capÍtulo iv fenÔmeno lÍngÜÍstico da intensificaÇÃo · substantivados que são verdadeiros...

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1 CAPÍTULO IV FENÔMENO LÍNGÜÍSTICO DA INTENSIFICAÇÃO Neste capítulo temos como objetivo apresentar e discutir os recursos lingüísticos de intensificação encontrados nos diálogos didáticos de inglês, como também descrever os resultado da produção dos atos de fala dos professores feito através do teste de complementação discursiva referente a cada recurso. Na seqüência, classificamos os advérbios de intensidade de acordo com Bäcklund (1973) e Quirk et al. (1985), e finalmente, analisamos a comparação da produção de atos de fala dos professores (TCD) versus produção em livros didáticos. 4.1. Recursos lingüísticos de intensificação Os usuários da linguagem falada inovam e as suas inovações penetram na língua escrita em geral. A linguagem evolui, faz um esforço constante de maior expressividade, impulsionada efetivamente, procurando impressionar com mais eficiência com o auxilio da intensificação. A intensificação é um fato da língua que se pode apreender em vários níveis ou funções discursivas, que serão determinadas pelo contexto predominando os elementos afetivos e opcionais do falante (Labov, 1984). Seguindo a mesma posição, Poulet (1965?) afirma que as expressões de intensidade são subjetivas na medida em que o emissor toma posição explicitamente ao intensificar uma apreciação ou um julgamento de valor. A mesma lingüista afirma que quase todos os recursos intensificadores (o reforço exclamativo, reforço nominal (repetição, numerais intensivos e adjetivos intensivos), reforço de negação, reforço comparativo e reforço adverbial) manifestam o caráter ambíguo da intensidade que podem trata-se de uma ordem, de um pedido, de um conselho ou até de uma súplica. Somente a PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

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CAPÍTULO IV

FENÔMENO LÍNGÜÍSTICO DA INTENSIFICAÇÃO

Neste capítulo temos como objetivo apresentar e discutir os recursos

lingüísticos de intensificação encontrados nos diálogos didáticos de inglês, como

também descrever os resultado da produção dos atos de fala dos professores feito

através do teste de complementação discursiva referente a cada recurso. Na

seqüência, classificamos os advérbios de intensidade de acordo com Bäcklund

(1973) e Quirk et al. (1985), e finalmente, analisamos a comparação da produção

de atos de fala dos professores (TCD) versus produção em livros didáticos.

4.1. Recursos lingüísticos de intensificação

Os usuários da linguagem falada inovam e as suas inovações penetram na

língua escrita em geral. A linguagem evolui, faz um esforço constante de maior

expressividade, impulsionada efetivamente, procurando impressionar com mais

eficiência com o auxilio da intensificação.

A intensificação é um fato da língua que se pode apreender em vários

níveis ou funções discursivas, que serão determinadas pelo contexto

predominando os elementos afetivos e opcionais do falante (Labov, 1984).

Seguindo a mesma posição, Poulet (1965?) afirma que as expressões de

intensidade são subjetivas na medida em que o emissor toma posição

explicitamente ao intensificar uma apreciação ou um julgamento de valor.

A mesma lingüista afirma que quase todos os recursos intensificadores (o

reforço exclamativo, reforço nominal (repetição, numerais intensivos e

adjetivos intensivos), reforço de negação, reforço comparativo e reforço

adverbial) manifestam o caráter ambíguo da intensidade que podem trata-se de

uma ordem, de um pedido, de um conselho ou até de uma súplica. Somente a

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entoação, os gestos, as expressões fisionômicas e as condições gerais em que o

enunciado é produzido permitirão detectar a verdadeira força do ato produzido.

Exemplificamos através de fragmentos dos diálogos didáticos cada um

destes recursos e paralelamente apresentamos o resultado da análise da

produção dos atos de fala feita através do TCD.

