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Capítulo 4 Geoprocessamento como Instrumento no Processo Fisioterapêutico no Cuidado da Criança Adriano Zanardi da Silva * , Luize Bueno da Araujo e Vera Lúcia Israel 1. Introdução Vocˆ e j´ a imaginou se pudesse saber onde est˜ ao as informa¸ oes que vocˆ e precisa quando quisesse tomar uma decis˜ ao? Por exemplo, se precisasse comprar algum produto e, ao abrir um caderno, tivesse a lista de pre¸cos de todos os mercados para saber em qual ir antes de sair de casa? Pois bem, ´ e isso que muitas vezes algumas institui¸c˜ oes tentam fazer ao realizar um mapeamento dos locais. Isso acontece na gest˜ ao municipal, estadual e federal. Levantamentos ao feitos em rela¸c˜ ao ao umero de habitantes, renda, escolaridade, doen¸ cas, preferˆ encias, etc. Tais estudos tˆ em como objetivo conhecer as regi˜ oes e o perfil de quem mora ali, para que as melhores tomadas de decis˜ oes sejam feitas no momento de decidir como ser˜ ao feitos os investimentos e quais s˜ ao as prioridades mais urgentes. Que tal conhecer um pouco melhor como funciona todo esse processo e como ele pode ser aplicado na sa´ ude da crian¸ ca de 0 a 5 anos? Veja a seguir... 2. Geoprocessamento em Saúde O uso de computadores para realizar um mapeamento na ´ area da sa´ ude ´ e algo novo, mesmo em ˆ ambitos mundiais. Tal limita¸ ao se dava pelo alto custo de implanta¸ ao dos projetos, bem como pelas dificuldades de montagem de bancos de dados. No entanto, a partir dos anos 90, houve uma grande evolu¸ ao na ´ area, com um aumento do n´ umero de usu´ arios destes sistemas para o mapeamento digital, sendo poss´ ıvel a constru¸ ao de mapas tem´ aticos (Nardi et al., 2013). O mundo, atualmente, encontra-se em um per´ ıodo de grande evolu¸ ao industrial e econˆ omica. Para acompanhar essa evolu¸c˜ ao, a popula¸ ao * Autor para contato: [email protected] Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.04 ISBN 978-85-64619-19-7

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Capítulo 4

Geoprocessamento como Instrumento noProcesso Fisioterapêutico no Cuidado da Criança

Adriano Zanardi da Silva∗, Luize Bueno da Araujo e Vera Lúcia Israel

1. Introdução

Voce ja imaginou se pudesse saber onde estao as informacoes que voceprecisa quando quisesse tomar uma decisao? Por exemplo, se precisassecomprar algum produto e, ao abrir um caderno, tivesse a lista de precos detodos os mercados para saber em qual ir antes de sair de casa? Pois bem,e isso que muitas vezes algumas instituicoes tentam fazer ao realizar ummapeamento dos locais.

Isso acontece na gestao municipal, estadual e federal. Levantamentossao feitos em relacao ao numero de habitantes, renda, escolaridade,doencas, preferencias, etc. Tais estudos tem como objetivo conheceras regioes e o perfil de quem mora ali, para que as melhores tomadasde decisoes sejam feitas no momento de decidir como serao feitos osinvestimentos e quais sao as prioridades mais urgentes. Que tal conhecerum pouco melhor como funciona todo esse processo e como ele pode seraplicado na saude da crianca de 0 a 5 anos?

Veja a seguir...

2. Geoprocessamento em Saúde

O uso de computadores para realizar um mapeamento na area da saudee algo novo, mesmo em ambitos mundiais. Tal limitacao se dava peloalto custo de implantacao dos projetos, bem como pelas dificuldades demontagem de bancos de dados. No entanto, a partir dos anos 90, houveuma grande evolucao na area, com um aumento do numero de usuariosdestes sistemas para o mapeamento digital, sendo possıvel a construcao demapas tematicos (Nardi et al., 2013).

