complexo processo de ensinar e aprender lnguas.

    A literatura evidencia alguns exemplos de pesquisas de tipo etnognfioo que estudam questes relacionadas interao em sala de aula de PE. Poderamos citar alm de Co!Jn Rodea (op.cit) e Ponto (1991), os trabalbos de Clll!ado (1990) e Morita (1993). A res ressente, porm, da falta de trabalhos que no s fumeam um diagn>8!por Almeida Fllbo (1990 e 1993) -tbaito e diowti

  • 6

    aula? Como as interaes em sala de aula refletem as diferentes abordagens assumidas (explicta ou implicitamente)?

    A relevncia maior deate trabalho est na proposta e eatudo da implementao de uma abordagem diferenciada de ensino que, indeperulenteme de significar um caminho mais "adequado" ou no para o ensino de LE, possa revelar mais especificidades sobre a constituio da interao no complexo processo de ensnar e aprender uma lngua.

    Assim, acredita-se estar OOl!lribuindo tambm - mais especificameute - para os propsitos centffioos e prticos do Projeto "Interao e Relevncia" 9 no qual este projeto de pesq1risa encontra-se inserido. Nesse mbito, de suma mportru:ia conheoer de forma mais ateuta e critica o prooesso interativo emergente nos contextos estudados para que, llli!l1 Il10lU6llto seguinte, se possa planejar cursos de fOilllliio de profussores.

    Santos (1993:08) iz uma colocao pertinente nesse sentido. O autor chama a ateno para o fto de que "no suficiente ape!lJIS descrever a construo do processo de ensino-aprendizagem sm evideuciar sua importncia na furmao do profussor de lnguas e na busca de uma autonomia comunicativa do aluno ao aprender uma LE. preciso, tambm, realizar uma reflexo critica sobre o que representa a explicitao desse processo na melhoria das condies de ensino-apreru:lizagern de lnguas'.

    Sabe-se da carncia na literatura de pesq1risas que tenham como objetivo final a fOilllliio do profussor, prinoipalmente no que diz reapeto a profussores de PE. Assim, espera-se, com este eatudo, contribuir com o furnecimento de sobsdios para a fOilllliio do profussor de LE e, mais especificamente do profussor de PE, em vrios nveis:

    contribuindo oom oonbecimentos necessrios para que o profussor oonhea a abordagem interdiscplnar proposta na pesquisa; seriam os elezmmtos b..

  • 7

    professor construa o que denominamos aqui de "competncia tcnico-aruiltica", tambm """""""" formao do professor. Essa competncia seria a capacidade de exerccio consciente de uma prtica pedaggica, contando com elementos paza que o profussor possa explicax porque "fuz o que fz" em sala de aula e desta forma possa ser capaz de avaliar sua prtica e, se fur o caso, optar por mudanas (ou no).

    Teodo explicitado de maneira sucinta o histrico da pesquisa em termos do problema que a origincu, das perguntas que dela emergem e do objetivo final a que se prope, fz-se necessrio looalizar de maneira mais especifica este trabalho de pesquisa, o que ser feito na prxima seo. Esta looalizao se dar tanto em termos de pressupostos tericos da Lingustica Aplicada ao Eusino de Lnguas, do deseuvolvmento da rea de PE no Brasil e dos trabalbos realizados com foco na investigao de questes relacionadas ao eusinolapreudizagem dessa LE, quanto ao prprio projeto maior a que esta pesquisa est vinculada .

    Antes,~ porm, convm explicitarmos a organilao estruturnl da dissertao. Ela se dividide em trs captulos, a saber. Captulo 1, no qual se desoreve e contextualiz.a a pesquisa, explicitando tambm os procOOimentos metodolgicos utliwlos paza a sua reallao. Captulo 2 onde se looaliz.a a pesquisa em termos dos trabalhos existentes na rea de PE e se disootre sobre o arcabouo terico embasador da proposta de abordagem de ensino utilizada na pesquisa de interveno, bem como sobre o arcabouo terico paza a anlise dos dados; Captulo 3, que cousta da anlise dos dados, e Captulo 4 com as concllllles gentis e encaminbamentos de sugestes paza investigaes futuras.

    1.2. O PORTUGUB.s PARA ESTRANGEIROS NO BRASIL: BREVE PANORAMA DE SUA TRAJETIUA

    Para satisfo dos profissionais da rea, a Lingustica Aplicada/Ensino de Lnguas no Brasil entra nos anos 90 maia fortalecida, com estatuto de cincia indapendente (cf Cavalcaut, 1986; Cavalcanti & Moita Lopes, 1991; Moita Lopes, 1992) reapeitada e reconltflcida pela OOIII1Illidade cieotfica.

    Sem dvida, a dcada de 80 fui decisiva para este fortalecimento e afirmao da Lingustca Aplicada (LA daqui por diante) no Brasil. Pudemos vivenciar, nestes ltimos anos, um crescimento notvel do inreresse pela rea e um O

  • Da mesma furma que os oulroo focos de pesquisa, o Portugus como Lngua Estrangeira vem, gradativamente, ganhando novos pesquisadores e profissionais, j que, nos ltimos anos, o interesse e o campo de trabalho nesse setor tem crescido oonsideravelmente (Kunzendorf!; 1989).

    vlido lembrar que o ensino de Portugus como Segunda Lngua no Brasil no constitui mna prtica reoonre. Ele tem uma longa histria de quase cinoo sculos que se estende desde os primeiros esforos de religiosos jesutas no ensino de Portugus a membros de naes indgenas (Almeida Filbo, 1992). O que no lu\ so estudos e inteipretaes abundantes dessa tradio - isso porque no lu\ oonscientizao de sua existncia e, consequenterrum, nem. da importncia de estudos de questes a ela relacionadas.

    Deste ponto de vista, inegvel, pommto, a importncia scio-cultural do ensino desta lngua, mna vez que ela fz parre da construo da prpria identidade dos brasileiros enquanto constituidores de uma nao. Assim, estudar e conhecer esta tradio pode significar conhlr e compreender melhor a cultura e caniter do povo.

    Se o ensino de Portugus como Segunda Lngua esteve presente desde os primeiros anos de formao do pas, mesmo que em. grande medida de maneira informal oralizada, a tradio furmal de ensino do Portugus em. ambiente de imerso nas instituies edocacionais, por outro lado, bem como o desenvolvimento da Lingustica Aplicada I Ensino de Portugus como Lngua Estrangeira (LAIEPLE) tem mna histria bem mais reoonre - apesar de nio menos importante e pessvel de desateno.

    Segundo aponta Gomes de Matos (1989), um dos profissionais precuzsores no trabalho de divulgao e instilucionali7J!iio dessa rea de ensino e pesquisa - a LAIEPLE comeou a desenvolver...., a partir de meados da dcada de ....-rta

    At entl!o, a maioria dos CUiliOS de Portugus do Brasil, de reduzido mmro, via...., obriga~ a utJlilJ!f Jllll!eria.is importados do exterior e escritos por estrangeiros (principalmente dos Estados Unidos). Nessa poca, o Illlltt21a1 ento disponvel era Spoken Brazilian ~ desenvolvido pelo Foreign Servioe Jnstitute, de Washington, D.C ..

    Talvez a nica exceo no amrio nacional de ensino da poca fussem os CUiliOS ofurecidos pela PUC-RS que utilizavam o livro de ~ Portugus para Estrangeiros, cuja primeira edio data de 1954.

    Conforme aalianta Almeida Filbo (1992:13), a partir das dcadas de sessenta e durante os anos seteD!a oonstatou...., wn maior crescimento de cursos de Portugus e prodoo de Jllll!eria.is didticos em instituies do exterior. Foi aasim que surgiram os Jllll!eria.is produzidos por Rameh & Abreu (1971) - Portugus Contemponineo da Universidade de Georgetown, em Washington, e o material

  • 9

    Modem Portuguese elaborado por uma equipe encomendada pela Modem Language Association of America (MLA) e coordenada por Ellison (1971). Gomes de Matos avalia que essas iniciativas significaram um avano para a poca, uma vez que da elaborao desses materiais participaram tambm profissionais brasileiros -como fu o caso de sua prpria incluso na equipe do MLA - o que no acontecera anteriOllllll!lle.

    No entanto, fu preciso ainda mais uma dcada para que se comeasse a investir na produo de materiais didticos para esta rea de ensino aqui no Brasil. Foi, porllmto, na dcada de 80 que comearam a surgir as sries brasileiras de livr didticos produzidas por editoras nacionais e para um pblico de alunos est1 rulo no Brasil em ambiente de imerso. (Almeida Filho, 1992:13)

    Assim, seguiram..,., as publicaes de "Portugus do Brasil para Estrangeiros" do Centro de Linglstica Aplicada Y zgi; "Falando ... Lerulo ... Escreveodo ... Um Curso para Estrangeiros" de Lima e !unes, 1981; "Portugus para Falantes de Espan!ID!" de Lombello e Baleeiro, 1983; "Thdo Bem" de Ramalhete, 1984; e, mais recenlmnenre, "Fala Brasil" de Coudry e Ponto, 1989; "Aprendendo Portugus do Brasil" de Laroca, Bara e Perers, 1992; e Avenida Brasil" de Lima et alii, 1991 .

    Da mesma forma que no mbito de produo de material didtico, que pressupe exigir algum trabalho de pesquisa, no mbito acadmico passou-se a constatar igual crescimento no inreresse pela disciplina, que reflete num impulso nas produes cientficas tambm a partir do :lna! da dcada de 80.