A. Reforço exclamativo

A exclamação, ao lado das outras formas elocucionais, é

predominantemente afetiva e pode, por si só, servir à intensificação de uma

palavra. É também capaz de comunicar os mais diferentes estados emocionais,

fazendo uso de frases exclamativas que diferem das frases assertivas por sua

entoação, tornando-se independente das características variáveis da emoção que

exprime (Cruzeiro, 1973).

Porém, através de nossos estudos, podemos afirmar que nem sempre a

frase exclamativa se distingue da frase assertiva apenas pela entoação. A maior

parte das vezes a superlativação é transmitida não só por aquilo a que Matoso

Câmara Jr. (1972) chama “os traços elocucionais” (a entoação, a altura da voz, a

mímica, etc.), mas também pelos traços locucionais (a ordem vocabular e certas

partículas, como “what” (que), “how” (como) e “that” (esse, aquele).

As partículas “what”, “how” e “that” são introdutórias da oração exclamativa,

qual iniciaremos nossa análise com exemplos retirados de nosso corpus e

verificando cada um:

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“What” é, neste caso, um adjetivo exclamativo, qualificativo do substantivo

que lhe segue e, superlativante, ao mesmo tempo, da qualidade que substitui.

Nocionalmente, o caracterizador é indicado pelo contexto; funcionalmente, o seu

papel é desempenhado por “what”, exigindo junto de si a palavra a qualificar e

intensificar que modifica o esquema da frase assertiva: Na amostra 34, na

exclamação: what a mess! É um espanto do locutor ao ver os tênis em desordem

no quarto.

Nestes exemplos acima “what” é então apenas advérbio exclamativo e

intensivo pois superlativa a qualidade expressa, equivalente funcional de “really

ou very” ( muito) , sendo de uso mais freqüente e mais geral.

De grande concorrência com “what” entra a partícula “How”, apesar das

diferenças existentes entre uma e outra. “How” intensifica adjetivos, advérbios e

verbos, função que “what” não cobre e voluí na frase exclamativa em uma função

intensiva, tornando-se o valor nocional nulo. Vejamos exemplos:

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“How” introduzindo a frase exclamativa, dá a toda ela um movimento

afetivo, mas superlativa, em especial, o seu verbo (que é quase sempre o verbo

ser), o adjetivo ou advérbio, como também “That”. Sublinhados pela entoação,

perdem o seu valor nocional de demonstrativo e incluem afetivamente em si

caracterizador e elemento superlativante. Abaixo temos alguns exemplos:

Segundo Cruzeiro (1973), “that” exprime uma visão afetiva-admirativa que

se tem do objeto ou da pessoa, indicando que ele possui em alto grau qualquer

qualidade susceptível de provocar essa admiração. A mesma lingüista afirma que

não se pode superlativar diretamente um adjetivo. Usa-se “That” junto de adjetivos

substantivados que são verdadeiros qualificativos. O demonstrativo é um

intensificador expressivo. Usa-se junto de abstrato ou concreto e substitui o

caracterizador, cujo valor nocional se subtende.

Ao longo desta seção, verificamos exemplos de interjeições que são

palavras que servem apenas para expressar emoções segundo Leech et al.

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(1995). Em nosso corpus encontramos explicação de algumas interjeições como

reforço de uma exclamação, conforme ilustramos a seguir:

O seguinte demonstrativo de interjeições quase sempre segue uma frase

que expressa um grau de intensificação. Abaixo temos alguns exemplos mais

usados em nossa pesquisa:

Oh! surpresa; Ah! satisfação ou reconhecimento; Aha! exultante,

satisfação ou reconhecimento; Wow! uma grande surpresa; Yippee! entusiasmo,

prazer; Ouch! e Ow! dor, sofrimento; Ugh! e Yuk! nojo, repugnância; Yummy!

bom paladar; Yohoo! Prazer, alegria; Gosh! falta de entendimento; Whew! alívio.

Resultado da análise do TCD

Dentre as 203 ocorrências de produção de atos de fala, pudemos verificar

que 11 delas (5%) são de reforços exclamativos e foram encontrados na situação

71 (11 ocorrências). Tendo em vista cada situação há 29 ocorrências. O gráfico 7

procura ilustrar os resultados ora apresentados.

