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Ano XVII - nº 62 Edição Especial Ano XVII - nº 62 Edição Especial

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Ano XVII - nº 62Edição EspecialAno XVII - nº 62Edição Especial

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2 Revista do Sindjus • Edição Especial

A frase, incorporada como sabedoria popular, tem autoria muitocompartilhada: uns a recebem vinda dos Evangelhos cristãos, ou-tras a encontram na essência budista, alguns a tem na doutrinaespírita e muitos a praticam pelos fundamentos do cooperativis-mo, que é a base da solidariedade aplicada às lutas políticas. Tematé quem jura ter visto a frase em parachoques de caminhão.

O que vale é que, no mês em que se comemora o Dia do ServidorPúblico, é bom relacionar o ato de servir ao bem público, comomissão de quem tem seu salário pago pelos impostos da popula-ção e, assim, honra esse serviço devotado ao verdadeiro patrão dofuncionalismo: o cidadão.

O servir capaz de perceber no documento, frio em seu formato, otanto de vida que pulsa nas entrelinhas e o quanto tantas vidaspodem ser mudadas a partir daquele papel.

O servir que se faz pela consciência de se perceber na necessida-de do outro.

O servir que cria alianças ao desempenhar o melhor possível suafunção, para que algo ou alguém seja atendido não como usuárioou cliente, mas companheiro fraterno.

viver

Quem não vive para servirnão serve para

TT CATALÃO

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3Revista do Sindjus • Edição Especial

“Hoje temos umserviço públicomuito melhor do quehá vinte anos.Isso sedeve aos servidoresque se desenvolvemem conjunto com acoisa pública,aprimorando-a pormeio da experiênciae do conhecimento.Tenho certeza de queo futuro dofuncionalismo seráainda melhor.”

Roberto PolicarpoCoordenador-geraldo Sindjus

ROBE

RTO

STU

CKE

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Orgulho, confiança e

otimismo

AO LEITOR

á praticamente vinte anos minha vida estáem conexão direta com o serviço público.

Por acreditar que o desenvolvimento do Brasilpassa pela construção de um Estado forte,pautado em um funcionalismo qualificadoe compromissado com os interesses nacio-nais e sociais, é que não só me tornei servi-dor público, como um representante de duascarreiras fundamentais (Poder Judiciário eMinistério Público).

Durante esses anos todos, tanto exercen-do a minha atribuição dentro do TRT-10, quantorepresentando a categoria em suas lutas, pudeconstatar o quão rico, em natureza humana, éo serviço público brasileiro. Servidores de dife-rentes sotaques, classes sociais, credos, costu-mes e cores unindo-se em torno de um bemmaior: a construção de um Estado modernoque atenda às demandas da população.

Por conhecer a fundo essa realidade, or-gulho-me dos avanços que tivemos nos últi-mos anos. Orgulho-me em saber que, se te-mos hoje uma Justiça mais atuante, mais for-te, mais próxima dos cidadãos, isso se deveem muito ao trabalho dos servidores públi-cos. Trabalhadores que, anonimamente, pres-tam um grande serviço para o país. E, porisso, indigno-me toda vez que falam inverda-des sobre nossa classe, como que trabalha-mos pouco e ganhamos muito.

Como conhecedor dos bastidores do Po-der Judiciário e do Ministério Público, sou tes-temunha de quanto analistas, técnicos e au-xiliares trabalham, seja atendendo aos cida-dãos, cuidando dos processos em seus trâmi-tes ou subsidiando as decisões dos magistra-dos. São muitos os servidores que extrapolamsua jornada; que levam serviço pra casa; que

trabalham em condições precárias, sem a es-trutura física necessária; que chegam a adoe-cer, física, mental ou psicologicamente, emrazão do ritmo de trabalho.

Hoje, temos um serviço público muito me-lhor do que há vinte anos, quando comecei. Eisso se deve aos servidores que se desenvol-vem em conjunto com a coisa pública, apri-morando-a por meio da experiência prática edo conhecimento intelectual. Tenho certezade que o futuro do funcionalismo será aindamelhor. Assim como já enfrentamos o Estadomínimo de governos neoliberais, outras bata-lhas virão. No entanto, os servidores públicosse mostram cada vez mais preparados e cons-cientes sobre seu papel político, social e ético.

É por isso que eu dedico a minha vida aoserviço e aos servidores públicos. É por issoque luto pelo aprimoramento de nossa carrei-ra, tão digna e dignificada por nós. É por issoque luto para que tenhamos um vencimentojusto às nossas atribuições e, sobretudo, à nos-sa missão. E este mês de outubro, no qual secomemora o dia do servidor público, é a épo-ca ideal para renovarmos nossas forças, nos-sas lutas e nossos compromissos. A mobiliza-ção em torno do nosso novo Plano de Car-gos, Carreira e Remuneração é prova disso.

E é com esse espírito de orgulho, otimis-mo e confiança que eu parabenizo você peloseu trabalho, pelo seu mês, pelo seu dia. Para-benizo você na certeza de que, juntos, procu-ramos dar o melhor para esse país, em maté-ria de prestação de serviços públicos, de res-ponsabilidade social, de exemplo de unidadee mobilização em torno de questões que le-vam ao aperfeiçoamento do Estado demo-crático ao qual servimos.

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OPINIÃO

José Geraldo deSousa Junior

Reitor da Universidade deBrasília, professor da Faculdade

de Direito e coordenador doprojeto O Direito Achado na Rua

“Se o Estado demo-crático é fundamen-

to para a transfor-mação da cidadaniaabstrata em cidada-

nia ativa, a mediaçãopossível para umainstitucionalidade

livre de vícios estáassentada no desem-

penho organizado,responsável, eficien-te e profissional do

servidor público.”

O Estado democrático e o

servidor

O pró-labore de José Geraldopara este artigo é doado

mensalmente à campanha devoluntariado Eu Dôo Talento

(veja em www.sindjusdf.org.br)

empre que se discute o papel do Estado, o de-sempenho da máquina governamental, o bom

serviço ao cidadão, a reforma do sistema burocráti-co e a modernização dos aparelhos de gestão insti-tucional, surge uma tentação poucas vezes refrea-da: orientar a análise dos mecanismos que desviama administração pública de seus objetivos essenci-ais – compatibilizar eficiência e eficácia com equi-dade e democracia – para atribuir aos servidorespúblicos a responsabilidade por tais desvios e trans-formá-los em custos de manutenção do sistema queé preciso minimizar e até mesmo eliminar.

Para além disso, uma tendência recenteincrementada pelo oportunismo propagandistatende a oferecer a dignidade do servidor público– marajás, perdulários, ímprobos e outros(des)qualificativos – para o simbolismo expiatórioque não hesita em atribuir função sacrificial a umacategoria social que tem sido garantia da boa ges-tão do interesse público.

A literatura foi sempre pródiga em destacar arespeitabilidade da função pública, mesmo com afina ironia de autores que primavam pela profundacompreensão dos matizes e das relações autênti-cas, preservando a boa descrição dos caracteres tí-picos de um determinado tempo. Pode-se encon-trar isso em muitas passagens da monumental Co-média Humana de Balzac, assim como em Macha-do de Assis e Carlos Drummond de Andrade, doisnotáveis escritores brasileiros. Simultaneamente en-contramos, pela vida toda, servidores públicos ati-vos e engajados exercitando cidadania em seu du-plo ofício.

Ora, pensar o Estado democrático é pen-sar a tarefa de refundação democrática da admi-nistração pública. Se o Estado democrático é fun-damento para a transformação da cidadania abs-trata em cidadania ativa e participativa, a media-ção possível para uma institucionalidade livre devícios, entre aqueles descritos por Raymundo Fao-ro (Os Donos do Poder), Sérgio Buarque de Holan-da (Raízes do Brasil), Victor Nunes Leal (Corone-lismo, Enxada e Voto) está assentada no desem-

penho organizado, responsável, eficiente e profis-sional do servidor público.

A propósito da questão da administraçãopública e do regime de seus servidores, o historia-dor Toynbee chegou a formular uma teoria expli-cativa do sucesso dos países e dos Estados, to-mando como exemplo o império romano. Para ele,a grande expansão de Roma não se deveu tantoao seu formidável exército, mas sim ao seu funcio-nalismo civil, altamente capaz, responsável e bemremunerado e organizadamente distribuído em to-dos os espaços administrativos do império (recolhio exemplo em Ronaldo Poletti, no livro Redefinin-do a relação entre o professor e a universidade:emprego público nas Instituições Federais de Ensi-no, organizado por Cristiano Paixão e publicadopela Faculdade de Direito da UnB, na coleção Oque se pensa na Colina, Brasília, 2002).

A Emenda Constitucional nº 19/98, conhecidacomo Reforma Administrativa, alterou profunda-mente a relação do Estado com o agente públicoporquanto, na prática, flexibilizou a garantia cons-titucional da existência de um só regime para o ser-vidor público.

Daí a importância de estabelecer parâme-tros para uma qualificada relação entre Estado e fun-cionalismo público. No exame das situações compa-radas, verifica-se uma preocupação constante com aperda, em vários países – Alemanha, Grã-Bretanha,França – de centralidade da condição estatutária ten-dente a um regime jurídico único de natureza admi-nistrativa, que confira ao servidor público a prerro-gativa de atender as peculiaridades de um vínculobaseado no interesse público próprio à ação do Es-tado. Agora que a crise demonstrou a necessidadeda intervenção qualificada do Estado para preser-var o sentido social dos investimentos e da distri-buição dos bens econômicos, mais se faz necessá-rio recuperar uma característica fundamental da or-ganização pública, que é justamente a participaçãoexpressiva de funcionários de carreira na ocupaçãodos postos centrais da administração do Estado.

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ARTE EM BRASÍLIA

EdiçãoUsha Velasco (DRT-DF 954/99)

ReportagemCarlos TavaresDaniel CamposFabíola GóisThais Assunção

ColaboradoresJosé Geraldo de Sousa JuniorTT Catalão

RevisãoPatcha Comunicação

Projeto gráfico e arteUsha Velasco

Tiragem15.000 exemplares

Revista do Sindjus

Coordenadores-GeraisAna Paula Barbosa CusinatoBerilo José Leão NetoRoberto Policarpo Fagundes

Coordenadores de Administraçãoe FinançasCledo de Oliveira VieiraJailton Mangueira AssisRaimundo Nonato da Silva

Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasJosé Oliveira Silva

Marília Guedes de AlbuquerqueNewton José Cunha Brum

Coordenadores de Formaçãoe Relações SindicaisJosé Joventino Pereira de SousaAntônio José Oliveira SilvaEliane do Socorro Alves da Silva

Coordenadores deComunicação, Cultura e LazerSheila Tinoco Oliveira FonsecaMaria Angélica PortelaValdir Nunes Ferreira

Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU no DFSDS, Ed. Venâncio V, s. 108 a 114, Brasília-DF, 70393-900 • (61) 3212-2613

www.sindjusdf.org.br

URUTAO*

Ao documentar o abandono do Clube do Servidor, Sérgio Moraes (ou Urutao, como prefere assinar seus trabalhos) fezesta belíssima imagem. Sua experiência como fotógrafo e designer gráfico garantiram um ângulo diferente – ele posicionou

a câmera rente ao chão. Assim conseguiu “rimar” o piso deteriorado e o grafismo dos azulejos típicos dos anos setenta.

