capitulo vi rene dreifuss 1964 a conquista do estado

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5' edição: 3.000 exemplares l' edição: 5.000 exemplares I~ reimpressão: 5.000 exemplares 2' edição: 5.000 exemplares 2' reimpressão: 5.000 exemplares •3. edição: 5.000 exemplares 3' reimpressão: 3.000 exemplares 4" reimpressão: 5.000 exemplares 5' reimpressão: 3.000 exemplares 4' edição: 3.000 exemplares e·,' (J tÓ» ) . ;._ , D)" .:- [1 /1 .I .... , . 1', 1"- René Armand Dreifuss 1964: A CONQUISTA DO ESTADO Ação Política, Poder e Golpe de Classe Traduzido pelo Laboratório de Tradução da Faculdade de Letras da UFMG por: AYESKA BRANCA DE OLIVEIRA FARIAS CERES RIBEIRO PIRES DE FREITAS ELSE RIBEIRO PIRES VIEIRA (Supervisora) GLORIA MARIA DE MELLO CARVALHO Revisão Técnica: RENIÕ ARMAND DREIFUSS 5" Edição ", ~ . .., \ \. ... ~ F_-.. J ~:.. _; t t).r' ~.'!') .. " ~ , ' _A.- , ....." -.._ ---'" [tJ Petr6polis 1987 c ~OCú~6 ,

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1964: A CONQUISTA DO ESTADOAção Política, Poder e Golpe de Classe

Traduzido pelo Laboratório deTradução da Faculdade deLetras da UFMG por:

AYESKA BRANCA DE OLIVEIRA FARIASCERES RIBEIRO PIRES DE FREITAS

ELSE RIBEIRO PIRES VIEIRA (Supervisora)GLORIA MARIA DE MELLO CARVALHO

Revisão Técnica:RENIÕ ARMAND DREIFUSS

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© by René Armand DreifussTítulo do original inglês:

State, class and lhe organic elite:the formation of an entrepreneurial

order in Brazil (1961-1965)

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Direitos sobre a tradução epublicação em língua portuguesa:

EDITORA VOZES LTOA.Rua Frei Luís, 10025689 Petrópolis, RJ

Brasil

Para minha mãee

à memória do meu pai

Para Aurea e Danny

DiagramaçãoValdecir MeJlo

Aos amigos, que o caminharda vida afasta, ea lembrança reúne

Aos que, não estudando seu passado.estão fadados a repetir os mesmoserros.

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Page 3: CAPITULO VI Rene Dreifuss 1964 a conquista do estado

CAPITULO VI

A AÇÃO DE CLASSE DA ELITE ORGÂNICA:A CAMPANHA IDEOLOGICA DA BURGUESIA

Introdução

O capítulo V descreveu a estrutura decisória da elite orgânica e sua organi-zação para a ação. Mostrou, de fato, a existência de um aparelho de classe queera capaz de desenvolver operações de natureza pública, bem como atividadesvedadas ao alcance público.

Os capítulos VI, VII e VIII tratam das atividades específicas, públicas eencobertas, tanto táticas quanto estratégicas, que eram desenvolvidas pela eliteorgânica. Essas atividades objetivavam conter as forças populares, desagregar Obloco histórico-populista e levar os interesses multinacionais e associados aogoverno político através de um golpe de Estado civil-militar.

A conquista do poder político pela elite orgânica não foi simplesmente umresultado da crise político-econôrnica do período e o imediato colapso do regime,levando a uma subseqüente queda do governo.' Nessas críticas condições, járesumidas no capítulo IV, a elite orgânica tentou levar adiante uma campanhapara dominar o sistema tanto em termos políticos, quanto ideológicos.ê A quebrada convergência de classe vigente e a ruptura da forma populista de dominaçãoforam alcançadas pelo bloco de poder multinacional e associado através doexercício de sua influência em todos os níveis políticos."

O período de ação de classe organizada, que será visto neste capítulo,estendeu-se de 1962 a 1964. Politicamente, significou uma mobilização conjun-tural para o golpe, quando estratégia se converteu em política e atividades polí-tico-partidárias finalmente se transformaram em ação militar. Esse foi o estágiodo "esforço positivo" em que vários escritórios de consultoria e anéis burocrático-empresariais, associações de classe e grupos de ação formaram um centro políticoestratégico, o complexo IPES!IBAD. Uma vez unificadas as várias oposiçõessob uma liderança sincronizada comum. formulando "um plano geral", a eliteorgânica lançava a campanha político-militar que mobilizaria o conjunto da bur-guesia, convenceria os segmentos relevantes das Forças Armadas da justiça desua causa, neutralizaria a dissensão e obteria o apoio dos tradicionais setoresempresariais, bem como a adesão ou passividade das camadas sociais subalternas.Mas antes de se iniciarem hostilidades a nível político-militar, desenvolveu umacampanha ideológica multifacetada contra o bloco histórico-populista. Tal açãocompreendia a desagregação dos quadros populistas, assim como aqueles deimaturos grupos reformistas, adiando as ações do Executivo e tentando conter odesenvolvimento da organização nacional de classes trabalhadoras. O seu fracasso

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cm reprimir a conscientização política das classes trabalhadoras e a surpreen-dente capacidade do Executivo de não apenas sobreviver, mas, na verdade, deconsolidar e obter novas' posições' fortaleceu sua determinação de tomar deassalto a sociedade política estabelecida.

A elite orgânica empresarial se fez defensora e porta-voz dos pontos de vistamoderados do centro, ampliando as perspectivas elitistas e consumistas das classesmédias e fomentando o temor às massas. Revigorava a percepção solipsista dasclasses médias quanto à realidade social brasileira e as influenciava contra o

sistema político populista.Preparava-se para operar em toda área da vida social visando a competir

com os predominantes interesses políticos, o trabalhismo e a esquerda pelo con-trole do Estado. Uma vez em ação, fazia uso de todo recurso disponível, legalou ilegal." Segundo o líder ipesiano Glycon de Paiva, essas atividades que beira-vam, a ilegalidade podiam ser resumidas como a preparação de civis para asse-gurar um clima político apropriado para a intervenção militar. Em sua opinião,II ação política tinha de ser sigilosa." Suas recomendações envolviam a "criaçãoJe um caos econômico e político, o fomento à insatisfação e profundo temor aocomunismo por patrões e empregados, o bloqueio de esforços da esquerda noCongresso, a organização de demonstrações de massa e comícios e até mesmoaros de terrorismo, se necessário"." As áreas alvo para a doutrinação específicae pressão política direta eram os sindicatos, o movimento estudantil e a classecamponesa mobilizada, as camadas sociais intermediárias e a hierarquia da Igreja,o Legislativo e as Forças Armadas.

A ação da elite orgâniea empresarial deve ser considerada como a praxede um bloco burguês de poder, premeditada e cuidadosamente amadurecidadurante vários anos. Trazendo à tona a dimensão orgânica e a dinâmica envol-vidas (situação, posição e ação de classe), pode-se perceber e revelar a evidênciahistórica do emergente bloco de poder multinacional e associado forjando a suaprópria forma de Estado. O que ocorreu em abril de 1964 não foi um golpemilitar conspirativo.t mas sim o resultado de uma campanha política, ideológicae militar travada pela elite orgânica centrada no complexo IPES/IBAD. Talcampanha culminou em abril de 1964 com a ação militar, que se fez necessáriapara derrubar o Executivo e conter daí para a frente a participação da massa."

O I PES, por sua própria natureza e diretrizes e por ser um catalisadorestratégico bem mais do que uma visível força motriz, não colheu os 10UTOS pelamaioria das conquistas políticas da elite orgânica que foram atribuídas a outrasorganizações e agentes, presumindo-se serem independentes dele. Mesmo emboramuitas organizações fossem na verdade sincronizadas pelo complexo IPES/IBADnão se deve desprezar as atividades de órgãos paralelos, cujos objetivos e meios,de modo generalizado, coincidiam com os do complexo IPES/IBAD. Sempreque possível, o IPES procurava ser discreto em suas atividades e se manter forada notoriedade política. Por exemplo, quando os seus líderes voltaram de umadas reuniões de Nassau em 1962, eles procuraram manter essa atitude, com aclara intenção de minimizar a significância da Instituição. A proposta de Glyconde Paiva, em abril de 1962, de publicar um trabalho elaborado pelo GeneralGolbery do Couto e Silva, que propunha diretrizes contra o bloco nacional-reformista, foi vetada pelo líder ipesiano José Luiz Moreira de Souza. A suaoposição se baseava na hipótese de que o trabalho revelaria o que até entãc

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fora evitado, mais especificamente, um movimento político organizado; ao mesmotempo. o General Heitor Herrera ressaltava o perigo de se expor a ação ilegal."Essa necessidade de manter a imagem inconspícua da elite orgânica foi enfatizadapor Harold C. Polland no início de 1962. Ressaltava também à liderançado IPES que outros países tinham instituições similares à sua e que a expe-riência política provara que uma única organização não bastava. Dava o exemploda Colômbia, onde o IPES local consistia de um organismo com vários órgãosdisseminados por todo o interior do país. Essas instituições eram constantementeatacadas, porém sempre servindo de escudo para O verdadeiro centro de ação.H. Polland reafirmava a necessidade de o IPES nunca aparecer direta e aberta-mente e de adotar uma posição de completa Inatacabilidade'! durante a suacampanha política e agir "por trás dos bastidores". Afinal, ponderava ele, dentrodo JPES havia ernpresãrios.'" Os órgãos que apareciam publicamente ou se res-ponsabilizariam pelo desenvolvimento da campanha da elite orgânica seriam,naturalmente, a ADEP, o IBAD, a ADP, a Promotion S.A. e o SEI, entre asmais significativas agências civis e civil-militares!" bem como os conhecidos órgãospolíticos que operavam lado a lado com o IPES, como a Associação dos Diri-gentes Cristãos de Empresa - ADCE'" Além disso, a ação do IPES não serestringiria a organizações de classe e grupos políticos de ação, mas, ao contrário,alcançaria todo segmento organizado da sociedade. Suas táticas serviriam demodelo para os acontecimentos de quase dez anos depois no Chile.

Duas modalidades de ação

As táticas da elite orgânica compreendiam desde atividades que objetivavamefeitos a longo prazo na orientação global das perspectivas sociais, econômicase político-militares, até táticas defensivas planejadas objetivando ganhar temposuficiente para a ação estratégica política e militar lograr efeito." Duas modali-dades de ação devem ser consideradas: 1) ação ideológica e social; e 2) açãopolítico-militar. .

Ação ideológica e social

As atividades ideológicas e sociais combinadas da elite orgânica consistiamem doutrinação geral e doutrinação específica, ambas coordenadas com ativida-des polírico-ideolôgicas mais amplas no Congresso, sindicatos, movimento estu-dantil e clero.

A doutrinação geral visava a apresentar as abordagens da elite orgânicaaos responsáveis por tomadas de decisão políticas e ao público em geral, assimcomo causar um impacto ideológico em públicos selecionados e no aparelho doEstado. A doutrinação geral através da mídia era realizada pela ação encobertae ostensiva, de forma defensiva e defensivo-ofensiva. Constituía-se basicamentenuma medida neutralizadora. Visava infundir ou fortalecer atitudes e pontos devista tradicionais de direita e estimular percepções negativas do bloco popularnacional-reformlsta."

A elite orgânica atacava o comunismo, O socialismo, a oligarquia rural e acorrupção do populismo. No aspecto positivo, argumentava que a prosperidade

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do país e a melhoria dos padrões de vida do povo se deviam à iniciativa privadae não se deviam, certamente, a métodos socialistas ou à intervenção do Estadona economia." Por outro lado, a sua abordagem negativa podia ser vista na suautilização de uma mesclagem de técnicas sofisticadas e uma grosseira propa-ganda anticomunista, constituindo uma pressão ideológica, que explorava o "en-curralamento pelo pânico organizado".'8

Através da doutrinação específica, a elite orgânica tencionava moldar a cons-ciência e a organização dos setores dominantes e envolvê-los na ação como urna"classe para si", enquanto consolidava a liderança política das Irações multina-cionais e associadas dentro da classe dominante. Tomava tal atitude, objetivandounir o emergente bloco de poder em torno de um programa específico de moder-nização econôrnica e conservadorismo sócio-político. Um exemplo extremo detais ações foi o Congresso pelas Reformas de Base, realizado em janeiro de 1963,e a campanha mantida através da mídia, que também tentava desarticular otradicional bloco histórico oligárquico-industrial." A doutrinação específica (jun-tamente com a doutrinação geral) também lidava com a formação política e ideo-lógica, cooptação e mobilização de ativistas sindicais, líderes camponeses e mili-tantes rurais, estudantes e líderes militares. Além disso, o objetivo geral da dou-trinação específica era modelar as várias frações das classes dominantes e dife-rentes grupos sociais das classes médias em um movimento de opinião comobjetivos a curto prazo amplamente compartilhados, qual seja, a destituição deJoão Goulart da presidência e a contenção da mobilização popular.

Doutrinação geral

Os canais de persuasão e as técnicas mais comumente empregadas compre-endiam a divulgação de publicações, palestras, simpósios, conferências de perso-nalidades famosas por meio da imprensa, debates públicos, filmes, peças teatrais,desenhos animados, entrevistas e propaganda no rádio e na televisão. A eliteorgânica do complexo IPES!IBAD também publicava, diretamente ou atravésde acordo com várias editoras, uma série extensa de trabalhos, incluindo livros,panfletos, periódicos, jornais, revistas e folhetos." Saturava o rádio e a televisãocorn suas mensagens políticas e ideológicas. Os jornais publicavam seus artigose informações. Para alcançar essa extensão de atividades variadas, o IPES alistavaum grande número de escritores profissionais, jornalistas, artistas de cinema ede teatro. relações públicas, peritos da mídia e de publicidade. O complexo IPES!IBAD também era capaz de articular e canalizar o apoio de algumas das maiorescompanhias internacionais de publicidade e propaganda, criando, assim, uma ex-traordinária equipe para a manipulação da opinião pública. Jornalistas profissio-nais se integravam no esforço geral como "manipuladores de notícias" e propa-gandistas, trabalhando sobretudo através das unidades operacionais dos gruposde Opinião Pública, Estudo e Doutrina e Publicações. Certas empresas financeirase industriais ligadas ao complexo I PES!IBAD se incumbiam dos arranjos finan-ceiros, incluindo-os em suas folhas de pagamento, propiciando, assim, outra formade financiamento indireto da ação da elite orgânica. Escritores, ensaístas, perso-nalidades literárias e outros intelectuais emprestavam o seu prestígio, escrevendo

~~.

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t:: assinando, eles próprios. artigos produzidos nas "estufas políticas e ideológicas"do complexo IPES!IBAD.21

O IPES conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública,através de seu relacionamento especial com os mais importantes jornais. nidrcsI! televisões nacionais, como: os Diários Associados (poderosa rede de jornais.rádio e televisão de Assis Chateaubriand, por intermédio de Edmundo Monteiro,seu diretor-geral e líder do IPES), a Folha de São Paulo (do grupo de OctávioFrias. associado do I PES), o Estaelo de S. Paulo e o [orna! da Tarde (do GrupoMesquita, ligado ao IPES, que também possuía a prestigiosa Rádio Eldorado deSão Paulo). Diversos jornalistas influentes e editores de O Estado ele S. Pauloestavam diretamente envolvidos no Grupo de Opinião Pública do I PESo Entreos demais participantes da campanha incluíam-se: I. Dantas, do Diário de Noticias, a TV Rccord e a TV Paulista, ligadas ao IPES através de seu líder PauloBarbosa Lessa, o ati vista ipesiano Wilson Figueiredo do Jornal do Brasil, oCorreio do Povo, do Rio Grande do Sul e O Globo, das Organizações Globodo grupo Roberto Marinho, que também detinha o controle da influente RádioGlobo, de alcance nacional. Eram também "feitas" em O Globo notícias sematribuição de fonte ou indicação de pagamento e reproduzidas como informação[atual. Dessas notícias, uma que provocou um grande impacto na opinião públicafoi que a União Soviética imporia a instalação de um Gabinete Comunista noBrasil, exercendo todas as formas de pressões internas e externas para aquele íirn."

Outros jornais do país se puseram a serviço do IPES. Rafael de AlmeidaMagalhães. filho do líder ipesiano Dario de Almeida Magalhães, colocou à SUIIdisposição, para que qualquer artigo saísse não assinado ou em forma de editorial,a Tribuna da Imprensa, o militante jornal anti-Ioão Goulart e antipopulista doRio, que também era de propriedade de Carlos Lacerda e do qual participava ojornalista Hélio Fernandes." E em São Paulo, o deputado federal Herbert Levy,empresário e líder udenista ligado ao IPES e cujos filhos eram também a ti vistasipesianos em operações encobertas, lançou as Notícias Populares, jornal militanteque visava competir com a imprensa popular na tentativa de atingir intelectuale emocionalmente as classes trabalhadoras industriais e a classe média baixadaquele Estado. O complexo I PES!I BAD também mantinha o controle de algunsjornais de menor importância em todo o país. A prestigiada coluna política "SeçãoLivre", assinada por Pedro Dantas (pseudônimo usado por Prudente de MornisNeto), proporcionava uma análise da conjuntura política e procurava moldar nopinião pública. Essa coluna saía publicada na seção de anúncios de O Estadode S. Paulo e operava dentro da corrente ideológica do I PESo Outro companheirode jornada era loão de Scantimburgo, do Correio Paulistano (que fora apontndopor Alfred Neal, do Committee for Economic Development, em sua carta a GilbertHuber lr., como um dos elementos possíveis para uma operação CED de apoío)."Em prol da mesma causa, no Nordeste, Paulo Malta, através de sua coluna" Pe-riscópio", no influente Diário de Pernambuco, promovia uma série de "denúnciasanticomunistas" e acusações do Iilocornunismo de Miguel Arraes.~$ Arlindo Puqualini, diretor das Empresas Caldas Júnior (o importante complexo empresarialdo setor de mídia do sul do país), foi procurado por José Luiz Moreira de Souzapara produzir uma série de artigos atacando Leonel Brizola e sua crescente in-fluência popular e comando da estrutura do PTB. O próprio Arlindo (irmão do

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falecido Albertc Pasqualini, ideólogo do PTB), assim como os políticos do RioGrande do Sul, Paulo Brossard e Kos Chermont de Britto, eram consideradospelo IPES como candidatos desejáveis para se promover contra Brizola." NoParaná, o complexo IPES!IBAD era ativo nessa área por intermédio de RobertoNovaes, dos Diários Associados e Diário do Paraná, Ubaldo Siqueira, da ImprensaNova e Bacilla Neto, o correspondente paranaense de O Estado de S. Paulo."O diplomata de carreira José Sette Câmara emprestava seu nome para colunaspolíticas em O Gtobo" e o líder do IPES, Augusto Frederico Schrnidt, ernpre-sário, poeta e embaixador, mantinha ativa participação no Grupo de OpiniãoPública do IPES.29 Trabalhos produzidos para consumo empresarial e políticoeram reescritos em "linguagem de dona-de-casa" por pessoas tão variadas, comoWilson Figueiredo, editor do Jornal do Brasil e a romancista Raquel de Oueiroz.ê'A escritora Nélida Piiion, que se prestava como secretária do IPES do Rio, aju-dava também nos esforços de propaganda.

Todos esses jornais também mantinham sua própria e acirrada campanhaeditorial, que beneficiava a elite orgânica." Tudo isso era ajudado pelo controleque o complexo IPES!IBAD tinha sobre as agências de notícia e canais de in-formações em todo o país e o seu relacionamento especial com companhias depublicidade e anunciantes. O IPES se certificava de que os editores dos maisimportantes jornais do país dirigissem seus próprios jornais de fato e em nome,conforme a linha da elite orgânica."

Através da Promotion S.A., a elite orgânica alugava as páginas editoriaisde A Noite, um dos jornais vespertinos do Rio, uma manobra inicialmente pro-posta pelo seu próprio diretor Nelson Nobre." O IBAD estava também por trásda revista Repórter Sindical, dedicada à disseminação de informação ideológica,bem como à obtenção de dados. O líder do IPES José Rubem Fonseca, roman-cista engajado em atividades de opinião pública, colocou sucintamente o fato:"O Instituto publica em jornais artigos, editoriais e opiniões"." O objetivo eraocupar "o centro de discussão ideológica e política"." O IBAD também publicava,mensalmente, a sua Ação Democrática, com uma circulação de 250.000 exempla-res, para isso contando com a colaboração de Gabriel Chaves Mello, EugênioGudin, José Garrido Torres, Dênio Nogueira, o deputado e líder udenista AliornarBaleeiro e outros influentes empresários e políticos; era distribuída gratuitamentee não continha anúncios.

O Grupo de Opinião Pública da elite orgânica, através do líder ipesianoNei Peixoto do Valle, ajudou também a preparar o "Levantamento da Infiltra-ção Comunista na Imprensa";" que circulou amplamente entre empresários, mi-litares e outros "formuladores" de opinião, corno parte de uma campanha queexpunha vários intelectuais e jornalistas como culpados por adotarem pontos devista esquerdistas. Esses jornalistas eram acusados de manipular a opinião pública,exatamente as' atividades nas quais o complexo IPES!IBAD estava, em verdade,envolvido.

Para mostrar aos empresários, profissionais e aos membros das Forças Arma-das a imediata ameaça a que estavam sujeitos, a elite orgânica fez intenso usode um quadro que denunciava a "infiltração comunista", quadro este que obtevevasta divulgação e pareceu ter causado forte impacto. Preparado pelo CoronelA. da Fontoura, enquanto o chefe do Estado-maior da 6." Divisão no Rio Grandedo Sul, tinha o quadro o sentido de dar uma visão panorâmica da ameaça às

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classes dominantes. Em 1962, a equipe do General Golbery destacou 200 mili-tares das três Forças, enquanto Glycon de Paiva ofereceu uma lista de 200 polí-ticos (do Congresso e governadores de Estado), 200 estudantes, 150 profissio-nais, 50 jornalistas, 50 empresários, 50 professores universitários e 100 associadosdo IPES de São Paulo, todos influentes "formuladores" de opinião, para recebere participar vitalmente da disseminação de material ideológico fornecido pela diteorgânica. Tornou-se a decisão de que o nome do IPES não deveria aparecer emmuitas das publicações que fossem distribuídas."

Uma forma diferente de ação era o apoio e o patrocínio de manifestos, pro-duzidos por associações e categorias funcionais e profissionais, manifestos estesque inundavam a imprensa entre 1962 e 1964. Entre eles, deve-se mencionar o"Manifesto das Classes Produtoras", por seu impacto emocional, que marcava aposição política dos empresários brasileiros e a publicação no Rio e em SãoPaulo, no início de 1963, de um "Manifesto à Nação". Assinado por mais de500 profissionais de prestigio em todo o país, esse Manifesto foi publicado noJornal do Brasil e Correio da Manhã, do Rio de [aneiro, e em O Estado de S.Paulo, pelo Centro Democrático de Engenheiros, sediado em São Paulo e coorde-nado pelo IPES.

Deve-se também mencionar o "Manifesto das Enfermeiras às Forças Arma-das", de meados de 1963, no qual pediam aos militares que interviessem direta-mente no processo político contra o governo de João Goulart.ê! Distinguiram-seainda o "Manifesto e Carta de Princípios Democráticos do Paraná", de abril de1963, e o "Manifesto dos Estudantes de Direito da Universidade Mackenzie"em maio de 1963,39 bem corno o manifesto "Para o Brasil, para o seu Progressoe para a Felicidade de seu Povo, contra a desordem, a irresponsabilidade e ademagogia", um apelo de página inteira em O Estado de S. Paulo, apresentadopelas associações empresariais, federações, sindicatos de empregadores e o LyonsClube."