0%

0%

0%

0%

0%

0%

38%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 7 - Reforço Exclamativo / Fonte: TCD

1 Veja as situações contextuais do Teste de Complementação Discursiva ( anexo 2).

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B. Reforço nominal

b.1.Repetição

A repetição é um processo espontâneo de intensificação e por isso muito

corrente. É usada, sobretudo pela linguagem falada; contudo a língua literária

utiliza-a também, pois tem um forte poder expressivo.

Vejamos alguns esquemas de repetição encontrados em nosso corpus:

Observamos que essas repetições dos advérbios e adjetivos, nas amostras

41 e 42, expressam uma intensificação de alto grau. A repetição através de

adjetivos e advérbios, nestes exemplos, recebe uma acentuação emotiva, exprime

um estado de alma com uma grande afetividade. Segundo Cruzeiro (1973),

adjetivo e advérbio intensivos são, pois, aqueles que são qualificativos e

quantificadores. Simultaneamente tais características podem ser observadas nas

amostras acima.

Em nossa análise a repetição ocorre em outros diálogos, em outras

situações sem valor implícito de intensidade para expressar reações variadas, que

é um fenômeno já observado por estudiosos, dentre eles Freeman (1980:135)

que, citado em Chiaretti (1993), faz referências às repetições para denotar

surpresa, descrença, confirmação, apreciação ou contentamento, conforme

ilustramos a seguir:

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Observamos também no extrato abaixo, amostra 47, exemplos de

repetições sem valor intensificativo e com valor cursivo, indicando a continuidade

da ação. Cruzeiro (1973) afirma que sem sempre é fácil de ver até que ponto, na

intenção do que fala ou do que escreve, ou naquilo que se recebe o que lê ou

ouve, está uma noção de intensidade ou de continuidade da ação. Vejamos:

Como observamos neste exemplo, as repetições (No Joking. No Joking -

Go on. Go on) não trazem em si a idéia de gradação; a insistência não traz em si

nenhuma intensidade. O verbo ‘go’ desperta em nós uma imagem visual de andar,

e tem, sobretudo um valor cursivo. Secundariamente vem a noção de intensidade.

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Resultado da análise do TCD

Entre os 203 atos de fala produzido por nossos 29 informantes,

constatamos que 3% dele são de repetição, correspondentes a 7 ocorrências,

sendo distribuídas entre as situações, na seguinte forma: situação1 ( 3

ocorrências); situações 3 e 5 ( 1 ocorrência respectivamente) e situação 6 ( 2

ocorrências) conforme apresentamos no gráfico abaixo.

10%0%

3%

0%

3%

7%

0%

0% 2% 4% 6% 8% 10%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 8 – Repetição / Fonte: TCD

b.2. Numerais intensivos

Os números cem (hundred) e mil ( thousand) são expressões efetivas de

uma grande quantidade. Ligados diretamente a um substantivo, é a quantidade

numérica que é focada. “Mil dias” equivalerá a muitos dias. Em nosso exemplo

abaixo a expressão “centenas de jacarés” equivale a muitos jacarés. Vejamos:

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Este processo de intensificação é normalmente peculiar da fala. Por outro

lado, como “exagero” que é, facilmente se ligará à expressão de sentimentos ou

ações que se pretendem referir.

Resultado da análise do TCD

Constatamos, através da análise manual do TCD, a ausência de ocorrência

de numerais intensivos. Exceptuando-se o exemplo da amostra 48, acima,

podemos concluir que o emprego deste tipo de intensificação é muito restrito na

literatura inglesa em nosso corpus de análise.

b.3. Adjetivos intensivos

A intensidade é um fato da língua que se pode apreender em vários níveis.