*Nascido em Brasília, 27 anos, filho de pioneiros da educação em São Sebastião, Sérgio Moraes é repórter fotográfico daAdvocacia Geral da União (AGU). Autodidata, começou a fotografar em 2002 por puro prazer, e mais tarde rumou para as

artes gráficas. Em 2007 realizou sua primeira exposição individual com 45 telas, na Câmara dos Deputados.

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Fabíola Góis

tentação é enorme. As ofertas decrédito a juros baixos, financia-

mentos a longo prazo e empréstimoconsignado em folha estão por todaparte. Não é preciso ir atrás, telefonaràs operadoras e nem mesmo ter nomelimpo no mercado. Os corretores seproliferam nas portas dos órgãos pú-blicos com panfletos, folders e cartõesoferecendo até o céu se for preciso.Mas a realidade é outra. A cada diamais servidores estão endividados. Onúmero de filiados do Sindjus que bus-cam orientações no Setor Jurídico e nosescritórios conveniados cresce na mes-ma proporção.

Os dados assustam. Só no TribunalSuperior do Trabalho (TST), há mais dequatro mil empréstimos consignadosem folha para 2.500 servidores em ati-vidade. Ou seja, há funcionários commais de um desconto no contrache-

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Desnorteados pelo cenário de consumismo,marketing agressivo e juros abusivos,

servidores comprometem uma parte cada vezmaior do salário com empréstimos. Masespecialistas e programas de orientação

ensinam a sair dessa armadilha

A

NO VERMELHO

empréstimos consignadosem folha para um total de

2.500servidores. Ou seja: muitostêm mais de um desconto

no contracheque.

Só no TST há mais de

4 mil

que. A cada trêsatendimentos daárea jurídica doSindjus, pelo menosum é para revisãode contratos de fi-nanciamento ouempréstimos.

Contrair dívidase passar aperto nofinal do mês paraacertar todas ascontas não é um fenômeno novo. Masa facilidade de se obter crédito no mer-cado, as cláusulas confusas dos con-tratos e os juros nas alturas provoca osuperendividamento, dizem os consul-tores ouvidos pela reportagem.

Foi assim que uma dívida de vintemil reais se transformou em duzentosmil em menos de cinco anos. Esse foio motivo das noites de insônia de Lu-ísa (nome fictício), servidora do Tribu-nal de Justiça do DF e Territórios

dívidasComo escapar

das

“É só pedire pronto”:propaganda de“dinheiro fácil”leva cada vezmais gentepara o buraco

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(TJDFT). Para terminar uma piscina emsua casa no Park Way – a empresacontratada não honrou o acordo –, afuncionária pegou um empréstimo con-signado em folha em um banco quedizia ter taxas de juros baixas. O pla-no seria pagar em 84 meses.

Mas o alento na hora de conse-guir o dinheiro virou um pesadelo navida da família. Durante esses lon-gos anos, Luísa teve de cortar gas-

tos para poder arcar com o paga-mento. Os juros eram abusivos, masela só foi se dar conta disso quandorecebeu um panfleto distribuído peloSindjus e que indicava um escritóriode advocacia conveniado com o sin-dicato para fazer a revisão do con-trato. Na mesma hora, ficou sabendoque havia cláusulas abusivas e deci-diu entrar com ação na Justiça.

“A prestação diminuiu em R$ 600.

A decisão ainda é em caráter liminar,mas acredito que vá prevalecer o jul-gamento. Eu não tenho mais o des-conto em folha e faço depósito judici-al”, afirma. Luísa só ficará livre da dí-vida em quatro anos, mas garante quea sensação é de que foi feito justiçaem seu caso. “Aprendi a lição. Isso mefez procurar entender a matemática fi-nanceira. Quando contraí o emprésti-mo, eu era totalmente leiga”, recorda.

ARTHUR MONTEIRO

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A falta de conhecimento sobre asatividades financeiras é um dos moti-vos de endividamento. Para informarmelhor os servidores sobre as armadi-lhas e possibilidades de investimento,órgãos do Judiciário como o TribunalSuperior do Trabalho (TST) já começama promover cursos, oficinas e debatescom quem conhece o assunto.

Por meio do Programa de Quali-dade de Vida, vinculado à área de re-cursos humanos, o TST promove pa-lestras e cursos sobre educação finan-ceira, voltados tanto para a organiza-ção financeira individual como paraorientações sobre investimentos. O

Informação: primeiro passo para o equilíbrioanalista judiciário Aloísio César, um dosresponsáveis pelo programa, afirmaque muitos servidores começaram afazer o curso porque estavam endi-vidados e hoje são investidores. “Gran-de parte do descontrole financeiro estáligado a aspectos emocionais. O endi-vidado acaba consumindo exagerada-mente e assumindo compromissos quenão poderia assumir”, comenta.

Segundo Aloísio, o descontrole fi-nanceiro afeta a produtividade no tra-balho. “Essas pessoas têm auto-esti-ma baixa. Ficam envergonhadas porestar devendo e às vezes entram emdepressão”, explica.

O analista considera inadequada aabordagem das inúmeras financeirasque ficam nas portas dos tribunais ofe-recendo crédito fácil a juros aparente-mente baixos. “Temos servidores noTST com mais de um empréstimo des-contado em folha, feitos para pagaroutros empréstimos que contraíram embancos”, afirma.

Por outro lado, o TST também ori-enta aqueles que já sabem cuidar doseu dinheiro a procurar a melhor formade investimento. Foi depois de ter vistouma palestra no órgão que o analistajudiciário José Valmir Santos Filho deci-diu incrementar suas aplicações. Des-

TST: programa de educaçãofinanceira já transformoudevedores em investidores

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de 2007 o servidor estuda o mercadofinanceiro e aumentou em 50% seu pa-trimônio aplicando na Bolsa.

Preocupado com o futuro, Valmirdecidiu guardar 10% do salário e pro-curou entender melhor as várias for-mas de investimento. “A Bolsa não éum ambiente para leigos. O ideal é pro-curar orientação com consultores paradescobrir as melhores formas de apli-cação”, sugere. Para ele, ter comometa a garantia de uma aposentado-ria tranquila moveu sua busca por co-nhecer o mercado. “Não sabemos qualserá o futuro do servidor público noBrasil. Vimos muitas mudanças na le-gislação nos últimos anos. Quero ter agarantia de tranquilidade.”

Justiça pode reduzir débitos em até 50%

Além da assessoria jurídicaque presta aos servidores filiados,o Sindjus contratou o escritórioDDC Advogados, especializadoem empréstimos consignados. Osresultados já começaram a apare-cer nas decisões judiciais. Algu-mas garantiram até 50% de des-conto nas parcelas.

O advogado do Sindjus Wa-shington Vasconcelos diz que tematendido pelo menos um servidorendividado por semana. “Mais deum terço dos atendimentos quefaço diz respeito à cobrança dejuros exorbitantes. O servidor épraticamente enganado por algu-mas financeiras. Quem pega umempréstimo de cem mil reais, nofinal acaba pagando 50% a maisdesse valor”, demonstra. Nasações, os advogados pedem arevisão desses contratos e a Justi-ça acaba concedendo liminar afavor do contratante. Alguns servi-dores estão com o salário do mêsinteiramente comprometido com

pagamentos de dívida. “É que,além da margem de 30% do salá-rio que eles podem utilizar, aindausam cartões de crédito e CDCs”,explica Washington.

A aposentada do TJDFT Marina(nome fictício) tinha R$ 2.300descontados mensalmente docontracheque. Mas conseguiu re-duzir a dívida para R$ 1.100 de-pois de entrar na Justiça. “Agorasim eu posso ter uma folga noorçamento para me organizar. Nãosabia que os juros que eu pagavaeram tão altos. Eu não via luz nofim do túnel”, relata.

A tendência de endividamentonão é só entre os servidores pú-blicos. Dados do Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística(IBGE), na Pesquisa de Orçamen-tos Familiares (POF) 2002-2003,indicam que aproximadamente85% da população brasileira en-contra-se com dificuldades dechegar ao final do mês com a suarenda familiar.

Aloísio: “Descontrole financeiroestá ligado a aspectos emocionais”

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O advogado Rodrigo Dornelas, do DDCAdvogados, afirma ser comum funcionári-os de tribunais comparecerem desespera-dos no escritório à procura de solucionaras dívidas na Justiça. Dornelas esclareceque boa parte dos contratos de emprésti-mo não têm cláusula expressa autorizan-do a capitalização de juros com períodoinferior a um ano. Além disso, os juros com-postos têm sido aplicados. Segundo ele,pela lei em vigor, a cobrança de juros sópode ser realizada de forma anual e nãomensal. O balanço do escritório de advo-cacia é que de 60% a 70% das ações be-neficiam o servidor já em primeira instân-cia. E 90% dos casos têm solução favorá-vel. “É preciso ter cautela e analisar bemas propostas das financeiras”, alerta.

Especialistas no assunto esclarecemque boa parte desses endividamentos po-deria ter sido evitada caso houvesse mu-dança no comportamento daquele queprecisa de dinheiro. Para o consultor finan-ceiro pessoal Rogério Olegário do Carmo,vários aspectos emocionais podem ser lis-tados como fatores que contribuem parao desequilíbrio financeiro. Entre eles: difi-culdade de dizer “não” para si mesmo,para os amigos, a sociedade, a propagan-da ou para um vendedor; dificuldade dos

pais em impor limites financeiros aos fa-miliares, principalmente aos filhos; confi-ança excessiva em gerentes de bancos,corretores e vendedores.

Rogério Olegário cursou MBA em ad-ministração financeira pela Fundação Ge-túlio Vargas e escreveu uma monografiasobre educação financeira. Para o consul-tor, “os governos, em todas as esferas, tam-bém têm um papel preponderante no de-sequilíbrio financeiro da população, cons-tatado pelo não-cumprimento de suas obri-gações ligadas à fiscalização dos exces-sos cometidos pelas instituições de crédi-to, destacando-se o marketing agressivodos produtos de crédito para uma popula-ção pouco informada, que desconhece omodo de organizar números e não imagi-na a existência de aspectos emocionais li-gados ao uso e manejo do dinheiro”.

Em resumo: faltam políticas públicasvoltadas à educação financeira, disciplinaque, segundo Olegário, deveria ser ampla-mente discutida desde a infância, inclusi-ve em salas de aula. “A implantação deum programa de educação financeira éuma ação de vital importância para aju-dar, concretamente, o Brasil a elevar o ní-vel de poupança interna, diminuir as desi-gualdades e melhorar a distribuição de

RogérioOlegário:governo nãopune osexcessos nem omarketingagressivo dasinstituições decrédito

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Mudança de comportamento

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Tentação:é precisoaprender acontrolar oconsumismo

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renda”, sugere. Rogério Olegário mantém o sitewww.prosperidadefinanceira.com.br, onde o in-teressado pode tirar dúvidas, receber dicas e fa-zer testes para constatar a sua saúde financeira.

