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C Á L I C E D E S A N G U E = = = = = = = = = = = = = = CAPÍTULO 30 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS) “Até a última gota!” ORIGINAL de: Carlos Lira e João Sane Malagutti Escrita Por: Carlos Lira E João Sane Malagutti PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 1. LEOFÁ (José de Abreu) 2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda) 3. SALVADOR (Antônio Fagundes) 4. ÚRSULA (Bianca Bin) 5. JÚLIO (Chay Suede) 6. GORETE (Bia Seidl) 7. EURICO (Alexandre Nero) 8. BRIANE (Daniele Winitz) 9. VALDIR (Paulo Rocha) 10. MANFRED (Matheus Nachtergaele) 11. GUTEMBERG (Humberto Carrão) 12. JOÃO (Leonardo Vieira) 13. LEOPOLDINA (Regina Duarte) 14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio) 15. JADE (Camila Queiroz) 16. DIONE (Sophie Charlotte) 17. FILIPA (Totia Meireles) 18. NADIR (Paloma Bernardi) 19. QUITÉRIA (Nívea Maria) 20. PÂMELA (Adriana Birolli) 21. SINIRA (Bel Kutner) 22. SERENA (Beth Goffman) 23. SOLIMAR (Rosane Goffman) 24. PILAR (Malú Galli) 25. JOSÉ (Gabriel Godoy) 26. ANDRÉ (Anderson Tomazini) 27. INVESTIGADOR (Carlos Machado) 28. ZECA (Celso Frateschi) 29. PADRE (Milton Gonçalves) PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: 30. ERCÍLIO (Antônio Pitanga) 31. BÊBADO (Tônico Pereira) 32. JOHNY (Rocco Pitanga) 33. DR. MARCOS (Paulo Betty) Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

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Page 1: CAPÍTULO 30 - megapro.com.br · Choro de mulher fininho vindo de perto do altar. Vai andando pelo corredor central na direção do altar. Avista uma pessoa encolhida chorando baixinho

C Á L I C E D E S A N G U E

= = = = = = = = = = = = = =

CAPÍTULO 30 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)

“Até a última gota!”

ORIGINAL de: Carlos Lira e

João Sane Malagutti

Escrita Por: Carlos Lira E

João Sane Malagutti

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

1. LEOFÁ (José de Abreu)

2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda)

3. SALVADOR (Antônio Fagundes)

4. ÚRSULA (Bianca Bin)

5. JÚLIO (Chay Suede)

6. GORETE (Bia Seidl)

7. EURICO (Alexandre Nero)

8. BRIANE (Daniele Winitz)

9. VALDIR (Paulo Rocha)

10. MANFRED (Matheus Nachtergaele)

11. GUTEMBERG (Humberto Carrão)

12. JOÃO (Leonardo Vieira)

13. LEOPOLDINA (Regina Duarte)

14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio)

15. JADE (Camila Queiroz)

16. DIONE (Sophie Charlotte)

17. FILIPA (Totia Meireles)

18. NADIR (Paloma Bernardi)

19. QUITÉRIA (Nívea Maria)

20. PÂMELA (Adriana Birolli)

21. SINIRA (Bel Kutner)

22. SERENA (Beth Goffman)

23. SOLIMAR (Rosane Goffman)

24. PILAR (Malú Galli)

25. JOSÉ (Gabriel Godoy)

26. ANDRÉ (Anderson Tomazini)

27. INVESTIGADOR (Carlos Machado)

28. ZECA (Celso Frateschi)

29. PADRE (Milton Gonçalves)

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:

30. ERCÍLIO (Antônio Pitanga)

31. BÊBADO (Tônico Pereira)

32. JOHNY (Rocco Pitanga)

33. DR. MARCOS (Paulo Betty)

Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

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CENA 01. AVENIDA DA CAPITAL. EXTERNA. ANOITECER

Retoma da batida. Leofá entra no carro do investigador pela

porta de trás. Fotografia: céu laranja ao pôr-do-sol. Trilha

sonora: “X FILES” (Arquivo X). Suspense. Investigador tira

a toca.

INVESTIGADOR: – Abaixe-se.

Takes da viagem. Carros passando por eles. Investigador tenso

sempre alerta ao retrovisor. Uma pistola automática está no

Banco da frente. Abaixado, Leofá avista a arma e sorri.

Tensão. Ele estica o braço vagarosa e discretamente rumo a

arma.

INVESTIGADOR: - Bloqueio policial. Teremos que

sair dessa rota.

Leofá retrai o braço e faz cara de ódio.

INSERT: Policiais armados com barreira na estrada. Giroflex

acesos. Fileiras de carros.

INVESTIGADOR: - Para onde quer ir? A hora de

mudar é agora.

LEOFÁ: - Para casa.

INVESTIGADOR: - Vamos pelas estradas de terra.

Grua: carro se afasta entrando numa porteira levantando

fumaça da terra. Visão pelo alto.

Corta para:

CENA 02. FACHADA DO TRIBUNAL. EXTERNA. NOITE

Pessoas comemoram à frente da fachada. Rojões. Salvador sai

abraçado com Petrônio e as pessoas ovacionam. Trilha: Era

Uma Vez (Kell Smith). Salvador e Petrônio ficam e frente um

para o outro. Salvador com olhos lacrimejantes acaricia o

rosto do filho e sorri lacrimejante.

SALVADOR: - Muito obrigado por sua amizade e

luta. Por não desistir de mim.

PETRÔNIO: (emocionado) – Enfim, eu cresci.

Graças ao senhor que mudou sentido da minha

vida. (T) Obrigado. Te amo, pai.

Se abraçam bem apertados com choros e risos. Aplausos do

público. Por trás, sai Úrsula sorridente com Guto e abraçam

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os dois. Dione se aproxima e se junta ao abraço. Salvador se

emociona ao olhar para Dione.

SALVADOR: - Lhe devo mais que isso, filha.

Segura a cabeça de Dione entre as mãos e a abraça cobrindo

ela de beijos. Dione debruça a cabeça no peito dele e chora.

Úrsula limpa as lágrimas dela.

ÚRSULA: - A família está crescendo e a solidão

vai embora.

Guto beija o rosto de Úrsula que está emocionada. Pilar se

aproxima da filha e limpa as suas lágrimas.

SALVADOR: (carinhoso) – Pilar! Minha amiga de

anos e de todas as horas. Não tenho palavras

para agradecer tudo o que fez por mim. Você é

uma mulher excepcional! Só Deus sabe o tanto

que desejo a sua felicidade.

PILAR: (grata) – Amor não se agradece. Você

foi um parceiro maravilhoso. Mas, agora eu

encontrei a felicidade de verdade Salvador.

Você me deu o segundo melhor presente da minha

vida, depois de minha filha.

Ela puxa Petrônio pelas mãos e o abraça. Salvador olha com

estranheza e depois sorri com aceitação. Manfred enxuga as

lágrimas e debruça no ombro de Quitéria. Léo surge pela porta

acompanhada de Dr. Marcos e observa a felicidade de todos.

LÉO: (tímida) – E, eu? Não mereço participar

dessa festa?

SALVADOR: (apaixonado) – Leopoldina! É por

você que meu coração faz festa.

Ela se aproxima dele com as mãos em seu peito e sorriso

apaixonado.

(Cont’d) Vai ser sempre por você essa festa.

(emocionado) Eu te amo. E agora sim posso te

amar. Amar como nunca pude ter lhe amado e,

nunca, nunca será tarde para ficar ao seu lado.

LÉO: - Nada e nem ninguém vai nos separar.

Dessa vez o amor viverá em nós.

Silêncio. As bocas se aproximam e os dois se beijam. Rojões,

aplausos e ovações. Uma grande festa. CAM passeia pelos

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casais trocando selinho. As pessoas seguem para o carro.

Fica Petrônio cumprimentando Dr. Marcos.

PETRÔNIO: - Você foi um grande amigo. Aceitou

fazer o que ninguém faria em condições normais.

MARCOS: - Fiz porque creio que a sociedade

precisa mudar, assim como essa constituição

retrógrada. (T) E o investigador, saiu muito

caro?

PETRÔNIO: - Até que não. Não fosse a

intervenção dele com Eurico, talvez meu pai

não estaria solto. Eu sei que corromper não é

certo, mas, eu precisava de um pai na vida.

MARCOS: - Às vezes, a Justiça precisa de ajuda.

Você fez a sua parte. (sorri) Vai lá com a sua

família. Vai ser feliz!

Sobe a música. Petrônio corre para o carro de Pilar e entra

dando um beijo nela. Carreata sai rumo a Tetembau em buzinaço

pela avenida principal. Marcos acena para eles.

Corta para:

CENA 03. CASARÃO PIMENTA. INTERNA. NOITE

Velas acesas num oratório. Suméria de joelho orando com todos

os defuntos da casa em sua volta.

SUMÉRIA: (com medo) – Leve essas pobres almas

aos seus lugares de doutrina Senhor. (faz sinal

da cruz) Não sei mais o quanto posso aguentar

por tudo o que fiz.

Suspense.

Corta para:

CENA 04. PRAÇA CENTRAL. INTERNA. NOITE

Praça vista do alto. Luzes acesa. Padre fecha a porta da

igreja.

Fusão com:

CENA 05: INTERIOR DA IGREJA/SACRISTIA. INTERNA. NOITE

Padre trancando a porta. Terror. Penumbra luzes de velas.

HAIDÊ: (eco/choro/in off) – Preciso de ajuda.

Quero luz para a caminhada.

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Padre se vira assustado olhando para trás.

PADRE: - Quem está aí?

Choro de mulher fininho vindo de perto do altar. Vai andando

pelo corredor central na direção do altar. Avista uma pessoa

encolhida chorando baixinho. Se aproxima com medo.

PADRE: (bondoso) – Filha! O que acontece?

Haidê ergue o rosto com olhos negros chorando sangue. O padre

se assusta vai caminhando para trás, tropeça nos degraus da

igreja e derruba todo o altar. Do chão (OBJETIVA) olha para

o alto e vê as esculturas chorando sangue se esparramando

pelo chão. Haidê (OBJETIVA) vai em sua direção.

HAIDÊ: (desesperada) – Reza! Me tira desse

limbo. Eu quero a luz. Eu preciso da luz.

Sua pele abre as feridas das punhaladas e sangue escorre

indo para cima do padre pelo chão e envolvendo seu corpo.

PADRE: - Por Deus. Nãooooo! (eco).

Fusão com:

SACRISTIA:

Padre acorda assustado com cara de sono. Estava debruçado

sobre a mesa. Procura tudo à sua volta.

PADRE: (preocupado) – Pesadelos assim não são

comuns. Essa pobre precisa de uma missa de

corpo ausente.

Faz sinal da cruz e ora para o crucifixo.

Corta para:

CENA 06. PRAÇA DE TETEMBAU/CORETO. EXTERNA. NOITE

Piano clássico: Beauty and the Beast (Clássicos da Disney).

Sinira e José passeiam de mãos dadas levando cada qual um

sorvete na casquinha.

SINIRA: - Eu sempre me achei a mulher mais

desinteressante do mundo. Mas, foi através de

seus olhares que eu aprendi a me amar.

JOSÉ: - Eu sempre te achei interessante. Mas,

eu tinha medo das suas irmãs. (chateado) Me

preocupava com o que as pessoas iam pensar de

mim. Você sabe...

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SINIRA: (tímida) – Uma carola, louca! Eu sei!

Serva de Deus e puritana. (verdadeira) O pior

que também me achava assim. Foi você quem me

despertou a mulher que há dentro de mim.

JOSÉ: (interessado) – Jura?!

Ela faz que sim com a cabeça.

(Cont’d) Se eu te pedisse um beijo agora no

meio da rua? Seria capaz de enfrentar todos os

conceitos só pra me provar o amor?

Sinira sorri com timidez como uma adolescente.

SINIRA: - Eu daria. Eu aprendi o amor depois

que chorei naquele dia em que me negou.

JOSÉ: (chateado) – Esquece aquilo. Estava me

sentindo pressionado. Eu fui um tolo. Um

imaturo!

SINIRA: - Eu sei. Já passou. Fase superada.

José aproxima apaixonado. Rosto com rosto.

JOSÉ: - Você me fez um homem melhor. Mesmo do

seu jeitinho tímido e eu te quero muito. (T)

Eu te amo.

A música sobre. Eles se beijam. Grua passeia indo ao alto.

Fusão com:

CORETO:

Grua se aproxima. Música perpassa. No alto. Serena balança

as pernas como uma adolescente e respira fundo.

SERENA: - Fico tão feliz que os dois se

acertaram. (olha as estrelas) O amor é algo

tão lindo!

JOÃO: - O amor não é nada se não tiver alguém

para amá-lo.

SERENA: - Eu sei. Parece que quanto mais o

desejo, mas difícil de acontecer para mim ele

é.

João se aproxima por trás e debruça do lado dela.

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JOÃO: (apaixonado) – Talvez não desejou com

toda a força do coração.

SERENA: (sorri) – Deixa de besteira! Eu desejo

isso todos os dias com tanta força que uma hora

o coração explode na pressão.

JOÃO: - Fecha os olhos e faz isso de novo. Mas,

faz com vontade mesmo para eu ver se está

fazendo certo.

SERENA: (tímida) – Não tenho mais idade para

isso.

JOÃO: - Por favor. Me ensine. É só fechar os

olhos rapidinhos e desejar.

SERENA: (sorri entregue) – Está bem.

Ela fecha os olhos. Ele tira do bolso a caixinha de alianças,

a abre e ergue a altura dos olhos dela.

JOÃO: - Está desejando?

SERENA: - Sim.

JOÃO: - Então abre os olhos.

Serena abre os olhos e se surpreende. Leva as mãos a boca

incrédula.

(Cont’d) Aceita se casar comigo?

SERENA: (lacrimeja) – É tudo o que mais queria.

Eles se abraçam e sai um beijo meio torto. Os dois escorregam

e caem nas moitas. Eles levantam se arrumando. Tanto ele,

quando ela, têm matos secos na cabeça.

JOÃO: (sobressalto) – As alianças. Perdi!

Serena mostra as alianças para ele e pisca sensualmente.

SERENA: - Estão comigo! Não vai mais escapar

de mim. (sorri) Vem cá meu, maridão.

Comédia romântica. Os dois se beijam de forma estranha. Sobe

a música.

Corta para:

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CENA 07. CASARÃO BIANCHINI. SALA. NOITE

Pilar, Úrsula, Gutemberg e Petrônio de malas feitas na sala.

Clima de comoção. Salvador, Léo e Dione na cena.

SALVADOR: - Não queria que fossem. Agora,

todos juntos, somo uma família.

PILAR: - Está na hora de viver a sua história

de amor, Salvador. Já passou tempo demais

conosco. Leopoldina merece.

LÉO: (sorri) - Acho que sim, minha amiga.

Se aproxima de Salvador e o abraça.

(Cont’d) vamos ter uma lua-de-mel, mas não

queremos vocês longe de nós. Nessa história

vai ter espaço para amor a todos. (com carinho)

à Úrsula que, mais que uma nora, é também minha

filha, à Pilar que além de nora é uma amiga

fiel e forte. À Dione, que vai ser a minha

filha, que seguirá os passos de minha Santinha.