Há adjetivos que são intrinsecamente expressões de intensidade, porque em

relação aos seus vizinhos semânticos representam a noção comum, como se a

ela já se tivesse juntado um quantificador. Adjetivos como: perfeito (perfect),

maravilhoso (wonderful), fantástico (fantastic) e bom (good) são exemplos

bastante esclarecedores. Vejamos:

Perfeito (acabado) e fantástico, atribuídos a um nome fora do seu

significado objetivo, equivalem a muito bom, muito grande, dada à idéia que lhes é

básica, integral realização do modelo ideal de um ser, sentimento e ação. O seu

sentido inicial preciso apaga-se, dando lugar fundamentalmente à expressão da

intensidade. Por esta razão, esses adjetivos têm aplicações bastante livres.

Extratos retirados de nosso corpus:

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Segundo Cruzeiro (1973), o adjetivo “maravilhoso” (wonderful) tem grande

liberdade de aplicação, verificando-se aliás que esta liberdade existe geralmente

na razão direta do nível atingindo pelo adjetivo como índice autônomo de

intensidade. Maravilhoso é qualquer coisa que causa espanto, admiração, pela

particular relevância com que se apresentam as características de um objeto, de

um ser ou de uma ação. O adjetivo maravilhoso usa-se como intensivo

correspondendo a um genérico “muito bom”. No corpus desta pesquisa

encontramos os seguintes exemplos:

O adjetivo bom (good), na amostra 53, é um caso especial, entre os

adjetivos que podem ser intensivos, quanto à neutralização do seu sentido básico.

O exemplo revela a capacidade de intensivos que bom possui, sendo ele

equivalente ao genérico grande (big). Bom (good) deixa, pois, de servir de

antônimo de mau (bad). Este fato pode, em parte, servir de critério para uma

verificação do seu valor intensivo.

Resultado da análise do TCD

Pudemos assim constatar, em nossa análise, 60 ocorrências de adjetivos

intensivos (30% - 203 de oco.), tornando-se o segundo maior de uso deste teste,

assim distribuído: situação 1 ( 6 ocorrências); situação 2 ( 21 ocorrências );

situação 3 (3 ocorrências); situação 5 ( 21 ocorrências); situação 6 ( 2 ocorrências)

e situação 7 ( 7 ocorrências). O gráfico a seguir ilustra as informações acima.

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Gráfico 9 – Adjetivos Intensivos / Fonte: TCD

C. Reforço de negação

O uso da negação é uma das manifestações da necessidade que tem o ser

humano de exagerar. Como a negação é de emprego muito freqüente, o resultado

inevitável é que vocábulos e expressões negativas se gastam, perdem o seu justo

valor e novos reforços surgem numa renovação incessante. Vejamos:

Nos fragmentos acima, observamos a negativa de base nominal que,

segundo Givón (1993), parece ser mais enfática, na medida em que ataca o

fundamento proposicional da crença contrária do ouvinte, centralizando mais

especificamente o objeto da negação.

21%

72%

10%

0%

72%

7%

24%

0% 20% 40% 60% 80%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

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Resultado da análise do TCD

No conjunto geral na produção de atos de fala, verificamos que 8

ocorrências ( 4% das 203) são de reforços de negação, exibindo na situação 1 ( 2

ocorrências); na situação 3 ( 5 ocorrências) e na situação 4 ( 1 ocorrência). Eis

os resultados obtidos:

7%

0%

17%

3%

0%

0%

0%

0% 5% 10% 15% 20%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 10 – Reforço de Negação / Fonte: TCD

D. Reforço comparativo

A comparação é, portanto, um processo de mostrar e pôr em destaque que

há, em dois seres ou objetos, qualidades comuns. Para que a comparação se

torne intensiva é necessário que o segundo objeto ou ser seja considerado

possuidor da qualidade em alto grau.

Mattoso Câmara Jr., no seu Dicionário de Lingüística e Gramática (1977),

distingue entre comparação assimilativa: “a luz do sol brilha como o ouro na

folhagem” e comparação intensiva: “a luz do sol brilha como o ouro”. No primeiro

caso, reconhece-se que qualidades existentes num ser existem igualmente num

outro ser. No segundo, o termo de comparação é considerado como possuidor da

qualidade comparada em alto grau e, por isso, é instrumento de intensificação

dessa mesma qualidade. Vejamos amostras onde essa característica aparece:

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A comparação exige da parte de quem a emprega, um esforço mental. É

verdade, por vezes, que ela vem espontaneamente, intuitivamente. Liga-se, então,

no espírito, a uma qualidade, a imagem de um objeto que a possui em alto grau.

