capítulo 6

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144 TERCEIRA PARTE - CONCEITOS BÁSICOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL prefixos - morfemas derivacionais que se colocam antes do radical: infelie, encapuzar, transformar, subsolo; e sufixos - morfemas derivacionais que se colocam depois do radical: marinho,felicidade, transformação, maciez. 6.9.1.4 O morfema gramatical e seus tipos A expressão morfossintática das categorias gramaticais de gênero, número, pessoa, tempo, modo e aspecto pode ocorrer por adição de elemento fôni- co, ausência de elemento fôníco ou alternância de elemento fôníco, No par mesa I mesas, o plural (mesas) é indicado pela adição de -s (morfema adi- tivo ou segmental) e o singular (mesa) por sua ausência (morfema zero); no parfaz Ifez, a diferença entre o presente (faz) e o passado (fez) é indicada pela alternância das vogais Ia! e lei (morfema alternativo). 6.9.1.5 Classes de palavras e respectivas características Voltemos à frase inicial, Uma pequena aranha está construindo a teia nesta roseira amarela, formada por onze palavras: uma + pequena + ara- nha + está + construindo + a + teia + em + esta + roseira + amarela. Por várias razões, estas palavras têm de ocorrer na frase nesta ordem. Por razão lógica, aranha e teia não podem trocar de posição: a primeira é o agente e a segunda, o paciente. Também por motivo lógico, roseira é a única palavra que pode vir após o em, representando o lugar. Seria muito estranho dizer Uma aranha está construindo a roseira amarela nesta teia, e mais estra- nho ainda dizer Uma teia está construindo a roseira amarela nesta ara- nha. Tudo isso é muito estranho do ponto de vista lógico, mas, do ponto de vista da forma gramatical, nada impede a construção destas frases, porque aquelas três palavras pertencem à mesma classe: substantivo. UMA CLASSE DE PALAVRA É A SOMA DE TRÊS PROPRIEDADES: A) UM MODO DE SIGNIFICAR, B) UM CONJUNTO DE CARACTERÍSTICAS FORMAIS E C) UMA POSIÇÃO ESTRUTURAL NO INTERIOR DA ORAÇÃO. O ASPECTO 'A' CORRESPONDE À SUA ATUREZA LÓGICO-SEMÂNTICA OU SEMIÓTICA (VER 6.5.2), o ASPECTO 'B' DIZ RESPEITO AO SEU PERFIL MORFOSSINTÁTICO (VER 6.5.5) E o ASPECTO 'C' SE REFERE AO SEU CONTEXTO SINTAGMÁTICO (VER 6.5.4) . .9.1.5.1 Classes de palavras segundo o modo de significar ieionalmente, de acordo com o critério lógico-semântico (ou modo de .~car), distinguimos substantivos (palavras que designam, de maneira 'rica ou específica, seres, objetos, entidades, ideias), verbos (palavras

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O capítulo VI, seis , da Gramatica Houaiss apresenta estudos mais aprofundados sobre as formas verbais, seus paradigmas teórico-descritivos e de uso.

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Page 1: Capítulo 6

144 TERCEIRA PARTE - CONCEITOS BÁSICOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL

prefixos - morfemas derivacionais que se colocam antes do radical:infelie, encapuzar, transformar, subsolo; e

sufixos - morfemas derivacionais que se colocam depois do radical:marinho,felicidade, transformação, maciez.

6.9.1.4 O morfema gramatical e seus tiposA expressão morfossintática das categorias gramaticais de gênero, número,pessoa, tempo, modo e aspecto pode ocorrer por adição de elemento fôni-co, ausência de elemento fôníco ou alternância de elemento fôníco, No parmesa I mesas, o plural (mesas) é indicado pela adição de -s (morfema adi-tivo ou segmental) e o singular (mesa) por sua ausência (morfema zero); noparfaz Ifez, a diferença entre o presente (faz) e o passado (fez) é indicadapela alternância das vogais Ia! e lei (morfema alternativo).

6.9.1.5 Classes de palavras e respectivas característicasVoltemos à frase inicial, Uma pequena aranha está construindo a teianesta roseira amarela, formada por onze palavras: uma + pequena + ara-nha + está + construindo + a + teia + em + esta + roseira + amarela. Porvárias razões, estas palavras têm de ocorrer na frase nesta ordem. Por razãológica, aranha e teia não podem trocar de posição: a primeira é o agente ea segunda, o paciente. Também por motivo lógico, roseira é a única palavraque pode vir após o em, representando o lugar. Seria muito estranho dizerUma aranha está construindo a roseira amarela nesta teia, e mais estra-nho ainda dizer Uma teia está construindo a roseira amarela nesta ara-nha. Tudo isso é muito estranho do ponto de vista lógico, mas, do ponto devista da forma gramatical, nada impede a construção destas frases, porqueaquelas três palavras pertencem à mesma classe: substantivo.