(emocionada) Quanto orgulho e carinho numa

família só.

SALVADOR: (brinca) – Você deixou os meninos de

fora.

LÉO: (emocionada) – Não. Não deixei. Essas duas

preciosidades são a minha salvação. A minha

vida.

Vai a Petrônio e o beija.

(Cont’d) Esse jamais deixou me esquecer quem

sou. Sempre grudado como uma cola de amor.

Vai à Guto e o beija.

(Cont’d) Esse... Minha fortaleza. Meu

equilíbrio, meu tudo. Muitas vezes me mantive

distante para não estragar. Por várias e várias

vezes eu temi que pudesse perde-lo. Pois, por

anos a fio, acreditei que tudo o que eu tocava

secava ou morria.

Guto chora.

(Cont’d) Obrigado, meu filho! Obrigado por não

desistir de mim e me amar quando eu ainda era

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seca e precisava de amor. Se um dia feri o seu

coração, não foi com intenção.

Ele a abraça e deixa o choro livre. Todos se emocionam.

PETRÔNIO: (emocionado) - Precisamos ir. Está

ficando tarde. Tia Gorete e Júlio vão ficar

preocupados.

Pilar pega as malas.

PILAR: Chega de abraços por hoje. Estamos

vulneráveis. Vamos guardar um pouco para

amanhã. Assim teremos mais motivos para

voltar.

DIONE: - Tia Pilar. Pelo menos o meu.

PILAR: (sorri com carinho) – Como negar?!

Dione se aproxima e se joga no colo dela com muita vontade.

DIONE: - Como queria que tivesse sido a minha

mãe. Eu senti falta de uma a minha vida toda.

Mas, nesses dias, você foi a melhor coisa que

aconteceu na minha vida.

Pilar deixa as lágrimas rolarem.

PILAR: - Então serei a sua mãe. A de amor. A

de carinho. A que sempre que quiser terá colo

para dividir.

ÚRSULA: (sorri) – Agora não tenho mais ciúme.

Pois, você também é a minha irmã querida.

SALVADOR: (emocionado) - Assim, esse velho

coração não aguenta.

GUTO: (sorri) – Então vamos logo antes que o

coração do eterno prefeito Salvador fique

abalado. Tetembau precisa ainda desse coração

por trás de grandes sonhos e planos.

Guto abraça Salvador.

(Cont’d) Depois que me casar com a sua filha,

você e eu teremos grandes planos.

SALVADOR: - Sim. Teremos.

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Música instrumental. Eles vão saindo. Léo abraça Dione e

Salvador abraça as duas. Efeito: retrato familiar.

Corta para:

CENA 08. FACHADA MOTEL BEIRA DE ESTRADA. EXTERNA. NOITE

Luzes do letreiro clareiam investigador e Leofá.

INVESTIGADOR: - É aqui que vamos ficar.

LEOFÁ: - Um pulgueiro desses?

INVESTIGADOR: - É procurado pela polícia. Quer

se hospedar num cinco estrelas e que todos lhe

achem?

Leofá se cala contrariado.

Fusão com:

CENA 09. QUARTO MOTEL. INTERNA. NOITE

Meias luzes. Ambiente sujo e desconfortável. Investigador

joga uma mochila na mesa, tira a camisa e se deita.

INVESTIGADOR: (cansado) – Por hoje atende às

necessidades.

Leofá fica desconfortável com a cena.

(Cont’d) (cínico) Se fosse você, dormiria. De

madrugada ainda partimos.

Leofá olha para ele e se deita bem no cantinho da cama. Evita

olhar para ele.

(Cont’d) Pagamos um preço alto demais por

atender nossos desejos. Às vezes matamos quem

não vale nada e vem a Lei nos dizer que quem

não presta somos nós.

LEOFÁ: - Meu cunhado merecia morrer. Estava

tentando me extorquir.

INVESTIGADOR: - Acredito que sim. O dinheiro

fala mais alto. (T) No fundo é só isso o que

importa.

Fecha os olhos como quem procura dormir. Leofá o olha com

incômodo. Cena vista do alto.

Corta para:

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CENA 10. CASARÃO PIMENTA: COPA/QUARTO JULIO. INTERNA. NOITE

Júlio chateado no jantar. Gorete segura a sua mão.

GORETE: - Não fique assim. Seu pai já tem

idade. Logo ele sai.

JÚLIO: (triste) – Ele me falou.

Instrumental.

(Cont’d) Acha que meu pai pode ser um homem

ruim? Não acredita que seja apenas uma pessoa

frustrada?

GORETE: - Não sei. (pensativa) Nunca pude ver

seu pai de forma diferente.

SUMÉRIA: (entrando) – Leofá é um homem que

tinha sonhos. Mas, não tinha limites. Conheço

ele antes mesmo de se casarem. A imensidão dele

na alma é tão grande que atropela ele mesmo e

a própria razão. (oferece) Mais suco?

GORETE: - Obrigada.

JÚLIO: - Você que sempre enxerga mais longe,

crê que meu pai possa mudar?

SUMÉRIA: (se segura) – Todos podem mudar. Seu

pai não. Não se iluda, querido. Não mudaria

nem por você.

Júlio triste.

(Cont’d) Ser preso é o começo para tentar. Mas,

pau que nasce torto não endireita. Sinto muito

se estou sendo muito direta. O dito popular é

verdadeiro.

Silêncio. Olhos de Júlio se enchem de lágrimas.

JÚLIO: - Ele me disse coisas bonitas e

acariciou meu cabelo. Foi tão bom ter um pai.

GORETE: - Eu sei querido. Isso fez muita falta

na sua criação.

SUMÉRIA: (carinhosa) - Foi melhor assim. Creia

que você se basta. Você é bom o bastante pra

você mesmo e para quem quiser lhe amar.

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Instrumental.

Fusão com:

QUARTO DE JÚLIO:

Música perpassa. Júlio emotivo em pé no meio do quarto no

escuro.

JÚLIO: (choro) – Ele vai mudar.

INSERT: FLASHBACK: Carinho de Leofá no tribunal.

(Cont’d) Eu tenho que crer que ele mereça uma

chance; senão, serei mais um monstro na vida

dele.

Instrumental.

Corta para:

CENA 11. QUARTO DE QUITÉRIA. INTERNA. NOITE

Luzes apagadas. Luz da rua pela janela. Manfred debruçado na

janela de braços cruzados. Chorando. Quitéria mais atrás.

MANFRED: - Monstro! É isso que aquela coisa é!

Ele tirou a vida da nossa pobre Haidê!

QUITÉRIA: (triste/inconformada) – Como pode

nossos destinos se cruzar com essa pessoa em

vários episódios da vida?!

MANFRED: - Não esqueço daquele episódio de

levar Suméria. Depois, no cemitério; mamãe

passando mal e ele a atiçando. Depois, ainda,

o tapa. Minhas mãos coçam para acabar com ele.

QUITÉRIA: (triste) - Esse pensamento não te

faz diferente dele.

MANFRED: - O meu desejo é que ele morra. Que

morra da pior forma possível.

QUITÉRIA: (o abraça) – Não deixe o seu coração

ser invadido por esses sentimentos ruins. A

nossa vida segue enquanto a dele patina.

Beija a cabeça do irmão. Ele desaba em choro.

Corta para:

CENA 12. QUARTO MOTEL. INTERNA. NOITE

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Eurico observa investigador dormindo. Se levanta e vai até

a bolsa e pega a arma. Aproxima-se e coloca na cabeça dele.

Investigador abre o olho. Suspense: REQUIEM FOR A DREAM.

LEOFÁ: - Diga adeus.

INVESTIGADOR: - Não. (sorri) Se achar o pente

de munições, dispare!

Leofá fica com cara de trouxa.

(Cont’d) Acha mesmo que dormiria ao lado de um

assassino dando mole? Você é muito ingênuo e

burro! Por isso iria preso. Amador!

Se levanta dando um golpe em Leofá e o rendendo.

(Cont’d) Vai dormir em silêncio. Se fizer

barulho. Eu sumo com o seu corpo pelo caminho.

Pega a arma e dá uma coronhada na nuca de Leofá que desmonta.

(Cont’d) Bons sonhos!

Corta para:

CENA 13. CELA COLETIVA. INTERNA. NOITE

Eurico encolhido num canto da cela. Presos dormem.

EURICO: (para si/sussurro) – Isso não termina

aqui. Todos vocês que me humilharam em público

terão o fim que merecem. (T) Essa estação de

Salvador jamais vai entrar para a história.

Se levanta irritado e dá um murro na parede arrancando sangue

da mão. Leva ela na boca e chupa o sangue com frieza.

DETALHE: Olhar de louco alucinado.

Corta para:

CENA 14. ASILO. INTERNA. NOITE

Filipa é colocada por uma enfermeira na cama. Instrumental

triste.

FILIPA: - Quero o espelho.

ENFERMEIRA: - De novo? Não te fará tão bem

ficar se martirizando com isso.

FILIPA: (insiste) - Quero me ver.

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A enfermeira entrega o espelho e sai. Filipa leva o espelho

a altura do rosto e se vê torta e com cabelos raspados.

(Cont’d) (triste) Sozinha. Pesadelo! Porque?

Deus não existe.

Lágrimas escorrem de um choro silencioso e dolorido. Aumenta

a música.

Corta para:

CENA 15. CASARÃO PIMENTA: SALA/QUARTOS:LEOFÁ/GUTO/PETRÔNIO.

INTERNA. NOITE

Fantasmas na sala. Guto entra carregando as malas. Úrsula

atrás seguida por Pilar e Petrônio. Aos poucos os fantasmas

somem no ar e a luz diminui. Úrsula olha para tudo atenta e

curiosa. Guto solta as malas no chão e se senta no sofá.

PETRÔNIO: (pensativo) - Mesmo preso, o clima

dessa casa tem o aspecto pesado de tio Leofá.

ÚRSULA: - Não convivi com ele, mas esse casarão

rústico tem mesmo o ambiente pesado. Estou um

pouco sufocada aqui. Sentindo um aperto!

PETRÔNIO: - Sempre senti isso. Achei que fosse

eu imaginando coisas.

PILAR: - Casarões antigos costumam dar essas

sensações de habitantes do além.

GUTEMBERG: – Casas são apenas casas! Nós quem

colocamos as nossas percepções sobre elas. Não

tem nenhuma alma penada. (brinca) Mas, vamos

dormir antes que elas apareçam de verdade.

Petrônio sorri. Suméria entra com incenso aceso à mão.

SUMÉRIA: (misteriosa) - A casa está mais pesada

que o normal. Além de vocês, temos mais visitas

nessa noite.

Todos olham assustados.

PETRÔNIO: - Deixe de besteiras, Suméria. Vai

assustar nossas convidadas.

SUMÉRIA: (séria) - Não é uma besteira. Seus

antepassados estão por aqui. (misteriosa) Não

acreditar não elimina a presença deles.

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Suméria segue incensando. Pilar e Úrsula trocam olhares

assustadas.

GUTEMBERG: - Não esquentem a cabeça. Nada disso

existe.

PILAR: (cismada) – É...

ÚRSULA: (desconversa) – Bom, preciso de um bom

banho e sono. Já está tarde.

Guto puxa Úrsula pela mão.

GUTEMBERG: - Vem comigo!

PETRÔNIO: (à Pilar) – A senhorita vem comigo.

Fusão com:

QUARTO PETRÔNIO:

Pilar se senta à cama de camisola e se ajeita no lençol se

apoiando no travesseiro. Petrônio deitado sem camisa.

PILAR: - Um tanto misteriosa essa doméstica.

PETRÔNIO: - Sim. Ela é metida com esse lance

de espiritualidade. Diz que vê os mortos.

PILAR: (cismada) - Acredita que possa ter esse

povo circulando aqui... no ar, entre a gente?

PETRÔNIO: - Tem hora que sim. Tem horas que

não. Porque não poderia ser verdade? Porque só

vida na matéria?

PILAR: (pensativa) – Muitos porquês e nenhuma

resposta! (deita a cabeça no peito dele) A vida

é um grande mistério. Assim como o amor.

PETRÔNIO: - Meu amor por você não tem mistério

algum. Ele só quer ser livre.

Dois Corações (Nana Caymmi). Pilar sorri e ele a puxa para

cima e a beija. Um beijo demorado e apaixonante.

Corta para:

QUARTO GUTEMBERG:

Guto deitado pensativo. Úrsula de frente com ele.

ÚRSULA: - No que pensa?

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GUTEMBERG: - Numa série de confusões. Eu sei

que devia estar feliz porque tio Leofá foi

preso. Descobrimos enfim quem matou meu pai,

mas... dentro de mim isso não está acabado;

parece que tem algo me impelindo a ajustar as

contas com ele.

Úrsula acaricia o cabelo dele.

ÚRSULA: - Nada do que fizer vai trazer seu pai

de volta. Evite pensar essas besteiras e vamos

romper com esse ciclo de dor. Novas alegrias

virão. Veja nosso filho que está com saúde e

crescendo aqui em meu ventre. Logo estará uma

coisinha aqui, pequenina, nos roubando o sono.

GUTEMBERG: (emotivo) – Tem razão. Vamos dormir

e esperar ele chegar em breve.

ÚRSULA: - Prometa que não vai fazer nenhuma

besteira em relação ao seu tio.

GUTEMBERG: (carinhoso) – Prometo. (T) Eu te

amo tanto! Não fosse você, eu teria me perdido.

Agora só quero pensar no nosso casamento.

Caixinha de música.

Corta para:

QUARTO LEOFÁ:

Gorete deitada com um livro na mão. Júlio entra triste.

JÚLIO: - Posso dormir com você?

GORETE: (preocupada) – O que está acontecendo?

JÚLIO: (triste) – Sei lá. Tô pensando no meu

pai preso. Queria tanto tê-lo conosco como uma

família normal. Dentro de mim, tem uma crença

que ele não é ruim. Que ele me ama, apesar de

tudo.

GORETE: (o abraça) – Vamos dar tempo ao tempo.

Pensar sobre isso agora é martirizar-se. O

tempo é um senhor remédio. Vai entender isso

em algum momento da vida.

JÚLIO: (lacrimejante) – Pode ser. Mas, por

enquanto está difícil. Perdi o pai e um amor

e... acho que a dignidade.

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GORETE: - Mas, tem a mim, que sou sua mãe e

apaixonada por você. Isso não conta?

Júlio deita no colo dela.

JÚLIO: - Conta. É o que ameniza a dor. (T) Acho

que preciso arrumar alguém para mim.

GORETE: - Vai arrumar filho. Nem que eu tenha

que ir para a capital com você para que conheça

alguns rapazes. Se não achar lá, vamos para

outro lugar até achar. O resto de minha vida

vai ser cuidar de você e do que precisar.

JÚLIO: – Ah, mãe! A senhora é uma amigona. Pena

que demorei para descobrir isso. (pensativo)

Será que me apaixonarei por alguém novamente?