Na amostra 69, quando se diz: “Estou semelhante a um elefante” nos mostra que

a visão das formas quase esféricas de um elefante se associou no espírito de

alguém a imagem de uma pessoa muito gorda. Segundo as designações de

Mattoso Câmara Jr. (1977), os exemplos acima são comparações intensivas com

valores nocionais nulos.

Um termo de superlativo encontrado em nosso corpus é quando falamos “in

the world” (do mundo) e “on the earth (da terra). Em muitas frases este superlativo

está objetivamente certo, tem rigor científico: “O Everest é o monte mais alto do

mundo (ou da terra); O Nilo é o rio mais extenso do mundo (ou da terra) “. Noutros

casos, porém, na maioria, aquilo que se afirma não é verificável, perdendo o valor

comparativo e só evocando em nós o sentido de alto grau”.

As expressões “do mundo” ou “da terra” encerram em si uma infinita

quantidade de termos de comparação e por isso traz consigo uma idéia de

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grandeza, de superioridade absoluta. Segundo Cruzeiro (1973), “do mundo” ou

“da terra” evocam pois, em nós, um ou vários elementos conhecidos, com os quais

comparamos um momento, e logo pomos em superioridade absoluta, o ser ou

objeto cuja qualidade é intensificada.

Resultado da análise do TCD

Cinco entre as duzentos e três ocorrências de atos de fala, ou seja, 2%

delas são de reforço de comparação, um número bastante pequeno em relação ao

número total. Nas situações 2 e 3 há 1 ocorrência e, na situação 6, 3

ocorrências. Vejamos o gráfico, para uma melhor análise.

0%

3%

3%

0%

0%

10%0%

0% 2% 4% 6% 8% 10%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 11– Reforço de Comparação / Fonte: TCD

E. Reforço adverbial

Advérbio, elemento modificador de um nome ou de um verbo, é

fundamental para preencher a função de intensificador junto de adjetivos,

advérbios ou verbos, exprimindo o alto grau de uma qualidade, ou a larga

dimensão de uma ação.

O advérbio “very” (muito) é o advérbio intensificador por excelência,

referindo-se nocionalmente a uma grande quantidade, mas uma quantidade não

determinada. A sua aplicação, especialmente junto de uma qualidade, constitui a

expressão típica da intensidade: quantificação imprecisa do que não é

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mensurável, na perspectiva de um grau elevado, de uma larga dimensão.

Conforme ilustramos a seguir:

Segundo o Longman Dictionary (2000), não podemos usar “very” ou outro

advérbio de intensificação com adjetivos que possuem fortes significados, como é

o caso de “starving” (faminto), “huge” (monstruoso, imenso), “terrible” (terrível) e

“wonderful” (maravilhoso). Considerando o resultado do TCD, podemos observar

que em 4% (9 das 203 ocorrências) houve esse tipo de exagero. Listamos os

resultados obtidos a seguir:

Situação Escolha Nº deOcorrência

Situação 1 I’m so starving 2I’m really starving 1

Situação 2 Oh! It was really wonderful 2Situação 5 Oh! It was really wonderful 2Situação 6 Oh! Gosh! She is so wonderful 1

She’s really gorgeous 1Total 9

Tabela 1 – intensificação exagerada / Fonte: TCD

Dentre os estudos que abrangem a intensificação, encontram-se as

pesquisas de Labov (1984), as quais esclarecem que o advérbio “very” (muito),

tem o mesmo significado do advérbio “really”, um dos marcadores de intensividade

mais comuns na comunicação do dia-a-dia da língua inglesa. Neste mesmo

estudo, Labov afirma que o advérbio “so” (muito) é de uso limitado para a

modificação do adjetivo e é também um marcador que serve de alternância para o

uso do “really”, enfatizando uma qualidade particular de uma pessoa ou de um

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objeto. O referido lingüista afirma que os advérbios “just” e “pretty” têm os mesmos

privilégios de ocorrência que “really”, mas tem um menor valor de abrangência

semântica intensificadora. Eis alguns exemplos:

