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PREFEITURA MUNICIPAL DE TERRA NOVA DO NORTE – MTSECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃOESCOLA MUNICIPAL RIBEIRÃO BONITO
PROJETO CULTIVAR
Produção de mudas de espécies nativas da mata amazônica para revegetação de Área de Preservação Permanente (APP)
Gustavo Wadann Perez Azevedo
TERRA NOVA DO NORTE - MT
2008
PREFEITURA MUNICIPAL DE TERRA NOVA DO NORTE – MTSECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃOESCOLA MUNICIPAL RIBEIRÃO BONITO
PROJETO CULTIVAR
Produção de mudas de espécies nativas da mata amazônica para revegetação de Área de Preservação Permanente (APP)
Projeto realizado na escola Municipal Ribeirão Bonito com alunos do ensino médio, cumprindo currículo obrigatório na área de ciências naturais.
Prof: Gustavo Wadann Perez Azevedo
TERRA NOVA DO NORTE - MT
2008
I – INTRODUÇÃO
A Comunidade Ribeirão Bonito foi colonizada, aproximadamente, no ano de 1983 por
migrantes das regiões do sul do Brasil. Quando esses migrantes chegaram para tomar posse de suas
terras, o local era repleto de matas e rios; então, por falta de conhecimento e instrução começaram a
desmatar essa área de forma desordenada, entrando nas APPs (Áreas de Preservação Permanentes),
transformando o local onde havia matas em pastagens e lavouras. Hoje, essas áreas se encontram
degradadas, as margens de rios e riachos quase não existem mais e as matas ciliares e dos mesmos
já se encontram em um alto nível de assoreamento.
I.1 – Objetivos
- Conscientização da importância das APPs (Áreas de Preservação Permanente);
- Adquirir conhecimento na área de produção de mudas de espécies florestais da
mata amazônica, produzindo um viveiro na escola,
- Obter prático conhecimento das etapas de revegetação de Área de Preservação
Permanente Degradada (APPD); para que os mesmos possam tentar recuperar as áreas
que estão degradadas em suas propriedades.
3- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
As atividades desenvolvidas durante o projeto foram:
● Produção de mudas de espécies nativas da mata amazônica;
● Acompanhamento da execução do processo de revegetação;
3.1. PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES NATIVAS MATA AMAZÔNICA
3.1.1. Coleta e quebra de dormência de sementes
O projeto teve seu inicio no dia 25 de fevereiro de 2008, com a atividade de
produção de mudas, onde uma das primeiras etapas executadas foi a coleta de sementes
de espécies nativas da mata amazônica. As coletas eram feitas de matrizes já
selecionadas e identificadas pelos alunos. A coleta foi realizada manualmente,
utilizando um podão para alcançar as sementes na copa das matrizes e sacolas plásticas
para o armazenamento destas.
Segundo Silva (2007) coleta de sementes consiste na retirada de sementes de
algumas árvores com características desejáveis, sendo que cada árvore selecionada é
chamada de planta-mãe ou planta matriz.
Devido à falta de informações relacionadas à coleta de sementes, esta etapa é a
de maior importância do processo de produção de mudas, (fig. 1). Dessa forma, para
que se consiga uma maior diversidade de espécies para produção de mudas, é necessário
a identificação das matrizes, conhecimento das épocas de maturação, métodos e
equipamentos específicos e pessoal especializado.
Figura 1: Coleta de sementes.Fonte: Azevedo, G. W. P. (2007)
Após a coleta, as sementes eram separadas entre ortodoxas e recalcitrantes. As
sementes recalcitrantes eram semeadas em canteiros de germinação logo após a coleta.
Nas sementes ortodoxas era feita a quebra de dormência, quando necessário, e em
seguida semeadas em canteiros ou em sacolas plásticas. A quebra de dormência era
realizada de acordo com cada espécie, sendo as mais utilizadas durante o projeto a
escarificação mecânica e o choque térmico.
De acordo com Albuquerque (2004), o significado ecológico de dormência não é
uma condição negativa, inespecífica que significa a falta de germinação e sim uma
modalidade de desenvolvimento, um recurso pelo qual a natureza distribui a germinação
das sementes no tempo e espaço.
Para o mesmo autor, op cit, existem diversos tipos de dormência e os mais
conhecidos são: dormência primária ou inata, dormência secundária ou induzida. Para a
superação da dormência existem alguns métodos que vem sendo utilizados, como
escarificação ácida, tratamento com água quente ou água fria, secagem prévia,
exposição à luz, estratificação a baixa temperatura, pré-resfriamento, excisão do
embrião, métodos químicos entre outros.