GORETE: (amiga) – Isso eu não sei dizer. Mas,

sei que tem que se permitir a isso se quer que

aconteça de verdade.

Instrumental: Coração do Agreste.

Corta para:

CENA 16. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. NOITE

Sinira e Solimar comendo bolo com café e fazendo crochê.

Solimar entra colocando a bolsa sobre a mesa.

SOLIMAR: - Ainda de pé?

SERENA: - Estávamos lhe esperando. Porque

demorou tanto?

SOLIMAR: (pesarosa) - Estive andando por aí

para desanuviar a cabeça. Mas agora estou em

casa e tô bem. Já podem dormir.

SINIRA: - Mas, como foi o julgamento?

SOLIMAR: (decepcionada) - Um ultraje. Uma

série de mentiras e podridão.

SERENA: - Salvador foi solto?

SOLIMAR: - Sim; e Leofá foi preso!

SINIRA e SERENA: (surpresas) - Preso!?

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SOLIMAR: (pesarosa) - Sim. Ele quem matou a

prostituta e o cunhado.

SERENA: (boquiaberta) – Não creio!

SINIRA: - Eu sabia que aquele jeito dele

escondia algo. Taí. É assassino!

SOLIMAR: (irritada) – Chega de conversas.

Minha cabeça está estourando. Vão dormir e me

deixem sozinha um pouco.

SINIRA: - Porque?

SOLIMAR: - Porque eu quero.

SERENA: - Vem Sinira. Hoje ela está mais azeda

que o normal.

Serena puxa Sinira pela mão e mostra a língua a Solimar que

mostra de volta. Solimar fica sozinha. Instrumental:

“Coração do Agreste”. Ela vai até o armário e pega o álbum

de fotos e coloca sobre a mesa. Olha para Leofá e cai em

prantos com a foto dele encostada no coração.

SOLIMAR: (baixinho) – Por que escolher viver

assim? Se tivesse comigo ia ter uma vida mais

digna!

Choro sentido. Música sobe. Ela esparrama as fotos dele sobre

a mesa. Deita em cima e beija loucamente as fotos.

Corta para:

CENA 17. STOCK-SHOT: AMANHECER. EXTERNA. DIA

Sol nascendo no horizonte. Suspense grave e emudecido.

Fusão com:

CENA 18. QUARTO DO MOTEL. INTERNA. DIA

Penumbra. Suspense. Investigador coloca a arma no coldre e

pisa de leve na perna de Leofá.

INVESTIGADOR: - Levanta, princesa. Precisamos

ir antes que tudo fique muito claro. Tenho que

voltar para a cidade antes do almoço.

Leofá levanta e leva a mão à nuca. O fuzila com o olhar.

(Cont’d) Não me olhe assim. Tu quem pediu por

isso.

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Corta para:

CENA 19. FAZENDA CERRO GRANDE. EXTERNA. DIA

Sol nascendo. Grave de suspense. Carro visto do alto entrando

a porteira da fazenda levantando a poeira. No meio do trajeto

ele para. A porta é aberta bruscamente. Investigador empurra

Leofá para fora do carro. CLOSE: Leofá de bruços limpa o

rosto cheio de terra. Desfoque: Investigador no volante.

INVESTIGADOR: - Estou cumprindo o nosso

combinado. Uma gracinha contra mim e meus

homens lhe acharão e lhe matarão. E, se sustar

o cheque, quem lhe mata sou eu.

Investigador dá ré, manobra e vira para a saída. Pega a arma

e joga sobre Leofá que está sentado. Depois pega o pente de

munições e joga distante de Leofá. Arranca com o carro

levantando poeira. Leofá se levanta no meio da poeira e vai

pegar a arma e o pente.

LEOFÁ: (ameaçador) – Desgraçado. Um dia, meu

tempo será só para te mandar para terra dos

pés juntos.

Risada de criança. Suspense. Leofá se vira e procura por

todos os lados e nada. Ele começa a caminhar rumo ao casarão

e a cada risada com eco ele olha para trás com medo.

Fusão com:

CENA 20. FACHADA DO PORÃO. EXTERNA. DIA

Abre a cena com Suméria abrindo a porta. Leofá se coloca de

frente. Ela tenta fechar a porta ele a puxa com força para

fora. Ela cai ao chão e ele coloca a arma na cabeça dela.

LEOFÁ: (tom baixo) – Um pio e eu lhe mato. Abre

a casa para mim! Tenho contas para acertar com

todos.

Suméria com medo.

(Cont’d) Quem está na casa?

SUMÉRIA: (medrosa) - Júlio, Dona Gorete e os

seus sobrinhos com as mulheres.

LEOFÁ: - Desgraçados. Mal esperaram a minha

saída para se apossarem do que é meu. (T) Onde

está Leopoldina?

SUMÉRIA: - Ela está na casa de Salvador.

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LEOFÁ: - Ligue lá e peça para ela vir me fazer

uma visitinha. Avise ela que se ela chamar a

polícia eu mato todos que estão aqui e depois

me mato. (T) E você, se tentar uma gracinha,

eu lhe mato!

Suméria engole seco.

Corta para:

CENA 21. CASARÃO BIANCHINI: SALA. INTERNA. DIA

Telefone tocando. Salvador aparece preocupado. Leopoldina

atrás de roupão.

SALVADOR: - Pronto!

SUMÉRIA: (in off) – Leofá está aqui na fazenda

armado e quer ver o senhor e Dona Leopoldina.

Se demorar ele mata a todos (desliga).

SALVADOR: (pesaroso) – Da sua casa. Leofá está

lá e vai matar a todos se não formos até lá.

LÉO: (preocupada) – Meus filhos! Sua filha!

Precisamos ir!

SALVADOR: (afoito) - Vamos!

Fusão com:

CENA 21. FACHADA DO CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. DIA

Zeca com peões nos cavalos em círculo. Salvador num dos

cavalos está com uma espingarda e Leopoldina está em outro

cavalo.

SALVADOR: - A ordem é clara. Não somos

assassinos. Não atirem e não ataquem se ele

não atacar.

LÉO: - Se o acuarem ele pode fazer uma

besteira. Lembrem-se que queremos todos vivos.

Inclusive Leofá.

SALVADOR: - Entenderam?

ZECA: - Todos ouviram o patrão! Nada de atirar

primeiro. Vamos agir na defesa.

Dione aponta na varanda.

DIONE: - Pai. Eu quero ir.

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SALVADOR: - Não. Fique em casa e cuide do que

é nosso. Não abra nenhuma porta até voltarmos.

Suspense.

Corta para:

CENA 22. QUARTO DE LEOFÁ/HALL. INTERNA. DIA

Leofá se abaixa e coloca o rosto bem perto de Júlio e o

cutuca. Júlio sonolento olha para ele. Leofá faz um sinal de

silêncio.

Fusão com:

HALL:

Leofá no corredor. Júlio sai.

LEOFÁ: (baixo tom) – Preciso de você, filho!

JÚLIO: - Como conseguiu fugir?

LEOFÁ: (direto) - Não vem ao caso. (T) Sua tia

Leopoldina quer me ver na pior. Eu a chamei

para negociarmos a fazenda, mas ela está vindo

com Salvador e creio que ele venha armado. Se

ele me atacar eu vou ataca-lo.

Petrônio abre a porta do quarto e dá de frente com Leofá.

PETRÔNIO: - Tio? Como...?

Leofá aponta a arma para ele.

LEOFÁ: - Saia em silêncio e não tente nenhuma

gracinha ou terei que estourar seus miolos na

porta desse quarto e quando sua mãe chegar vai

chorar até o fio da alma por você.

PETRÔNIO: - Calma!

LEOFÁ: - Calma nada! Você agora é meu refém.

JÚLIO: - Pai, por favor. Vamos com calma.

Leofá pega a arma e coloca na cabeça de Petrônio.

LEOFÁ: - Amarre-o, Júlio.

Risadas infantis. Júlio rasga as mangas do próprio pijama e

contrariado amarra as mãos de Petrônio.

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PETRÔNIO: - Sempre soube que você era mesmo um

pau mandado do seu pai.

JÚLIO: (irritado) – Cala a boca e me deixa em

paz.

PETRÔNIO: - Fracote.

Leofá dá uma coronhada na cara de Petrônio que cai sangrando.

JÚLIO: (assustado) – Pai!

LEOFÁ: - Tranque todos os quartos para ninguém

sair. Pegue sua mãe e a tranque no porão.

JÚLIO: - Para que? Deixe mamãe de fora disso.

LEOFÁ: (ameaçador) - Faz logo ou eu mato o seu

primo, sua mãe e todos que aqui cruzarem o meu

caminho. (T) Até você!

PETRÔNIO: (ao chão) – Faça o que ele manda. É

melhor!

Júlio tranca os quartos.

(Cont’d) Pegue sua mãe e me encontre lá embaixo.

Leofá sai arrastando Petrônio. Risadas infantis com eco.

Fusão com:

QUARTO LEOFÁ:

Júlio aproxima-se de sua mãe e a acorda.

JÚLIO: - Mãe. O papai voltou.

GORETE: (sem entender) – Como?

JÚLIO: - Não sei. Está armado e pegou Petrônio

de refém. (T) Diz ele que tia Léo está vindo.

Mandou lhe trancar no porão para não presenciar

nada.

GORETE: - Não vai fazer isso. Que absurdo!

JÚLIO: (pesaroso) - Eu vou! Tenho que fazer.

Suspense.

Corta para:

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CENA 23. COZINHA. INTERNA. DIA

Suméria esconde o boneco de vodu dentro da saia. Leofá entra

empurrando Petrônio.

LEOFÁ: - Vamos negra. Vá na dispensa e pegue

todo o querosene que temos aqui.

Suméria obedece.

(Cont’d) Esparrame pela casa.

SUMÉRIA: - Não vou fazer isso.

Ele atira para o alto.

LEOFÁ: (agressivo) – Faz o que estou mandando

ou eu começo uma chacina agora, sua negra suja

e fedida. Desgraçada.

Petrônio visivelmente irritado. Contrariada Suméria começa

a jogar querosene pela cozinha. Até acabar a lata. Sorrindo

junto com as risadas infantis de sua loucura ele joga um

isqueiro aceso no querosene. A cozinha começa a pegar fogo.

Ele sai arrastando Petrônio que está com medo. Detalhes de

Suméria sorrindo entre as labaredas.

SUMÉRIA: (para si) - Seu fim é já, desgraçado!

Corta para:

CENA 24. QUARTO DE LEOFÁ. INTERNA. DIA

Gorete nervosa. Júlio chorando.

GORETE: - Está louco? Depois de todo o amor

que lhe devotei, meu filho, quer me trancafiar

a mando de seu pai?

JÚLIO: - Você não entende!

GORETE: - Não! Me explique!

JÚLIO: - Eu sou como ele! Sou uma pessoa ruim.

Eu não tenho mais chances.

GORETE: (decepcionada) – Eu achei que você

fosse diferente. Eu me enganei. Me leve ao

porão. Para mim, a vida não faz mais sentido.

Júlio estende a mão para a mãe chorando e ela lhe dá a mão.

Corta para:

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CENA 25. QUARTO GUTEMBERG. INTERNA. DIA

Fumaça entra debaixo da porta. Ele se levanta.

GUTEMBERG: - Úrsula! Acorde. Há algo pegando

fogo!

ÚRSULA: (assustada) – Vamos sair daqui.

Corre para a porta.

(Cont’d) Trancada.

Guto abre a janela.

GUTEMBERG: - Alto demais para você pular. Pode

perder nosso filho.

ÚRSULA: (histérica) – Socorro. Incêndio!

(esmurra a porta). Socorro. Alguém nos tire

daqui. Estamos trancados.

Corta para:

CENA 26. QUARTO DE PETRÔNIO. INTERNA. DIA.

Pilar forçando a porta.

PILAR: - Socorro! Também estou trancada!

Vai à janela e a janela não abre.

(Cont’d) Meu Deus! É o meu fim. (grita) Socorro

Petrônio!

Fumaça entra pelas frestas da porta. Pilar quebra os vidros

e coloca a cara para respirar.

Corta para:

Cena 27. QUARTO DE GUTEMBERG. INTERNA. DIA

Úrsula batendo na porta gritando e tossindo. Fumaceiro.

GUTEMBERG: - Acalme-se. Vou pular a janela e

achar algo para arrombar a porta. Fique na

janela para não inalar fumaça.

ÚRSULA: - Corre! Estou passando mal.

Gutemberg senta na janela e pula.

Corta para:

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CENA 27. FUNDOS DO CASARÃO. EXTERNA. DIA

Suméria termina de jogar querosene nas paredes.

SUMÉRIA: - Acabou a brincadeira!

LEOFÁ: - Ainda não!

Júlio aparece com Gorete.

(Cont’d) Gorete, Gorete! Está feliz em me ver

vice-prefeita?

Sorri com ironia e ela o encara.

(Cont’d) Não tem senso de humor? (à Júlio)

Tranque logo essa marmota no porão e vamos

sumir daqui, filho! Vamos matar esse povo,

pegar a herança e cair no mundo. Eu e você.

Você e eu!

JÚLIO: (em dúvida) – Não sei. Não sei!

LEOFÁ: (duro) - Vai fraquejar agora, porra!?

Júlio empurra a mãe para dentro do porão e fecha a porta.

PETRÔNIO: (indignado) - Não faça isso! É a

única pessoa que te ama de verdade.

Leofá dá um tapa na boca de Petrônio com as costas da mão.

LEOFÁ: - Calado. (à Júlio) Me dê a chave!

Júlio se aproxima para entregar a chave ao pai e Petrônio se

joga em cima de Leofá que cai deixando a arma voar mais a

frente (PL. DETALHE). Júlio pega a arma.

LEOFÁ: (grita) – Atire, Júlio! Atire! Mate o

desgraçado!

Júlio começa a chorar e Suméria o empurra. Júlio dispara com

o solavanco acertando o galão de querosene e o fogo começa

a subir pelas paredes. Leofá toma a arma do filho e aponta

para Petrônio.

(Cont’d) É o seu fim.

Suméria retira o boneco da saia.

SUMÉRIA: - É o seu fim, Leofá!

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Leofá começa a rir.

LEOFÁ: - Me matarás com um boneco?

Risadas infantis e Leofá rindo junto.

Corta para:

CENA 28. PASTO. EXTERNA. DIA

Salvador para com o cavalo e os homens param atrás.

LÉO: (desesperada) – Meus filhos estão

correndo perigo. A casa está pegando fogo.

SALVADOR: (preocupado) – Úrsula! Vamos!

Galopes à cavalo.

Corta para:

CENA 29. FUNDO DO CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA

Retoma a cena. Suméria, Petrônio, Júlio e Leofá. Suspense.

LEOFÁ: - Vai, negra! (risos) Atire-me o

bonequinho para me matar.

Suméria o fuzila com o olhar e torce um braço esquerdo do

boneco. Leofá leva a mão ao braço esquerdo e urra de dor.

(Cont’d) Desgraçada. Feiticeira dos infernos.

