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magem com alta definição e áudio de melhor qualidade. É com essa expectativa que a TV digital chega ao Brasil a partir de 2 de dezembro, inicialmente apenas para quem mora na cidade de São Paulo. Para quem reside em outras cidades brasileiras, esse prazo deve se estender entre 2009 e 2013. A nova tec- nologia de transmissão de sinais deve permitir entregar ao telespectador uma imagem sem fantasmas ou chuviscos, com um som comparável ao de um CD. Essa tecnologia digital exige como prin- cipal equipamento de recepção o con- versor, também chamado de set-top-box, que capta o sinal digital, faz a seleção dos canais e o converte para televisores convencionais, compatíveis com a TV analógica atual. Há, porém, a possibili- dade de o usuário adquirir um novo tele- visor com o conversor já embutido — idéia que deverá agradar, principalmen- te, aos fanáticos por tecnologia. Estes devem estar avisados que a TV digital não chega com todos os seus potenciais atrativos: de imediato, dificilmente con- tará com sua maior vantagem — a inte- ratividade — principal diferencial da TV digital em relação à analógica. C A P A por Gabriela Di Giulio A TV digital que vem aí A implantação desse novo sistema digital de TV não é unanimidade. "Com pouca tecnologia, restrição à multipro- gramação e sem interatividade, será a mesma TV analógica que conhecemos hoje", diz Gustavo Gindré, membro do comitê gestor de internet e da ONG Coletivo Intervozes. Gindré critica as mudanças prometidas que, no entanto, não têm prazo para acontecer. "Seriam em três escalas: questão tecnológica, com padrão novo de transmissão; mul- tiplicação de emissoras; e interativida- de. Em nenhuma delas, porém, o Brasil tem conseguido sucesso." No caso da interatividade, exemplifica Gindré, o DESAFIOS SÃO MUITOS: MARCO REGULATÓRIO, MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA, PRODUÇÃO DE CONTEÚDO, INTERATIVIDADE E CONQUISTA DO TELESPECTADOR I alto custo do conversor — estimado entre R$ 700 e R$ 800 — será um entrave para as pessoas de menor renda. "A TV digi- tal poderia ser o começo do fim da tele- visão, já que assume elementos que eram exclusivos da internet. Só que o set-top- box vai custar caro, e o telespectador ainda precisa de um terminal para ter interatividade, com modem e saída de banda larga. Quem pode pagar por isso, já tem internet de banda larga em casa", critica. Apesar de começar em dezembro, a nova tecnologia terá muitos desafios pela frente. Por isso mesmo, as estima- tivas apontam que os próximos dois anos serão de experimentação e que o gran- de ano da TV digital será 2010, quando ela estará massificada. O ano não foi pensado à toa: "em 2010 teremos carna- val, Copa do Mundo e eleições presiden- ciais", lembra Tadao Takahashi, presi- dente do conselho de administração da TVE-Brasil e um dos responsáveis pela implantação da internet no Brasil. Para cumprir o compromisso de for- necer ao mercado os equipamentos necessários para a era digital, os fabri- cantes de televisão têm investido pesa- do. O governo fixou um prazo de implan- 32 MERCADO INCENTIVADO Emissoras, receptores de TV, fabricantes de conversores, de transmissores e de hardware e aqueles que desenvolvem software (os aplicati- vos) constituem um mercado que será altamen- te estimulado nos próximos anos. As estimati- vas variam. Para o diretor do CPqD, em relação à transmissão, as emissoras terão de investir cer- ca de R$ 3,5 bilhões para conseguirem uma cober- tura 100% do Brasil. Já o mercado de converso- res poderá girar em torno de R$ 13 a 18 bilhões.

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Page 1: CAPA A TV digital que vem aí - inovacao.scielo.brinovacao.scielo.br/pdf/inov/v3n6/a20v3n6.pdf · meiro passo para difundir a TV Digital. A migração para os aparelhos digitais será

magem com alta definição eáudio de melhor qualidade. Écom essa expectativa que a TVdigital chega ao Brasil a partirde 2 de dezembro, inicialmente

apenas para quem mora na cidade deSão Paulo. Para quem reside em outrascidades brasileiras, esse prazo deve seestender entre 2009 e 2013. A nova tec-nologia de transmissão de sinais devepermitir entregar ao telespectador umaimagem sem fantasmas ou chuviscos,com um som comparável ao de um CD.Essa tecnologia digital exige como prin-cipal equipamento de recepção o con-versor, também chamado de set-top-box,que capta o sinal digital, faz a seleçãodos canais e o converte para televisoresconvencionais, compatíveis com a TVanalógica atual. Há, porém, a possibili-dade de o usuário adquirir um novo tele-visor com o conversor já embutido —idéia que deverá agradar, principalmen-te, aos fanáticos por tecnologia. Estesdevem estar avisados que a TV digitalnão chega com todos os seus potenciaisatrativos: de imediato, dificilmente con-tará com sua maior vantagem — a inte-ratividade — principal diferencial da TVdigital em relação à analógica.