O presidente do Instituto Brasileiro de Estudoe Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Ge-raldo Tardin, afirma que a instituição recebe dia-riamente consultas de servidores públicos que es-tão se endividando com cartões de crédito paraconseguir alimentar a família e pagar as contasdo dia a dia. “Os bancos são os maiores culpa-dos pelo superendividamento do consumidor. Paraconceder crédito, eles previamente analisam a ren-da do cliente e, portanto, sabem qual é a capaci-dade de pagamento dele. Se concede mais crédi-to do que o consumidor tem capacidade de pa-gar, estão agindo de má-fé. A consequência seráa limitação das parcelas pelo Judiciário, com oalongamento da dívida em quantas parcelas fo-rem necessárias”, explica Tardin.

A palavra chave para começar a resolver oproblema das dívidas é planejamento, segundo ori-enta o Ibedec. “O consumidor tem que colocar numpapel todas as suas dívidas, quanto tempo estãoem atraso e quais os juros cobrados em cada umadelas. E terá que separar um valor para quitar es-sas dívidas, começando pelas do cartão de crédi-to, que são sempre as que têm maiores taxas”,diz a Cartilha produzida pelo Instituto.

ONDE ENCONTRAR AJUDA

Sindjus – assessoria jurídica gratuita: 3212-2613Ibedec – www.ibedec.org.br – 3345-2492Procon – www.procon.df.gov.br – 1512Prodecon – Ministério Público do Distrito Federale Territórios – www.mpdft.gov.br – 3343-9851

Aprenda a gerenciar seu dinheiro

Pare de gastar.Pague o que deve, faça acordos edivida os débitos.Economize todas as diferençasque receber, como descontos,indenizações, férias e 13º.Gaste menos do que ganha.Planeje seus gastos.Invista tempo na administraçãode suas finanças (pelo menostrês horas semanais).Liste suas receitas e despesas, tantoas diárias quanto as mensais, como

Nunca vá ao supermercadode barriga vazia.Faça a lista do que realmente precisa.Elimine medicamentos desnecessários,tomados apenas por hábito.Evite lanchinhos fora de casa;eles podem sair mais caro que umarefeição completa.Pesquise antes de comprar e não sedeixe encantar por promoções.Pechinche. Não acredite em vendasparceladas sem juros. Peça descontopara pagar à vista.

também aquelas que acontecem detempos em tempos.Nunca compre a prazo; isso desestru-tura o orçamento. Abra uma poupan-ça e guarde o dinheiro; quando esti-ver com o dinheiro em mãos, ficamais fácil negociar e conseguir umbom desconto.As dívidas implicam pagamentos dejuros. Elimine-as e transforme asquantias destinadas aosjuros em investimentos, fazendo odinheiro trabalhar a seu favor.

Compre menos

Fonte: ww

w.prosperidadefinanceira.com

.br

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Carlos Tavares

lhe, nada chega aqui. Parece que es-tamos no fim do mundo.” A frase é

de um servidor do Ministério Público doDistrito Federal e Territórios (MPDFT) lota-do na Divisão de Orçamento e Finanças,que funciona em um prédio do Ibama noSetor de Autarquias Sul – o mesmo queteve alguns andares atingidos por um prin-cípio de incêndio em outubro do ano pas-sado. “Parece que fora do edifício sede (noEixo Monumental) nada existe, não há in-teresse da administração em nos tirar da-qui”, acrescenta o servidor, contrariadoporque, entre outros problemas que enfren-tou ao longo do mês de setembro, viu quei-marem 54 computadores após um curto-circuito por sobrecarga na rede.

Depois do incêndio de outubro passa-do, veio o dilúvio. Os dois últimos andares

do prédio, construído na década de 1960,foram invadidos pela água após uma tar-de chuvosa de novembro. Novamente osfuncionários ficaram cerca de uma sema-na parados, até que a limpeza fosse feitae outros reparos ficassem prontos.

Um sintoma de que nada vai bem mes-mo em termos de segurança e confortopara os servidores que trabalham no pré-dio do Setor de Autarquias Sul é que, até aprimeira semana de outubro, quem entras-se no hall do prédio para pegar o elevadorleria um esquisito lembrete: “Em caso dechuva com trovoadas e relâmpagos, nãouse o elevador.” A placa foi retirada, maso problema continua o mesmo.

“Já fiquei presa várias vezes nesse ele-vador. Ele para entre dois andares; a portanão tem sensor, é capaz de cortar seu bra-ço fora; muitas vezes só uma das portasfecha ou abre e você tem que passar re-

Ironicamente, a garantia de um ambien-te de trabalho seguro e saudável está entreas prioridades de atuação do Ministério Pú-blico do Trabalho. Baseando-se em princípi-os constitucionais, o MPT elege como pre-ceito fundamental para a boa execução dotrabalho o binômio saúde e segurança, ins-pirando-se no que preconizam a Organiza-ção Mundial da Saúde, a Organização Inter-nacional do Trabalho, a Constituição Federale a Consolidação das Leis Trabalhistas.

“É no mínimo estranho que tudo issoocorra quando vivemos um momento de re-valorização dos servidores públicos, um mo-mento em que se procura dar a eles mais

zando para não se machucar”, conta umaservidora de um dos andares cedidos peloIbama ao MPDFT. Grávida de cinco meses,ela fala com medo sobre a situação, prin-cipalmente porque poderia ocorrer algograve com o bebê e com ela.

Os riscos não param por aí, mas a gran-de queixa de quem trabalha nesse prédioé que todos os problemas – que se perpe-tuam desde 1995, quando a seção foitransferida para o Setor de Autarquias –só significam uma coisa: “Nós não existi-mos para a administração”, reclama umdos técnicos. Ele acrescenta que a ausên-cia de providências e a situação de riscodiário só colaboram para diminuir a auto-estima e desvalorizar o trabalho que elesfazem. “Só vão mesmo se preocupar coma gente quando alguém sofrer um aciden-te por aqui. Mas espero que isso não acon-teça”, diz o técnico.

condições de trabalho para melhorar aindamais o seu desempenho”, avalia o coorde-nador-geral do Sindjus, Roberto Policarpo. Elelembrou uma pesquisa recente do Institutode Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea)que mostra como a produtividade do setorpúblico está acima do setor privado, ao con-trário do que a mídia costuma insinuar (leiana página 29).

Do outro lado do balcão da angústia ins-tituído no prédio do SAS, ecoa uma voz queprocura reduzir a jornada de risco. Com aautoridade de quem opera técnicas e lidacom normas de trabalho no Departamentode Arquitetura e Engenharia do MPDFT, Leda

Germano afirma que o mobiliário dos trêsandares ocupados pelos servidores foi tro-cado recentemente e uma reforma em to-dos os setores deixou o ambiente limpo ecom cara de novo. No entanto, ela sabeque o prédio é velho e precisa de refor-mas, como a maioria das edificações dasdécadas de 60 e 70. “As construções sãocomo a gente, envelhecem e precisam deplásticas, não é?”, compara Leda, que re-conhece descuido na administração do pa-trimônio físico do MPDFT.

Ela pondera, entretanto, que não se deveolhar apenas para problemas como esse, ecita como exemplos bem resolvidos as sedesdo Paranoá e de Santa Maria. “O MP temboas construções, sim; a situação não é tão

Saúde e segurança são fundamentais

QUALIDADE DE VIDA

mundosEntre dois

Há de tudo nos ambientes detrabalho dos servidores – desde as

belíssimas sedes dos tribunaissuperiores até salas emprestadas,literalmente caindo aos pedaços

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15Revista do Sindjus • Edição Especial

grave”, garante. Segundo a coordenadora dodepartamento, há sempre uma equipe de ma-nutenção pronta para atuar quando neces-sário, e até o pessoal do Ibama conta comessa equipe. “Eles vivem chamando, chamampor email”, atesta, bem-humorada.

Leda diz que o MP constrói prédios desde1994; agora mesmo está para ser iniciadamais uma obra ao lado do Detran, para abri-gar o setor de pessoal – mas afirma que osservidores abrigados no prédio do Ibama vãocontinuar lá. Neste mês de outubro foi assi-nado um novo contrato de concessão entreMPDFT e Ibama, estendendo a agonia dos ser-vidores por mais doze meses. “E ainda vãoocupar o 8º andar”, diz, abismada, uma fun-cionária que prefere não se identificar.

Andar doMPDFT emprédio noSetor deAutarquias Sul:riscos deacidente sãoconstantes

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15Revista do Sindjus • Edição Especial

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Nos andares ocupados pelo MPDFT –onde começou o incêndio no ano passa-do, como confirmaram os bombeiros e oslaudos do próprio ministério –, o sistemade ar condicionado causa outras dores decabeça aos funcionários. Por causa de su-jeira acumulada, falta de regulagem e maufuncionamento, não se encontra um meio

termo entre o calor e o frio.O sistema de ponto eletrônico instala-

do no edifício é um outro obstáculo ao bomdesempenho do trabalho, porque não per-mite que os servidores façam uma pausapara o lanche. A pausa seria mais um pro-blema burocrático a resolver em relação àjornada que, diga-se de passagem, é bas-tante rígida. “Quando aconteceu o curtoque queimou os computadores, ficamosuma semana parados, sem ter nada parafazer, mas ninguém podia sair do prédio”,conta uma funcionária.

Como se não bastassem esses proble-mas, não existe lanchonete no edifício, nãohá departamento médico – apesar do Pla-nAssiste, o plano de saúde dos servidoresdo MPDFT, funcionar no mesmo prédio –,e não é raro que falte água nos banheiros.Recentemente, uma parte do teto do 11ºandar desabou durante o fim de semana euma placa de gesso caiu bem em cima docomputador de um dos funcionários. “Po-deria ter caído na minha cabeça, se o de-sabamento tivesse acontecido na sexta-fei-ra”, diz o servidor, ainda assustado.

Mas no sétimo andar do edifício o vi-sual é outro. As divisórias são novas, omobiliário é confortável, o teto não tem

Esquecidos pela administração

QUALIDADE DE VIDA

fiação exposta. “É como estar em umcarro zero quilômetro com um motor ve-lho, a ponto de provocar uma explosão”,compara uma servidora. “O elevador deserviço está quebrado há seis meses;quando chove, a fiação elétrica dá cho-que nas paredes e todo mundo reza paraa rede não cair e parar tudo; a copa éum cubículo e não temos lugar para al-moçar...” Realmente, por volta de 13h,as salas da Divisão de Orçamento e Fi-nanças (que, ironicamente, faz o paga-mento das despesas de todas as unida-des do MPDFT) parecem mais um refeitó-rio, com os servidores abrindo suas mar-mitas para a refeição.

Estacionamento é outro problema. Nãohá vagas no Setor de Autarquias, e o fun-cionário tem que parar o carro a uma dis-tância que o faz chegar no trabalho todosuado – ou, se for em época de chuva,molhado dos pés à cabeça. “O problemaé que aqui não há políticas voltadas paramelhorar a qualidade de vida no trabalho;tudo está direcionado para os edifícios sedee da Xerox (no Setor Gráfico). Está maisdo que na hora de tomar uma providênciapara beneficiar esses colegas”, diz AnaPaula Cusinato, diretora do Sindjus.