    Esse llllltlMin de interesse poderia ser esplicado por algumas razes bsicas. A primeira delas relaciona..., com o filio de que, com o desenvolvimento industrial brasileiro, passamos a rer lllllior nmero de eslningen"" viDdos ao Brasil a trabalho, atravs de fumas multinaci.onais interessadas em intercambiar/importar-esportar recnologia Assim, honve um crescimento oontnuo da procura por aulas de Portugus para Estrangeiros, principrlrn

  • !O

    P.E. nas univerllidades brasileiras, o estudo aponta para a existncia de aproximadamente dez universidades, em 1992, que mantinham cursos regulares e de extenso, mas apenas trs, possivelmente, cntando com professores pleoamonte enquadrados na carreira dooonte, como aoontece nas Universidades Estadual de Campinas (UNICAMP), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Braslia (UnB) -at essa data.

    No que diz respeito ao setor de pesquisa e formao ps-graduada em PE, os escassos tr1lbalhos acadmicos de at pouoos anos atrs e a flta de cursos especfioos para a formao especializada de pesquisadores e professores da rea, dernm lugar a mn sensvel crescimento de interesse pelo setor. Tambm verfica-se iniciativas de institucionalizao de disciplinas e pesquisadores na rea de PE como o caso especfioo do Prognuna de Mestrado em Lingustica Aplicada da UN!CAMP (criado em 1987), do Curso de Especializao (Ps-GradWIo Lato Sensu) em PE da UFRJ (oferecido em 1988 e 1989) e do Curso de Especializao em PE da PUC-RJ, ofurecido em 1991, alm do Curso de Especializao em PE da UJ',1CAMP previato para iniciar em 1995.

    A terceira razo para o aumento do interesse pela rea de PE seria a recente implantao do MERCOSUL pelos governos brasileiro, argentino, pamguaio e uruguaio que signfica ampliao e maior fcilidade nas relaes econmicas, oomerciais e de interombo cultural oom os pases vzinhos do sul da Amrica Latina.

    Esse acordo implica investmenlos do Brasil nesses pases e vice-versa, o que fz projetar a lngna portuguesa oom maior fura no cenrio internacional geral e especificamente no regonal lat1lno e pesquisa em Portugus como Segunda Lingna.ILngna Estrangeira, apesar de recente, vem se fumando desde a dcada de 80, expandindo-se como uma rea potencialrn

  • !I

    Apenas para moocionar alguns desses problemas, poderamos apontar a inexistncia de cursos especifioos suficientes para a formao bsica (no necessariamente ao nvel de ps-graduao, mas cursos de especializao) do profussor de PE, contribuindo para a situao ainda com traos de amadorismo e para a lenta instituciolllllizao profissional. Esse futo traz como consequncia a fulta de planejamento de cursos mais cuidadosamente elaborados e coerentes com uma abordagem explcita, assim como a fulta de conhecimento por parte dos profussores que min.istram esses cursos, dos pressupostos tericos que norteiam a abordagem constituda e que justificam suas prticas pedaggicas {cf. Kunwtdnrff, 1989, Almeida Filho, 1992; Bzon, 1992). At mesmo nos CEBs (Centro de Estados Brasileiros, mantidos pelo governo brasileiro em vrios pases e que se dastinam a ofurecer cursos de Portugus e a divulgar a cultura brasileira) a situao no difure muito (c.f. Ferreira, 1992). Alm disso, a produo cientfica ainda que progressiva claramente insuficiente, havendo :inmeras lacunas a aerem preenclridas. Sem dvida, isso to!DJi o trabalho do pesquisador que quellll envolver -se nessa empreitada extremamente rertil e desafiador.

    E aceitar desafios preciso!

    ACEITANDO O DESAFIO: UM H!Sl'RICOPORMENORIZAJX)

    Atravs de um trabalho prvio de investigao das obras acadmicas ao nvel de ps-graduao em PE pudemos oonsta!ar que, alm do pouco volume existente, muitas dessas obras enquadravam-se numa metodologia da pesquisa da canrer posiL;; .sta, freqentemente airula vinculadas aos propsitos de investigao cientifca da Lingoistica - cincia ao qlllll a Lingustica Aplicada permaneoou atrelada por muito lllmpo a pooto de aer OOI!Siderada mn ramo daquela e no cincia ap!i;:ada autnoma na rea da~ como hoje.

    Segundo apontam Cavalcanti e Moita Lopes {op.cit.), apoiada nessa tradio positivista, grande parte das pesquisas dasel!hava-se como estados analitico-

  • pelo aprendiz que, muitas vezes, no estava inserido no ambiente de sala de aula. Nesse contexo no se oonsidernvam as variantes que estariam incidindo sobre essa aquisio como, por exemplo, os ftores afetivos, os fatores scio-culturais a , interao professor-aluno, a interao aluno-aluno, o ambiente de sala de aula, alm dos fatores extra-classe e extra-lngusticos,etc.

    Nos ltimos anos, pndtllllDs vivenciar mudanas sofridas no paradigma cientfioo (no sentido de Kubn, 1990) da Lingstica Aplicada ao Ensino de Lnguas. Como bem oolocam Cavalcanti e Moita Lopes (op.cit: 136) parece bvio para a LA a impomincia da realizao de pesquisas que tenham oomo fooo a sala de aula e a construo da aprendizAgem via interao - j que o que se quer oompreender oomo o professor opera e oomo o aprendiz enfrenta a tarefa de aprender.

    Dessa :funna, o processo passou a ser considerado fooo de ao principal do pesquisador, que passou a utilizar-se no somente de anlises quantitativas, mas principalmente qualitativo/ nterpretativstasll, visto que seu objetivo passou a ser examinar a construo de uma realidade social particular e in!eipretar essa realidade teorizando atravs de dados processuais autnticos.

    Dados prO

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    sala de aula regular, alm de constatar a vigncia da abordagem furma! estruturalista de ensino.

    Tais pesquisas so importantes enquanto reveladoras da situao de ensino de PE no contexto brasileiro, apontando para deficincias e conseqentes dificuldades no estabelecimento das relaes inlerativas em sala de aula . Observa-se qne estas dificuldades decorrem, principalmente, da falta ou da precria formao dos professores, da otlizao de materiais didtioos inadequados e/ou ultrapassados, e da flta de convergncia de pressupostos tericos sul>jacentes ao mataria! com procedimentos e tcnicas otlizados pelo professor em classe.

    No entanto, alm de estudos analitioos e critioos do sistems predominante, assume-se, nesta pesquisa, a crena na nooessidade de se iluminar o lado dos signifu;ados construdos em verses tidas como potencialmente alternativas e emergentes do ensino contemporneo de lnguas que podem abrir novas perspectivas para este contexro, conlribuindo com o fornecimento de subsdios para a formao de professores de LE, e mais especi:fiosmente de PE - dada a importncia e carncia de trabalhos com este tipo de preocupao.

    Assim, tendo em vista tais constataes e acreditando nos pressupostos cientfioo-ideolgicos da moderna LiljJUstica Aplicada na rea de Ensino de Lnguas, ooofor:me descritos por Cavalcanti & Moita Lopes (op.cit.), este trabalho objetivou fucalizar um tema qne pudesse refletir a complexidade terica na rea de investigao de ensin

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    da lngua explorando situaes muitas vezes pouco autnticas e inverossmeis 15, e oom a utilizao de amosln!gens (da lngua) descontextualizadas e de contedo de relevncia questionvel para o aprendiz. Tais procedimeutos, hipotetiza-se aqui, podem levar des:motivao e Jlta de inieresoo do mesmo frlmle aprendizagem da L-alvo, dificultando a efutivao da aquisio dessa lngua.

    A avaliao de que a proposta de ensino Interdisciplinar (este oonceito ser discutido brevemente mais adiante e de funna mais detalhada no Captulo 2) poda ser potencialmente capaz de """'!'ar processos difilrenciados de ensinar e aprender, criando-se um ambeute comunicativo onde interaes verossmeis e mais negociadas '"O com a utilizao de nma abordagem de ensino interdisciplinar.

    O fuco desta pesqaisa, portanto, estudar, comparativameute, como se caxaeteriza a oonstruo da interao no prooesso de ensinar e aprender ern &l& de aula de LE - no caso o PE - quando nma proposta de abordagem diferenciada de ensino de lnguas impJ""'

  • ensino, tendo a oportunidade de observar, estudar e nterp:retar, tambm luz dos pressupostos terioos da metodologia de pesquisa adotada, os resultados dessa mplernenJayo, conhecer como se processa a interao ooste contexto especifico, como a ao/reao de profilssores e alunos, de que forma se d a oonstruo (ou no) dos conlrecimentos.

    Com isso, ser possvel observar e avaliBr de que forma a construo da interao nesta abordagem se difurencia ou no da observada nos contextos regulares. Ser possvel, tambn1, observar e avaliBr quais procedimentos dos in:teractantes 1zem com que essa interao seja difurenciada. A partir desses registros, obter-se-00 dados para o ~ do objetivo final desta pesquisa, que fumecer subsdios terioos para a elaborao de programas e cursos de follDJ!O de profussores.

    Mais adiante, ser abordado o desenho da pesquisa, retomando tambm oonsderaes sobre o objetivo final a que ela se prope Logo a seguir explicitar-se- a metodologia utilizada na pesquisa para a coleta de registros bem como para a anlise posterior dos dados.

    Antes porm, convm contextualizar a pesquisa, explicitando o problema especfco que levou seleo do foco do estudo, o que ser fuito logo abaixo.

    L4. CONTEXTUAUZANDO O TRABALHO DE PESQUISA Este trabalho de pesquisa snrgiu de um projeto maior desenvolvido no

    Departamento de Lngustica Aplicada - DLA - UNICAMP que se inlitula 'Interao e Aprendizagem de Lnguas: Subsdios para a Anto-FOllDJlO do Profussor de 1 Grau' e que conta com o reoonheciil:llo!llo cientfico da F APESP. Tal projeto concretiza-se em quatro sub-projetos: "Interao na Anla de Leitora", "Interao e Construo do Discurso Pedaggico", "Interao e Letnimento' e 'Interao e Relevncia no Ensinn de Lnguas'.

    mais especificamente nesta ltimo sub-projeto que o presente trahalho de pesquisa se insere. Dele tratar-se- a seguir.