Esses artigos, anúncios e transcrições eram então reproduzidos em outrosjornais de todo o país, por meio da rede de transmissão à disposição do complexoIPES!IBAD:' Uma outra forma de moldar a opinião pública constituía da repro-dução de discursos, exposições e pronunciamentos públicos por indivíduos dedestaque, tais como aquele, em Belo Horizonte, do General Punaro Bley do IBAD,um ex-integralista, discurso este que induziu Glycon de Paiva a procurar a coope-ração de Nei Peixoto do Valle para reproduzi-lo em outras cidades e atravésdos diversos recursos da mídia.<2 Os canais para a disseminação de material ideo-lógico e político produzido ou reproduzido pelo IPES eram as agências de notí-cias, como a Planalto, administrada pelo próprio IPES, que fornecia material a800 jornais e emissoras de rádio por to.do o Brasil com várias remessas semanais'de material noticioso constituído de informação e análise, serviço este inteira-'mente gratuito. Prestava-se à mesma função a Asa-Press, pertencente a FernandoMarrey, cujo diretor, Arlindo Olympio dos Santos, era ligado ao IPES.<3, '9

A face política e ideológica encoberta do IPES inundava o país com a pr;paganda anticomunista da elite orgânica, em forma de livros, folhetos ou pan-netos. Como já foi observado anteriormente, em termos de doutrina, ele se viuexpressando os objetivos e ideais da Aliança para o Progresso." Foram inseridosnos jornais de domingo em todo o Brasil," mais de um milhão de cópias daCartilha para o Progresso, feita pelo IPES, e que apresentava os pretensos bene-

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1IIltlN tjllr ii Aliança para o Progresso proporcionaria. O folheto da ALPRO foi111111111 III lnscrldo como um suplemento na Fatos e Fotos, a revista líder do GrupoIIlud, do Rio, amplamente consumida pelas classes médias."! Nossos males e seus','III"rl/os, um ardiloso livrete produzido por "André Gama" (pseudônimo de11111 mnerlcano, ligado à área financeira que residia em Petrópolis), teve também1111111 publicação de um milhão de cópias." Uma outra edição que atingiu tambému mcntunte de um milhão de distribuição foi "O que é o lPES", um encarte'IUI! circulou conjuntamente com a promoção da ALPRO. Um material sobre aMater e/ Mogistr« também foi preparado pelo IPES de uma forma acessível aogrande público." As publicações que promoviam a Aliança para o Progresso ea Meter e/ Magistra (profundamente apoiadas na imagem projetada por J. F.Kennedy e o Papa João XXI II) serviam a dois objetivos: proporcionar à opiniãopública uma mensagem suficientemente ampla para favorecer a "modernização"do regime e restrita o bastante para indispor o público contra o socialismo, ocomunismo e o nacional-reformismo. Permitiam também ao complexo lPES/IBADengajar uma série de intelectuais católicos (leigos e clérigos) na discussão e aténas atividades catalisadas pela elite orgânica e subtraí-los ao campo popular-reformista.

O lPES publicava e financiava, editava, traduzia e distribuía livros, livretos,revistas e folhetos de produção própria, como também aquelas de fontes afins.Atingia, ainda, as massas com a edição de panfletos, cujo papel e tipo de inferiorqualidade disfarçavam a origem." "Comprava" grande parte de determinadaspublicações, tornando-as, assim, comercialmente viáveis. Além disso, por meio desua poderosa rede de publicação, distribuição e de venda, o IPES subsidiavaoutras publicações. tanto financeiramente, quanto através de facilidades de im-pressão e outros serviços, .e 'agia como um canal para centros de formação deopinião pública." Opiniões de radicais do PTB, de socialistas, comunistas ounacionalistas eram confrontadas com material de propaganda de variados grausde sofisticação, que se estendiam desde as publicações sensacionalistas e vulgaresaté a prosa acadêmica "séria".

Algumas das publicações produzidas pelo complexo IPES/IBAD tinham umcaráter de propaganda "deturpadora", ou seja, eram basicamente fatuais e conti-nham informação cuidadosamente selecionada à qual adicionava-se uma certa"torção". Já outros trabalhos eram mentiras declaradas ou ficção. Entre as revistassubsidiadas e distribuídas para satisfazer a um público relativamente mais inte-lectualizado, como parte da campanha que o IPES chamava de "fertilizaçãocruzada" ideológica e a criação de barreiras intelectuais no marxismo, destaca-vam-se os Cadernos Brasileiras+v Convivium e Síntese, sendo as duas últimasdirigidas à hierarquia da Igreja e à tntetligentsia católica leiga.52 Produzia e dis-tribuía também uma série de livretos que atacavam assuntos da atualidade numaforma acessível ao grande público, embora com um estilo e uma aparência queacentuavam seu pseudo-academicismo. Temas da Hora Presente e Cadernos Na-cionalistas eram alguns desses Iivretos.

Um clássico exemplo de um modo mais vil de guerra psicológica era apublicação regular de O Gorila, distribuído dentro das Forças Armadas. Emurna das edições, depois de apresentarem o que consideravam os dogmas básicosdo marxismo, os autores comentavam que o programa parecia ser bom. Noentanto, tudo não passaria de uma isca, pois, "Atrás da aparente beleza, estão

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os ass3ssinatos em massa, a abolição da dignidade, os campos de trabalho for-çado, a rejeição de toda a noção de liberdade e fraternidade". Caracterizavam,o::ntão, o comunista: "Ele é aparentemente inofensivo ... nunca se trai, sempretrairá outros. Ele fala de paz e amor fraternal". "Ele será o seu mais queridoamigo, o mais sincero, o mais leal ... até o dia em que ele o assassinará pelascostas, friamente ... Eles matam frades, violam freiras, destroem igrejas".S3 OGeneral Moacyr Gaya se encarregava dos planos para a distribuição de panfletose outros materiais similares produzidos ou divulgados pelo IPES.S. Em 1963,os Grupos de Opinião Pública/Publicações já haviam editado mais de 280.000livros e imprimido 36.000 boletins mensais. Por essa época, o IPES havia distri-buído ao todo 2500.000 unidades impressas'" e diversos milhões de cópias dospanfletos mencionados acima. Excetuando aquelas consideradas como publicaçõeslegítimas, condizentes com um "Instituto de Pesquisas", não se podia identificarnenhuma das reedições como sendo patrocinadas pelo IPES.~8 Os escritoresque, a título individual, lançavam a imagem daquilo que o complexo IPES/IBAD considerava a "correta" opinião e o "correto" posicionamento ideol6gicoe político recebiam o seu apoio, estímulo e projeção. Os seus livros, quandojulgados de maior importância para a formação de opinião pública, de classe ouinstitucional, eram "comprados" pelo IPES para assegurar ao editor uma vendainicial. Esse foi o caso do seu líder, jurista e empresário, Miguel Reale, cujolivro, Pluralismo e liberdade, teve sua publicação patrocinada pelo IPES em1963, através da Editora Saraiva."

Ootros líderes, como Rafael Noschese, da Federação das Indústrias de SãoPaulo e Paulo Almeida Barbosa, da Associação Comercial de São Paulo e dasAmerican Chambers of Cornmerce, apoiavam de forma indireta, por intermédiode suas respectivas instituições, comprando parte da circulação de livros" e sub-sidiando as atividades do IPES.

Os princípios ipesianos eram aplicados a casos específicos na forma de sub-sídios ao Grupo de Ação Parlamentar e ao de Opinião Pública, bem como atra-vés da elaboração de vinte e três propostas conhecidas como as Reformas deBase." Esses pormenorizados projetos de reforma ultrapassaram aqueles sugeri-dos na Escola Superior de Guerra, que tem sido tradicionalmente reconhecidacomo a fonte intelectual de mudança nacional'" em favor do bloco rnodernizante-conservador. O complexo IPES/IBAD fora firmemente arrastado para a batalhaideológica travada no princípio da década de sessenta. Como foi mencionado ante-riormente, os Grupos de Estudo e Doutrina preparavam crítica sistemática daspropostas de reforma do governo enquanto o Grupo de Ação Parlamentar seencarregava do bloqueio do Executivo, suprindo a rede ADEP/lBAD/ ADP deapoio logístico material e político. A pedido do líder Mello Flores, as unidades deestudo do Rio examinavam as questões em pauta no Congresso. Ele estabeleciaas prioridades e permanecia em Brasília durante a discussão dos referidos proje-tos, coordenando as operações. Assim, os grupos de estudo preparavam emendasaos projetos e leis do governo nas áreas econôrnicas, sociais e políticas, que seestendiam desde as propostas de controle de greve até uma das mais importantespreocupações do IPES, a Lei de Remessa de Lucros, bem como da lei do CódigoEleitoral até 8 Legislação das Telecomunicações." Além disso, os grupos d~estudo se responsabilizavam pela triagem de projetos vindos de fontes diversassintetizando os vários subsídios e indivíduos e instituições em um único projeto

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:-,"

tlu IPES," Os grupos de estudo encarregavam-se também das partes legislativasC processuais dos projetos no Congresso,

Exemplificando tais atividades do grupo, pode-se citar o anteprojeto de leisobre O conjecturado Código de Telecomunicações, um dos estudos de alta priori-dnde para o IPES, sob a responsabilidade do General Luiz A. Medeiros, da RedeOtobo. Cabia-lhe preparar o anteprojeto sobre o assunto, sendo também requisi-tndo para elaborar uma declaração preliminar e um esboço da necessária "Açãodos Bastidores".83 Uma vez pronto, o estudo do General Luiz A. Medeiros seriaburilado pelos grupos de estudo do IPES e o Grupo de Levantamento da Conjun-tura e o de Ação Parlamentar sincronizariam a ação de apoio.Si

Alguns dos mais significativos grupos de estudo eram aqueles referentes hRemessa de Lucros, Reforma Tributária, Habitação Popular, Reforma Eleitoral,Inflação, Reforma Constitucional, Reforma Agrária e Planejamento, todos elesquestões políticas polêmicas naquela época. O grupo da Remessa de Lucros com-preendia José Garrido Torres, Mário Hendque Simonsen (coordenador e relator),Dênio Nogueira, o General Heitor Herrera, Jorge Oscar de Mello Flores, José LuizMoreira de Souza, Gilbert Hubert Ir., Harold C. Polland, Glycon de Paiva e aparticipação ad hoc e anónima de burocratas do governo.5S O projeto e justifica-tiva das emendas relativas à lei de Remessa de Lucros em discussão no Congressonaquela época foram preparados, para o IPES, pelo Conselho Económico daConfederação Nacional das Indústrias, onde Simonsen era membro executivo. Taloperação não onerou o IPES em um centavo, que pagou apenas jettons de presençaa Mário Henrique Simonsen, Hélio Schlittler da Silva e a Dênio Nogueira, quepreparou um substitutivo para tal projeto, apresentado pelo senador DanielKrieger.65

Quanto à Reforma Tributária e Política Fiscal, o IPES produziu um apro-fundado estudo, contratado a Mário Henrique Simonsen. Ele elaboraria os seguin-tes anteprojetos de lei, com suas respectivas justificativas:

a) imposto de renda,b) imposto de consumo,c) imposto de selo,d) taxa única de gasolina e óleos,e) taxa única de energia elétrica,f) contribuições de melhoria.

Uma unidade de estudo elaborou todo esse trabalho e a integravam, entreoutros, Dênio Nogueira e um burocrata do governo, o contador Balduíno, cujapresença foi mantida anónima.B7 .

Sobre a Habitação Popular, a unidade de estudo também preparou um ante-projeto e Sua correspondente justificativa parlamentar. Tal anteprojeto foi finan-ciado e planejado por uma equipe do IBAD, que envolvia a participação de IvanHasslocher.

88Logo após concluído, o anteprojeto foi passado ao IPES para o seu

veredicto, seguindo o mesmo processo de outros casos similares, tal como oestudo sobre a Reforma Agrária.59 A correligionária do governador Carlos Lacerda,Sandra Cavalcanti, da Hosken Construtora (grande firma de engenharia e cons-

,'" trução, sediada no Rio), serviu de consultora para essa unidade. No IPES, ela• era também conferencista. Havia outros estudos produzidos a respeito da Habita-ção Popular, como "Política Habitacional", de José Arthur Rios, que eram divul-

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~

gados por intermédio do Grupo de Opinião Pública, contribuindo para o debategeral.70

O estudo da Reforma Eleitoral contou com a participação de ThemístoclesCavalcanti, jurista e cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Dario deAlmeida Magalhães e Paulo de Assis Ribeiro. Outras pessoas escolhidas como osjuristas Afrânio Carvalho, Alfredo Lamy Filho e Homero Pinho," foram convo-cadas para dar sua orientação competente nos diversos assuntos. Sobre o CódigoEleitoral, convocou-se Oswaldo Trigueiro."O IPES pesquisou também o problema da "Democratização do Capital". Os

posilion papers sobre essa questão eram elaborados conjuntamente com o Grupode Integração. Além das razões económicas para a "democratização do capital",isto é, colocar ações de companhias locais no mercado e a capitalização atravésde investidores menores, tal diretriz tinha um claro efeito de propaganda. Elarealçava os positivos "efeitos sociais" do sistema económico que permitiam aos. pequenos acionistas ter um interesse na manutenção desse sistema; os trabalha-dores e empregados poderiam ser co-proprietârios das suas empresas." A equipe,formada com a finalidade de supervisionar a pesquisa a ser conduzida em empre-sas privadas e cujas descobertas serviriam de diretrizes para a preparação de nor-mas voltadas à democratização do capital em interesses privados, compreendiaPaulo de Assis Ribeiro, Alberto Venâncio Filho e Juan Missirlian.

Com respeito à Inflação e suas causas, Dênio Nogueira trabalhava com acooperação do congressista da ADEP, Rayrnundo Padilha, entre outros.

Quanto ao Planejamento, o IPES se mostrava particularmente empenhado,já que era um item de preocupação maior da elite orgânica, exatamente comofora com a Remessa de Lucros. Quando Celso Furtado lançou o seu Plano Trienal,um "grupo técnico" do IPES preparou um número de estudos críticos, tanto parainformação quanto para a ação política. Algumas das análises, como as de DênioNogueira, eram transformadas em position papers para serem publicadas no bole-tim mensal do IPES; outras, como os estudos de Julian Chacel, Mário HenriqueSimonsen e Paulo de Assis Ribeiro, eram usadas como diretrizes para a açãopolítica e ideológica do IPES, especialmente no Congresso.

Dênio Nogueira e William Embry ~e encarregavam da produção de uma tesesobre a Lei Anti-Trust. Antes de sua apresentação, Mello Flores utiliz.ou a suamensagem básica para a sua ação no Senado em 1963, Foi preparada como umanteprojeto de lei, com correspondente justificativa parlamentar."

Sobre a Participação de Empregados nos lucros de Empresas, conjecturou-seum projeto de lei e confiou-se o trabalho básico a Paulo Novais, da PontifíciaUniversidade Católica do Rio.7S •

A elaboração da Reforma Judiciária envolveu Celestino Basílio, Carlos deAssis Ribeiro, Homero Pinho, Miguel Seabra Fagundes e outros. Paulo de AssisRibeiro preparou o trabalho." Um estudo sobre a Reforma do Legislativo e daAdministração Pública também foi efetuado e, para a sua produção, o lPES rece-beu intenso apoio,"

A respeito da Reforma Constitucional, através de Paulo de Assis Ribeiro eseu grupo de estudo, o IPES tinha o seguinte a declarar no início de 1962: "OIPES julga seu dever contribuir para o estudo e debate que devem preceder àapresentação de modificações na Magna Carta" [sic]. Dentre os vários aspectosque chamariam a atenção dos legisladores estaria o de "segurança nacional", con-

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ceito que, na visão do IPESo não poderia ser restrito às esferas de defesa militardo pais. Em sua opinião. "o fenômeno gl:neralizado da totalizaç.io de guerra c orcconhecimcnro da indispensabilidade de uma .::strmégia integrada pum a gucr r»e pura 11 paz exigiam'uma verdadeira politica de segurança nacicnal". Essa politicaacarretava "a concepção c rcalizaçâo de açôcs apropriad.llllcl1Ic coordenadas noscampos polfticos económicos psiccssociais e. sem dúvida alguma, nos militares.Assim, o conceito de 'ScgunJllça nacional' não': da exclusiva responsabilidadedos militares. Todos os órgãos da administração pública são. portamo, conclarnados a colaborar no respectivo plan.::jamo:!nto" (da segurança nacional)!" Iosé Carlos'de Assis Ribeiro desenvolveu um estudo sobre a Reforma Constitucional. quecompreendía a reformulação de pontos "obsolcros ' c "desajustados". Esse rraba-lho acentuaria mudanças indispensáveis cm áreas delicadas C0l110 planejaml!nto. odireito de greve aos trabulhadorcs, a mobilização política e o aumento de poderespara o Executivo e o governo federal. E interessante ressaltar que a noção desegurança nacional exposta pela ESG é incorporada aqui, pelo I PES, COmo suaproposta para a reforma da Constituição. Tal noção passou a ter peso. não apenascom respeito a assuntos militares, mas também aos civis, tanto na paz quanto naguerra.

Quanto à Reforma Bancária, o IPES encontrava algumas dificuldades dentrode suas próprias fileiras. Até meados de 1962. os estudos do I PES eram produ.aidos, segundo Cândido Guinlc de Paula Machado. "independ~ntel11ente de inte-resses pessoais ou de grupos". Entretanto, cm relação à Reforma Bancária, GilbertHubcr Ir. teve de relatar ao Comitê Executivo do Rio que ela estava cm anda-mento. não pelo I PES de São Paulo, mas pelos próprios banqueiros que. conformeGlycon de Paiva, con~ideravam a questão de tal importância, "que eles queriamestar presentes e defender seus. interesses". Apesar da força dos banqueiros, Gly-con de Paiva julgava que o I PES não deveria interromper o trabalho a ser feitoe Gilbert Huber Ir. opinava que. ao surgir uma divergência de opiniões, o posi-cionamento do I PES seria aquele de "não temer os banqueirosv?v De qualquerforma, a maioria dos grandes banqueiros fazia parte do I PESo O que a liderançaipesiana queria evitar era que interesses restritos de setores e facções prevalecc:s-sem sobre as diretrizes classisras do Instituto, como parecia a intenção dos banquei-ros de São Paulo. Prevaleceram as opiniões do Instituto. Por volta de março de1963, o IPES havia submetido vinte e quatro projetos de lei através de seu Grupode Ação Parlamentar e dos deputados da ADP que ele patrocinava e controlava."'

Um objetivo importante. dentro dos limites de luta· ideológica do começodá década de sessenta, era esvaziar o "valor reformista" das propostas de Governo,do trabalhismo e da esquerda e dissociar os empresários modernizante-conserva.dores do Sistema político oligárquico. Discernia-se claramente tal estratégia namanobra da elite orgânica de minar a base de poder da direita tradicional, centra.da nos interesses oligárquicos agrários81 e achar uma forma de lidar com o cam-pesinato mobilizado, que começara a insurgir-se COntra a estrutura populista emais importante talvez, cuja luta passava a exercer uma forte atração emocionalnas classes médias. Nesse esforço, o IBAD constituía a primeira linha de combateda elite orgânica empresarial. Ele se lançava no cerne da confrontação, adequandoe encampando símbolos, temas e linguagem que, na época, eram bandeiras de lutadas força. popular-reformistas, disputando o "centro ideológico", na tentativa derepresentar um grande projeto social de classe média.

Através do seu jornal Ação Democrática, o IBAD frisava que a sua ReformaAgrária não tinha, de modo algum, a intenção de servir aos objetivos dos comu-nistas, nem de manter o injusto e imoral estado de coisas sustentado pelos gran-des "latifundiários".82 Para o intelectual do complexo IPES/IBAD José ArthurRios, era o "dever do democrata combater a frente única formada pelos reacio-nários e os comunistas" contra o que ele chamava de "verdadeira Reforma Agrâ-ria".83 O IBAD organizava as classes dominantes em torno do problema, estudavao assunto e publicava material impresso propondo uma modernização agráriaorientada por padrões de eficiência capitalista, onde a indústria e a agroindústriaseriam integradas e que tentaria anular as demandas populistas e socialistas. Emabril de 1961, ele realizou o seu Simpósio sobre a Reforma Agrária, que deuorigem a um livro amplamente divulgado e bem impresso: Recomendações sobrea reforma agrária.

Participaram do Simpósio trinta e quatro indivíduos: Alvaro Ribeiro, BerthaKoffman Becker, Celestino Sá Freire Basílio, Charles Hogenboorn, D'AlmeidaGuerra Filho, Dênio Nogueira, Dirceu Lino de Matos, Edgard Teixeira Leite, Ed-son Cesar de Carvalho, Estanislau Fischlowitz, Everaldo Macedo de Oliveira, Pa-dre Fernando Bastos D'Avila, o General Frederico Augusto Rondon, GladstoneChaves de Mello, Gustavo Corção, Hilgard O'Reilly Sternberg. Ivan Hasslocher,[airo de Moura, [an Litjens, João Camilo de Oliveira Torres, José Arthur Rios,José Augusto Bezerra de Medeiros, José Bonifácio Coutinho Nogueira, José CarlosBarbosa Moreira, José Gomes da Silva, José lrineu Cabral, José Vicente FreitasMarcondes, o General Juarez Távora, Marcelo Lavener Machado, Milcíades SáFreire, Moysés Rosenthal, Odegar Franco Vieira, Thomas Lynn Smith e WanderbiltDuarte de Barros. A coordenação geral dos debates estava nas mãos de DênioNogueira, Ivan Hasslocher, Gustavo Corção, Hilgard O'Reilly Sternberg e Glads-tone Chaves de Mello. O General [uarez Távora presidiu o simpõsio." Os par-ticipantes eram, na maior parte, uma coleção de ibadianos, advogados e tecno-ern-presários especializados em questões agrárias e relações trabalhistas e intelectuaisde centro direita. Eles concordavam com a transformação da economia rural, man-tendo um curso médio de modernização que incluía a quebra do controle oligár-quico da terra, o aumento da produtividade, a racionalização da produção, amecanização e a transformação de relações de trabalho.

Como os acontecimentos políticos se desenvolviam no meio rural onde ocampesinato se organizava em números crescentes e como a luta ideológica nascidades atingia novos níveis de veemência, o IPES foi forçado a encarar o pro-blema da reforma agrária de uma forma bastante diferente da que fizera ante-riormente. Tal problema teria de sair do "terreno demagógico" de debate. O.I PES seria compelido a colocá-lo em termos por ele considerados" rigorosamentecientíficos".8s A questão da reforma agrária quase provocou uma grande criseentre as seções do IPES do Rio e do IPES de São Paulo, já que o projeto almejadopela liderança política do Rio satisfaria os agroinoustriais e, no entanto, pareciadrástico demais para os interesses dos paulistas proprietários de terras que faziamparte do IPES. O protótipo do programa do IPES sobre a Reforma Agrária ba-seou-se nas conclusões do simpósio organizado pelo IBAD, do qual um projetoe justificativas para o Congresso foram preparados por José Arthur Rios e EdgardTeixeira Leite. O IBAD financiou o trabalho dos tecno-empresários e empresários~nvolvidos na elaboração do programa .. Devido a medidas operacionais acertadas

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entre o IPES e o IBAD, o programa teria de ser discutido pelas unidades deestudo do IPES, que se compunham de tecno-emp~esários e empresários.s6 O lBADfoi oficialmente representado no comitê conjunto encarregado de ajustar as pro-postas por Ivan Hasslocher, José Arthur Rios e Dênio Nogueira e contou com aparticipação de outros membros, quando as circunstâncias o ditaram.

Seguindo a sugestão de Wanderbilr Duarte de Barros, concordou-se que nemo IPES, nem o IBAD se manifestaria publicamente como patrocinador ou defen-sor do projeto no Parlamento ou através da imprensa. O projeto teria de tramitar-sigilosamente.

87O plano geral do complexo IPES/lBAD era produzir primeiro

um projeto que seria parte substancial do trabalho, contendo princípios e normasque serviriam para definir a posição do IPES em relação à Reforma Agrária. Emsegundo lugar, ele elaboraria um trabalho paralelo visando a "preparar" a opiniãopública para receber as idéias contidas no projeto, sem nenhuma referência àssuas origens no complexo lPES/IBAD. Para Julian Chacel, tudo envolveria urnavisão dinâmica do setor agrário, cuja idéia essencial seria a de que os beneficiáriosdo acesso à propriedade rural a ser criada pela Reforma deveriam ser indivíduosdotados de capacidade empresarial e que deveria haver uma necessária interde-pendência entre os se tores rurais e o setor industrial, em decorrência da qual asindústrias passariam a investir e operar no campo.S8

O grupo inicial de estudos sobre a Reforma Agrária compreendia HaroldCecil Polland, Cândido Guinle de Paula Machado, Antônio Carlos do AmaralOsório, Julian Chacel, Paulo de Assis Ribeiro, José Garrido Torres, José RubemFonseca, Luís Carlos Mancini, Ivan Hasslocher, José Arthur Rios, Dênio Noguei-ra, Wanderbilt Duarte de Barros, Fernando Mbielli de Carvalho, J. Irineu Cabrale Edgard Teixeira Leite, urna equipe mista de empresários e tecno-empresários.89Bronislau Ostoja Roguski, como membro da Confederação Rural Brasileira e doConselho de Reforma Agrária do Paraná, era uma presença ad hoc às reuniões(Vide Apêndice M). O projeto foi laboriosamente desenvolvido a um custo depelo menos 50.000 dólares.Do A unidade de estudo teve trinta e duas reuniõesem um período de seis meses, de maio a novembro de 1962,91 com Iulian Chacel,J. Irineu Cabral, Dênio Nogueira, Paulo de Assis Ribeiro, Luís Carlos Mancini,José Garrido Torres e Wanderbilt Duarte de Barros, compondo a unidade centralde trabalho. Significativamente, a última reunião foi no próprio escritório doIBAD no Rio, com José Arthur Rios, Ivan Hasslocher e Edgard Teixeira Leite.Com eles 'Paulo de Assis Ribeiro discutiu o reexame do anteprojeto de lei sobrea Reforma Agrária, preparado pelo Grupo de Estudo do IPES e os quatro elabo-raram os últimos detalhes, em vista de sua futura apresentação no Congresso, o.que envolvia a sincronização de apoio necessário da Ação Democrática Parla-mentar, patrocinada pelo complexo IPES/IBAD.92

O segundo traba.Iho produzido pela unidade de estudo foi entregue ao Grupode Opinião Pública para ser transformado em material apropriado para propa-ganda e ação pública, sem envolver o nome do IPES ou do lBAD.93

A publicação das recomendações dos vários position papers Corno "traba-lhos sérios" fazia-se também necessária para legitimar argumentos de um pontode vista "tecno-científico". Foi feita em forma de livro e Como apostilas pseudo,acadêmicas e livretos, Do estudo básico produzido pelo Grupo de Estudo, Iize-. rara-se vários position papers e artigos para disseminação através da mídia, canaisacadêmicos e por parlamentares.&.!