3.1.2. Preparo do Substrato
Outra etapa executada para a produção de mudas foi o preparo do substrato e
enchimento das sacolas plásticas. O substrato era composto por terra de subsolo
peneirada, 30% de cama de frango curtida, 0,8 kg de NPK 0-20-20 por m3 e 0,5 kg de
calcário do tipo cal filler por m3. As sacolas possuíam 10 cm de diâmetro e 20 de altura.
3.1.3. Irrigação
A irrigação nas sementeiras e nos canteiros de germinação eram realizadas
diariamente e sempre nas horas mais frescas do dia.
De acordo com Albuquerque (2004), a irrigação para as sementeiras ou canteiros
em germinação devem ser freqüentes até as mudas atingirem uma altura aproximada de
cinco centímetros (folhas formadas), sendo os melhores horários pela manhã ou no
período final da tarde. A irrigação no início das manhãs é recomendável em épocas e em
locais frios, para desmanchar o gelo formado por geadas. Regas ao final do dia
contribuem para que o substrato permaneça úmido por mais tempo, de modo que o
potencial hídrico das mudas mantenha-se com valores mais altos durante as noites.
Segundo o mesmo autor, op cit, é recomendado que após a emergência ter
alcançado seu ápice, o regime de regas deva ser alterado, substituindo-se
gradativamente a irrigação freqüente e leve por outro regime de maiores intensidades e
duração. Substratos com teores elevados de areia requerem maior freqüência de
irrigações do que os de menores teores.
3.1.4. Transplante e Repicagem
O transplante das mudas ocorria sempre nas horas mais frescas do dia, conforme
figura 2. As mesmas eram mantidas em viveiro coberto com sombrite a 50% de
luminosidade.
Figura 2: mudas de jenipapo (Genipa americana) prontas para transplante.Fonte: Azevedo, G. W. P. (2007)
O transplante de mudas é um sistema de plantio indireto onde as plantas crescem
inicialmente em um canteiro de germinação e posteriormente são transferidas para um
outro local (SILVA 2007).
De acordo com Silva (2007) a repicagem é o transplante de uma plântula de um
local para outro no mesmo viveiro. Esta operação é executada manualmente, de um
recipiente onde há duas plântulas para outro recipiente onde nenhuma semente
germinou. Não há tradição no país, do uso desta operação em viveiro de mudas de raiz
nua. E a monda consiste no controle de daninhas.
Durante o projeto, a repicagem das mudas era realizada manualmente e tinha
como objetivo a retirada daquelas que apresentavam algum tipo de deformação ou baixo
vigor. A monda era feita sempre que necessário. Realizava-se a irrigação das mudas de
uma a três vezes ao dia de acordo com cada estágio de desenvolvimento, sendo que
quanto mais próximo do período inicial após a repicagem maior a exigência por água.
3.1.5. Rustificação
Segundo Lisbão Junior (2003), a rustificação consiste em preparar estas mudas
para a sobrevivência no campo, sem as condições de luxo do viveiro. Nesta etapa as
mudas são transportadas às praças a céu aberto e ficam totalmente expostas ao clima. As
irrigações são bastante diminuídas e as adubações de crescimento são substituídas pelas
de rustificação, com isso as mudas esverdeadas ganham um tom avermelhado indicando
que estão prontas para o plantio.
No processo de rustificação as mudas foram retiradas de dentro do viveiro e
transportadas para áreas a céu aberto ficando totalmente expostas às condições
ambientais e as irrigações eram diminuídas. A rustificação foi a última etapa na
produção de mudas (fig. 3).
Figura 3: mudas de Jatobá (Hymenaea courbaril) rustificadas.
Fonte: Azevedo, G. W. P. (2007)
3.2. REVEGETAÇÃO
A segunda atividade desenvolvida durante o projeto foi à execução do processo
de revegetação na Fazenda Cabocla, Município de Terra Nova do Norte-MT. A área
revegetada foi uma Área de Preservação Permanente Degradada APPD.
O processo de revegetação é uma das técnicas de recuperação que configura em
fazer o plantio da vegetação mais semelhante possível da mata original. Assim, após um
levantamento das espécies de ocorrência natural na região, é necessário classificá-las
quanto à exigência de luz para seu crescimento (COUTINHO 2003).
