cap-6_miq_oxidação_altas_temperaturas

27
Capítulo 6 M.I.Q.: Oxidação à Altas Temperaturas Prof. José Luiz Vieira Neto E-mail: [email protected] Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas (ICTE) Curso : Engenharia Química (7ª período)

Upload: sayeny-avila

Post on 02-Jan-2016

14 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

Capítulo 6 – M.I.Q.:

Oxidação à Altas Temperaturas

Prof. José Luiz Vieira Neto

E-mail: [email protected]

Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas (ICTE)

Curso: Engenharia Química (7ª período)

Page 2: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

2

Importância O uso de materiais metálicos

em equipamentos que operam em altas

temperaturas (ex: reatores, trocadores de

calor, caldeiras, etc.).

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 3: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

3

6.1) Formação da Película de Oxidação:

Os óxidos obtidos por reações exotérmicas são os mais

fáceis de se formar. Logo, os metais que apresentam estes

óxidos se corroem mais facilmente.

Material metálico em contato com atmosfera oxidante

corrói-se quimicamente pela transferência direta dos

elétrons que cada átomo do metal cede a átomos do

oxidante.

Considerando-se o Oxigênio como oxidante, resultam da

reação íons M+n e O-2, que passam a constituir um óxido

cristalino que recobre o metal:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 4: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

4

6.1) Formação da Película de Oxidação:

Reação de Oxidação:

Reação de Redução:

Reação de Oxirredução:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

-n en4M4M4

2-

2 On2en4On

2n

2 On2M4OnM4

Page 5: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

5

6.1) Formação da Película de Oxidação:

A película do óxido, M2On, à temperatura ambiente,

geralmente é muito tênue, fina e de difícil percepção.

Com o aquecimento essa película vai aumentando e

podem-se observar, entre certas espessuras, cores que

resultam da interferência da luz refletida nas superfícies

superior e inferior da película de óxido.

Exemplos: A oxidação do Titânio em temperatura elevada

forma uma película azul-escura de Óxido de Titânio (TiO2).

Já o Óxido de Alumínio não tem coloração, pois a película

não é suficientemente espessa.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 6: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

6

6.1) Formação da Película de Oxidação:

Metais com vários estados de oxidação (ex: Ferro, Cobre,

Cobalto e Manganês) podem formar películas de várias

camadas de óxidos de diferentes composições.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

(hematita) OFe 32

)(magnetita OFe 43

(wustita) FeO

Fe

Figura 6.1: Constituintes da película de

oxidação do Ferro aquecido à 700ºC.

Page 7: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

7

6.2) Mecanismo de Crescimento da Película:

Sendo o meio oxidante mais frequente o Oxigênio, pode-se

considerar que a fixação do Oxigênio à superfície de um metal

exposto a uma atmosfera de Oxigênio molecular, à baixa

temperatura, resulta da competição de três processos:

o adsorção de um filme de oxigênio atômico sobre a superfície

metálica;

o adsorção de oxigênio molecular sobre a face externa do filme

anterior;

o película de óxido proveniente da reação de oxidação.

Os dois primeiros processos ocorrem à baixas temperaturas,

já o terceiro é mais acentuado à temperaturas elevadas.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 8: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

8

6.2) Mecanismo de Crescimento da Película:

Quando se forma uma camada compacta de óxido numa

superfície metálica, é necessário que haja o fenômeno da

difusão através da película para que ocorra o crescimento da

referida película.

A oxidação vai prosseguir com uma velocidade que é função

da velocidade de difusão dos reagentes através da película.

Considera-se que o processo de oxidação envolve o transporte

de íons e elétrons através da película, isto é, a corrosão

depende das conduções iônicas (catiônica e aniônica) e

eletrônica.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 9: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

9

6.2) Mecanismo de Crescimento da Película:

A condução iônica pode se dar das seguintes maneiras:

o Ânion (O–2) difundindo-se pelo óxido no sentido do metal –

Exemplos: Titânio e Zircônio;

o Cátion metálico (M+n) difundindo-se pelo óxido no sentido do

Oxigênio – Exemplos: Cobre, Zinco e Ferro;

o Difusão simultânea do ânion e cátion – Exemplos: Cobalto e

Níquel.

A Figura 6.2 mostra uma esquematização das difusões catiônica

e aniônica.

Já na Figura 6.3 tem-se o esquema do mecanismo eletroquímico

para oxidação em temperatura elevada.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 10: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

10

6.2) Mecanismo de Crescimento da Película:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Figura 6.2: Esquematização das difusões catiônica e aniônica.

Figura 6.3: Esquematização do mecanismo eletroquímico para

oxidação em temperatura elevada.