Precariedade: servidores jáviram incêndio, inundações e

panes elétricas. A janela (acima)ameaça cair, e ficar preso no

elevador é quase rotina

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18 Revista do Sindjus • Edição Especial

CIDADANIA

justiçaNós fazemos a

Thais Assunção

écnicos, auxiliares, analistas. São eles que fazem o dia a diada justiça, nas mais variadas atividades: pesquisa, re-

dação, limpeza, segurança, fotografia, digitação, recepção, de-sign gráfico, informática, nutrição, saúde, biblioteconomia, ad-ministração, psicologia, relações públicas... Esses e muitos ou-tros profissionais trabalham diariamente para que a prestaçãojurisdicional seja feita com qualidade. E mostram, a cada mi-nuto, que a justiça não é feita apenas por juízes; ela é constru-ída por um trabalho em conjunto que envolve todos os servi-dores do Poder Judiciário e do MPU.

O trabalho desses profissionais é de vital importância, jáque as decisões dos tribunais têm o poder de interferir direta-mente na vida dos cidadãos. E os servidores que têm isso emmente se orgulham da oportunidade de ajudar as pessoas querecorrem à justiça.

É o caso da técnica judiciária do TRF Miriam da Silva José,apelidada de filósofa pelos colegas de trabalho. Ela está háonze anos no tribunal e se sente realizada. Miriam acreditaque a administração pública tem uma grande responsabilida-de na formação da consciência dos servidores. “Como membrodo Judiciário, sei da importância do meu trabalho, mas achoimprescindível o envolvimento da administração pública na for-mação dessa consciência”, diz.

Miriam acredita que esse envolvimento pode ser visto emvários órgãos do Judiciário e MPU: “Atualmente a gente vêvárias ações para capacitação e desenvolvimento dos servido-res; elas ultrapassam aquele antigo modelo burocrático e me-canicista e buscam um modelo mais sistêmico, voltado parahabilidades e competências que servem melhor aos objetivosda instituição”, analisa.

A técnica judiciária compartilha com os colegas o orgulhopela profissão: “Gosto do meu trabalho por sua importânciapolítica e pelo seu papel na evolução da democracia. A buscapor justiça é uma prática constante da cidadania, ela forma abase de uma nação organizada”.

T

Servidores têm cadavez mais consciênciada importância do seutrabalho e seorgulham de seupapel na sociedade

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19Revista do Sindjus • Edição Especial

Miriam da SilvaJosé, técnica doTRF (ao lado),gosta do traba-lho “por suaimportânciapolítica e seupapel na evolu-ção da democra-cia”. Acima:servidores do STJ

FOTOS: ARTHUR MONTEIRO

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“No momento em que o servidortem consciência da sua função numprocesso judicial, costumo dizer queo processo contém vida; não é um pa-pel, não é um conjunto de folhas, massim rumos de vida que são decididos

ali. Se ele não esquece que aquilo queestá na sua mão vai mudar a vida deuma, duas ou várias famílias, isso fazmuita diferença no seu trabalho”, ex-plica a secretária de Gestão de Pes-soas do Superior Tribunal de Justiça,

CIDADANIA

Um trabalho que decide rumos de vidaKátia Pereira Bessa.

Segundo Kátia, os setores de re-cursos humanos dos tribunais e ór-gãos do MPU devem desenvolver umtrabalho de apoio aos servidores, des-de o momento em que eles iniciam oexercício da função. Isso ajuda natomada de consciência sobre a im-portância do trabalho que vão fazerao longo da sua carreira. “A meu ver,esse papel dos gestores é fundamen-tal. Aqueles que fazem concursopara ingressar no serviço público bus-cam em grande parte a estabilidade,mas, além desse fator positivo, preci-sam também manter em mente o seupapel de servidor: aquele que serveao país, à coletividade e aos cida-dãos”, afirma.

Esse papel, porém, parece estar per-feitamente claro para a grande mai-oria das pessoas – foi o que mostroua enquete desta edição especial darevista do Sindjus, em homenagemaos servidores (leia na página 24). Poronde passou, nossa reportagem en-controu profissionais orgulhosos doseu trabalho e conscientes da impor-tância daquilo que fazem.

Assim também é Clarisvaldo Velo-so da Costa, analista judiciário do TSElotado no setor de segurança. Ele tra-balha há quarenta anos no tribunale tem prazer em revelar que é o servi-dor na ativa mais antigo do órgão.“Trabalhei em outros setores, como ode patrimônio, e em todos eles eu sem-pre tive consciência de que minhastarefas fazem parte do bom funcio-namento da justiça eleitoral. Além dis-so, gosto de discutir questões do tri-bunal, de falar sobre as normas e ocódigo eleitoral com meus colegas”,conta o analista.

Para Clarisvaldo, a justiça eleito-ral é um elemento fundamental paraauxiliar os cidadãos a exercer seu di-reito do voto com consciência. “Ointeresse do TSE e dos servidores é

Cícero vê suafunção noprograma desaúde do TJDFTcomo formade garantir“que o servidortrabalhetranquilo”

Cícero vê suafunção noprograma desaúde do TJDFTcomo formade garantir“que o servidortrabalhetranquilo”

20 Revista do Sindjus • Edição Especial

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contribuir para que a população pos-sa escolher dirigentes dignos para cui-dar do nosso país”, afirma.

No TJDFT, o analista judiciário Cí-cero de Assis Soares também se mos-tra orgulhoso: “Trabalho no progra-ma Pró-Saúde desde a sua implanta-ção, em 1993. Aqui eu aprendi a vera importância da assistência à saúdedos servidores e dos seus dependen-tes. Funcionário saudável aumenta aprodutividade e a celeridade, e depen-dente saudável faz com que o servi-dor venha trabalhar tranquilo”, ana-lisa. Cícero acredita que “esses e ou-tros cuidados com saúde o bem-estargarantem um retorno líquido e certopara a sociedade”.

O oficial de justiça do TJDFT Mar-celo dos Reis Rodrigues conta que seidentifica com todo tipo de trabalhoque demanda atendimento ao públi-

co; por isso, está no lugar certo. Eleafirma que se sente útil e acha grati-ficante dar informações às pessoasque não entendem muito bem comofuncionam os trâmites da justiça: “Nomomento em que o oficial de justiçavai fazer uma penhora, por exemplo,

FOTOS: ARTHUR MONTEIRO

tem a oportunidade de explicar parao jurisdicionado o que levou àquelasituação, bem como os caminhos quea lei garante, como uma proposta deacordo. Assim, em várias outras situ-ações a gente consegue contribuirpara a solução de conflitos”.

Marcelo Rodrigues,oficial de justiça: “égratificante dar infor-mações às pessoas”

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FOTOS: USHA VELASCO

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24 Revista do Sindjus • Edição Especial

ENQUETE

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S: ARTH

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TEIRO

Quem julga é o juiz, mas ajustiça é feita por todos osservidores – desde que eles

tenham consciência desse papel.Eu faço parte de um grupo deapoio formado por assistentes,psicólogos e pedagogos que

ajudam o juiz a tomardecisões. Acho que somos um

braço da justiça, somos osseus instrumentos.

Mércia Farias MachadoCosta, analista da Vara daInfância e da Juventude

Eu me sinto realizado por-que faço aquilo que gosto.Trabalho com a programa-ção visual de todo o TRF;

faço cartazes, folderes,logotipos, folhetos, livros...Também fazemos a “cara”dos eventos do tribunal,

produzimos a sua imagem,que antes era uma ideiaabstrata. Eu adoro o meu

trabalho.

André Sampaio da Silva,técnico do TRF

A enquete desta edição é uma homenagem aos servidores do Judiciário e doMinistério Público. Através destas doze pessoas que concordaram em falar à

revista, ouvimos a voz de toda uma categoria empenhada em realizar um bomtrabalho em favor da sociedade. Eles têm consciência da importância de seu

papel, sabem que interferem diretamente no destino dos cidadãos e se orgulhamdo seu trabalho. Parabéns a eles, parabéns a todos os servidores.

Sou uma pessoa flexível,consigo me adaptar e fazer

qualquer trabalho. Se apareceum problema, estou ali paratentar resolver. Mas eu meconsidero perfeitamente

substituível; tem sempre um ca-paz de resolver tudo. Nosso tra-balho é de equipe; fazemos a

análise, a classificação e a distri-buição dos processos. Adoro oque faço, me sinto realizada.

Silvia Cristina dos ReisAzevedo, técnica do TRF

servidoresParabéns,

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25Revista do Sindjus • Edição Especial

Eu faço análise de man-dados de segurança,

habeas corpus, medidascautelares... Analiso, au-

tuo e mando para a distri-buição. Tenho alguns

minutos para o lanche,mas dou tudo de mimpara não me levantar

muito, porque assim pos-so fazer o trabalho com

mais agilidade.

Maria das GraçasNascimento Vieira,

analista do TRF

Fazemos estudos de casosde guarda, adoção e tutela.

Ajudar o próximo égratificante. Temos uma cotade processos mensais e ten-

tamos dar conta deles.Mesmo assim os processosàs vezes aguardam um anopara serem distribuídos, o

que é um transtorno. Afinal,é o destino de uma criança

que está em jogo.

Niva Maria Vasquez Cam-pos, analista da Vara daInfância e da Juventude

Faço avaliação psicossocialem casos de violência sexual

contra crianças e adolescentes.Tentamos fazer um trabalhoamplo, com a preocupaçãode acompanhar as famílias

após os julgamentos. Sei queesse trabalho é muito impor-tante para as famílias, porque

nós as ouvimos e abrimosespaço para entender seus

conflitos e problemas.

Maíra de Oliveira NegroMonte, analista da Vara da

Infância e da Juventude

Sou revisora aqui há seisanos. Faço de cartões de

visita a livros de 800 pági-nas. É um trabalho que exige

muita atenção e capricho.Quando a instituição coloca

um livro à disposição dacomunidade, em português

correto e com um textoelegante, mostra responsabi-lidade e seriedade. Por issome orgulho dessa função.

Edelweiss de MoraesMafra, técnica do TRF

Meu trabalho envolve relacio-namento com o público; te-

nho que estabelecer uma boarelação com as pessoas e

tento fazer isso com alegria.Minha meta é atender bem ocidadão, por isso acho o meutrabalho gratificante. Trabalho

no TJDFT há 28 anos e hácinco na Vara da Infância. Já

passei por vários setores, esteé um dos melhores.

Roberto Geovane,técnico da Vara da Infância

e da Juventude

O trabalho que fazemosaqui é muito importante.

A seção de apuração e prote-ção, da qual eu faço parte,

fiscaliza eventos e zela pelaproteção de crianças em

situação de risco ou de aban-dono. Eu gosto de saber queestou contribuindo para o

cumprimento do Estatuto daCriança e do Adolescente.

Marcos Barbosa,técnico da Vara da Infância

e da Juventude

Eu vejo que consigo ajudaras pessoas. Trabalho com

processos de aposentadoriarural por invalidez. Sei dasdificuldades das pessoascarentes, então tento daragilidade aos processos.