    1.4.1. OS PROPsiTOS DO PROJETO "INTERAO E RELEVNCIA NO ENSINO DE LNGUAS"

    O projeto em questo partiu de dados provenientes de uma pesquisa realizada anterioiiDfl!l!e (Almeida Flbo et alii, 1991 ), visando avaliBr cinco sries de livros didticos (LDs) para o ensino de lngua estraageira (ingls, no caso) e dimensionar o seu mJlll"kl no prooesso de eii!Sino-

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    etoognfico de salas de aula de Portugus para Estrangeiros em ambiente universitrio de Colin Rodea (op.cit) e Fonto (1991) serviram como fontes corroboradoiliS das evidncias encontradas no trnbalho acima citado.

    Os dados na pesquisa de Almeida Filho et alii (1991) revel.a.rn, singu!annente, no haver nos registros das aulas investigadas ocorrncias de inl:e!lles livres ou espontneas na lngua-alvo. Mas ocorrem, ao mesmo tempo, muitas interaes, tanto na lngua materna (LM) quanto na lngua-alvo (L-alvo). Qwmdn se processam llll L-alvo, so interaes denominadas pelo autor de "engessadas', premeditadas pelo professor ou pelo livro didtico antes dele (portando ditadas pelo LD ) e modeladas ad nauseam

    Na interao registrada em LM constata-se a ocorrncia de falas institucionais (avisos, chamada ordem/disciplina), ecos do LD (leituras em voz alta, cpia mlousa), e filias peralelas (casos pessoais, comen!rios sobre episdios da vida da escola que no se relaciOllllm com a disciplina LE). O aluno geralmente repete. corepleta turnos modelados pelo professor, respoade perguntas pedaggicas verificadoras de apreadizagem das furmas e, muito Jrequentemente, mantm conversas peralelas.(Almeida Filho et alii, 1992.)

    Situao semelbante detectada nas pesquisas de Colin Rodea (op.cit.) e Fonto (1991) em ambiente de ensino de l'orluj!us para Estrangeiros. Os dados evidenciam a dependncia dos profussores aos LDs adotados de base ainda rnan:ad.amente estruturalista. Tal deperulncia gera procedimentos metodolgicos coerentes com a abordagem oomo atividades focadas em habilidades isoladas, preenchlmen:to de lacunas, exerccios de rotinjzao, etc.

    Confu!lllfl aponta Fonto (1991), o oontedo linguistiro, geralmente trnbalhado ao nvel da frase, desvinculado de um contexto real de uso, elou trnbalhado em linguagem ponco sgnifu:ati:va, aliado ao prprio babtus16 do proressor, "doutrinado" uos prooadmeotos da abordagem estruturalista, propiciam a fruio de um ritual de >::ila de aula onde a interao potencialmente verossirol (que aqui se est denominando tambm de sgoificativa), de grande importocia para que haja construo de conhecimentos sigufficativos e relevantes para o aprendiz, rarssimas vezes se efetiva.

    Na grande mainria dos casos, portanto, a interao que se obtm no estabelece processos bem sucedidos de aprender e ensinar LE em tais conte:xtos. As distor900s na imagem que professores e alunos 1zem do que eosinar e apreader lnguas eogeodram interaes atrofadas e desligadas do rmmdo de experincias de aprender a primeira lingua. (Almeida Filho et alii, 1992)

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    Tendo em vista tais constataes, o objetivo do projeto "Interao e Relevncia' investigar i:terao em LE na sala de aula de maneira a aclarnr nosso conhecimento alwil tanto sobre processos de aprender/adquirir outras lnguas, como sobre a construo de processos de aprender de filto essa LE. O significado de aprender uma LE , principalmente, apl12l

  • No mbito das tendncias tericas llllUS recentes do Movimento Conmnicativo como o Progressismo - enoontramos a impl-ayo de projetos de ensino de lnguas estnmgeiias com utilizao da lnterdisciplinaridade. Esse conceito resenhado e discutido minuciosamente tambm no Captulo 2, oode se tem. num primeiro momero, uma amostragem das vrias concepes e eapBJJSes conferidas ao conceito sob o prisma de autores diversos, alm de prticas outras, semelhantes lnterdisciplinaridade, como o Ensino Temtico, a Instruo Abrigada e o Modelo Adjunto de Ensino. Num segundo momento, definimos o que se entende por interdisciplinaridade neste trabalho de pesquisa.

    Por agora basta dizer que a proposta cerne da lnterdisciplinaridade como concebida nesta pesquisa (e portanto no Projeto) a utilizao de oontedos de outras disciplinas do currculo escolar para se ensinar uma lngua. Foi Widdowson (1978) provavelmente o primeiro proponente dessa tendncia de abordagem_ Mais recentemente so muitos os lingtstas aplicados que, deaenvo!vendo, complementando, expandindo as idias iniciais de interdisciplinaridade desse autor, realizam projetos nessa rea com resultados avaiados. So exemplos significativos, os apresentados em Moban (1986); Tin (1987); Snow & Brinton (!988); Brinton, Snow e Wesche (1989); enlre outros.

    Segundo Widdowson (op.cit), o ensino de wna lngua pode cumprir melhor sens objetivos educaciooais se fur associado a outras disciplinas do curriculo escolar. Confurme seus postulados, deutro do processo de ensino-aprendizagem b princpios de abordagem que precisam ser considerados; um deles , exatamente,o que clwnado de "apelo racional" (rational appeal), ou seja, a necessidade de se associar o ensino de LE com outras reas do conhecmll!Jto no linguistioo , "de maneira que o aluno de lngua estnmgeira posaa saber o qu e por qu ele :fuz o que :fuz quando aprende(...). O objetivo permitir que esse aprendiz venha a oonhecer a lngua estrangeira da meama maneira que concebe a sua prpria lngua materna e a us-la da mesma maneira como atividade comnnicatva" (Widdowson, op.cit: 215).

    Formalzarulo e ampliando a experincia do aprendiz em novos conceitos por meio dos difurenres oontedos interdisciplinares e associando-se, portanto, a lngua estrangeira a essas reas de uso, o prooesso de aquisio de wna segunda lngua pode tomar-se mais significatvo justamente pelo apelo racional que essa associao promove.

    Nesse sentido, a lngua deixa de ser tomada como objeto, como sistema esttico e acabado (como conoobdo por Saussure, 1970) ao qual o aprendiz estaria se assujeitarulo no processo unilateral de "incorporao' desse sistema pela prtica -"usage" - e passa a ser considerado como prooosso de maU:ria!izao do uso da lngua - "use" - (segundo Widdowson, op.cit.) na (re)oonstrw;o de oonbecimentos

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    pelos mqeitos inleractan!es. A lngua passa a ser o meio e no o fim; o foco o uso dessa lngua atravs de interaes que podem ser considemdas significativas devido ao esforo de construo de conhecimentos tambm significativos e no 0 estudo da estru1ura lingustica!funcionallnoconal para se chegar a um possvel uso futuro.

    A outra questo maior em torno de cujo eixo o Projeto "Interao e Relevncia no Ensino de Lnguas" bem como esta pesquisa se desenvolvem 1em a ver oom a relevncia dos COlltcdos construidos na ilt

  • ao

    na importncia dessa discusso para que se compreenda a noo de "relevncia" assumida neste trabalho de Wssertao. Tal discusso desenvolvida no Captulo 2.

    Assim, o processo que se pretende no o de proporcionar a aprendizagem da fom num primeiro momento para depois us-la numa opommidade futura, mas permitir que o apren.di2, no ambiente de sala de aula, construa na interao conhecimentos que contribuam para o seu crescimento intelectual e, ao mesmn tempo, adquira o sistema da lngua.

    A seguir, sero abordados os oontexros de pesquisa contemplados no Projeto 'lnlerao e Relevncia no Ensino de Lnguas'.

    1.4.2. CONTI!XTOS DE PESQUISA DO PROJETO "INTERACO E RELEVNCIA NO ENSINO DE LNGUAS"

    Os oontexros de interveno contemplados no projeto so os seguintes: duas 5 sries de uma escola pblica dD interior paulista. onde a profussora-pesquisadnra ensina ingls com contedos de Cincias e Geografu> desde 1992; uma 4 srie e 1lmli s srie de escolas pblicas, tambm de uma cidade dD interior paulista, onde as professoras-pesquisadnras respousveis ensinaram o ingls tambm com contedos de Cincias e Geografia no seguruto semestre de 1991 e durante o ano de 1992 respectivamente. H tambm uma 5' srie de escola pblica de uma cidade dD interior de Minas Gerais, onde a professora~ra ensinou o ingls da mesma 1lUIIlflrll que as anteriores entre 1991 e 1992. E :finalmente o contexto a que se refere este trabalho de pesquisa e que consta de salas de aula de Portugus para Estrangeiros de um cenlro de lnguas de uma universidade pmista. onde a autora desta dissertao atuou como professora-pesquisadi:lra durante trs semestres (de 199! a 1992) ensinando o Portugus como LE oom contedos de Histris dD Brasil.

