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Capítulo 1 - Hoje

O dia voltava a nascer em Orange County. Deitados no sofá, atraídos desordenadamente pela força da gravidade, Ryan e Seth dormiam profundamente. O sol de mais uma manhã de verão na Califórnia dava as boas-vindas à terra dos ricos, inundando a casa de luz através das enormes vidraças. Há muito tempo que Newport Beach não vivia os Cohen no seu esplendor. Na verdade, desde o dia em que Berkeley os acolhera para recomeçarem uma nova vida, aquela que se seguira ao terramoto. O terramoto! Foi há uma eternidade. Desde então, muita coisa mudou, não poderia ter sido de outra maneira. Mas mudou apenas nas vidas e nos caminhos mais ou menos sinuosos que cada um teve de percorrer, porque as pessoas, essas, são as mesmas de sempre.

Ryan Atwood, agora um arquitecto com uma carreira sólida e de sucesso, encontrou em Clara a alma gémea que um dia tivera em Marissa, embora Clara em nada se assemelhasse à Cooper rebelde. Ryan vivia em Berkeley, cidade onde se formou academicamente e reorganizou – novamente - a sua vida, mas sempre com os Cohen por perto. Afinal, o que seria de Ryan sem eles! Os anos na faculdade mostraram-no preocupado em servir de exemplo à irmã, mas sobretudo para si mesmo, destacando-se como um dos melhores alunos na Universidade de Berkeley.

Não o admitia conscientemente, mas nas profundezas do seu coração, o mesmo que tantas e tantas vezes tinha dificuldades em abrir aos outros, Ryan lutou também por Marissa e pela oportunidade que ela nunca tivera. Mas Atwood era agora um homem independente e empregava todos os seus esforços na carreira profissional. Mas se era verdade que os Cohen tinham sido uma presença constante nos últimos anos, ultimamente as suas vidas tinham-se afastado, suavizado. Faltava algo…

Seth Cohen. “Personagem” idiossincrática, continuava a viver dos sonhos. A fama não tinha subvertido a sua essência. Los Angeles não o conseguira, apesar de tudo. Os comics são, e sempre foram, a sua forma de expressar o mundo, de se expressar a si próprio. A seriedade da vida nunca foi algo que Seth prezara especialmente.

O espírito aberto, bondoso e infantil que um dia lhe permitiu acolher em casa um estranho e adoptá-lo como irmão e amigo mantinha-se inalterado. Mas talvez por isso, pela infantilidade e ingenuidade, Seth vivia agora a vida apenas por viver. Perdera a única coisa que sempre quisera em toda a sua vida. Faltava algo…

Sandy Cohen, o ombro amigo em qualquer circunstância. Foi assim que o conhecemos, e é assim que continua, após todos estes anos. Em Berkeley tinha decidido romper com o passado. Paralelamente à carreira como professor universitário, Sandy fundou a “CASA” (Casa de Apoio aos Sem Abrigo), uma

instituição que tirou da estrada e desviou da miséria famílias inteiras, restaurando-lhes a esperança num futuro melhor. Sandy parecia viver na sua essência, um homem feliz com a simplicidade da vida que escolhera. Invariavelmente ao seu lado, qual braço direito, Kirsten era o seu complemento, o seu abrigo. Mas os últimos tempos não tinham a mesma brisa, o mesmo fulgor do passado. A vida corria depressa demais e os Cohen perdiam-se a cada dia mais que passava. Faltava algo…

Kirsten Cohen. Berkeley significou também para ela o começo de uma nova vida. Os anos em Newport, o legado do pai e o trabalho na Newmatch faziam parte de uma recordação que parecia distante, esbatida, e Sophie, a filha mais nova, passou a ser o centro do seu mundo. O início foi maravilhoso. O nascimento de Sophie transportara-a ao passado e o seu crescimento era o odor adoçado que inundava a casa dos Cohen de vida e felicidade. Havia momentos em que se recordava do pequeno Seth a crescer naquela mesma casa, a mesma vida.

Kirsten foi também aumentando a sua influência na “CASA”, trabalhando ao lado do marido e experienciando os bons momentos que o novo rumo lhes proporcionava. Mas os últimos sentimentos eram diferentes também em “Kiki”. O tempo era apenas isso. Tempo. E quem conhece Kirsten sabe que romper com o passado e seguir em frente é algo que sempre soube enfrentar. Mas agora era diferente. Os oito anos que mediaram a vida entre o último dia em Newport e o hoje em Berkeley tinham passado rápido de mais. Faltava algo…

Sophie Rose Cohen. A mais nova do clã que apenas conhecia a vida pós-OC. Nascera e crescera levada pelos ventos da nova cidade e destacava-se pela inteligência e sentido perspicaz, qualidades transversais à família Cohen. Algo que lhes correr no sangue, tal como… Orange County. Newport Beach. E assim, Sophie, filha de Berkeley, sentia também que a alegria de outrora se fora.