Nas amostras 62, 63 e 65, “really”, “so” e “pretty” intensificam um

substantivo abstrato ou uma ação abstrata, dando-as um entendimento da

intensificação pela afirmação da ação. Já na amostra 64, “just” está sendo um

intensificador limitado. O falante está focalizando uma certa limitação em seu

relacionamento interpessoal.

Observamos, também, que alguns advérbios em “-ly” intensificam adjetivos,

advérbios e verbos. Este advérbio na função de intensificante deixa de valer pelo

seu sentido primário, para ser apenas um índice de intensidade. Aproximam-se,

sem esforço de muito e assim podem exprimir o alto grau de uma qualidade ou a

intensidade particular de uma ação. A amostra seguinte ilustra o ponto enfatizado

acima:

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Para Oliveira (1962), o advérbio na sua função de reforçativo guarda essa

tonalidade intensa, mas perde o valor inicial preciso, e mesmo sem consciência de

um esquema de conseqüência, que parece ser o suporte psicológico da passagem

do valor qualitativo a quantitativo, torna-se um índice direto de intensidade.

Resultado da análise do TCD

Em relação ao reforço adverbial, pudemos constatar 80 ocorrências (39% -

203), tornando esse reforço de maior índice de escolha por nossos informantes,

distribuído na seguinte forma: situação 1 (18 ocorrências); situação 2 (7

ocorrências); situação 3 (15 ocorrências); situação 4 ( 8 ocorrências); situação 5 (

6 ocorrências); situação 6 ( 20 ocorrências ) e finalmente situação 7 ( 6

ocorrências). O gráfico a seguir ilustra as informações acima:

62%

24%

52%

28%

21%

69%

21%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 12 – Reforço Adverbial / Fonte: TCD

4.1. Análise dos advérbios de intensificação

Faz-se oportuno recuperar os quadros 1 e 2 desta dissertação, onde

apresentamos as classificações dos advérbios de intensificação de Bäcklund

(1973) e Quirk et al. (1985).

Apesar da variedade de advérbios de intensificação encontrados nesses

estudos, o resultado desta análise constata que nossos informantes fazem usos

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de 11 tipos de advérbios que são proferidos para a realização de atos de fala de

intensificação: very, really, pretty, much, so, too, just, quiet, all, a lot e a

exclamação com how. Um número muito significativo, observando o nível de

graduação dos professores pesquisados (cf. Capitulo II).

Para visualizar mais facilmente os resultados, apresentamos a tabela 2

segundo os estudos de Bäcklund (1973) e, em seguida, mostramos a tabela 3,

com base em Quirk et al. (1985).

Classificação Advérbios Nº de ocorrência

Maior grau de intensificação really 13all 1

Alta intensificação very 42a lot 3

Intensificação moderada pretty 11quite 1

Presença mínima deintensificação

just 1

Total 72

Tabela 2 – Advérbios de intensificação / Fonte: Bäcklund (1973)

Em relação a essa classificação, podemos constatar, portanto, que nossos

informantes usaram “really” (18%), um advérbio de maior grau de intensificação e,

na mesma classificação, observamos “all” (1%) advérbio que, segundo os estudos

de Cruzeiro (1973), tem um valor de expressão de totalidade e aparece exercendo

a função reforçativa podendo substituir “very”. Pudemos, assim, notar que o “very”

é o maior índice opcional por nossos informantes (58%), sendo classificado em

alta intensificação. Para uma análise mais precisa vejamos o gráfico.