O mundo, atualmente, encontra-se em um perıodo de grande evolucaoindustrial e economica. Para acompanhar essa evolucao, a populacao

∗Autor para contato: [email protected]

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.04 ISBN 978-85-64619-19-7

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em geral assume diversos padroes culturais, produtivos e de consumo.Com isso, os indivıduos, em seu dia-a-dia, sao expostos as maisdiversas situacoes, condicoes e ambientes. No entanto, nem todas asexperiencias vividas sao favoraveis, podendo levar o sujeito a situacoes devulnerabilidade. Sao nesses momentos em que sao expostas as diferencassociais causadas pela grande evolucao e situacao economica mundial (Souzaet al., 2012).

Em cidades com menor densidade populacional, como Matinhos,localizada no litoral do Estado do Parana, no Brasil, podemos perceberque os espacos estao sendo transformados pelo ser humano. Porem,ainda conseguimos distinguir os espacos urbanos dos espacos rurais(DATASUS, 2016). Nos espacos urbanos, onde encontramos a maiorconcentracao humana, percebemos que os seus centros dominam os recursosdestinados a todas as areas: saude, educacao, seguranca, saneamentobasico. Enquanto as regioes perifericas, mesmo das areas urbanas, ficama merce da precariedade e falta de acesso. Todas as areas citadas, queconstituem quase que exclusividade das regioes centrais, desempenhamfuncoes essenciais na vida dos cidadaos (DATASUS, 2016).

Os mapas tematicos sao instrumentos poderosos na analise espacial dorisco de determinada doenca, pois apresentam as seguintes caracterısticas:descrevem e permitem a visualizacao da distribuicao espacial do evento;exploracao das informacoes, sugerindo os determinantes locais do eventoe fatores etiologicos desconhecidos que possam ser formulados em termosde hipoteses e apontar associacoes entre um evento e seus determinantes(Malta et al., 2001).

O georreferenciamento e uma ferramenta que permite a analise e umaavaliacao de riscos a saude coletiva, particularmente as relacionadas como meio ambiente e com o perfil socioeconomico da populacao, enquanto ogeoprocessamento e o conjunto de tecnicas de coleta, tratamento e exibicaode informacoes referenciadas em um determinado espaco geografico (Hinoet al., 2006).

A apresentacao grafica, por meio do mapa, torna a informacaomais acessıvel, inclusive para a populacao, e pode ser estrategiapara a democratizacao do conhecimento. Geralmente, em regioesmuito proximas encontramos diferencas nas condicoes socieconomicas,e perfil epidemiologico, por isso e necessario a construcao de mapasdinamicos, criando fluxo permanente de monitoracao da saude no territorio,contribuindo para a avaliacao das polıticas publicas (Ferreira et al., 2012).

O trabalho de mapeamento geografico abre espaco para outras areasque podem ser beneficiadas com o trabalho, que podem usufruir do projetoja feito e promoverem mais benefıcios a comunidade (Chiesa et al., 2002).

O ambiente dos Sistemas de Informacoes Geograficas (SIG) oferecemargem a integracao de informacoes diversas, as quais poderaoproporcionar visao mais abrangente da situacao no espaco. No entanto,

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a avaliacao do pesquisador e imprescindıvel, pois nao ha mecanismoautomatico para a interpretacao dos resultados construıdos. A aplicacao doSIG na pesquisa em saude oferece grandes possibilidades, possibilitando aospesquisadores aplicacao de novos metodos para o manejo de sua informacaoespacial, tornando-se uma poderosa ferramenta para conexao entre saudee ambiente (Hino et al., 2006).

O SIG possui capacidade para acessar e integrar diferentes nıveis deinformacoes (vetoriais, raster, superfıcie, dados de campo e enderecos),permite a apresentacao e associacao dos dados de diferentes formas(tabelas, graficos e mapas tematicos) e possibilita o mapeamento, a exibicaoe a analise espacial dos dados relevantes para o processo de territorializacao.Alem disso, o sistema manipula os dados como os demais sistemas deinformacao e possui uma caracterıstica marcante de interligar atributosnao espaciais a dados espaciais (Carvalho et al., 2000).

O SIG, entendido como tecnologia utilizada para o processamentode informacoes advindas de varias fontes, permitem a visualizacaosocioambiental de um determinado espaco geografico e possibilitam a suadescricao e analise (Chiesa et al., 2002).