Capítulo 2 – Dois meses antes

04:30 Horas da manhã.

“Não vou conseguir acabar antes das 10 horas!”

“Isso é que vais. Não te esqueças que quem decide isso não és tu, mas eu! E eu acabei de decidir que às 8 horas da manhã em ponto tenho essa porcaria em

cima da MINHA mesa no MEU gabinete, ou vais recambiado para a espelunca de onde vieste.”

“Mas…” Do outro lado da linha já não havia ninguém. Seth estava enterrado num cadeirão a olhar pela janela do seu quarto no Hotel Hollywood Roosevelt. Parte da cidade de Los Angeles acabava de se deitar enquanto a outra parte se preparava para mais um dia de trabalho. Ele sentia-se algures no meio. Com o ar de sonhador melancólico no rosto, Seth continuava a segurar o telefone, hipnotizado pelo incessante e regular som da linha telefónica, incapaz de o pousar, pois isso seria sinónimo de um esforço físico e psicológico que Seth não estava disposto a enfrentar naquele momento.

Em cima da mesa, que ele tinha deslocado cuidadosamente para junto da janela do quarto situado no 14º andar, Seth espalhara uma enormidade de folhas, canetas, lápis, marcadores e outros objectos que constituíam a ferramenta da sua vida. Os comics eram definitivamente a sua paixão. Recorda-se que vivera muitos anos na indefinição quanto ao seu futuro profissional. Poucas coisas o interessavam ao ponto de as poder encarar seriamente como uma profissão a seguir. Ao invés, os comics eram uma obsessão tão ardente que nem o próprio Seth alguma vez os encarou como o seu caminho de vida. Consequentemente, foi obra do acaso o facto de Seth Cohen se ter transformado naquilo que é hoje. Uma estrela. No currículo, mais de uma dezena de comics dignos dos mais altos louvores da crítica da especialidade e recordes de vendas em todo o país. A isto, “Homem Destemido”, a história de um super-herói à moda antiga e um dos seus maiores sucessos junto dos fãs, acabava de estrear no grande ecrã.

Seth vivia rodeado de gente bonita e famosa, sempre pronta a posar e a sorrir para os fotógrafos e para a televisão, oferecendo o alimento de que vive este circo mediático. Mas ele não é assim. Passava os dias a rabiscar folhas, a amarrotá-las e a recomeçar. Por vezes encontrava na televisão e nos videojogos o seu maior aliado, amigo até. Para Seth, uma aparição pública para divulgar algum dos seus trabalhos era um desafio gigantesco e monstruoso que o aterrorizava. Tinha literalmente medo. A

exposição mediática e a vida de farsa não era a dele. Sentia-se sozinho na vastidão de Los Angeles.

Eram exactamente oito da manhã quando passou a imponente porta do edifício. O gabinete privado de Stanley Maddock situava-se no 20º andar, e não fossem os “divinos” elevadores e Seth nunca o teria visitado com toda a certeza. Ainda completamente absorvido pelo sono dirigiu-se à porta e bateu três vezes. Ouviu um grunhido distante que interpretou como sinal para rodar a maçaneta e entrar. Stanley Maddock era uma personalidade incontornável no mundo dos comics. Poderoso e influente, teve o mérito de descobrir Seth e o seu talento numa loja de revistas de banda desenhada nos subúrbios de Los Angeles. Era igualmente o presidente da “Global Art”, a empresa para a qual Seth trabalhava. O físico impunha um certo respeito. Tinha o seu 1.90 m e à vontade cem quilos, o que inevitavelmente intimidava o franzino Cohen. E era essa figura que Seth tinha à sua frente.

“Bom dia Sr. Maddock.” Uma pausa prolongada, pautada pelo silêncio das quatros paredes, quase levou Seth a adormecer em pé.

“Trouxeste a porcaria que me anda a roubar o sono há semanas?” vociferou Maddock sem tirar os olhos do documento que analisava.

“Roubar-lhe o sono? Tenho a leve sensação que quem não tem dormido muito sou eu, mas tudo bem.” Seth formulou esta observação apenas no seu pensamento. Proferi-la em voz alta teria certamente causado demasiada confusão logo pela manhã, algo que o Cohen queria definitivamente evitar.

“Sim, tenho. Mas na verdade eu…” respondeu Seth, antes de ser bruscamente interrompido.

“… deixa-me ver que eu não tenho todo o tempo do mundo”. O tom autoritário do patrão fez esmorecer em definitivo qualquer esforço de Seth na tentativa de expor a sua opinião sobre o trabalho. Limitou-se a estender o braço e a entregar a capa com os desenhos a Maddock. Mais segundos de um silêncio embalador.

“Mas que raio vem a ser esta… coisa?”

“A verdade é que tenho tentado explicar-lhe desde não sei bem quando. Eu…” Mais uma interrupção.