    Vale ainda dizer que cada uma das pesquisadnras trabalha com fooo diferenciado de estodD dentro dD Projeto lnlerao e Relevncia no Ensino de Lnguas representando, nada um deles, uma rica fonte de dados futuros para os inleressados em interdisoiplinaridade no ensino de LE. Femlri (em andamento) fuca!iza a COilSfl"uo dD processo de interao aluno-a!WIO, aluno-profussor medisdD pelo material didtioo interdiscipl:inar. Bagbn (1993) estuda como se manililsta a motivao dDs aprendizes para aprender LE em contexto de ensino interdisciplinac. Marqaes {em andamento) busoa explicitar oom que coerncia a professora regente da interveno em sala de aula com ensino interdisciplinac atoa na prodw;ao da experincia de ensinac nessa abordagem especfica, considerando que essa professora vem invariavelmente de uma outre tradio de ensino.

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    H ainda as pesquisas associadas de Pdua (em andamento), Tlio (em andamenro) e Caldas (em andamemo} Pdua investiga as culturas de aprender dos alWJOS frente implementao da abordagem em questo, Tlo estuda as reaes do profussor de LE s inlervenes dos alunos no ensino interdisciplinar e Caldas analisa o funcionamento do sistema de avaliao nesse ensino - todas no contexto de 5' srie.

    Na prxima seo, trataremos da metodologia de pesquisa, incluindo oonsdernes acerca do tipo de investigao cientfica adotado neste trabalho, do desenho da pesquisa em termos desse tipc de investigao e da prpria anlise dos dados.

    1.!1. METODOLOGIA DE PESQUISA Esta seo trata da Metodologia da Pesquisa e est dividida em trs partes.

    A primeira parte explicita os pressupostos metodolg:cos que norteiam o desenho da pesquisa, a segunda parte focaliza os oontextos e ..geitos de pesquisa e os procedimonlos e nslrumentos adotados para a coleta de regiatros. Finalmente, a terceira parte explcita e discu1e os procedimonlos metodolg:cos utilizados na anlise dos dados oondozida no Captulo 3.

    1.5.1. PRESSUPOSTOS ETNOGRFICOS Tendo explicitado anteriormente as razes que levanun a optar pela

    realizao de uma pesquisa de carter etnognfioo utili>ando no s procedimonlos de descrio e anlise do contexto de rom interacional da sala de aula de PE como tambm de interveno nesse conlexto, cabe, agors, explicitar em linhas gens os pressupostos tericos da Etnogmfia para que se pcssan2 definir os estilos de pesquisa etnogrfico dosenvolvidos ru>.:a pesquisa.

    Dentro do escopo terioo da pesquisa etaognfica, vrias so as concretizaes possveis para a estruturao ou planejamento da pesquisa: pesquisa anaJitoo.1.5.1.1. A PESQUJSA ETNOGRFICA So mui:los os au1ores dentro da litemtura especializada que discu1em o

    conceito de Etnogmfia e as vrias ooncepes que desse conceito emergem,

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    apontaru:!o pma as carnctersticas, nstrumentos dre operaciona!izao e procedimentos utilizados neste tipo dre pesquisa (Hammersley & Atkinson, 1983; Erickson, 1986; van Lier, 1988; Hitchcock & Hughes, 1989; Cavalcanti & Mota Lopes,1991; Canado,l990; Moita Lopes, 1992; Santos,l993).

    Hammers!ey & Atlnson., por exemplo, definem este tipo dre pesquisa como um mtodo de pesquisa social que abnmge vrias fontes de informllo ela reala a preocupao com o todo social e com a viso dos participantes do contexto social (Cavalcanti & Moita Lopes, op.cit.:l38). Na verdade, a pesquisa etnogrfi.ca vem dre tradio dre Antropologia nas Cincias Sociais. Foi Malinowsk (apud Hitchoock & Hughes, op.cit. :52), um dos primeiros cientistas sociais a usar procedimentos etnogrfioos. Essa tcnica consistia ba.scamente no dreslocam.enln do pesquisador at o ambiente dre pesquisa (campo) - que poderia ser uma comunidade indgena, uma comunidade operria numa indstria ou subrbio dre uma cidade, uma escola, uma sala de aula, um bairro, oomtmdadre ou grupo de estrangeiros em uma cidade, etc; ou ~a, uma realidade particular - com o objetivo de descrever as carnctersticas destes grupos, suas organizaes socia!Jpolticaleoonmca, particularidredres de suas culturas, etc; e tentar interpretar esses universos diferenciados na relao com seu prprio ambiente e na relao com outros ambientes.

    Para que estudos dressa natureza fussem possveis, o pesquisador muitas vezes passava a morar na comunidade pesquisadre envolvendo-se no ambiente, let!lllndo integrar-se a ele para melhor compreend-lo. Para isso utilizava-se dre tcnicas de entrevistas e conversas com os sujeitos, observaes do ambiente e anotaes dre campo, gravaes em udio e/ou :lilmagJtual e cientfica. De acordo com Malinowslri, o objetivo dre etnognia :

    " ... compreender o ponto de visto do notivo (sujeito), sua relac com sua vida, para compreender sua vlsc de mundo. 18

    Esclarece Santos (op.cit.:lO-ll) que a pesquisa etnogrfi.ca, tradio da Antropologia, chega ao mbitc educacional, aqui referida principalmente no contexto da Lingulstica Aplicada, como um instrumento pertinente descrico de "vivncias COI!!extualizadas", no sentido de ofurecer uma maior consistncia na anlise de questes conoem.entes s idiossincrasias do educar, do ensinar e do 18 Todo. .. cita

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    aprender". Emenda-se por "vivncias contextualizadas" a descrio de cenrios de pesquisa oonsiderando suas especificidades numa perspectiva lnguistica, psicolgica e scio-culturn.l, isto , analisando particularidades no uso da linguagem, intmpretando comportamentos e explicitando a viso de mundo dos sujeitos envolvidos. A descrio dessas vivncias traz uma interpretao detalhada, de carter mico e llliilre:m lmlstica, com crirerios de anlise definidos a partir da tica da observao conferida aos dados. ( ... ) A sala de aula (grifo nosso), rica vivncia. contextualizada, constitui-se em um dos principais cenrios de pesquisa para se investigar e inrerpretar a construo do processo de ensino-aprendizagem'.

    Refuryam Cavalcami & Moita Lopes (op.cit: !36) que o objetivo central da Moderna Lingustica Aplicada na rea de ensino/aprendizagem de lnguas no mais simplesmente investigar o que antecede o processo de ensino~ e os resultados advindos dele, mas principalmente investigar e tentar compreender a construo do processo de ensino-apremlzagen:t Objetivando oompree!der o processo, a sala de aula possa a ser projetada como ambiente ~ e privilegiado de pesquisa A etnografia, por sua vez, por suas prprias coracteristicas apistemolgicas (por pretender levar o pesquisador ao campo considerando uma realidade social partcular, por oontemplar o =co de anlise interpretativista e, portanto qualitativa) vem se constituindo como tipo de pesquisa potencial para a realizao dos objetivos cientificos e metodolgicos pretendidos pela Lnguistica Aplicada oontemponinea na rea de ensino/aprendizagem de lnguas.

    A pesquisa de base antropolgica - portanto, a pesquisa emogrfica - parte de uma tradio de pesquisa nas Cincias Sociais, que questinna a validade da utilizao do paradigma positivista, tpico das Cincias Naturais. Esse questinamento se d devido llliilreza snbjetiva das Cincias Sociais (Cavalcanti & Moita Lopes, op.cit:l39). A pesquisa positivista baseia-se principalmente na verificao de hipteses, onde h a teorizao atravs de categorias pr-estabelecidas com base em interpretaes de carter quantitativo.

    A pesquisa emogrfica, por sua vez, contri-se tendo como alioerce o paradigma intezpretativisqualitativo. Esta perspectiva baseia-se na viao de que no contexto social no existe um significado/verdade nioo(a) - tpico da viso positivista - mas a construo de significados pelos participantes do contexto social - no caso em questo, alunos e profilssores. O que se quer neste tipo de pesquisa """"'inar a construo da realidade social" (Cavalcami & Moita Lopes, op.cit.:139).

    De acordo com Ericl

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    "um grupo formalmente organizado com caractersticas propnas, ll1eraes frequentes e atitudes heterogneas", como define Santos (op.cit.:ll) e que, segundo Erickson (1986:128) o foco em uma ecologia social. Para este autor:

    "O foco em uma ecologia social - seu processo e estrutura - est implcito na pesquisa sociallnterpretatiwl sobre o ensno. O pesquisador espera comprender as formas pelas quais profossores e alunos, em aes conjuntas, constrmn o seu re/aionamento. O pesqusador em campo examina cuidadosamente essa construo, registra--a em suas notas de campo, documentando a organizao social e cultural dos ewmtos, considerando que essa organizao de "significados em ao" representa o ambiente de aprendizagem e o contedo a ser aprendido .19

    Portanto, nesta pesquisa, apesar de tennos uma hiptese direcionadora inicial de que a abordagem interdisciplinar de ensino pode ser potencialmente capaz de produzir um prooesso interativo de ensinar e aprender LE diferenciado dos contextos regulares, no se !Iabalhar no sentido de procurar evidncias que possam confirmar essa hiptese. O objetivo examinar efe!vammlte o que acontece quando uma stwlo especfica de ensino fooaliVIda. Ou seja, examinar e interpretar como a realidade social deste contexto especfico construda pelos participantes (profussores e alunos).

    J fui afirmado anteriormente qoe, no escopo terico da pesquisa etnogrfica, muitas sD as ooncretizaes de desenhos de pesquisas de acordo com sua filiao paradigmtica e muitos sD os autores que descrevem essas possibldades em seus livros (Hammeraley & Atkinson, op.cit.; Hitcbcook: & Hughes, op.cit.; van Lier, op.ct.; Moita Lopes, 1992; Santos, op.ct.,etc).

    Para a caracteri:rJlo do tipo de pesquisa etnogrfica adotado nesta pesquisa, utilizaremos principalmente a categorizao adaptada pot Santos.