Mira a mão de Suméria e atira acertando a sua mão e derrubando

o boneco. Suméria segura o grito de dor e segura a mão

sangrando com a outra.

SUMÉRIA: (irritada) - No cemitério contém o

meu cálice enterrado com o seu sangue. A

primeira gota de sangue tua que cair nessa

terra te matará. A não ser que o encontre e o

desenterre, você não viverá mais que hoje.

Suspense. Leofá pega a arma e coloca na cabeça de Petrônio.

LEOFÁ: - Então vamos ao cemitério. (ameaçador)

Vocês vão revirar cada centímetro daquele

lugar ou eu mato vocês antes de morrer.

SUMERIA: - Não vou arredar meu pé daqui. Pode

me matar.

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LEOFÁ: - Ou você vai, ou mato o filho de

Leopoldina e ainda revelo o seu segredo a ela.

Suméria fica calada e apreensiva.

Corta para:

CENA 30. HALL DOS QUARTOS. INTERNA. DIA

Gutemberg tenta arrombar as portas com o corpo. Está chorando

de desespero. Gritos de socorro de dentro dos quartos.

Corta para:

CENA 31. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. DIA

Solimar dormindo sobre as fotos. Sinira entra e a acorda.

SINIRA: - Solimar! Dormindo sobre as fotos de

Leofá de novo!

SOLIMAR: (levanta sem graça) – Quem mandou vir

ver as minhas coisas.

SINIRA: - Eu não entendo essa fissura por

Leofá.

SERENA: (da porta) – Eles foram namoradinhos

de escola.

SINIRA: (surpresa) – Jura?!

SOLIMAR: - Nada disso.

SERENA: - Para que esconder? Ela é nossa irmã.

Não deveria haver segredos entre irmãs, Lembra

o que mamãe e papai falavam?

SOLIMAR: (se rende) – Sim. Fomos namorados.

Mas, o destino me pregou uma peça.

SINIRA: - Como assim?

SOLIMAR: - Era coisa de criança. Ele tinha uns

12 anos na época e eu mininota apaixonada. Eu

dizia ser namorada dele até ele me trocar por

outra pessoa. (lacrimeja) Isso doeu demais.

Suspense.

Corta para:

CENA 32. FACHADA CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA

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Homens, Salvador e Léo descem dos cavalos.

SALVADOR: - Procurem as pessoas aí dentro.

Vamos atrás dos outros que seguiram pelos

fundos.

LÉO: - Eles foram no sentido ao cemitério.

Salvador e Léo correm.

ZECA: - Vamos homens. Vamos entrar! Sem medo!

Corta para:

CENA 33. PORÃO. INTERNA. DIA

Gorete chorando e suada. Com custo quebra uma das janelinhas

de vidro e coloca a boca para fora. Grita por socorro. Fraca,

senta ao chão e chora.

GORETE: - Eu não quero morrer. Por favor, me

ajudem!

Corta para:

CENA 34. CEMITÉRIO. EXTERNA. DIA.

Suméria cavando um buraco com as mãos. Júlio segura Petrônio

enquanto Leofá aponta a arma para eles.

Corta para:

CENA 35. HALL DOS QUARTOS. INTERNA. DIA

Fumaça em excesso. Guto desmaiado. Um dos peões o retira.

Zeca tenta arrebentar a porta com o corpo. E tosse muito

junto com os demais homens.

Corta para:

CENA 36. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. DIA

Retoma a conversa.

SINIRA: (amiga) – Não precisa ficar assim. É

um amor de criança, não tem comprometimento.

Isso já devia ter passado.

SOLIMAR: (com ódio) – Você já foi trocada? (T)

Isso não passa nunca!

Corta para:

CENA 37. FACHADA DO CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA

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Homem abanando Guto ao chão e lhe dando água. Zeca sai com

Úrsula no colo e outros carregam Pilar.

ZECA: - Vou achar água para elas beberem.

Corta para:

CENA 38. FACHADA DO PORÃO. EXTERNA. DIA

Zeca passa em frente e vê Gorete gritando pela janela.

GORETE: (chora) – Pelo amor de Deus; me tire

daqui.

ZECA: - Se afaste da porta!

Zeca tenta contra a porta algumas vezes até que ela abre e

Gorete sai cambaleando e caindo em seus braços.

Corta para:

CENA 39. CEMITÉRIO. EXTERNA. DIA

Suméria se levanta com o cálice na mão. Detalhe do sol

batendo nele e brilhando.

SUMÉRIA: (sorri) – Sequinho! (Maléfica) O chão

bebeu até a última gota. Mais uns raios de sol

para secar a umidade da terra e você cairá

morto.

Leofá vai para cima dela. Salvador e Léo aparecem correndo.

Salvador empunha a espingarda.

SALVADOR: (gritando) - Parado ou eu atiro!

LÉO: (intervém) – Não faça isso.

Leofá se vira e sorri para Salvador apontando o seu revólver.

LEOFÁ: (IRÔNICO) - Você atira primeiro, ou eu

atiro primeiro?

Léo entra na frente de Salvador.

LÉO: - Terá que me matar primeiro!

SALVADOR: (mira) – Sai da frente Leopoldina.

Deixa eu acabar com esse desgraçado de uma vez!

LEOFÁ: - Isso é entre eu e Salvador Leopoldina.

Você já interferiu demais em nossos destinos.

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PETRÔNIO: (apreensivo) – Mãe. Sai daí.

JÚLIO: (lacrimeja) - Pai. Não faça isso. Vamos

pela conversa.

LEOFÁ: - Cala a boca, viadinho!

Suméria mexe-se devagarzinho na direção de Leofá e ele vira

a arma para ela.

LEOFÁ: - Nenhum passo ou eu te mato.

Suspense.

Corta para:

CENA 40. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. DIA

Solimar enxuga as lágrimas. Serena lacrimeja. Sinira atenta.

SOLIMAR: - Leofá preferiu a ele que a mim.

SINIRA: - Que horror! Então essa discórdia

política toda entre os dois é só fruto da

rejeição que Leofá viveu?

SERENA: - É isso!

SOLIMAR: - Que vergonha, meu Deus. Leofá amava

Salvador loucamente. Fazia de tudo para

Salvador que sempre lhe destratava. Para

Leofá, não tinha ninguém mais no mundo. Apenas

Salvador lhe apetecia. Mas, Salvador é homem.

Varão! Não queria saber de um transviado. Mas,

eu... meu coração. Sempre amou Leofá.

Sinira estupefata.

(Cont’d) Desde então fiquei amarga e jamais

desejei homem nenhum. Esse era o meu maior

segredo. (irritada) Satisfeita?

SINIRA: - Me desculpa. Não imaginei que fosse

algo assim. (T) Mas, enfim. Tem que superar.

SERENA: (amável) - Sinira tem razão. Esse amor

tem que ser enterrado.

SOLIMAR: (chorando) – Queria mandar no meu

coração. Mas ele só vai ser enterrado, quando

Leofá for enterrado.

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Suspense.

Corta para:

CENA 41. CEMITÉRIO. EXTERNA. DIA

Retoma como parou. Suméria se aproxima dele. Ele apreensivo.

SUMÉRIA: (séria) - Façamos a troca. Eu te dou

o cálice e se você beber água nele, o feitiço

se desfaz. Em troca, libertará todos e ilsesos.

LEOFÁ: (desconfiado) – Como vou saber que não

está envenenado. (T) Quem me garante que não

colocou o mesmo veneno que matou a santinha.

LÉO: (chocada) - Como é?

LEOFÁ: - Isso mesmo! Santinha foi envenenada

por essa negra invejosa. Depois ela foi no rio

com o punhal que roubou de papai e forjou um

assassinato.

SALVADOR: (perturbado) – Então, foi você,

Suméria! (lacrimeja) Você também incriminou

meu irmão! Porque?

Suméria lacrimeja. Clima pesado.

LÉO: - Traidora. Figura monstruosa. Como foi

capaz de se fazer minha amiga esses anos todos

tendo assassinado minha própria irmã. (grita)

Desgraçada!

SUMÉRIA: - Não foi eu. Foi Leofá! Ele tinha

inveja do amor de vocês!

Leofá vai para cima de Suméria.

LEOFÁ: - Cala a boca, negra!

Suméria segura a arma dele e os dois fazem força para tomar

a arma e começam a rodar de um lado para o outro. Apreensão.

LÉO: (grita) - Parem! Parem!

Léo vai na direção deles e Petrônio entra à frente com Júlio.

JÚLIO: - Deixe-os, tia!

Salvador ergue a espingarda e mira para atirar.

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PETRÔNIO: (grita) – Nãooooo...

Som de tiro. Suméria e Leofá arregalam os olhos. Suspense.

Corta para:

CENA 42. FACHADA DO CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA

Todos olham para a direção do fundo da casa.

PILAR: (assustada) - Foi um tiro.

Os homens vão na direção do tiro. Pilar se vira aos demais.

(Cont’d) – Fiquem aqui. Volto já.

Sai correndo. Gorete vai atrás.

Corta para:

CENA 43. CEMITÉRIO. EXTERNA. DIA

CAM/CLOSE: Salvador com o dedo no gatilho sem atirar. “FADED”

instrumental. Drama. Jogo de closes entre Suméria e Leofá.

Determinando momento o sangue escorre da boca dele. Ele se

afasta de Suméria vagarosamente revelando a arma na mão dela.

SUMÉRIA: (vidrada) - Eu lhe avisei que seria

pelas minhas mãos. (com asco) Hoje eu fui à

forra, branco fétido. Desgraçado! Raça suja!

LEOFÁ: (como dificuldades) – Traidora! (cai).

SUMÉRIA: (à Léo) - Ele envenenou a santinha.

O preparado era para a senhora beber quando se

encontrasse com Salvador. (Lacrimeja) Ele

queria incriminar Salvador. Mas saiu tudo

errado. Quando ele descobriu que santinha foi

em seu lugar tentou impedir que ela morresse,

mas, quando chegou lá, achou dois corpos na

pedreira. Para forjar um crime passional, ele

apunhalou várias vezes a irmã e forjou uma

tentativa de suicídio em Santiago.

LÉO: (choro/revolta) – Porque escondeu isso de

mim?

SUMÉRIA: - Se eu revelasse, ele me mataria.

(T) Agora que eu acabei com isso, só peço uma

coisa. Deixem-me livre para realizar o sonho

de encontrar meu filho.

LÉO: - Tem um filho?

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Suméria leva o dedo a boca e pede silêncio.

SUMÉRIA: - Adeus!

Suméria sai correndo. Júlio está debruçado sobre Leofá caído

ao chão. Leopoldina o afasta. Salvador desamarra Petrônio

que corre abraçar Júlio.

JÚLIO: - Deixem-me. Meu pai está morrendo. A

culpa é minha. Ele voltou para me buscar.

PETRÔNIO: - A culpa não é sua.

Júlio começa a chorar copiosamente nos braços de Petrônio.

Leopoldina abaixa-se e aproxima de Leofá e segura em sua mão

com carinho.

LÉO: (chora) – Porque tanta maldade em seu

coração meu irmão? Tudo poderia ser diferente.

Porque matar a mim ou a santinha?

LEOFÁ: - Sal-...vador.

Léo chama Salvador com a mão. Ele se aproxima e se abaixa e

segura a mão de Leofá.

SALVADOR: - Me per-... doa o... amor. (T) Dê-

me um beijo de despedida. Eu... te amo.

Leopoldina leva a mão à boca chocada.

SALVADOR: - Não me peça isso depois de tudo o

que me fez conosco, Leofá. É deplorável!

LEOFÁ: (sorri) – Liberte-me desse mundo.

Leopoldina chorando acena com a cabeça para realizar o pedido

de Leofá. Salvador abaixa e Leofá o beija o rosto.

(Cont’d) Agora posso partir em paz.

Leofá morre de olhos esbugalhados e abertos. Os fantasmas

cercam a cena e Pilar aparece com os peões. Quando se

aproxima da cena. Leva a mão à boca horrorizada por ver a

morte. Música: Evidências. Léo abraça Salvador e cai em

prantos enquanto Salvador observa Leofá morto. Pilar corre

abraçar Petrônio e Júlio se debruça sobre o pai e chora.

Gorete se aproxima a abraça o filho por trás e começa a

chorar. A CAM se afasta. Vai abrindo o plano ao horizonte e

mostra a fazenda com a casa pegando fogo.

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Corta para:

CENA 44. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. DIA

Xícara explode (detalhe). Desfoque: Solimar enxuga os olhos.

Música instrumental.

SOLIMAR: - Acabou. Colocar isso para fora me

deixou mais leve. É como se esse amor tivesse

sido enterrado.

Sinira e Serena abraçam Solimar com carinho.

SERENA: - A xícara estourou. Alguém morreu!

SINIRA: - A cidade é pequena. Já todos ficam

sabendo.

Sinos da igreja batendo.

Fade Out:

CENA 45. IGREJA. INTERNA. NOITE

Fade in. Sinos batendo. Sonoplastia: “Primavera” (As quatro

estações de Vivaldi). Igreja lotada. CAM passeia entre rostos

conhecidos.

LEGENDA e NARRADOR: - Meses depois.

No altar, irradiante, Gutemberg. Leopoldina e Petrônio no

altar de um lado, do outro lado Pilar com bebê ao colo. Ao

centro o Padre feliz. “Marcha Nupcial”. Todos se levantam.

As portas se abrem revelam Úrsula e Salvador. Eles entram na

igreja ao som da marcha. A CAM acompanha. Pâmela está ao

lado de Américo. Do outro lado Manfred em traje de homem e

Quitéria num lindo longo. Ao se aproximarem do altar, Guto

busca Úrsula lhe dando um beijo em sua testa e depois abraça

Salvador com carinho que lhe dá um beijo na testa também.

Salvador vai para o altar irradiante. Guto e Úrsula ficam

lado a lado frente ao padre. “HALLELUJAH” instrumental.

PADRE: - Irmãos; é sobre este altar e sob o

olhar de Deus que nesta noite os presentes

serão testemunha de uma linda história de amor.

De um lado, a jovem Úrsula, pertencente à

família Bianchini e, do outro lado, Gutemberg

Pimenta Guebbel. Dois membros de duas famílias

cujo destino separou, desuniu e os fez sofrer.

Há alguns anos, jamais seria levantada a

probabilidade desse amor surgir sob hipótese

alguma. Mas, Deus, misericordioso de bondade,

nunca dorme. Ele enxergou o amor. Ele fez

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acontecer porque ele é o Senhor Criador do

universo repleto de amor e bondade junto aos

seus filhos. O encontro desses dois corações

fez o improvável aos olhos dos Homens. E hoje,

celebraremos essa união que deveria ter

começado há mais de trinta anos entre as duas

famílias. Essa união não é só um casamento,

mas sim uma questão de justiça... Terrena e

Divina!

Música sobe. O padre continua falando e seguindo o casamento.

CAM passeia entre olhares lacrimejantes e emocionados como

efeito passagem de tempo. Enquanto rola a cena. A música

“HALLELUJAH” permanece instrumental.

