cap 7
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Folhas de
OUTONOEra um dia como os outros, a
colheita de café continuava intensa e
continua, um dia comum, a não ser uma
coisa.
O sol indicava que já passava do
meio dia, meu rosto estava tomado pelo
suor, fruto de meu trabalho, o calor era
tão forte e intenso, nem parecia que
estávamos em plena Irlanda.
Folhas de
OUTONOO silencio do local é destruído
como barulho do motor de um grande
veículo, a fumaça do escapamento indica
que ele estava se aproximando de nós.
Não demora muito e o desconhecido
veículo estaciona em frente à casa dos
Mackenzie, os escravos correm até o
local, tomados pela curiosidade – Como
sempre – eu também faço o mesmo.
Folhas de
OUTONOVejo sair do velho e desgastado
veículo, meia dúzia de mulheres e
algumas dezenas de homens, além de um
garotinho, por volta de sete anos. Após
alguns flashbacks, me lembro que aquele
caminhão, foi o mesmo que havia nos
buscado após aquela terrível viagem,
Com isso, estava claro que aquelas
pobres pessoas haviam sido vítimas de
Mackenzie e do tráfico humano, assim
como a mim.
Folhas de
OUTONOA grande multidão formada por
mim e os escravos continua aglomerada
em frente a grande mansão, Rasul então
entrega aos recém chegados alguns
panos velhos, assim como fez quando
cheguei ao local. Naquele momento, me
emocionei com os flashbacks que
tomavam meus pensamentos, o dia em
que cheguei aqui ainda estava claro em
minha mente.
.
Folhas de
OUTONOMeu breve momento de
lembranças é interrompido pelo chamar
de Rasul, me dirijo a ele prontamente
_O que há Rasul? – Questiono
_Este é Sean, ele é do sul,
ensine a ele seu trabalho – Responde
Rasul
Prontamente, acompanho Sean
até os cafezais para lhe ensinar o
trabalho.
Folhas de
OUTONO_Essas pequenas bolinhas se
chamam café, elas são grudadas nesta
espécie de galhos. Você irá pegar na
base desse “galho” e ira puxar até a outra
extremidade, tirando assim os frutos, após
isto, você colocará todos eles no cesto, e
quando este encher, você levará até
Rasul e seus ajudantes, para eles
peneirarem os grãos – Ensino
atenciosamente o trabalho a Sean, que
me responde com um olhar assustado,
como se não estivesse entendendo o que
digo.
Folhas de
OUTONO_Claro, como sou boba – digo
em voz alta – você é daqui, da Irlanda,
não da América, como eu – concluo com
uma engraçada expressão, que acaba
arrancando alguns sorrisos de Sean.
Não podíamos conversar, então
ensino o trabalho com alguns gestos,
colho alguns grãos , com isso, Sean
aprende rapidamente.
Folhas de
OUTONOO dia continua, observo Sean
trabalhando, ele ainda está meio
desajeitado na hora de colher, chega a
ser engraçado, confesso que meu
primeiro sorriso desde que tinha pisado
neste chão foi neste exato momento.
Folhas de
OUTONOA noite surge e prontamente
seguimos para a senzala. Todos estão
dormindo, algo que minha insônia não
permite, meu rotineiro momento de
reflexão na madrugada é interrompido
pelo chamar de Sean
_ Tar, a ligean ar rud éigin a ithe
(“Venha, vamos comer algo” em Irlandês)
– Diz Sean, respondo com gestos que
não estou entendendo o que diz, ele me
responde com um aceno, indicando para
acompanhá-lo, eu então o sigo.
Folhas de
OUTONOEle me leva até uma pequena
grade, que tampava um grande buraco na
parede
_Nós, sair – Sean já havia
aprendido algumas palavras ao longo do
dia
_Você deve estar maluco –
Respondo com certo sarcasmo obtendo
um olhar de Sean – Sim, vamos –
Respondo
Sean prontamente quebra a
grade, nos possibilitando de sairmos.
Folhas de
OUTONOConfesso que nunca havia
pensado de fazer aquilo, talvez pela
minha falta de perspectiva, eu estava
morta, já Sean, estava tão vivo e radiante
em meio as nossas condições, isto fazia
com que a cada minuto me encantasse
ainda mais com aquele garoto.
Ele corre até parar de baixo de
uma enorme arvore frutífera, sobe em
seus galhos e apanha alguns frutos
Folhas de
OUTONO_Bom, coma – Diz Sean
Prontamente saboreio a deliciosa
fruta
_Hum... Deliciosa
E por ali ficamos por alguns
minutos, saboreando aquelas frutas sobre
a luz das estrelas. Confesso que mesmo
o conhecendo a tão pouco tempo – Na
verdade, poucas horas – Me sentia tão
leve em sua companhia, sua fé na vida
me contagiava de certa forma, que, não
há palavras para dizer o que sentia,
apenas sabia que era algo bom.
Folhas de
OUTONOSean se levanta, pergunto com
gestos aonde vai, ele me responde com
um aceno, indicando para acompanhá-lo,
é o que faço.
Acabamos na beira de um rio,
Sean mergulho nas águas escuras sem
rodeios
_Venha – Diz Sean
A sua alegria me contagia
novamente, mergulho no rio e então digo
_Você, maluco
_Mim, maluco? Mim, feliz –
Responde Sean, me tirando o fôlego.
Folhas de
OUTONOAquele dia talvez fosse o mais
especial de minha vida, Sean com certeza
era um exemplo de fé e determinação que
eu devia seguir, meu coração,
quebrantado estava sendo reconstruído
com a amizade que sentia por ele.
O sol já estava no horizonte, o
tempo havia passado tão rápido, que nem
havia percebido
Folhas de
OUTONO_Sean, vamos, eles já irão abrir
a senzala! – Digo nervosa, já saindo da
água, Sean faz o mesmo
Prontamente saímos correndo,
em direção a senzala. Chegando lá,
percebemos que já era tarde demais,
Rasul havia tentado nos proteger, mas os
capatazes do senhor Mackenzie já
haviam descoberto nossa fuga.
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