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Canto V (20-23), PLANO DA VIAGEM-Tromba Marítima – relato de um fenómeno meteorológico semelhante a um tornado, mas de menor dimensão. Breve resumo do Canto V: Vasco da Gama prossegue a sua narrativa ao Rei de Melinde, contando agora a viagem da Armada, de Lisboa a Melinde. Descreve cuidadosamente a viagem que o levou de Lisboa até aquele lugar, dando uma particular importância aos seguintes episódios: ao fogo-de-santelmo e à tromba marítima; ao episódio de Veloso; à passagem do Cabo das Tormentas (personificado na figura do Adamastor); e finalmente ao escorbuto. Ao nível da estrutura externa, as estâncias situam-se no canto V de Os Lusíadas e no que se refere à estrutura interna situam-se na narração, no plano da viagem, quando as naus estão em Melinde e Vasco da Gama conta ao rei Mouro, em analepse, as viagens de Lisboa até Melinde. Neste caso específico, Gama relata os perigos de viagem, mais concretamente a tromba marítima O episódio da tromba marítima é naturalista e descreve “cousas do mar que os homens não entendem” mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Nestas estrofes é visível a importância crescente que a experiência e a observação têm para a formação do conhecimento: os marinheiros presenciavam fenómenos que nunca os sábios haviam sequer imaginado, e que segundo os seus livros dogmáticos só podiam ser catalogados de “falsos ou mal entendidos”. A superação do medo torna os navegadores portugueses em verdadeiros argonautas.

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Page 1: Canto V

Canto V (20-23), PLANO DA VIAGEM-Tromba Marítima – relato de um

fenómeno meteorológico semelhante a um tornado, mas de menor dimensão.

Breve resumo do Canto V:Vasco da Gama prossegue a sua narrativa ao Rei de Melinde, contando agora a viagem da Armada, de Lisboa a Melinde. Descreve cuidadosamente a viagem que o levou de Lisboa até aquele lugar, dando uma particular importância aos seguintes episódios: ao fogo-de-santelmo e à tromba marítima; ao episódio de Veloso; à passagem do Cabo das Tormentas (personificado na figura do Adamastor); e finalmente ao escorbuto.

Ao nível da estrutura externa, as estâncias situam-se no canto V de Os Lusíadas e no que se refere à estrutura interna situam-se na narração, no plano da viagem, quando as naus estão em Melinde e Vasco da Gama conta ao rei Mouro, em analepse, as viagens de Lisboa até Melinde. Neste caso específico, Gama relata os perigos de viagem, mais concretamente a tromba marítima

O episódio da tromba marítima é naturalista e descreve “cousas do mar que os homens não entendem” mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Nestas estrofes é visível a importância crescente que a experiência e a observação têm para a formação do conhecimento: os marinheiros presenciavam fenómenos que nunca os sábios haviam sequer imaginado, e que segundo os seus livros dogmáticos só podiam ser catalogados de “falsos ou mal entendidos”. A superação do medo torna os navegadores portugueses em verdadeiros argonautas.

Canto V» Canto central d’Os Lusíadas (perigosas cousas do mar)» Viagem de Lisboa a Melinde» Fogo de Santelmo e tromba marítima (16-23)

o Episódios Naturalistaso Defesa da conquista do saber pela experiência (Humanismo) em

detrimento do saber livrescoo Elementos do quotidiano para facilitar a perceção do Rei de Melindeo Crítica aos que acreditam por terem lido sem nunca terem vistoo Crítica ao saber livresco

Page 2: Canto V

De forma a entender um pouco melhor este fenómeno que se

sucedeu durante a viagem de Vasco da Gama e de toda a sua

tripulação até ao Oriente decidi recorrer ao dicionário.

“Fenómeno meteorológico que consiste na formação de grande quantidade de

vapor de água, em nuvens espessas que se movem, formando um cone cuja

base é voltada para o alto;”

(HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de

Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Temas e Debates: Lisboa,

2003)

A tromba marítima é reflectida como um enorme tubo que aumentava em direcção ao céu, partia de um “vaporzinho”, adensava-se chupando a água das ondas para uma nuvem que se carregava para esvaziar uma violenta chuvada sobre o oceano.

Estrofes 20 e 21 - É feita a descrição em pormenor da formação da tromba de água. Inicia se a descrição dinâmica e pormenorizada da Tromba Marítima, sendo-nos apresentado o seu progressivo alargamento: "Qual roxa sanguessuga, "tal a grande coluna, enchendo, aumenta/ A si e a nuvem negra que sustenta";

COMPARAÇÃO- da nuvem que aumenta com uma sanguessuga que engrossa ao chupar o sangue alheio

Estrofe 22 (verso 1 a 6)- o súbito esvaziamento da nuvem e a violenta intempérie.

A água fica sem sal

A conjunção coordenativa adversativa “mas” no início da estrofe estabelece a oposição entre a formação e alargamento da tromba de água e o seu esvaziamento.

Dado tratar-se de fenómenos naturais ainda desconhecidos na época, e portanto sem designação específica, Camões usa METAFORICAMENTE o termo "pé que tem no mar" para designar a coluna gerada pelo vento ciclónico e pela aspiração da água do mar produzida no fenómeno da tromba marítima, descrito n'Os Lusíadas:

"Mas depois que de todo se fartou,O pé que tem no mar a si recolhe

Page 3: Canto V

E pelo céu, chovendo, enfim voou" (Camões, Os Lusíadas, V, 22)

Estrofe 23 - Na última estrofe, o poeta salienta que os marinheiros por experiência

própria, têm mais capacidades de explicar estes fenómenos naturais, do que os sábios

que o fazem por meio de obras escritas, teóricas.

«tudo, sem mentir, puras verdades»

Existem verdades que só se podem comprovar através da experiência - saber de experiências feito

Camões foi um humanista, conhecedor de toda a cultura greco-latina e, paralelamente de todo o conhecimento cientifico, soube entrelaça usando a sua experiência de viajante por mar, o conhecimento empírico, através do qual é possível descrever minuciosamente os fenómenos observados directamente.

Neste âmbito, o saber empírico passou a ser valorizado e contribuiu fortemente para o enriquecimento do saber cientifico