C A P A

por Gabriela Di Giulio

A TV digital que vem aí

A implantação desse novo sistemadigital de TV não é unanimidade. "Compouca tecnologia, restrição à multipro-gramação e sem interatividade, será amesma TV analógica que conhecemoshoje", diz Gustavo Gindré, membro docomitê gestor de internet e da ONGColetivo Intervozes. Gindré critica asmudanças prometidas que, no entanto,não têm prazo para acontecer. "Seriamem três escalas: questão tecnológica,com padrão novo de transmissão; mul-tiplicação de emissoras; e interativida-de. Em nenhuma delas, porém, o Brasiltem conseguido sucesso." No caso dainteratividade, exemplifica Gindré, o

DESAFIOS SÃO MUITOS: MARCO REGULATÓRIO, MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA,PRODUÇÃO DE CONTEÚDO, INTERATIVIDADE E CONQUISTA DO TELESPECTADOR

Ialto custo do conversor — estimado entreR$ 700 e R$ 800 — será um entrave paraas pessoas de menor renda. "A TV digi-tal poderia ser o começo do fim da tele-visão, já que assume elementos que eramexclusivos da internet. Só que o set-top-

box vai custar caro, e o telespectadorainda precisa de um terminal para terinteratividade, com modem e saída debanda larga. Quem pode pagar por isso,já tem internet de banda larga em casa",critica.

Apesar de começar em dezembro, anova tecnologia terá muitos desafiospela frente. Por isso mesmo, as estima-tivas apontam que os próximos dois anosserão de experimentação e que o gran-de ano da TV digital será 2010, quandoela estará massificada. O ano não foipensado à toa: "em 2010 teremos carna-val, Copa do Mundo e eleições presiden-ciais", lembra Tadao Takahashi, presi-dente do conselho de administração daTVE-Brasil e um dos responsáveis pelaimplantação da internet no Brasil.

Para cumprir o compromisso de for-necer ao mercado os equipamentosnecessários para a era digital, os fabri-cantes de televisão têm investido pesa-do. O governo fixou um prazo de implan-

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MERCADO INCENTIVADOEmissoras, receptores de TV, fabricantes de

conversores, de transmissores e de hardware eaqueles que desenvolvem software (os aplicati-vos) constituem um mercado que será altamen-te estimulado nos próximos anos. As estimati-vas variam. Para o diretor do CPqD, em relaçãoà transmissão, as emissoras terão de investir cer-ca de R$ 3,5 bilhões para conseguirem uma cober-tura 100% do Brasil. Já o mercado de converso-res poderá girar em torno de R$ 13 a 18 bilhões.

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tação e, para cumpri-lo, os fabricantesde televisores tiveram, após a definiçãodas especificações, apenas seis mesespara desenvolverem e lançarem seusprodutos. Prazo extremamente curto,na opinião do setor, que esperava ter pelomenos 15 meses para aprontar seus pro-dutos. O presidente da AssociaçãoNacional de Fabricantes de ProdutosEletroeletrônicos (Eletros), LourivalKiçula, garante que a disposição é aten-der as metas estabelecidas e oferecer "amelhor TV digital do mundo". "É precisouma sincronização de intenções e açõesde todos os envolvidos na TV digital",destaca Carlos Ferraz, pesquisador doCentro de Informática da Universidade

Federal de Pernambuco e diretor doCentro de Estudos e Sistemas Avançadosde Recife (Cesar). Na prática, isso signi-fica que emissoras, fabricantes de equi-pamentos e produtores de softwares pre-cisam caminhar juntos para que, maisdo que uma imagem melhor com umsom de qualidade, a TV digital seja inte-rativa.

FACILIDADE DE ACESSO À INTERNETA interatividade deverá permitir ser-

viços parecidos com a internet na tele-visão, como compras, serviços bancá-rios, correio eletrônico, informações sobdemanda e bate-papo. "A interatividadeem TV pode ter papel fundamental no

fomento da inclusão digital no Brasil.Para muitas pessoas, será mais fácilentrar na internet via TV digital do quepor computadores ou qualquer outromeio", afirma Takahashi. A interativida-de real, no entanto, depende de quaisconversores estarão disponíveis no mer-cado — preços e tecnologias pesam nagarantia da viabilidade desse atrativo,pelo menos nos próximos meses.