Hau et al. (2009) explicam que os metodos de analise espacial nasaude vem sendo usados principalmente em estudos ecologicos, paradeteccao de aglomerados espaciais ou espaco-temporais, na avaliacaoe monitoramento ambiental e vem sendo aplicados ao planejamento eavaliacao de uso de servicos de saude, buscando identificar espacialmenteareas com caracterısticas especıficas, a fim de subsidiar programas oupolıticas voltadas para a melhoria da saude materno-infantil, e visandoaumentar a eficiencia na utilizacao de recursos publicos, definindo areasprioritarias de atuacao (Silva, 2013).

3. O Papel da Fisioterapia no Desenvolvimento Infantil

Albuquerque et al. (2011) apontam que o desenvolvimento infantil dependedas aquisicoes de aprendizado que emergem na medida em que a criancase envolve ativamente com os ambientes fısico e social de seu cotidiano.O processo de desenvolvimento caracteriza-se por mudanca permanentena forma como estas criancas percebem e lidam com o ambiente. Nessaperspectiva ecologica, o desenvolvimento infantil influencia e e influenciadoativamente pelas transacoes da crianca com o meio em que vive. Assimcomo Ferreira et al. (2011) citam que o Desenvolvimento Neuropsicomotor(DNPM) refere-se as constantes mudancas e adaptacoes pelas quaisa crianca passa do nascimento ate o fim da vida. Tais mudancasestao relacionadas aos processos de maturacao, e englobam os aspectosindividuais da crianca, as experiencias adquiridas e sua interacao com oambiente (Ferreira et al., 2011).

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Durante o desenvolvimento a escola e o ambiente que mais forneceexperiencias de formacao, relacionando-se com todos os componentes dodesenvolvimento humano (fısico, cognitivo, emocional). Na escola ascriancas adquirem novos conhecimentos e habilidades, alem de um maiorconvıvio e interacao social (Papalia et al., 2009).

A avaliacao de criancas na faixa etaria pre-escolar e escolar eextremamente necessaria para a deteccao de possıveis atrasos nodesenvolvimento (Haywood & Getchell, 2010). Caso haja suspeita dealgum tipo de atraso, e necessario o encaminhamento destas criancaspara profissionais especializados, como fisioterapeutas e psicologos, paraa formulacao de um tratamento adequado. As intervencoes psicomotorasvisam a estimulacao precoce e prevencao de atrasos no desenvolvimentopor meio de atividades ludicas.

No Brasil, a saude da crianca tem enfoque no acompanhamento docrescimento e desenvolvimento infantil, incentivo ao aleitamento materno,orientacao da alimentacao da crianca, imunizacao, prevencao de acidentese atencao as doencas prevalentes na infancia. Essas praticas constituemelementos essenciais para proporcionar boas condicoes de saude na infancia(Falbo et al., 2012). O acompanhamento de criancas e do processo deDNPM reune diferentes modalidades de triagem e avaliacao, que incluempais, professores, fisioterapeutas, pediatras e demais profissionais. Nesseprocesso e utilizada a anamnese, a observacao da crianca em seu ambiente,a pratica de atividades ou, ainda, a aplicacao de instrumentos de triagem(Zeppone et al., 2012).

O acompanhamento do desenvolvimento infantil deve ser em todosos nıveis de atencao, desde a primaria, com atividades de promocao dodesenvolvimento tıpico e da deteccao precoce de problemas ou alteracoes.Diante disso, afirma-se que os profissionais de saude devem possuirconhecimentos basicos sobre o desenvolvimento infantil, para que possamfazer o seu acompanhamento de forma sistematica para todas as criancassob sua responsabilidade, a fim de decidir se ha um problema para serinvestigado e qual tratamento adequado (Figueiras et al., 2005). A deteccaode possıveis riscos em criancas, usando uma abordagem mais ampla,contempla analise dos fatores de risco que contribuem para as desordensda crianca, tornando-a suscetıvel ao enfrentamento das tarefas cotidianas.Os riscos ao desenvolvimento podem estar presentes na propria crianca,como fatores geneticos, fısicos e psicologicos, ou no ambiente, como o nıvelsocioeconomico e cultural, acesso e escolaridade (Mengel & Linhares, 2007).