UMA CLASSE DE PALAVRA É A SOMA DE TRÊS PROPRIEDADES: A) UM MODO DE

SIGNIFICAR, B) UM CONJUNTO DE CARACTERÍSTICAS FORMAIS E C) UMA POSIÇÃO

ESTRUTURAL NO INTERIOR DA ORAÇÃO. O ASPECTO 'A' CORRESPONDE À SUA

ATUREZA LÓGICO-SEMÂNTICA OU SEMIÓTICA (VER 6.5.2), o ASPECTO 'B' DIZ

RESPEITO AO SEU PERFIL MORFOSSINTÁTICO (VER 6.5.5) E o ASPECTO 'C' SE

REFERE AO SEU CONTEXTO SINTAGMÁTICO (VER 6.5.4) .

.9.1.5.1 Classes de palavras segundo o modo de significarieionalmente, de acordo com o critério lógico-semântico (ou modo de. ~car), distinguimos substantivos (palavras que designam, de maneira'rica ou específica, seres, objetos, entidades, ideias), verbos (palavras

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SEXTO CAPÍTULO: UNIDADES E CATEGORIAS DA GRAMÁTICA 145

que situam no tempo ações, processos e atributos), adjetivos (palavrasque representam atributos, estados e qualidades dos objetos e entidadesnomeados pelos substantivos), pronomes (palavras que se referem aosseres sem discriminá-los no universo designado), numerais (palavras quedenotam quantidades exatas), advérbios (palavras que expressam cir-cunstâncias ou intensidades de atributos e ações), artigos (palavras que,antepostas aos substantivos, apenas informam se as entidades/conceitosque eles designam já são conhecidas ou não), conectioos (palavras que seinterpõem a outras para exprimir relações de sentido), interjeições (pala-vras que se empregam exclusivamente para exprimir atos comunicativoscircunstanciais) .

6.9.1.5.2 Classes de palavras segundo o perfil morfossintáticoSegundo este critério, as diferentes palavras se enquadram em classes am-plas ou paradígmas morfossintáticos. O paradígma morfossintático é a somade um certo subconjunto de categorias - dentre as categorias de gênero, nú-mero, pessoa, tempo, modo e aspecto - e respectiva expressão rnórfica, àsquais as classes de palavras estão sujeitas. Há em português quatro gruposou paradígmas morfossintáticos.

O primeiro grupo se caracteriza pelo conjunto das categorias de tem-po (moro (presente) X morava (passado)), aspecto (morava (imperfeito)X morei (perfeito)), modo (morava (indicativo) X morasse (subjuntivo)),número (mora (singular) X moram (plural)) e pessoa (moro (1" pessoa) Xmora (33 pessoa)). Este grupo reúne exclusivamente os verbos.

O segundo grupo é caracterizado pelo conjunto das categorias de núme-ro (gato /gatos, branco / brancos, o / os, algum / alguns, cujo / cujos, o qual/os quais) e gênero (gato / gata, branco / branca, o / a, algum / alguma, cujo/ cuja, o qual / a qual, duzentos / duzentas). Este grupo reúne o substantivo,o adjetivo, o artigo, o numeral e os pronomes indefinidos e relativos.

O terceiro grupo é caracterizado pelo conjunto das categorias de pes-soa (eu / ele, meu / seu, este / aquele), gênero (ele / ela, meu / minha, este /esta) e número (ele / eles, meu / meus, este / estes). Este grupo compreendeos pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos.

Os pronomes pessoais ocupam um lugar à parte no terceiro grupo de-vido à existência de unidades morfossintáticas distintas para os papéis sin-táticos do sujeito/predicativo (eu, ele, nós), do complemento adverbial (me,o/lhe, nos) e do complemento preposicional (mim).

O quarto grupo é caracterizado pela invariabilidade rnorfológíca de seusmembros e reúne a preposição, a conjunção, o advérbio e a interjeição.