(Cont’d) Úrsula. Linda e jovem Úrsula! Você em

seu perfeito juízo e amor, aceita o Senhor

Gutemberg Pimenta Guebbel como seu fiel e

legítimo esposo?

ÚRSULA: (emocionada) – Sim.

PADRE: - Gutemberg.../

GUTEMBERG: (poda) – Sim.

PADRE: (brinca) – Mas, nem falei!

GUTEMBERG: - Aceitaria mil vezes, todos os dias

durante todo o resto da minha vida; na saúde,

na doença, na riqueza, na pobreza, na alegria

ou tristeza porque... só eu sei o tamanho do

que sinto dentro de mim pela mãe do meu filho.

PADRE: (emocionado) – Deus os abençoe, meus

queridos. Podem trocar as alianças.

Música sobe. Dione entra na igreja vestida de branco como

uma noviça. Salvador chora. Dione também. Ela se aproxima do

altar e entrega a aliança ao casal e os abraça. Guto e Úrsula

trocam as alianças.

(Cont’d) (à Guto) – Pode beijar a noiva...

(brinca) Mas, moderadamente. Temos bebê no

altar.

Os dois riem e se beijam. Flashs. Efeito fotografia.

(Cont’d) Está bom! Pra que esse beijo demorado

de cinema?

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Todos riem. Música sobe e padre fala algumas palavras.

Fusão com:

CENA 46. SALÃO DE FESTAS. INTERNA. NOITE

Festão de Úrsula. CAM passeia pela festa. “Thousend Years”

instrumental. Banda no palco. Pessoas dançam pelo salão.

Vários convidados. Numa mesa, Gorete, Briane Valdir e Pablo

conversando entre risos. Mais adiante, irmãs Dávila com os

seus respectivos namorados. Os peões da fazenda numa mesa.

Salvador dança com Léo, juntinhos.

SALVADOR: - Hoje é o dia mais feliz da minha

vida.

LÉO: (emocionada) – O dia mais feliz da minha

vida foi quando lhe conheci.

SALVADOR: - Esse também. Mas, é que hoje, nós

estamos vivendo o nosso ciclo.

LÉO: - Estamos enterrando de vez todos os mal-

entendidos com o casamento de nossos filhos e

a união de nossa família que já estava escrita.

SALVADOR: - Mais que escrita, está impregnada

em nossos corações. (apaixonado) Eu te amo,

Leopoldina.

LÉO: - Eu te amo e para sempre vou te amar.

DO OUTRO LADO DO SALÃO:

Pilar e Petrônio dançando.

PILAR: - olha que bonitinhos a sua mãe e

Salvador.

PETRÔNIO: (sorri) – Nasceram um para o outro.

Como a maldade de meu tio pode estragar um amor

tão lindo?

PILAR: - Já foi. Não há mal que perdure sobre

o amor quando ele é verdadeiro. E o deles é.

PETRÔNIO: (sorri) - Então meu amor por você

será inabalável.

PILAR: - Eu espero que sim. Você foi o presente

mais lindo que meu coração recebeu. Mesmo eu

tendo idade para ser sua mãe.

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PETRÔNIO: (sorri) – Não exagera. No mínimo uma

tia. Uma tia gostosa, por sinal.

PILAR: - O sobrinho está saliente. Acho que a

noite vai pegar fogo (sorri).

NO CENTRO DO SALÃO:

Os noivos dançam com o bebê no colo.

GUTEMBERG: - Esse bebezão do pai vai tomar

conta da mamãe e das irmãzinhas.

ÚRSULA: - Irmãzinhas? Já está pensando nisso!

GUTEMBERG: (apaixonado) – Quero ter uma

família enorme com você. Só para registar que

o nosso amor não tem fim.

ÚRSULA: (brinca) – Ainda bem que o papai é

engenheiro, né amor? Ele já pode construir um

palacete para muitas princesas.

GUTEMBERG: - Mas, tem um que é mais importante.

ÚRSULA: - Qual?

GUTEMBERG: - O de Cristal. Do mais puro, rico

e o mais belo do mundo para a pessoa mais

especial. A Rainha. A mãe dos meus filhos. Nele

passarei o dia inteiro a admirando, mesmo

trabalhando de longe.

ÚRSULA: (sorri) – Exagerado!

Os dois se beijam e voltam a dançar.

PANORÂMICA SALÃO:

Música agitada. Banda canta “Wisky a Gogo” (Roupa Nova)

Briane arrasta Valdir para dançar. José puxa Sinira para

dançar. João arrasta Serena. Os dois dançam esquisito.

Solimar ri e tampa a cara de vergonha. Júlio se levanta e

sai. Manfred vê e vai atrás.

NOUTRO CANTO DO SALÃO:

Zeca, timidamente passa por um vaso, recolhe uma rosa branca

e segue para a mesa de Gorete. Se aproxima dela e se abaixa.

ZECA: - A senhora me concede o prazer de dançar

comigo?

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GORETE: (surpresa) – Claro. Só não sei se danço

bem estas músicas.

ZECA: - Nem eu sei dançar direito. (galante)

O que me importa é a companhia e não a dança.

GORETE: - Façamos assim: a gente não dança,

mas você senta aqui comigo e me faz companhia

num drink qualquer. Pode ser?

ZECA: - Vou ter o maior gosto do mundo.

Gorete sorri para ele. Ele se senta e coloca a mão dele sobre

a dela e se olham.

Corta para:

CENA 47. LOJA DE FILIPA. INTERNA. DIA

Filipa com o cabelo já maior e boca menos torta e menos

dificuldade para falar. Usa uma bengala. Dione entra

carregando alguns doces. Puxa um banco e coloca a mãe sentada

com carinho. Fica de frente com ela. Clima de muito carinho.

DIONE: (carinhosa) – A cerimônia foi linda,

mãe. A senhora perdeu um festão.

FILIPA: - É felicidade demais para uma infeliz

como eu.

DIONE: (triste) – Porque se trata assim, mãe?

A senhora tem o direito de ser feliz. É para

frente que se anda.

FILIPA: - Eu não consigo ser feliz depois de

tudo o que fiz. Não passo um dia em que não

olhe o espelho sem lembrar a mulher fria que

fui.

DIONE: (carinhosa) - O passado é morto. Todos

lhe perdoaram. Tem que se perdoar.

FILIPA: (amargurada) – Me sinto sozinha,

filha. (chora) Você partiu e deixou um vazio

que fica cheio de ecos aqui dentro. “Você

perdeu sua única filha, Filipa, a pessoa quem

mais lhe amou”. Isso é duro de enfrentar todos

os dias. Eu sinto como se você tivesse partido

por minha culpa.

DIONE: - Não foi. Quando estava na casa do meu

pai eu recebi o chamado de um anjo na imagem

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de meu tio Santiago. Ele veio a mim e eu

prometi que serviria ao Pai, se ele a salvasse.

Filipa a olha com curiosidade.

(cont’d) Eu vou voltar. Logo me ordeno e volto.

Vou ser missionária aqui e na região. Essa

região é tão precária, mãe. Sabia que tem

pequenas aldeias nessa região que não são

ajudadas pelo governo e nem por nada? É a

igreja que ajuda missionariamente esse povo. É

tão lindo estar a serviço de Deus para eles.

FILIPA: (sorri) – Sua empolgação me salva dessa

solidão que me meti.

DIONE: - Então, mãe, logo eu volto e você vai

comigo preencher seu coração de coisas boas.

(empolgada) Vamos ser a senhora e eu numa

parceria inseparável.

PILAR: (muda o assunto) – E o seu pai? Está lá

com ela?

DIONE: (comedida) - Sim. Eles se amam.

PILAR: - Eu sei. Eu aceitei. Eu quero vê-los

felizes. Nos últimos meses eu entendi que amor

tem que ser doado e não forçado como eu sempre

acreditei. Quem errou no passado foi eu e não

seu pai.

DIONE: (emocionada) – Mãe, seus sentimentos

estão evoluindo e isso me deixa feliz demais.

PILAR: (sorri) – Me abraça. Estou carente de

carinho de filha.

As duas se abraçam e choram emocionadas.

Corta para:

CENA 48. SALÃO DE FESTAS. INTERNA. NOITE

Mulheres em fila. Noiva de costa preparada para jogar o buquê

e mulheres aos gritos. Úrsula joga e cai na mão de Gorete.

Ela sorri inesperadamente. Se vira para Zeca. Ele pisca para

ela e ergue o copo em sua homenagem. As mulheres vão em cima

dela e se abraçam. CAM passeia em feito de passagem de tempo.

Música. “All Of Me” cantada pela banda. Casais dançam. Dessa

vez Gorete e Zeca dançam.

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Corta para:

CENA 49. PUB DE FORA DO SALÃO. EXTERNA. NOITE

Júlio está olhando as estrelas com uma rosa na mão. Manfred

se aproxima. Música perpassa.

MANFRED: - Essa rosa tem dono?

JÚLIO: (sorri) – Tem. É de um peão que habita

meus pensamentos. (T) Mas acho que me iludi.

Ele não vai voltar. Não vai abandonar a filha

para ficar comigo.

MANFRED: - Nunca se sabe.

JÚLIO: - Eu não abandonaria. Renegaria o amor

para ficar com meu filho.

MANFRED: - Se eu amasse de verdade, eu ficaria

com o amor e com o filho.

Júlio olha para ele com curiosidade.

(Cont’d) O que foi?

JÚLIO: - Queria ser corajoso e seguro como

você.

MANFRED: - A vida já me deu muitas lambadas.

Não é coragem. É calo!

JÚLIO: - Que seja. Você é um cara bacana. (T)

Eu lhe devo agradecimentos desde o julgamento

em que mentiu para me ajudar. (entrega) Toma

essa flor para você em sinal da minha gratidão.

MANFRED: (sorri tímido) – Nunca me deram uma

flor.

JÚLIO: - Tem uma primeira vez para tudo.

Júlio o abraça e beija o seu rosto.

(Cont’d) Você merece ser feliz. Vou torcer por

você.

MANFRED: - E eu por você.

Os dois sorriem. Manfred acaricia o rosto de Júlio com as

costas da mão. Júlio segura a mão dele e beija.

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JÚLIO: - Sou fiel aos meus sentimentos. Vou

para dentro.

Sai e deixa Manfred.

MANFRED: (olha o céu) – Quando o senhor vai

lembrar de mim?

Lacrimejante cheira a flor.

Corta para:

CENA 50. BASTIDORES. INTERNA. NOITE.

Música perpassa. Zeca e Gorete adentram a área de serviço

correndo e rindo. Passam entre as pessoas do Buffet e entram

numa salinha cheia de quinquilharias. Ela com o buquê na mão

o joga para trás e empurra Zeca contra a parede e o beija.

Os dois se olham e sorriem.

ZECA: (surpreso) – Ara!

GORETE: - Não sabe há quanto tempo esperei para

ser amada como mulher.

ZECA: - Ocê vai ser a mulher mais realizada e

a mais bonita sempre que tiver do meu lado.

Ele avança para cima dela e a beija. A sua mão abre o zíper

do vestido e ela o encara. Vira de costas para ele e sorri

convidativamente. Ele termina de abrir o zíper e tira a as

alças do vestido do ombro que cai inteiro. Close: Zeca

encantado. A câmera desfoca os dois se beijando.

Corta para:

CENA 51. SALÃO DE FESTAS. INTERNA. DIA

Leopoldina, Pilar, Petrônio e Salvador conversam num canto

da festa.

PILAR: - Fica mais um pouco, filha.

LÉO: - Também acho! A festa de vocês está tão

linda!

SALVADOR: - também acho. Por mim, cancelo a

viagem e depois a gente compra um novo pacote.

GUTEMBERG: - Não! Temos que ir. Agradecemos!

ÚRSULA: - É só uns dias longe daqui. E, outra,

queremos conhecer um pouquinho de outros

lugares.

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GUTEMBERG: - À partir de agora vamos dar férias

para vocês. Está na hora de vocês terem as

vossas luas de mel.

PETRÔNIO: (brinca) – Desculpinha isso, heim.

Estão fugindo da gente.

GUTEMBERG: - Nunca! Logo voltaremos.

PETRÔNIO: - Espero! (emocionado) É a primeira

vez que a gente vai se separar.

GUTEMBERG: (lacrimeja) – Verdade. Mas, é

temporário. Eu volto para te pentelhar.

Os dois se abraçam firme.

PETRÔNIO: - Eu te amo.

GUTEMBERG: - E eu te amo e te admiro.

Léo e Salvador emocionados. Pilar abraça Úrsula emocionada.

Efeito fotografia. Todos juntos. Instrumental: “NUMB”

(Linkin Park).

Fusão com:

CENA 52. STOCK-SHOT: ITÁLIA. EXTERNA. DIA/NOITE

Clipe com a música da cena anterior. Úrsula com o bebê no

colo com roupa de frio em frente o Coliseu. Guto tira foto

deles. Várias cenas deles por Roma. Depois na Grécia e por

último em Veneza na gôndola.

ÚRSULA: - O mundo é fantástico. Como nunca

pensei em viajar assim antes?

GUTEMBERG: (sorri) – Porque não tinha motivo.

O motivo somos nós; a sua família.

ÚRSULA: - Com certeza. Por você e o meu filho,

vou até ao fim do mundo!

Os dois se abraçam e brincam com o bebê.

Corta para:

CENA 54. PRAÇA DE TETEMBAU. EXTERNA. ANOITECER

Pessoas passeando pela Praça. Telefone tocando.

Fusão com:

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CENA 55. BOTECO: SALÃO. INTERNA/NOITE

Quitéria ao telefone.

QUITÉRIA: (feliz) - Jura? Não acredito. Que

maravilhoso! Também te amo! Fica com Deus!

Desliga o telefone. Está irradiante.

JADE: - Ai, Dona Quitéria. Eu tô curiosa. Sua

cara está tão espetacular!

NADIR: - Vou ter um pirepaque. Conta! Conta!

QUITÉRIA: (feliz) – Vou ser vovó! Minha Pâmela

está grávida!

As três se abraçam. Gritinhos histéricos. Júlio aparece.

JÚLIO: - Boa noite, meninas. Boa noite Dona

Quitéria.

QUITÉRIA: - Boa noite, Júlio! (sorri) Anda bem

frequente aqui!

JULIO: (sorri) – É por causa do Manfred. Queria

falar com ele.

JADE e Nadir: - Hummm!

QUITÉRIA: (amiga) - Ele está no quarto. Já sabe

o caminho.

JADE e Nadir: - Hummm!

JÚLIO: (sorri) – Mas, são duas bobas mesmo! É

só amizade!

Ele sai.

QUITÉRIA: - Meninas! Parem com isso. Deixe-os

serem felizes. Amigos ou não.

JADE: - Bem que podiam namorar.

NADIR: - Eu super apoio! Quem sabe o Manfred

não fica menos implicante.

QUITÉRIA: - Só falta isso para eu ficar

completa. Ver a felicidade do meu irmão.

Corta para:

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CENA 56. COZINHA DE GORETE. INTERNA. NOITE

Zeca chega todo sujo. Tira a camiseta e dá um beijo na boca

de Gorete.