Alguns estudos vem demonstrando (Brito et al., 2011; Albuquerqueet al., 2011) que as dificuldades no desenvolvimento de criancas que iraofrequentar o ensino fundamental (pre-escolares) podem comprometer odesempenho escolar e, futuramente, atividades academicas ou profissionais.Assim sendo, a epidemiologia surge na area infantil avaliando as condicoesambientais vinculadas aos fatores sociais, economicos, de atencao a

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saude e comportamentais da mae na gestacao, sempre a levar emconsideracao a indissociabilidade dos fatores citados e o potencial de acaosobre o desenvolvimento da crianca (Brito et al., 2011). Portanto, oprofissional fisioterapeuta deve ser capaz de identificar sinais de alerta dodesenvolvimento infantil, identificar os fatores que causam estes problemase formular intervencoes para cada fator, aplicando-as e verificando suaeficacia (Oliveira et al., 2012).

4. Geoprocessamento: Experiência da Fisioterapia noMunicípio de Matinhos

O litoral do Parana e uma das regioes menos desenvolvidas do Estado epossivelmente da Regiao Sul do Brasil. A area em questao abrange setemunicıpios localizados na faixa litoranea, maior reserva de Mata Atlanticado paıs. Os municıpios que compoem a regiao sao: Antonina, Morretes,Guaraquecaba, Paranagua, Pontal do Parana, Matinhos e Guaratuba.

A cidade de Matinhos, localizada no litoral paranaense, conhecida como“namorada do Estado do Parana” pela beleza natural e por ser fundada nomesmo dia em que comemora-se o dia dos namorados (12 de junho), possuiatualmente aproximadamente 33.000 habitantes e uma area territorial de116.544 Km (DATASUS, 2016).

Matinhos possui uma renda media domiciliar per capita de R$ 799,40.Taxa de mortalidade infantil de 23,61 mortos a cada mil nascidos vivos.Apresenta uma taxa de analfabetismo de 15 anos ou mais de 4,23%,superior a de Curitiba, capital do Estado, que e de 2,13%. Seu Indicede Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,743, enquanto o de Curitiba e de0,823 (DATASUS, 2016).

De acordo com a Secretaria Estadual de Educacao (SEED), no ano de2015, o municıpio apresentava 671 alunos matriculados em creches, 846alunos na pre-escola, 5193 alunos no ensino fundamental e 1412 no ensinomedio, perfazendo um total de 8.122 escolares (DATASUS, 2016).

Em media, as criancas iniciam sua vida academica na creche aos 2anos, porem pode ser antes, pois os Centros de Educacao Infantil (CEIs)admitem criancas a partir de 6 meses de idade. A partir dessa faixa etariaate os 6 anos, o municıpio possui 2.189 criancas habitantes, porem, namesma faixa etaria, possui 1439 matriculadas na rede publica de ensino,e 35 na rede privada, totalizando 1474 criancas matriculadas (DATASUS,2016).

Atualmente nao existe um sistema de acompanhamento doDesenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) de criancas escolares, mesmoa nıvel nacional. A Universidade Federal do Parana - Setor Litoral,com o curso de Fisioterapia, realizou diversas atividades formativasvoltadas para avaliacao, intervencao e educacao em saude nos Centros

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de Educacao Infantil (CEI’s) e nas Escolas Municipais de Matinhos/PR,bem como Projetos de Extensao, Iniciacao Cientıfica, Trabalhos deConclusao de Curso voltados para esta area, atividades formativas, etc.Em todas as atividades foram realizados feedbacks (devolutivas) sobre oprojeto realizado, os dados obtidos e conversas com os profissionais dosestabelecimentos de educacao, famılia das criancas e comunidade escolarem geral.

No entanto, muitos desses dados acabam se perdendo durante processosde trocas de gestao (a nıvel de turmas, escolar ou mesmo municipal)ou sao engavetados, fazendo com que nao se aproveite o conhecimentoe a informacao gerada. Com a criacao de um sistema eletronico deacompanhamento, seria possıvel verificar, por exemplo, se uma criancamelhorou em uma avaliacao motora que em algum momento ela apresentoualguma dificuldade. Ou mesmo se uma escola em que a maioria dascriancas apresenta dificuldades em determinada area do desenvolvimento,com a criacao de algum tipo de atividade extra, conseguiu melhorar essesresultados.