“Seu imbecil! Julgas-te quem? Uma estrela, que tem o direito de fazer qualquer porcaria que lhe passa pela cabeça?” Maddock explodia de irritação, tomado pela cólera que fazia o seu rosto inchar e assumir tons pouco saudáveis. Seth sabia que este não era o seu melhor trabalho, nem por sombras. A sua vida estava confusa e Los Angeles não ajudava na árdua tarefa de a recompor. Muita coisa acontecera desde aquele dia. Ou aqueles dias. Ao princípio julgou que poderia canalizar todas as

desilusões e frustrações para o trabalho. Mas tinha-se enganado. Os dias, as horas, os minutos eram para ele um tormento difícil de suportar.

Capítulo 3

Ryan preservava os velhos hábitos. Não dispensava as corridas na praia que vezes incontáveis ao longo dos anos funcionaram como calmante para os sucessivos problemas que teve de enfrentar. Os problemas, agora, eram outros, mas a fórmula mantinha-se a mesma. Todos os dias antes de seguir

para o trabalho, Ryan percorria as praias de Berkeley levado pela brisa matinal, aproveitando esses momentos de isolamento para se abstrair dos pensamentos. Nunca fora um falador. Era do estilo recatado e introvertido, só tomando a palavra quando estritamente necessário. Era no escritório ou em casa, quando esboçava os desenhos e trabalhava com a mente que mais se sentia cómodo. Ryan Atwood era basicamente o mesmo. Mas longe iam os tempos das confusões e da violência, quando não conseguia suster os ataques de fúria. Era essa a forma que na altura encontrava para libertar os pesos que o atormentavam. Foi essa a forma que encontrou para combater o sentimento de raiva, descontrolo e inutilidade que a morte de Marissa lhe trouxe. Mas tudo isso fora há anos, demasiados. Podia jurar que desde aí uma vida inteira passara.

Acabava de se preparar para dar início a mais uma ronda pelas obras dos seus mais recentes projectos. Como já era habitual, Ryan estava sozinho em casa. Apesar de ser um indivíduo relativamente madrugador, por força do vício das corridas, tinha tido a “habilidade” de encontrar uma parceira que conseguia superá-lo nesse aspecto em particular. Não. Clara não acordava às seis da manhã para assistir ao nascer do sol na praia enquanto corria, apesar de ser possuidora de um corpo elegante e atraente. Era mais do tipo que frequentava o ginásio nas (poucas) horas vagas. Aos 28 anos podia indiscutivelmente ser considerada uma mulher de sucesso. Geria uma das maiores empresas do estado da Califórnia, a “WomenInStyle”, ligada à moda e com delegações espalhadas por todo o continente norte-americano, o que levava a que passasse grande parte do seu tempo em viagens e longe de casa. Nesse momento estava em Nova Iorque reunida com os mais famosos estilistas da actualidade a delinear os novos projectos da empresa.

Em casa, Ryan já se tinha habituado à ausência de Clara. Desde que a conhecera, há mais de três anos, que era assim. Os primeiros tempos da relação foram vividos com a intensidade natural e uma grande proximidade. Seguiu-se a normalidade e ambos acomodaram-se, passando a focar grande parte da atenção nos respectivos trabalhos do que propriamente na relação. No entanto, Ryan gostava dela.

Quando não estava com novos projectos entre mãos, Ryan passava os dias a visitar o andamento dos trabalhos nas diferentes obras. A presença do arquitecto era importante e ele prezava a competência. Desde que saíra da faculdade tinha-se transformado num workaholic infalível. Isso trouxera-lhe grande admiração junto das pessoas que profissionalmente lhe interessavam, permitindo-lhe uma rápida ascensão e um enorme reconhecimento. Mas com o passar dos anos, Ryan sentia-se cada vez mais afastado daquilo que tinha sido, dos gostos e de uma vida da qual sentia uma certa saudade. Não culpava o trabalho e muito menos Clara por esse facto. Era apenas um sentimento que surgira gradualmente e que teimava em não o largar. Enquanto conduzia pensava qual teria sido a última vez que estivera com Seth. Meses. Pior. Até o último telefonema datava de há algumas semanas. Subitamente, Ryan sentiu-se um estranho dentro do seu próprio corpo.

O som do telemóvel chamou-o de novo à realidade. Mas ficava a promessa feita a si mesmo. Reatar o contacto com Seth passava a ser um assunto prioritário.

“Atwood.” Atendeu a chamada sem olhar para o visor do telemóvel, mantendo a atenção na estrada.

“Querido, sou eu!” A voz segura de Clara soou do outro lado da linha. “Como estás?” continuou.

“Acho que… com saudades tuas.”

“Que querido. Eu também estou a morrer de saudades mas infelizmente tenho uma péssima notícia. Vamos ter de aguentar mais algum tempo. Está tudo louco aqui em Nova Iorque e receio que o trabalho se prolongue por mais alguns dias.”