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Apesar de todos os seus esforços e a dedicação com a qual se lançou aocalorosO debate, o IPES não logrou êxito em impedir João Goulart de passar o seuDecreto da Reforma Agrária e de estabelecer a Superintendência para a ReformaAgrária - SUPRA, o órgão encarregado de desenvolver a diretriz política doExecutivo. Com tal manobra, o governo de [oão Goulart reforçaria o apoio queele tinha da classe camponesa e dos setores nacional-reformistas da opinião públi-ca. Ademais, as atividades da SUPRA levariam os mais recalcitrantes elementosda oligarquia rural a apoiarem a sempre ampliada frente de forças sociais anti-?opulistas e antipopulares.

O Primeiro Congresso Brasileiro para a definição de Reformas de Base'" foio forum individual mais elaborado para a apresentação de demandas empresariais,visando uma modernização conservadora, assim como para a expressão públicada sua oposição às reformas de cunho trabalhista, ambas afirmadas como umprojeto nacional para o Brasil. O Congresso para as Reformas de Base realizou-sena Faculdade de Direito de São Paulo, em janeiro de 1963, em uma atmosferacarregada em termos emocionais, com um público estimado em vinte e duas milpessoas, durante sete dias de sessões. Presidido pelo General Edmundo MacedoSoares da ADEP, o Congresso constituiu o Iorurn no qual um abrangente conjuntode recomendações de diretrizes, .estudos aprofundados e position papers foramapresentados, publicamente definindo a orientação da elite orgânica em relação àsreformas institucionais e estruturais. Com a aura de formulação tecnocrática dediretrizes políticas, o Congresso propiciou a base lógica para a intervenção empre-sarial direta e pública na política brasileira, um verdadeiro programa de governoem potencial. Embora ostensivamente promovido por dois jornais do país, oCorreio da Manhã (do Rio de Janeiro) e a Folha de São Paulo, o Congresso dasReformas de Base representou um esforço conjunto dos Grupos de Estudo eDoutrina do IPES de São Paulo e IPES do Rio, sincronizados com o apoio deorganizações subsidiárias, grupos e indivíduos aliados. Garrido Torres, DênioNogueira e Paulo de Assis Ribeiro destacaram-se como figuras vitais na elabora-ção dos projetos, a qual envolveu trezentos participantes e a discussão de maisde cinqüenta tópicos, bem como a apresentação de oitenta propostas de diretrizespolíticas." O Grupo de Estudo e Doutrina preparou uma linha de ação básicaque serviria para orientar os ipesianos presentes ao Congresso. A linha geral seriaaquela incluída nos documentos já publicados." As recomendações de diretrizespolíticas eram liberadas regularmente através· de publicações periódicas, entreoutras, no Jornal do Brasil, na forma de Declarações Síntese." Responsáveis poressa operação, Paulo de Assis Ribeiro e Dênio Nogueira revisavam os positionpapers e os colocavam em dia.99 O influente senador Mem de Sá dava orientaçãoquanto à forma de publicação dos vinte e três Documentos Síntese que surgiamcorno conclusões do Congresso para a Reforma de Base.'?"

As propostas de diretrizes políticas do Congresso cobriam três das principaisáreas de interesse, a saber:

1) ordem política, que compreendia as Reformas Eleitoral, Legislativa, Ad-ministrativa, da Estrutura Política, do Judiciário e da Política Exterior;

2) ordem social, compreendendo a Reforma Agrária. a da Legislação Traba-lhista, da Participação dos Lucros das Empresas, da Distribuição de Renda, daPolítica do Bem-Estar e Previdência Social, da Educação, a Habitacional, a Sani-tária e de Saúde Pública;

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<ii".

3) ordem econõmica, que incluía as Reformas Monetária e Bancária, Tri-butária, Orçamentária, da Legislação Anti-Trust, da Política de Comércio Exterior,de Serviços de Utilidade Pública, da Política do Uso de Recursos Naturais, comotambém a Reforma da Empresa Privada.w-

Entre as equipes de discussão, coordenadores e aqueles responsáveis pelaexposição de teses apresentadas nas seções de plenário, distinguiam-se WanderbiltDuarte de Barros, Luiz Toledo Pizza Sobrinho, Manuel dos Reis Araújo e oGeneral Frederico Rondon (Plancjamenro Regional e Nacional _ Medidas Agrá-rias), Themístocles Cavalcanti (L.:gislação Trabalhista), Valentim BouçaslO2 (PlanoQüinqüenal contra a Inflação), Fuad Buchain, Olympio Guilherme, Alirio deSalles, Luiz Cabral de Menezes, Manoel: Linhares de Lacerda,lo3 Décio ToledoLeite, A. F. Cesarino Júnior e Maurício de Carvalho (Treinamento Profissional),Jorge Oscar de MeJlo Flores (Estatização dos Seguros no Brasil), Rafael Noschese(Participação dos Empregados nos Lucros das Empresas), Joaquim Ferreira Mangia(Defesa Permanente dos Preços de Produtos de Exportação), J. H. Meirelles Teí-xeira (Reformas Constitucional, Partidária e Eleitoral), Pedro Brando (MarinhaMercante e Construção Naval), Antônio Pereira Magaldi (Reformas Sindical eSalarial), Rubens Gomes de Souza (Reforma Tributária), José Costa Boucinhas(Regulamento de Investimentos e Sociedades Financeiras), Rubens Rodrigues dosSantos (Organização do Tráfego Costeiro e Frota Mercante de Alto-Mar), MarceloDarny de Souza Santos (Programa para a Produção de Energia Atômica), J. V.Freitas Marcondes (Reforma Agrária), Dorival Teixeira Vieira (Inflação Brasileirae seu Controle), Padre Felipe Nery Moschini (Reforma Agrária), Joaquim PeixotoRocha (Reforma Bancária), Rui de Azevedo Sodré (Participação dos Empregadosnos Lucros das Empresas), A. F. Cesarino Júnior (A Participação nos Lucrosdentro de um Programa de Reformas Básicas), Otto Gil (Reformas Básicas emAssuntos Tributários), Renato Costa Lima e Walter J. Santos (Auto-Suficiênciade Alimentos). Pela abrangência e qualidade das teses apresentadas, mostrava-seclaramente que a elite orgânica empresarial desenvolvia não s6 uma campanhaestruturada para alcançar o poder, mas também um programa de Governo. Elavisava a reforma do Estado e havia preparado um coerente conjunto de diretrizesalternativas para as propostas do Executivo Nacional-reformista. Na encruzilhadahistórica de 1963, a elite orgânica centrada no complexo IPES/IBAD constituíaa única força social entre as classes dominantes que possuía um projeto e ummodelo coerentes e coesos para o país. Em abril de 1964, tinha também o meiopolítico, técnico e militar de realizá-lo. Depois de 1964, o cerne das propostas doCongresso para as Reformas de Base preparadas nos grupos de estudo do com.plexo IPES/IBAD, foi adotado como as diretrizes para inúmeras reformas adrní-ni~trativas, constitucionais e s6cio-econômicas, implementadas pelo novo governomilitar.

Guerra psicológica através do rádio e televisão: A elite orgânica, por meio de seuGrupo de Opinião Pública e o Grupo de Doutrina e Estudo de São Paulo, mostra-va-se bem dinâmica no Rádio e Televisão, onde a máxima cobertura era dada aseus militantes, bem como apoio às suas atividades e idéias. Através da mídiaaudiovisual organizava um extraordinário bombardeio ideológico e político contrao Executivo. Procurava também moldar opiniões dentro das Forças Armadas,infundindo o senso de iminente destruição da "hierarquia, instituições e da na-

çãO"I04 e estimulando uma reação quase histérica das classes médias que, porsua vez, fortaleciam a racionalização militar para a intervenção. Finalmente, visa-va a contrabalançar a sua própria mensagem social, econôrnica e política com oimpacto da ideologia nacional-reformista do governo dentro das classes trabalha-doras. Nessas atividades o IPES procurava manter-se afastado da notoriedadedeixando para o IBAD e a ADEP/Promotion S.A. um papel relalivament~público.

A elite orgânica montou, de fato, uma eficiente e poderosa rede de relaçõespúblicas e perícia profissional nos campos da comunicação e propaganda.P! OIPES fez amplo uso da televisão em sua campanha contra o governo, a esquerdae o trabalhismo, apresentando programas semanais na maioria dos canais a nívelregional e nacional.

À medida que se aproximavam as eleições de outubro de 1962 para o legis-lativo, tomavam-se elas uma preocupação central para a elite orgânica do com-plexo IPES/IBAD, que desenvolvia planos para influenciar a opinião pública.Esforços foram concentrados através da mídia audiovisual de forma jamais vistano Brasil até então.

Visando a modelar a opinião pública a seu favor até as eleições, o IPESproduziu quinze programas de televisão para três canais diferentes, o que lhecustou 10 milhões de cruzeiros. Gilbert Huber [r. se incumbiu de levantar osfundos, embora insistisse que sem transmissões de "assuntos políticos" ficariaimpossibilitado de motivar os possíveis patrocinadores. O General Golbery retru-cava que nas atuais circunstâncias não havia assunto relevante que não fossepolítico. A "prernência" da situação política teria de ser levada aos futuros con-tribuintes por meio de uma bem organizada campanha dos Grupos de OpiniãoPública e Integração.

José Luiz Moreira de Souza propôs entrevistas a serem realizadas por jorna-listas selecionados de Recife, Paraná, Rio, São Paulo e outros centros-chave ecobrir os quatro cantos do país com as mensagens políticas de orientação ipesiana.Os entrevistados teriam de ser pessoas escolhidas de renome nacional. Os jorna-listas então submeteriam um questionário fornecido pelo IPES sobre problemas,como o "Custo de Vida", a "Aliança para o Progresso", "Educação" e "O quevocê pensa sobre uma posição de centro?", cujas respostas, em linhas gerais, erampreparadas com antecedência. O senador Mem de Sá e outras quatorze figuraspúblicas foram escolhidas para participar. Os jornalistas vinculados ao IPEStambém procurariam engajar os jornais a que eram ligados, a fim de propiciarema cobertura dos eventos e a necessária ressonância.l'" Compunham a reserva deoradores com a qual o IPES esperava contar para essa operação: Carlos Lacerda,Carvalho Pinto (o então governador de São Paulo), o General Juracy Magalhães(governador da Bahia), Mem de Sá, Egydio Michaelsen (candidato ao governo doRio Grande do Sul), Daniel Faraco (Deputado pelo Rio Grande do Sul), Loureiroda Silva (prefeito de Porto Alegre), Lopo Coelho (presidente da Assembléia Legis-lativa da Guanabara), Raul Pilla (Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul),Milton Campos (Senador por Minas Gerais), Gilberto Freyre (historiador e dire-tor do Instituto Joaquim Nabuco, de Pernambuco), Raquel de Queiroz (escritora),Guilherme Borghoff (presidente da COPEG), Lélio Toledo Pizza (empresário deSão Paulo), Miguel Vita (empresário-Fratelli Vita, da Bahia), Octavio MarcondesFerraz (empresário de São Paulo), Clemente Mariani (banqueiro da Bahia e Minis-

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Iro do governo de Jânio Quadros), o Deputado João Mendes (líder da AOP),Ernesto Leme (Reitor da Universidade de São Paulo), Dom Helder Câmara (Bis-po do Rio de Janeiro), Dom Vicente Scherer (Arcebispo de POrto Alegre), DomFernando Gomes dos Santos (Arcebispo de Goiás). Dom José Távora (Bispode Aracaju), o Padre D'Avila (vice-reiror da Pontifícia Universidade Católica),João Camilo de Oliveira Torres (escritor e historiador), Fernando Sabino (escri-tor), Hélio Beltrão (tecno-empresário do Rio de Janeiro), Álvaro Americano (em-presário do Rio de Janeiro>. Octávio Gouveia de Bulhões (teeno-empresário doRio de Janeiro), Edgard Teixeira Leite (vice-presidente do Conselho Nacional paraa Reforma Agrária), Júlio de Mesquita Filho (proprietário de O Estado de SãoPaulo), Frederico Heller (da Consuliec). Rubem Berta (presidente da Varig) ,Rayrnundo Padilha (Deputado Federal - ADP), Flexa Ribeiro (UON), SérgioMarinho (Senador), Miguel Reale (Jurista e Empresário), Aluísio Alves (gover-nador do Rio Grande do Norte), Euclides Aranha (empresário), Conceição Neves(Deputada Estadual de São Paulo), Fernando Ferrari (líder do Movimento Tra-balhista Renovador, uma facção direitista do PTB) e Edgard Santos (Reitor daUniversidade da Bahia). Depois de uma avaliação tárica do conjunto dos nomes,uma lista reduzida foi entregue a Glycon de Paiva, em uma reunião do ComitêExecutivo do Rio. Incluíam-se nela Lacerda, Carvalho Pinto, Aluísio Alves, Jura-cy Magalhães, Mem de Sá, Milton Campos, Daniel Faraco , Lopo Coelho, Raquelde Queiroz, Lélio Toledo Pizza, Euclides Aranha, Luís Carlos Mancini, JoãoMendes, Dom Vicente Scherer, Hélio Beltrão, Álvaro Americano, Octávio Gou-veia de Bulhões, Rubem Berta, Raymundo Padilha, Miguel Reale e J. Marinho.Os programas, conforme o General Golbery, teriam que seguir uma linha mista"tendo um denominador comum ~ a democracia ",107 que era entendida como umaampla plataforma capitalista oposta a João Goulart, ao posicionamento populistae ao da esquerda.

Em julho de 1962, já havia um esquema montado para o que se denominouo Encontro de Democratas com a Nação. Ele relatava seus objetivos fundamen-tais como sendo aqueles de fortalecer o que o I PES chamava de "ConvicçõesDemocráticas do Povo", principalmente em relação às já próximas eleições para olegislativo em outubro de 1962, para dar força à voz dos "moderados" em meioao confronto entre extremas direita. e esquerda, orientando a escolha eleitoral"no sentido de conter o contínuo processo de crescente radicalização da vida polí-tica brasileira". Alguns dos temas a serem tratados' eram:

a) que se poderiam resolver todos os atuais problemas do país dentro deum marco democrático;

b) que a radicalização do processo político interessava apenas a elementosaventureiros, irresponsáveis ou antidemocráticos a "serviço de ideologias alheiasao sentimento cristão do nosso povo", bem como

c) a permanência de um regime de iniciativa privada e livre empresa como acondição sine que non para a solução dos problemas que afetavam o país.

Decidiu-se por quatorze sessões semanais, de trinta minutos cada, através da. rede nacional de televisão. Os programas receberiam ampla cobertura do rádioe da imprensa. Entrevistas seriam feitas com elementos dos mais diversos seg-mentos da sociedade, "todos com aceitação prévia dos lundarnentaís objetivos doprograma e total acordo com as idéias gerais mencionadas acima". Escolher-se-

iam jornalistas da. várias regiões do país. Em cada sessão haveria um' debateem linguagem acessível ao grande público e sem detalhes técnicos que pudessemobscurecer a mensagem política; o debate versaria sobre dois ou mais dos prin-cipais problemas já em discussão através da campanha orientada pelo Grupode Opinião Pública. Incluíam-se entre esses temas: a Reforma Agrária, Desenvol-vimento e Inflação, Reforma Tributária, Participação dos Empregados nas Em-presas, a Aliança para o Progresso, Capital Estrangeiro, Papel da Universidade naVida Nacional, Planejamento do Estado versus Livre Iniciativa, Democracia eComunismo, Parlamentarismo versus Presidencialismo, Reforma Eleitoral e Sin-dicalização Rural e Urbana. lOS

A elite orgânica mantinha uma série de programas políticos em São Paulo,que contava com a participação de figuras proeminentes nacionais e regionaispara expressar suas opiniões sobre os acontecimentos da época. Esses programasforam especialmente intensificados nos críticos meses das eleições e pós-eleições,isto é, outubro e novembro de 1962. Alguns de seus participantes eram: JamilMunhoz Bailão (sobre Democratização do Capital e Reformas Básicas), PadreGodinho, deputado da UDN, Carmen Prudente, diversos líderes da Ordem dosAdvogados, José Rotta, pelego de sindicato, Francisco Campos, jurista e mentordo Estado Novo (sobre um Panorama da Situação Brasileira), Pedro Aleixo, depu-lado da UDN (sobre as Eleições de outubro e A Crise de Autoridade), o SenadorMem de Sá (sobre Remessa de Lucros, Inflação e Custo de Vida), João Mendes(sobre Resistência às Pressões Demagógicas), Padre D'Avila (sobre "SolidarismoCristão" - doutrina de solidariedade social cristã, da qual era ideólogo - etambém sobre Ordem Social), o General Juracy Magalhães (sobre os ProblemasPolíticos do Nordeste), Milton Campos (Parlamentarismo), W. Menezes (sobreProblemas do Trabalhador), Alberto Betanye (sobre Soluções para os Problemasdos Trabalhadores dentro do sistema capitalista), Raquel de Queiroz (sobre "Fal-so Nacionalismo"), Sandra Cavalcanti (sobre o Eleitorado da Guanabara e Dema-gogia) e Leda Collor de Mello (Cooperação da Empresa Privada na PrevidênciaSocial). Os Grupos de Estudo e Doutrina do IPES preparavam a linha de argu-mentação.P" Outra série de programas, na TV Cultura, despertava interesse espe-cial, onde personalidades dos mais diversos setores da sociedade, cujas opiniões"harmonizavam-se aos objetivos do IPES", eram entrevistadas sobre assuntos deinteresses populares e das classes médias, assim como assuntos da atualidade.Segundo Flávio GaIvão, a liderança do IPES de São Paulo pretendia trazer perio-dicamente a esses programas figuras públicas do Rio e de São Paulo. Visando aelaborar a argumentação, o Grupo de Doutrina e Estudo esquematizava umalista de temas. Entre as personalidades do Rio destacavam-se: o General Golberydo Couto e Silva ("Nacionalismo Democrático"), Luiz Carlos Mancini (ProgressoEconômico e Justiça Social), o General [urandir Bizarria Mamede (sobre as For-ças Armadas e Democracia), José Garrido Torres (sobre a Livre Iniciativa) eRaymundo Padilha {sobre investigação Parlamentar na União Nacional dos Es-tudantes).':" Foi também levado em consideração o General Lyra.'!'

Juntamente com o IBAD, o IPES patrocinava também várias outras sériesde transmissões na televisão, tais corno "Frente a Frente" e apresentações indi-viduais de questões polêmicas, entre elas "Que. Pensa Você sobre a ReformaAgrária?", na TV Cultura, a avaliação de Carvalho Pinto pelo rádio e televisãoda situação política,112 a Reforma da Constituição e a Defesa da Democracia, por

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Herbert Levy, na TV Tupi,"3 a discussão dos Problemas Nacionais, por JoãoCalmon, na TV Cultura, o importantíssimo apelo e discurso público do AlmiranteSílvio Heck, através da TV 4 de São Paulo, lançando a Frente Patriótica CivilMilitar' I. e o discurso de Mem de Sá depois da realização do Congresso de Refor-mas de Base.'!"

O IBAD mostrava-se muito ativo no sul do País, especialmente por meioda TV Paraná, onde ele mantinha dois programas polüicos-chave.!'! A elite orgã-nica, principalmente pol intermédio do [PES, conferia ajuda, patrocinava e coor-denava uma maciça campanha na televisão em prol da Aliança para o Progresso,coordenada com suplementos de jornal e distribuição de panfletos. Patrocinava,também, o programa de Gilson Amado, "TV Escola",'!" e a série "Capitães doProgresso", trinta semanas de programas em Belo Horizonte, São Paulo, Recife,Salvador e Brasília.I"

A rede de propaganda geral e doutrinação do IPES se incumbia de fazercircular e retransmitir por todo o país material para televisão que se produzia noRio e em São Paulo, fazendo um bom uso das linhas aéreas, estações de televisãoe outras agências amigas.'!" Objetivando coordenar atividades de análise da con-juntura e manter uma presença constante junto à opinião pública sobre os assun-ros da atualidade, o IPES montou um "bureau de oradores". No Rio, essa açãoera liderada por Harold Polland, Nei Peixoto do Valle, Oswaldo Tavares e RuiGomes de Almeida, enquanto que, em São Paulo, Flávio Gaivão dirigia taisoperações.P"

De julho a setembro de [962, antes das eleições de outubro para o Congres-SO, a Promotion S.A. patrocinou programas em nome da ADEP, em treze estaçõesde televisão em todo o país, muitos dos quais eram retransmitidos por váriasemissoras de rádio, num total de 312 estações. Nesses programas, conhecidas figu-ras públicas da direita discutiam os assuntos de atualidade. As estações colabo-radoras cobravam 450 mil cruzeiros por programa de trinta minutos de duração,com duas apresentações semanais, perfazendo um total de 140 milhões de cruzei-ros. Os programas apresentados eram: "Esta é a Notícia", "Assim é a Democra-cia", "Democracia em Marcha", "Julgue Você Mesmo", "Estado do Rio emFoco" e "Conheça seu Candidato".':"

Em "Assim é a Democracia", a ADEP patrocinava e promovia a apresenta-ção de políticos da ADP e empresários como o Padre Godinho, Antônio Feliciano,Alípio Correa Netto, Araripe Serpa, Paulo Lauro, Hamilton Prado, Aniz Badra,Arnaldo Cerdeira, Agenor Lino de Mattos, Menotti dei Picchia, [arnil Gadia,Yukishique Tanura, José Henrique Turner, Scalamandré Sobrinho, Abreu Sodré,Mário Covas, Cunha Bueno, José Menck, Tufic Nassif, Herbert Levy, HomeroSilva, Antônio Magaldi, Valério Giuli, Chaves do Amarante, Dante Perri eMário BenL122

A elite orgânica se aproximou de inúmeros produtores, atores e diretoresfamosos de programas de televisão, tais como Gilson Arruda e Batista do Amaral.Favorecia o uso de programas cômicos, quando possível. Rui Gomes de Almeidaobservava que uma piada contra um político provocaria um "dano enorme"., Negava, ao contrário, o apoio aos atores que não cooperassem ou agissem contraos programas, as linhas de raciocínio e as pessoas que o IPES patrocinava. Talfoi o caso do humorista Chico Anísio, sagaz observador da realidade social. Outravítima desse tipo de pressão foi Arapuã, o colunista amplamente lido da Vitima

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Hora que mantinha uma seção na qual havia freqüentes críticas humorísticas àdiretriz política dos Estados Unidos. Ele foi forçado a deixar o jornal em 1962.123

Finalmente, a elite orgânica era capaz de bloquear indivíduos e programasindesejáveis e desfavoráveis. Era compreensível que ela não encontrasse muitasdificuldades em fazer isso. Em outubro de 1959, a poderosa Associação Brasileirade Anunciantes - ABA havia sido fundada com o objetivo de reunir os princi-pais anunciantes, estabelecer entre eles condições para a defesa mútua de seusinteresses, bem como a discussão de assuntos relacionados à publicidade e promo-ção de vendas.!" Os treze membros fundadores da ABA, assim como as compa-nhias que se reuniram a ela mais tarde, eram relacionados ao [PES como contri-buintes financeiros diretos e através da participação de seus di retores em níveisexecutivos do lPES.12s Foi precisamente com O intuito específico de coordenarsuas atividades e produzir uma diretriz comum que se realizou no IPES, emmeados de 1962, uma reunião dos grandes anunciantes da televisão.!"