A destruição das florestas em áreas de preservação permanente (matas ciliares)
afeta diretamente a quantidade e qualidade da água e contribui para o agravamento das
conseqüências de enxurradas e enchentes. Existem diversas técnicas de recuperação,
específicas para cada caso e a gravidade da situação (COUTINHO 2003).
O levantamento das espécies para a revegetação ocorreu no mês setembro, e as
espécies selecionadas para plantio na área a ser recuperada estão especificadas no
Anexo I.
3.2.1. Caracterização da Área Revegetada
A caracterização da área executada durante o projeto ocorreu através de visita in
loco. A área visitada possuía o solo coberto de pastagem, De acordo com Coutinho (2003),
para o plantio é preciso delimitar a área a ser revegetada, evitando as margens em
erosão; proceder à limpeza da área com uma roçada, para a eliminação de ervas
daninhas, evitando o revolvimento do solo e, conseqüentemente, a erosão; delimitar o
espaçamento entre as covas (fig. 4). Sendo o mais recomendado, 3 (três) metros entre
plantas, preparar as covas com dimensões aproximadas de 30 cm de diâmetro por 40 cm
de profundidade; recomenda-se para cada cova a aplicação de 6 litros de esterco de
curral (20% do volume da cova) ou 3 litros de esterco de galinha (10% do volume da
cova) ou ainda 5 litros de húmus.
Após o plantio deve ser feito um acompanhamento da área revegetada, esse
acompanhamento contribuirá para o sucesso da recuperação. Nos cincos primeiros anos
recomenda-se que esse acompanhamento seja feito mensalmente e após o quinto ano,
semestralmente (COUTINHO 2003).
3.2.2. Medidas de Proteção Acompanhadas
Medidas de proteção como o isolamento da área com cerca foi feito pelo
proprietário devido à existência de criação de gado no local.
3.2.3. Acompanhamento da Implantação do PRAD
Modelo do PRAD acompanhado.
3.2.3.1. Tamanho da área / Tipo de Área Revegetada
A área revegetada possuía 0,5 hectares e se tratava de uma APPD.
3.2.3.2. Quantidade de Mudas Utilizadas
Para a execução da revegetação foram utilizadas 555 mudas
3.2.3.3. Medida (s) de Revegetação Utilizada
3.2.3.3. (X) Plantio de Mudas
( ) Semeadura
(X) Condução de Revegetação Natural
3.2.3.4. Justificativa(s) da(s) Medida(s) Utilizada(s)
O plantio de mudas de espécies nativas objetiva criar condições para que uma
área degradada recupere algumas características da vegetação original, criando uma
nova vegetação com características estruturais e funcionais próximas às das florestas
naturais. E ainda, auxilia no controle da erosão, evita o assoreamento e diminui a
contaminação por agrotóxicos. Observar as espécies recomendada para execução do
PRAD, anexo I.
Figura 4: Plantio de mudas nativas do cerrado.Fonte: Azevedo, G. W. P. (2007)
3.2.3.5. Modelo de Revegetação Proposta
Neste modelo os grupos de pioneiras e não pioneiras são alternados na linha de
plantio. Na linha seguinte, altera-se a ordem em relação à linha anterior, conforme
tabela 1. Dentro de cada um dos grupos, podem-se distribuir as espécies ao acaso ou
sistematicamente.
Tabela 1 – Modelo de Revegetação Proposta
Linha 1 Pioneira Secundária Pioneira Secundária Pioneira
Linha 2 Secundária Pioneira Secundária Pioneira Secundária
Linha 3 Pioneira Clímax Pioneira Clímax Pioneira
Linha 4 Clímax Pioneira Clímax Pioneira Clímax
Fonte: Azevedo, G. W. P. (2007)
A principal vantagem deste método está na facilidade de implantação, só
exigindo o cuidado de separar os dois grupos nas linhas alternadas. Como desvantagem,
se for utilizado o plantio simultâneo, as plantas das não pioneiras levarão mais tempo
para receber sombreamento.
3.2.3.6. Limpeza da Área e Preparo do Solo
Não foi utilizado como limpeza da área a gradagem e sim o coroamento das
covas, pelo fato da área vir sendo utilizada como pastagem, e desta forma evitando o
processo erosivo.
3.2.3.7. Técnica de Plantio
O plantio das mudas foi executado de forma manual seguindo o modelo citado
anteriormente e para adubação foi utilizado duas ton/ha de esterco de gado decomposto.