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146 TERCEIRA PARTE - CONCEITOS BÁSICOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL

6.9.1.5.3 Classes de palavras segundo o contexto sintagmáticoDo ponto de vista sintagmátíco, as palavras são nomes, verbos, adjetivos,advérbios, de terminantes , coordenantes e subordinantes. Estas classes sediferenciam por suas características combinatórias e pela posição que ocu-pam na hierarquia gramatical interna da oração. O nome é a base do sujeito,e o verbo a base do predicado (João/Ele [nome] viajou [verbo]). A maioriados nomes pode vir precedida de outras palavras, os determinantes, e se-guida de adjetivos (aquela outra [determinantes] árvore [nome] frondosa[adjetivo]). Os advérbios servem para acompanhar verbos (João/Ele [nome]viajou [verbo] ontem [advérbio]), adjetivos (João está muito [advérbiolfeliz[adjetivo]), ou outro advérbio (João acorda muito [advérbio] cedo [advér-bio]). Coordenantes ligam palavras ou construções da mesma função (João[sujeito] e Paulo [sujeito] viajaram). Subordinantes dão origem a síntagmasderivados, habilitando-os a novas funções (doce [base] de leite [modifica-dor]; quero [base] que você volte [complemento]) (cf. décimo capítulo).

6.9.1.6 Formação e classificação dos sintagmasTemos visto que os constituintes da oração são os sintagmas. Assim comoas palavras se distribuem em classes segundo a posição que ocupam no in-terior dos sintagmas, assim também os síntagmas se distribuem em classessegundo a posição que ocupam diretamente na oração ou em outros síntag-mas mais amplos.

Distinguiremos cinco classes de sintagmas: o síntagma nominal (SN),o síntagma verbal (SV), o síntagma adjetival (SAdj.), o sintagma adver-bial (SAdv.) e o síntagma preposicional (SPrep.). Esta é uma classificaçãoao mesmo tempo mórfica, baseada na classe de palavra que tipicamentepreenche o síntagma ocupando seu núcleo, e funcional, por dizer respeitoà posição do síntagma na estrutura da oração.

Os síntagmas podem ser básicos ou derivados. Chamam-se básicos ossíntagmas formados por uma classe de palavra apta a constituir por si só orespectivo síntagma. São básicos, portanto, o SNformado de substantivo oupronome substantivo, o SAdj. formado por adjetivo e o SAdv. formado poradvérbio. Chamam-se derivados os síntagmas criados por meio de transpo-sição (ver 14.7).

Os síntagmas preposicionais são sempre síntagmas derivados, vistoque não podem ser formados somente pela preposição, embora devam aela a respectiva classe. Eles se formam regularmente na língua, e estão ap-tos a ocupar posições variadas na construção dos enunciados - exceto asnucleares de sujeito e predicado -, especialmente nas mesmas funções dossintagmas adjetivais e dos síntagmas adverbiais.

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Além dos síntagrnas preposicionais, são derivados os síntagmas nomi-nais, adjetivais e adverbiais formados também por transposição de orações(ver 14.7 e 14.8).

6.9.1.6.1 Sintagma nominal (SN)39Ao construir oS, o enunciador seleciona as informações que são necessáriaspara tomar aquilo de que fala suficientemente identificável por parte do inter-locutor. Se a coisa que o enunciado r quer dar a conhecer a seu leitor/ouvinte éum certo objeto que marca horas, esta coisa pode ser designada como relógio.Se a uma pergunta como Pode me dizer as horas?, o interpelado respondesseDesculpe; eu não uso relogio., estaria identificando o objeto apenas em suaexistência conceitual, aquilo que ele tem de comum a todos os relógios, reaise possíveis. este caso, o conteúdo léxico da palavra é suficiente para a co-municação. Se, entretanto, o enunciador mentalizasse uma referência menosgeral e a quisesse comunicar ao interlocutor, seguramente teria de fazer certasescolhas para delimitar melhor o alcance de sua referência:

a) qualquer relógio,b) meu relógio,c) este relógio,d) o outro relógio,e) um relógio de parede,f) o relógio da parede,g) aquele relógio herdado de meu avô,h) algum relógio que me desperte às 7 horas.

Tanto a unidade formada de uma só palavra - relógio - quanto asconstruções relacionadas de 'a' a 'h' são síntagmas nominais. O primeiroresume-se a seu núcleo, todos os demais resultam da expansão desse nú-cleo, que, sendo um nome (substantivo), projeta sua classe para a classe daconstrução: síntagma nominal. Mas em cada um deles o conceito genéricorelógio participa de uma referencíação distinta, de sorte que a 'coisa desig-nada' passe a ser um objeto de conhecimento passível de identificação pelointerlocutor.

