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E M P R E S A C I D A D Ã 48 por Patricia Mariuzzo Lixo que vira renda Junte uma mídia atenta às questões de responsabilidade socioambiental e do consumo consciente com uma socie- dade civil mobilizada ao redor desses assuntos e o resultado será um cidadão capaz de exigir políticas públicas vol- tadas para o meio ambiente, e, ao mes- mo tempo, um consumidor pronto para premiar ou punir empresas em função do quanto elas aderem à sustentabili- dade. Alinhada com esse pensamento a rádio Eldorado, emissora paulistana pertencente ao Grupo Estado de S. Paulo, mantém há sete anos o projeto "Pintou Limpeza" que orienta a implantação de programas de coleta seletiva de lixo por meio de boletins durante a programa- ção, exposições, distribuição de mate- riais e palestras sobre o assunto. O obje- tivo é despertar a população para a cons- cientização ambiental e o consumo res- ponsável. O projeto começou com dicas e aler- tas para os ouvintes da Eldorado AM e FM. Mobilizadas pelas informações divulgadas, voluntariamente, diversas empresas, escolas, hospitais e entida- des assistenciais se propuseram a fazer o trabalho de coleta seletiva e destina- ção correta dos materiais recicláveis gerados no próprio local, e recebidos pela população do entorno. Foi assim que surgiram os Postos de Entrega Voluntária (PEVs). "Hoje temos 16 PEVs espalhados pela cidade. O material arre- cadado é comercializado pelos próprios postos, gerando renda para as entida- des envolvidas fazerem melhorias e aplicarem nos projetos sociais", expli- ca Paulina Chamorro, coordenadora do "Pintou Limpeza". A rádio divulga o endereço desses postos de coleta ao lon- go da programação num dos quatro boletins diários. "Conheci o ‘Pintou Limpeza’ ouvindo a rádio", conta Cleusa Carvalho, gerente de comunicação cor- porativa da TetraPak, fabricante de embalagens longa vida que tem um con- trato com a rádio para apoio anual. "Somos parceiros do projeto desde o início. A TetraPak acredita na gestão industrial com sustentabilidade e a campanha da rádio Eldorado tem total sinergia com esta premissa ao combi- nar responsabilidade social com cons- cientização ambiental", diz ela. A Novelis, que produz laminados de alumínio em quatro unidades no Brasil, também patrocina as ações do "Pintou Limpeza". "A Novelis tem como políti- ca captar sucata de alumínio nos mer- cados onde atua. É uma forma de dimi- nuir possíveis impactos ambientais, economizar recursos naturais e trazer benefícios diretos para a sociedade, afirma Marcelo Almeida, gerente de planejamento e comercialização de metal da empresa. Em 2006, a Novelis do Brasil transformou em chapas 97 mil toneladas de alumínio reciclado, ou 7,3 bilhões de latas. Além da ajuda financeira para a manutenção dos boletins, as empresas também apóiam as ações do projeto que vão além da programação da rádio. Essas ações incluem a organização de exposi- ções e palestras gratuitas. Segundo Paulina, são feitas em média quatro por PROJETO DE RÁDIO PAULISTANA FAZ SURGIR 16 POSTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA EM SÃO PAULO Fotos: Divulgação/Tetra Pak Produtos feitos a partir da reciclagem de embalagem longa vida — parafina, lingotes e telhas — são resultado do total aproveitamento do descarte

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E M P R E S A C I D A D Ã

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por Patricia Mariuzzo

Lixo que vira renda

Junte uma mídia atenta às questõesde responsabilidade socioambiental edo consumo consciente com uma socie-dade civil mobilizada ao redor dessesassuntos e o resultado será um cidadãocapaz de exigir políticas públicas vol-tadas para o meio ambiente, e, ao mes-mo tempo, um consumidor pronto parapremiar ou punir empresas em funçãodo quanto elas aderem à sustentabili-dade. Alinhada com esse pensamentoa rádio Eldorado, emissora paulistanapertencente ao Grupo Estado de S. Paulo,mantém há sete anos o projeto "PintouLimpeza" que orienta a implantação deprogramas de coleta seletiva de lixo pormeio de boletins durante a programa-ção, exposições, distribuição de mate-riais e palestras sobre o assunto. O obje-tivo é despertar a população para a cons-cientização ambiental e o consumo res-ponsável.

O projeto começou com dicas e aler-tas para os ouvintes da Eldorado AM eFM. Mobilizadas pelas informaçõesdivulgadas, voluntariamente, diversas

empresas, escolas, hospitais e entida-des assistenciais se propuseram a fazero trabalho de coleta seletiva e destina-ção correta dos materiais recicláveisgerados no próprio local, e recebidospela população do entorno. Foi assimque surgiram os Postos de EntregaVoluntária (PEVs). "Hoje temos 16 PEVsespalhados pela cidade. O material arre-cadado é comercializado pelos própriospostos, gerando renda para as entida-des envolvidas fazerem melhorias eaplicarem nos projetos sociais", expli-ca Paulina Chamorro, coordenadora do"Pintou Limpeza". A rádio divulga oendereço desses postos de coleta ao lon-go da programação num dos quatroboletins diários. "Conheci o ‘PintouLimpeza’ ouvindo a rádio", conta CleusaCarvalho, gerente de comunicação cor-porativa da TetraPak, fabricante deembalagens longa vida que tem um con-trato com a rádio para apoio anual."Somos parceiros do projeto desde oinício. A TetraPak acredita na gestãoindustrial com sustentabilidade e a

campanha da rádio Eldorado tem totalsinergia com esta premissa ao combi-nar responsabilidade social com cons-cientização ambiental", diz ela.