O rádio era um poderoso meio de doutrinação geral e um valioso foco parase montar ações ofensivas contra o Executivo, principalmente em um país commassas de pessoas pobres, sem condições de terem televisões. Além disso, sendoanalfabeta uma grande proporção da população e, conseqüentemente, não atingidapelas atividades doutrinantes da imprensa escrita, o rádio transístor, relativa-mente barato e acessível nos mais recônditos cantos do país, representava umaajuda considerável para a elite orgânica. Como acontecia com a televisão, o IPESnão patrocinava abertamente os programas de rádio. No entanto, suas ligaçõescom O rádio não eram apenas em forma de apoio financeiro aos programas sema-nais anticomunistas, dirigidos a um público de classes trabalhadoras, como osda Rádio Tupi de São Paulc.!" mas também de patrocínio de uma variedade deprogramas e figuras públicas, conferências e discussões.

Fazia-se grande parte da propaganda da elite orgânica pelo rádio, com Oostensivo ou encoberto patrocínio da ADEP e da Promotion S.A. Em 1961, oIBAD apresentava programas de rádio em trinta e quatro das principais cidades.Em julho de 1962, ele tinha cinqüenta e um programas em horários nobres duran-te a semana e transmissões especiais nos fins de semana. No auge de suas ativida-des, dispunha de mais de oitenta apresentações semanais no rádio, para todo opaís, nos horários especiais. No apogeu da campanha anterior às eleições, finan-ciava mais de trezentos programas diários praticamente controlando o horário'nobre das estações de rádio do paIs.L28 Através de 82 estações, transmitia progra-mas como "Congresso em Revista" e "A Semana em Revists".'29 Produzidas emlinguagem popular, tais apresentações levavam aos ouvintes os pontos de vistada elite orgânica que, por sua vez, também formava sua própria "Cadeia de De-mocracia", compreendendo mais de cem estações de rádio em todo o Brasil. Deoutubro de 1963 até o golpe de abril de 1964, as estações de rádio dessa redeorganizada por João Calmon (dos Diários Associados), entre outros, entravam noar exatamente no mesmo horário em que as do líder trabalhista Leonel Brizola,interferindo assim efetivamente na sua transmissão e desfechando fortes ataquesà esquerda e ao trabalhísmo.P?

O IPES também procurava 8 ajuda de Raul Brunini da Rádio Mundial doRio de Janeiro, emissora de grande audiência, e a de Alziro Zarur, político popu-lista cristão de direita, que causava grande impacto nas favelas urbanas e compenetração nos setores de Umbanda.!" Políticos profissionais serviam de fontes

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de avaliação e de assessores na eficiência e relevância da campanha de propagan-da do IPES, relatando ao Comitê Executivo suas próprias impressões e as quehaviam coletado entre o público em geral. Nesse respeito, o Senador Mem de Sásobressaiu-se, em decorrência de sua capacidade e influência.P' Ele representavauma das mais importantes ligações encobertas que o I PES mantinha no Con-gresso. Como parte de sua função de assessoria, Mem de Sá conclamou a lide-rança do I PES a enfatizar que o "desenvolvimento" só poderia ser alcançadoatravés de mais segurança e da liberdade de ação da empresa privada.

As personalidades de teatro e de televisão conferiram uma ajuda representa-tiva, como Carlos Lage, ligado ao líder ipesiano Gilbert Huber Jr.133 Isso pro-porcionava uma forma sui generis de intervenção "cultural". O IPES apoiava oTeatro SAJE de São Paulo, incumbindo-se da folha de pagamento do seu pessoal.'>'O líder Luís Cássio dos Santos Werneck era responsável pelos contactos nessaárea. O Grupo de Opinião Pública também tomou parte ativa no preparo e distri-buição de filmes de propaganda.

Guerra psicológica através de cartuns e filmes: O IPES procurava atingir um vastopúblico alfabetizado pelo uso de cartuns e charges. O "Diálogo Dernocraticus"era publicado em quatro jornais bastante vendidos nos setores populares e dapequena burguesia (O Dia, a Luta Democrática, a Última Hora e O Globo), enfa-tizando valores como a iniciativa privada, a produtividade e a pluralidade política,assim como II rejeição de diretrizes políticas "estatizantes" ou socialistas.t'" A im-portância dos cartuns mostrava-se bem grande em utn país onde um grande seg-mento da população tinha limitada capacidade de leitura. Esse fato, devidamentepercebido pela elite orgânica, incentivou a vasta divulgação de livretos, revistas,cartuns na imprensa e folhetos que popularizavam a mesma linha de argumentaçãodesenvolvida pelo complexo IPES!lBAD em outros setores da mídia, emboradirigidos a outras seções do público.P"

Para atingir um público grande, o IPES dependia de uma série de filmesextremamente eficazes. produzidos por ele próprio e de outras fitas às quais obte-ve acesso. Eles eram apresentados em todos os cinemas pelos quatro cantos dopaís, tanto em seções regulares quanto especiais. Eram passados em um "sistemade cadeia", por arranjo feito com empresas de distribuição e donos de cinemasligados ao IPES. Organizações subsidiárias e relacionadas, 'como o Serviço Socialda Indústria - SESI, circulavam filmes feitos pelo IPES. A televisão também osexibia, como era o caso do programa de atualidades populares de SilveiraSarnpaio.!"

Objetivando atingir aqueles que não tinham condições financeiras para ad-quirir uma entrada de cinema, o IPES montava projetores em caminhões abertos eônibus com chassis especiais, mostrando os filmes não s6 nas favelas e bairrosurbanos mais pobres das maiores cidades do Brasil, mas também por todo o inte-rior dos Estados.Pê Esse projeto seguia a idéia lançada por Oswaldo Tavares, deum "cinema ambulante" para as seções mais pobres do Rio. Algumas das grandescompanhias supriam o IPES da infra-estrutura técnica necessária, como a Mes-b_la S.A., que contribuía com equipamento de projeção e outras exigências. AMercedes Benz e a CAIO, uma das maiores montadoras de carrocerias de ônibuse caminhões do Brasil, ajudavam com transporte.l'" Com o apoio de gerentes eproprietários, passavam-se filmes também para consumo dos trabalhadores nas

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fábricas localizadas nos centros industriais das cidades grandes. A fita principalera, geralmente, um faroeste americano, enxertada com uma curta metragem doIPES, que variava de um apelo para a harmonia social entre as classes a umcomentário sobre a exploração de estudantes com fins polírlcos."?

Jean Manzon, o maior produtor de documentários comerciais do Brasil, fezalguns dos filmes para o IPES, bem como ajudou a divulgá-los.':" Entre essesfilmes incluíam-se: "O IPES é o seguinte", "O Que é o IPES?", "História de umMaquinista", "Nordeste Problema n." 1", "Criando Homens Livres". Outros apre-sentados por intermédio dessa cadeia de propaganda eram: "Que é a Democra-era?", "Vida Marítima", "Portos Paralíticos", "Asas da Democracia", "Conceitode Empresa", "A Boa Empresa", "Deixem o Estudante Estudar", "Uma EconomiaEstrangulada", "Papel da Livre Empresa".':':' Responsabilizaram-se por essas ope-rações José Rubem Fonseca e Luís Cássio dos Santos Werneck.t ':'

O IPES de São Paulo, por iniciativa própria, produziu alguns filmes, assimcomo uma série sobre problemas brasileiros, tais como "Reforma Eleitoral", "Re-forma Agrária", "Estatismo" e "Livre Empresa". Patrocinou "Filhos da Dema-gogia", feito pelo senador Auro de Moura Andrade, um dos maiores proprietáriosde terras de São Paulo.!H O CONCLAP também produziu alguns filmes e aorganização Rearmamento Moral, sediada nos Estados Unidos, com a qual o com-plexo IPES!IBAD mantinha um estreito relacionamento, forneceu vários outros.As cópias desses filmes ficavam sob a custódia de Luiz Severiano Ribeiro, o maiorproprietário de cinemas e distribuidor de filmes do Brasil,':" cujo apoio foi defato muito útil.l<O

Companhias de publicidade contribuíam financeiramente para a produção defilmes que transmitiriam mensagens específicas do I PES e a ideologia empresarial.Essa operação foi discutida por J. B. Leopoldo Figueiredo e o publicitário DavidMonteiro que, para essa tarefa, colaboraria com Emil Farah, da McCann EricksonPublicidade e a revista Visão.!H

Os filmes não visavam apenas o consumo do operariado industrial, trabalha-dores rurais ou o lumpen-proletariado. Aqueles produzidos em São Paulo eramapresentados em lugares tão exclusivos como o Monte Líbano e outros clubessociais paulistas, o Lyons Clube e a Escola de Polícia de São Paulo.':" RicardoCavalcanti de Albuquerque':" se encarregou da exibição de fitas para a indústriae o comércio e algumas outras entidades. Filmes eram também mostrados emuniversidades, através da penetração do IPES nos Grêrnios Estudantis, como nocaso da Faculdade de Medicina de São Paulo e a Faculdade de Direito da Uni-versidade Mackenzie. A. C. Pacheco da Silva!:IO tomou a si a responsabilidadedessas operações.

Finalmente, o IPES também produziu uma série de filmes com um duploapelo às Forças Armadas e ao público em geral, difundindo e legitimando o papelde "construção nacional" dos militares. Elaboravam-se filmes sobre a MarinhaMercante, a Força Aérea, a Marinha de Guerra e o Exército. Conforme LuísCássio dos Santos Werneck, algumas das fitas deveriam ser feitas pelo Canal100, de Carlos Niemeyer, produtor de curtas-metragens e de filmes de atualida-des.1H José Rubem Fonseca foi incumbido dc estudar os roteiros com o pr6prioCarlos Niemeyer.

O IPES recebia, ainda, o apoio de fontes estrangeiras principalmente daembaixada americana. Nei Peixoto do Valle mantinha contactos com Harry Stone,

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o representante da Motion Pictures, o qual também fazia o fornecimento de ma-terial básico,':'-

Doutrinação especifica

Esta scção descreve as atividades que pretendiam moldar o sctor empresarialcm uma classe "para si" e impeli-Ia para a ação, apoiando e participando dire-ramerue do esforço geral liderado pela elite orgânica.

Como Glycon de Paiva expressou. o lema do IPES para os empresários deve-ria ser: "se você não abandona os seus negócios por urna hora hoje. amanhã nãoterá negócio algum para se preocupar".':" A doutrinação específica desenvolvidapelo I PES visava também uma mobilização tio sempre crescente número deintelectuais. jornalistas. estudantes universitários e de militares das Forças Arma-das em dircção a uma "vontade comum", definida pelo emergente bloco de poder.O resultado das arividades ipesianas foi dissimular as demandas especificas dobloco multinacional e associado no conjunto das várias pressões de um espectromais amplo de interesses c ação de classe. Concomitantemente. isolava-se o Exe-cutivo de loão Goulart e neutralizavam-se as posições de caráter reformista-dis-tributivo. no interior das classes dominantes. Os Grupos de Doutrina, Estudo,I ntegração. Opinião Pública do Rio e os grupos encobertos do I PES de São Paulodesenvolviam a maior parte dessas atividadcs.

Os Grupos de Doutrina proviam instrução ideológica para ser disseminadaentre os associados do complexo IPES!IBAD. Julgou-se necessária essa doutrina-ção para que houvesse u-m denominador comum entre os associados do I PESoquando participassem de reuniões privadas. simpósios, conferências. entrevistas,ou qualquer outra forma de manifestação pública, quer política, quer ideológica.A formação dessa consciência de classe e posicionamento político comum eraconsiderada de suma importância. tanto para a açâo do I PES sobre o sistema polí-tico quanto para o desenvolvimento da organização como um todo.?'

O complexo I PES/I BA D não apenas desenvolvia uma campanha ideológicavisando suas próprias fileiras de empresários, militares c categorias funcionais.mas também doutrinava o bloco burguês em geral. em uma operação que dentrodo IPES se conhecia por "projeção de doutrina". A elite orgânica patrocinava eorganizava conferências, discussões e simpósios em escolas, faculdades, residên-cias. clubes sociais e esportivos, associações estudantis e profissionais e nos pró-prios escritórios do I PESo Muitos dos participantes eram então recrutados pelasunidades políticas do Grupo de Integração. O General Heitor Herrera manipulavaos detalhes. A mensagem que a elite orgânica disseminava de marcante tom anti-comunista e objetivos sócio-econôrnicos modcrnizantes, envoltos em uma auraprofissional-tecnocrata. exercia uma grande atracão sobre novos recrutas entre osempresários. militares e as classes médias. Ela servia ao propósito de sustentar efomentar a legitimidade do envolvimento antigovernista das Forças Armadas napolítica.

Uma medida de êxito da máquina de propaganda da elite orgânica foi mos.· ·tfada em meados de 1963, quando atitudes politicas populistas e nacional-refor-mistas foram reveladas pelo IPES e reconhecidas pelas classes médias. as ForçasArmadas e empresários como fenômenos interligados. fortalecendo, assim, tantoa sua rejeição ao regime quanto aos seus críticos do trabalhismo e da esquerda.

Objetivando sublinhar repetidamente a mensagem do complexo IPES/IBAD,fez-se uso de vários métodos, destacando-se como muito populares os cursos polí-tico-econômicos. Esses cursos eram administrados por membros civis e militaresda elite orgânica, que disseminavam entre a intelectualidade orgânica empresarialos conceitos e as preocupações com segurança e desenvolvimento calcados empremissas empresariais. Freqüentavam as sessões os industriais, banqueiros, téc-nicos e milltares.l'"

Sem vinculá-los ao IPES, este indicava um grupo de seus diretores para cadalugar onde houvesse um seminário, em um número tal que os permitisse estabe-lecer o tom e os objetivos da discussão posterior à conferência, assegurando assimsua influência.'s6 Esses diretores se reuniam antes dos seminários, a fim de fixaras normas gerais de orientação dos referidos seminários e conferências, que demodo geral se realizavam com a cobertura de uma associação de interesses elas-sistas, como as Associações Comerciais e Federações Industriais, assim como asSociedades Rurais, entidades culturais, profissionais e esportivas. Os temas trata-dos naqueles seminários patrocinados e .organizados pelo I PES refletiam o sofis-ticado nível da elite orgânica.':" Além disso, valendo-se da coincidência de algunsde seus líderes e associados com os da ESG e da ADESG, o IPES organizava eparticipava de cursos para empresários e igualmente para militares. Ao final de1962, o líder José Ely Coutinho informava à liderança do IPES sobre a organi-zação de um Curso de Defesa Nacional na Sociedade Harmonia de Tênis, o clubesocial e esportivo paulista, curso este modelado a partir de um anteriormentedado no Jóquei Clube, sob o patrocínio da ADESG.1S8 Dos ipesianos, participaramPacheco e Silva e Luís Cássio dos Santos Werneck."!

No Clube de Engenharia de São Paulo, centro para discussão profissionale articulação política. foi estabelecido um ciclo de conferências sobre as "Causasda Inquietação Social no Brasil".I60 Um outro centro de disseminação ideológicaera a Fundação Lowndes, formalmente instituída em dezembro de 1963, no Riode Janeiro. Sua patrona era Vivian Lowndes, uma contribuinte do IPES eesposa do líder Donald Lowndes, que era o presidente. A Fundação oferecia cur-sos ideológicos e proporcionava os pontos de referência aos empresários e seusexecutivos, Contava como seus professores os associados do IPES ou pessoal aele Iigado.v"

O complexo IPES!IBAD não confiava apenas nos intelectuais orgânicoslocais para disseminar suas opiniões. Alguns europeus e americanos tambémparticipavam. O IPES trouxe da França a militante escritora de direita SuzanneLabin, cujos livros ele distribuiu. A escritora francesa proferiu conferências sobreas Tâticas de infiltração comunista e a Guerra política para as mais variadasplatéias, em tão diversificados lugares do Rio e de São Paulo como a ADESG,a ESG, o Centro de Indústrias do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Armadores, oColégio Santo Inácio, o Teatro Municipal, o Instituto de Educação do próprioIPES, o Automóvel Clube e o Colégio Mackenzie. Houve conferências e reuniõesem outras cidades. como Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitlba.l'"

A elite orgânica promovia conferências e seus membros faziam palestras naFederação das Indústrias de São Paulo, no CONCLAP, no Forum Roberto Simon-sen, na Associação Comercial do Rio de Janeiro e em outras associações de classepor todo o país. Nesse processo, o IPES não se limitava a condicionar apenascivis a aceitarem e defenderem uma determinada orientação de desenvolvimento.

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Ele convidava oficiais militares para essas conferências e cursos, expondo-os àsdemandas e interesses empresariais, generalizados como "necessidades industriaisnacionais". Nessa operação, os militares intensificavam a absorção de valores civil-empresariais. A congruência de valores já estabelecida através do relacionamentocom a ESG se fortaleceu e as Forças Armadas passaram a ser projetadas comosócios empresariais e políticas "naturais" para essa determinada forma de desen-volvimento.!"

A Igreja se tornou outro campo de batalha ideológica no governo de JoãoGoulart e talvez um dos mais influentes canais para doutrinação. Ao final dadécada de 50 e início da de 60, o esforço para a mudança social permeou o cleroe conflitos societários eram refratados nas clivagens ideológicas mais recente-mente formadas. Novas percepções e posicionamentos pelos níveis mais baixos dahierarquia do clero e por figuras esclarecidas, como o Frei Tomás Cardonell, domi-nicano francês, e o Padre Henrique de Lima Vaz, professor de filosofia, começa-vam a desafiar a atitude tradicional da hierarquia e mesmo as posições de direitade figuras de centro como Dom Helder Câmara e Dom Eugênio Salles, Bispo deNatal.

As posições reformistas cristalizavam-se em organizações populares, comoa Juventude Operária Católica, a Juventude Estudantil Católica, a JuventudeUniversitária Católica e a Ação Popular, uma frente política multissetorial. A Igre-ja se mostrava fundamental para a elite orgânica, já que o clero proporcionavaII tão necessitada comunicação com as bases sociais populares, constituindo-se naúnica estrutura nacional verdadeira além das Forças Armadas. Ela representavao órgão ideal para atingir as classes médias, das quais os estudantes, intelectuais,os movimentos femininos 'organizados e os militares obviamente faziam parte,assim como para agir por seu intermédio no seio das classes camponesas e as tra-balhadoras urbanas.

Certa pressão sobre a Igreja foi exercida pelos associados do complexo IPES/IBAD, ligados às suas estruturas eclesiásticas e leigas, e também através da OpusDei, organização que na América Latina, como na Espanha, apoiava o liberalismoeconôrnico e sistemas políticos tecnocráticos em contraste com outros segmentos daIgreja daquela época.P' Essas atividades do complexo lPES/IBAD tentavam incor-porar o mais amplo espectro possível dos intelectuais católicos e figuras públicastambém católicas que não eram aliados do governo ou que faziam oposição a ele.Assim, posições de certa forma discordantes eram reunidas por meio de umamensagem não estruturada de Solidariedade Social-Cristã, que se mesclava coma visão modernizante-conservadora da elite orgânica. Desta forma, tão discrepan-tes figuras como Alceu Amoroso Lima e o extrema direita Gustavo Corção entra-ram para o "rebanho" político do IPES.I~ Adib Casseb, do Grupo de Doutrinae Estudo de São Paulo, estava envolvido em um programa de conferências edebates, que tentava convencer o público da "incompatibilidade do Socialismo eda Doutrina Social da Igreja".I66 Muitos dos intelectuais católicos voltados à refor-ma foram assim subtraídos do campo popular de João Goulart,

Paulo de Assis Ribeiro e José Garrido Torres, dois associados ipesianos comsjgnificativas ligações na hierarquia católica, organizaram um seminário para oprincípio de 1963, sobre as "Reformas democráticas para um Brasil em Crise",que seria patrocinado conjuntamente pela Pontifícia Universidade Católica e aAssociação dos Dirigentes Cristãos de Empresa - ADCEI&7. Os seminários pro-

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punham oferecer a "resposta cristã à crise" em oposição às soluções socialistasque eram apresentadas. Os participantes das mesas-redondas eram todos nomesconhecidos, compondo uma diversificada, e em certos casos até mesmo discrepan-te coleção de empresários, tecno-empresários, políticos e acadêmicos. Os membrosdessas mesas compreendiam: Octávio Marcondcs Ferraz, João Carlos Vital, Gui-lherme Borghoff, Clemente Mariani, Padre Velloso. João Paulo de Almeida Maga-lhães, Paulo Ayres Filho, Thcrnístocles Cavalcanti, l. B. Leopoldo Figueiredo,Lucas Lopes, Oswakio Tavares, Eugênio Gudin, Paulo Lacerda, Miguel Reale,Júlio Barata, o General luarez Távora, Gustavo C0r<;50, R. Cardim, E. Fischlo-witz, Gilbert Huber [r., Augusto F. Schmidt, Gilberto Marinho, Konder Reis,Eudes de Souza Leão, o General Betêrnio Guimarães, Oemerval Trigueiro, I. Iri-neu Cabral, Wanderbilt O. de Barros, John Cotrim, H. Penido, Álvaro Alvim,Raimundo Moniz Aragão, o General L. A. Medeiros. Glycon de Paiva, Walter R.Poyares, Suzana Gonçalves, Tarcísio Padilha. o Padre O'Á vila, Cândido Mendesde Almeida, João Camilo de Oliveira Torres, Edgar da Mata Machado, RaimundoPadilha, Joaquim Ferreira Mangia, Mem de Sá, Mário Henrique Simonsen e Márioda Silva Pinto. Faziam parte da comissão coordenadora: Celestino Basílio, JoséCarlos Barbosa Moreira, Daniel Faraco, José Garrido Torres, Paulo de Assis Ri-beiro e os padres Laércio, D'Avila e Beltrão. A Denisson Propaganda, de proprie-dade do líder ipesiano José Luiz Moreira de Souza e os jornais O Globo, [ornaldo Brasil. Jornal do Comércio e O Jornal cuidariam da promoção do evento.

O IPES também patrocinava um Centro para Pesquisa e Documentação Sociale Política na Pontifícia Universidade Católica, bem como o estabelecimento deum curso sobre ciência política e social na Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras de Campinas. Ele distribuía aos responsáveis por "tomadas de decisão"18sum conjunto de estudos e trabalhos sobre uma variedade de assuntos, grandeparte deles incluída nas propostas das Reformas Básicas do IPES e do Congressode Reformas de Base. Organizava ainda, através da PUC e dos Diretórios Acadê-micos, uma série de seminários, conferências e trabalhos de discussão com vistasao corpo estudantil em geral.

As suas ligações com a Pontifícia Universidade Católica - PUC eram muitosignificativas. Ela supria o IPES de apoio intelectual - um campo de ação emvirtude de sua população estudantil e acadêmica - e agia como um canal para apenetração nas classes médias. Funcionava também como um canal de contribui-ções financeiras.