    1.~.1.2. OS CONTEXTOS DE PESQUISA E SEUS ESTILOS DE PESQUISA KTNOGRFlCA

    Moita Lopes (1992) difurencia a pesquisa de tipo etnogrfico, considerando a natoreza do fuoo a ser investigado em pesquisa de diagnstico e em pesquiso de interveno.

    A pesquisa de diagnstico fucalza a inveetigao do processo de ensino-aprendizagem na sala de aula com o objetivo de explictat como esta dinmica de

    ,. o original fui C

  • ensirw-aprender lnguas est sendo efutvamente realilada. Na pesquisa de interveno, o fuco dirigido para a investigao de 1liWl possibilidade de modfica; a sil:wio existente em sala de aula.

    Santos (op.cit:30-42) amplia essa c!assifica.o chamarulo a ateno para a necessidade de distino entre os termos interacional/inlmvencionista e no-inlmventivolinlmventivo na subrea de Ensino-Aprendizagem de L2 ou LE. Esclarece o autor que essa necessidade advm da interligao que se pode fuzer dessas modalidades de pesquisa com a categorizao dos estilos de pesquisa na rea de ensino-aprendizagem de lnguas no Brasil, definidos por Moita Lopes (1992).

    Retomando a distino bsica pesquisa diagnstica.lpesquisa inlmventiva estabelecida por Moita Lopes, Santos distingue entre pesquisa interaconal analtico-descritiva e pesquisa interacional inlmvenconis!a.

    "A pesquisa nteracional analtico-descritiva refer.,...., a 1liWl vertente terica que analisa a reciprocidade de relaes didicas ou polissncas na oonstruo de sentidos, motivadas por um uso efutivo da linguagem, isto , uma interpretao analtica do contexto, considerando as idiossincrassa da negociao e as coodies scio-histricas e lngusticas na interao" (Santos,op.cit:30). Ao investigar o processo sob esse pordo de vista, o pesquisador tem que estar ciente de que esse contexto seguramente no ser mn contexto de rotina, mas um contexto virtual, oode a presena de elementos outros (o pesquisador, o auxiliar de pesquisao gravador, a filmadora, o ato de anotar do pesquisador,etc) podem alterar desde a organizao da aula pelo profussor at os nveis de tenso ua construo da interao em sala (p.34). O autor utiliza os lermos "ro!in.a" e "contexto virtual" para referir-se, respectivamente, sala de aula sem a presena do pesquisador, oode no h alteraes DO curso habitual do desenvolvimento da mesma, e sala de aula com a presena do pesquisador, oode oertamen!e baver modificaes a esse respeito.

    Um exemplo de pesquisa interacional analtico-descritiva o trabalbo de dissertao de mestrado de Machado (1992) que enfoca a fla do professor ua interao da sala de aula. Outro exemplo seria a dissertao de mestrado do prprio Santos (op.cl.), cujo fuco a observao de aulas de LE (ingls) moduladas pelo livro didtico. Relacionando essa nomenclatora com a nomenclatora proposta por Moita Lopes, Santos ainda acrescente que a sua pesquisa pode ser classificada mais precisamente como pesquisa diagnstica interacional anal:itioo-desc

    J a pesquisa intervencionista (ou inlmventiva) refure-se a uma interposio do pesquisador nas i:nteraes, DO que concerne ao estabelecimento de regras para as coodies de produo do diacurso, ou "'?ia, o pesquisador modula o aconteoer

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    da sala de aula com base no foco de investigao a que se prope examinar. Instaura-se, pois, um conlexlo produzido, onde o pesquisador estabelece os referenciais-base para o deseocadeanrent do processo de ensino-aprendizagem. Com "contexto produzido" Santos (op.cit.) est querendo se refurir s orientaes que o pesquisador fornece aos professores e alunos, bem como ao material que porventura introduza na sala de aula. Essa interveno diferencia-se das condies de interao produzidas em coniexto vrtua!, onde a alterao decorre apenas da presena de elementos outros (o pesquisador, o gravador, etc).

    De acordo com o aulor, em um contexto produzido, a interao encaminha-se conforme a postura do pesquisador, prevaleoendo suas """""f'e epistemolgicas. No entanto, preciso lembrar que nem tudo na prtica de ensino pode se configurar como planejado teoricamente. O professor/pesquisador pode ter um habitus de ensinar e (aprender) cujos pressupostos tericos so diferenciados dos relativos proposta adotada para o contexto de interveno, e que pode vir a influenci-lo em algum momento, filzendo-o "desviar da rota" mesmo que de furrna sub..ronsciente. Esse aspecto (sob investigao minuciosa por Marques da Silva , em andamento) deve ser levado em considerao no momento da anlise dos dados e interpretado criticamente.

    O que diferencia a pesquisa intervantiva da pesquaa interacional, segundo Santos (op.cil.), a natureza do conlexlo que se instaura. Na "pesquisa interacional tem-se o contexto virtual, que considera as idiossincrasias da negociao e as condies scio-histricas e lingusticas da interao, enquanto que na pesqoisa intervencionista tem-se o contexto prodozido, termo usado para caracterizar o oenrio onde o pesquisador estabeleos os referenciais-base para o desenoadeameoto do processo de ensino-aprendiz" Q>.38). Dessa ii:.ma, a pesquisa no-interventiva (termo tambm utilizado pelo aulor) investiga os fenmenos considerando-os em um conlexlo virtual, observando o oenrio e a cena, fazendo registros e descrevendo as especificid&les desses oenfic,,. A pesquisa intervantiva objetiva uma interferncia planejada no oenrio e oens , isto , considerando-os enquanto contexto produzido e rotinas para, modificadas, implantar novas sistemticas de atuao dos sujeitos no futuro.

    Convm ainda acresoen!ar que os propsitos da pesquaa nterventiva muitas vezes so relacionado aos da pesquisa-ao, onde pretende-se modificar a pnl!ica dos prprios professores responsveis pelas salas de aula pesquisadas. No entanto, nos prooedimen!os interventivos :realizados nesta pesquisa, o objetivo, !lllll1 primeiro momento, "implementar novas sistemtinss de atuao" apenas do profussor-pesquisador e dos alunos, uma vez que no se objetivou que os profussores titulares das salas de aulas focalizadas participasaem (necessariamente) das anlas de interveno. Em um segundo momento, a partir dos resultados

  • 27

    alcanados, espera-se fumecer subsdios tericos para a formao de professores, lanando mo do corpo de conlrecmentos engendrado na pesquisa

    1.5.2. O DESENHO DESTA PESQUISA Um dos elementos formadores do desenho da pesquisa exatamenle o do

    contexto que serviu oomo cenrio para a realizao do estado. Assm, cabe, antes de mais nada, explicit-lo de fomm breve e sobre ele tecer algumas oonsideraes.

    Esta pesquisa foi realizada numa universidade paulista envolvendo um grupo de aprendi:res jovens adultos de Portugus para Estrangeiros cuja lngua materna no era o espanhol - GPNFE.

    Neste oon.texto, a pesquisadora atoou em dois momentos distintos e oom papis tambm diferenciados: atoou simultaneamente oomo observadora das aulas regulares minstradas pelas professoras titulures e como professora interveutiva, utilizando para o ensino da L-alvo, uma abordagem diferenciada da utilizada nas aulas regulllteS.

    Convm dizer, no entanto, que a Instituio investigada mautm cursos de Portugus para Estrangeiros com salas de aulas separadas para :fhlan!es de eapanhol e no flantes de espanhol. No incio da realizao desta pesqusa, propllllha-se trabalhar com esses dois oon.textos, uma vez que existem poucos trabalbos na rea que focalizam o processo de ensino-aprendizage de Portugus para flantes de eapsubo!. Alm disso, a possibilidade de oomperao entre o processo interativo de sprendizagem/aquisio por flantes de eapsubol e no flantes de eapsubol poderia revelar particularidades de interesse para a melhor compreenso do processo de eru.~-aprender uma LE.

    Na verdade, o trabalbo de pesquisa fui realizado IIOSSliS doas salas de aula. No entanto, nesta dissertao, apenas o GPNFE ser C

  • 28

    quatro situaes distintas a serem analisadas. Isso certamente tornaria o trabalho por demais complexo e extenso.

    Apesar de considerar somente o GPNFE como contexto primrio de pesquisa, decidiu-se pela incluso do GPFE como contexto secundrio. Dessa ma.nera, a pesquisa realizada em um contexto principal de estado - GPNFE - e duas situaes diferenciadas: a das aulas regulares (GRNFE)20 e a das aulas de interveno (GINFE)21 Alm disso, num segundo plano, a pesquisa considera como oontex:to secundrio, o GPFE e as mesmas duas sitoaes difirrenciadas do oontexto principal (GRI'E22 e GIFE23). Os dados coletados nos dois momentos da sala de falantes de espanhol podero funcianar como emiqueoedores para a oonstruo das asseres e fonte de evidncias confirmatrias e desoonfumatrias dessas asseres.

    Considerando a nomenclatora proposta pera a definio dos estilos de pesquisa, a seguir temos um esquema do desenho da pesquisa em termos da sua estruturayo metodolgica:

    DESDIHO DA PBQIIISA

    FIG. 1

  • Os contextos pontilhados compem os dados secundrios e os contextos com linhas ooninuas compem os dados primrios. As flechas pontilhadas irulicam as possveis articulaes entre os contextos, e as flechas contnuas, as possibilidades mais diretivas dessas articulaes. Observa-se que as flechas do conlexto secundrio para o primrio so unilaterais justamenle porque o dedos trnzdos deste contexto f\nmionam como elementos enriqllllC

  • Alm disso, outras tunnas iniclllltes e avanadas (com as mesmas caractersticas das tunnas dos contextos primrios) foram acompanhadas esporadicamente durante os dois semestres j mencionados, e durante o segurulo semestre de 1992 tanto nas observaes das aolas regulares, quanto atravs de intervenes. Dados provenientes desses contextos so algumas vezes trazidos na anlise dos dados quando da inte!pretao, como forma de evidncills con:finnstrills ou descon:firmatrills das asseres oonstrudas, enriqueoendo, assim, os dados pr:imrios.