Um projeto de pesquisa (iniciacao cientıfica) com essa intencao foicriado como oportunidade para que se iniciasse este pensamento deacompanhamento em longo prazo. Foi realizado, ate o momento, alem dasavaliacoes do DNPM, a criacao de um mapa tematico da regiao (Figura 1),com a insercao dos CEIs, no qual quatro CEIs foram avaliados e inseridos(CEI 1, CEI 2, CEI 3 e CEI 4), suas caracterısticas fısicas (dimensoes,espacos disponıveis, numero de alunos e professores) e os resultados dasavaliacoes citadas, podendo ser acessados ao escolher um CEI e clicar sobreo mesmo (Figura 2).

Todas as estrategias para abordagem da relacao entre saude eambiente sao, no entanto, desenvolvidas a partir de hipoteses previamenteestabelecidas. A fonte ou agente de risco sao conhecidos e estudam-se suas consequencias sobre a saude. Em seguida, o lugar e conhecido(CEIs) e estuda-se a relacao entre variaveis ambientais, socio-economicas ede saude. Feito isso, o agravo e sua etiologia sao conhecidos e estuda-se sua relacao com fatores ambientais (estudos de acompanhamento,longitudinais). Assim, os criterios utilizados para regionalizacao saodeterminantes e sao consequencias do proprio processo de analise de dadosepidemiologicos, isto e, seu resultado (Barcellos & Bastos, 1996).

Muitas discussoes, questionamentos e abordagens foram abordados nosoutros capıtulos deste livro, aprofundando mais a questao do DNPM esuas peculiaridades. O objetivo deste capıtulo foi levantar e a necessidadeda continuidade e expansao de estudos que envolvam o mapeamento emsaude. Mesmo que, se olharmos a quantidade de informacoes geradase mapeadas, ainda pode ser considerado superficial do ponto de vistaestatıstico e geografico (foi realizado por professores e alunos do curso

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Figura 1. Visualizacao do mapa tematico criado de Matinhos. Pontosdestacados no mapa: CEIs estudados

de Fisioterapia da UFPR), porem levantou inumeras questoes que devemreceber uma atencao maior no meio academico e polıtico.

Quando se fala sobre o DNPM e mostramos caracterısticas especıficasdo litoral do Parana, apresentamos condicoes que podem estarinfluenciando, positiva ou negativamente, o crescimento e desenvolvimento(fısico, psicologico, social e academico) de criancas do litoral paranaense.Isso apresenta uma relevancia social, pois um devido acompanhamentopermite descobrir carencias de estımulos e investimentos sociais, apontarareas deficitarias do desenvolvimento e dos CEIs (e tambem escolas),fazendo com que fique mais claro onde deve destinar-se recursos e polıticaspublicas.

Como exemplos destas polıticas publicas pode-se citar duas: PolıticaNacional de Atencao Integral a Saude da Crianca (PNAISC) e PolıticaNacional de Educacao Infantil. A PNAISC que tem, dentre outrosobjetivos, promover e proteger a saude da crianca e o aleitamento materno,mediante a atencao e cuidados integrais e integrados. Tais medidasde protecao vao desde a gestacao ate os 9 (nove) anos de vida dacrianca, em especiais cuidados com a primeira infancia e as populacoesde maior vulnerabilidade, visando a reducao da morbimortalidade e umambiente facilitador a vida com condicoes dignas de existencia e plenodesenvolvimento. Com isso, preconiza a identificacao de situacoes devulnerabilidade e grupos de risco, fazendo com que seja discutido erealizado uma articulacao de um conjunto de estrategias intrassetoriais

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Figura 2. Visualizacao dos dados inseridos ao clicar sobre um determinadoCEI. “Coord X” e “Coord Y” sao os dados geograficos dos CEIs necessarios

para insercao no programa; “ANO AVALIA” se refere ao ano em que aavaliacao foi realizada naquele determinado CMEI; “AVALIADOS” e o

numero total de criancas avaliadas no CEI; “MASC” e “FEM” refere-se adivisao por sexos (masculino e feminino); “QUESTNAVS” e “TIPICOS”

referem-se ao resultado da avaliacao por uma escala, que pode serQuestionavel (com algum risco de atraso) ou Tıpico (normal);

“PES SOCIAL” (pessoal-social), “MOTOR FINO” (motricidadefina-adaptativa), “LINGUAGEM” e “MOTOR GROS” (motricidade

grossa/global) sao as areas que as escala avalia e quantos apresentam riscode atraso nas mesmas.

e intersetoriais para a melhor solucao das necessidades desta populacao(Brasil, 2014).