Page 11: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

11

6.2) Mecanismo de Crescimento da Película:

As zonas de crescimento das películas, segundo o sentido da

difusão, aparecem da seguinte forma:

o Difusão simultânea – os íons se encontram em qualquer parte da

massa da película;

o Difusão através do metal – a película cresce na superfície de

separação metal-óxido;

o Difusão através da película – o crescimento da película se dá na

interface óxido-ar;

A difusão catiônica ocorre com mais frequência que a aniônica, pois

o íon metálico geralmente é menor que o O–2, e assim, atravessa

mais facilmente a rede cristalina do óxido. Já a difusão simultânea é

menos frequente pois o valor da energia de ativação favorável para

um tipo é desfavorável para outro.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 12: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

12

6.3) Equações da Oxidação:

As equações que representam a velocidade de oxidação de

um dado metal com o tempo são funções da espessura da

camada de óxido e da temperatura. Há três equações

principais que exprimem a espessura (Y) da película formada

em qualquer metal no tempo (t): linear, parabólica e logarítmica.

A Figura 6.4 representa,

esquematicamente, as curvas

das equações de oxidação.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Figura 6.4: Curvas de Oxidação.

Page 13: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

13

6.3.1 – Equação Linear:

A velocidade de oxidação é constante (K):

Integrando-se, tem-se:

A constante de integração que define a espessura da película

no período inicial de oxidação (t = 0). Se a oxidação se iniciar em

uma superfície limpa, a constante A é desprezada.

Esta equação é seguida por metais cuja relação entre o volume

do óxido formado e o volume de metal consumido é menor do

que um. Isto é, película é muito porosa e não impede a difusão.

Alguns metais têm esta relação maior do que um, mas também

seguem esta equação acima de certas temperaturas W, acima

de 1.000 ºC; Fe, acima de 900 ºC e Ti, entre 650 e 950 ºC.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

AtKY

Ktd

Yd

Page 14: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

14

6.3.2 – Equação Parabólica:

A difusão de íons ou a migração de elétrons através da película é

controlada e a velocidade será inversamente proporcional à

espessura da película:

Integrando-se, tem-se:

Esta equação é seguida por metais cuja relação entre o volume

do óxido formado e o volume de metal consumido é maior do que

um. Isto é, formam películas protetoras, pouco porosas.

Esta equação é seguida por vários metais (Fe, Cu, Ni, Cr, Co) em

temperaturas elevadas. Com aumento da temperatura a película

fica mais espessa, dificultando a difusão iônica e a eletrônica.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

AtK'2Y2

Y

K'

td

Yd

Page 15: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

15

6.3.3 – Equação Logarítmica:

Nos casos em que a película é muito tênue e pouco permeável,

ou quando a oxidação ocorre a baixas temperaturas, verifica-se:

Integrando-se, tem-se a eq. logarítmica:

Ocorre, geralmente, na oxidação inicial de muitos metais (Cu, Fe,

Zn, Ni, Al) que se oxidam rapidamente no início e depois

lentamente, tornando-se a película praticamente constante, isto é,

não aumenta de espessura: Zn, 400 ºC; Fe, 200 ºC; e o

Al, temperatura ambiente.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

1A

tlnK"Y

t

K"

td

Yd

Page 16: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

16

As constantes K, K’ e K”, que aparecem nas equações de

oxidação, dependem da temperatura, em certos casos da pressão

e em todos os casos da natureza do metal. Para um dado metal e

pressão fixa, estas constantes podem ser representadas em

função da temperatura, pela Eq. de Arrhenius:

Em que: Q é a energia de ativação da reação de oxidação, R é a

constante dos gases, e T é a temperatura absoluta.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Qln K +cte

RT

Page 17: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

17

6.4) As Películas como Agentes Protetores:

As propriedades que levam à uma ação protetora são:

Volatilidade – nos casos em que a película formada é volátil, a

equação é linear. Exemplos: Mo e W (voláteis a T elevadas);

Resistividade Elétrica – quando elevada, dificulta a difusão dos

elétrons, retardando a corrosão. Exemplos: película de Al2O3;

Transporte Catiônico – o movimento dos cátions será tanto mais difícil

quanto menos lugares vazios existirem na rede catiônica. Exemplos:

óxidos de zinco (ZnO), alumínio (Al2O3) e cromo (Cr2O3);

Aderência – observa-se que quanto mais tênue, mais aderente é a

película, o que vai depender da natureza da superfície do metal e da

semelhança cristalográfica entre o metal e o produto de corrosão.

Exemplos: película de NiO, Cu2O e FeO são muito aderentes, com

redes cristalinas semelhantes às dos metais.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 18: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

18

6.4) As Películas como Agentes Protetores:

As propriedades que levam à uma ação protetora são (cont.):

Plasticidade – é importante, pois quanto mais plástica a película, mais

difícil a sua fratura e, consequentemente, maior proteção;

Solubilidade – películas solúveis nos meios corrosivos não são protetoras.