O I PES dava assistência a diversas revistas apoiadas pela Igreja ou deorientação eclesiástica como a Revista Ponte Pioneira e uma outra mais intelectua-lizada, Convivium, dedicada aos "acontecimentos culturais e políticos" e ao "estudoe defesa dos valores de nossa civilização cristã ocidental ".IIl' Como nos outroscasos o IPES "comprava" um considerável número de revistas para distribuiçãoentre contribuintes e patrocinadores. A Convivium era escrita principalmentepor professores universitários e intelectuais relacionados com a Igreja e publicadapela Associação de Cultura Brasileira Convívio, dirigida pelo padre AdolphoCrippa, teólogo e professor da PUC. O "Convívio", também assistido financeira-mente pelo IPESo foi fundado em 1961 por um grupo de ati vistas paulistas parafuncionar como núcleo de elaboração ideológica e de doutrinação política. Mi-lhares de militantes passaram pelos cursos de formação política do "Convívio".Como a ESG o faria entre os militares. o próprio IPES entre os empresários,

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e intelectuais e ADP no meio partidário, o "Convívio", agindo na área da Igreja,dirigia seus esforços contra os inimigos comuns. Os empresários contribuíampara o "Convívio" por meio da UNAP - União Nacional de Amparo à Pesquisa,uma espécie de fundação, criada em 1963, e que dissimulava a presença do IPES.Essa organização agia por meio do Instituto de Formação de Líderes, uma agênciade notícias e um Centro de Pesquisa. O Instituto oferecia cursos básicos aosestudantes, sindicalistas e outros setores do público, preparando-os para a mili-tância ideológica e política em suas áreas específicas de atividade, oferecendoorientação, como também visando a ampla disseminação da mensagem do IPES.Os "melhores" alunos eram escolhidos para participar de cursos especializadospara ativistas, tendo em mente, em especial, a organização estudantil e sindical.O Instituto preparava também ciclos de conferências destinados a doutrinar aopinião pública.'?" Apoiava, ainda, outros projetos do Padre Crippa, tais comoa Escola Superior de Liderança e a organização de um seminário político, queviria a ser o centro de estudos do desenvolvimento. João Baptista LeopoldoFigueiredo indicou Paulo Edmur de Queiroz como o homem de contato e assessordos projetes do Padre Crippa."! A agência através da qual esse centro operavaera a Planalto, porta-voz do IPES, e hoje conhecida como Plana. Com relaçãoao Centro de Pesquisa, ele fornecia o molde para as atividades dos intelectuaisde direita dedicados à análise da situação política. Esse trabalho era subsidiáriodo Grupo Doutrina e Estudo e ao do Grupo de Levantamento da Conjunturado IPES de São Paulo. Essa seção publicava a revista ConviviumF"

Procurando legitimar o seu posicionamento público, o IPES também inter-vinha em grupos aparentemente inofensivos. A Associação Cristã de Moços foium deles.!" Apesar de sua aparência e suas declaradas atividades esportivas eculturais, a ACM se envolvia profundamente em assuntos políticos. O apareci-mento dos jovens da ACM e suas mães em passeata pelas ruas de São Paulo,expressando o seu temor pela "cornunização" do país, representou uma formaeficaz de propaganda. A ACM se envolvia bastante na mobilização popular contrao governo, especialmente nas marchas de rua e comícios públicos, juntamentecom organizações de mulheres das classes médias e outros grupos e movimentospatrocinados pelo J PESo Como foi relatado à liderança do IPES, "a ACM julgavaconveniente manter a unidade do grupo que organizou o Comício Democráticona Praça Roosevelt em São Paulo".IH Para conferir continuidade a seus esforços,ela procurou o auxílio do IPES. Era também um importante recurso para a infra-estrutura do IPES, já que ela proporcionava uma ampla rede de centros parareuniões, discussões, conferências e seminários. Seus arquivos, cuidadosamenteorganizados, supriam a elite orgânica de uma população-alvo identificável, paraa disseminação de idéias nos vários bairros. Ela propiciava um valioso perfil dasclasses médias, reunindo pessoas de tipos de vida diversificados e faixas etáriasdiferentes. Valendo-se de sua imagem pública, a ACM conferia legitimidade insti-tucional às atividades que não eram muito apropriadas ao lema da associação dejovens; ao mesmo tempo ela poderia também operar como uma unidade para"limpar" contribuições especiais.

Algumas das abordagens e temas dos seminários e conferências organizadospelo IPES que se realizaram nas sedes da ACM eram: "Executivos de Empresase a Preservação da Livre Iniciativa", "A Responsabilidade da Empresa Privadadiante da Sociedade", "Cooperação Econômica entre o Brasil e os Estados Unidos"

e "O Papel do Governo". Como um subproduto de suas tentativas de formarsolidariedade de classe e elevar a consciência política entre empresários, exe-cutivos e gerentes, o IPES também disseminava nessas conferências a sua men-sagem ideológica aos sócios classe média da ACM. Ressaltava, entre os organi-zadores de tais eventos, o empresário ipesiano Décio Fernandes Vasconcellos.!"

A União dos Escoteiros do Brasil, liderada pelo Frei Daniel, também recebiaassistência do IPES, através do Frei Met6dio de Haas, que fora indicado peloArcebispo Dom Jaime de Barros Cârnara.U" O contato inicialmente se estabeleceuatravés de Eugênio E. Pfister com Paulo Ayres Filho. Guilherme Martins, dacompanhia Philips, foi procurado como um candidato à contribuição, por suas"ligações com as atividades de escotismov.!" As contribuições aos escoteirosserviam para manter a imagem pública do IPES e o supriam de faturas legítimaspor· "despesas" feitas, bem como outro meio ambiente de classe média no qualoperar.

O IPES também desenvolvia suas atividades de doutrinação através daFraterna Amizade Cristã Urbana e Rural' - FACUR, que fazia uso das sedesda Sociedade Rural Brasileira para os seus seminários e cursos. Nessas atividadesestavam envolvidos os ipesianos José Ulpiano de Almeida Prado, Paulo Edmurde Souza Queiroz, José Pedro Gaivão de Souza, da Faculdade Paulista de Direito;o Padre Raphael UaM, da Opus Dei, Adib Casseb c o Padre Domingos Crippa.!"!A FACUR também se envolveu intensamente na mobilização das classes médiascontra o Executivo e especificamente na mobilização política das mulheres, erga- .nizada 'pelo IPES, o que será discutido detalhadamente no Capítulo VII.. Outro meio sistemático utilizado para levar a ideologia do IPES a recrutase também para moldar a Corça social empresarial em um bloco burguês de poderera através de uma unidade especial, o Grupo de Educação Seletiva - GESe através dó Instituto de Formação Social. O GES administrava dois cursosbásicos, o Curso de Atualidades Brasileiras - CAB e o Curso Superior de Atua-lidades Brasileiras - CSAB, que continuaram a operar depois de 1964. Sob aresponsabilidade de Oswaldo Breyne da Silveira: em São Paulo o IPES tambémorganizava seminários, conferências e cursos especializados.F'' Conferia "bolsasde estudo" a estudantes, líderes sindicais urbanos e rurais e outros ati vistas' dosCírculos Operários da Universidade Católica de Campinas, do "Convívio", do Mo-vimento Universitário de Desfavelamento e do Instituto Universitário do Livro, afim de possibilitá-los a participar daqueles cursos.

Os cursos eram oferecidos a platéias diversificadas e em lugares diferentes,levando em consideração as suas diferenças culturais e intelectuais, assim comoos seus papéis funcionais. Entretanto estimulava-se o intercâmbio entre os grupos,para assim "atenuar as barreiras de classe".

O programa de "educação seletiva" consistia em uma forma sui-generis decooptar membros do aparelho do Estado e de outras classes. Ele começou coma intenção inicial de aproximar segmentos diferentes da classe empresarial egrupos funcionais de modo a "conviverem" intelectualmente. Um segundo estágiofoi, então, apresentar-lhes o IPES e torná-los associados. ISO

O IPES considerava a composição de uma unidade de educação seletiva comoideal se formada por dez empresários, quatro profissionais liberais, dois sindica-listas das classes trabalhadoras, dois estudantes, dois jornalistas, cinco ipesianos

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-I

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-'''"~:

e três convidados "especiais".'81 Ele reservava dois lugares para candidatos even-ruais que pudessem usufruir ou contribuir especialmente para qualquer curso espe-cifico.

Inicialmente os seminários seriam enxertados nas organizações existentesque tinham à sua disposição facilidades próprias, como a Associação Comercial,a Federação das Indústrias, o Clube dos Diretores Lojistas, o Centro de Enge-nheiros, a Reitoria da Universidade de São Paulo, a PUC, convidando para adireção de cada seminário um membro da respectiva organização onde o cursose realizava. Os ativistas dos Grupos de Doutrina e Estudo de São Paulo e osmembros do Grupo de Integração e do Grupo de Estudo e Doutrina do Rioproveriam o apoio de infra-estrutura, assim como seriam os seus beneficiários.

Os objetivos dos cursos seriam "informar" os empresários, profissionais,tanto civis quanto militares, e os responsáveis pela formação de opinião pública,como jornalistas, líderes estudantis, militantes de sindicatos (as "diferentes classesda elite nacional", conforme o General João Batista Tubino, líder do IPES)sobre os problemas brasileiros dentro das perspectivas ideológicas do IPES.182Ele também cultivava esse solo fértil como uma fonte de novos recrutas. Formou-se posteriormente a Associação de Diplomados do IPES - ADIPES, urna orga-nização de seus ex-alunos que visava mantê-los ligados ao IPES e com importantesfunções depois de 1964. A ADIPES era estruturada no modelo da Associaçãode Diplomados da Escola Superior de Guerra - ADESG, com funções seme-lhantes, compartilhadas também com o "Convívio". Conforme o associado ipesia-no, o Coronel J. Vidal, a ADIPES era integrada ao Curso de AtualidadesBrasileiras, servindo de um reservatório de ativistasl83 para a ação política e apesquisa de diretrizes politicas.

Os cursos tinham a duração de três meses e eram organizados em três ciclosdiferentes, destinados, segundo o General Tubino, a revisar "conceitos básicosnos campos de economia, sociologia e política" e a estudar os "aspectos prin-cipais da conjuntura nacional",tk assim como pesquisar e estipular o referencialpara a solução dos principais problemas da situação brasileira e a apresentarpesquisas feitas pelos grupos de trabalho de variados participantes."! Os confe-rencistas nas atividades do CAB consistiam, como sempre, em nomes conhecídos!"e a estrutura desses cursos compartilhava semelhanças com os dos grupos deestudo e cursos da ESG. O CAB servia a outros objetivos também. Os cursoseram unidades de desenvolvimento de idéias, bem como de pesquisa em assun-tos de interesse empresarial ou poluíco.!" O planejarnento dos cursos visavaconstituir um esforço anti-ISEB, uma tentativa de se colocar uma alternativapara o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o centro nacional-reformista depesquisas e de formulação de opções políticas, que atraía acadêmicos, militares,jornalistas e estudan tes.188

Finalmente, o Instituto de Formação Social - IFS, estabelecido em 1963,dedicava-se ao recrutamento de seguidores "em todos os níveis da sociedade bra-sileira" e à disseminação da ideologia do IPES. Representava uma conveniente

~, cobertura para cursos de doutrinação entre as classes trabalhadoras e para- o-desenvclvimento de ativismo sindical. O IFS oferecia cursos para empresários,executivos e gerentes, assim como estudantes e ati vistas femininas. Ele encarre-gava-se também de Cursos especiais para ativismo de sindicatos e de camponeses.

Conclusão

B óbvio que a extensão de operações desenvolvidas e alcançadas pelo com-plexo lPES/IBAD em tantas áreas envolvia extr~ordin~ria perícia profissionale política, assim como surpreendentes recursos financeiros que ultrapassavambastante o que o IPES oficialmente declarava como sendo suas despesas.

O bloco multinacional e associado, através de sua elite orgânica, era capazde englobar o apoio de amplos círculos das classes dominantes, na sua tentativade formar um novo bloco histórico. A elite orgânica não confiava unicamente naforça material que o seu domínio econômico lhe conferia para exercitar umaefetiva liderança das classes dominantes.

Tornava-se claro que, a partir de suas diretrizes políticas e de sua ação,a elite orgânica centrada no complexo IPES/IBAD sentia a necessidade de umaatividade ideológica que levasse ao estabelecimento de sua hegemonia dentro daclasse dominante, como um meio de subir ao poder. A formação de um blocoburguês militante e sua liderança político-militar pela elite orgânica mostrava-seuma condição necessária na luta do emergente bloco de poder para harmonizarsua predominância no campo econômico com a sua autoridade política e a suainfluência DO aparelho do Estado. A formação de um bloco burguês militantesob a liderança da elite orgãnica era também necessária para alcançar a contençãodas classes subordinadas e a exclusão dos interesses tradicionais.

Embora o bloco. modernizante-conservador fosse incapaz de se impor porconsenso na sociedade brasileira, ele, no entanto, era capaz, através de sua cam-panha ideológica, de esvaziar uma boa parte do apoio ao Executivo existente ereunir as classes médias contra o governo. Ademais, os efeitos das atividades docomplexo lPES/IBAD acarretavam conseqüências sobre a capacidade do Exe-cutivo e da esquerda trabalhista de compor um alinhamento exeqüível para rea-lizar suas reformas distributivas e medidas nacionalistas. Porém, a contençãoideológica das classes populares e a mobilização ideológica das classes médias porsi próprias não eram suficientes para levar a uma troca de regime. A contençãoideológica era suplementada e coordenada com outras atividades nos campos polí-ticos e militares.

A ação político-militar do bloco multinacional e associado seria vital para odesenrolar da crise do bloco histórico populista e fundamental' para levar àinstituição de um novo bloco de poder no Estado.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

l. Quanlo a essa argumentação. Finer fazuma observação ao afirmar que todo inte-resse econômico tem uma diretriz básica:"imobilizar o restante da economia. perma-necendo, ele próprio, tão livre quanto an-tes." Samuel FINER. Private industry andpolitical power. ln: Ramsay Muir lecture.Grã-Bretanha. Pall Mali PamphJet, 1958, p.7-9.

2. Em termos da regra de maximizar a sa-tisfação de uma classe, fração ou um blo-co, essa diretriz "é completamente racionale, além disso, somente será alcançada pelaação polüica". F. G. CASTLES. Businessand govemment: a typology of pressuregroup activity. Politicai Studies. Oxford,/7(2); 161, Oxford Univ. Press, [une, 1969.

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',.

3. I! interessante ressaltar que se aplica aesse caso a observação Ieita por RichardBisscl, ex-direror das Operações Secretas daCI A Americana. Ele mencionava a redeinterdependente de meios e órgãos que le-vam a uma mudança social. Deixou essefato bem claro em uma reunião do Coun-cil on Foreign Relations, quando enfatizouque "A intervenção secreta é... mais efi-caz em situações onde se empreende umesforço abrangente com um número de ope-rações isoladas, projetadas para apoiar ecomplementar umas às outras e obter umeleito cumulativamente significativo". Ci-tado em Fred HIRSCH & Richard FLET-CHER. The labour movement: penetrationpoint for US intelligence and transnationals.ln: ClA and the labour movement. Grã-Bretanha, Spokesman Books, 1977. p. 10.

4. O líder do I PES, Glycon de Paiva, es-tava cônscio do problema. Em uma reu-nião da Comissão Diretora do I PESo no dia03 de abril de 1962, ele observou que: "avolta do Presidente, sem grande demoranos Estados Unidos. vai dar muito o quefalar. O Presidente está aprendendo a go-vernar. Mesmo Tancredo Neves, apesar deser um mau aluno, também aprende. SeJoão Goulart trouxer consigo alguma f6r-mula, ele poderá gerar grandes coisas". Ha·via avaliações similares de mais outras fon·tes, sobre a capacidade de João Goulartmanobrar dentro do sistema. O embaixadorLincoln Gordon também acreditava que"João Goulart provou ser [um] político in·teligente, capaz e desejoso [de] vencer umaoposição a longo prazo com base [em] ob-jetivos moderados, de aparência respon·sável, enquanto ainda reivindicando leal-dade à sua base política popular... Porbem ou por mal, João Goulart está pro-vando ser [01 único líder no cenário atual,em torno do qual pode ser formada [uma]eficaz coalizão de forças poHticas centris·tas .. _". Telegrama de Brasília ao Depar.tamento de Estado, Lincoln Gordon, 27 demarço de 1962, NSF, nos Arquivos JFK.Alguns meses depois, Lincoln Gordon re·conhecia que: "O Congresso [cstá] comple.tamente desmoralizado pela demonstração[da] habilidade de João Goulart [de] oroganizar os trabalhadores em seu apoio (na]forma (de] greve gera!." Telegrama do Rioao Departamento de Estado, Lincoln Gor·

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dono 06 de julho de 1962. NSF. nos Arqui-vos JFK. (No mesmo telegrama, LincolnGordon menciona a volta de Brasília aoRio de um deputado do PSD que está che-gando para organizar os militares contraJoão Goulart). Em 1963, Lincoln Gordonvoltava a afirmar que João Goulart se mos-trara "um estrategista político excepcional-mente perspicaz. cujo desempenho em re-conquistar o pleno poder atingiria a maisalta avaliação em termos de política pura."Memorando de Lincoln Gordon a McGeor·gc Bundy, Casa Branca, Departamento deEstado, 07 de março de 1963_

5_ Sobre as atitudes políticas das classesempresariais em relação à elite dominante,quando esta é tomada como ilegítima, videF. G. CASTLES. op, cito p. 162-63.

6. Para Glycon de Paiva" Açâo Política éigual a ação discreta". IPES CD. Rio, 22de maio de 1962.

7. Glycon de PAIVA. citado em MarliseSIMONS. Whose coup? Brazilian Informa-tion Bul/etin, Estados Unidos, Califórnia,(12), Winter 1974. Vide também A. J.LANGGUTH. Hiddell Terrors. New York.Pantheon Books. -1978. cap. 3.

8. A percepção dos acontecimentos que le-varam ao golpe de 1964 como sendo umaconspiração militar pode ser encontrada deuma forma extrema em Albérico BarrosoALVES. O rom~nce da revolução: comoe por que aconteceu a revolução de mar-ço. Rio de Janeiro, Artenova, 1974. Tem-se dado considerável atenção ao complexomecanismo militar do golpe e à interpreta·ção dos acontecimentos que levaram a eleem abril de 1964, como tendo sido o resul-tado da ação de um aparelho militar au·tónomo, ou um subsistema militar_ Tal apa-relho militar autónomo. embora aliciadopor civis e com eles interagindo, revelou·se como instado a intervir devido a sua"predisposição institucional para moderaro sistema. bem como a sua ideologia deconstrução de nação aprendida na EscolaSuperior de Guerra". Sobre esse assunto,vide (a) Fernando PEDREIRA. Março lI:civis e militares no processa da crise bra-sileira. Rio de Janeiro, J. Álvaro, 1964. (b)Alfred STEPAN. The military in politics:clranging pallerns in Brazil. Princeton, Prin·ceton Univ. Press, 1971- (Alfred Stepan ado-

tou vastamente a análise de F. Pedreira).Dois trabalhos retificam a ênfase dada poresses referidos autores: (a) Eliezer Ri1.1.ode OLlVEIRA_ As Forças Armadas: poli-tica e ideologia no Brasil, 1964-1969. Pe-tr6polis, Vozes, 1976. (b) Edmundo CoelhoCAMPOS- Em busca- de identidade: oExército e a potitica na sociedade brosilei-ra. Rio, Forense Universitária, 1976. Se seacompanhar uma análise que destaca aação burguesa de classe, pode-se ultrapas-sar 3 busca de causas imediatas isoladas,tais como os motins militares, as passeatasde classe média, discursos provocadores ouações arbitrárias do Executivo instigando aação da direita. Finalmente, pode-se pôr emperspectiva a contingente expansão de tro-pas estrangeiras na área, o apoio logísticopor elas conferido e o envolvimento sigilo-so direto de agentes especializados e gover-nos estrangeiros. Vide (a) Moniz BANDEI·RA. Presença dos Estados Unidos no Bra-sil: dois séculos de história. Rio de Janei-ro, Civilização Brasileira, 1973. (b) J.Knippers BLACK. U.S. penetration of Bra·zil. Manchester, Manchester Univ. Press,1971. (c) E. MOREL. O golpe começou emWashington. Rio de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira. 1965. Cd) Pbyllis PARKER. 1964:O papel dos Estados Unidos 110 golpe deII de março_ Rio de Janeiro, Civilização. Brasileira, 1977.

9. Foi realizada a ação militar pelas clas·ses dominantes, precisamente devido àconsciência por parte do Estado Maior daburguesia da necessidade de impedir a or-ganização politica do bloco popular e ela-borar uma manobra preventiva ou, comofoi descrita, um "golpe defensivo", paraconter e abafar a atividade das massas suobordinadas e sua incipiente liderança orogânica política.

10. IPES CD Rio, 03 de abril de 1962. In-sistia·se muito na questão de agir encober·tamente, bem como colocava·se bastanteênfase na necessidade de ampla participaçãode classe. Em um telegrama enviado porClycon de Paiva a João Baptista LeopoldoFigueiredo, este último foi relembrado deque "Confirmando telefonema hoje verbi.gratia somos contrários ação ostensiva no-me lPES caso Congresso Cuba pt ~elem·bro camarada necessidade fazer todas asassociações de classe se manifestarem ca·

tcgoricamente ostensivamente p08l1lvtltnrute contra." Telegrama do I PES, 25 dI' 111111

ço de 1963, Glycon dc Paiva, Av. Riu 111'''1'co, 156,27.' andar, Via ltalcable, Rtf, ·1(1(1,Agência n. 4, Rio, roão Baptista I.wl'lIlduFigueiredo, Rua Álvares Penreado, b~, SiloPaulo.

II. O I PES teria de se resguardar de qual.quer prejuízo à sua capacidade para ti p~fiueficaz. A identificação ou a suspdtn de ligações entre grupos ilegais parnmilitul<1 1111

políticos deveriam forçosamente 5cr eVitAdas ou negadas a qualquer preço. Por Cl<r11l

plo, em fevereiro de 1962, dois tllclllltroJdo IPES. Gilbert Huber [r. e o GcneralGolbery do Couto e Silva estavam lenduapontados como comprometidos com o Mo.vimento Anti-Cornunista - MAC, UI1\1' ur-ganizeção paramilitar de direitu muito Illi,va pela promoção de tumulto orgunirado cmensageira na conspiração contra o Mov~r·no' e tropas de choque contra n rnoblllzn-ção de estudantes e sindicatos. Seria IIlttt-mente prejudicial ao IPES que essa IIl1nçnuviesse ao conhecimento público. Para (]Iy

con de Paiva, "a equação IPES-MAC erAletal" e António Gallolti ressnltnvtl que"Todo membro do IPES acu~adl) de Jler'tencer ao MAC teria de se defender, Cuntudo, em sua defesa, nem de furm. I'l)lltiva nem negativa, ele deveria IalCr • ,minima referência ao IPES." Gilbcrt lIuhcr Ir,acrescentava que Alfredo Nnsscr, por ,cr oMinistro da Justiço de João Cuulnrt c Ifr

responsável por contornar O prohltn,., 'CI1'

tia-se "apavorado e embromado" pclnl o,u·sações. lPES CE Rio, OS de fevereiro ,Ie1962.

12. "O IPES tem de adot'" umA pOllçlode completa inatacabilidade, Duu 11m c~crnpio: um levante nos portos. O Il'ES j.mll.deve aparecer nesses assuntos ou .IOIUIres. Temos que agir por Irás dOI hulldo-res. Há. empresários dentro do 11'1\5," Omotivo para nfio aparecer dlrelamento lO

ria que nas futuras tentativas por plrtO doIPES de reeleger deputados aml,ol pI,. oCongresso, ele deveria se mlllter "for. dIcena, com os outros or8AII',n'UI asindo cumfunçOes definidas," Ata do 11'1$, 12 de fo-verciro de 1'962.13, IPES eh. Gr., 21 da a80lto de 1962,

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14 A ADCE era "uma entidade recém-fun-dada, modelada em um órgão francês simi-lar. Demonstrava impressionante ideologiasocial cristã que enfatizava o característicotema brasileiro de paz social com uma no-va roupagem e oferecia um programa abran-gente de cursos de treinamento gerencial.P. SCHMITTER. l nterest, conllict and po-liticai change in Brazil. California, StanfordUniv. Press, 1971.15. Sobre as táricas de pressão e a açãodireta pela elite orgânica e a necessidadede atividades a curto prazo para asseguraros objerivos a longo prazo, vide N. BAI-LEY. Organization and operation of neoli-beralism in Larin America. ln: Latin Ame-rica: politics, economias and hemisphericsecuritv, New York, Praeger, 1965.

16. Como ficou destacado em uma dis-cussão entre' a liderança do lPES de SãoPaulo e o General Moziul Moreira Lima:"O perigo no Brasil não é O comunismo. nomomento, mas o movimento popular desubversão da ordem que será dirigido eencampado pelos extremistas. Os culpadosdo processo espoliativo aos olhos do povosão as classes produtoras, muito mais doque o governo." IPES CD e CE, São Pau-lo, 27 de novembro de 1962.17. N. BAILEY. op. cito p. 215. A resis-tência ao populismo fora também o carro-cheCe da ESG. John KOHL & ). L1TT. u»ban guerrilla warlare in Lati" America.Cambridge, Mass., MIT Press, 1974. p. 39.18. Vide (a) O Estado de São Paulo, 19de julho de 1963. (b) O Estado de SãoPaulo, 20 de julho de 1963, sobre a açãodo IPES e do IBAD.

19. IPES CE Rio, 12 de junho de 1962.O Uder do IPES Gilbert Huber Jr. enfa-tizava que as reformas proporcionaram "amunição para o Grupo de Opinião Públi-ca".