    Explicitamos na seo anterior que cada contem de pesquisa possui dois momentos diferenciados: o momento de realizao da pesquisa interacional analitco-

  • 3!

    Assm, para a coleta de registros (dunmte os trs semestres) nos momentos de realizao das etnografias das aulas regulares foram utilizados os seguintes nstrumentos nos dois contextos: l) observao de aulas com anotaes de campo.

    Foram observadas e anotadas cerca de 26 horas de aula no GPNFE e 18 horas da nas GPFE.

    2) gravaes de aulas em udio e realizao de transcries. Foram gravadas oerca de 10 horas de aulas no GPNFE e 08 horas no GPFE.

    Mais da metade das aulas pertencentes a esse corpus de registros foi transcrita parcialmente. Trs aulas do GPNFE e wna do GPFE foram transcritas por completo.

    3) questionrios destinados aos professores titulares e aos alunos. Foi aplicado mn questionrio s professoras com questes diversas

    relacionadasjrrincipalmente abordagem de ensino constituda nas aulas regulares e ao posicionamento pessoal de cada wna em relao aos pressupostos tericos snbjaoente abordagem. Pl respondeu ao questionrio por escrito e P2 preferiu gravar em udio as questes em conversa i:nfunnal com a pesquisadora (vide Apndice 3).

    Foram aplicados dois questionrios aos alunos. O primeiro, com o objetivo de obter infurm.aes pessoais diversas acerca dos aprendizes. O segundo, com questes investigadoras da furlnao escolar de cada mn (vide Apndice 4).

    4) anlise de documentos. Foram analisados os programas e ementas dos cmsos e o material didtico.

    J na coleta de registros nos momentos de re?Jizao das etz:c,grafias das aulas de Interveno fuillm utilizados os seguintes nstrumeutos: 1) pl~amento das aulas de interveno.

    2) dirios de aulas (escritos num momeeto imediatamente posterior s aulas).

    3) gravaes de aulas em vdeo. Foram gravadas oerca de 16 horas no GPNFE e 04 horas no GPFE.

    4) gravaes de aulas em udio e realizao de transcries. Foram gravadas oerca de 14 horas de aula no GPFE e 08 horas no GPFE.

    Mais da metade das aulas pertenceutes a esse corpus de registros fui transcrita

  • 32

    parcialmente. Trs aulas do GPNFE e UIIJl1 do GPFE foram transcritas por completo.

    5) entrevistas e questionrios semi-estruturadas fuitos com os alwtOs.

    importante ressaltar que os dados primlrios desta pesquisa constituem-se dos registros obtidos atravs das gravaes em udio das aulas regulares e das aulas de interveno do contexto primlrio dos cursos Portugus para no Falantes de Espanhol miniatrados no 2 semestre de 1991 (Portugus para Estrangeiros I -como designado pela Jnst:ituio) e no 1 semestre de 1992 (Portugus para Estrangeiros !1), bem como das transcries futas a partir dessas gravaes.

    1.5.3.1. OS SUJEITOS DE PESQUISA Tendo j explicitado os contextos da pesquisa, preciso agora tratar sobre

    os sujeitos neles envolvidos. Considerando o contexto de pesquisa descrito an!erionnente, e que o foco deste trahalbo o estudo da interao, os sujeitos de pesquisa so os professores e os ahmos inseridos no processo.

    Sujeitos do contexto primrio: GNFE Pesqoisa Interacion.al Analtico-Descritiva: Duas professoras titulares que ae revezam (Pl e P2) e uma tnnna por onde pessaram oerca de 26 alwtOS no curso Portugus para Estrangeiros l (2" aemestre de 1991) e cerca de 15 alunos no Portugus para Estrangeiros li (1 aemestre

  • passaram por exame de proficincia. Esse dado valido tambm para o procedimento de interveno (descrito ahaix) realizado nesse contexto. ~ !nteracional lnleryentiva: A profussora/pesquisadora {Pp) e a mesmas turmas de alunos do Portugus paraFfalantes de Espanb:ll I e do Portugus para Falantes de Espanhol n.

    Convm esclarecer que P 1 a mesma pessoa no oontexto da sala de fulantes de espanhol e na de no falantes da espanhoL Da mesma furma, a Pp que intervm nas doas salas de anla a mesma. Portanto, existem trs professoras distintas sendo fuco de anlise nesta pesquisa: Pl, P2 e Pp. Por ocasio da anlise dos dados realizada no Csptulo 3, sero trnyados os perfis tanto das professoras quanto dos alunos.

    1.5.4. PROCEDIMENTOS PARA A ANLISE DOS DADOS Destaca Moita Lopes (1992:12) que estudos etoogrfioos e rmcro-

    etoogrfioos na sala de aula, devido s suas prprias naturezas so essenciais para a compreenso do processo interativo. Aasim, a anlise dos dados prev uma macro-anlise e uma micro-anlise em cada um dos contextos de ensino pesquisados - o regular e o nterventivo.

    Para que se possa conhecer a operaciomlza.o do ensino nas duas sitoaes, num primeiro mamen!o :fuz-se uma descrio em termos das fusos previstas no Modelo de Operao Global de Ensino de Lnguas (Almeida Filho, 1993), passando-se em seguida para as anlisea proprumnte ditas.

    A macro-anlb

  • 34

    O prximo captulo tratar, primeiramente, de II1l'Il wn esboo do que tem sido feito, ao longo dos IUlOS, em termos de pesquisa ao tvel de ps-graduao oom fooo na investigao sobre o ensino-aprendizagem de Portugus/Lngua Estrangeira. Justificar...,..., tambm, luz desses trabalhos, a opo pelos estilos de etnografia adotados nesta pesquisa. A seguir, ser apresentado o referencial terioo desta pesquisa, tanto no que diz respeito proposta de abordagem de ensino de lnguas adotado na pesquisa interacional interventi:va, quanto no que se refere anlise dos dados. No Capitulo 3 ser apresentada a arulise dos dados e, finalmente, no Captulo 4, as concluses e encamnbamentos de sngestes parn pesquisas futuras.

  • CAI'TlJLO 2

    REFERENCIAL TERICO DA PESQUISA

  • CAPITUWl

    2. INTRODUO Este captulo aborda questes relacionadas ao refurenci.al terico da

    pesquisa e est dividido em duas partes. A primeira fucali.za o desenvolvimento de pesquisas na rea de ensino-aprendizagem de PE no Brasil, localizando, nas laclll!BS detectadas, o presente tnlbalho. A segunda parte trata dos referenciais tericos propriamente ditos, tanto no que diz respeito proposta de abordagem de ensino interdisciplinar adotada na pesquisa interacional interventiva integrante deste trabalho, qwwto ao que se refure anlise dos dados.

    2.1 A PESQUISA EM PORTUGU~NGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL

    Nesta primeira seo, ser reito um mapeamento do que tem sido realizado no Brasil em termos de pesquisa na rea de Lingustica Aplicada I Ensino de Lnguas, com fuco especifico na investigao de questes coru:ernentes ao ensino-aprendizagem de Portugus/Lngua Estrangeira. O objetivo desse mapeamento oferecer uma idia das tendncias metodolgicas e temticas segoidas pelos pesquisadores ao longo dos anos, fucalizando os estilos de pesquisa por eles adotados bem como seus focos de investigao. Nesse percurso, tenta-se detectar algumas laclll1BS """"" realidade para, finalmente, localizar a prasente pesquisa em termoa de algumas das lacunas evidenciadas .

    Vale dizer que a Universidade Estodual de Campinas (UNICAMP) j conta oom uma biblioteca especializada pioneira em pesquisa na rea de PE (inaugurada duran!e o ill Congresso Brasileiro de Lingustica Aplicada, realizado na UNICAMP em agosto/setembro de 1992) contando oom um acervo de trabalhos publicados e no publicados. Tal acervo compreende desde materiais didticos, livros de ensaios, teses de mestrado (ainda no se tem noticia de nenhum trabalho de doutorado na rea), projetos, aoais de congressos e at dooumentos e trabalhos inditos de alunos dos cursos de ps-gmduao em Lingstica Aplicada da UNICAMP.

    Assim. o mapeamento proposto baseou-se principalmente no materi.a1 dessa biblioteca que, para ser montada, teve a oolabonlo de profissiunais da rea de prsticamenle todo o pais, seja atravs de envio de infunnaes ou atravs de doaes de materi.al.

  • Z.U PUBLICAES Ao longo dos IU!OS, as publicaes de tmbalhos no Brasil com foco no

    trntamen!o de questes ligadas ao ensiliD-aprendizag de PE restringiram-se ao esforo individual de autores como Gomes de Matos (l987a; 1987b; 1992), Almeida Filho & Lombello (1989, 1992) entre outros. Essas publicaes inseriam-se geralmente em revstaslperidicos estrangeiros e/ou brasileiros de divulgao cientfico-profissional em LA e s vezes nas revistas de Lingstica Gemi.

    Nos ltimos IU!OS, porm, podemos pres

  • ,.

    Bolognini (1985); Kunzerulorlf (1986); Coln Rodea (1990); Canado (1990); Morita (1993); Fonto (1993) e Ferreira (em andamenlo).

    Zink Bolognini, j em 1985, demonstra preocupao em investigar o processo interativo na aquisio de PE, apesac de ainda no ter clllllllrulllte acesso a procedimentos de peaquisa etnogrfica. Os sujeitos da investigao so crianas cuja lngua materna o alemo e a autora trabalha caracterizando os estilos de interao observados, apontando para as causas e oonsequncias do emprego desses estilos.

