capítulo 6 - "'técnicas de si' na tv: a mídia se faz pedagógica”

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In: Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma Paixão Rosa Maria Bueno Fisher Organização:Adélli Bortolon Bazza (Doutoranda - UEM)- [email protected] Orientação: Prof. Dr. Pedro Navarro

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“Técnicas de si” na TV: a mídia se faz pedagógica” http://gefuem.blogspot.com.br/ .......................................... Organização:Adélli Bortolon Bazza (Doutoranda - UEM)- [email protected] Orientação: Prof. Dr. Pedro Navarro .................................................... In: Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma Paixão Rosa Maria Bueno Fisher .................................................... http://gefuem.blogspot.com.br/

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Page 1: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

In: Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma Paixão

Rosa Maria Bueno Fisher

Organização:Adélli Bortolon Bazza (Doutoranda - UEM)- [email protected]ção: Prof. Dr. Pedro Navarro

Page 2: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

• Objetivo: “discutir de que modo a mídia – particularmente a televisão – estaria se constituindo como instância pedagógica na cultura contemporânea”. (113)

• Tratar “das diferentes formas criadas, reproduzidas, muitas vezes repetidas da mídia de se posicionar como locus de educação, de formação, de condução da vida das pessoas e de como esse fato tem importantes repercussões nas práticas escolares, na medida em que crianças e jovens de todas as camadas sociais aprendem modos de ser e de estar no mundo também nesse espaço da cultura”. (113)

Page 3: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

Foucault definiu as techiniques de soi como aqueles procedimentos e técnicas que “permitem aos indivíduos efetuar, por conta própria ou com ajuda de outros, certo número de operações sobre seu corpo e sua alma, pensamentos, conduta ou qualquer forma de ser obtendo, assim, felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade”

Page 4: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

• “para Foucault, a tecnologia de si é uma domínio bastante amplo e sobre o qual há que fazer a história; ou seja, precisamos perguntar como, hoje, se produzem e como entram em circulação não só técnicas de transformar a si mesmos, mas todo um conjunto de textos relacionados com a constituição de “discursos de verdade” sobre o “si”, ou seja, sobre as complexas relações entre sujeito e verdade”. (114)

• “técnicas de falar aos indivíduos e aos grupos, de interpretá-los em termos sociais, afetivos, políticos, econômicos; também de incessantemente fazê-los falar e de, ao mesmo tempo, devolver-lhes suas falar e ditos a partir da voz de inúmeros especialistas”. (114)

Page 5: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

• “não se trata somente de nos perguntar-mos sobre a responsabilidade da mídia nessa superexposição das intimidades, mas de indagarmos sobre como as sociedades contemporâneas realizam o debate do que é “público”, definem o que é a “palavra pública”, orientam o que seria a “cena social”. A questão, portanto, é também predominantemente política”. (115)

Page 6: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

“haveria uma incitação ao discurso sobre “s i mesmo”, à revelação permanente de si, práticas que vêm acompanhadas de uma produção e veiculação de saberes sobre os próprios sujeitos e seus modos confessados e aprendidos de ser e estar na cultura e que vivem; há que se considerar ainda o simultâneo reforço de controles e igualmente de resistências, em acordo com determinadas estratégias de poder e saber, que estão vivos, insistentemente presentes nesses processos de publicização da vida privada e de pedagogização midática”. (115)

Page 7: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

• Categorias de análise:• 1- formas de, na TV, produzir uma “volta sobre si mesmo”.• “técnicas de produção de sujeitos – voltadas para produzir

sujeitos que “devem” olhar para si mesmo, se autoavaliar, refletir sobre seus atos, expor suas sensações, suas dores, seus erros, seus julgamentos. Mais do que isso: sujeitos que devem confessar, sobretudo sua intimidade amorosa e sexual. Todo esse aparato das “tecnologias do eu” teria a função de produzir um intenso voltar-se sobre si mesmo, o governar-se, mas sempre atrelado ao governo do outro: nós nos confessamos para que o outro, o especialista (mesmo que seja um apresentador de TV, alçado a essa condição), nos devolva a “nossa verdade””. (116)

Page 8: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

2- Categorias relativas à linguagem stricto sensu da mídia, particularmente da TV.

Categorias referidas às “tecnologias do eu”

Categorias referidas à “televisibi l idade”

•Confissão (dos erros, da intimidade, da vida amorosa, da sexualidade, dos desejos);•Culpabilização

•Autorreferência;•Repetição;•Aval de especialistas; Informação “didática”;

•Moralização das práticas (“Lições de moral”);•Exemplo de vida; •Autoavaliação;

• Reprodução do senso comum de um modelo de “escolarização”; •Opção por um vocabulário “facilitado”;

•Autotransformação: do corpo e da alma; •Governo de si pelo governo do outro

•Reiteração do papel social da TV; •Caracterização da TV como lugar da “verdade ao vivo”, da “realidade”; •Transformação da vida em espetáculo; •Identificação da TV como “paraíso dos corpos” jovens e belos.