20. IPES - Relatório Anual, 1963. p. 7.21. lPES CE Rio, 8 de junho de 1962,Glycon de Paiva. O IPES organizavaequipes de "manipuladores de noticias"que preparavam e compilavam materialsob a coordenação geral do General Gal·bery do Couto e Silva, especialisla emguerra psicológica. Esses "manipuladores"~e responsabilizavam pelas "campanhas de

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pânico". A campanha da "ameaça verme-lha" empreendida pelo IPES mostrou-semuito útil na melhoria de sua situação Ii-nanceira, já que atraiu contribuições deempresários tomados de pânico e profis-sionais que temiam o futuro. Desde os pri-mórdios de 1962, havia sido confiada aDario de Almeida Magalhães a tarefa derecrutar 30 pessoas bem conhecidas paraformar uma equipe inicial que escreveriaartigos para amplos setores da opinião pú-blica sobre assuntos determinados peloIPES. Dependendo da circunstância, po-der-sé-ia ou não atribuir ao IPES os arti-gos publicados. A remuneração seria embase de 5.000 cruzeiros por artigo. Uma.série de artigos foi produzida sob a coor-denação geral de Dario de Almeida Maga-lhães e Nei Peixoto do Valle. O pagamen-la era eCetuado pela gigantesca companhiade refrigerantes e cervejaria Antártica. De-signou-se o Iíder Miguel Lins para fazeressas combinações. I PES CD Rio, 19 defevereiro de 1962.

22. Carla de J. B. Leopoldo Figueiredo,mostrada perante a Comissão Parlamentarde Inquérito - CPI, instaurada para in-vestigar as denunciadas atividades irregu-lares do complexo IPES/IBAD. Nessacarta estava mencionada a compra de es-paço editorial em O Globo e o apoio aser conferido a um jornal de direita' a serlançado em breve. (a) Politica e Negócios.2 de setembro de 1963. p. 11. (b) PUnia deAbreu RAMOS. Como agem os grupos depressão. Rio de Janeiro, Civilização Brasi-leira, 1963. p. 63.23. IPES CE Rio, 27 de julho de 1962,Glycon de Paiva. IPES CD Rio e CD SãoPaulo, 20 de novembro de 1962.

24. ConCorme foi mencionado no cap. V.

25. Telegrama ao Departamento de Esta-do de Delgado/ Arias; em Recife, N. 427,29 de junho de 1962.. Nos National Securi·ty Files, John F. Kennedy Library ..

26. IPES CD Rio, 4 de setembro de 1962,J. L. Moreira de Souza.

27. Politica e Negócios. 19 de agosto de1963. p. 30. '28. (a) As Sombras do IBAD. Veja, 16 demarço de 1977. p. 4 (Ata da CPI). (b)Flávio GaIvão a Glycon de Paiva,· Relat6-

rio da CPI, Câmara dos Deputados, Bra-sília. 1963. p. 374. (c) Plínio de AbreuRAMOS. op. cito p. 78.29. Entre outras, A. F. Schrnidt produziaa sua influente série Coluna por Um emO Globo. Ele se fazia extremamente útilpor sua influência e prestígio entre o pú-blico católico de classe média. As suas de-núncias em relação a posicionamentos decentro e centro-esquerda dentro da hierar-quia da Igreja, portando o cunho mora-lista de severo poeta e escritor profissio-nal, causavam um impacto altamente 'no-civo. Até mesmo o bispo do Rio, DomHelder Câmara, da centro-direita, era umalvo especial para os ataques de A. F.Schmidl. As suas ásperas observações so-bre o vigor populista de Dom Helder Câ-mara e as preocupações com a situaçãodos Cavelados do Rio ("essa conversão sú-bita voltada ao pobre está longe do me-recimento da consideração dos católicosmais lúcidos") ou seus ataques mordazessobre os líderes centro-esquerdistas doPDC ("agentes do comunismo disfarçadosem católicos") legaram-lhe um lugar espe-cial no esforço de propaganda do cornple-xo IPES/IBAD. Vide A. F. SCHMIDT.Prelúdio a uma revolução. Rio de Janeiro,Ed, do VaI, 1964. Uma seleção de suasobras políticas foi publicada em O Globo.

30. lPES CE Rio, 29 de novembro de1962, Glycon de Paiva.

31. Clarence HALl. The country that sa-ved itselí, Reader,s Digest, Eslados Uni-dos, November, 1964. p. 143 (reportagemespecial).

32. Um fluxo constante de denúncias diá·rias era instrumentado pelo Grupo de Opionião Pública. Através de associações deidéia, fazia·se uma miscelânea de condena·ções a João Goulart, ao Partido Comunis·ta, Tito, Mao, Khrushow, Cuba, uniões es·tudantis, sindicatos, à reforma agrária, àestatização, ao Partido Trabalhista Brasi·leiro, à corrupção, ineficiência e socialis·mo. Vide (a) Júlio de MESQUITA Filho.A democracia e o fenômeno brasileiro. OEstodo de São Paulo. 14 de agosto de 1963.(b) James W. ROWE. Revolution ar coun-ter·revolution in Brazil: an interim asses-sment. ln: East Coast South America Se-

ries. EUA, American Univ. Field Staff,)une 1964. v. II, n. 4. p. 11-12.

33. (a) O Estado de São Pauto, II de ju-lho de 1963. (b) Eloy DUTRA. IBAD: si-gla da corrupção. Rio de Janeiro, Civiliza-ção Brasileira, 1963. p. 17·8. O complexoIPES/IBAD pagava ao Jornal A Noite2.000.000 de cruzeiros mensais. (c) Plíniode Abreu RAMOS. op. cit. p. 65.

34. I PESo Relatório Especial, 6 de junhode 1963.35. IPES CE, II de setembro de 1962.36. Ata do IPES, 25 de maio de 1962,General Golbery.

37. (a) IPES CE, 21 de agosto de 1962.(b) IPES CE, 29 de novembro de 1962.(c) IPES CE Rio. 5 de março de 19f>3.A idéia seria "colocar a bola em jogo, massem a etiqueta made in I PES."38. (a) IPES Rio, 17 de maio de 1962. (b)O Estado de São Paulo, 20, de Junho de1963.39. Eldino BRANCANTE. Relatório doEstado Maior Civil de São Paulo. ln:Olympio MOURÃO Filho - Memórias:a verdade de um revolucionário. Rio deJaneiro, L & PM. 1978. p. 212 (introduçãoe pesquisa de Hélio Silva).

40. Pelo Brasil, pelo seu progresso e pe-la felicidade do seu povo, contra a desor-demo a irresponsabilidade e a demagogia,O Estado de São Paulo, 21 de janeiro de1962.41. O IPES praticamente controlava ourecebia o apoio direlo da imprensa maiscategorizada dos principais 'centros urba·nos do país, como foi .visto no cap. V epor todo O cap. VI. bem como o apoiointernacional da imprensa amiga. •

42. I PES CE, 11 de junho de 1962. Videtombém sobre o espaço comprado peloIPES no Correio da Manhã, para que ojornal publicasse uma entrevista feita comMário Brant, menc.ionado no IPES CE, IIde setembro de 1962. Ao final de 1961,João Punaro Bley, comandante da 4.". Di·visão do I Exército, em Minas Gerais, fezum discurso em Belo Horizonte no audi-tório da Associação Comercial do Estado.O encontro fora patrocinado pela rede dosDiários Associados. cujo editor "estava

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sendo financiado pela CIA para promovero nnticomunismo. Como não poderia serde outra forma, Punaro Bley proferiu umdiscurso anricornunista , .. Punaro Bleyclamava que os comunistas haviam pene-trado em todos os níveis da sociedade bra-sileira e punham uma séria ameaça à de-mocracia". A. I. LANGGUTH. Hiddenterrors. New York. Pantheon Books, 1978.p. 77. Sobre os incidentes que sucederamao discurso e a sua repercussão, vide A. I.LANGGUTH. op. cito 1978. p. 78-SO,

43. Reunião Geral do I PES, São Paulo,23 de outubro de 1962.

44. O Comitê da Aliança para O Progres-50, estabelecido no Rio a 13 de novembrode 1962, compunha-se de Luiz Simões Lo-pes (da Cia. Fiação Tecidos São Bento,Banque de I'Indochine, Société CotoniêreFrancocéanique); João Calmon (DiáriosAssociados), Themlstocles Cavalcanti, Dan-ton Jobim e o pelego Ary Campista. GiI-berr Huber [r. e Paulo Ayres Filho [rc-qüentemente estavam em contato com fun-cionários da ALPRO americana, empresá-rios e executivos dos Estados Unidos liga-dos aos objetivos gerais da Aliança, bemcomo figuras de governo. Dessa- forma, devolta ao Brasil em maio de 1962, GilbertHuber Ir. põde relatar à liderança do IPESassuntos da Aliança, seus conta tos comTeodoro Moscoso, o porto-riquenho exe-cutivo da ALPRO e uma reunião especialsobre problemas de mineração, realizadanos Estados Unidos. (a) Relatório IPESCE, maio de 1962. (b) Vide seu relatóriosobre a viagem aos Estados Unidos em ju·lho. IPES CE Rio, 3 de julho de 1962. (c)Vide as declarações de Paulo Ayres Filhosobre a sua participação no encontro deempresários com o Presidente lohn F.Kennedy. O Estado de São Paulo, 6 demarço de 1963. Esse estreito conta to entreo IPES e as elites político-empresariais dosEstados Unidos por intermédio da AL·PRO, bem como através de canais' priva-dos, favoreciam grandes oportunidades dedesenvoltura c apoio em sua campanha deencurralar e isolar o Executivo brasileiro.Nesse aspecto o IPES era ajudado pelaAmerican Chamber of Commerce for Bra-zil, através de Pedro Freire Cury e peloCommittee for American-Brazilian Rela·tions. foi por meio desses Órgãos, por

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exemplo, que o IPES organizaria as gran-des empresas multinacionais e associadaspara apoiar a edição especial de O Globode 28 de fevereiro de 1962 sobre o Pro-grama da Aliança para o Progresso. Dis-tinguiam-se entre as corporações contribu-intes: Braniff I nt., Leon Israel Agrícola eExportação, IBM, Vick Farmacêutica, EssoBrasileira de Petróleo, Burroughs do Bra-sil, The Home Insurance Co., AmericanInsurance CO., SI. Paul Fire and MarineInsurance Co., Remington Rand, ITT,Atlantic, Liquid Carbonic, General Elec-rric, Gilette Safety Razor. Vide tambémPlínio de Abreu RAMOS, op. cit. p, 67-8.45. IPES CD Rio, 19 de fevereiro de1962. Essa operação foi feita a um custode 8.000.000 de cruzeiros. Vide tambémN. BLUME, Pressure groups and decision-making in Brazil ; studies in comparativeinternationoí development, Saint Louis,Missouri, Washington Univ. 1967-68, V. 3.N. II. p. 217. Série de monografias (So-cial Science Institute) . E interessante citarextra tos de uma das reuniões em que aAliança para o Progresso foi debatida, jáque ela esclarece o procedimento geral eas atitudes. Para Iosé Luiz Moreira deSouza, "A idéia é a ação política. Faltacolocar o problema em sua grande pers-pectiva. Aos poucos, tudo gira em torno-do grande eíxo Oriente/Ocidente. Pode-mos dizer até que, hoje em dia, a Pasta dasRelaçôes Exteriores é a principal. lânioQuadros sentiu essa perspectiva e conce·beu uma fórmula de Ação Política ... ""antes das eleiçôes, seria necessário, porexemplo, editar e difundir a Ata da Ali-ança para o Progresso, transformando emdocumento acessível a todo mundo, ao al-cance de qualquer brasileiro. Ainda antesdas eleições: Uma visita devidamente pre-parada de Kennedy ao Brasil (vide Vene-zuela e Colômbia). 'Remember' visita deRoosevelt. Ora, os polfticos têm antenas,sentem onde está o lado do interesse, dasvantagens, da vitória. Sentem o que é p0-

pular, em suma". I. L. Moreira de Souzaacrescentava que "assim conduzida aquestão, não seria negócio para os polfti-cos profissionais passarem a ser ou conti-nuarem a ser anti-ocidentais. Também se-ria necessário penetrar na área dos estu-dantes, conquistá-los. Tudo junto, somado,

daria uma espécie de Plano de Salvaçãodo Brasil e da América Latina. Conliden-cioímente: já estão dados os primcirospassos para a visita de J. K. ao Brasil, com[ack ie e tudo". I. Klabin: "tudo está bem,mas nada impede de pensarmos em termosimediatos". G. Huber [r.: "os primeirospassos já (oram dados. E sério, alguém de-ve publicar a Ata da Aliança para o Pro-gresso, na exatal Porque o Itamaraty nãoparece muito disposto a fazê-Ia". A. Gal-101li: "Em texto íácil, sob a forma de car-tilha ou em quadrinhos". Alguém que nãofoi indicado na ata, observou, então, que"O Instituto Brasil-Estados Unidos vai pu-blicá-lo junto com: Carta de Juscelino eAta de Bogotá. Tudo será publicado emtexto exato". I PES CE Rio, 5 de Ieverei-ro de 1962.

46. Em uma reunião posterior, presididapor I. O. Mello Flores, com as presençasde Harold C. Polland, G. Huber [r., doGeneral Herrera, J. Rubem Fonseca, A. C.Amaral Osório, O, Tavares e J. L. Morei-ra de Souza, foi relatado que o panfletohavia sido preparado, juntamente comuma campanha sobre o assunto na televi-são. Decidiu-se por colocar os panfletoscomo um encarte nos jornais. J. Luiz Mo-reira de Souza sugeriu que os encartes de-vessem aparecer "domingo próx,imo, an·tes da ida do Preso Iango Goulart aos Sta.teso facilita-lhe a tarefa e preocupa-o. Di·versos jornais querem o encarte. Saindoprimeiro na Guanabara, depois nos de-mais Estados". A. Gallorti informava queo encarte já estava "na mesa da Embai-xada Americana". "Os Diários Associadospublicarão no exterior. Fim: Fazer a pro-paganda da democracia. Vinda de I. Ken-nedy ao Brasil, antes das eleições. Ondade democracia crescendo antes da eleição.Polftica faz-se por ondas. Projeto I. Dan-tas: Empresários preparados para discutircom todos". lPES CE Rio, 27 de marçode 1962,

47. O livreto de André Gama foi distri·buído pelos empresários e gerentes entreos seus empregados. E significativo men-cionar que a execução da edição imediata ,desse Iivreto ficou sob a responsabilidadedo General Golbery e Wilson Figueiredose encarregou do orçamento. I PES CE, 19de novembro de 1962.

48. IPES CD Rio, 19 de fevereiro de1962.

49. John Foster DULLES. Unrest in Bra-til: political-military crises, 1955-1964.Ausrin, Univ. of Texas Press, 1970. p. 188.

50. I P ES, Relatório aos patrocinadores fi.nanceiros, 6 de junho de 1963, José Ru-bem Fonseca.

51. A revista Cadernos Brasileiros deEduardo Portela se envolveu em um es-cândalo politico em 1967, sendo acusadapor ligações com a revista Encounter pa-trocinada pela elA. Folha de São Paulo,20 de janeiro de 1979. A Cadernos Bra-sileiros tinha como diretores José GarridoTorres, Vicente Barreto, Afrânio Coutinhoe Nuno Velloso.

52. (oram adquiridas mil e duzentas uni-dades por edição. IPES CE, 31 de janeirode 1963, José Garrido Torres.

53. O Gari/a, julho de 1963. Além disso,Coram impressos 50.000 pôsteres com car-tuns mostrando Fidel Castro chicoteandoo povo cubano e a legenda "Você querviver sob o chicote do comunismo?" C. S.HALL. op. cito p. 142.

54. IPES CE São Paulo, 14 de maio de1963.

55. Vide Apêndice L, onde consta umalista de algumas dessas publicações.

56. Depois de abril de 1964, o IPES con-tinuou a publicar e patrocinar livros epanfletos. Em 1967, ele publicou Históriado Desenvolvimento Económico de Mir-cea Buescu e Vicente Tapajós. O Councilfor Latin America colaborou no financia-mento da edição de 5.000 cópias. O IPESpublicou também O Imposto de serviços- dúvidas e esclarecimentos sobre sua in-cid~ncia de Arthur E. V. AYmoré. N.BLUME. op, cit. p. 215_57. O Estado de São Paulo, 17 de mar·ço de 1979 ..

58. lPES CE São Paulo, 11 de dezembrode 1962.

59. Os antecedentes dessas propost.asconstituíam de uma lista' preliminar de te·mas para estudos, esboçada pela liderançado complexo IPES/IBAD em janeiro de1962 e classiCicada de acordo com exigên·

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cins 8 "curto" C a "médio prazo". Paracada tema, designava-se um indivíduo.grupo ou instituição, responsável pela suaconcretizaçõo. O grau de prioridade parao rcolização desses estudos era determina-do pelos necessidades do Grupo de AçãoParlarnentnr e a' ação política coordenadapelo Grupo de Levantamento da Conjun-tura, A listn de grupos de estudos compre-endia:I) Remessa de lucros (ou a definição de

limo diretriz de investimento, de suma pre-rnência em vista das medidas restritivas aocapital estrangeiro objetivadas por IoãoGoulort). Seu coordenador era Mário Hen-rique Simonscn;2) Reforma Agrária, Iosé Arthur Rios;3) Reforma Fiscal e Orçamentária, Má-

rio Henrique Simonsen;4) Reforma Monetária (incluindo refor-

mo bancária e a criação de um Banco Cen-trai), Casimiro Ribeiro;5) Repressão ao abuso do poder econô-

mico, Dênio Nogueira;6) Reforma do Código Eleitoral, The-

místocles Cavalcanti (é interessante obser-var que inicialmente Oswaldo Trigueirohavia sido designado pará esse tema);7) Participação dos empregados' nos lu-

cros das empresas, Nélio Reis;8) Funcionalidade do planejamento só-

cio-econôrnico. Objetivos e métodos apli-cáveis ao Brasil, Genival Santos;9) Problemas da habitação popular pe-

lo IBAD. Luiz Carlos Mancini;10) Sindicalização rural;II) Telecomunicações, General Luiz A.

Medeiros, de O Globo.- Os temas "a médio prazo" compre·

endiam: ..

I) Função económica e social da empre·sa moderna;2) Expansão do mercado de capitais

(medidas complementares propostas nasreformas tributária e bancária, assim comoaquelas referentes ao mercado de ações eàs sociedades anónimas);3) Discriminação de receitas para o for·

t.alecimento do sistema federativo;4) Dinâmica do desenvolvimento eco-

nómico. Papel da iniciativa 'privada e doiniciativa estatal;5) Revisão da Constituição Federal e do

Sistema Parlamentarista;

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6) Reforma da Legislação Trabalhista;7) Reforma da Legislação de Previdên-

cia Social;8) Reforma Educacional;9) Reforma do Código de Minas;10) Política Comercial Externa (ALALC,

ECC. Cortina de Ferro);II) Politica de Transportes;12) Política Energética;13) Politica de Saúde Pública;14) Reforma estrutural e metodológica

da administração pública;15) Lei das Sociedades Anônimas.

- O documento rezava ainda que to-dos esses temas (e outros que viessem aser acrescentados) seriam desenvolvidossob a orien tação da doutrina apresentadana Encíclica Mater et Magistra e modela-da no programa de ação correspondente,representado pela Aliança para O Progres-soo O IPES os popularizaria, mesmo emforma de comentários para a sua tese, ten-do Iosé Garrido Torres como coordenadordos estudos (Plano de estudo de temas.Ata do lPES. 19 de janeiro de 1962. Videainda Ata do [PES, 29 de maio de 1962.Comunicação de [osé Garrido Torres aGilbert Huber [r.).

60. A. STEPAN. The military in ... op,cito p. 186-87.

6 J. Em uma carta do CE a [osé GarridoTorres, chefe do Grupo de Estudo do dia5 de junho de 1962, enfatizou·se que:- "Após detida análise do relatório

apresentado pelo Chefe do Grupo de Es·tudos e

- considerando a necessidade de afir.mar, junto à Opinião Pública, a orienta·ção do IPES, relativamente aos problemasnacionais mais em foco;

- considerando o ritmo provável emque tais assuntos serão discutidos no Con·gresso;

- considerando os compromissos assu·midos pelo Chefe do Grupo, em decorrên·cia de decisão anterior;- considerando, finalmente, a justa ob·

servação do mesmo Chefe, de que 'umadas maiores dificuldades encontradas atéagora no funcionamento do órgão tem si·do a falta de comando e a de entrosamen·to nos setores do IPES'; .

o Comitê Executivo resolve solicitar aoChefe do Grupo de Estudos as seguintesprovidências:I) Coordenar as atividades de seu Gru-

po. de modo que cada um dos trabalhosencomendados seja objeto de dois estudos:a) O primeiro. mais urgente. fixando aorientação do [PES quanto às linhas ge-rais que convém sejam observadas na ela-boração ao anteprojeto; as conclusões doGrupo de Estudos, discutidas e aprovadaspelo Comitê Executivo. serão encaminha-das ao Grupo de Opinião Pública. nãoapenas com vistas a uma campanha de es-clarecimento e conquista de apoio. mastambém para afirmar a presença do I PES;b) O segundo - necessariamente mais de-morado - visando a elaboração do ante-projeto de lei e respectiva justificação,com todas as suas injunções de ordem téc-nica.2) Programar estas duas categorias de

estudos. de modo que em cada reunião se-manai do Grupo com O Comitê Executivosejam apreciadas as conclusões a que serefere a letra (a) acima. cobrindo inicial-mente os seguintes títulos: Reforma Agrá-ria. Legislação Anritrust, Reforma Tribu-tária, Reforma Eleitoral, Participação nosLucros. Telecomunicações, Reforma Orça-mentária, Reforma Bancária.3) Apresentar o orçamento mensal de

despesas do Grupo para atender aos encarogos solicitados acima".

62. Ata do [PESo 5 de fevereiro de 1962,losé Garrido Torres. Glycon de Paiva, J.Behring de Maltas e r. Klabin. No CE doIPES. de 2 de maio de 1963. decidiu·se"publicar lodos os trabalhos de estudostécnicos sob a responsabilidade do IPES"e "entre~ar aos deputados e senadores to-õos os nnleprojetos de lei para a apresen·tação".

63. I PES CE, 28 de junho de 1962.

64. IPES Rio (a) Comunicação de I. Gar·rido Torres ao CD, 29 de maio de 1962.(b) Comunicação de I. Garrido Torres aoGeneral L. A. Medeiros, CE, 28 de junhode 1962.

65. Ata da sessão de trabalho do Grupo,16 de mnrço de 1962.

66. Ata do IPES, 20 de março de 1962,losé Garrido Torres ao General Herrera.

67. (a) Carta de Mário Henrique Simon-sen a I. Garrido Torres, Rio, 23 de feve-reiro de 1962. (b) [osé Garrido Torres aoCD I PES, 29 de maio de 1962. O estudofoi orçado em 800.000 cruzeiros a serempagos o Simonsen.

68. Comunicação de José Garrido Torresao IPES CD Rio, II de maio de 1962. Oescritório de consultaria de Paulo de As·sis Ribeiro; José Arthur Rios e o seu es-critério estavam também envolvidos noestudo da Reforma Urbana, uma pesquisae trabalho de direrrizes para os quais Gly-con de Paiva contactou Sandra Cavalcantie G. Borghoff (ambos correligionários po-liticas de Carlos Lacerda). Foi losé Garri-do Torres que procurou o apoio de Carolos Lacerda. A conclusão desse trabalholevaria seis meses e seu custo foi estimadoem 3.600.000 cruzeiros. Foi orçado como"despesa ordinária do Grupo de Estudo"e tornou-se o material básico para as pre-postas do I PES para a Reforma Habita·cional. IPES CE Rio, 20 de fevereiro de1964, I. Arthur Rios.

69. Comunicação de I. Garrido Torres aoIPES CD, 29 de maio de 1962, "conformeo que foi combinado com Harold C. Pol-land".

70. [PES CE, 25 de maio de '1963.

71. (a) [PES CE Rio, 28 de agosto de1962. Glycon de Paiva. (b) IPES CE, 27de dezembro de 1962. A PUC desenvolveupara o IPES uma análise das eleições de1962 para o Congresso e outros estudos'importantes para os quais ela contavacom infra-estrutura acadêmica apropriada.(c) lPES CD Rio, 20' de dezembro de1962, Glycon de Paiva. O Grupo de Estu·do contratou também o escritório de con·sultoria de Paulo de Assis Ribeiro para Ca·zer um trabalho sobre o processo eleito-rol, O padrão de conduta dos eleitores ecomportamento político, um estudo queficou conhecido por sua forma popularQuem elege quem. (d) lPES CE Rio, 5 denovembro de 1963. Assis Ribeiro recebeutambém 400.000 cruzeiros como pagamen·to por "serviços extraordinários" pelo Le·vantamento do Roteiro da Reforma Agrá.,ia.72. [PES CE Rio, 5 de Cevereiro de 1962.

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· I

73. (o) r. Carrido TORRES. A dcmocra-tlzação do Empresa no Brasil. CadernosBrasileiros, s.1. (4): 14-18, jul./ag. (b) Jor-ge Oscar de Mello FLORES e Cilbert HU-DER [r., Democratização do capital. O Es-tado de São Paulo, IOde outubro de 1963(trabalho poro o 4.' Conferência de Rela-ções Públicas).

