capítulo 1 - a sociologia aplicada à administração

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1IntroduoPrezado aluno.

A SOCIOLOGIA APLICADA ADMINISTRAO: O OLHAR SOCIOLGICO SOBRE AS ESTRUTURAS E PROCESSOS ORGANIZACIONAISAdriana Marques Aidar

Neste captulo, dedicar-nos-emos ao estudo da Sociologia das Organizaes, que nada mais que a vertente da Sociologia que investiga aqueles fenmenos que decorrem da estrutura das organizaes na condio de sistemas especiais. Veremos, frente, o que isso significa exatamente .

Este estudo ser bastante til em sua vida profissional, pois auxiliar a compreenso da dinmica das relaes sociais, das mudanas que ocorrem em nossa sociedade e no mundo e, principalmente, possibilita o entendimento de como estes fatos se relacionam e influenciam o ambiente das organizaes.

Organizao "conjunto das relaes entre os membros de um grupo - e entre grupos - conformado com uma estrutura. O grupo organizado compreende valores, padres, modelos e normas que embasam o comportamento de seus membros". (CASTRO, 2007, p. 49).

Buscaremos, para alcanar nossos objetivos de aprendizado, estabelecer correlaes entre diversos conceitos e compreender algumas teorias da rea sociolgica que so aplicveis ao ambiente organizacional. Tambm abordaremos as Cincias Sociais clssicas, analisando algumas contribuies de trs de seus maiores expoentes: mile Durkheim, KarI Marx e Max Weber. Por ltimo, trabalharemos com a questo cultural e suas influncias sobre as organizaes e ainda o controle nos ambientes social e organizacional.

ObjetivosAo concluir o estudo deste captulo, esperamos que voc esteja apto a: inferir a importncia do estudo da Sociologia aplicada Administrao; identificar alguns dos pesquisadores mais importantes para a Sociologia e suas principais teorias; compreender as idias de controle social e organizacional; analisar aspectos culturais de nosso pas e correlacion-los com a cultura organizacional como um todo; relacionar as teorias criadas pelos mais importantes estudiosos da Sociologia com o estudo das organizaes contemporneas.

Esquema1. Sociologia aplicada Administrao 2. As cincias sociais clssicas 2.1 mile Durkheim 2.2 KarI Marx 2.3 Max Weber 3. Aspectos culturais brasileiros e cultura organizacional 4. Controle social e organizacional

1. Sociologia apiicada AdministraoSabemos que o sculo XVIII foi particularmente importante para a histria no s da Europa, mas de toda a humanidade. A Revoluo Industrial se iniciou neste sculo e os efeitos da Revoluo Francesa (que tem seu auge no final do sculo XVII) tambm foram sentidos neste perodo, marcando de forma irreversvel a economia e a poltica das sociedades ocidentais. Ocorreram diversas e profundas alteraes na conjuntura econmica e poltica, principalmente nos pases europeus. Com o surgimento das mquinas, logo se provou serem elas meios mais rentveis e mais produtivos que os trabalhadores, causando a demisso de milhares deles.Revoluo Industrial Processo iniciado na Inglaterra, em meados do sculo XVII, que se caracteriza pela passagem da manufatura produo industrial, mecanizada, impulsionada pelas grandes inovaes tecnolgicas, principalmente.

No incio, com as mquinas rudimentares e de fcil manejo, no mais se exigem qualificaes especficas (contrastando com as habilidades artess) e, por essa razo, existia nas fbricas o trabalho de adolescentes e crianas. Entretanto, logo as mquinas tornaram-se cada vez mais complexas, " . ,.,. _ . ,. _ . passando a exigir qualificaao e especializaao dos funcionrios. Veja no quadro 1, a seguir, um resumo das sucessivas fases da organizao industrial desde a Idade .. .. Media aos nossos dias.

Revoluo Francesa ocorrido no finai do sculo xvii, objetivando mudanas profundas na estrutura da sociedade francesa. Conferiu o poder poitico burguesia, quejadetmliapoder econmico.