Construir uma referência - seja ampla e genérica (relógio), seja restri-ta e específica (o relógio herdado de mev- avô) - é, portanto, a função co-municativa do SN.Às vezes esta referência é realizada com o máximo graude precisão por uma única palavra capaz de constituir por si só um SN e

39 HERNANZ, Maria Lluisa e BRUCART, José Maria. "EI Síntagma Nominal". In: HERNANZ e BRUCART[1987: 142-209]; LIBERATO, Yara Goulart. "A Estrutura Interna do SN em Português". In: DECAT etalii [2001: 41-102]; BRITO, Ana Maria. "O Sintagma Nominal". In: MATEUS et alii [2003: 32 -370}.

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148 TERCEIRA PARTE - CONCEITOS BÁSICOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL

denotar um referente individual, concreto e definido: o substantivo próprio(Chegaram de Portugal).

Os exemplos apresentados na lista acima são típicos de configura-ções do SN cujo núcleo é preenchido pela subclasse de nomes conhecidoscomo substantivos comuns. Existem outras subclasses de nomes, cujasdiferenças acarretam diferentes configurações do SN, como se verá nodécimo capítulo.

6.9.1.6.2 Sintagma verbal (SV)O sintagma verbal é a base da estrutura oracional. Sem ele não há oração,e as variações de molde estrutural da oração (cf. abaixo), que detalharemosno nono capítulo, são devidas às diferentes subclasses do núcleo formal doSV: o verbo. Assim como o SN pode ser formado apenas por seu núcleo,também o SVpode ser constituído tão somente pela forma verbal: João via-jou. As expansões do SV também dependem da natureza sintático-semân-tica do verbo que lhe serve de núcleo. Verbos como viajar, vender, estar edeixar têm características sintático-semânticas bem diversas, responsáveispor diferentes moldes estruturais para as orações que integram, como sepode comprovar a seguir:

a) João viajoub) João vendeu seu carroc) João estava em casad) João estava tranquiloe) João estava viajandof) João deixou a cidadeg) João deixou os documentos no carroh) João deixou o cachorro fugiri) João deixou dinheiro para as compras

6.9.1.6.3 Sintagma adjetivo (SAdj.)O síntagma adjetivo tem por núcleo um adjetivo: João estava tranquilo Ieus filhos são crianças tranquilas. Percebe-se por estes exemplos que

o SAdj. pode ser constituinte de um SV (estava tranquilo) ou de um SNcrianças tranquilas). O SAdj. pode ser expandido por meio de consti-ruintes anexados a seu núcleo. O tipo de expansão depende da naturezaléxico-sintática do núcleo do SAdj. Por exemplo, certos adjetivos admitem

adação, de sorte que a expansão do SAdj. pode se realizar pelo acréscimode intensíficadores: João estava muito I bastante tranquilo. Há adjetivos,porém, que recebem complementação: João estava confiante na vitóriade seu time. Um segundo tipo de expansão do SAdj. por meio de comple-

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SEXTO CApITULO: UNIDADES E CATEGORIAS DA GRA~lÜ1C.\ 1-

mentação consiste em fazer do seu núcleo o ponto de referência de umacomparação, na qual o adjetivo vem precedido dos intensificadores tão,mais ou menos (João estava mais / menos tranquilo (do) que seu irmão;João estava tão tranquilo quanto seu irmão).

6.9.1.6.4 Sintagma adverbial (SAdv.)O síntagma adverbial tem por núcleo um advérbio. Sua construção se as-semelha em vários aspectos à do SAdj. Por ora nos referiremos apenas aosSAdvs. que funcionam como recurso de expansão de um SV:João viajouontem / João acordou cedo / João trabalhava aqui / João entrou tranqui-lamente na igreja). Certos advérbios são passíveis de intensificação (Joãoacordou muito cedo / João acordava mais cedo que seu irmão).

6.9.1.6.5 Síntagma preposicional (SPrep.)O sintagma preposicional é desprovido de um núcleo, já que a unidadeque o caracteriza - a preposição - jamais ocorre isolada. O SPrep. é umaconstrução extremamente versátil do ponto de vista sintático (pode ocu-par as posições tanto do SAdj. quanto do SAdv.:João trabalhava de ma-nhã / cedo; Este vinho é do Chile / chileno) e do ponto de vista semântico,por conta das diferenças entre as preposições e da polissemia de certaspreposições (Voltei de Petrópolis / Voltei de ônibus / Voltei de manhã). Aformação padrão do SPrep. consiste na combinação entre uma preposiçãoe um SN. Excepcionalmente combina-se a preposição de com um adjeti-vo, para a expressão de uma causa (Caiu de podre, Dormiu de cansado[cf. Dormiu de cansaço D.