GORETE: - Olha que fiz para você.

Mesa farta.

ZECA: (se senta) – Desse jeito vou ficar mal-

acostumado.

GORETE: - Você vai precisar de muita energia!

(provocante) Hoje vamos gastar bastante.

ZECA: - Ara! Isso, aqui não falta!

Os dois trocam piscadelas de olho enquanto Zeca bebe suco.

Gorete passa o dedo no doce e chupa o dedo provocantemente.

Corta para:

CENA 57. PADARIA. INTERNA. NOITE

Briane chega cansada e debruça no balcão. Valdir chega por

trás e lhe dá um abraço.

BRIANE: - Que bom um abraço desse depois de um

dia tão cansativo na prefeitura.

VALDIR: - Como foi o dia da minha prefeita?

BRIANE: - Loucura. Mas, eu gosto de mexer lá.

Criar as coisas para ajudar os outros. Hoje

mesmo finalizamos o projeto da estação. Mês

que vem começa a construção.

VALDIR: (orgulhoso) – Eu fico admirado com a

sua capacidade!

BRIANE: - De você não quero admiração.

VALDIR: - Não?

BRIANE: - Amor e carinho já basta. Isso que

você me dá é o mais importante.

VALDIR: - Isso não há de faltar.

BRIANE: (sobressalto) – Cadê, meu filho! Me

esqueci do catecismo.

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VALDIR: (sorri) – Já dei banho, dei janta e o

levei. Fica sossegada que sou ótimo pai.

BRIANE: (admirada) – Pois é! (brinca) Daqui a

pouco o Pablinho nem precisa mais da mamãe.

Vou me preocupar com essa eficiência.

VALDIR: - Se preocupe com meus beijos.

Se beijam.

BRIANE: (apaixonada) – Te amo, Valdir. Meu

príncipe, encantado! Meu cavalheiro e o meu

eterno defensor. Meu sonho e minha vida.

VALDIR: (emocionado) – Minha princesa!

Beijos.

Corta para:

CENA 58. PRESÍDIO: CELA. INTERNA. NOITE

Suspense. Um preso chega perto de Eurico e fala algo em seu

ouvido. Ele fica irritado.

EURICO: (para si) – Vou sair daqui e vou

destruí-los. Essa Estação jamais funcionará.

Eurico estala os dedos nervosamente. Fica pensativo om olhar

de mal.

Corta para:

CENA 59. STOCK-SHOT: ESTRADAS DE TERRA. EXTERNA. DIA

Música tema: “Sinônimos” (Chitãozinho e Xororó & Zé Ramalho).

Vários caminhões e ônibus carregando pessoas. Por estradas

de terras. Comitivas de caubóis pela estrada indo em direção

a Cerro Grande.

Fusão com:

CENA 60. FAZENDA CERRO GRANDE. EXTERNA. DIA

Pessoas se aglomeram em frente um painel montado com uma

pedra fundamental coberta por pano roxo para a fundação. A

cena deve ser vista do alto e o plano vai se abrindo revelando

a casa queimada de Leofá. STEAD-CAM: passeio no meio do povo.

Aos poucos chega Briane com Valdir e Pablinho. Gorete com

Zeca. Salvador e Leopoldina, Pilar com Petrônio e Gutemberg

com capacete de engenheiro ao lado de Úrsula e o bebê. Guto

coloca um capacete na cabeça de Petrônio e outro na cabeça

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de Salvador. Briane bate no microfone com a unha para ver se

está funcionando e ele faz um ruído.

BRIANE: - Senhoras, senhores; Bom dia. Eu não

gosto muito de falar no microfone, mas, hoje

é uma ocasião especial e de muito merecimento.

É um dia histórico para a nossa pacata

Tetembau. É o dia em que vamos alavancar anos

de progressos que virão. Depois de muita luta

e sonhos, vamos enfim, ter a nossa Estação de

Trem...

Aplausos.

(Cont’d) Essa estação não é uma realização

minha e nem de minha vice. É uma realização de

um sonho de um homem que sempre sonhou em fazer

o melhor para essa cidade. É o sonho de

Salvador Bianchini. Três mandatos buscando

trazer o progresso e preparando nossa cidade

para isso e quando ia conseguir, teve o quarto

mandato interrompido de forma suja. Mas, isso

é passado. (T) Bom, o melhor é ceder o espaço

para que ele se pronuncie. Salvador, assuma o

microfone.

Aplausos. Solimar se afasta do povo e vai andando em direção

ao cemitério.

SALVADOR: - Obrigado, prefeita. O que posso

dizer é que o mandato interrompido foi a melhor

surpresa para Tetembau, pois descobriu novas

lideranças e pessoas capazes de administrar

tudo com amor e humanidade. Dona Briane e Dona

Gorete tem feito um trabalho admirável. Meu

respeito. Gostaria que seguissem na política.

Eu particularmente, não volto mais a pisar na

prefeitura. Descobri, a essa altura da vida, a

minha vocação para ser feliz e para o resto

dos meus dias, vou fazer isso. Essa estação,

está sendo construída com recursos privados da

família Bianchini e Pimenta. Essa, é a última

contribuição nossa para que Tetembau caminhe.

Depois disso, creio que as cooperativas devam

se formar e aprendam a caminhar com as próprias

pernas e a prefeitura tenha um respiro.

CAM passeia no “palanque”.

(Cont’d) Quero agradecer a cada um aqui pela

colaboração. Pilar pela luta e força ao meu

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lado por anos, minha filha Úrsula que dividiu

sua juventude com o gabinete, Petrônio que

acreditou em mim e me defendeu. Minha Dione

que foi buscar Deus para nos ensinar a amar e,

penúltimo, meu Gutemberg, que doou toda o

projeto e sua mão de obra para que a estação

seja construída. Por último, ao amor de minha

vida, Leopoldina, que doou todo esse espaço da

família Pimenta para a construção da Estação.

Eu agradeço ao povo que me elegeu e todo o

carinho recebido até aqui. Obrigado.

Aplausos. Briane acena para Gorete assumir o microfone.

GORETE: - Não sou de falar em público. Mas

queria agradecer a todos. A todos que confiaram

na força da mulher e acreditaram que essas duas

“caipirinhas” seriam capazes de tocar essa

cidade. E, sem modéstia, fomos! Mas, com a

ajuda de todos. (emocionada) Sou muito grata a

cada um de vocês que se dedicaram em ser

cidadãos de bem. Me sinto lisonjeada em saber

que prestes a encerrar nosso mandato poderemos

devolver a vocês essa confiança. Entregaremos

mais um novo bairro pavimentado, uma estrada

que liga a cidade à estação e a estação férrea

propriamente dita no meio dessa mata linda que

deu origem a nossa história com os escravos e

índios; e, o mais importante, sem agredir o

meio-ambiente. Sairemos, minha parceira e eu

(se dão as mãos e trocam sorrisos), dessa

prefeitura como a sensação de missão cumprida.

Saímos gratas. Muito, muito, muito obrigada a

todos. De coração!

Aplausos.

BRIANE: - Declaro agora, que a estação será

fundada simbolicamente. Vamos descerrar a

pedra fundamental da estação.

Ovações, aplausos, barulheira do povo. Juntos, todos já

citados no palanque puxam o pano. Efeito fotografia. A CAM

se aproxima da placa e revela o nome da Estação. “Estação

Férrea Guerina Bianchini. Homenagens à: Santiago Bianchini,

Ludmila Pimenta e Leofá Pimenta”. Todos se abraçam

emocionados e limpando lágrimas. Aplausos e rojões.

Corta para:

CENA 61. CEMITÉRIO DOS PIMENTA. EXTERNA. DIA

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Solimar se aproxima do túmulo com a foto de Leofá. Faz o

sinal da cruz. Ele aparece atrás dela como um fantasma.

SOLIMAR: - Eu lhe quis tanto bem. Porque não

escolheu a mim?

LEOFÁ: (baixo tom) - Eu não escolhi ninguém.

Só fui inconsequente a vida toda e por isso

não tenho descanso até encontrar a última gota

que é extensão de mim. (T) Faça um favor para

mim. Não deixe a história dos Pimenta morrer.

Conte ao mundo.

SOLIMAR: (estranha) – Leofá?!

Se vira e não vê ninguém. Só sente uma forte brisa. Faz o

sinal da cruz e sai.

Fusão com:

CENA 62. FLASHBACK: MATA. EXTERNA. DIA

Fotografia com filtro claro. Homens brancos em guerra com

índios. Suspense. Trilha: “REQUIEM FOR A DREAM”. Tiros e

flechas cruzam para todos os lados. Crianças sendo mortas.

Negros com facas matando índios. Num dado momento todos os

índios mortos. Corpos ao chão. Apenas um pajé amarrado,

tremendo e chorando. Cabelos brancos e sulcos no rosto. Os

atores que vivem Salvador e Leofá, surgem armados como seus

antepassados. Pajé chora.

LEGENDA e NARRADOR: 1.879.

PIMENTA: (comemora) - A Terra é nossa!

BIANCHINI: - Italianos e espanhóis erguerão

uma nova cidade. Uma nova Europa.

PIMENTA: - Sem negros e nem índios. Uma raça

pura no seio desse país de mestiços nojentos.

PAJÉ: (chorando) - Tetã-Embau (tradução na

legenda: Cidade Vazia).

BIANCHINI: - Tetembau? O que ele está dizendo?

PIMENTA: (sangue nos olhos) - Adeus.

Manda um tiro no peito do índio. Close: Bianchini meneia a

cabeça negativamente com reprovação.

Fusão com:

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CENA 63. FLASHBACK: MATA: EXTERNA. NOITE

Filtro claro. Fogueira. Caldeirão com comida. Pimenta mexe

o caldeirão. Passos de bota entre os negros que se servem e

comem. Bianchini vai se servir e Pimenta segura o seu braço.

PIMENTA: - Você não. (sussurra) Estão sendo

envenenados. Essa terra é só nossa.

Suspense. Bianchini o olha com horror.

Corta para:

CENA 64. CEMITÉRIO PIMENTA. EXTERNA. DIA

PANORÂMICA: Leofá sentado sobre o seu túmulo. Vento no rosto.

LEOFÁ: (in off) – Um homem deve fazer o que se

tem que fazer pelo poder. Nunca vão entender

que essa Terra é criação de nossa família. Que

isso sempre me pertenceu e irá embora comigo

e com a minha última gota de sangue que ainda

está nesse mundo.

Sai andando e atravessando túmulos até sumir.

Corta para:

CENA 65. BOTECO: QUARTO DE MANFRED/SALÃO. INTERNA. NOITE

Manfred sentado na cama encostado na cabeceira e Júlio sobre

seu colo. Manfred mexe em seu cabelo. Piano: “A WHOLE NEW

WORLD” (Menken/Rice).

MANFRED: - Essa cidade anda muito calma ou meu

coração está buscando novidades.

JÚLIO: - Eu sinto a mesma coisa, mas sei que

sou eu que estou cansado dessa solidão.

MANFRED: - Está sozinho porque quer. Você é

bonito. Qualquer pessoa se apaixonaria por

você.

JÚLIO: - Eu não consigo esquecer o André.

(triste) Um dia ele há de voltar e me ver.

MANFRED: (irritado) - André, André e André!

(duro) Ele não vai voltar. Já não está na hora

de entender isso? (ameniza) Está na hora de

sua vida seguir. Vai beijar as outras bocas e

se apaixonar.

Júlio se levanta e olha para ele.

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JÚLIO: - Mas, quem? Essa cidade é um ovo.

Manfred se aproxima dele e lhe dá um selinho.

MANFRED: - Sentiu alguma coisa.

JÚLIO: - Eu... Eu, não sei.

Se levanta e sai chateado.

MANFRED: (vai à porta) – Júlio! Volta!

NADIR: (aparece) – Fez besteira, né bicha?!

MANFRED: - Tô super afim dele.

NADIR: - Já notou que você confunde amizade

com desejo?

MANFRED: - Deixe de besteira!

NADIR: - Foi assim com Petrônio também. Sua

carência faz enxergar possibilidades onde não

tem.

Nadir sai e Manfred se olha no espelho.

MANFRED: - Não pode ser verdade; não sou assim.

Corta para:

SALÃO:

Júlio passa rápido.

JADE: - Nossa! Onde vai rápido assim? (T) Nem

parou para falar um tchau sequer?

Júlio volta e a abraça.

JÚLIO: - Desculpa. Estou meio chateado.

JADE: - O que aconteceu?

JÚLIO: (tímido) - Manfred! Me beijou.

JADE: - Qual o problema? Sinal que lhe gosta.

JÚLIO: - Ele... Ele não é o meu perfil. É mais

velho. É estranho. Não tem beleza. Não tem...

JADE: - Conteúdo?

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JÚLIO: (chateado) – Isso ele tem.

JADE: - É o que importa. A beleza um dia passa.

Se olhe no espelho todos os dias e vai achar

novas rugas. A juventude não é eterna. Você

não é mais o mesmo de ontem. Você também está

envelhecendo.

JÚLIO: - Nunca pensei assim.

JADE: (amiga) – Pois pense, querido. O tempo

passa para todos e a aceitação faz toda a

diferença. Ser feliz está por dentro e não na

pele. Ame alguém que te faça se sentir belo

invés de amar o belo sem ter reciprocidade.

Júlio envergonhado.

JÚLIO: - Preciso pensar.

Ele sai e Nadir encosta na porta.

NADIR: - Uma bela conselheira amorosa, amiga.

Agora somos nós quem precisamos dar um jeito

em nossos corações.

JADE: – Nem me fale. Um dia! (Esperançosa) Um

dia será a nossa vez!

Corta para:

CENA 66. ESTAÇÃO. EXTERNA. ANOITECER

Gutemberg no meio de pedreiros coordenando as ações. Salvador

e Petrônio acompanham lado a lado.

PETRÔNIO: - Isso vai ficar lindo! Guto, você

é um profissional admirável.

GUTEMBERG: (irradiante) – Trabalhar nisso está

instigante. É tão maravilhoso realizar algo

tão grandioso para as pessoas. Saber que o

resultado disso vai mudar a vida de todos me

deixa feliz.

SALVADOR: - Ih! (brinca) Sei não, Guto, isso

está parecendo fala de futuro prefeito.

GUTEMBERG: - Quem sabe um dia?!

PETRÔNIO: (amigo) - O meu voto você já tem.

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Todos riem. Pedreiros indo embora e eles também.

Corta para:

CENA 67. QUARTO DE ZECA. INTERNA. NOITE

Gorete de roupa íntima. Cinta liga preta e chicotinho na mão

e de salto alto coloca o pé sobre a cama. CAM revela Zeca

amarrado na cama e feliz. Clima de sedução Sadomasoquista.

Corta para:

CENA 68. PRAÇA DE TETEMBAU. EXTERNA. NOITE

Instrumental. José e Sinira, João e Serena sentados no banco

da praça conversam e sorriem. Estão felizes. Mais adiante,

Pablo e Valdir brincam de pega-pega enquanto Briane conversa

com outras mulheres. Manfred no coreto observa tudo com os

olhos brilhantes de apaixonado pela vida.