    Na literatura h registro de poucos trabalbos nessa linha com o objetivo de caracterizar estilos interncionais focalizando o ensioo-aprendi"'!lem de adultos aprendendo o Portugus em sitoao de imerso no Brasil - vale lembrar que os adultos estrangeros constituem a maior cliPor essa linha metodolgica, segoe tambm o trabalho de Ferrera (em andamento) que fucaliza um contexto especfico de eosino de PE: os CEBs (Centros de Estudos Brasileiros). O objetvo da peaquisa analisar lvros ddtioos t O tnlboOO de MOUlll (1986)- c avalio cinco livrao didli= de I'E poblkadoo"" Bnlsil- aiOlbc

  • de PE em utilizao na sala de aula, considerando os procedimentos metodolgicos e recursos proporcionados pelo livro didtico na interao professor/aluno/textos. A autora busca tecer uma avaliao critica do ensino atual nos CEBs. A partir dessa anlise bsica ser possvel estruturar propostas de possveis refunnu!aes para o funcionameuto dos cursos bem como estrut:orar cursos especficos para a funnao de profussores- o que se constitui no objetivo final da pesquisa e coloca a possibilidade de empreendimento e implementao de tais propostas como fuutes de futuras pesquisas.

    Cuado (op.cit), Coln Rodea (op.cit.), Morta (op.cit), e Fonto (1993) confirmam tambm a tendncia de realizao de pesquisas na sala de llllla utilizando-se especficameute de procedmeutos etnognfioos e com foco no ensino-aprendizagem de adultos.

    Canado realiza o que poderia ser chamado de 'metaetnografia", ou seja, mouta uma pesquisa cujo objetivo fornecer um roteiro para o pesquiaador que queira utilizar-se de Etnografia, testando tambm sua aplicabilidade e proporcionando ooobecimeuto critico de seu funciOIIllllleuto em uma situao real de ensino de Portugus-Lngua Estrangeira. Para isso, toma como contexto de pesquisa adultos estrangeiros aprendendo Portugus em uma mriversidade federal mmerra.

    O trabalho da autora de grande interesse, uma vez que se registra atualmente a cresoeute adeso de pesquisadores da rea pesquisa etnogrfica. Criticas quanto s potencialidades e limitaes desse tipo de pesquisa podem ser inferides a partir da leitura do trabalho, servindo como orientao para quem pretende trabalhar nessa lioba.

    A pw.quisa de Colin Rodea traduz bem o que vem a ser a pesquisa etnogrfica. Seu foco de estndo tambm a interao, sendo que a autora no fucaliza apenas o evento da sala de llllla, mas tambm situaes interativas de comunic

  • ensno-aprerulizagel so consideradas; estimulando o surgimemo de VBruiS questes o que, sem dvida, dificulta o "amarnmento' e articulao de todas as partes da nvestigalio. No entanto, nota-se o empenho no desenvolvimento de um trabalho qualitativamente rico nos dados e asseres, e preocupado com a nvestigao dos futores envolvidos no complexo processo de ensno-aprendizagem de llllllllngua nlll!lll perspectiva lOiris ampla

    Alm disso, um dos nicos trabalhos a focalizar a aprendizagem do portugus por tiantes de espanhol, lll!lll rea to rica de dados j que so nmeros os flantes de espanhol residentes no Brasil - e to carente de nvestigaes. Na anlise dos dados, a autora, entre outras questes, aborda a influncia da proximidade tipolgica do portugus/espanhol no prooesso interativo de aquisio/aprendizagem do Portugus por flentes de espanhoL Espera-se, ao incluir wn contexto de aprendizagem de PE para flantes de espanhol nesta pesquisa, contribuir, seno diretamente - lll!lll vez que se trata de wn oontexto secundrio de nvestigalio pelo menos oomo estimulo para pesquisas futuras.

    J o trabalho de Morits fucaliza a interao sob nma perspeciiva diferente. O objetivo da pesquisa o exame de nma atividade exlm-

  • 41

    relacionado ausncia de um tratarnen1o pedaggico processual tanto em sala de aula quanto na literatura de rea

    Desenvolvondo-se numa linha de pesquisa distinta de que se tem confirmado ultimamente na rea de Lingstica Aplicada !Ensno de Lngnas, mas convivendo smultaneamente com tal tendncia, encontram-se os trabalhos de Arai (1985), Lm (1991) e Leiva (em andamento)'-

    Arai investiga a fluncia na fuJa espontnea de estrangeiros fulantes de lngua portuguesa como segunda lngua e analisa a possvel relao entre a fluncia e as estratgas do plan'!iamento de discurso.

    Considerando que alguns indivdoos tm mais fcilidades que outros na aquisio de uma LE, o objetivo pesquisar o que torna um aprendiz mais fluante que outro na aquisio dessa lngua. Os regstros foram coletados por meio de entrevistas infunnais gravadas em udio com vinte estrangeiros resideotes no Bmsil. Para a anlise dos de/los. a autora definiu o conceito de "fluncia' em termos quantitativos, ou s'!ia, jeferindo-se quantidade de tempo preenchido pelos fulantes que Fillmore (l979J define como"a habilidade que o flanle possui de flar muito tempo com poucas pausas- a habilidade de preencher tempo filiando".

    Dessa liWlflira, a partir de elencao e anlise dos dedos quanti!ativos, a autora estabelece critrios de fluncia (vinculados ao critrio-base j explicitado), defundendo a existncia de uma ligao entre a fluncia e o uso de pausas e preenclwdores de pausas.

    Da mesma fonna que Arai, Lm segue uma perspectiva diferente dos trabalhos etoogrficos para a estruturao de sua pesquisa. Interessada na investigao e descrio do processo de aquisio de apenas um aspecto lingstico do Portugus, a pesquisadora selecona, nos dedos coletados, somente momentos demonstrativos do processo em questo, no sendo seu objetivo ater-se aos mecanismos de interlocuo e interao constitutivos do discurso, ou ltores e variveis que envolvem o oontexto de apmrulizagam num sentido mais amplo.

    Partindo do pressuposto que os fulantes de coreano (uma lngua posposcional, portanto tipologicamente distante do portugus, que preposicional) eltperimentam dificuldade em adquirir fonnas preposicionadas durante o processo de aquisio do portugus como 2'liagua, Lm desenvolveu em seu trabalho um estodo loogitodnal de caso, onde uma jovem coreana de dezessete anos foi observada em situao de aprerulizagam do portugus em contexto de imerso no Bmsil, durante mn perodo de dez meses, atravs de gravaes em ndio.

  • Os foros centrais do estudo foram: a) verificar como se d a aquisio da preposo "de" em suas vrias realizaes semnticas e; b) analisar os casos de inle!ferncia da lngua nativa do sujeito na aquisio dessa preposio.

    Outro exemplo de pesquisa pontual a realizada por Leiva. Preocupada com questes tambm ligadas ao campo de investigao da Lingstica, a autum desenvolve um trabalho de calalogao e anlise (em !elmos do desenvolvimento dos processos de evoluo histrica e pragmtica) de flsos cognatos em Portugus e Espanhol.

    Apesar de haver notcias de outros trabalhos de pesquisa j realizados como o de Heinricb (1993) e o de Reis da Costa (1994), ou em realizao, no grande o volume des prodoes na rea de pesquisa em Linguistca Aplicada/Ensino de Lnguas com fuco em questes relacionadas ao ensino-aprendizagem de PE se considerarmos o nmero de pessoas que, direta ou indiretamente esto envolvidas na rea. Ponto a fvor que pode ser considerado o pooco tempo de tradio de ensino formal do Portugus como Lngua Estrangeira em esoolas especializadas e urriversdades.

    Em relao aos tmbalbos de pesquisa ao nvel de ps-graduao, a produo, apesar de progressiva, claramente insuficiente, desenhando-se ao pesquisador, como se procurou mostrar, inmeras lacunas.

    Pela anlise dos trabalhos mostrados pde-se verificar a tendncia marcante de realizao de peaquisss etnognficas fuca.lizando questes relacionades ao processo mais amplo de ensino-apreru:lizJogem de lnguas. Nesse mbito, a interao emerge como ~ foro de investigao para os pesquisadores da rea, j que se constitui como elemento fulcral para enlelldimento dessas questes, como atesta Moita Lopes (1992). Em menor volume, mas ainda em processo ativo de desenvolvimento, no entanto, possvel encontrar tmbalhos3 que se guiam por procedirnentos metndolgicos :llagrantes da tradio positivista dos peaquisadores e/ou orientadores - o que, por sua vez, COilfuma um atrebrumto epistemolgico/ideolgico por parte desses profissionais (linguistas aplicados) aos propsitos de investigao da Lingstica - cincia esla que, por muito tempo, oonsiderou a Lingustica Aplicada como uma mera ramificao de si mesma.

    Assim, pode-se encontrar pesquisas pautadas em anlise quantitativa, anlise contrastiva, estudo de caso, fuco de estudo em apenas urna fonte de dados, fuco na investigao da aquiso isolade de apenas um componente estrutural da lngua e procedimentos outros caractmisticos da pesquisa positivista.

    Com essas oonsideraes, no se pretende absoJutamente negar valor a tal linha de pesquisa. Certamente tmbalbos anallticJo de pesquiR ~ an AllD.ida Filho, LC.P. &: Lombello, !.C. (1!189 e 1992).

  • 43

    lingsticas como o de Lirn, e de aruilise quantitativa como o de Arai so oonlrihuidores diversidade das pesquisas em PE.