Esta foi realizada pelo proprietário da área a ser revegetada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho foi de suma importância para os alunos, pois os mesmos viram a
importância que se deve ter com as áreas de preservação permanente (APP).
Adquiriram conhecimento na área de produção de mudas nativas da mata
amazônica, e no processo de revegetação das áreas de preservação
permanente degradada (APPD).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, M. C. F. Dormência de Sementes. Cuiabá: FAMEV-UFMT,
2004, p.12.
COUTINHO, L. M. Aspecto do Cerrado. Disponível em: www.pequi.org.br Acesso em:
23/09/2003,14:15:10.
LISBÃO Jr, L. Diversidade e o produtor rural: viveiros, o berçário das
florestas. Disponível em www.produtoflorestal.com.br/revista4.pdf Acesso
em: 08/12/2007. 20:06:30
MANTOVANI, E. Cerrado-Savana Brasileira. Disponível em:
http://www.webspawner.com/users/cerrado/ acesso em 06/11/2007,19:10:30.
SILVA, P. H. M. Sistemas de propagação de mudas de essências florestais
Disponível em http://www.ipef.br/silvicultura/producaomudaspropagacao.asp.
Acesso em: 06/11/2007 16:10:20
ANEXO I
Lista das espécies selecionadas e utilizadas na recuperação
N Nome ComumNome Científico
Grupo EcológicoInformações
Ecológicas
1 Açoita Cavalo Luehea grandiflora Secundária Seletiva xerófila
2 Amendoim-bravo Pterogyne nitens Pioneira Seletiva higrófila
3 Angico Anadenanthera macrocarpa Pioneira Seletiva xerófila
4 Aricá (cega-
machado) Physocalymma scaberrimum
Pioneira Seletiva xerófila
5 Aroeira Myracrodruon urundeuva Pioneira Seletiva xerófila
6 Caju-da-mata Anacardium giganteum Clímax Seletiva higrófila
7 Carne de vacaCombretum leprosum
Pioneira Seletiva xerófila
8 Cedro-rosaCedrela odorata
Pioneira Seletiva higrófila
9 Copaíba (pau-de-
óleo)Copaifera langsdorffii
Pioneira/Secundária Seletiva xerófila
10 CumbarúDipteryx alata
Pioneira (cerrado) Seletiva xerófila
11 Goiaba Psidium guajava Pioneira/Secundária Seletiva higrófila
12 GrandiúvaTrema micrantha
Pioneira Seletiva higrófila
13 Guantabú Aspidosperma australe
Secundária Seletiva higrófila
14 ImbaúvaCecropia glaziovi
Pioneira Seletiva higrófila
15 Ingá (mata)Inga marginata
Pioneira Seletiva higrófila
16 Ingá (metro)Inga edulis
Pioneira Seletiva higrófila
17 Ipê Amarelo cerrado Tabebuia chrysotricha Secundária Seletiva xerófila
18 Ipê Amarelo (mata)Tabebuia umbelata
Pioneira/Secundária Seletiva higrófila
19 Ipê branco Tabebuia roseo-alba Pioneira/Secundária Seletiva xerófila
20 Ipê roxo Tabebuia avellanedae Clímax Seletiva xerófila
21 Jacarandá Jacarandá micrantha Secundária Seletiva xerófila
22 Jatobá do Cerrado Hymenaea courbaril Clímax Seletiva xerófila
23 Jenipapo Genipa infudibuliformis Secundária Seletiva xerófila
24 Lobeira Solanum pycocarpum Pioneira
(cerrado)
Seletiva xerófila
25 LouroCordia alliodora
Secundária Seletiva xerófila
26 Marinheiro Guarea guidonia Secundária Seletiva higrófila
27 Mirindiba
(tarumarana)
Buchenavia tomentosa Secundária Seletiva xerófila
28 MongubaPachira aquática
Secundária Seletiva higrófila
29 Murici Byrsonima basiloba Pioneira/Secundária Seletiva xerófila
30 MutambaBuazuma ulmifolia
Pioneira/Secundária Seletiva xerófila
31 Pata de Vaca Bauhinia longifolia Pioneira Seletiva higrófila
32 Pau-de-imbira Xylopia frutescens Pioneira Seletiva xerófila
33 Timburi Enterolobium contortisiliquum Pioneira Seletiva higrófila
34 Vermelhão Hirtella glandulosa Secundária Seletiva xerófila