Corta para:

CENA 69. CASARÃO BIANCHINI: COPA. INTERNA. NOITE

Música instrumental perpassa. Pilar, Petrônio, Salvador,

Léo, Guto, Úrsula e o bebê. Todos à mesa. Conversam entre

si. Alimentam o bebê. Todos brincam.

Corta para:

CENA 69. COZINHA DAS DÁVILA. INTERNA. NOITE

Instrumental. Solimar escrevendo no diário. Detalhes dela

pensando, depois da letra manuscrita no diário. Em efeitos

artísticos dividindo a tela.

SOLIMAR: (In off) – Essa terra foi tomada dos

índios. Dizem que os espanhóis e italianos

tentavam se estabelecer nesse país em busca de

riqueza. Os escravos eram fartos, mas aos

poucos estavam sendo abandonados e trocados

pelo sistema de proletariado. Os negros sem

salário não contribuíam para a economia. Os

estrangeiros sabiam disso. Por isso, preferiam

trabalhar, enriquecer e contratar mão-de-obra

mais baratas. Eles sempre foram explorados e,

os índios, que não aceitavam a subserviência

ou fugiram ou foram mortos. Aqui foi assim...

Fusão com:

CENA 70. STOCK-SHOT: ESTAÇÃO DE TREM. EXTERNA. DIA

Imagens de construção da estação desde os alicerces aos

telhados. Efeito passagem de tempo conforme a narração.

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SOLIMAR: (in off) – Dizimaram a aldeia indígena

e todos os negros. As famílias Pimenta e

Bianchini dividiram a propriedade ao meio de

fizeram as suas fazendas. Os Pimenta logo

denominaram a propriedade como Cerro Grande,

já os Bianchini foi dividindo as terras entre

os outros italianos e formando uma currutela.

Logo, com o apoio dos Pimenta ergueram uma

capelinha que veio a ser a nossa atual igreja.

Aos poucos, aquela aglomeração foi se elevando

à qualidade de vila e depois de distrito.

(irônica) Um distrito intocado, abandonado à

própria sorte em meio a uma série de afluentes

dos quais nem os Bianchini e nem os Pimenta se

atentaram. Depois de muita luta, a cidade se

transformou em Município no mesmo ano em que

ergueram a represa de Tupaciguara. Uma enorme

barreira no alto da montanha que ajudou tampar

ainda mais essa cidade. Por anos a fio, a

represa enchia e a cidade alagava. Qualquer

chuva erra preocupação até o senhor Salvador

Bianchini ser prefeito pela primeira vez e

mudar tudo. Recentemente a cidade quase sumiu

graças ao inconsequente Eurico Mendes. O

vereador herdou a prefeitura e não tomou

providência alguma quando fortes chuvas

vieram. Essa, é a breve introdução da História

de Tetembau. Aliás, o nome, vem de uma junção

indígena: Tetã=cidade e, Embau=vazia. Essa

história me foi soprada pela alma do meu

querido e admirável Leofá, por quem fui

apaixonada, amei e amo sem segredo até hoje.

Nesse livro ainda terá um capítulo inteiro

destinado a esse grande homem que sempre ajudou

Tetembau.

Corta para:

CENA 71. ESTAÇÃO DE TREM. EXTERNA. DIA

Pedreiros sobre andaimes rebocando a Estação. Tempo de chuva.

Ventania. Pedreiros começam a correr. Telhados da estação

voam e machucam pedreiros.

Fusão com:

CENA 72. STOCK-SHOT: RIOS CAUDALOSOS. EXTERNA DIA.

Chuva forte e rios cheios. Pessoas fazem barricadas com

sacos.

Corta para:

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CENA 73. PREFEITURA: GABINETE. INTERNA. DIA

Trovão e relâmpagos. Vento abre a janela da sacada. Salvador

levanta para se fechar. A sala está cheia.

BRIANE: - Nosso mandato está acabando e

prometemos entregar as melhorias até o final

desse mandato, mas estou desestimulada. Creio

que não será possível. Não gostaria de sair

sem cumprirmos o que prometemos.

GORETE: (preocupada) – Meu sobrinho. Acha que

podemos correr risco de não acabar a tempo?

GUTEMBERG: (pensativo) - Creio que entregue há

tempo será possível se dobrarmos o itinerário

de serviço. Mas, isso aumenta o custo.

LEOPOLDINA: - Eu doo uma parte dos custos em

nome de nossa família. Já tem as homenagens na

pedra fundamental. O que custa colaborar, não

é Salvador?

SALVADOR: - Eu concordo!

GUTEMBERG: - O novo bairro já está pavimentado.

As vias que ligam a cidade à estação estão

firmes e forte. A chuva atrapalhou somente o

cronograma da Estação e nada mais.

BRIANE: - E os piscinões? Quando devemos abrir?

GUTEMBERG: - Assim que a chuva parar, senão a

cidade vai viver esse pesadelo de enchente

sempre.

SALVADOR: - Para esses piscinões, posso doar

os meus homens para trabalhar voluntariamente.

Assim tiramos esse peso todo da prefeitura

tanto em custos quanto em tempo de produção.

BRIANE: (preocupada) – Pelo menos uma notícia

boa no meio desse tumulto.

Tensão.

Corta para:

CENA 74. PRESÍDIO: PÁTIO. INTERNA. DIA

Tempo nublado. Investigador passa por carcereiro e deixa uma

grana na mão dele. Ele entra no pátio e disfarçadamente

Eurico se aproxima.

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INVESTIGADOR: - A estação vai ser inaugurada

em uma semana.

EURICO: (baixo tom) - Tudo bem. Promova a

rebelião uma noite antes. (com ódio) Na manhã

seguinte quero todos os explosivos nos locais

que passei. Esse povo vai morrer soterrado.

INVESTIGADOR: - E o pagamento?

Eurico tira as escrituras do macacão.

EURICO: - Todas assinadas. As escrituras dos

meus hotéis são suas. Venda tudo e suma desse

país assim que eu acabar com os meus planos.

Eurico sai de perto dele. Investigador passa pelo carcereiro

fazendo um gesto de tudo certo e sai.

Corta para:

CENA 75. RUAS DE TETEMBAU. EXTERNA. DIA

Sol forte. Quitéria sai da padaria com um saco de pão e anda

alguns metros e tromba com Solimar. As duas ficam frente a

frente.

SOLIMAR: - Dona Quitéria.

QUITÉRIA: (apreensiva) - Dona Solimar!

SOLIMAR: - Queria lhe fazer um pedido.

QUITÉRIA: (insegura) – Que pedido?

SOLIMAR: - Desculpas. Acho que sempre fui muito

rude e injusta com a senhora.

QUITÉRIA: (sem reação) – É... eu... não sei.

SOLIMAR: - A vida é feita de nossas escolhas.

E eu escolhi viver na amargura e sem amor. Acho

que a vida tão aberta como a senhora leva mexeu

comigo. Admito, sua felicidade me incomodava.

QUITÉRIA: (amável) - Vamos fazer assim. Vamos

deixar isso tudo no passado.

SOLIMAR: - Sim. Preciso ser uma cristã melhor

e livre de julgamentos. A lição da cristandade

é amar o próximo.

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Quitéria abre o saco de pão e retira um pãozinho.

QUITÉRIA: - E, repartir o pão.

SOLIMAR: (amável) – Quer ir à minha casa tomar

o café comigo? Fiz um confeito maravilhoso!

QUITÉRIA: (irradiante) – Claro! Porque não?! É

sempre bom termos novas amizades.

Instrumental. Solimar estende o braço a ela e as duas saem

de braços dados. Todos na rua olham surpresos e as duas

emendando conversa.

Corta para:

CENA 76. CARTÓRIO. INTERNA. DIA

Música perpassa. Casamento. Pilar bem vestida estende a mão

para Petrônio. Ele coloca uma aliança em seu dedo e ela

coloca nele. Os dois se beijam. Todos os presentes da família

aplaudem. Close: Léo emocionada.

Corta para:

CENA 77. ESTAÇÃO DE TREM. INTERNA. DIA

Música perpassa. Pedreiros finalizando a obra e pintores

dando o retoque final. Salvador passeia pela Estação. Olhos

marejados. Seu close divide com imagens do irmão Santiago,

de seu pai e de sua mãe. Leopoldina se aproxima e o abraça.

LÉO: (feliz) - Mais um sonho realizado, meu

amor.

Salvador não consegue falar. Só faz que sim chorando e beija

a testa de Léo.

Corta para:

CENA 78. FACHADA DA PREFEITURA. EXTERNA. DIA

Instrumental. Briane sai na sacada. Pessoas aplaudem. Caixas

de som, bexigas e pessoas eufóricas. Briane faz um gesto

pedindo silêncio e as pessoas atendem.

BRIANE: (emotiva) – Amanhã será um grande dia

para nossa cidade. Eu estou emocionada.

Amanhã, às 8 horas, quando o sol estiver de pé

e radiante em nós, receberemos a chegada da

primeira viagem de trem trazendo os nossos

primeiros turistas à Estação. Nossos primeiros

convidados chegarão e colocarão Tetembau no

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mapa do Brasil de uma vez por todas. O nosso

esquecimento acabará.

Instrumental.

(Cont’d) Seremos um povo parte desse Brasil.

Graças a Deus!

As pessoas ovacionam e aplaudem.

(Cont’d) (se auto afirma chorando) Graças a

Deus!

Corta para:

CENA 79. MATA FLORIDA. EXTERNA. DIA

Fotografia com filtro amarelado. Salvador e Léo andam de

mãos dadas. Ela com uma flor na mão.

SALVADOR: - Imaginou algum dia que nosso fim

seria junto?

LÉO: - Algumas vezes sim. Outras, me batia o

desânimo. Mas sempre acreditei na força desse

amor.

SALVADOR: - Só voltei a acreditar quando você

voltou. (T) Meus dias eram cinzas. Eu tentava

me iludir que estava feliz. Não que as demais

não me dessem felicidades. Mas, não eram você.

Sempre busquei você nelas. Mulheres fortes.

LÉO: (brinca) – Então eu sou forte? Geniosa?

Salvador se vira de frente para ela.

SALVADOR: - Como uma ventania! E foi por essa

liberdade e força que me apaixonei desde que

a vi naquela jardineira.

LÉO: - E eu, pelos seus olhos e sorriso. Pelo

equilíbrio e pela loucura (sorri).

SALVADOR: - Loucura é o bem dos idealistas.

LÉO: - E por isso estamos juntos. Tivemos um

amor ideal que agora está construindo o real.

(T) Eu te amo tanto!

SALVADOR: - E eu te amo mais. A cada dia mais.

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SE beijam contra a luz. Silhuetas.

Corta para:

CENA 80. TETEMBAU. EXTERNA. NOITE

Instrumental Romântica. Cidade pacata com seus habitantes

passeando pela rua.

Fusão com:

CENA 81. IGREJA/SACRISTIA. INTERNA. NOITE

Suspense. “REQUIEM FOR A DREAMS”. Padre na missa falando.

Terror. De repente e luz se apaga. Índios e negros invadem

a igreja gritando e rendendo os brancos e os matando. Padre

fica desesperado se ajoelha e ora. Suméria aparece no meio

deles com um cálice repleto de sangue em mãos.

Fusão com:

SACRISTIA:

Suspense. Padre acorda assustado e suado.

PADRE: (aterrorizado) - Outro pesadelo não.

Algo está prestes a acontecer. É um aviso!

Padre faz sinal da cruz. Ajoelha e ora.

Corta para:

CENA 82. PRESÍDIO: CELA/CORREDORES. INTERNA. NOITE.

A música se estende. Tudo escuro. Eurico acende um isqueiro

e coloca fogo no colchão. Tumulto e gritaria. Alguns começam

a se bater. Outros tentam apagar o fogo que se alastra.

Tumulto generalizado. Policiais abrem as celas e manejam os

bandidos. De repente os bandidos atacam os policiais e os

rendem. Dentre eles, Eurico. Todos correm com o auxílio dos

carcereiros. Sirenes soam junto à música.

Fusão com:

CENA 83. PÁTIO DO PRESÍDIO/FACHADA/ESTRADA. EXTERNA. DIA

Sirenes de alerta. Policiais correndo. Eurico corre e com

uma arma de artilharia pesada atira contra policiais. Um

carcereiro abre o portão e sinaliza para os presos fugirem.

FACHADA DO PRESÍDIO:

Eurico aparece correndo. Investigador sinaliza para ele que

vai na direção do carro. Eles entram.

EURICO: - Toca direto para represa, sem parar!

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INVESTIGADOR: - Aperta o cinto. Eles vão nos

seguir.

Saem dando cavalo de pau. Carros da polícia vem ao encontro

deles. Eurico coloca o corpo para fora da janela e abre fogo

explodindo um dos carros.

ESTRADA:

Vista do alto. Carro em alta velocidade. Eurico na janela

gritando. Dispara tiros para o alto.

EURICO: (eco) - Liberdade ainda que tardia!

Risadas de crianças.

Fusão com:

CENA 84. MATA. EXTERNA. NOITE

Suméria se vira para trás assustada. Negrinho passa correndo.

Risadas de criança. Suméria ergue o lampião na altura dos

olhos. Risadas infantis com eco.

SUMÉRIA: - Leofá?

Leofá toca os seus cabelos por trás. Ela se vira e ele some.

(Cont’d) (com medo) O que você quer?

LEOFÁ: - A última gota do meu sangue nesta

Terra.

SUMÉRIA: - Amanhã, devolverei o cálice à

Leopoldina.

LEOFÁ: - Quero o meu filho Suméria. O nosso

filho que sempre escondeu.

SUMÉRIA: - Leopoldina o buscará.

LEOFÁ: - Não. Estará morta. O nosso filho só

pode vir a mim pelas suas mãos. Nosso destino

está cruzado e tem que finalizar junto. Preciso

evoluir. Sair desse limbo que me colocou.

SUMÉRIA: - Mas, como?!

LEOFÁ: (eco) - Você sabe os caminhos.

Suspense. Leofá some.

Corta para:

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CENA 85. ESTRADA. EXTERNA. AMANHECER

Suspense instrumental. Investigador e Eurico no carro.

INVESTIGADOR: - Porquê dessa vingança?

EURICO: - Porque da sua pergunta?

INVESTIGADOR: - Sujei o meu nome e deixei a

minha vida para trás em troca de dinheiro. Só

queria saber no que e estou metido.

EURICO: - Tudo se resume no poder. No prazer

de mandar e desmandar, de ser o melhor,

admirado e idolatrado. O lance é idolatria.

Senão qual o sentido de ter poder?

INVESTIGADOR: - Você é um doente!

EURICO: (gargalha) – Eu sei. (sério) Você não

é diferente. Está mais sujo que pau de

galinheiro.

INVESTIGADOR: (sorri) – Eu sei. Mas, invés de

poder, só quero dinheiro para desfrutar e gozar

de uma vida de luxúria.

EURICO: - Você e eu somos iguais. Não nos

contentamos com a miséria!