O que vai permitir que os usuáriospossam interagir com a TV e através delainteragir com outras pessoas é um soft-ware de interatividade — um middlewa-

re, conhecido pelo nome de Ginga e desen-volvido em parceria entre pesquisado-res da Universidade Federal da Paraíba

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Divulgação/

Panasonic

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produto. A empresa conta com cerca de30 pessoas que atuam em duas sedes:uma localizada em João Pessoa a outraem Natal.

CONVERSORES: DIVERSAS OPÇÕESO consumidor brasileiro deverá

encontrar algumas opções diferentes deequipamentos no mercado, desde mode-los mais simples de conversores, comcustos mais baixos, até conversores maissofisticados e complexos, que já venhamcom o Ginga e que possam estar, inclu-sive, embutidos nos aparelhos televiso-res. Os fabricantes ainda analisam ascondições do mercado e discutem o quee quando disponibilizar. É o caso, porexemplo, da Panasonic, uma das seteempresas associadas à Eletros — alémdela, a associação inclui também LGElectronics, Philips, Samsung, Semp

Toshiba, Sony e Tectoy. "Estamos estu-dando duas vertentes: se comercializa-mos o conversor que já produzimos outelevisores que venham com o sintoni-zador", diz Daniel Kawano, analista deprodutos da Panasonic do Brasil. As dúvi-das ainda são muitas: "nossa preocupa-ção maior é com o middleware, que ain-da não foi totalmente desenvolvido. Comoserá de fato? O consumidor que compraro conversor sem o software, compraráum novo conversor que virá com oGinga?", questiona.

Na incerteza, a empresa opta poresperar, mas revela que, em 2008, novosaparelhos televisivos estarão disponí-veis para o consumidor. Hoje, a empre-sa produz na sua sede em Manaus con-versores diferenciados, comercializa-dos exclusivamente no Japão. Além degravador interno, esses conversores uti-

(UFPB) e da PUC-RJ. Aliás, é graças aoGinga que o padrão de TV digital no Brasiljá é chamado por alguns como padrão"nipo-brasileiro", já que o Brasil adotouo padrão japonês de TV digital e o soft-ware parece ser a única criação brasilei-ra. "A concepção do Ginga é resultado dequase 20 anos de trabalho de um grupoque começou a pesquisar aplicações edocumentos voltados para multimídia",explica Guido Lemos, pesquisador doDepartamento de Informática da UFPBe um dos responsáveis pela criação dosoftware. "Quando soubemos da chama-da para a TV digital no Brasil, fizemosum consórcio entre as duas universida-des e juntamos esforços para fazer oGinga".

Projetado para executar aplicaçõesque usam a TV e outros dispositivos,como celular, computador e internet, oGinga é comparado ao Windows do com-putador. Portanto, a interatividade efe-tiva depende da instalação desse soft-ware nos conversores ou nos novos apa-relhos integrados de televisores. O pro-blema é que o Ginga não está totalmen-te finalizado, e ainda busca a certifica-ção do sistema. "Pode ser que algumfabricante tenha conhecimento do Ginga,mas ele ainda não foi totalmente divul-gado. Se a TV digital vai começar emdezembro, as finalizações desse softwa-re teriam que estar mais avançadas",argumenta Ferraz, do Cesar.

O pesquisador Lemos, no entanto,afirma que o software estará pronto eque alguns fabricantes já o colocarãonos seus equipamentos ainda este ano.Para isso, ele destaca a criação da empre-sa Mopa Embedded Systems, formadapor pesquisadores que participaramdo desenvolvimento do software e que,agora, querem transformar o Ginga em

Pesquisadores trabalham no projeto de implantação do sistema de TV digital em laboratório do CPqD

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cípio, a demanda por televisores comconversor será pequena, pois as trans-missões digitais acontecerão somentena região metropolitana de São Paulo.Mas, com o tempo e a chegada a outrosestados, a previsão é de que esse merca-do cresça consideravelmente.