18%

1%

58%

4%

15%

1%

1%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Really

all

Very

A lot

pretty

quite

just

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19

Gráfico 13 –Advérbio de intensidade /Fonte: Bäcklund (1973)

Esclarecemos, em relação a esse assunto, que referido lingüista não inclui

os seguintes advérbios em suas classificações: “much”, “so”, “too” e exclamação

com “how”.

Procedemos, a seguir, a análise segundo os estudos de Quirk et al. (1985).

Classificação advérbio Nº de ocorrência

Enfatizadores really 13Amplificadores - maximizadores so 10

quiet 1- incentivadores exclamatory

how3

a lot 3much 4

Atenuadores - conciliadores quiet 1Focalizador – aditivos too 3

Total 37

Tabela 3. Advérbios de intensificação / Fonte: Quirk et al. ( 1985)

Constatamos nessa análise, a ausência do advérbio “very”. Os estudos de

Quirk et al. (1995) não classificaram “very” em nenhuma de suas tipologias e

observamos também o confuso emprego do advérbio “quiet” que está

subclassificado tanto nos maximizadores quanto nos atenuadores. Notamos,

também, o advérbio “really” (35%) das opções, seguido-se “so” (27%) de escolhas

de atos com intensificação. Já o advérbio “too” é classificado como um focalizador

adicional de uma ênfase, tornando-se quase nulo seu valor de intensificação.

Para uma análise mais precisa dos resultados desses dados, vejamos o gráfico:

35%27%

8%

8%

11%

3%

8%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

really

so

Exclamatory how

A lot

much

quiet

too

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Gráfico 14 –Advérbio de intensidade/ Fonte: Quirk et al. ( 1985)

Os resultados ora apresentados da produção dos atos de fala (TCD), nos

levam a constatar que em 17% (32 – 203 ocorrências) não encontramos recursos

intensificadores abordados nesta pesquisa. Não podemos esquecer que captar

reações e descrever seus valores lingüísticos não é trabalho simples, exige muita

precisão, ainda que se corra o risco de ser interpretada como uma operação

comprometida com a subjetividade.

4.2. Produção de atos de fala TCD versus livros didáticos

Nessa parte comparamos a produção de atos de fala dos professores feito

através do (TCD), versus a produção dos diálogos didáticos (Anexos 2, 3, 4)

tendo como objetivo verificar a variação dos atos de fala em um mesmo

contexto. Assim, ao analisamos, pudemos constatar 29 ocorrências de atos de fala

semelhantes à produção encontradas no corpus pesquisado (14% das 203 ocor),

distribuídas da seguinte forma: situação 1 (1 ocorrência); situações 2, 3 ,4 e 6 ( 4

ocorrências respectivamente); situação 5 (5 ocorrências) e situação 7 (7

ocorrência ). Os dados podem ser ilustrados graficamente da seguinte maneira:

3%

14%

14%

14%

17%

14%

24%

0% 5% 10% 15% 20% 25%

Situação 1

Situação 2

Situação 3

Situação 4

Situação 5

Situação 6

Situação 7

Gráfico 15 – produção lingüística /Fonte: professores versus livros didáticos

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Observamos através destes dados que os professores da pesquisa utilizou-

se de 174 (86% das 203) diversificações de formas de falar. E como base nesses

dados, afirmamos que todas essas variedades se operam em função do contexto

onde os estilos adotados estão intimamente em consonância com os pressupostos

culturais e com a experiência pessoal dos participantes; eles têm um sentido

social que é transmitido aos ouvintes, os quais, por sua vez, vão operar escolhas

em seu inventário lingüístico na dependência, dentre outras coisas, de suas

relações interpessoais.

Portanto, uma análise como essa exige muita precisão e não se pode

esquecer, entretanto, que o nosso tema envolve a subjetividade de quem optou

pelo uso do intensificador. E aqui cabem as palavras de Poulet (1965?) quando

afirma que a utilização do intensivo, sendo um elemento subjetivo do pensamento

do emissor, representa um obstáculo a ser ultrapassado pelo receptor, no

processo de interpretação.

Encerramos aqui nossa discussão dos resultados da análise. A seguir

apresentamos as considerações finais.

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