No que tange aos objetivos da Polıtica Nacional de Educacao Infantil,vemos que ela vem para elaborar padroes mınimos de infra-estrutura parao funcionamento adequado das instituicoes de Educacao Infantil, definiro custo crianca/ano da Educacao Infantil, com base nos parametros dequalidade, apoiar financeiramente os municıpios e o DF na construcao,reforma ou ampliacao das instituicoes de Educacao Infantil, bem como naaquisicao de equipamentos, mobiliario, brinquedos e livros de literaturainfantil. Podemos, a partir disso, pensar que esta polıtica tem sentidocomplementar a PNAISC, pois considera a crianca em sua totalidade etambem em suas diferencas, onde destaca o conhecimento do mundo atravesdo brincar. Tambem e destacado que a Educacao Infantil (em CMEIs eescolas) tem funcao complementar a acao da famılia, o que implica umaprofunda, permanente e articulada comunicacao entre elas (Brasil, 2004).

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Tal articulacao pode ser feita atraves de bases de dados de informacoessociodemograficas das regioes e de informacoes socioeconomicas e culturaisdesta populacao infantil que ali reside, permitindo que seja implantado umsistema de acompanhamento da saude e educacao destas criancas.

Atualmente, ainda acredita-se que a implantacao destas bases de dadoscartograficas e o georreferenciamento tem elevado custo e dificuldade deaplicacao. No entanto, faz-se necessario cada vez mais. Quatro fatoresdevem ser levados em conta: disponibilizacao da base de dados, programasdisponıveis, desenvolvimento tecnologico e capacitacao pessoal. Isso refere-se a democratizacao das ferramentas, que sao integradas e tem comoobjetivo diagnosticar tendencias e situacoes sociais (Barcellos & Ramalho,2002).

A aplicacao deste instrumento, o SIG, na pesquisa em saude oferecegrandes possibilidades, possibilitando aos pesquisadores aplicacao de novosmetodos para o manejo de sua informacao espacial, tornando-se umapoderosa ferramenta para conexao entre saude e ambiente. O ambiente doSIG oferece margem a integracao de informacoes diversas, as quais poderaoproporcionar visao mais abrangente da situacao no espaco. No entanto,a avaliacao do pesquisador e imprescindıvel, pois nao ha mecanismoautomatico para a interpretacao dos resultados construıdos (Hino et al.,2006).

O SIG tem potencial para ser um grande aliado tecnologico a servicodo planejamento, monitoramento e avaliacao das acoes de saude da regiao.A utilizacao dessa tecnica tende a aumentar, seja na comparacao eacompanhamento das estatısticas vitais ou na organizacao espacial deservicos de saude e recursos humanos (Hino et al., 2006).

O que tambem deve ser levado em conta e a articulacao de diferentessetores e instituicoes, como as que foram mapeadas e geoprocessadasno presente estudo e que configuram instancias de organizacao dacomunidade (famılia, escola, universidade e governo). A partir delas,que representam diferentes setores sociais ou governamentais, pode-se iniciar uma acao intersetorial, com possıveis efeitos sinergicos, nodesenvolvimento economico social, na superacao da exclusao social e namelhoria da qualidade de vida da populacao local (Chiesa et al., 2002).

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“Nessa logica, a escola nao se limita ao ensino.O servico de saude nao se limita ao atendimentodas intercorrencias ou acoes preventivas. O ginasiode esportes nao se limita a oferecer seu espaco eequipamentos. Cada servico sediado numa dadacomunidade compoe uma rede de acao social. Essarede deve articular-se para identificar os problemase encaminhar solucoes integradas” (Junqueira, 1998,p. 19).

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