Aliás, esse é um dos desafios da TVdigital, pelo menos no início. Os fabri-cantes estimam, em geral, que os preçosdos conversores girem em torno de R$700 a R$ 800, mas o governo brasileirohavia anunciado que o custo desses pro-dutos seria cerca de R$ 200. "A comer-cialização dos conversores será o pri-meiro passo para difundir a TV Digital.A migração para os aparelhos digitaisserá um processo de longo prazo", pon-tua o presidente da Eletros. Ele garanteque a indústria de televisores vai traba-lhar para reduzir os preços dos produtos

digitais. "O aumento gradual da deman-da por conversores e televisores integra-dos permitirá ampliar a escala de pro-dução e reduzir os preços, assim comoocorreu com outras novas tecnologias,como telefone celular, DVDs, MP3 Player.Com a TV digital acontecerá o mesmo,no médio prazo", diz. Lourival Kiçulaobserva ainda que o sistema brasileirointroduziu uma série de inovações tec-nológicas, demandando componentes(semicondutores) específicos, que ain-da não são produzidos em larga escalano mercado mundial. "À medida queesses componentes começarem a serproduzidos em escala, os preços deve-rão começar a cair". Há também a expec-tativa de que o governo brasileiro possaoferecer subsídios a esses fabricantespara que os preços, pelo menos dos con-versores, sejam reduzidos. Por enquan-

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lizam um middleware específico paraatender a demanda japonesa, que já foimaior no início da implementação daTV digital. Por isso mesmo, a empresajá anuncia que, se colocar conversoresno mercado, eles terão um valor bemmaior do que o anunciado pelo governo.

Já a Samsung lançará, a partir dofinal de novembro deste ano, na regiãometropolitana de São Paulo, dois mode-los de TV LCD, um de 40 polegadas eoutro de 52 polegadas, com decodifica-dor de sinal digital integrado. No primei-ro momento, segundo Eduardo Mello,diretor da área de eletrônicos de con-sumo da Samsung, a companhia nãocomercializará aparelhos set-top-box.Os preços das novas TVs devem ser de10% a 15% maiores do que os dos atuaismodelos da mesma categoria. Segundoo diretor, a empresa acredita que, a prin-

DECISÕES CONTROVERSAS

Na contramão das expectativas otimistas sobre TV digital, GustavoGindré, da Ong Coletivo Intervozes, critica as decisões relacionadas àchegada da tecnologia no Brasil. "O caminho que se adotou no Brasilfoi direcionado para manter os radiodifusores felizes. O governo sabo-tou as expectativas."

Para ele, com a entrada da TV digital, o país teria de produzir chipse softwares. Esse desenvolvimento tecnológico ajudaria a desenvol-ver outros setores. "É óbvio que não daria para produzir tudo aqui, masa expectativa não era uma adesão subordinada a uma tecnologia pron-ta", diz, referindo-se à adoção do padrão japonês de TV digital noBrasil. Para ele, essa decisão fez com que o país abrisse mão de desen-volver ciência e tecnologia. "A negociação sobre a escolha do padrãofoi pouco soberana e, na minha opinião, escolhemos o parceiro erra-do", afirma Gindré, ressaltando que a opção mais viável seria o padrãoeuropeu.

Em relação à multiplicação de emissoras, Gindré critica a decisãodo governo em entregar para cada emissora um novo canal para trans-

missão digital. "A Europa fez diferente, deu espaço apenas para umaprogramação. Ao entregar um canal inteiro para cada radiodifusora, ogoverno errou porque muitos radiodifusores estão ilegais ou com con-cessões vencidas, muitas emissoras não conseguem fazer uma progra-mação suficiente para o canal que já possuem e porque, principalmen-te, o governo sonega a possibilidade da entrada de outras emissoras(sejam públicas ou privadas) e, assim, não elimina o oligopólio priva-do já existente."

No caso da interatividade, Gindré aponta que o alto custo do con-versor vai ser um entrave para que as pessoas com menores rendas ado-tem a TV digital. Na opinião dele, a interatividade não é algo que inte-resse às emissoras. "Com a possibilidade da entrada dos provedores deserviços — as teles — , as emissoras temem uma concorrência maior."

A reversão desse quadro — "pouca tecnologia, restrição à multi-programação e sonegação da interatividade" — está, na opinião domembro da Ong, nas mãos da sociedade civil, que deve se mobilizar epressionar a justiça, "antes mesmo do dia 02 de dezembro".

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to, isso ainda não acontece. Por contadessas mudanças de produção e preços,a Eletros não tem uma estimativa defaturamento do setor para os próximosanos.