INVESTIGADOR: - Não somos iguais.

EURICO: - Se acha melhor que eu?

INVESTIGADOR: (sorri) - Não é isso. (T) Só que

nunca precisei matar ninguém.

EURICO: (doentio) - Não sabe o quanto isso é

bom. Chegando lá eu vou explodir é tudo.

Nenhuma alma no meu caminho. Nada para destruir

meus sonhos.

INVESTIGADOR: - E depois? (T) Não sei se notou,

a polícia vai te procurar.

EURICO: - O “depois” é outra história.

Eurico gargalha. Imagem do carro ao longe no nascer do sol.

Corta para:

CENA 86. STOCK-SHOT: FAMÍLIAS. INTERNA. DIA

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Piano: “FADED” (Alan Walker). Clipe com todas as famílias e

personagens de Tetembau se arrumando para ir à inauguração

da Estação. Cena de carinho e muito amor. Beijos, abraços,

sorrisos. Cafés da manhã familiares.

Fusão com:

CENA 87. QUINTAL DO CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. DIA

Música perpassa. Salvador sentado com o sol no rosto. Léo se

aproxima com carinho e pega em sua mão.

LÉO: - Temos que chegar antes de todos. Afinal,

não queria ser o primeiro a ver?

Salvador sorri com carinho para ela. Se levantam e saem em

slow-motion.

Corta para:

CENA 88. MATA EM FRENTE A ESTAÇÃO. EXTERNA. DIA

Música perpassa. Suméria se aproxima e deixa um cálice perto

do painel de inauguração e sai. Se esconde atrás das árvores.

CAM passeia pela estação. Efeito passagem de tempo com Fade

out/Fade in. De longe, em slow-motion, Léo e Salvador entram

encantados. Léo observa tudo. Ritmo normal. Vê o cálice e

corre pegá-lo. Olha para todos os lados e vê Suméria

(OBJETIVA) atrás de uma árvore. Vai à ela. Salvador observa,

mas, Briane se aproxima dele e começa a conversar. Léo se

aproxima de Suméria na mata.

LÉO: (amiga) – Achei que jamais a veria.

SUMÉRIA: - Eu também. Mas, eu tive que vir. O

fantasma de Leofá me atormenta dia após dia

até que a última gota do sangue dele seja seca

para que tenha paz. Preciso de sua ajuda para

que eu também tenha paz.

LÉO: (assombrada) – Como posso?

SUMÉRIA: - Destrua esse cálice. Queime-o. Isso

só pode ser desfeito pelas mãos de sua família.

LÉO: - Não sei como, mas vou fazer.

SUMÉRIA: - Preciso ir.

Instrumental.

(Cont’d) Mas, para que eu tenha paz, preciso

saber de sua boca se é capaz de me perdoar.

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Tudo o que fiz foi movido pelo medo. Nada que

fiz foi por maldade de meu coração.

Léo a abraça.

LÉO: - O perdão está no meu coração. Se é isso

que te prende, pode seguir em paz.

As duas trocam olhares de cumplicidade. Suméria sai de costa

e começa a correr na mata. Léo retorna a Estação.

SALVADOR: - Onde estava?

LÉO: - Tinha a impressão de ter visto alguém.

SALVADOR: (assustado) – E viu?

LÉO: (verdadeira) - Sim! Fantasmas do passado.

Fora isso, só motivos para sermos felizes daqui

para diante.

Salvador sorri e a abraça. Suspense. Sirenes de polícia.

Fusão com:

CENA 89. ESTRADA. EXTERNA. DIA

Eurico assustado. Investigador compenetrado. Suspense ao som

de “FADED”. Carros policiais seguindo os dois.

EURICO: (gritando) – Como nos descobriram.?

INVESTIGADOR: - Achou que a Polícia não iria

procurar um fugitivo na própria cidade? A

hidrelétrica é vizinha de onde mora!

EURICO: (desesperado) – Inferno! Acelera!

Acelera! Estoura a cerca; tem como chegar até

lá pela mata. Faça o que mando e escaparemos

deles.

O carro estoura a cerca e começa a penetrar a mata entre

árvores em descidas e barrancos sacolejando tudo. Carros da

polícia se divide atrás e outros pela pista.

Fusão com:

CENA 90. HIDRELÉTRICA/BARRAGEM. EXTERNA. DIA

Policiais entrando com os carros pelo outro lado. Eurico e

investigador correndo pela mata.

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INVESTIGADOR: (nervoso) - Droga. Eles vão nos

pegar! Onde eu estava com a cabeça de me meter

nisso?!

EURICO: - No dinheiro! Agora é tarde demais

para reclamar. (T) Todos os explosivos estão

onde planejei?

INVESTIGADOR: (com medo) – Sim.

Do alto, uma série de policiais armados aparecem do outro

lado da barragem. Eles tentam voltar. Aparece outro grupo.

POLICIAL: (megafone) – Se entreguem. Vocês

estão cercados.

Música sobe. Eurico com olhar de louco olha para o

Investigador que tem o ar derrotado. Aplausos.

Fusão com:

CENA 91. ESTAÇÃO. EXTERNA. DIA

Todos aplaudindo e se abraçando. O trem estaciona. Do trem

desce Pâmela que corre abraçar Quitéria com o marido e o

filho no colo. Mais adiante, Dione de freira vai ao encontro

de Filipa e a abraça. Elas choram. Desce uma multidão.

Manfred olha para Júlio feliz e segura o seu dedinho com

carinho. Do último vagão aponta André. Júlio surpreso corre

em sua direção (slow-motion). Manfred fica com cara de choro.

Júlio abraça André e o beija publicamente. André o gira.

Fusão com:

CENA 92. BARRAGEM. EXTERNA. DIA

“FADED” no ápice. Eurico e investigador com as mãos para

cima. Detalhe: Mão de Eurico no botão de controle dos

explosivos. Polícia avançando dos dois lados. Eurico olha

para o investigador.

INVESTIGADOR: (chorando/eco) – Nãooo!

Eurico sorri como um louco.

EURICO: (eco) – Sim.

Aperta o botão. Uma enorme bolha de água levanta em slow-

motion e a barragem racha desmoronando com todos em cima.

Fusão com:

CENA 93. ESTAÇÃO. EXTERNA. DIA

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Forte estrondo. Chão tremendo. Todos olham assustados para

trás. Slow-motion. Solimar com o seu diário na mão faz sinal

da cruz. Uma onda enorme vai engolindo a mata e a estação.

Fusão com:

CENA 94. TETEMBAU. EXTERNA. DIA

Vista do alto. Uma grande onda destrói casas e vai engolindo

a cidade. A torre da igreja tomba. CAM passeia do alto e

avista apenas um vale cheio de água. Música cessa. Silêncio.

FADE OUT/FADE IN:

CENA 95. LAMAÇAL NO MEIO DA MATA. EXTERNA. DIA

Suspense. Pés descalços negros andam na lama. A CAM acompanha

sem revelar quem é.

LEGENDA: 1.996.

Uma mão soterrada segura um diário. Mão negra abaixa e pega

o diário. Abre o diário e vê fotos de Leofá e os escritos de

Solimar. Focaliza as costas. Uma negra anda em direção à

mata com o diário na mão. Adentra a mata. Desfoque.

Corta para:

CENA 96. PANORÂMICA: QUEBEC/CANADÁ. EXTERNA. DIA

Um homem negro com cerca de 50 anos, chamado de JHONY passeia

pela rua com um fone de ouvido e roupa de frio. “SEND MY

LOVE” (Adele). Anda dançando no ritmo da música. É careca e

usa óculos.

LEGENDA: Quebec, Canadá – 2018.

Corta para:

CENA 97. SOBRADO. INTERNA. DIA

Sobe as escadas. Tira o fone. A música continua pelo foninho.

Entra na sala e beija um idoso, ERCÍLIO.

ERCÍLIO: (preocupado) - Encomenda para você.

Do Brasil. Está no aparador. O estranho é que

a postagem é de 1996.

Johny abre o pacote apreensivo. DETALHE: É um velho diário

sujo de barro e uma carta. Senta no sofá de frente com

Ercílio. Ercílio aparenta estar mais curioso que ele.

(Cont’d) Tudo o que se fala do Brasil mobiliza

muitas coisas em você. Já notei isso.

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JOHNY: - Minha mãe está doente e quer me

conhecer antes que... ela morra. Quer passar o

resto da vida dela comigo, diz a carta.

ERCÍLIO: - Tem que ir. (triste) É sua mãe,

parte de você e suas origens.

JHONY: - Mas, e o senhor? Sinto você como meu

pai. Você me criou.

ERCÍLIO: - Vou ficar bem. Pode confiar. Já

estava na hora de visitar os seus. Você fugiu

disso por 50 anos. Agora não dá mais. E tem

uma hora que é melhor saber de onde veio para

se saber onde vai e quem se é por inteiro.

Senão você vai passar a vida toda sendo só uma

metade. A metade que te criei

Johny o abraça.

JHONY: - Mas é uma metade tão boa. (T) Não sei

se quero ir.

ERCÍLIO: - Isso é você quem tem que decidir.

Clima de carinho. Johny pensativo.

Fusão com:

CENA 98. STOCK-SHOT: VIAGEM. EXTERNA. NOITE/DIA.

Jhony em avião, depois em ônibus e trens Marias-Fumaças.

Fusão com:

CENA 99. ESTAÇÃO DE TREM. INTERNA. NOITE

Desce do trem numa estação velha e abandonada. Suspense. Um

bêbado deitado num dos bancos. Johny cansado.

JHONY: - Com licença. Sabe me dizer onde fica

Tetembau?

BÊBADO: (dá de ombros) - No fim da linha do

trem.

JOHNY: - Como assim?

BÊBADO: - Aqui é o fim do mundo, moço. Essa

cidade não existe mais, ou nunca existiu.

Parece lenda. Mas, todo mundo que procura,

segue os trilhos que vai dar na mata.

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Johny fica decepcionado. Se senta num dos bancos chateado.

Abre a mochila, tira o diário e começa a reler. Efeito

passagem de tempo. Relógio da estação marca meia-noite,

depois pula para seis horas da manhã. Ele dormindo sentado

com a mochila no meio das pernas e diário sobre o peito. Luz

do dia em seu rosto. Um trem passa fazendo barulho em alta

velocidade. Ele abre os olhos e não vê nada. Estranhando se

levanta e acorda o bêbado. Suspense.

JOHNY: - O senhor viu ou ouviu um trem passando

por aqui?

BÊBADO: - É o trem fantasma. Passa todos os

dias. Vai sempre até o fim da linha que dá na

mata. (rude) Satisfeito? Agora, me deixe

dormir.

Suspense. Johny fica assustado. Desce a estação e segue pela

linha.

Fusão com:

CENA 100. MATA. EXTERNA. DIA

Vai seguindo pela linha de trem. Quando percebe está no meio

da mata e vê a linha afundada no barro. Se ajoelha e passa

a mão para ter certeza que é real.

JHONY: (assustado) – É real essa linha. Que

loucura! Onde fui me meter? (se levanta) Vou

voltar para casa.

Ele se vira para voltar. Barulho de água corrente. Olha para

o chão e vê a água brotar do chão, molhar seu pé e adentrar

a mata. Segue pela linha para sair da mata.

SUMÉRIA: (in off) - Filho.

Jhony se vira e vê uma negra velha descalça e molhada. Mãos

enrugadas e cabelos brancos cumpridos. Ela estende a mão.

JHONY: (assustado) – Como pode surgir do nada?

Não tinha nada e nem ninguém aqui agora!

SUMÉRIA: (amável) - Seu pai e eu estávamos lhe

esperando. Venha conosco.

JHONY: (irritado) – Isso é uma brincadeira de

péssimo gosto. Estão me assustando. Não vou a

lugar algum. Nem com você e nem com ninguém.

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Jhony tenta andar mais películas de água sobem pela sua perna

o prendendo (efeito gráfico).

LEOFÁ: (aparece na mata) – A minha última gota!

(admirado) O último Pimenta de minha família.

(T) Agora que veio até nós, não irá fugir.

JOHNY: (com medo) – Quem é você?

LEOFÁ: - Teu pai!

JOHNY: (surpreso) – Um branco? (desgostoso) Um

branco!

LEOFÁ: - Somos frutos de uma gente miscigenada.

Eu custei a entender isso. A pele em sua cor

não é nada. Somos todos iguais. (T) Vem filho.

(estende a mão) Vamos nos libertar disso.

Precisamos ter paz.

Todos os pimentas ressurgem envoltos em películas de água.

JHONY: (com medo) - Não. Não vou com vocês.

(perdido) Afinal o que são vocês? Que criaturas

são essas? Eu não os reconheço como família.

“FADED”. Leopoldina aparece com o cálice e entrega a Suméria.

LÉO: - És uma gota de água nessa vida, meu

jovem. Entenda isso. Sozinho você é só mais

um, mas em família, somos mais.

De mãos dadas Leofá e Suméria se aproximam dele. Santinha

sorri para ele com muito amor. Ele tenta escapar, mas seu

corpo fica envolto de agua sem deixar que se mexa. Ele faz

força e reluta como medo.

JHONY: - Não. Por favor! Me deixe ir.

SUMÉRIA: - És um de nós.

LEOFÁ: - És meu!

Suméria segura uma das mãos dele e Leofá a outra. Um círculo

de água envolta os três que saem do chão e flutuam assim

como todos os que surgem. Surgem os moradores de Tetembau

envoltos de água. Juntos, índios e negros ao chão e entre

árvores. Aos poucos cada um se transforma numa gota de água

e cai na terra. Os índios e negros se transformam em árvores,

ficando apenas os três envoltos na bolha de água suspensa.

A música sobe em ápice.

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SUMÉRIA: (in off) – A família é a semente da

paz. Só tem paz a família que caminha unida.

Agora poderemos conhecer a paz.

A bolha de água explode com gostas penetrando a terra e do

chão surge uma plantação de girassóis que crescem rapidamente

em direção ao sol durante a fala.

SUMÉRIA: (in off) - Toda vida é uma flor que

tem que ser regada com amor e carinho. Umas

conhecem o amor em vida, no nascimento e nos

jardins, outras, apenas em morte habitando os

cemitérios e nem por isso deixam de ser flores

belas que se abrem à vida diariamente exalando

o seu aroma. As flores são presentes das

divindades para os melhores sentimentos. Seja

numa festa de mesa farta ou mesa pobre, ou na

chegada de um amor, ou na despedida de uma

cidade vazia. Elas, sempre florescerão.

Sobe a música. Panorâmica da plantação de girassol no meio

da mata.

Fade Out. Surge o letreiro:

===========================================================

F I M

===========================================================

Trechos da Estação construída.

Estação na fase final.

PILAR E PETRONIO SE CASAM NO CARTÓRIO

LEOPOLDINA E SALVADOR JURAM AMOR ETERNO.

BRIANE CONVIDA A TODOS PARA A INAUGURAÇÃO NO PROXIMO FINAL

DE SEMANA

EURIO FOGE (INVESTIGADOR AJUDA)

Musica final FADED