74. Dênio Nogueira e William Ernbry fo-ram contratados por 200.000 cruzeiros. Oonteprojeto de lei e sua justificativa custa-ram 200.000 cruzeiros (Comunicação de [.Corrido Torres ao CD do IPES, 29 demaio de 1962). Foram preparados maisdois estudos. O primeiro constituía deuma análise e crítica do substitutivo apre-sentado pelo senador Sérgio Marinho pa-ra o projeto 3.55 da Câmara dos Depu-tados. O segundo foi divulgado no Bote-tim Mensal do IPES, definindo o posicio-namento do Instituto quanto ao assunto.O coordenador e relator desse grupo eraDênio Nogueira.

75. (a) IPES CE, 5 de junho de 1962. (b)Comunicação de José Garrido Torres 80

General Herrera, em 29 de maio de 1962.Gilbert Huber [r, conseguiu apoio finan-ceiro para o projeto e o Grupo de Doutri-na e Estudo de São Paulo também confe-riu O seu apoio.

76. IPES CE, 27 de dezembro de 1962.

77. IPES CE, 25 de setembro de 1962,Harold C. Polland. O IPES recebeu inten-sa colaboração para o estudo sobre a Re-forma do Legislativo e a AdministraçãoPública. Dom Hélder Câmara proporcio-nou a H. Polland uma análise sobre osmecanismos do Congresso, preparada porNelson Mota, filho do ex-integralista e pos-teriormente liberal Cândido Mota.

78. IPES. Documento de 10 de janeiro de1962.

79. (o) IPES CD, 3 de abril de 1962. (b)Relatório do CE Rio, abril de 1962, GiI-bert Huber [r.

80, M. CEHELSKY. The policy processin Brazil: land reform 1961-1969. Disser-tação de doutorado. New York, ColumbiaUniv, 1974, p. 130.

8!. N, BAILEY, op. cit, p. 220.82, Ação Democr6tica. Rio de raneiro,fevereiro de 1962. p, 12.

.,.1

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83. José Arthur RIOS et alii, Recomenda-ções sobre a Reforma Agrária, Rio de Ja-neiro, Ed. do IBAD, 1961. p. XXXV.

84. Dênio Nogueira, Dirceu Lino de Ma-tos, Padre Fernando Bastos D'Avila, Gus-tavo Corção. José I rineu Cabral e MoysésRoscnthal apresentaram trabalhos. O Es-tado de São Paulo, 13 de junho de 1963.T. lynn Smith era um analista agrícolasénior do Departamento de Estado ame-ricano. Ele pertencia também ao Institutode Estudos Brasileiros. à Universidade deVanderbilt e à Universidade da Flórida. Jo-sé Bonifácio Coutinho Nogueira era O pro-prietário da Usina Açucareira Ester, Cia.Agrícola São Quirino, Comercial Açuca-reira e Cafeeira e Cia, de Administração eRepresentação Ester.

85. IPES CE, 25 de julho de 1963.

86. Ata do IPES, 20 de março de 1962.

87. Ata do IPES, 18 de maio de 1962. OCONClAP estava entre os que se mani-festaram publicamente a favor de uma re-forma agrária como aquela patrocinadapelo IPES. O Estado de São Paulo, 14 dejunho de 1963, Vide também Paulo deAlmeida Barbosa. A Gazeta, 8 de maio de1963; relatório da Federação das Indús-trias de São Paulo na Folha de São Paulo,16 de maio de 1963. Outro projeto foipassado no início de 1963, aparecendotambém sem o nome do IPES. IPES CE,5 de março de 1963, J. Garrido Torres.

88. Julian Chacel, CNI/Conselho Econô-mico, position paper preparado para oGrupo de Estudo sobre o "substitutivoAfrânio lage" para a Lei da ReformaAgrária,

89, Esses senhores eram, respectivamente,di retores do Banco Português do Brasil, dogrupo financeiro e industrial Boa Vista,Bethlehern Steel e Companhia Brasileirade Explosivos, Fundação Getúlio Vargas,Consórcio Brasileiro de Produtividade -CBP e finalmente da CONSUL TEC, LightS.A" IBAD, SPLAN, CBP, ESSO,ABCAR, U,S, Steel Corporation, Essestecnoempresários ligados a grandes grupospetroqurmicos, industriais, construtores ede mineração, eram inteiramente a favorda interdependência entre os setores ru-ral e industrial.

90. J. W. ROWE, op. clt. p. 82.91. Vide Atas do IPES de (a) 18 demaio de 1962, (b) 25 de maio de 1962. (c)I de junho de 1962. (d) 4 de junho de1962. (e) 8 de junho de 1962. (I) 15 dejunho de 1962. (g) 22 de j.unho de ,1962.(h) 27 de junho de 1962. (t) 29 de Junhode 1962. (j) 4 de julho de 1962. (1) 1I dejulho de 1962. (m) 18 de julho de 1962.(n) 23 de julho de 1962. (o) 25 de julhode 1962. (p) 27 de julho de 1962. (q) 31de julho de 1962. (r) 3 de agosto de 1962.(s) 8 de agosto de 1962. (t) 13 de agostode 1962. (u) 15 de agosto de 1962, (v) 27de agosto de 1962. (x) .3 de outubro de1962. (z) II de outubro de 1962. (w) 18de outubro de 1962. (y) 9 de novembrode 1962.

92, lPES CE, 25 de julho de 1963. Atra-vés do Grupo de Ação Parlamentar, oIPES procurava seus amigos no Congressoe aqueles indivíduos que desempenhavampapel importante na articulação, como oDeputado Padre Godinho, eram colocados.de sobreaviso, já que a elite se lançava emuma ofensiva contra a reforma agrária Pll;;trocinada pelo trabalhismo, O I PES pre-parou o material para O anteprojeto dodeputado Aniz Badra que portava 212 assi-naturas e era de natureza abrangente, in-cluindo 79 artigos que tratavam de umamplo espectro de assuntos relacionados iiassistência agrícola, reforma da terra e vi-da rural. Sobre o texto da lei, da formaque foi apresentada, vide Correio da Ma-nhã, Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1963.

93. (a) IPES, Grupo de Estudo ao CD, 29de maio de 1962. (b) Súmula de Ativida-des Desenvolvidas pelo Grupo de Estudosno período compreendido entre março de1962 a fevereiro de 1963. (c) Ata do IPES,18 de maio de 1962. Os militantes ipesia-nos viajaram por toda a zona rural, parti-cipando de uma variada série de aconteci-mentos e organizando as classes dominan-tes rurais ideologicamente, politicamente ede outras formas. Um exemplo de tais ati-vidades foi a reunião de Patos, no dia 23de agosto de 1962, da qual participaram •Paulo de Assis Ribeiro e uma equipe demilitantes do I PESo Esses militantes mos-travam-se muito ativos também na molda-gem de posições partidárias de direita em

..

função da questão agrária e no aliciamen-to de apoio entre as classes de proprietá-rios de terra através dessas organizaçõespolíticas, lima vez tendo as suas propostassido aceitas. Assim, para a convenção daUDN de 1963 no Paraná, convocada paradebater assumes agrários, compareceuuma delegação de políticos e empresáriosde São Paulo, que trazia consigo uma pro-posta pclírico-cconômica completa. 1n-cluíam-se entre os pontos mais importan-tes a rejeição ao proposto CGT - Coman-do Geral dos Trabalhadores, a regulamen-tação do direito de greve, uma reformaagrária modernizante-conservadora, umareforma eleitoral. a criação de um bancocentral, acarretando uma reforma bancá-rio e, finalmente, o estabelecimento deuma política econõmica de estimulo pelogoverno para atividades de exportação,controle da inflação e patrocínio de aus-teridade, A delegação, presidida pelo polí-rico-ernpresário udenisto Roberto de AbreuSodré, compreendia também os ativistasipesianos Herman de Morais Barros, Os-woldo Breyne da Silveira e Ariovaldo deCarvalho. O Estado de São Paulo, 28 deabril de 1963. As teses foram adoradas.

94. Carlos José de Assis Ribeiro preparouum projeto de emenda constitucional paraa Justiça Agrária e [osé Arthur Rios pro-duziu um trabalho de análise do Projeton. 93 de 1963 do Senado, discorrendo so-bre Estatuto da Terra. IPES CE, 23 demaio de 1962. Outros estudos preparadospelo IPES incluiam: A Estrutura Agráriado Brasil, preparado por uma equipe com-posta de Paulo de Assis Ribeiro, C. r. deAssis Ribeiro, J. A. Rios, José GarridoTorres, Julian Chacel e Wanderbilt D. Bar-ros. Glycon de Paiva o apresentaria por'ocasião do Congresso de Reformas de Ba-se, cm janeiro de 1963. Glycon de PAIVA,Introdução. ln: Estrutura 'Agrária do Bra-sil. IPES, 5 de novembro de 1963. Um ou-tro trabalho muito importante por seu im-pacto sobre o governo pós-64, preparadopela equipe do complexo IPES/IBAD, con-sistia em um estudo que veio a se tornaro livro A reforma agrária: problemas -bases - soluções. Compunham essa equi·pe os seguintes individuas: Glycon de Pai-va, Harold C.· Polland, Paulo de Assis Ri-beiro, J, Garrido Torres, José Arthur Rios,

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I

Page 24: CAPITULO VI Rene Dreifuss 1964 a conquista do estado

--:.:..r.t ....

Dênio C. Nogueira, Carlos José de AssisRibeiro, Edgard Teixeira Leite, Julian Cha-cel, Luís Carlos Mancini, J. Irineu Ca-bral. Wanderbill D. de Barros, Nilo Ber-nardes. Participaram também os GeneraisGolbery c Herrera. Carta de P. A. Ribei-ro o LuIs Viana Filho em Notas sobre aimplantação da rejorma agrária, s. d., nourquivo de Paulo de Assis Ribeiro. Videtambém (a) [osé I. de Sá Freire ALVIM.Os números revelam a necessidade de re-forma agrária. A Delesa Nacional, Rio de[aneiro (587):31-6, jul. 1963. (b) Estudo'sobre a reforma agrária, lançado em janei-ro de 1964 em cinco línguas, conforme acarta de H. C. Polland a João Goulart emO Estado de São Paulo, 10 de janeiro de1964. (c) J. A. RIOS. O que é e o que nãoé reforma agrária. Cadernos Brasileiros.Rio, (4):45·50, jul./ag. 1963. (d) M. DIE·GUES ?r .. Antecedentes da reforma agráriano Brasil. Cadernos Brasileiros. Rio, (4):514, jul./ag. 1963. (e) J. V. Freitas MAR·CONDES. O Estatuto do trabalhador ruoral c o problema da terra. Cadernos Bra-sileiros. Rio, (4), jul.lag. 1963. (O C. Guin-le de Paula MACHADO. Reforma agrá-ria. Cadernos Brasileiros. Rio, (1):72·7,jan./fev. 1963.95. "O IPES, seção do Rio de Janeiro,vem mesmo realizando um movimento deesclarecimento 'em torno das chamadas re·formas de base, lançando manifestos comprincípios expurgados do "vfrus totalitárioe comunista". João Baptista Leopoldo Fi·gueiredo, citado em O Estado de São Pau·lo, 7 de março de 1963. Vide também Ge·orge N. BEM IS. op. cit. p. 58-9.96. Edmundo Macedo SOARES. Interpre-tação dos ,nteresses e das aspirações dopovo brasileiro: análise. econ6mica. ESG.Documento n. C·25-63, p. 29-36..97. IPES CE, 8 de janeiro de 1963.98. Elas foram programadas para come·çar no dia 9 de dezembro de 1962. Elasforam publicadas todos os domingos apartir de janeiro. IPES memorando, 21 denovembro de 1962.99. Carta de P. Assis Ribeiro a J. GarridoTorres, 5 de fevereiro de 1963, Rio de la·neiro, no arquivo de Paulo de Assis Ri·beiro, Rio de Janeiro.

270

100. IPES CE, 29 de novembro de 1962.Telegrama de Glycon de Paiva ao senadorMem de Sá.101. A reforma da política do uso de re-cursos naturais loi preparada por Paulo deAssis Ribeiro e Glycon de Paiva. Videtambém as atas do: (a) CE, 14 de agostode t962. (b) CE, 16 de agosto de 1962. (c)CE, 17 de agosto de 1962. (d) FE, 20 deagosto de 1962. (e) CE. 27 de agosto de1962. (O CE, 28 de agosto de 1962. (g)CE, 5 de setembro de 1962. (h) CE, 6 desetembro de 1962. (i) CE, 10 de setembrode 1962. (j) CE, II de setembro de 1962.(I) CE, 12 de setembro de 1962. (m) CE,13 de setembro de 1962. (n) CE, 17 de se-tembro de 1962. (o) CE, 18 de setembrode 1962'. (p) CE, 19 de setembro de t962.(q) CE, 20 de setembro de 1962. (r) CE,24 de setembro de 1962. (s) CE, 25 de se-tembro de 1962. (r) CE, 27 de setembrode 1962. (u) CE, 28 de setembro de 1962.(v) CE, II de dezembro de 1962. (x) CE,19 de dezembro de 1962. (z) CE, 20 dedezembro de 1962. (aa) CE, 27 de dezern-bro de 1962.

102. Valentim Bouças era diretor das se.guintes corporações multinacionais e asso-ciadas: Swift do Brasil, ITI, Cia, Brasi-leira de Material Ferroviário - COBRAS-MA, Serviços Hollerith, National Cash Re-gister, Panair, Listas Telefônicas Brasilei·ras, Addressograph-Multigraph do Brasil,U. S. Bethlehem, American Bank Note Co.,Coca·Cola, Cia. Nacional de Máquinas Co-merciais, Goodyear. Ferroenamel e Cia.Imobiliária Santa Cruz. O seu filho, JorgeBouças, era também diretor da Addresso-graph·Multigraph, Serviços Hollerith e Cia.Imobiliária Santa Cruz S.A.

103. Carta de Manuel Linhares de Lacer·da, Brasnia, 30 de abril de 1964. "Motivo:Audiência com o Presidente. Assunto: So-licitar solução para o conteúdo do dossierencaminhado à Presidência da Repúblicapor intermédio do General Ernesto Gei·seI". Vide os documentos de Humber·to Alencar Castello Branco, ArquivosCPDOC, Rio de Janeiro.104. Adyr Fiúza de CASTRO. O fim deum exército. A De/esa Nacional. Rio,(586):3·16, juJ. 1963. O mesmo artigo foibasicamenle reproduzido mais tarde em O

Estado de São Paulo, 17 de setembro de1963.105. Jean Marc van der Weid, líder estu-dantil da oposição em meados de 1960,[embrava-se de que se realizara em sua ca-sa em 1963 uma reunião com vários re-presentantes da rede de comunicações eda indústria publicitária. incluindo apre·sidente da segunda maior companhia depublicidade do Rio de [aneiro (McCann·Erikson) e um gerente da American Lightand Power. O objetivo da reunião consis-tia em discutir os meios de participaçãona campanha do complexo IPES/IBADcontra [oão Goulart e a esquerda traba-Ihista. O tio de Van der Weid, O deputadoFábio Sodré, que era o assessor legal daAmerican Light and Power e grande ami-go de Niles Bond, O adido cultural da Em-baixada Americana, envolveu-se tambémna campanha. [an Knippers BLACK. op.cito p . .81.106. IPES CD Rio, 29 de maio de 1962.O IBAD prc~rou 50 perguntas e respos-tas estereotipadas que seriam reproduzidasem todos os Estados e em todas as ernis-saras de rádio e de televisão. Por exern-plo, respondendo a pergunta do entrevis-tador sobre a crescente ameaça comunistano Brasil, o entrevistado teria de dizer que"A ameaça comunista está crescendo, prin·cipalmente devido à omissão das autori·dades. Ele deveria então ci tar os casos daUNE, das Ligas Camponesas e dos pro-nunciamentos públicos do governadorBrizola. Deveria também falar da ação dossindicatos, controlados pelos comunistas eda infiltração vermelha em todos os prin.cipais setores de atividade do paIs". loãoS. DORIA. IBAD: conspiração internacio-nal contra as reformas. Politica e Neg6-cios. São Paulo, Genival Rabelo Ed., 4 denovembro, 1963. p. 10.107. IPES CE Rio, 30 de maio de 1962.Uma linha mista de "Dogmatismo comProblemas Políticos".

108. IPES CE Rio, 4 de junho de 1962.Diretrizes para o programa de televisão: t

"Encontro de Democratas com a Nação".

109. (a) IPES CE Rio, 3 de julho de 1962.(b) CE Memorando com lista de "Nomeslembrados para TV". (c) IPES Ch. Gr.

São Paulo, 28 de agosto de 1962. (d) IPES.Reunião Geral. São Paulo, 23 de outubrode t962.110. Carta oficial do IPES-São Paulo(Flávio Gaivão) ao IPES·Rio, 16 de no-vembro de 1962. Protocolo N. 667. 1962.III. E interessante observar alguns co-mentários feito. em função de cada nome.A participação do General Golbery eraconsiderada como não "conveniente", OGeneral Mamede "não tinha condições pa-r. participar". Herbert Levy, Mem de Sá,Carlos Lacerda, Armando Falcão e Carva-lho Pinto estavam profundamente envolvi-dos na campanha de televisão do IPES.IPES CD, 19 de junho de 1962.

112. Houve esse programa no dia 25 deoutubro de t963.1t3. Foi apresentada no dia 2 de julhode 1963.114. A mensagem foi proferida no dia 4de agosto de 1963. O Almirante Heck foiacompanhado e esperado no aeroporto deCongonhas, onde ele desceu, por diversosassociados do complexo IPES/IBAD.

115. Apresentado no dia 10 de fevereirode 1963.

t 16. Política e Negócios, 19 de agosto de1963. p. 30.

t 17. IPES CD, 27 de novembro de 1962.Contratado por M. Villela.

118. IPES CE, 20 de março de 1962. Pá·trocinado financeiramente pela Fábrica deGeladeiras COnsul e por Coco Serigy, en-tre outros.

119. IPES. Comunicação interna do Ge-neral Liberato da Cunha Friedrich a FIá·via GaIvão, de São Paulo, 29 de abril de1963. Segundo o General Libera to, por in-termédio da colaboração da VASP, foienviado para São Paulo o videolape dodiscurso de Annando Falcão na TV Rio-Canal 13, no dia 19 de abril de 1963. ADenisson Propaganda, que se encarregouda gravação, pediu ao secretário do IPESde São Paulo que entrasse em conta to, ur-gentemente. com a Rádio Rio LIda. (dasEmissoras Unidas) para que se fizesseuma cópia d. gravAçiio, a fim de revezá·la

271

Page 25: CAPITULO VI Rene Dreifuss 1964 a conquista do estado

para Brasílin para O programa "Frente aFrente", no dia 1 de maio de J963.

120. N. BLUME. op. cito p. 216.

J21. Veja, 16 de <março de 1977, (445):6.

122. (a) O Estado de São Paul~, 7 de no-vembro de 1963. (b) João DORIA. op. cit.p. 10.

123. IPES CD, 22 de maio de 1962. Aoargumentar a favor da retirada do patro-cínio de seu programa, Rui Gomes de AI·meida observou que "O revólver é nosso..Nós permitiremos que outro O anuncie eatirem em nós?" Vide ainda Nelson Wer·neck SODRE.. A História da imprensa noBrasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasilei-ra. 1966. p. 480.

124. Genival RABELO. O capital estran-geiro. Rio de Janeiro, Civilização B~asilei·ra, 1966 .. p. 219.

125. Os treze fundadores da ABA foramARNO S.A., Atlantic Refining Coo of Bra-zil, Burroughs do Brasil, Cia. Gessy Indus-trial, Eletro Indústria Walita S.A., FordMotor do Brasil S.A., General ElectricS.A., Philips do Brasil S.A., Shell do Bra-sil Lrda., Texaco Inc. (Brazil), The Coca-Cola Export Corporation e a Willys. Over-land do Brasil, a maior parte delas relacio-nadas com o IPES, como contribuintes oupor meio de seus diretores. Entre outrascompanhias que se ligaram à ABA desta-cavam-se: Alumínio do Brasil, Mobil Oildo Brasil, Frigorífico Wilson do Brasil,Mercedes Benz do Brasil, Pirelli S.A., Cia.Swift do Brasil, Anderson Clayton & Cia.,Armações de Aço Probel S.A., Pneus Fi-restone, Cia, Goodyear do Brasil, São Pau-10 Alpargatas S.A., Bendix do Brasil Ltda.,Vemag S.A., Volkswagen do Brasil, PhilcoRádio e Televisão, Avon Cosméticos, Ir-mãos Lever SA., Brastemp Aparelhos Do-mésticos Ltda. e Farloc do Brasil S.A., no-vamente uma longa lista de membros econtribuintes do IPES. Vide RABELO.·op. cito p. 218-19.126. IPES CE, 8 de junho de 1962.

127. (a) IPES. Relatório das atividades dolPES, São Paulo, 1963. (b) N. BLUME.op. cito p. '217 ..128. Robinson ROJAS. Estados Unidosen Brasil. Santiago, Chile, Pre.osa Latinoa·mericana, 1965. p. 153.

27i

129. O Estado de São Paulo, 18 de outu-bro de 1963.

130. (a) C. S. HALL. op, cito p. 142. (b)Vide Cap. III sobre as atividades do com-plexo IPESI.IBAD dentro das Forças Ar-madas.

131. IPES CD, 24 de julho de 1962. Da-rio de Almeida Magalhães e H. C. Pol-land. Foram pagos 500.000 cruzeiros aosdois para "despesas".

132. Nesse relatório do CD do IPES. dodia 13 de novembro de 1962, assessoradopor Hélio Gomide, ele comentou os assun-tos que eram o foco para a campanha dobloco nacional reformista (inflação, capitalestrangeiro, processo de exploração, vanta-gens para os portuários, etc.), Recomendouque se produzisse matéria contra esses as-suntos para as "estações locais" e fez umaavaliação das vantagens do rádio em rela-ção à imprensa escrita.

133. Ata do IPES, 25 de maio de 1962,General Colbery.

134. IPES. Reunião Geral, São Paulo, 9de outubro de 1962.

135. N. BLUME. op. cit, p. 217.

136. Intercâmbio, a publicação do Coun-cil for Latin America, chamava a atençãode suas leitoras - as companhias que in-tegravam o Fundo de Ação Social, emSão Paulo - que "Companhias perspica-zes estão usando cartuns para atingir ostrabalhadores e as populações rurais de li-mitada capacidade de leitura. Caso emquestão: EI camino hacia el futuro, a co-média de 16 páginas da Caterpillar Trac-tor, que contava a estõria dos esforçosconjuntos de uma construção de estradapelo governo e camponeses em um vila·rejo da América Latina. Aproveitando aoportunidade, ela inseria os objetivos daAliança para o Progresso e fazia a propa-ganda da Caterpillar (apenas através dologotipo desenhado no equipamento deconstrução). Um milhão de cópias em por·tuguês e espanhol foram distribuídas, atéesta data, pela USIA (U.S. InformarionAgency), cm 14 países - geralmente coma cooperação dos representantes locais da

Caterpillar". "A reação? Extremamentefavorável. segundo uma pesquisa subse-qüentemente conduzida através dos postosda USIA". lntercãmbio. Estados Unidos.1(4): I, July 1965.

137. IPES Ch. Gr., São Paulo. 8 de [a-neiro de 1963.

138. IPES. Reunião Geral. 9 de outubrode 1962.

139. lPES CE e CD São Paulo. 20 de no-vembro de 1962, João Baptista LeopoldoFigueiredo.

140. N. BLUME. op. cito p. 217.

141. I PES CE e Ch. Gr. São Paulo. 8 dejaneiro de t963.

142. Gilbert Huber Ir. se encarregaria dasdespesas de um filme sobre "as modifica-ções no conceito de homem de empresa".orçado em 2 milhões de cruzeiros. I PESCE São Paulo, 2 de abril de 1963.

143. De vez em quando, os filmes sofriamreadaptações e atualizações para seremcoadunados com as novas circunstâncias.A regravação de "Portos Paralíticos" e de"Economia Estrangulada" custou ao IPES750.000 cruzeiros. IPES. Reunião geral,São Paulo, 16 de outubro de 1962.