Page 9: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

As estratégias “captam os telespectadores na sua intimidade,, produzindo neles, muitas vezes a possibilidade de se reconhecer naquelas verdades ou mesmo de se autoavaliar ou autodecifrar com relação àquele tema”. (118)

“nossa sociedade investe em determinados modos de conhecer a verdade dos indivíduos, de fazê-los falar de si mesmos, de constituí-los de certa forma, de “atar” comportamentos e atitudes, bem como formas de existência dos corpos sociais e individuais, a algumas “verdades” que passam a ser “nossas verdades”, a verdade de cada um”. (119)

Page 10: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

Tratam-se de “técnicas que olhamos e que “nos olham”, na medida em que, a partir de nossa experiência com a televisão, nos convidam, nos capturam e nos ensinam modos de existir hoje, num tempo em que, como afirma Deleuze, “o poder investe cada vez mais em nossa vida cotidiana, nossa interioridade e individualidade””. (119)

Page 11: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

Ex. erótica – intimidade entre apresentadora e público, especialista-mão explica e público “confessa”.

Ex. Seriado Mulher: “homens e mulheres – sobretudo elas – têm a sua privacidade “debulhada” diante do grande público”. (120)

Invasão dos especialistas.

Foucault ““alerta para a exposição sistemática da intimidade ao olhar de todos”, sem que isso venha a se tornar um “bem comum”, ao contrário do que ocorria entre os gregos e os clássicos, em que a singularidade do sujeito estava ligada aos investimentos que ele fazia no sentido de se aperfeiçoar”. (122)

Page 12: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

“A exposição aqui se refere ao entendimento de que a verdade será tão mais verdadeira quanto mais exaustivamente for falada, como se houvesse sempre algo a buscar “no fundo” dos indivíduos, como se eles escondessem tesouros que cotidianamente devem ser abertos à vitrine da TV”. (122)

Busca da felicidade que seria alcançada pelo gesto de dizer tudo.

A mulher é predominante nas formas de confissão na TV.

Page 13: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

“não há um tipo-padrão de confissão: mas talvez o que estamos aprendendo em nossa cultura – a de que se tornou impossível dizer não “à ordem cultural de confessar””. (124)

“todas as técnicas e procedimentos de “fazer falar”, nas diversas formações sociais, antes de simplesmente aliviarem o falante de seu suposto sofrimento, vão produzindo, ali mesmo, no exercício daquela prática, identidades inventadas culturalmente”. (124)

Efeito de repetição na mesma mídia e em outras.

Page 14: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

Vida como espetáculo, com corpos jovens, limpos, belos. Há trilhas sonoras. “Há que haver o governo das nossas vontades e desejos mais íntimos, mais privados”. (126)

A TV “narra, ela tece essas histórias, seleciona estratégias de linguagem pelas quais edita vidas, aponta caminhos, ensina modos de ser, espetaculariza o humano, a qualquer preço”. (127)

Page 15: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

A TV incorpora o papel de mãe-educadora. “Agora o papel social desse veículo se amplia e se

reveste de uma “seriedade” antes desconhecida”. (128)

Ex. Nossa língua portuguesa. “na própria materialidade discursiva da televisão

vivem e transpiram práticas e saberes atrelados a sofisticadas relações de poder, os quais participam efetivamente da produção de sujeitos, da constituição de identidades de criança, menino, menina, mulher, homem, aprendiz, negros...”. (129)

Page 16: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

A linguagem dos anúncios publicitários torna-se matriz de um tipo de linguagem presente em variados produtos televisivos.

Pedagogização da mídia: comercial de um lado e de outro lado, seleções “que incorporam a lógica da repetição, a velocidade sempre maior na apresentação dos fatos, pessoas e acontecimentos, a insistente publicização da vida privada, o elogia da vida e da morte como espetáculo, a recorrência circular da mídia em relação à própria mídia, o recurso ao sentimentalismo e à exposição reiterada de corpos jovens e dentro de um certo padrão de beleza, a redundância da informação.

Page 17: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

“buscamos articular, no caso da pesquisa, aqui referida,, a concepção de “processos de subjetivação” na cultura e, mais especificamente o conceito de dispositivo pedagógico, como também a concepção de televisibilidade”. (131)

“Tal trabalho de aproximação e de intimidade com os materiais televisivos produziu exatamente o que pareceria ser o posto dessa tarefa: um progressivo distanciamento e também um maior domínio sobre aquilo que vemos – que, como assinala Didi Huberman (1998), é também “o que nos olha””. (132)

Page 18: Capítulo 6 - "'Técnicas de si' na TV: a mídia se faz pedagógica”

“configura-se em nossos tempos uma progressiva transformação do espaço e do debate públicos; estes se apoiam bem mais nas experiências singulares, particulares, nas emoções, no exemplo e no sucesso individual, no elogio narcísico do corpo e da narrativa do “eu”, no controle de gestos mínimos, na vigilância de uma sexualidade sempre incitada”. (132)