Quadro 1: Fases da organizao industrial SISTEMA FAMILIAR (princpio da Idade Mdia) Produo realizada pelos membros da famlia, para o seu prprio consumo e no para a venda: o trabalho no se efetuava com o objetivo de atender o mercado. SISTEMA DE CORPORAES (maior parte da Idade Mdia) Produo a cargo de mestres artesos independentes, com poucos auxiliares (aprendizes, oficiais ou diaristas) para atender a um mercado pequeno e estvel. O trabalhador no vendia seu trabalho, e sim o produto de sua atividade: era dono tanto da matria-prima que usava quanto das ferramentas de trabalho. SISTEMA DOMSTICO (entre os sculos XVI e XVIII) semelhana dos sistemas de corporaes, a produo era realizada pelo mestre-arteso e seus ajudantes, em seu lar-oficina, para um mercado em expanso. A diferena fundamental a perda da independncia dos mestres. Permaneciam como proprietrios de seus instrumentos de trabalho, mas em relao matria-prima e venda da produo dependiam, s vezes, de um intermedirio. SISTEMA FABRIL (do sculo XIX at nossos dias) Produo realizada fora do lar, em estabelecimentos pertencentes ao empregador, sob rigorosa superviso, para mercado cada vez mais amplo e oscilante. O trabalhador perde totalmente sua independncia: no possui mais a matria prima nem dono dos instrumentos de trabalho. A habilidade do trabalhador, at certo ponto, perde importncia devido ao uso da mquina, mas o capital torna-se cada vez mais importante. Fonte: Huberman (1986, p. 125)

Outra conseqncia direta do aumento cada vez mais expressivo da industrializao o fato de que a sociedade, at ento essencialmente agrcola, volta-se para as grandes fbricas, causando um grande xodo rural. No havia no campo trabalho suficiente para a quantidade de pessoas que l habitava. Em virtude disso, h grande aumento populacional nas cidades que no possuam infraestrutura que comportasse todas aquelas pessoas. Unindo-se este fator estrutural com os muitos desempregados, temos um quadro de misria, de aumento da criminalidade e da propagao de doenas, pois se no havia sequer onde acomodar as pessoas, certamente as condies de saneamento bsico eram precrias tambm. As grandes modificaes ocorridas durante os sculos XVII e XVIII mantiveram seus efeitos ao longo do sculo XIX, quando foram estudadas e analisadas por

grandes pensadores, que possuam interesse em decifrar os fenmenos sociais pelos quais haviam passado ou que ainda estavam acontecendo. O surgimento da Sociologia como cincia reflexo direto dessa srie de acontecimentos e de uma conjuntura especialmente favorvel, em que se consolidavam as sociedades capitalistas, refletindo as pesquisas de vrios intelectuais daqueie tempo. O sculo em que vivemos tambm est repieto de grandes mudanas, e segundo o que nos diz o professor Celso Antnio Pinheiro de Castro (2007, p. 9), "no decorrer do tempo, os vaiores, padres, modelos e normas vo sendo substitudos em razo dos interesses e necessidades, bem como insatisfao com o tipo de estrutura vigente" Ou seja, alteraes nas reiaes sociais so normais e dinmicas por natureza. Entre os acontecimentos que influenciam diretamente as organizaes e sua conjuntura, esto: o fato de as necessidades do mercado ditarem os rumos polticos das naes (em razo de uma poltica cada vez mais neoiiberal, o Estado reduz bastante a sua funo de regulador da economia), as inovaes tecnolgicas e suas influncias na configurao do emprego, a questo climtica e a globalizao e seus efeitos. Esses acontecimentos no formam uma lista exaustiva, apenas mostram alguns de seus fatores, que resultam de uma srie de acontecimentos do sculo XX. Faamos, neste momento, um pequeno relato para que voc possa verificar quais foram estes acontecimentos.