A Novelis, que produz laminados dealumínio em quatro unidades no Brasil,também patrocina as ações do "PintouLimpeza". "A Novelis tem como políti-ca captar sucata de alumínio nos mer-cados onde atua. É uma forma de dimi-nuir possíveis impactos ambientais,economizar recursos naturais e trazerbenefícios diretos para a sociedade,afirma Marcelo Almeida, gerente deplanejamento e comercialização demetal da empresa. Em 2006, a Novelisdo Brasil transformou em chapas 97mil toneladas de alumínio reciclado,ou 7,3 bilhões de latas.

Além da ajuda financeira para amanutenção dos boletins, as empresastambém apóiam as ações do projeto quevão além da programação da rádio. Essasações incluem a organização de exposi-ções e palestras gratuitas. SegundoPaulina, são feitas em média quatro por

PROJETO DE RÁDIO PAULISTANA FAZ SURGIR 16 POSTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA EM SÃO PAULO

Fotos: Divulgação/

Tetra Pak

Produtos feitos a partir da reciclagem de embalagem longa vida — parafina, lingotes e telhas — são resultado do total aproveitamento do descarte

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do lixo e a rotina da limpeza. Uma opçãopara quem vai implantar a coleta seleti-va é encaminhar os materiais para asso-ciações ou cooperativas que, por sua vez,vendem ou reaproveitam esse material.O site do projeto tem uma lista de enti-dades. Também existem empresas quecompram materiais específicos, apenaspapel ou garrafas pet, por exemplo.

No Brasil, há pouco mais de 200municípios com coleta seletiva de lixo."A coleta seletiva ainda não está incor-porada nas políticas públicas das gran-des cidades. Em geral o serviço munici-pal não atende essa demanda. Em SãoPaulo, por exemplo, a reciclagem nãochega a 1% do total do lixo gerado. Nestesentido, acredito que o "Pintou Limpeza"tem um papel importante ao incentivarque ações mais abrangentes, por parteda prefeitura, sejam iniciadas", acredi-ta Paulina.

AGENTES AMBIENTAISSegundo Paulina entraria no rol des-

tas ações desde o recolhimento do lixoreciclado até políticas que apoiassem otrabalho dos catadores. Um dos boletinsveiculados na programação da rádio afir-ma que os catadores são os agentes maisimportantes da atualidade. "As pessoas

que catam o lixo nas ruas são exemplosde consciência ambiental", diz o texto.Segundo a Associação Brasileira doAlumínio (Abal), e a Associação Brasileirados Fabricantes de Latas de AltaReciclabilidade (Abralatas), o país reci-clou 94,4% do total de latas de alumíniopara bebidas comercializadas no mer-cado interno em 2006. Esta marca man-tém o Brasil na liderança mundial emreciclagem de latas. Isto certamente nãoseria possível sem a ação dos catadores.

As pessoas que tratam a coleta e reci-clagem como um meio de gerar renda,tratam de maneira diferente a questãoambiental. "Elas assimilam melhor oconceito de reutilizar, de reaproveitar,pelo fato de terem por trás disso umapossibilidade de renda", acredita Paulina."O trabalho de conscientização para clas-ses média e alta é maior porque a açãoestá mais distante desse tipo de perfil.A pessoa pode estar muito consciente,mas na hora da ação é um empregadoque vai fazer a separação do lixo", com-pleta. De fato, a separação do lixo é umpouco trabalhosa. Idealmente as emba-lagens devem ser lavadas. Algumas sãofeitas de material misto, o que dificultaa destinação para o lixo que deve rece-ber somente papel, plástico ou metal.Por conta disso talvez ainda seja peque-na a parcela da população que separa olixo, apesar do consenso sobre a impor-tância da reciclagem.

Um dos papéis desempenhados pelosveículos de comunicação é exatamentefazer um assunto ganhar popularidade.Na opinião da coordenadora do projetoda rádio Eldorado, a educação ambien-tal passa por um trabalho de convenci-mento e isso é muito facilitado pela lin-guagem do rádio. "80% dos nossos ouvin-tes manifestam interesse pelas questõesambientais tratadas na programação.Além disso, recebemos cerca de dez men-sagens por dia com questões sobre cole-ta seletiva e reciclagem", diz.

mês. Como organizar a coleta seletivaem condomínios, como as pilhas e bate-rias devem ser descartadas, quais ascores dos contêineres para coletar dife-rentes tipos de materiais, o tempo dedegradação dos materiais encontradosno lixo urbano, são alguns dos temastratados nas palestras em empresas,escolas e entidades assistenciais.

POLÍTICAS PÚBLICASPara ser um PEV a empresa ou enti-

dade tem que instalar contentores paraarmazenagem de recicláveis e mantê-los em local de fácil acesso ao público.Para obter renda a partir da coleta domaterial é necessário seguir algumasregras. A primeira é conhecer o lixo local:quantidade diária em quilos ou númerode sacos; que tipo de resíduo é gerado equal a porcentagem de cada um: vidro,alumínio, papel, orgânicos, infectanteetc.; qual o caminho do lixo desde ondeé gerado, quais materiais são coletadosseparadamente e para onde são encami-nhados. Depois é preciso saber as carac-terísticas do local que se dispõe a rece-ber os materiais que serão reciclados:instalações físicas e recursos existen-tes para armazenagem. É necessáriosaber ainda quem faz a coleta normal

Fotos: Divulgação/

Tetra Pak

Esteira de alimentação de usina de

reciclagem deembalagenslonga vida

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