Ryan não expressou grande reacção perante este anúncio de Clara. Não era a primeira vez que ela lhe ligava para adiar o regresso a casa de uma qualquer viagem de trabalho.

“E quando tencionas regressar? Já prometi ao Sandy e à Kirsten que íamos jantar lá a casa no fim-de-semana.” Ryan fez a pergunta receando a resposta. Não por Clara, mas porque temia ter de adiar a visita a casa dos pais mais uma vez. Desde que tinha casado com Clara e optado por uma vida a dois que as idas a casa dos Cohen se tinham tornado menos frequentes. Clara era perita em adiar as coisas e sempre que dispunha de algum tempo livre preferia passá-lo sozinha com Ryan. Aliás, ela nunca demonstrara grande entusiasmo pelos jantares conjuntos com os pais adoptivos de Ryan. Isso talvez se devesse ao facto de nunca ter tido uma boa relação com os seus próprios pais que viviam na Europa há já vários anos. Não eram nada próximos e Clara parecia não se preocupar muito com essa circunstância.

“Não sei meu amor. Mas parece-me que este fim-de-semana vai ser muito complicado. Desculpa.” O que mais perturbava Ryan era o facto de saber que Clara não estava muito desapontada.

“Ok. Por favor vai dando notícias, sim?” despediu-se Ryan, num tom de voz que deixava claramente transparecer uma certa tristeza e desilusão que o acompanhava havia semanas.

“Vemo-nos muito em breve. Amo-te” atirou Clara de forma apressada antes de desligar a chamada. Enfiou o telemóvel de novo no bolso do casaco e procurou Tomy no meio das muitas pessoas que por ali ziguezagueavam.

Capítulo 4

Sandy, Kirsten e Sophie viviam do outro lado da cidade de Berkeley, na casa que há oito anos os acolhera novamente de braços abertos para o recomeço de uma nova vida. A mesma casa que tinham carinhosamente renegociado com um casal gay e que na altura simbolizou o regresso ao passado nas vidas dos

membros da família Cohen.

“Sophie, despacha-te! Vais chegar atrasada à escola.” Kirsten não descuidava o papel de mãe, aquele que tinha abraçado desde a chegada a Berkeley.

“Já estou a ir.” Sophie desceu dois a dois os degraus das escadas, deixando a mãe com a sensação de a qualquer momento a ter de erguer do chão depois de uma queda aparatosa. Mas não. A filha mais nova dos Cohen era uma criança ágil e activa, e no que se refere ao desporto e à actividade física não havia obstáculo que a intimidasse.

A esta hora da manhã já Sandy estava na Universidade a dar as suas aulas. Trabalhava de manhã como professor e à tarde dedicava-se à “CASA”, que no período em que Sandy não poderia estar presente contava com a chefia de Kirsten. No entanto, antes de seguir para as instalações da instituição, Kirsten deixava Sophie na escola. Na volta, era o pai o motorista de serviço, numa rotina diária.

Depois de ver a filha desaparecer nos corredores da escola, e debaixo de um sol abrasador, Kirsten seguiu para a “CASA”. Naquele momento, a instituição contava com cerca de trinta pessoas que todos os dias por lá procuravam soluções para os seus problemas, uma refeição digna ou simplesmente um amigo para conversar. Mas desde o nascimento pelas mãos de Sandy Cohen, a “CASA” já tinha acolhido mais de trezentas pessoas que procuravam desesperadamente a esperança de uma vida melhor. E não eram apenas as pessoas desfavorecidas de Berkeley que lá chegavam. Os desalojados e excluídos, os abandonados pelas famílias e os órfãos de San Francisco há muito que atravessavam a ponte com destino a Berkeley. Tudo porque a boa reputação de Sandy, Kirsten e de todos os que entretanto trabalhavam na “CASA” não parava de crescer.

“Bom dia a todos.” Kirsten deu as boas-vindas com um enorme sorriso.

“Bom dia Senhora Cohen.” A resposta surgiu quase em uníssono.

“Então? Tínhamos combinado que não era „Senhora Cohen‟ mas sim Kirsten.” O esforço por manter um ambiente familiar e informal era essencial, tal como pretendiam Sandy e Kirsten. Contudo, e perante as sucessivas mudanças de inquilinos da “CASA”, esse era um hábito que se tinha de renovar constantemente.

Sandy aparecia depois da hora de almoço ou, sempre que podia, juntava-se a Kirsten e aos restantes membros da “CASA” para a refeição. Fazia a habitual ronda de saudações pelos hóspedes e se fosse o caso dava as boas-vindas aos novos habitantes. Havia de tudo na instituição. Situada bem próxima da Baía de São Francisco, dispunha de cinquenta quartos, todos eles equipados com as comodidades necessárias para receber os carenciados. Tinha ainda uma enorme cozinha e uma sala de convívio que proporcionava todo o bem-estar a quem desfrutava dela. Oferecia igualmente todo o tipo de serviços que de outra forma não estariam ao alcance dos que chegavam à “CASA”, desde o auxílio médico aos serviços mais burocráticos, tudo lhes era facultado sem qualquer tipo de obrigação.