Fenmeno social produto da interao que se concretiza numa configurao - ambiente fsico, complexo cultural, momento liistrico - alicerado em valores e padres, objetivando uma finalidade psicossocial, econmica, poltica, cultural, conectada com os papeis sociais dos participantes, tendo em vista no s a estabilidade estrutural, mas tambm as contnuas transformaes e respectivos fatores (CASTRO, 2007, p. 28). Sociologia Segundo o dicionrio Auriio, Socioiogia a "cincia dos fenmenos sociais, que tem por objeto quer a descrio sistemtica de comportamentos sociais particulares (socioiogia do trabalio, socioiogia reiigiosa etc.), quero estudo dos 'fenmenos sociais totais', que visa a integrar todo fato sociai no grupo em que se manifesta, e que tem como mtodo a observao (anlise objetiva, sondagens estatsticas etc.) e a constituio de modelos descritivos de origem matemtica".

A crise econmica e sociai iniciada em outubro de 1929 arruinou os Estados Unidos, 659 bancos fecharam suas portas em 1929, 1.352 em 1930, e 2.294 no ano seguinte. Obrigados a abrir falncia, os industriais fecharam as fbricas. O desemprego atingiu ndices astronmicos: 1,5 milho de americanos em 1929,13 milhes de homens e mulheres quatro anos mais tarde, ou seja, um quarto da populao ativa. O presidente Roosevelt foi eleito presidente dos Estados Unidos em 4 de maro de 1933. De maro a junho de 1933, inmeros projetos invadem o Congresso. Temos, ento, o inicio da interveno estatal na economia, quando rgos federais vo empregar milhares de pessoas, com o intuito de movera economia. O mtodo no

se limita aos cem dias do programa. O conjunto de idias da interveno estatal foi aumentado com o sistema de seguridade social, que nasceu em 1935, com as leis sobre o aluguel, seguros bancrios, impostos e extrao do carvo. Cada medida envolveu a criao de secretarias, comits e servios para assegurar a aplicao da lei. como se os Estados Unidos procurassem compensar seu atraso em relao s pesadas administraes europias. As manobras tiveram sucesso e a economia dos Estados Unidos se recuperou, principalmente depois da segunda guerra mundial. De acordo com EconomiaNet (2010, p.1) , encontraremos uma definio bem simples para uma teoria que surgiu em 1936, denominada de Keynesianismo. Keynesianismo um conjunto de idias que propunha a interveno estatal na vida econmica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes influenciaram na renovao das teorias clssicas e na reformulao da poltica de livre mercado. Keynes acreditava que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situao temporria que desapareceria graas s foras do mercado. O objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflao. Na dcada de 1970, o keynesianismo sofreu severas crticas por parte de uma nova doutrina econmica: o monetarismo. Em quase todos os pases industrializados, o pleno emprego e o nvel de vida crescente alcanados nos 25 anos posteriores II Guerra Mundial foram seguidos pela inflao. Os keynesianos admitiram que seria difcil conciliar o pleno emprego e o controle da inflao, considerando, sobretudo, as negociaes dos sindicatos com os empresrios por aumentos salariais. Por esta razo, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento dos salrios e preos, mas a partir da dcada de 1960 os ndices de inflao foram acelerados de forma alarmante.

Aps a II Guerra Mundial, houve um longo perodo de crescimento contnuo do capitalismo em virtude da expanso das empresas denominadas na poca multinacionais. Hoje, no entanto, considera-se que a palavra transnacional expressa melhor a idia de que essas empresas no pertencem a vrias naes (multinacionais), mas sim que atuam alm das fronteiras de seus pases de origem. Na dcada de 1970, esse crescimento foi abalado pela crise do petrleo. A partir do final da dcada de 1970, os economistas tm adotado argumentos monetaristas em detrimento daqueles propostos pela doutrina keynesiana; Ou

seja, a crise foi seguida pela onda inflacionria que surpreendeu os chamados "estados de bem-estar social"; o neoliberalismo gradativamente entrou em cena. A crise do Estado de bem-estar um tema de difcil consenso entre os estudiosos. Nos pases industrializados ocidentais, os primeiros sinais da crise esto relacionados crise fiscal provocada pela dificuldade cada vez maior de liarmonizar os gastos pblicos com o crescimento daeconomia capitalista.

pensamento econmico

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leve e com condioes de cuidar das atividades

Os economistas partiam da idia de que o governo j no podia mais manter os pesados investimentos que liaviam realizado aps a II Guerra Mundial, pois agora liavia dficits pblicos, balanas comerciais negativas e inflao. Defendiam, dessa forma, uma reduo da ao do Estado na economia.