Para ganhar o consumidor, outraestratégia, destacada pelo pesquisadorCarlos Ferraz, está relacionada a possí-veis acordos entre fabricantes e redesde varejo para oferecer a possibilidadede financiamento na compra dos equi-pamentos. "Aquele velho modelo brasi-leiro de que o consumidor pode pagarem dez vezes sem juros vai funcionar",ressalta. Na corrida para convencer opúblico brasileiro a comprar esses novosequipamentos, há ainda expectativas deacordos entre as emissoras de TV e asgrandes redes de varejo para exibiçãode propagandas televisivas com customenor ou a custo zero.

O QUE MUDA PARA O TELESPECTADORA partir de dezembro, as emissoras

terão de transmitir sua programaçãoatravés das duas freqüências: a analó-gica e a digital. Por isso, pelo menos porenquanto, a programação terá de ser amesma. Isso significa que o telespecta-dor que não optar por adquirir um con-

versor ou televisor integrado assistiráaos mesmos programas que aquele teles-pectador que se render à nova tecnolo-gia. Já em relação aos conteúdos, as emis-soras terão de produzir seus programasem alta definição. "Por isso, a qualidadeda maquiagem usada pelos atores deuma novela terá de ser de maior quali-dade, pois os defeitos também aparece-rão mais", compara Juliano Dall'Antonia,diretor de TV digital do CpqD.

Na prática, o telejornal, a novela e ofutebol serão exibidos da mesma formatanto no sinal analógico quanto no digi-tal. As mudanças referem-se às outrasfuncionalidades da TV digital: a intera-tividade e a multiprogramação. Esta últi-ma está relacionada à possibilidade deas emissoras transmitirem mais de umprograma simultaneamente ou diferen-tes tomadas da mesma cena de formaque o telespectador escolha a que maisgostar. Explica-se: cada emissora, pelosistema analógico, ocupa um canal detelevisão. No modelo digital, há possibi-lidade de várias programações simultâ-neas no mesmo espaço, já que um canalpermite quatro programas simultâneos.No futuro, a TV digital oferecerá ao teles-pectador a possibilidade, por exemplo,

de acompanhar uma novela com maistrilhas paralelas. As emissoras tambémdeverão produzir programas especiais,utilizando recursos que a multiprogra-mação oferece. "Vamos pensar no BigBrother Brasil. Esse é um bom protóti-po do que será um programa interativode êxito no futuro, com a participação dopúblico através de ligação telefônica ouda internet", aponta Tadao Takahashi.

Ainda no caso da interatividade, aexpectativa é que as emissoras poderãodisponibilizar ao telespectador infor-mações adicionais sobre a programa-ção, como dados sobre atores do filme aser apresentado, resumo do que aconte-ceu na novela até o capítulo anterior,notas sobre o time de futebol que estájogando. Para ver essas informações, otelespectador interagirá com seu con-versor digital ou com seu televisor jáintegrado. Ainda através desses equipa-mentos, integrados a uma rede de tele-comunicações (de banda larga ou não),o telespectador poderá votar em enque-tes e participar de games. Há ainda apossibilidade de acessar o guia de pro-gramação eletrônico (EPG - EletronicProgram Guide), como já acontece hojenos sistemas de TV por assinatura. O

BLOQUEIO À GRAVAÇÃO DE PROGRAMAS: UMA AMEAÇA?A adoção de um sistema anticópia na televisão digital brasileira

pode representar uma ameaça ao telespectador, que perderia a liber-dade de decidir o que vai fazer com a programação. A discussão sobreisso, que envolve Ministério das Comunicações, Comitê de Desenvolvi-mento da TV Digital e Associação Brasileira de Emissoras de Rádio eTelevisão (Abert), conta com defesas, críticas e pressões de diferentesentidades. As emissoras acreditam que a livre gravação dos programascriará empecilhos para futuros contratos de exibição, já que a tecnolo-gia digital pode facilitar a pirataria e não traz segurança aos produto-res quanto aos conteúdos — se serão vistos apenas pelo público-alvo.

Por conta disso, a discussão atual é se o conversor permitirá ounão a gravação do programa que recebeu. "A questão de fundo écomercial. O interesse público está do lado de permitir cópias locaise não de proibir. A pressão vem mais das emissoras e dos produto-res de conteúdo", analisa Tadao Takahashi, da TVE. Para ele, é impor-tante que haja um esquema que permita cópia individual e proíbaa cópia comercial.

Nos Estados Unidos, país que se preocupa com direitos autoraise onde a TV digital é bem disseminada, o sistema anticópia não foiadotado.