Estou há 19 anos no Judiciá-rio e tenho consciência deque meu trabalho é funda-mental. Eu contribuo para

o desenvolvimento do país.

Gilberto Nolaço,técnico do TRF

Estou dando aulas para estagiá-rios. É uma atividade de muitaresponsabilidade, porque sãojovens que ainda não tem ma-turidade para lidar com o servi-ço público. Acho o meu traba-lho importante porque estoueducando cidadãos que vão

fazer parte direta do desenvol-vimento desse país. Tem muitascoisas para melhorar, mas euacredito na justiça do Brasil.

Moema Aguiar Tavares,analista do TRF

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26 Revista do Sindjus • Edição Especial

SERVIÇO PÚBLICO

Daniel Campos

m 1808, com a chegada da família realportuguesa ao Brasil, teve inícioa forma-

ção do que hoje chamamos de serviço público.São, portanto, mais de duzentos anos de funcio-nalismo brasileiro. O começo dessa história mui-ta gente sabe, mas e o amanhã? Para saber comoserá o serviço e os servidores públicos do futuro,a revista do Sindjus entrevistou especialistas naárea política, sociológica e econômica, e cons-tatou que já vivemos uma fase de transição.

“A prestação de serviço público no Brasil,hoje, passa por uma grande inovação, no graude cobertura e no uso de novas tecnologiasde informação. Conseguiu-se internalizar noserviço público a modernidade estabelecidano setor privado. Um dos exemplos disso é acertificação digital. O serviço relacionado aaposentadorias e pensões, que antes geravagrandes filas e demora ao requerente contaatualmente com uma prestação praticamenteimediata.” A fala do presidente do Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e profes-sor da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp), Márcio Pochmann, atesta que ofuturo já começou.

O presidente da Comissão de Orçamentoda Câmara dos Deputados, deputado federalGeraldo Magela (PT-DF), também defende queestamos passando por uma espécie de revolu-ção no serviço público. “Ao falar de servido-res, nós temos que fazer uma divisão entre opassado e o presente. Vimos os servidores fi-carem uma década sem qualquer reajuste sa-

larial (década de 1990). Nos últimos anos, deforma gradativa, os servidores vêm tendo sa-lários corrigidos, a renda melhorada. Esse ce-nário positivo, de transformação, é resultadode uma política do governo federal de valori-zação do serviço público, de profissionaliza-ção dos servidores, enfim, de aprimoramentoda coisa pública”, destaca.

Para Pochmann, o serviço público, comoparte desse processo de aprimoramento, vempassando por uma forte pressão relacionadaao controle social, que ganhou grande dimen-são no país. “Hoje são mais de vinte mil con-selhos de participação popular, abrangendoUnião, estados e municípios. Isso vem ajudan-do a forjar o serviço público do futuro. Tam-bém há um ganho em população coberta. Dospaíses não desenvolvidos, somos o que temmaior cobertura e eficiência”, comenta.

Segundo o doutor em Ciência Econômicapela Unicamp, a melhora no desempenho dosetor público não se traduz apenas pela ampli-ação dos beneficiários de programas de garan-tia de renda, como a previdência e assistênciasocial, que, em 2008, atenderam a 33,1% doconjunto da população. Em 1980, os progra-mas governamentais de transferência de rendaalcançavam somente 6,5% dos brasileiros. Emais: em julho de 2009 a previdência contoucom 39,3 mil servidores, que emitiram 26,6 mi-lhões de benefícios, enquanto em dezembro de1996 existiam 49,5 mil funcionários para 16,5milhões de benefícios emitidos. O resultado detudo isso é um grande avanço na cobertura ena produtividade do serviço público.

O futurojá começou

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Moderno, eficiente, produtivo: o setor público vive umarevolução de qualidade, mas é preciso valorizar o servidor

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Esses números demonstram que estamosno caminho de um Estado moderno. E isso ésó o começo dessa revolução no serviço pú-blico. “Ainda temos muito a evoluir. Na dé-cada de 1990 passamos pela destruição doEstado, pelo desestímulo ao funcionalismo.Precisamos recuperar o que perdemos nes-ses anos, quando o pensamento era de quepodíamos viver sem o Estado. Isso só serásuperado com uma profunda reforma do Es-tado brasileiro”, afirma o economista.

Para o sociólogo Sadi Dal Rosso, a cria-ção desse Estado moderno passa por umaquestão conceitual. “Um conceito que preci-sa ser trabalhado fortemente é o de servidor.O servidor é aquele que presta um serviço aopúblico. Essa noção é muito rica e deve serexplorada com atenção”, afirma. “Há que sedefinir, por exemplo, um conflito existenteem vários âmbitos: o servidor serve ao Esta-do ou à sociedade?”, questionou Sadi, queé doutor em Sociologia pela Universidadedo Texas (EUA). Público, no sentido de servi-dor, não equivale a estatal; mas a algo “so-cial e democrático”. Também é preciso dei-xar claro que governo e Estado não são amesma coisa – o primeiro é transitório; osegundo é permanente. Esses pequenos de-talhes são cruciais para forjar o conceito doservidor público do futuro.

E dá para ficar otimismo quanto a essefuturo? Segundo o jornalista e consultordo Departamento Intersindical de Ativida-de Parlamentar (Diap), Antonio AugustoQueiroz , o Toninho, a resposta é afirmati-va: “Eu vejo com otimismo o futuro do ser-viço público, pois há um processo de pro-fissionalização e de mudança de mentali-dade em curso. A sociedade não aceita maisdesvios de conduta e quer transparênciaabsoluta da coisa pública.”

Toninho cita um projeto em tramitaçãona Câmara – chamado de “lei de acesso àinformação”, que garante acesso pleno, ime-diato e gratuito às informações públicas –como um grande avanço para o funciona-lismo do amanhã, porque acaba com a cul-tura do sigilo, ligando cada vez mais o ser-viço público ao instituto da transparência.

Reforma profunda

Três Poderes:estudo do Ipearevela que, ao

contrário do quediz a imprensa, a

administraçãopública é mais

produtiva que osetor privado

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28 Revista do Sindjus • Edição Especial

“É preciso cada vez mais aprofundara profissionalização, afastando mecanis-mos que contribuem com a má qualidadedo serviço público, como a terceirização.A postura paternalista, ainda adotada poralgumas administrações públicas, precisaser combatida. Contratações por meio deindicação política devem ser combatidas.Assim como a redução dos cargos de livreprovimento”, comenta Toninho.

Márcio Pochmann fornece mais ingre-dientes para a receita do serviço público

do futuro: “O servidor deve estar conec-tado ao trabalho imaterial, que está liga-do à ampliação do conhecimento. Eledeve intervir cada vez mais na realidade,a partir de escolhas. O Estado do futuroterá um quadro ainda mais preparado,com qualificação permanente. A escolaserá para a vida toda. Só assim o Estadoterá capacidade de intervenção na eco-nomia e na sociedade, fugindo da natu-reza do serviço público de hoje, que ésetorial. A concepção do Estado funcio-

nal em ‘caixinhas’, que responde à seto-rização de ações públicas geralmente de-sarticuladas, está ultrapassada. Para isso,precisamos refundar o Estado. Precisamosconstruir um Estado matricial, trans e in-tersetorial, capaz de fazer confluir o con-junto de especializações em ações totali-zantes”, explica.

Ao falar em trabalho imaterial, Poch-mann enfoca uma realidade já presente. Àmedida que novas tecnologias possibilitama tão falada informatização do serviçopúblico, os servidores, por meio de apare-lhos celulares, computadores e outros aces-sórios eletrônicos, trabalham muito mais

Mudanças de paradigma

SERVIÇO PÚBLICO

Novo modelo: setorizaçãodas ações públicas estáultrapassada e dará lugar aum Estado transsetorial

28 Revista do Sindjus • Edição Especial

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29Revista do Sindjus • Edição Especial

No entanto, para Toninho, “se os servidoresnão se assumirem desde já como servidores doEstado, incorporando seu papel estratégico, per-sistirá a avaliação negativa que a sociedade temdo funcionalismo”. Sadi também enfatiza essaquestão: “Eu vejo o servidor como um fomenta-dor da cidadania, desde que ele se assuma comotal, desempenhando seu papel social, ético e polí-tico frente ao Estado e à população.”

Ao assumir esse papel, o servidor dará umaresposta à sociedade sobre questões relacionadasao seu trabalho, como as metas de produtividade.Nos últimos tempos, os gestores públicos adota-ram um discurso do setor privado e deram início apolíticas de produtividade nas instituições, acirran-

do a competição entre servido-res e deturpando a natureza dofuncionalismo. Ao contrário doque é divulgado pela mídia e doque habita no inconsciente cole-tivo, o estudo Produtividade naAdministração Pública Brasileira:Trajetória Recente do IPEA reve-la que a administração públicabrasileira é mais produtiva do queo setor privado.

O estudo avalia a evoluçãoda diferença de produtividadeentre esses dois setores de 1995a 2006. Em todos os anos pes-quisados, a produtividade da ad-ministração pública foi maior do

que a registrada no setor privado. E essa diferen-ça foi sempre superior a 35%. O estudo diz quenesse período a produtividade na administraçãopública cresceu 14,7%, enquanto no setor priva-do esse crescimento foi de 13,5%. No último ano

do estudo (2006), a administração pública teveuma produtividade 46,6% maior do que a dosetor privado.

Ou seja: a cobrança por produtividade no se-tor público é um discurso, no mínimo, equivocado.Para Toninho, a exigência de metas de produtivi-dade exageradas pode prejudicar a prestação deum serviço público de qualidade, já que em mui-tos casos há falta de pessoal e de estrutura físicapara cumprir as metas.

“O serviço público tem evoluído muito emmatéria de profissionalização, de transparência, dequalidade de atendimento e de produtividade. Noentanto, estamos ainda muito longe do padrãoideal de eficiência e de urbanidade, pois essa evo-lução depende do Estado”, explica. O servidor nãopode pagar uma conta que pertence a um Estadoque não investe, por exemplo, em estrutura físicae no quadro de pessoal.

“As principais carreiras do Executivo são re-muneradas sob forma de subsídio; por esse meca-nismo, não há como cobrar metas e participaçãoem resultado. Mas essa questão de produtividadee de avaliação de desempenho mostra-se comouma tendência. Em Minas Gerais, o governadorAécio Neves tem condicionado os ganhos dos ser-vidores aos resultados obtidos. Existe o temor deque essa prática ganhe abrangência nacional, eque o serviço público de qualidade seja trocadopelo de quantidade”, analisa Toninho.

Além de prejuízos à prestação de serviço, a co-brança exacerbada por produtividade traz prejuízosao servidor. No livro Mais trabalho!, Sadi apresentauma série de consequências negativas do excessode trabalho; ele mostra que a pressão por resulta-dos e a exigência de versatilidade cobram custosaltíssimos em saúde física e emocional.

Assumindo seu papel

do que a jornada oficial, conectados 24horas por dia ao trabalho. Um desafio parao servidor do futuro será trabalhar a ques-tão dessa produção imaterial.