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Essas teorias ganharam fora depois que os conservadores foram vitoriosos nas eleies de 1979 no Reino Unido e, de 1980, nos Estados Unidos. A partir da, o Estado ingls e o americano passaram a preservar a ordem poltica e econmica, deixando as empresas privadas livres para investirem como quisessem. Alm disso, os Estados passaram a desreguiamentar e a privatizar inmeras atividades econmicas antes controladas por eles, com o intuito de tornar mais leve a administrao, diminuindo os encargos das empresas com o fim de uma retomada do crescimento. Se a Sociologia estuda e procura compreender fenmenos e relaes sociais existentes em dado ambiente, pode-se imaginar que a Sociologia aplicada s Organizaes a vertente que possui as ferramentas necessrias para compreend-los dentro do ambiente empresarial. E natural imaginar que h extremo interesse, por parte dessa cincia, em investigar o referido ambiente, pois como j foi dito, a economia e seus elementos que tm ditado os rumos do mundo, dispondo de poder de presso suficiente para direcionar as polticas pblicas dos pases. As empresas deixam afinal de possuir um papel meramente econmico e passam a ser vistas como elementos de garantia da estabilidade social.

Saiba maisPare por um momento e reflita sobre o impacto da ltima crise econmica, que teve seu incio em setembro de 2008, sobre 08 principais pases industrializados, especificamente Estados Unidos, Aiemaniia, Inglaterra e Japo. Verifique como o papel das organizaes neste processo foi crucial. Com a quebra de tantas empresas, miilies de pessoas perderam seus empregos. Sem emprego, essas pessoas deixaram de consumir e de movimentar a economia de seus pases, agravando problemas sociais. Escreva suas concluses e compartilhe-as com seus coiegas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).

Por definio, a Sociologia aplicada Administrao seria, segundo Castro (2007, p. 36), o ramo que "estuda as organizaes e os papeis que as integram, considerando o sistema social em suas manifestaes morfolgicas e significaes funcionais" Os temas que a compem:podem ser analisados tomando a organizao como elemento polarizador e, proceder, ento, ao estudo dos elementos e funes que a integram. Podemos trabalhar tambm a partir das relaes capital-trabalho, administrao-execuo, produoconsumo, tcnica-qualificao, para atingir a organizao e suas relaes com o ambiente. No cabe Sociologia justificar idias, propostas, intenes preestabelecidas, dada sua natureza cientfica. Quando se fala de interveno sociolgica, o trabalho consiste em estudar metdica e sistematicamente a realidade, procurando descobrir as tendncias de manuteno estrutural e de mudanas, inserindo-as no contexto que lhe prprio. (CASTRO, 2007, p. 36). Veremos a seguir que os trabalhos desenvolvidos por alguns dos maiores estudiosos da Sociologia exercem influncia e impacto no domnio de estudo da Sociologia aplicada Administrao. Veremos tambm mais detidamente duas aplicaes prticas, a questo cultural dentro e fora das organizaes e a questo do controle social e organizacional. Segundo Oliveira (2006, p.213), para um bom administrador preciso estudar sempre a empresa onde trabalha, sob o ponto de vista sociolgico e psicolgico, conhecendoosgruposformaiseinformaisdentro da organizao. Isso no pode ser um estudo nico na histria da empresa, porque todos os dias existem outras formaes, com novos funcionrios, novos conflitos e novos comportamentos.

Vale ressaltar que o emprego da Sociologia no dar solues prontas aos problemas organizacionais. Trata-se de um estudo cientfico e metdico que busca a comprovao de liipteses e que, no mximo, ir apontar tendncias. A deciso acerca do caminlio a ser tomado ser sempre do administrador.

2. As cincias sociais clssicasNesta seo, estudaremos o pensamento sociolgico e aigumas das grandes contribuies de mile Duri