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telespectador poderá obter dados sobrea programação dos vários canais, nomee gênero do programa atual e do próxi-mo programa. A idéia é que essa últimaferramenta já seja oferecida desde aentrada no ar da TV digital.

Na oportunidade dos benefícios dainteratividade da TV digital, a Secretariade Ensino Superior do Estado de SãoPaulo está lançando o Programa deExpansão de Vagas no Ensino SuperiorPaulista "Universidade Virtual do Estadode São Paulo - Univesp". A novidade deve-rá oferecer programas-aula a um gran-de público espalhado por todo o estado,usando meios de comunicação de amplaabsorção pela sociedade, como a inter-net e o serviço telefônico gratuito 0800,e também a TV. Ao iniciar suas trans-missões digitais, a TV Cultura destina-rá um de seus canais de baixa definiçãoà educação, pelo qual a Univesp poderátransmitir seus cursos. O objetivo éampliar substancialmente o número devagas para suprir a demanda crescentepor elas no ensino superior.

DESAFIOS EM VÁRIAS ESCALAS ATÉ 2016Depois da primeira transmissão

HDTV (Televisão de Alta Definição) dacidade de São Paulo, prevista para 02 de

dezembro, a expectativa é que a TV digi-tal esteja disponível em outras capitaisaté dezembro de 2009. Ainda segundoestimativas apontadas por RobertoFranco, diretor de tecnologia do SBT e pre-sidente do Fórum Nacional de TV Digitale da Sociedade Brasileira de Engenhariade Televisão, a nova tecnologia deve estardisponível em todos os municípios bra-sileiros até dezembro de 2013. Em dezem-bro de 2016 está previsto o desligamen-to da TV analógica.

Até lá as expectativas e os desafiossão muitos. Otimista quanto à chegadae consolidação da TV digital no Brasil,Takahashi faz algumas projeções, comoa de que em 2015 a televisão terá doistipos de telespectador: aquele mais pas-sivo, que continuará a assistir aos pro-gramas como hoje; e o mais interativo."Acredito que esses telespectadores inte-rativos serão formados por dois gruposprincipais, os mais jovens e os que euchamo de ferramenteiros, aquelas pes-soas que trabalham com computado-res. A sacada será saber qual será a por-centagem de telespectadores de cadagrupo", diz.

Ainda pensando no futuro, Takahashiafirma que, se tudo funcionar bem, o pre-ço do conversor em 2016 — quando está

decretado o fim da TV analógica — serábem baixo e todos estarão convencidosde que vale a pena a TV digital. Até lá,cada emissora ocupará uma faixa ana-lógica e uma digital. Em 2016, as emis-soras devolverão para o governo a faixaanalógica, que poderá ser usada, porexemplo, para canais comunitários."Seria a reforma agrária da radiodifu-são", compara.

Mais do que uma mudança tecnoló-gica, o presidente do conselho de admi-nistração da TVE-Brasil acredita que adifusão da TV digital no Brasil represen-ta, sobretudo, uma mudança cultural."Ao olhar para as experiências interna-cionais, é possível ver que a entrada econsolidação da TV digital é sempredemorada e complicada". SegundoJuliano Dall'Antonia, do CPqD, o desli-gamento total da transmissão analógi-ca ainda não aconteceu no mundo. NosEstados Unidos, a projeção é desligarem 2008 e um leilão deverá ser feito comas freqüências devolvidas.

É preciso considerar ainda que, pelomenos por enquanto, o Brasil não con-ta com um marco regulatório específi-co para esta nova área, caracterizadapela interação de diferentes meios comu-nicativos.

CAMPANHA DE LANÇAMENTO - Para difundir a TV digital, já está no ar — pelomenos na região metropolitana — uma campanha, com filmes que explicam de manei-ra didática como a nova tecnologia chegará. A campanha é veiculada pelas redes deTV que compõem o Fórum de TV Digital e traz como personagens principais a famí-lia Nascimento, tipicamente brasileira. A campanha fala da chegada da TV digitalcomo uma das mais importantes revoluções na área da comunicação e tecnologia,constituindo uma nova forma de se alcançar gratuitamente informação, cultura, lazere entretenimento. Aborda a qualidade de imagem e som, apresenta os conceitos daTV digital e seus benefícios, como mobilidade, portabilidade e interatividade. Só paraSão Paulo, há ainda um filme publicitário sobre a mudança e a transformação no hábi-to de ver TV e o que é necessário para usufruir da nova tecnologia.

Edu Moraes/

Divulgação TV Record

Elenco do filme publicitário sobre a chegada da novidade digital

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