Para Sadi dal Rosso, a tecnologia devevir pra facilitar, somente para isso. “Exis-te uma ética do trabalho no serviço pú-blico. A questão ética é primordial, maisimportante do que a tecnológica. Olhopara a minha universidade (UnB) e vejoque há quinze anos só existiam máqui-nas de escrever. Hoje só há computador.Isso ajuda, mas muda radicalmente fun-ções e atribuições. A função de datilógrafopraticamente foi extinta”, comenta. “A

questão tecnológica não é suficiente paraconstruir um Estado moderno. Este seconstrói a partir de questões éticas e po-líticas”, completa.

No campo político, Geraldo Magelaafirma categoricamente que o fortaleci-mento do Estado e das relações sociaisestá diretamente relacionado ao investi-mento feito no funcionalismo. “O desen-volvimento do país passa impreterivelmen-te pela valorização do serviço público. Comum serviço de boa qualidade temos maisplanejamento, mais fiscalização, melhordesempenho do Estado”, afirma.

Consolidando esse argumento, Toni-

nho lembra que, na última crise, o mun-do reconheceu a importância de um Es-tado forte. A crise econômica que come-çou nos EUA em 2008 e afetou toda aeconomia mundial atestou que o Estadomínimo proposto pelo neoliberalismo évulnerável e ineficiente. Somente paísescom um Estado forte são capazes de su-perar, com prejuízos mínimos, crises comoessa. Afinal, estamos num processo detransição do sistema capitalista neolibe-ral para outro modelo, no qual o Estadopossui um papel relevante. E os servido-res serão fundamentais para o funciona-mento desse novo sistema.

PRODUTIVO

35%.Em 2006 a diferença foi de

Estudo do Ipea realizado de1995 a 2006 mostra que a

produtividade do setorpúblico foi sempre maior que

do privado em no mínimo

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O sociólogo Sadi Dal Rosso acre-dita que faz parte da ética do servi-dor público responder por questõesde produtividade: “Sociologicamen-te falando, na medida em que o tra-balho é mais puxado no setor priva-do, essa realidade tende a influenci-ar o serviço público. Há uma passa-gem de tecnologias do setor privadopara o setor público. Mas há um dife-rencial. O Estado não contrata servi-dor público para ganhar em cima dele.A noção desse produtivismo capita-lista não cabe no Estado. No entan-

to, o servidortem que estaraberto ao cida-dão”, avalia.

O consultorToninho diz quea descaracteri-zação do serviçopúblico, asse-me lhando- secada vez maisao privado, é umproblema serís-simo, porquecada vez mais se

disseminam na sociedade falsos con-ceitos, como, por exemplo, o de que aestabilidade causa ineficiência. “O es-tatuto da estabilidade tem perdido ali-ados em face de muitos servidores nãoo terem defendido como deveriam,prestando um serviço de qualidade àsociedade. É preciso defender a quali-dade e a eficiência, para que o des-compromisso das autoridades com ser-viço público não recaia sobre os servi-dores”, ressalta.

Toninho reforça a necessidade deseparar o trabalho realizado pelo ser-vidor da falta de estrutura fornecidapelo Estado. A população precisa sa-ber discernir o esforço, o empenho ea produtividade dos servidores dapostura do Estado – que tem ou nãocompromisso com a coisa pública,que investe ou não na profissionali-zação de seus serviços e na carreirade seus quadros, que fornece ou nãoa estrutura adequada para uma boaprestação de serviços.

Já foi comprovado que é uma falá-cia a ideia do Estado brasileiro “incha-do”. Segundo a pesquisa Emprego Pú-blico no Brasil: comparação internaci-

Desafio é mudar a visão da sociedade

SERVIÇO PÚBLICO

FALÁCIA

11%da população ativa e apenas

O Estado não está “inchado”.Os servidores são menos de

6%da população total. EUA,

Espanha, Alemanha, França,Suécia e Argentina têm mais

funcionários que nós.

onal e evolução, feita pelo Ipea, o Brasilnão tem proporcionalmente tantosfuncionários quanto se imaginava, emcomparação com países como EstadosUnidos, Espanha, Alemanha, França,Suécia, Argentina, Uruguai e Paraguai.Os servidores correspondem a menosde 11% da população ocupada, e ape-nas 6% se equiparados a toda a po-pulação brasileira. Isso mostra que ofuturo do serviço público passa peloreaparelhamento do Estado e pela der-rubada de mitos.

Um dos maiores desafios do servi-dor público do futuro é, portanto, mu-dar a visão que a sociedade tem sobreele. A ideia de que trabalha pouco eganha muito precisa ser desfeita. Sadidiz que o funcionalismo não é um es-paço para usufruir de vida mansa, masde prestar um serviço à sociedade. E éessa a visão que deve nortear o futu-ro: servidores qualificados, responsá-veis, antenados com as novas tecno-logias, defensores da ética, comprome-tidos com o trabalho que prestam àsociedade. Servidores que desempe-nham papel fundamental na constru-ção intelectual do Estado.

Toninho: evolução depende doEstado. Magela (dir.): o futuro doservidor depende de 2010

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31Revista do Sindjus • Edição Especial

Com o excedente imaterial gerado pelotrabalho intelectual, o servidor gera conhe-cimento 24 horas por dia – conhecimen-to que é absorvido pela instituição. Essaprodução imaterial poderia gerar uma jor-nada de trabalho bem mais flexível. “Comos ganhos da produção imaterial podemoster uma jornada de trabalho menor, atémesmo para aumentar essa mesma pro-dutividade imaterial”, explica Márcio Po-chmann, que é pesquisador do Centro deEstudos Sindicais e de Economia do Tra-balho da Unicamp desde 1989. Ele defen-de uma jornada de 12 horas por semana,divididas em três dias.

“Mas para a implantação dessa jorna-da é necessário melhorar a relação capi-tal–trabalho e criar uma nova maneira detributar essa forma de produção. O traba-lhador ainda não põe na sua conta o ex-cedente imaterial, isto é, as horas em queele permanece, por exemplo, pensando emcomo melhorar o serviço”, alerta o eco-nomista.

Para Geraldo Magela, o futuro dos ser-vidores depende, em muito, das eleiçõesde 2010, que colocam em contraponto doisprojetos distintos: um deles, neoliberal, de-fende o não-investimento no serviço pú-blico; o outro prestigia os servidores e de-fende que o serviço público deve existirpara servir o Estado com qualidade. “Infe-lizmente não é possível falar que os políti-cos, de um modo geral, reconhecem o pa-pel do servidor público. Há uma diferençaentre aqueles que sempre irão ver os ser-vidores como parasitas e os que encaramos quadros públicos como indutores do de-senvolvimento social”, analisa.

Como vivemos uma fase de transição,o serviço público do futuro ainda está con-dicionado à escolha entre um Estado gran-de e um Estado pequeno. Só que essa dis-cussão tende a ganhar novos elementos,visto que o Estado moderno será o resul-tado do debate em torno de resultado equalidade. As questões sobre profissiona-lização, compromisso, definição conceitu-al, novas tecnologias, política e ética dosservidores serão o norte do serviço públi-co do futuro. E o debate sobre essas ques-tões não pode ser protelado.

Jornada deveriaser bem menor

MárcioPochmann(acima):muito alémda jornada.Sadi DalRosso:“produtivis-mo” nãocabe noEstado

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32 Revista do Sindjus • Edição Especial

Do alto dos seus 91 anos,o poeta Manoel de Barrosensina que o ser humano

é incompleto, e que isso nãoé defeito; é qualidade.Assim como ele, muitas outras

pessoas precisam ser Outras.E são. Esta coluna publicarámensalmente histórias de gente

que concilia o serviço públicocom as mais diversasatividades. São atletas, chefes

de cozinha, professores,pintores, mágicos, mecânicos,músicos... A lista não tem fim.

OUTROS EUS

A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não aguento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.

Manoel de Barros

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33Revista do Sindjus • Edição Especial

Thais Assunção

m uma sala bonita e agradável, noEspaço Cultural do TST, trabalha a téc-

nica Ana Maria Castro Borges. O setor éo TST Ambiental, criado em 2007, e queAna tem a maior satisfação em dizer queajudou a criar: “Acho que me encontreiaqui no TST. Adoro trabalhar nesse setor”,revela. Com jeito meigo e com voz cati-vante, a técnica judiciária não é apaixo-nada somente pelo trabalho desenvolvi-do no tribunal. Ela ama os sons, princi-palmente os da voz humana.

Ana Maria conta que desde pequenaadora música e não lembra de sua vida semcantorias. “Eu sempre lembro de mim mes-ma cantando. Quando era adolescente, aoscatorze ou quinze anos, ganhei um violãoe andava com ele debaixo do braço paratodo lado”, recorda. Ela não sabe dizer deonde herdou a veia artística, mas acreditatê-la passado para seus dois filhos: Ianara,de 21 anos, é fotógrafa, atriz e estuda ce-nografia; Pedro, de 17, é malabarista, fazaulas de circo e estuda saxofone.

Há sete anos Ana fez seu trabalho deconclusão do curso de especialização emArte Terapia com ênfase em canto. Por indi-cação de sua orientadora, entrou em con-tato com a escola Vox Mundi School Of TheVoice no Brasil, que funciona no Rio de Ja-neiro. Lá, a professora Alba Lyrio desenvol-ve um programa chamado Yoga da Voz. “Eume identifiquei muito com isso. Comeceicomo aluna e há cinco anos sou coordena-dora do curso em Brasília”, explica.

Ana explica que o método de Yoga daVoz desenvolvido pela Vox Mundi buscaa integração do corpo, mente e espírito

por meio da voz. É uma escola de educa-ção vocal, com o objetivo de liberar a voz“para que possamos chegar a uma expres-são livre, para artistas, educadores ouqualquer público”, complementa.

As aulas que Ana Maria oferece sãorealizadas todas as terças-feiras. “Lidamoscom pessoas que percebem que a voz éum instrumento de expressão. Trabalhamosainda com culturas tradicionais, usandotécnicas vocais de diversas culturas, comoa afro-brasileira, indígena, tibetana e indi-ana. Por meio delas abordamos diversosaspectos da voz, como a afinação, a escu-ta profunda e a escuta fina”, explica. O cur-so intensivo tem duração de um ano.

Para divulgar o trabalho e estreitar ocontato com a natureza, o grupo realizaencontros a cada último domingo do mês,no Parque Olhos D’Água, às 11h. “Nósfazemos um encontro aberto ao público,para quem está passeando no parque. Éum lugar muito gostoso. Geralmente nosreunimos no quiosque e os interessadospodem interagir e participar da aula”,conta Ana Maria.

“Eu mudei internamente, depois queme dediquei ao estudo do canto. Esse tra-balho me trouxe foco, me deu mais capa-cidade de centramento. Acho que as por-tas se abrem e o universo conspira quan-do estamos bem internamente”, acreditaela. “O fato de trabalhar com meio ambi-ente no TST também é uma coisa positi-va, porque tem muito a ver comigo e medá prazer de trabalhar aqui”, conclui.