“Muito boa tarde Sandy!” A voz era de Esteban, um equatoriano de aspecto escanzelado e ar doente que tinha deixado o seu país à procura de melhor sorte. Estava refastelado num sofá confortável a beber um saboroso sumo de laranja.

“Buenas tardes amigo.” Sandy retribuiu com simpatia e humor, virtudes que mantinha há muitos anos. “Como estamos hoje?” prosseguiu.

“Muito melhor, muito melhor. As enfermeiras têm tratado bem de mim. E além disso são „mui guapas‟”, atirou com um sorriso maroto estampado no rosto, enquanto piscava o olho a Sandy.

“A quem o dizes Esteban, a quem o dizes!” Com ar de aprovação ao comentário do hispânico, Sandy continuou a ronda pelos amigos que habitavam o edifício até que finalmente encontrou Kirsten, que se encontrava de pé, num dos cantos mais afastados da casa, a observar a vida que se desenrolava à sua frente.

“Olá querida” disse de sorriso nos lábios, beijando-a. “Novidades por aqui? Para além das tentativas de engate do Esteban?” perguntou num tom divertido.

“Digo-te que as técnicas dele têm estado cada vez mais apuradas”, ripostou Kirsten com um ar de falsa seriedade. “Tirando isso, tudo calmo. Apesar de esta manhã ter estado cá um sujeito que perguntou por ti. Procurei ajudá-lo mas quando dei por mim já tinha desaparecido.”

De facto, nessa manhã, pouco depois de ter chegado, Kirsten apercebera-se da presença de um rosto novo na “CASA”. Depois de o ter observado por alguns instantes, certificando-se de que não era nenhum habitante mais reservado, avançou para o interpelar. Perguntara-lhe se precisava de algum tipo de ajuda e se estava

interessado em se juntar à instituição. O homem, na casa dos quarenta anos e com aspecto desgastado, mostrou-se reticente e inseguro perante a primeira abordagem de Kirsten. até que cedeu à insistência. Perguntou por Sandy Cohen. Apenas. Ouvi de Kirsten que só chegaria depois da hora de almoço e recusou deixar qualquer recado. Depois, desapareceu.

“Bem. Se for algo importante seguramente que voltará” respondeu Sandy.

“Sim, vamos esperar.”

Capítulo 5

Seth punha os óculos de sol, enterrava a cabeça num boné preto e afastava-se do edifício da “Global Art”. Tudo o que desejava neste momento era poder desaparecer, enfiar-se num buraco bem fundo e escuro, escondido de toda a gente. Vagueou durante horas pelas ruas de Los Angeles sem saber muito bem para onde ir ou o que fazer. Queria apenas caminhar e não pensar em nada, até porque agora teria

imenso tempo para não fazer nada. Nem ele próprio sabia ainda como tinha tido a coragem para enfrentar Maddock e demitir-se da empresa. Era uma ideia que já o ocupava havia algum tempo mas foi sempre capaz de resistir à tentação, muito por força do prazer que os comics lhe davam, um prazer que superava o meio desvirtuado e superficial, de interesses, em que vivia. Mas tinha atingido o limite, e Seth estava perdido. Na verdade, voltava tudo ao ponto de partida.

As palavras que lhe dissera no dia em que se separaram ressurgiam bem audíveis na sua cabeça. E embora ela já não estivesse presente na sua vida, Seth sentia que voltara a desapontá-la. Já não estava presente há oito meses, mas continuava a sentir que fazia parte da sua vida. Sempre fizera. Foi por sentir isso que tinha casado com ela, talvez das poucas decisões que tomou, sabendo que era a acertada. Mas tinha estragado tudo. “Idiota!”. Quantas vezes vociferou isso para sim mesmo.

Ela deixou-o pouco depois de Seth começar a trabalhar na empresa da qual se tinha agora demitido. Tinham vindo juntos para Los Angeles e o primeiro investimento em conjunto foi uma casa bem longe da confusão citadina, rodeada de natureza, bem ao gosto dela. Seth estava entusiasmado com a nova carreira, tanto, que nos primeiros tempos se excedeu no tempo que dispensava ao trabalho, tudo para impressionar o chefe. Passava os dias e as noites a desenhar. Começou por fazê-lo em casa e pedindo-lhe conselhos. No entanto, com o tempo passou a trabalhar mais no escritório e nos hotéis que a empresa lhe reservava, fazendo das visitas a casa uma excepção. Foi igualmente difícil negar os sucessivos convites para as festas que serviam sempre para o apresentar à “gente importante, que interessa”, como dizia Maddock. E assim foi-se perdendo, sem dar por isso. E quando acabou por se aperceber da montanha russa em que acabava de entrar já era demasiado tarde. Um dia chegou a casa e tudo se desmoronou. Ela acusara-o de nunca ter crescido e de viver num mundo de falsas ilusões, de não se esforçar o suficiente pela relação.