Óxidos são geralmente insolúveis em atmosfera seca, líquidos não

aquosos aerados ou água destilada aerada; entretanto, em presença de

certas substâncias e temperaturas elevadas pode-se verificar a

solubilização de óxidos nos fundentes;

Porosidade – quanto menos porosa for a película, menor a difusão

através dela, logo, maior a sua ação protetora;

Expansão Térmica – a película e o material metálico devem apresentar

coeficientes de expansão térmica com valores próximos.

Pressão de Vapor – quando o óxido tem pressão de vapor elevada, se

sublima rapidamente, e a oxidação penetra de maneira contínua.

Exemplos: óxido de molibdênio;

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 19: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

19

6.5) Películas Porosas e Não porosas:

Pilling e Bedworth (1923) apresentaram uma classificação dos

metais baseadas na relação entre volume do óxido e volume do

metal oxidado (produto de corrosão), considerando:

Relação menor do que um – películas porosas e metais rapidamente

oxidados;

Relação maior do que um – películas não porosas e metais mais

resistentes;

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

óxido

metal

V M d

V n m DEm que: M = massa molecular do óxido;

D = massa específica do óxido;

m = massa atômica do metal;

n = número de átomos metálicos na fórmula molecular do óxido;

d = massa específica do metal;

Page 20: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

20

6.5) Películas Porosas e Não porosas:

Exemplificando com o Al2O3, formado sobre o Alumínio, tem-se:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

óxido

metal

V 102 2,71,275

V 2 27 4

M = 102 g;

D = 4 g/cm3;

m = 27 g;

n = 2;

d = 2,7 g/cm3;

Substituindo-se esses valores na expressão, tem-se:

Page 21: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

21

6.5) Películas Porosas e Não porosas:

A Tabela 6.1 mostra valores desta relação para os metais mais usuais:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Tabela 6.1: Valores da relação de

Pilling-Bedworth para óxidos metálicos

Page 22: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

22

6.6) Espessuras das Películas:

As películas protetoras formadas sobre os materiais metálicos

podem se apresentar com diferentes espessuras:

Finas – monomolecular a 400 angstroms (1 Å = 10–8 cm) e são

invisíveis a olho nu. Exemplo: alumínio, exposto ao ar seco por vários

dias fica recoberto com película de Al2O3, com 100 Å de espessura;

Médias – de 400 a 5.000 Å, são visíveis a olho nu, mas só pelas cores

de interferência (iridescente). Exemplo: a Tabela 10.2 mostra como

ficam as películas formadas sobre Ferro aquecido a 400 ºC no ar.

Espessas – acima de 5.000 Å, são visíveis a olho nu, e podem atingir

valores elevados. Exemplo: casos da carepa de laminação no aço e

do alumínio com anodização pesada.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 23: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

23

6.6) Espessuras das Películas:

A Tabela 6.2 mostra as características das películas formadas sobre

Ferro aquecido a 400 ºC no ar:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Tabela 6.2: Cores de Interferência e espessuras de películas de Ferro.

Page 24: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

24

6.6) Espessuras das Películas:

Alguns métodos usados para medir a espessura das películas:

Método Gravimétrico – se a oxidação e uma superfície metálica de

área s (em cm2) produz um aumento de massa igual a P (em

gramas), e sendo, M a massa molecular do óxido, m a massa do

metal, e D a densidade do óxido, tem-se a espessura (em cm) da

película do óxido formado pela expressão:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

espessura (cm)P M

s D M m

Page 25: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

25

6.6) Espessuras das Películas:

Alguns métodos usados para medir a espessura das películas:

Método Eletrométrico – consiste em medir a quantidade de

eletricidade necessária para a redução da película de oxidação, com

o metal colocado no Catodo. É usado para análise de depósitos de

Cu2O, CuO, Cu(OH)2, Cu2S, CuS sobre o cobre e suas ligas; Ag2O

Ag2S, Ag2SO4 sobre a prata; Fe2O3 e Fe3O4 sobre o Ferro, tendo-se:

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

espessura (cm)I t M

F s D

Em que: I = intensidade de corrente elétrica (ampères);

t = tempo para completa redução (segundos);

M = equivalente grama da substância na reação de redução;

F = constante de Faraday (96.500 Coulombs);

d = massa específica da substância (g/cm3);

s = área (cm2) delimitada para a redução.

Page 26: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

26

6.7) Outros Meios Corrosivos a Altas Temperaturas:

Além do oxigênio, devem-se se considerar outros meios

corrosivos em temperaturas elevadas:

Enxofre e gases contendo enxofre;

Carbono e gases contendo carbono: carbonetação e descarbonetação;

Hidrogênio;

Halogênios e compostos halogenados (cloro);

Vapor de água;

Nitrogênio (N2) e amônia (NH3);

Substâncias fundidas;

Cinzas

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas

Page 27: Cap-6_MIQ_Oxidação_Altas_Temperaturas

27

Referências Bibliográficas:

Livro (Cap. 14, págs. 125 a 139):

Gentil, Vicente. Corrosão, 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.

Cap. 6: Oxidação à Altas Temperaturas