Para saber mais sobre Yoga da Voz:www.yogadavoz.blogspot.comwww.voxmundiproject.com.

cantoOs encantos do

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34 Revista do Sindjus • Edição Especial

A área externa, antes abandonada (segunda foto à direita),transformou-se em um grande jardim na mostra de arquitetura e

decoração. No espaço acima, o Jardim da Encosta, Nil do Sousa usouferro, madeira, concreto e tecido para criar um visual inusitado.Ao lado, a Praça Jardim Boulevard tem laguinho com peixes e éassinada por Cleber Anunciatto e Gabriel Domingues de Souza

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35Revista do Sindjus • Edição Especial

Usha Velasco

e cartão-postal a ruínas, de ruínas a palco de grandeseventos – esta é a curiosa trajetória do Clube do Ser-

vidor, que passou a ser co-administrado pelo Sindjus emjulho deste ano. Em agosto o local foi invadido por umbatalhão de operários, arquitetos e decoradores, com oinício das obras da Casa Cor 2009. Em setembro o Sindjusdeu o pontapé inicial nas reformas que transformarão oclube num dos maiores polos de lazer e cultura do DF. Eem outubro, para comemorar o Dia do Servidor, a cantoraMaria Rita inaugura o Sindjus Hall com um grande show.

Aberto em 1976 e desativado em 1998, o Clube doServidor viveu sua época de ouro na década de oitenta.Mas uma série de más decisões administrativas levou à de-cadência e finalmente ao abandono. Vazio por mais de dezanos, o lugar foi depredado e transformou-se num conjun-to de ruínas em meio a um espesso matagal. Em 22 dejunho deste ano, porém, o Sindjus assumiu a co-gestão doespaço e tornou-se responsável por sua revitalização.

O novo clube terá centro de convenções, hotel, salasde aula, cinema, teatro, biblioteca, restaurantes e teatrode arena – além de um moderno parque aquático, qua-dras esportivas, saunas e churrasqueiras. “Nós desenha-mos um empreendimento auto-sustentável e que não selimita a um espaço de lazer tradicional, como eram osclubes da nossa infância”, conta Roberto Policarpo, coor-denador geral do Sindjus. “O renascimento do Clube doServidor é bastante simbólico; ele confirma o reconheci-mento e a valorização que o servidor público tem con-quistado nos últimos anos”, acredita Policarpo.

Espaço reabre em grande estilocom o megaevento Casa Cor Brasília

e o show da cantora Maria Rita

CLUBE DO SERVIDOR

vidaDe volta à

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36 Revista do Sindjus • Edição Especial

No dia 28 de setembro o Clube doServidor abriu novamente suas portaspara os brasilienses. O motivo foi ainauguração da Casa Cor Brasília2009, um megaevento de arquitetura,decoração e paisagismo que está emsua 18ª edição e é o mais badaladodo Centro-Oeste.

O clube forneceu à Casa Cor Brasí-lia o maior espaço da sua história: são18 mil metros quadrados, dos quaismais de cinco mil metros foram usadosna construção de 62 ambientes.

“É sempre muito bom poder parti-cipar dessas revitalizações que o even-to proporciona, resgatando um lugarque estava ocioso e que em breve vaise transformar em algo realmente útilpara a sociedade”, afirma a empresá-ria Moema Leão, sócia do empreendi-mento ao lado de Eliane Martins e daarquiteta Sheila Podestá.

A expectativa das organizadoraspara esse ano é que o número de visi-tantes chegue a 40 mil pessoas. A ge-ração de empregos temporários égrande: “Foram criados no mínimosetecentos empregos diretos antesmesmo da mostra abrir”, diz Sheila.

O tema deste ano será a sustenta-bilidade. A Casa Cor também prestaráuma homenagem ao centenário de nas-cimento de Roberto Burle Marx, um de-fensor da natureza e tem sua marca emvários jardins da capital federal.

Portas abertas

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Loft Sustentável, de Henrique Bezerra:materiais e tecnologias “verdes”.

Loft da 3ª Idade, de Hélio Alburquerquee Sonia Peres: homenagem às“mulheres vividas e cheias de vida”.

No Conteiner Contemporâneo, AliceAlves Ribeiro e Raquel Lima aproveitaramduas peças que já estavam no clube.

Brinquedoteca de Renata Dutra:links com a natureza.

Peças do Sebrae estão no Armazém doArtesanato, de Viviane Dománico.

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CLUBE DO SERVIDOR

Será inaugurado em grande estiloo Sindjus Hall, espaço para showsmontado no Clube do Servidor. Nodia 24 de outubro a cantora MariaRita se apresenta para um público deduas mil pessoas. Quem aderiu aoprograma Viver Cultura, criado pelosindicato, ganha ingresso grátis (vejaem www.vivercultura.combr).

Maria Rita começou a cantarprofissionalmente aos 24 anos. Ago-ra, com 30, não acha que foi tarde.“Você se achar no mundo é umatarefa muito difícil”, diz a jovem,que se formou em comunicaçãosocial e estudos latino-americanosnos EUA. Filha de Elis Regina e Ce-sar Camargo Mariano, de tanto dize-rem que ela precisava cantar, MariaRita resistiu durante algum tempo.“Encaro a vida como um grandeprocesso feito de vários pequenosprocessos no caminho”, afirma.

Após escolher a hora certa, elanão pode se queixar dos resultadosque alcançou. Aliás, ninguém podereclamar dos resultados alcançadospor Maria Rita. Antes mesmo de lan-çar um CD, ganhou o Prêmio APCAde 2002 como revelação do ano. Seuprimeiro disco vendeu mais de ummilhão de cópias, e o primeiro DVDchegou a 180 mil. Ambos foram lan-çados em mais de trinta países, com160 shows lotados ao longo de umano e meio. Depois vieram os prêmi-os, incluindo vários Grammys Latinos,os discos de platina, o DVD de ouro...

Esse sucesso, a qualidade dotrabalho e a grande aceitação emtodas as faixas etárias fizeram comque Maria Rita fosse a escolhidapara a inauguração do Sindjus Hall.“É um dos nossos presentes ao ser-vidor em comemoração ao seu dia”,diz Policarpo.

Um presentemuito especial

Maria Rita:grande show

no Sindjus Hallno dia 24/10

MARIA RITA/DIVULGAÇÃO

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Thais Assunção

“prata da casa” do Sindjus ajudou amontar um ambiente que tem sido o

grande destaque da Casa Cor na mídia: oespaço Varjão Consciente, onde tudo é fei-to com sucata. A decoração ficou a cargoda editora da Revista do Sindjus, Usha Ve-lasco, que há dez anos criou o Ateliê doLixo, especializado em designer de móveise objetos com sucata. As imagens que en-feitam as paredes são retratos dos mora-

dores do Varjão feitos pelo fotógrafo Ar-thur Monteiro, responsável pela maior par-te das coberturas fotográficas da revista.

“Isso mostra que a nossa linha de tra-balho não é mero discurso; ela é aplicadapelas pessoas que colaboram com a gen-te”, diz Roberto Policarpo, coordenador-geral do Sindjus, ao se referir às campa-nhas ligadas a questões sociais, éticas eambientais desenvolvidas pelo Sindicato.

Usha e Arthur trabalharam como vo-luntários no evento à convite da Adminis-

tração do Varjão, responsável pelo espa-ço, que expõe vários dos projetos sociaisdesenvolvidos na comunidade. A sucataveio da Central de Reciclagem do Varjão;as bonecas de pano, da associação de cos-tureiras Girassol. A obra – uma meia-águade 3m x 9m, do tamanho da sala de umadas moradoras – foi feita com mão de obrade sentenciados em reintegração e usoumadeira de reflorestamento, telhas eco-lógicas, brita feita com entulho recicladoe mármore de demolição.

Projetos sociais em cartaz na Casa Cor

O arranjo acima e a lumináriasão feitos com caixas de leite. Asbonecas são da Associação Giras-sol. O banco Aranha usa arame,mangueira e latas de refrigerante

Móveis de sucata: sofá de ferro deobra e jornais; luminária de plástico decortina e pratos; aparador, de táboasde obra. A poltrona de pneu e cadeirasresgatadas num contêiner de lixo

Retratos demoradores doVarjão, feitospor ArthurMonteiro,decoram asparedes

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PERFIL

Emerson, umcidadão

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Carlos Tavares

u lhe dou um mercedes zero quilô-metro ou o que o senhor quiser, se

me arranjar uma cópia daquele processosobre a companhia de pneus “, disse osujeito de terno e gravata. O homem dooutro lado da mesa não demonstrou sur-presa. Apenas sorriu cordialmente e pe-diu licença para pegar um café, conversa-riam com mais calma sobre o assunto.

Não demorou mais do que um minu-to e os dois estavam de volta ao assuntoda companhia de pneus.

“Sim, mas o senhor dizia...” lembrouo servidor do Ministério da Justiça, sem-pre com um sorriso afável.

“Isso mesmo, dou um mercedes zero,pois a nossa companhia é muito podero-sa, não se preocupe, ficará tudo entre nós.”

A tal companhia de pneus estava pres-tes a ser multada no que hoje correspon-deria a três milhões de reais, por abuso depoder econômico. O servidor do ConselhoAdministrativo de Defesa Econômica(Cade) esperou que o desconhecido, umadvogado da empresa, terminasse o cafée pediu licença para ir ao banheiro.

“Peguei o telefone, liguei para a Polí-cia Federal, que era perto de onde eu tra-balhava, e ele saiu de lá algemado”. As-sim Emerson Barreira Parente conclui umdos episódios sacados de prodigiosa me-mória. O técnico administrativo aposen-tado pelo Ministério Público Federal (MPF)dedicou 35 dos seus 75 anos de idade aoserviço público.

“Prefiro ganhar um salário-mínimo,mas honestamente, desde que possamanter a cabeça erguida”, diz, orgulhosode sua própria honra, com a qual atraves-sou os anos de ouro da era do rádio e dopresidente bossa nova, Juscelino Kubits-chek, e os chamados anos de chumbo daditadura militar. Uma das característicasde sua personalidade é dizer não sem ti-tubear para coisas erradas. Emerson Pa-rente passou boa parte da vida de servi-dor trabalhando com figuras ilustres davelha república, como Tristão Ferreira daCunha – avô do governador de Minas,Aécio Neves – , o próprio Tancredo Neves,Sepúlveda Pertence, Petrônio Portella, Jar-bas Passarinho e Ibrahim Abi Ackel.

Nascido em Gilbués, sul do Piauí, elechegou ao Rio de Janeiro para servir aoExército mal havia completado 19 anos,em 1954. Mas Emerson sabia o que de-sejava da vida, o Exército era apenas umbom motivo para voltar a estudar e a tra-balhar. Das casernas ele sairia pronto paraexercer outras atividades; foi assim quese tornou funcionário público, sempre tra-balhando no Cade e outros órgãos vincu-lados ao Ministério da Justiça.