Palavras que Seth já tinha ouvido noutras ocasiões e talvez por isso não as tenha levado a sério. Mas naquele dia ela tinha atingido o limite e saiu de casa.

“Adeus Cohen! Acreditei durante todos os estes anos que fosses o meu destino, mas enganei-me. Desejo-te a melhor sorte do mundo…” e nesse instante saiu lavada em lágrimas. Foi a última vez que Seth Cohen viu Summer Roberts.

Agora, sozinho e sem emprego, encontrava-se de novo num beco sem saída. Com o sol a pôr-se no horizonte de Los Angeles, Seth lembrou-se de algo que nos últimos meses lhe tinha faltado. Este era um daqueles momentos em que a voz e os conselhos de Ryan eram precisos. Procurou uma cadeira vazia na esplanada de um dos cafés da Rodeo Drive e tirou o telemóvel do bolso das calças. Marcou os números e deixou tocar…

Ninguém parecia atender a chamada.

“Vá lá, ã,ã,ããã…” Seth prolongava o som à medida que tremia com a perna. Até que do outro lado alguém atendeu.

“… ã,ã,ã,ã… Viraste meditador agora?”

“Ryan, graças a deus que atendeste! Já me estava a questionar se teria de suster a respiração a noite toda” atirou Seth num tom de voz arrastado.

“Mesmo que sejam só grunhidos, é bom ouvir-te de novo.” Ryan não escondia a felicidade por este momento. Ainda nessa manhã tinha prometido ligar a Seth e, afinal, os dois pareciam em sintonia.

“Ok, ok. Mas não fiques lamechas, estás a assustar-me.” Mas o ar de “Durão” servia apenas para tentar camuflar a satisfação por voltar a falar com Ryan. “Como tens passado?” continuou.

“Bem, dentro da rotina em que se transformou a minha vida. Fazer rondas, reuniões, escritório… o mesmo de sempre.”

“E a bruxa? Diz-me que lhe nasceu mais uma verruga entretanto!” Seth referia-se a Clara. Não gostava dela. Desde o primeiro dia em que a conheceu que nunca simpatizaram um com o outro. Mas o mesmo tinha acontecido entre Seth e Taylor e por fim acabaram amigos.

“Então? Já te disse para não falares assim dela. Ela até gosta de ti. (Do outro lado da linha ouviu-se um tossir falso, sinal de que Seth discordava profundamente com esta observação) Mas a verdade é que não te sei dizer se está bem ou mal. Não a vejo há duas semanas. Continua em Nova Iorque e esta manhã ligou-me a dizer que não sabia quando voltava.” A voz de Ryan assumiu tons mais sérios.

“E tu, estrela nacional, a escolher o fato para a próxima festa?”

“Ou a ler o jornal à procura de emprego…” completou Seth.

“Então, meu? Não me digas que foste despedido?”, perguntou Ryan de imediato.

“Despedi-me. Enfrentei o „troll‟ do Maddock e sai da “Global”.

“A propósito de quê? Pensava que eras uma vedeta!

“Alto aí! Continuo a ser, entendido? A única diferença é que agora já não tenho de suportar os humores lunáticos do Maddock.” No tom de voz de Seth sentia-se um certo orgulho pessoal. No entanto, a mágoa e o sofrimento que não o largavam há semanas continuava lá. “A verdade é que não tenho andado nada bem. Sinto a falta dela”, disse, antes de um breve silêncio.

Embora a última conversa entre os dois tenha sido há várias semanas, Ryan sabia perfeitamente que Seth não a esquecera. Ele nunca a esqueceria. O silêncio foi interrompido, curiosamente, por uma tirada humorística de Ryan.

“Se nem agora que és famoso ela vota para ti, diria que estás lixado.”

“Ryan, obrigado! Obrigado por me fazeres sentir ainda mais inútil e idiota. Foste uma grande ajuda. Parece que vou ter de agradecer à bruxa por te ter dado o feitiço das piadas estúpidas!” Dos dois lados da linha, um em Berkeley, outro em Los Angeles, sorrisos de alívio marcavam os rostos.

A noite caía definitivamente. Ryan tinha parado junto à praia e olhava o mar, infinito. Seth continuava sentado na esplanada do café na Rodeo Drive. Falaram eternamente sobre banalidades.