    No entanto, focalizar o desenho de pesquisa e linha metodolgica seguida nos trabalhos pode ser um bom exerccio de reflexo sobre "fazer cincia". Sem dvida, a opo por uma ou outra linha metodolgica de pesquisa, bem oomo a definio do problema a ser investigado implica uma posio pessoal do profissional Essa, por sua vez, revela sua prpria ideologia de vida, sua formao cientfica, enfim, o que o pesquisador acredita ser "fuzer cincia" e, nesse sentido, fuzer cincia em Lngustica Aplicade.

    Para o desenvolvimento da pesquisa que aqui se apresenta, procurou-se seguir, oomo j explicitado anteriormeote, os pressupostos cientifico-ideolgicos da contemporoea Lngustica Aplicada/Ensino de Lnguas segundo coooepo assumida por Cavalcaoti & Moita Lopes (1991); optando pela Etnografia oomo tipo de pesquisa e por prooedimentos de interveno em sala de aula oomo um dos estilos de pesquisa etnogrfica adotados . Vale reforar que uma das razes pelas quais optou-se por este estilo de pesquisa fui a ooustatao da quase inexistncia de pesquisas dessa natureza (c.f Almeida Filho et alii, 1991), aliada crena na necessidade de prooedimentos de interveno para que se possa vir a iluminar o lado dos significados oonstru:dos atravs de propostas alternativas para o ensino de lnguas - e mais especificamente para o ensino de PE.

    Tendo localzado este trabalho no cenrio geral de pesquisas desenvolvidas com fuco no ensino-aprendizagem de PE, passar.....-. a tratar, nas prximas sees, do arcabouo terico no qual o trabalho se insere.

    2.2 A ABORDAGEM TRADICIONAL DE ENSINO DE LNGUAS: UMA REALIDADE NAS SALAS DE AULA DE PORTUGUt!J PARA

    ESTRANGEIRQ!: Pesquisas sobre o ensino de PE como as de Kunzendorff (1989), Colin

    Rodea (op.cit.) e Fonto (1991) confumarn situao semelhaute detectada no COilteJ

  • 44

    vezes depara-oe oom cursos de "treinamento" de professores empenhandos em oferecer novos modelos e 'receitas" milagrosas e com pesquisas que tmllilm provar a eficcia de tais procedimerrtos (Almeida Pilho et ali, 1993).

    Assu:me-oe aqui, no entarrto, no existir o "melhor mtodo" , uma. vez que o sucesso de sua implementao depende muito do que Prahhu (1990) denomna de senso de "plausibilidade" do professor. Esse senso de plausibilidade consiste no nvel de compreenso e envolvimento que o profussor tem que ter com os conreitos de ensnar e aprender ~acentos ao mtodo. De acordo com Prahhu., se o senso de plausibilidade do profussor est engajado coerentemente na operao de ensino levada a eleito, e ela no simplesmente uma aplicao mecnica de "receitas", h maior possibilidade dessa atividade de ensino ser produtiva.

    Atravs desse raciocnio, pode-se chegar a dizer que o cerne dos problemas de implementao de prtica de ensino e dos consequentes problemas na interao em sala de aula no parecem estar somente na metodologia adotada pelo professor, uma. vez que essa apenas uma. des fusos constituintes de complexa operao de ensino. Acredita-oe que o centro de toda operao looaliza-se numa. instncia superior que abarca e influencia !odes as demais fses de operao de ensino: a abordagem.

    Almeida Pilhu (1993:17), define abordagem oomo um conjunlo de disposies, conhecimeotos, crenas, pressllpOS!os e eventualmente princpios sobre o que linguagam lmmana, lngua estrangeira, e o que aprender e ensnar uma. L-alvo. Enquanto fora potencial, a abordagem direciona as decises e aes do plauejamento de todas as outras fses da operao !!loba! de ensino. Assim, para que haja configurao de um ensino produtivo em sala de aula, preciso que o profussor estja consceui dos pressupostos tericos constiluin!es de abordagem que subjaz a esse ensino. preciso que ele conhea e enteada o princpios terioos dessa abordagem e identifique-oe oom eles .

    Pensarulo na srw:o de ensino de PE apreendida atravs dos dedos das pesquisas acima citadas, sabe-oe ser ainda predominante a utilizao (consciente ou no) nas salas de aula de prticas de abordagem de ensino estruturalista -apesar de, algumas vezes, os profussores assumirem-se oomo "oomoncativistas", utilizarulo-se de livros didticos que se intitoiam oomo tal, mas que nade mais tzem do que "travestir" o estruturalismo com uma "roupagem" comunicativa. Em outros casos ainda, os professores, assumidamenfe "eclticos", parecem transitar por m

  • alunos frente aos resultados no processo de construo dos conhecimentos, colocando em cheque a validade desse ensno.

    A abordagem assumida (conscientemente ou no) pelos profussores para o ensino que determina os estilos interacionais assumidos por eles em sala de aula e caracterza o tipo de aula construda. Assim, como resultado das aulas tipicamente encontradas nas salas de aula de PE (c.f Coln Rodea, op.cit e Fonlo, 1991) comum detectarem-se interaes pouco negociadas onde professor e aluno cr.mprem um ritnal de prtica da lngua (com papis sociais hierarquicamente pr-estabelecidos) atravs de exerccios de rotinizao, preenchmento de lacunas, etc, cuja relevocia de contedo pode ser altamente qnestnnada - so as chamadas interaes "engessadas', como definido por Almeida Filho et alri (1991).

    de consenso geral que o quadro problemtico e nsatsftrio, e esforos precisam ser feitos no sentido de reverter esse quadro. So mnitas e conhecidas as criticas feitas ao ensino estruiuralsta, audolngnalsta (c.f Wilkns, 1976; Wddowson, 1978) e mesmo a algumas configuraes das tendncias com:unicativstas de ensino de lnguas como o nocional-funconalsmo (c.f Widdowson, 1978). No entanto, acredita-se no ser suficsme pensar em mudanas ao nvel metodolgico. preciso ir ao oerne do problema, levando a reflexo ao nvel da estrutura - o que, nesse caso, significa pensar em abordagem.

    Almeida Filho (1990) articula essa posio propondo um Modelo de Representao da Operao Global de Ensino. Para que se possa entender melhor tal posicionamento, lllzem-se necessrias a apresentao e discusso desse modelo - o que ser realizado a seguir.

  • 2.3 O MODELO DE OPERAO GLOBAL DE ENSINO DE LNGUAS

    Vsando oferecer uma macroestrutw-a representativa da gnmde e oomplexa operao de ensinar uma LE, Almeida Filho (1993) prope o seguinte modelo

    Pkmejomenlo de Cursos

    (midade.) de Ensino

    (produ;:& ou ..leao)

    I \

    AvotiOo do Rendimento

    ' / ,_ -""

    ---~-Instrumento. Produzidos .00 c.-

    FIG. 2

    Segundo descrio do funcionamento do modelo fuita por Loureno (1992), a representao se eatrutw-a em trs nveis, ordenados hierarquicamente de acordo oom graus decresoentes de abstrao e amplitude. No primeiro nvel, oonoentram-se sinle!icamente numa instncia ideolgica trs verteo!es: uma teoria sobre a natureza da lngnagem }mmana, uma teoria de ensinar e uma teoria de aprender -configuradoras de um oonstrulo terico-abstrato, a abordagem, que oriente e nf!nencia toda a operao global de ensino, e que perpassa os demais nveis. Essa reorias se apoiam numa competncia implcita, na forma de um b.abitus (Bourdieu, op.cit.) ou seja, predisposies para realizar o ensino de detennnadas ~- S o estudo e a reflexo podem elevar a competncia implicits para um nvel de competncia aplicada, que oonsste num saber terico e no ato de saber fuzer e ensinar de acordo com esse saber consciente.

    a abordagem, afirma Almeida Filho, que oriente os prooedimenos pedaggicos do profussor ao ensinar e explica o porqu de tais prooedirnentos. No

  • entanto, por enrontrar...., ao nvel de maior abstrao, nem sempre essa abordagem explicitada e =entemente conhecida por ele. Apesar disso, ela existe e o professor age a partir dela e no a partir de mtodos conhecidos, cortados, colados, e treinados.

    preciso lembrar ainda que a abordagem no se constri de forma neutra (pautada apenas por pressupostos tericos) operando num vcuo. Ela opera num ambiente socialmenle organizado onde a filosofia des instituies educacionais e mesmo dos prprios professores, e os objetivos pedaggicos estabelecidos por eles ao nvel de implementao do ensino (como curriculo, planejamento, escolha do livro didtico) so aspectos que influenciam sua construo. Alm disso, os proressores enqnanto profissionais e alunos que furam, vieram adquirindo o que Bourdieu (op.cit.) define como "habitus" - ftor tambm determinante na constituio do construto. Confurme concepo de Bowdieu (op.cit.: 191), "habitus" diz respeitu ao "sistema des disposies socialmente costitudes que determinam o princpio gerador e unificador das prticas e des ideologias caractersticas de um grupo de ..gimtes.

    Dessa maneira, o professor estabelece padres de comportamento e interao na sala de aula que advm de seu prprio habitus, de valores desejados pela instituio, alm de pressupostos tericos veiculados pela abordagem do material didtico adotado e de elementos do seu prprio filtro afiltivo. Todos esses elementos vo, organicamente, compondo o que se chama de abordagem de ensino do profissional.

    O habtus do aluno, ou seja, sua cultura de aprender (ou abordagem de aprender) lnguas5, tambm ajuda a configumr a abordagem de ensinar do profussor, uma vez que este pode se ver obrigado a seguir o modelo de aula com o qual os aprendizes se dentificmn. Dessa forma, o professor passa a acreditar naquela abordagem, oonsiderarukHt. a melhor para seus alunos. 6

    O planejamento de cursos, a produo ou seleo de materiais didticos, o mtodo ou procedimentos metod