“Na época havia muitos problemascom cervejarias e companhias de pneus;os processos eram todos de abuso de po-der econômico”, comenta o aposentado,que é fundador do Sindjus e representan-te dos aposentados no sindicato. “Hoje euconto essas coisas porque não há mais oque esconder. Afinal, estamos em uma de-mocracia”, afirma, com um ar de desaba-fo. Quando se pergunta se ele apoiava osmilitares, afirma que, por um lado, em ter-mos de combate à corrupção, o país ne-cessitava passar por algumas mudanças.“Mas nunca concordei com a violência ea perseguição. Muito menos com a tortu-ra”, declara.

Corrupção e abuso de poder econômi-co são expressões do vocabulário brasilei-ro que atravessaram os tempos e soamaos ouvidos de Ermerson como eco de umabatalha que ele jamais deixará de travar.Como exemplo de sua postura de fiscaldas leis, como ele mesmo se auto-intitula,certa vez um ministro da Justiça nomeouum genro para ser chefe do Setor de Pes-quisas Econômicas do Cade; mas este genro,português expulso de seu país por ocuparcargo público e cometer atos de corrupção,também foi desmascarado no Brasil aotentar fazer acordos espúrios com empre-sários e autoridades envolvidos com con-trabando de pedras preciosas.

Sobre as transformações pelas quaiso Brasil passou, ele acredita que a socie-dade mudou muito e para melhor, ao con-trário do político, que ainda precisa sermoldado para exercer o papel de homempúblico com seriedade e respeito pelopovo brasileiro. “Também falta valorizarmais o servidor público. As coisas melho-raram para nós, mas ainda falta muitopara esse reconhecimento”, afirma Emer-son, que aponta, entre as suas insatisfa-

Técnico do MPF dedicou35 dos seus 75 anos aoserviço público epresenciou momentosdecisivos da história

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Guará: “Andode cabeça

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ções com a política e o Judiciário, o exces-so de leis no Brasil. Em relação à política,a permanência de certos vícios do passa-do, como o nepotismo, o desvio de verbaspúblicas e vantagens às quais apenas oscontroladores do poder têm acesso.

Quando ouve falar no nome do sena-dor José Sarney, presidente do CongressoNacional, ele ri e narra um fato especialem sua trajetória de vida. “Eu vivia fazen-do lobby no Congresso, mas em defesa deassociações de moradores de bairros, deaposentados. Quando houve a enchente

PERFIL

A trajetória de trabalho de EmersonBarreira Parente começa ainda na infân-cia, quando ele já demonstrava um es-pecial pendor para interferir no destinodas pessoas. Foi assim que ele mudou avida de sua família, ao encontrar novediamantes, um deles de quatro quilates,em um garimpo no Rio Uruçuí Vermelho,perto de Gilbués, no extremo-sul do Piauí.

Emerson não contava mais de dozeanos quando acompanhou o pai, Mano-el Holanda Parente, e um tio ao garim-po pela primeira vez. Por acaso, ou mo-vido pela curiosidade de menino, dis-tanciou-se dos mais velhos e foi traba-lhar em outro ponto. Para sua surpresa,que mais brincava do que garimpava deverdade, as pedras foram surgindo di-ante de seus olhos a cada lavagem docascalho na beira do rio.

Quando viu que eram diamantes, cor-reu e contou ao pai. Com o dinheiro davenda dos diamantes, o pai de Emersonaumentou suas lavouras, dobrou a pro-dução de aguardente de alambique epôde comprar mais terras para acrescen-tar às que já possuía. Daí em diante, po-rém, o menino foi proibido de frequentaro garimpo, mas insistiu em ir e a desobe-diência quase lhe custou a vida: “Escapeipor milagre, na Mina de São Dimas. Fi-quei horas soterrado porque uma partedo túnel cedeu. De repente, uma barreirase abriu e eu pude sair, todo sujo de lama.”

Já com planos de ir embora para oRio de Janeiro, Emerson foi frentista deum posto de combustíveis em Teresina,

cujo dono era um de seus tios. Tambémfoi gerente do posto; tinha menos de18 anos, mas já era talhado desde cedopara encarar responsabilidades e tare-fas de cidadão. O tio, ao ver que o garo-to dava certo no trabalho, passou a con-fiar a ele todos os negócios e aprovei-tava a situação para se divertir na noitede Teresina.

Mas chegou o dia em que o filho dedona Altair Parente, hoje com 101 anos,partiu para a cidade maravilhosa. Ele jáestava com tudo pronto; suas economi-as e a ajuda de um outro tio foram sufi-cientes para comprar uma passagem naReal Aerovias Brasil, por três mil cru-zeiros, e desembarcar na capital do paísno dia 9 de setembro de 1954, aindaabalada pelo suicídio de Getúlio Vargas,na madrugada de 24 de agosto. Emer-son iria ver o país ser engolfado por su-cessivas crises nos próximos dez anos,até o golpe de 1964 e a instalação doregime militar.

Porém, antes de respirar o que se cha-mou de anos de chumbo, ele viveu, emparte, os anos dourados. Viu Juscelino Ku-bitschek assumir o comando do país comidéias modernas e promessas de mudara história. O próprio clima da década de50 transpirava mudanças de comporta-mento e prenunciava a era tecnológicada comunicação e dos grandes empre-endimentos no setor petrolífero e na in-dústria automobilística. Getúlio havia cri-ado a Petrobras em 1953 e JK já tinhaem seus planos a construção de uma nova

capital. Emerson assistiu aos primeirosprogramas de TV no Brasil, da Tupi, fun-dada por Assis Chateaubriand. Na épo-ca, vibrava nas emissoras a voz de DickFarney cantando Copacabana, Marina, Te-resa da Praia e Alguém como Tu, entreoutros hits.

Como jovem imigrante do Piauí queaterrissou na capital carioca em meio aoburburinho político e cultural da época,Emerson refugiou-se no alistamento mi-litar, recomendado por um tio general,para dar os primeiros passos na nova vida.Logo foi transferido de uma unidade ondenão gostava do que fazia, na Quinta daBoa Vista, para o 8º Grupo de Artilhariade Costa Motorizada, na Gávea. Essa in-sistência do jovem em mudar de basemilitar custou-lhe um esfregão do coro-nel que comandava aquele quartel: “Ouvidizer que você está falando em ir paraoutra divisão. Pois bem, enquanto eu es-tiver aqui, você vai continuar nesta uni-dade. E estamos conversados”, gritou ocoronel, na frente de outros militares, noclube da corporação. Emerson ouviu ca-lado, mas no dia seguinte apareceu dian-te do mesmo coronel, ainda ressabiado,porém disposto a enfrentar o superior.Levava em mãos um ofício de transfe-rência para a Gávea assinado pelo tio,general de Agulhas Negras. O coronel,entre assustado, surpreso e revoltado,olhou a assinatura e imediatamente mu-dou de postura, sorrindo: “Por que vocênão disse logo que era sobrinho do gene-ral Parente, rapaz?”

de Santa Teresa (bairro carioca que Emer-son adotou como segunda terra e queama de coração), porque choveu muito eo arroio Dilúvio transbordou, eu coman-dei um movimento de moradores queperderam tudo com a cheia”, lembra oaposentado. Esse movimento, que Emer-son chama de lobby, em busca de apoiopolítico no Congresso para que fosse li-berado o FGTS dos que estavam desa-brigados, custou a ele um pequeno em-bate com o senador maranhense.

Sarney era contra a liberação da ver-

Testemunha ocular da história

ba e Emerson, inconformado, fez tantapressão com outros deputados e senado-res que apoiavam a causa que Sarneymandou um recado a ele, dizendo que oservidor estava incomodando muito aCasa. Emerson mandou o mesmo emis-sário responder que, se ele estava cau-sando desconforto nos salões do Congres-so, pior era Sarney, que estava incomo-dando o país inteiro. “Ele então acabouaprovando a liberação dos recursos e eutive a oportunidade de agradecer peloapoio”, conta, rindo.

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Há muitos nomes de pessoas ilus-tres que Emerson cita com orgulho porter trabalhado com eles e por eles tersido ajudado também. É o caso de Tan-credo Neves, que o apresentou a JK e aquem indiretamente também serviucomo técnico-administrativo do MPF,ainda no Rio de Janeiro e, por poucotempo, em Brasília. Dessa época, entre1964 e 1968, Emerson guarda verda-deiras preciosidades na memória, alémde uma lembrança material do tempoem que conviveu com JK. Trata-se deuma raridade que poucos colecionado-res ostentam – o LP JK em Serenata,em 33 rotações, editado pela gravado-ra Bemol, de Belo Horizonte, numa tira-gem de apenas mil exemplares. O deEmerson está autografado pelo cons-trutor de Brasília.

O disco foi gravado com o grupo Se-resteiros de Diamantina, com uma men-sagem de JK e dois números cantadospelo próprio presidente. “Chamavam JKde presidente bossa nova, mas ele gos-tava mesmo era de seresta. Ele era se-resteiro e gostava de fazer serenatas”,recorda Emerson. O disco, lançado emmeados de 1968, logo foi recolhido daslojas, com a publicação do AI-5 em de-zembro. “Junto com ele, o próprio presi-dente foi recolhido”, diz Emerson, refe-rindo-se à prisão de JK em um quartelem Niterói e em seguida no próprio apar-tamento, onde viveu sob prisão domicili-ar por um mês. Enfim, o que seria o pri-meiro grande sucesso da Bemol acabouprovocando a falência da gravadora.

“É muita coisa, muita coisa”, dizEmerson, concentrando-se em algumponto desses tempos de amargura paraextrair algo ainda que seja pitoresco oubem-humorado. “Não gosto de tristeza,gosto da vida”, afirma e narra um deseus episódios preferidos, ao ser indaga-do sobre o Comício dos Cem Mil, a mor-te do estudante Edson Luís, no restau-rante Calabouço e outras cenas sombri-as que o país assistiria naquele ano de

1968. “Eu vi os cavalos e a polícia inva-direm a Candelária, a praça da Assem-bléia, durante a Passeata dos Cem Mil,em resposta à morte do estudante. Na-quele dia o Rio parou”, recorda.

Para se proteger da confusão, Emer-son procurou refúgio atrás de uma ban-ca de revistas; ao olhar para o lado, parao tronco de uma árvore, viu um saco debolas de gude. Lá em cima, escondido en-tre os galhos e folhas, estava o líder es-tudantil e futuro deputado federal Vladi-mir Palmeira. “Ele fez sinal para eu ficarquieto e pediu, bem baixinho, que eu guar-dasse o saco de bolas de gude”, conta.Mais tarde as bolinhas foram usadas para

derrubar cavalos e impedir que a políciabatesse nos estudantes, conta Parente.

Do final dos anos 70 aos dias de hoje,Emerson integrou-se ao clima de otimis-mo da Nova República e passou a saudara democracia como “o maior tesourobrasileiro”. Sobre a juventude, ele diz que“é preciso ter cuidado, as drogas estãomatando esses meninos. É preciso muitaorientação, em casa e na escola, senãovai ser um desastre”, adverte o nordes-tino de fibra que aprendeu a garimpar avida e o futuro nas minas e nas lavourasde seu pai. “Não tenho do que me quei-xar. Sempre olhei um passo à frente. Te-nho a certeza de que servi ao meu país.”

Com o disco auto-grafado por JK:“Ele gostava mes-mo era de seresta”

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