Capítulo 6

Tinham passado alguns dias desde a visita do estranho à “CASA”. Sandy e Kirsten já se tinham esquecido desse pequeno episódio e voltavam a viver normalmente as suas vidas. Na última noite tinham recebido a visita de Ryan. Um pouco de fugida, é certo, mas visitara, e isso era o mais importante. Contara-lhes sobre

a conversa com Seth, embora a parte da demissão tivesse de ser o próprio a anunciar. Prometera-lhes igualmente que voltaria a passar por lá num fim-de-semana com Clara, uma promessa que Ryan não sabia quando poderia cumprir.

Sandy estava retirado no seu escritório, atarefado com os últimos pormenores do jantar de agradecimento a todos quanto tinham colaborado, e colaboram, com a sua instituição. Por este motivo, hoje cabia a Kirsten a tarefa de ir buscar Joana à escola. Por entre o silêncio, bateram à porta.

“Sim”, disse Sandy levantando o olhar para a porta de um cinzento metal.

“Sandy, está um senhor lá fora que deseja falar consigo.” Sofia, uma das muitas funcionárias da “CASA”, era quem trazia o recado.

“Está bem. Mande-o entrar” autorizou Sandy com um sorriso simpático no rosto. Um breve instante depois, a visita entrava no escritório. Sandy olhou-o e rapidamente percebeu que se tratava do mesmo homem que Kirsten tinha atendido dias antes. Era uma figura sombria. Alto, com cerca de um metro e noventa, corpo entroncado embora enfraquecido e cansado, pele morena e uma barba a precisar de ser aparada. A isto, juntava um olhar trespassado de medo e desconfiança.

“Boa tarde. Chamo-me Sandy Cohen. Em que lhe posso ser útil?” Levantou-se da cadeira e estendeu a mão ao homem que continuava de pé, do outro lado da secretária. Não obteve resposta, apenas aquele olhar assustado.

“Bem. Se veio até à nossa instituição presumo que deseje algum tipo de ajuda nossa. Mas para isso terá de me contar o que se passa ou o que deseja. Sente-se, esteja à vontade.” Após mais alguns segundos de silêncio, o estranho aceitou o convite e acomodou-se na cadeira. Depois falou.

“Eu tenho um problema.”

“Todas as pessoas que vêm até nós têm, infelizmente. Mas é para tentar ajudar que aqui estamos. Não tenha medo, conte-me o que o preocupa.”

“Eu preciso de um bom advogado mas não tenho dinheiro para o contratar. Sei que o Ministério Público me atribuiria um mas no meu caso preciso de alguém realmente bom e em quem possa confiar.” O homem sentado de frente para Sandy começava a soltar-se mais na conversa, mas sempre com um tom de voz ligeiramente trémulo e desconfiado.

“Tenho a certeza que lhe vão atribuir um excelente advogado, que fará um bom trabalho. E para além disso, a “CASA” não está preparada para fornecer esse tipo de serviço. Dispomos de muitos, dos quais poderá usufruir, mas o de advocacia não é um deles, lamento.”

“Eu sei que vocês não têm isso. Mas também sei que o senhor é advogado e é directamente a si que estou a pedir ajuda.” As afirmações eram agora bem mais claras e objectivas. Sandy fitou-o nos olhos com um ar de seriedade. Desde que chegara a Berkeley que tinha deixado de exercer a função de advogado. Era uma coisa do passado e não desta nova vida que erguera nos últimos oito anos. Por vezes havia certamente um sentimento saudosista, fruto do gozo que sempre sentira pela profissão, mas as aulas na faculdade ajudavam a controlar essas emoções. Estava bem assim. Pensava, pelo menos.

“Lamento, mas receio não o poder ajudar neste caso. Sou, de facto, advogado, mas há muito tempo que deixei de exercer. Acredito que independentemente do advogado que lhe possam nomear ele fará melhor trabalho do que eu faria” respondeu num tom firme, antes de prosseguir.

“E não tenho muito tempo disponível. Trabalho aqui e ainda dou aulas na Faculdade. Não ia ter grande disposição para tratar o seu caso com a devida atenção.” Sandy estava decidido a não voltar aos tribunais para desempenhar o papel de advogado.

“Suplico-lhe que repense a sua decisão Senhor Cohen. Acredite que não o incomodaria se soubesse de outra alternativa. Estou a ficar sem tempo.” Sandy conseguiu ler-lhe o desespero no olhar. Hesitou.

“Não posso.” Perante estas palavras finais, o homem de aspecto fragilizado levantou-se e saiu. Só mais tarde Sandy realizou que nem lhe ouvira o nome ou o motivo de tal desespero, preocupado que esteve em sublinhar a sua recusa. Mas crescia dentro dele um sentimento que não mais o largaria.