6.9.2 Subordinação e coordenaçãoO princípio fundamental da estruturação sintática é a combinação das uni-dades livres - palavras, sintagrnas e orações. A coordenação consiste emcombinar duas ou mais unidades livres sintaticamente equivalentes (Joãoe Paulo, Quer o café com açúcar ou com adoçante?, Comprou a roupamas não a usou). A subordinação consiste em combinar duas unidades li-vres, geralmente de classes diferentes, de modo que uma delas sirva de baseà construção e a outra seja sua expansão (Areia branca, Comprei frutas).Nestes exemplos, respectivamente um SN e um SV,a classe da construçãoé definida pela parte sublinhada (areia [nome], comprei [verbo]), que lheserve de base, enquanto a parte em itálico, de classe diferente da base, servepara expandir o síntagma. Este tema será desenvolvido no segmento quevai do oitavo ao décimo quarto capítulo.

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150 TERCEIHA PARTE - CONCEITOS BÃSICOS DA DESCRiÇÃO GRAMATICAL

6.9.3 Funções sintáticasPalavras e síntagmas são as únicas espécies de unidades aptas a desempe-nhar uma função sintática. Para tanto, é necessário que estejam contidasnuma construção maior a cuja base se anexam. Se esta construção é umaoração, sua base é o SV, que funciona como predicado (Este relógio per-tenceu ao meu avô), e o S anexo a esta base funciona como sujeito (Esterelógio pertenceu ao meu avô). Se a construção é um SV, sua base é overbo e os sintagmas anexos a esta base podem ser complementos (obje-to direto, objeto indireto, predicativo) ou adjuntos (adjunto adverbial demodo, de tempo, de lugar etc.). Se a construção é um S ,sua base pode serum substantivo comum a que se pode anexar um adjunto (adjunto adno-minal) ou um complemento (complemento nominal). As funções sintáticassão, portanto, posições estruturais preenchidas por palavras e síntagmas nahierarquia interna da oração (ver 6.8). Com exceção do sujeito, todas asfunções sintáticas constituem expansões de um núcleo, tal como foi descri-to no item anterior ao tratarmos do conceito de subordinação.

6.10 COLOCAÇÃO, REGÊNCIA E CONCORDÂNCIANo item 6.9.2 defini subordinação como o processo que "consiste emcombinar duas unidades livres, geralmente de classes diferentes, de modoque uma delas sirva de base à construção e a outra seja sua expansão". Aunidade que 'expande' a base da construção é uma unidade subordinada.A condição de unidade subordinada explícita-se de três maneiras: pelaposição, pela variação morfossintática e pelo uso de coriectivos. Diz-seque a base da construção rege a unidade que a expande. Segundo estaacepção ampla de regência, o substantivo rege seus determinantes bemcomo os adjetivos que se referem a ele, írnpondo-lhes seus traços de gê-nero e número (concordância nominal); o verbo, quando transitivo, regeseus complementos, irnpondo-lhes um certo posicionamento (A meninaleu a carta, e não ':'Amenina a carta leu) ou uma dada forma, como ada alternância ela/a em A menina l= ela] leu a carta / O menino beijoua menina [= a]. Por sua vez, a preposição rege sintagrnas nominais, que,representados por pronomes pessoais, assumem formas propícias a essaposição: eu passei por ela, mas ela passou por mim. Segundo a formu-lação que acabamos de apresentar, um termo A rege um termo B sempreque a presença de B no contexto da oração depende da presença de A;em muitos casos, a própria forma de B é determinada por sua relaçãocom A. Em sentido estrito, ocorre regência quando A requer a anexaçãode B, de sorte que B exerce o papel sintático de complemento de A. Se Aé um verbo, temos regência verbal, e o verbo se chama transitivo; se A é

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um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, temos regência nominal. Ocomplemento do verbo se chama objeto direto, objeto indireto ou com-plemento relativo. O complemento dos demais termos se chama com-plemento nominal. O ponto de vista normativo na abordagem gramaticaldedica especial atenção à seleção da preposição que estabelece o elo entreo termo A e o termo B: ser passível de punição, ter interesse em/por an-tiguidades, incumbir alguém de uma tarefa.

Algumas dessas preposições são previsíveis graças à relação de sentidoque explicitam, mas o mais comum é que elas ocorram associadas ao verbo,ao adjetivo ou ao substantivo (consistir em, independente de, preferên-cia por), aos quais se agregaram como uma espécie de apêndice. Por isso,nossas gramáticas normativas optam por listar esses verbos, adjetivos esubstantivos seguidos das respectivas preposições. Este procedimento temsérias limitações, já que nenhuma lístagem poderá ser exaustiva, mesmoporque não compete à gramática prover informações idiossincráticas sobreo uso da língua. Esta tarefa compete aos dicionários.