144. IPES CD, 7 de agosto de 1962.

145. I PES CD, 28 de agosto de 1962.

146. Após o golpe de 1964, o Council forLatin America fez o acompanhamento da

. cooperação de fontes externas. Em seu re-latório de outubro de 1965. foi declaradoque "Assistência diária aos grupos locaisse estende desde fornecer a novos gruposidéias sobre projetes iniciais, relativamentesimples e baratos. até propiciar a gruposjá estabelecidos informações e recursos pa·ra atividades mais importantes". O Coun-cil for Latin America posteriormente pa·trocinou alguns filmes. entre eles o conhe·cido- "Sermão de Campinas" (que foi assis-tido por cerca de 13.000.000 de brasilei-ros), "O Preço da Vida" (que documen-taya as contribuições da indústria farma·cêutica internacional em prol da salide edo bem-estar), "Terra Proibida" (que mOs'trava como o capital privado transforma-

va ti seca e árida região Nordeste do Brasil cm um abundante pomnr) e .. Esta é aMinha Vida" (a estória do progresso al-cunçadc por um trabalhador sob • égideda empresa privada). O CLA proporcio-nou modelos para discursos públicos ematerial para a irnprensa e o rádio. comoo seguinte:

CLA - CRC - Circular 52/65

Ref.: ENTREGA UE COMENTÁRIOSPARA O RADIO E A IMPRENSA

Junto a esta circular temos o prazer deremeter-lhes os seguintes artigos:

t) O PAPA E A PAZ INTERIOR.

2) A CENOURA E A VARA.

3) SUKARNO NO OCASO.

41 SERÁ ISTO AINDA COMUNIS·MO?5) SERÁ O TERRORISMO UMA

FORÇA PARA O PROGRESSO SO-CIAL?Lembramos que este material pode ser

usado, editando-o ou sem editar. com aassinatura do autor e preferivelmenteadaptado na estilo local.Recordamos 'lovamente a necessidade

de receber seus recortes. impressões e con-selhos. Muito obrigado.

NOTA: E favor usar esta mesma folhapara os seus comentários que serão bemrecebidos.

COMENTÁRIOS:

8 de outubro de 1965.

Toda semana o CLA mandava cinco ouseis artigos novos para cerca de 100 porta-vozes do rádio c da imprensa na AméricaLatina. O objerivo básico desses artigosera fortalecer atitudes que fomentavam oque era concebido como "desenvolvimentodemocrático". Um intercâmbio foi estabe-lecido entre os serviços de imprensa .SIBe o CLA. através. do qual o SIB ·usaria·.material de rádio e imprensa do··CLA eeste distril>uiria material do SI B para ospaíses de Ifngua espahhola. Foram tambémoferecidas novelas de rádio (u!]1a série de50 ou 60 capítulos de meia hora de dura-ção). Essas novelas de rádiQ ~ontinhamuma mensagem pró-C6pitalista cm meio aoontretenin)ento, fomentando a "mobilida-de e escolha social". Vide Coullcil 0/ Lo-

273

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tin America Report. New York, Out, 196j.p. 2 ....

147. Ata do IPES, 23 de outubro de 1962.

H8. Reunião geral do IPES São Paulo, 25de setembro de 1962. Relatório de RicardoCavalcanti de Albuquerque sobre a utiliza-çolo de seis documentários.

149. Reunião geral do IPES São Paulo, 9de outubro de 1962.

150. Ch. Gr. São Paulo. 25 de setembrode 1962.

" I. Os fiImes foram orçados em ....1.700.000 cruzeiros cada. IPES. Memoran-do. 21 de novembro de 1962.

152. (a) IPES CE "Rio, 14 de junho de1962. (b) Moniz BANDEIRA. O governoJoão Goulart: as lutas sociais no Brasil1961-1964. Rio de Janeiro, Civilização Bra-sileira, 1977. p. 74. De acordo com eSSAfonte, Stone teria sido agente da CIA.153. IPES CE Rio, 8 de junho de 1962.

154. Todos os meios possíveis de comu-nicação e pressão (jornais, conferências,artigos, simpósios, reuniões privadas. pres-são econômica e profissional) foram utili-zados para moldar os empresários racionalc emocicnalmenre, Esperava-se que os em-presários, por sua vez, levassem "às suascompanhias a mensagem democrática doIPES". IPES CE Rio, 29 de novembro de1962, General Liberato. Vide também Atado IPES, 27 de novembro de 1962, sobreas tentativas de organizá-lo como O reiodas associaçôes comerciais. A idéia dacriação de um IPES "em cada empresa"começou a tomar vulto e também o esti-mulo às ações paralelas, tais como as daAssociação dos Dirigentes Cristãos de Em-presa - ADCE, que, segundo Jorge FrankGeyer, já era "um tipo de IPES". IPESCD Rio, 27 de novembro de 1962.155_ Seminários do _l1'ES. Rio, 1_ d. p. I.

156. Id. p. 4, Os seguintes diretores doIPES orientariam os seminários:' AntônioCarlos do Amaral Osório, Augusto Traja-no de Azevedo Antunes, Cãndido Guinlede Paula Machado, Glycon de Paiva, Ha-rold C. Pol1and. Israel Klabin, João Bap-tista Leopoldo Figueiredo, José Luiz MI>-

reira de Souza, José Rubem Fonseca, JoséUlpiano de Almeida Prado. Maurício ViI-leia, Miguel Lins, Oswaldo Tavares, OthonBarcellos Correa, Paulo Ayres Filho, PauloReis Magalhães. Rui Gomes de Almeida eZulfo de Freitas Mallman. tendo sido de-signado coordenador geral Antônio C. A_Osório.

157. O Apêndice N apresenta uma sele-ção de temas para os seminários organiza-dos e patrocinados pelo IPES, temas es-tes que refletem o nível sofisticado da eliteorgânica em sua campanha para conquis-tar O bloco burguês e desarticular seus ad-versários.

158_ Por tradição. 05 clubes sociais e es-portivos eram os centros de comunicaçãoinformal entre empresários. burocratas epolíricos. Nesses locais, já se esquematiza-ram articulações de diretrízes, uniões deinteresses e conspirações polfticl>-militares.A composição social. regional e étnica deseus membros sempre refletiu e determi-nou divisões de classe e status, bem comofortaleceu essas identidades. Sobre a verda-deira participação desses clubes sociais eesportivos no movimento civil-militar. videCap. VIII. Os militares tinham tambémos seus clubes "políticos". O Clube Mili-tar e o Clube Naval constitulram significa-tivos centros de discussão de diretrizes ebases conspirativas até 196-4. A sua impor-tância como centros de discussão livre S()-

freu visível declínio depois do golpe,

159. Ata do IPES, 20 de novembro de1962. Uma idéia do tipo de formação ideo-lógica que se desenvolvia é sugerida aoconsiderar os subtítulo. de um dos traba-lhos distribuídos nessas conferências emum dos clubes da sociedade p.....lista. que.diga-se de passagem. não é de se esperarque fosse o lugar para tal conferência. Otrabalho chamava-se Fortalecimento doPotencial Nacional - Plane;amento e tra-tava de: 1) O significado/sentido da prl>-blemáiica da Segurança Nacional - a."Gerações Conscientes", 2) Poder e Poten-ciai Nacional - duas perspectivas diferen-tes da mesma realidade, 3) Esferas de pIa-nejamento no campo da Segurança Nacio-nal, 4) A dinâmica natural do fort.led-mento do potencial, j) A intervençãoconsciente no processo, 6) O dirigismo tI>-

talitário e planejamento democrático e7) Fortalecimento do potencial econômico edesenvolvimento. Documento N. I. Forta-lecimento do Potencial Nacional - Plane-jamento, s. d. Preparado pelo General Gol-bery.

160_ O ciclo de conferências realizou-seentre 13 de agosto e 29 de setembro de1963. Os oradores foram Alceu VicenteWightman de Carvalho (sobre ImplicaçõesEconómicas e Sociais da Explosão Demo-grdfica); Sandra Cavalcanti (ProblemasHabitacionais), Achilles Scorzelli Júnior(Problemas de Saúde); José Arrhur Rios(Diferellças Sociais); Paulo de Assis Ribei-ro (Ácesso à Educação); Odylo Costa Fi-lho (Assistência Social à Infância e [uven-rude}; Moacyr Velloso Cardoso (A Verda-de sobre a Assistência Social); Fábio Ma-cedo Soares [Desequilíbrios Regionais);Mário Henrique Simonsen (As Implica-"ções Sociais, Políticas e Econômicas da 1,,-fiação); Nério Battendiery (A Questão Sa-larial); Jorge Duprat de Brito Pereira (De-semprego e Subemprego); [ayme Magras-si de Sá (Subconsumo); Wanderbilt Duar-te de Barros (Tensões Decorrentes do Usoda Terra) e Benedito Silva (Inadequaçãoda Estrutura Governamental),

161. Os cursos tratavam de "DemocraciaPolítica e Democracia Econôrníca", "Em-presários e a Dinâmica das Estruturas doEstado". "O Significado Político e Econõ-mico da Democratização do Capital"."Ações como Expressão e Instrumento doCapital". "Estratégia de Grupos de Pres-são contra o Capitalismo Democrático" e"Planejamento e Capital". Entre os con-ferencistas. destacaram-se Carlos José deAssis Ribeiro, Dênio Nogueira. Luiz Ca-bral de Menezes. Octávio Gouveia de Bu-Ihões e Themístocles Brandão Cavalcanti(para o seminário sobre -a Democratizaçãodo Capital); João Baptista Vianna, C. J.de Assis Ribeiro, Eudes de Souza Leão,Paulo Mário Freire. F_ Mbielli de Carva-lho, Ary Campista. o General Anápio GI>-mes, o 'Brigadeiro João Mendes da Silva,Milton Monteiro. Almino Affonso (para oseminário sobre A Empresa Privada e aSegurança Nacional); C. J. de Assis Ribei-ro. Almifo Affonso, o General Pop~ deFigueiredo. Glycon de Paiva. o Padre

Francisco Leme Lopes (SIl. Paulo de As-sis Ribeiro. Vicente Barreto. Gilbert Hu-ber Jr., Gilberto de Ulhoa Couto, JoãoCarlos Moreira Bessa, r. Garrido Torres(sobre a Análise e Diagnóstico da Reali-dade Brasileira).

162. (a) IPES CE, 6 de junho de 1963.(b) O Estado de São Paulo. 2 de agostode 1963_

163. A elite orgânica conseguiu acompa-nhar essas discussões com publicaçõesque causaram um forte impacto na comu-nidade empresarial e entre os milhares.Uma dessas publicações de tamanha in-fluência foi o livro Segurança Nacional.publicado pelo Forurn Roberto Simmon-sen, da FIESP. em 1963. Ele continha ar-tigos escritos por Otávio Marcondes Fer-raz. A. C. Pacheco e Silva e pelos Gene-rais Edmundo Macedo Soares, Lyra Tava-res e Humberto de Alencar CastelloBranco.

,164. N_ DAILEY. op, cit. p, 220.

165. IPES CE Rio, 19 de junho de 1962.Para Dario de Almeida Magalhães. "A Tá-tica é fazer a ação extremista. mas comuma porção de biombos [M. Salles, D, H_C.• Alceu Lima etc.]. O Cardeal está fir-me".

166. O Estado de São Paulo. 18 de outu-bro de 1963.

167. Foi feito com a intenção de ficar c0-nhecido como a "Resposta Cristã para umBrasil em Crise"_ ta) IPES CE Rio, 19 dedezembro de 1962. (b) Carta de Glyconde Paiva à Pontifícia Universidade Cat6-lica. IPES 62/1716 de 20 de dezembro de1962. Uma lista de' participantes e temasmostra aquelas pessoas e aqueles assuntosque, a essa altura. devem ser familiares aoleitor: Alceu Amoroso Lima (Análise daCrise Nacional); Oswaldo Trigueiro (Op-ções e Objetivos das Reformas de Base);Sucupira (Evolução HistÓrica de TemasSociais); Oswaldo Trigueiro (Reforma daEstrutura Politica); José Murta Ribeiro(Reforma Judiciária); Lucas Lopes (Re-forma dos Serviços de Utilidade Pública);Paulo de Assis Ribeiro (Reforma Adminis-trativa); Jos6 Garrido Torres (O HomllTII

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e a Ordem III/emocionai); Dias Carneiro(Política Externa); João Camilo de Olivei-ra Torres (Poíttlca de Comércio Exterior};Alexandre Kafka e João Baptista Pinhel-ro (Capital Estrangeiro); Daniel Faraco (OHomem e a Economia): Mário HenriqueSimonsen (Reforma Tributária}; CarlosJosé de Assis Ribeiro (Reforma Orçamen-târia}; Aníbal Villela (Reforma Antitrust};Oscar Barreto Filho (Reforma do Merca-do de Capitais); Octávio Gouveia de Bu-Ihões e José Luiz Moreira de Souza (Em-presa Privada); r. Queiroz Filho {Partici-pação nos Lucros); Frederico Rangel (Le-gislação Trabalhista); Carlos José de As-sis Ribeiro (Previdência Social); [osé Ar·thur Rios (Estruturas Sociais); Paulo deAssis Ribeiro (A Dignificação do Homem);Julian Chacel (Estrutura Agrária); LuizCarlos Mancini (Ouestão Habitacional);Dom Helder e Luiz Alberto Bahia (O Di-rei/o de Expressão e sua Função Social);Sílvio Frées de Abreu (Conservação dosRecursos Naturais). Outros temas eram:Reforma Eleitoral, Reforma Legislativa,Educação como um Fator na Formação doHomem e também Saúde e Sanitarismo. Oseminário realizou-se com o patrocínioconjunto da Pontifícia Universfdàde Cató-lica do Rio de [aneiro, que participou doscustos. Vide IPES CE, 29 de novembro de1962. O IPES também planejou um serni-nário com o Instituto de Estudos para oDesenvolvimento Social Económico, delosé Arthur Rios e do Padre Lebre!. I PESCE Rio, 28 de março de 1963. Paulo deAssis Ribeiro procurou também a colabo-ração de Raquel de Queiroz, para que elaelaborasse uma cartilha sobre as reformasfundamentais necessárias ao país. Carta deP. A. Ribeiro a T. Garrido Torres, 5 defevereiro de 1963, no Arquivo de Paulode Assis Ribeiro.

168. N. BLUME. op. cito p. 216.

1~9. Embora o Padre Crippa tenha sidoremovido de São Paulo, pelo Cardeal Mo·ta, e mandado para Campinas, ele voltavacom regularidade para continuar o seu tra·balho no Convivium.

170. Vide Capftulo VII.

171. I·PES CE e CD: 4 de dezembro de1962. Em dezembro de 1962, o Padre

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Crippa apresentou um plano de ação para1963, que foi estudado por Paulo Edmurde Queiroz. Esse plano incluía o estabe-lecimento de uma Escola Superior de Li-derança, a expansão do Instituto de For-mação de Líderes e a Agência de NotíciasPlanalto, assim como a criação de um se-minário político e ideológico. 1. B. Leo-poldo Figueiredo pediu a Paulo Edmur deQueiroz para ser o contare com o PadreCrippa, de forma que o Padre apresentas-se seu orçamento e fixasse as prioridades.IPES CE e Ch. Gr., 18 de dezembro de1962, para o projeto que acabou sendo es-truturado.

172. IPES São Paulo. Relatôrio das Ati·vidades 1963. p. 2.

173. IPES CE e Ch. Gr. São Paulo, 31de janeiro de 1963.

174. [osé Ely Coutinho, que sucedeuAdalberto Bueno Neto nos conta tos que oIPES estabeleceu com a ACM, ligado aJoão Nogueira Lotufo, como membro daACM, que também era membro ativo daAmerican Chamber of Commerce. IPESSão Paulo, Reunião Geral, a 16 de outu-bro de 1962.

175. O Estado de São Paulo, 20 de outu-bro de 1963.

176. Carta do IPES 64/0128 a Frei Metó-dio, de 18 de fevereiro de 1964, pelo Ge·neral Liberato.

177. (a) IPES CE e Ch. Gr. São Paulo,18 de dezembro de 1962. (b) IPES CE, 21de maio de 1963.

178. Ciclo de Conferências. O Es/ado deSão Paulo, 12 de dezembro de 1963.

179. Conforme foi enfatizado pelo Gene·ral 10ão Baptista Tubino: "O IPES, entreseus mais altos objetivos declarados deve·ria visar ao aperfeiçoamento da consciên·cia cívica e democrática das diferentesclasses da sociedade brasileira". IPESo Do-cumento. Curso de Atua/idddes Brasilei·ras, p. 2.

ISO. Ata do lPES, 28 de novembro de1962.

181. 1PESo Documento n. 3. Vagas ou.ponlveis, Rio de [arteiro, 6 de junho de1963,

182. IPES CE Rio, 29 de novembro de1962. "Não concebo êxito para qualqueração que salvaguarde o regime dernocrâti-co se não for apoiada em idéias. Umaidéia só se combate efetivamente com ou-tra idéia melhor". "Por que não se criauma instituição para pregação dos ideaisdemocráticos". I· Garrido Torres ao CD,29 de maio de 1962.

183. I PES Grupo de Integração, relatóriode 10 de novembro de 1964. A idéia deformalização da existência da ADlPESsurgiu em virtude da necessidade de pre-encher novamente os quadros do IPES,que se encontravam desfalcados pela inte-gração· de seus membros no governo. de-pois do golpe de abril de 1964. Em agostode 1964, a diretoria da ADIPES compreen-dia Harold C. Polland, Leopoldo Figueire-do [r., Torge Frank Geyer, Alberto Venân-cio Filho e Narzy Maia. Relatório da ADr·PES, Rio de [aneiro, 21 de janeiro de1965, por Orrny Rosolem.

184. IPES. Documento n. 4. Temas aConsiderar, Rio de Ianeíro, 6 de junho de1963. Esse documento fornece uma lista detemas disponíveis para esses cursos: Reali-dade Brasileira, Democracia e os RegimesTotalitários, Democracia e a Igreja, O De·senvolvimento do Pais e a Política Exter·na, Progresso Econômico é Progresso So-cial, Democratização do Capital, A Legis.lação Trabalhista Brasileira e a Empresa,Planos para o Desenvolvimento, O Pro-cesso de Reformas de Base no Brasil, Re·forma Tributária, Reforma Bancária, Re·forma Empresarial e Reforma Agrária.

185. (a) IPES. Rela/ório 1963, p. 3. (b)IPES. Documento N. 1, Rio de Janeiro, 6de junho de 1963.

186. Objetivos do Curso. Entre outros,destacavam·se como professores dos cursos(alguns deles ministrados mesmo ap6s1964): Harold C. Polland (Significância do 'CAB), Alceu Amoroso Lima (RealidadeBrasileira,l, Themístocles Cavalcanti (De·mocracia e os Regimes Totalitários), Gus·tavo Corção (Democracia e a Igreja), Dei·

fim Netto (Progresso Económico e Pro-gresso Social), Carlos de Assis Ribeiro(Planos para O Desenvolvimento), MárioHenrique Sirnonsen (Reforma Tributária,Implicações Politicas, Sociais e Econõrni-cas da Inflação). Dênio Nogueira (Reíor-ma Bancária, Objetivos e Implicações re-sultantes da Reforma Monetária), J. L.Moreira de Souza (Reforma Empresarial,Democratização do Capital), [osé ArthurRios (Reforma Agrária, Reforma da Polí-tica Habitacional), Paulo Sá (Leis Traba-Ihistas e Empresas), Paulo de Assis Ribei-ro (Processo de Reformas), João Camilode Oliveira Torres (Democracia e os Re-gimes Totalitários). Octávio Gouveia deBulhões (O Desenvolvimento do País ePolítica Externa), Roberto Campos (Polí-tica Externa e o Desenvolvimento doPaís): Hélio Drago, Fábio Macedo SoaresGuimarães (Aspectos Fisiogrãficos do Bra-sil), José Garrido Torres, Moacyr Veloso-Cardoso de Oliveira e Wanderbilt Duartede Barros. Lista composta a partir dos N.19 a 39 do Boletim Mensal, IPES.Encontravam-se entre os conferencistas

e temas dos cursos ministrados depois deabril de 1964: António Saturnino Braga(Aspirações do Povo Brasileiro); Luiz AI·berto Bahia (Contexto Político e ModelosEconómicos); Hélio Beltrão (Política daReforma Administrativa do Governo); oCoronel Hélio Gomes do Amaral (PolíticaNacional de Telecomunicações); o Coro-nel Wilson Moreira Bandeira de Mello(Ciência, Pesquisa, Tecnologia e Desenvol·.vimento); Glycon de Paiva (População eDesenvolvimento, Produção Mineral); Eu·des de Souza Leão (Produção Vegetal ePolíticas Agrárias); Durval Garcia Mene·zes (Gado de Corte); o Coronel AntoninoD6ri. Machado (Produção Industrial, ln·dústrias Siderúrgicas); lohn Cotrim (Fon·tes Energéticas), A. Trajano Antunes (Pou·pança Interna, Investimentos); WalterLorch (Política de Transportes); SérgioPaulo Rouanetl (Política de Comércio Ex·terior); Achilles Scorzelli Ir. (Políticas deSaúde) e Geraldo Danemmann.

187. E válido observar como são conco-mitantes posição na hierarquia militar eocupAção de cargo em empresas. A i1us·tração a seguir m(l.tra a composição deum desses grupOs:

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188. IPES CE, 29 de novembro de 1962,[osé Rubem Fonseca. No princípio de1963, o General Tubino recebeu do Ge-neral Golbery uma cópia de um plano ge-ral para o primeiro Curso Superior de Es-tudos de Alua/idades Brasileiras. O seumodelo foi um curso ministrado duas ve-zes por semana, de julho a novembro de1962. em um total de 34 aulas. Vide tam-bém o Plano do General Golbery para oGeneral Tubino no IPES 6/5/63.O curso seria realizado no Sindicato da

Indústria Farmacêutica, nos termos deum acordo feito por Vil lela. A equipe com-preendia Nei Peixoto do Valle, I. Garri-do Torres e José Rubem Fonseca, que re-cebeu o apoio do Grupo de Estudo e Dou-trina. As despesas fixas de secretaria fo-ram calculadas em torno de 600.000 cru-zeiros mensais, não incluindo o materialque se necessitava para o curso. Quarentae cinco estudantes participaram da primei-ra turma. Entre eles, havia 10 do IPES,3 do Estado Maior das Forças Armadas -EMFA, 3 de sindicatos, 3 da liderança doIPES, um do Conselho de Segurança Na-cional - CSN, um do Ministério da In-dústria e Comércio, 7 do Ministério daEducação, 4 de associações empresariais, 3profissionais e 4 estudantes.O IPES compôs a lista do corpo de pro-

fessores do curso com as seguintes pessoas:Alceu Amoroso Lima e Dantom ]obim(Socialismo e Democracia); Erice Verissi-mo, J- Garrido Torres, Ioão Baptista Leo-poldo Figueiredo e João Pinheiro Baptista(Capitalismo e Democracia); o GeneralGolbery e Hélio [aguaribe (Nacionalismo

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Democrático); o General Jurandir Mame-de (As Forças Armadas e Democracia); oGeneral Macedo Soares (Democracia, Se-gurança Nacional e Indústria); Dom Hel-der Câmara (Igreja e Democracia); JoséLuiz Moreira de Souza e Gilbert HuberIr. (Democratização do Capital); LuizCarlos Maneini e Iosé Arthur Rios (Pro-gresso Econõmico e Justiça Social); Hélio[aguaribe e Gilberto Freyre (Nordeste eDesenvolvimento), o Padre D'Avila (Igre-ja e Progresso Econõmico); Cândido Guin-le de Paula Machado, Elíezer Burlá e Ody-lo Costa Filho (Os Empresários e OpiniãoPublica): Cândido Mendes, Mário Henri-que Simonsen e Hélio Beltrão (Pesquisa ePlancjarncnro Econômico); Edgard Teixei-ra Leite (Capital Estrangeiro); NeherniasCueiros e Daniel Faraco (Sociedades Anô-nimas) : losé Garrido Torres (Lucros Ex-traordinários, Mercado Comum Latino-Americano); Harold C_ Polland e PauloFerraz (Transporte); o Major Maurfcio Ci-bulares (Medidas para Suprimento, Ener-gia); Glycon de Paiva (Minerais e Subso-lo); I. Carlos Vital e Lúcio Costa (Trans-porte e Urbanização); Daniel Faraco (Le-gislação Inadequada); Paulo de Assis Ri-beiro (Reforma Agrária, Reforma Tributá-ria, Reforma Bancária, Leis Anti-Trust);Mário Gibson Barbosa e Carlos ChagasFilho (Intercâmbio Cultural), Orlando deCarvalho, Flexa Ribeiro e Herbert Cha-moun (Problemas Universitários) e o Em-baixador Araújo Castro (Política Externa).A partir dessa lista de nomes, torna-se ób-vio que era extraordinária a capacidade doIPES de articula r, nessa fase, uma posi-ção polftico-inteleclual de "centro",

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