Capítulo 7

As divisões da casa continuavam a encher a um ritmo vertiginoso. Eram cada vez mais e incontáveis os jovens universitários que batiam à porta. Apesar da festa ainda estar bem no início, já se viam copos vazios espalhados pelo chão e, novos, reabastecidos a cada instante. A completar o cenário, uma leve nuvem de fumo flutuava pelos cantos, resultado das muitas substâncias que

se fumavam por ali. Com o volume a rebentar os decibéis, a festa recebia o último toque de magia. Era o último ano de Kaitlin na Universidade e isso era motivo para mais uma celebração.

“Grande festa, Cooper” gritava uma jovem asiática ao passar pela promotora do evento.

“És a maior, Kaitlin” atirava outra, claramente caloira nestas andanças.

Kaitlin limitava-se a acenar e a sorrir. Não era a primeira festa que dava em casa, nem pouco mais ou menos. Tornara-se um hábito desde que entrara para a Faculdade, há três anos, e rapidamente conseguiu um estatuto invejável junto dos colegas. Directa, sem papas na língua, Kaitlin Cooper era respeitada pela sua forte personalidade.

“Kaitlin Cooper, a miúda mais sexy e espectacular do Campus.” O elogio foi acompanhado por um beijo na boca. Dean Fletcher era uma espécie de “namorado” de Kaitlin, isto porque ela detestava esse estatuto. Kaitlin não tinha namorado.

“Dean, faz-me um favor e vai à casa de banho vomitar. Vais-te sentir bem melhor depois disso” atacou num tom autoritário que surtiu efeito. Dean deu meia volta e desapareceu.

Kaitlin era aluna do curso de Relações Públicas na Universidade de São Francisco. Longe de figurar na lista de alunas brilhantes e com várias infracções no currículo, a verdade é que entrava no último ano com notas razoáveis. Vivia numa zona rica da cidade, ou não tivesse Gordon Bullit comprado a casa quando ela entrou na Faculdade. Afinal, e apesar de Bullit não ter um contacto regular com Julie, ele continuava a ter Kailtin como uma filha, sempre disponível para lhe oferecer tudo aquilo que precisasse. Logicamente, Kaitlin não se importava. Também Julie parecia satisfeita com esse novo modo de vida, capaz de lhe proporcionar a si e aos dois filhos uma vida bastante abastecida.

Gordon Bullit tinha feito questão que Julie aceitasse a casa quando esta se mudou para São Francisco. A verdade é que o milionário, apaixonado de longa data de Julie, tinha estado presente nos momentos mais difíceis da família Cooper nos últimos tempos, especialmente depois da morte de Frank Atwood, há dois anos. Julie viveu momentos complicados, sobretudo com Tom, o filho de Frank. Ela tinha começado a trabalhar numa grande empresa de Newport, um ano depois de ter terminado a licenciatura em Marketing e Publicidade, e Kaitlin já tinha partido para São Francisco. Tudo corria maravilhosamente, como há muito tempo não corria. Mas num segundo tudo mudou. Certa noite, tinha Julie chegado a casa acompanhada por Tom quando um telefonema lhe roubou novamente um amor. Frank tinha morrido num acidente de automóvel, juntamente com mais duas pessoas, quando regressava a casa. Após essa noite, tudo aconteceu de forma rápida. Bullit voltou a entrar na sua vida e foi uma âncora nos dias mais difíceis. Tratou de Tom como fizera com Kaitlin e assim que Julie sentiu necessidade de mudar de ares mostrou-se prontamente na disponibilidade de lhe oferecer casa em São Francisco, junto da filha. Aí recomeçou uma nova vida e dois anos depois é uma mulher de sucesso numa empresa de publicidade.

Nesta noite de festa, Julie estava fora. Tom tinha ficado entregue a uma ama e por isso Kaitlin tinha luz verde para festejar sem restrições. O clima estava cada vez mais descontrolado, dominado pelo álcool e pelas drogas e com os quartos ocupados por inquilinos de circunstância.

“Kaitlin! Vem cá!” A voz era de Melinda Gable, a melhor amiga de Kaitlin na Faculdade. Uma jovem atraente, de cabelos loiros a cair pelos ombros e uns olhos verdes capaz de seduzir qualquer um.

“Que achas da festa? O máximo, não é?” perguntou Kaitlin.

“Definitivamente! Mas… com isto vai ficar ainda melhor.” Melinda retirou da carteira um pequeno frasco repleto de pastilhas.

“Então? Estás-te a passar? Esconde isso imediatamente! Já te disse que cenas dessas aqui em casa nem pensar” retaliou Kaitlin de forma preocupa. Sempre fora rebelde e desordeira, com um faro apurado para as confusões, mas nunca tinha tocado em drogas.

“Cooper, não sejas totó. É só uma. Não te faz mal nenhum e para além disso vai-te ajudar a conseguir o que queres.” As duas olharam de lado para Chris, um tipo que embora não devesse muito à inteligência tinha um certo poder sobre as mulheres. Até mesmo sobre Kaitlin. Melinda estendeu a mão e insistiu.