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CÂNDIDO, Manuelina M. D. Conceitos e Proposições Presentes Em Vagues, A Antologia Da Nova Museologia. Ciencias e Letras. Porto Alegre FAPA, n. 31, 2002. p. 63-75.

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  • Conceitos e proposies presentes em Vugztes, a antologia da Nova Museologia

    Manuelina Maria Dzrarte Cndido*

    publicao Vagues: une anthologie de .h notlvelle musologie surgiu por uma iniciativa da associao MNES (Musologze nouvelle et Exprhentation AS- ociale), criada em 1982 por velyne Lehalle, Chantal Lombard, Alain

    Nicolas e William Saad.' Nosso trabalho, Ondas do Pensamento Museolgico Brasileiro, teve

    origem a partir da observao da limitada representao da Museologia bra- sileira na antologia e pretendeu realizar um mapeamento do pensamento museolgico brasileiro ali ausente. A nfase deste artigo, porm, no pri- meiro captulo, onde levantamos as principais idias presentes na obra orga- nizada por Andr Desvdes. O autor enumera inicialmente os possveis marcos de origem da Nova Museologia, quais sejam?

    1. criao do MNES (1982); 2. mesa-redonda de Santiago do Chile, sobre o papel social do mu-

    seu na Amrica Latina (1 972); 3. jornadas de Lurs (1966), que originaram a criao de diversos

    museus de stio nos anos seguintes e a gestao do conceito de ecomuseu, mais tarde formulado por Georges Henri Rivire e Hugues de Varine;

    4. seminrio sobre museus de vizinhana, nos Estados Unidos, em 1969, onde participaram, entre outros, Emily Dennis-Harvey, animadora do Brooklyn Children's Museum e John Kinard, que fundou, em 1967, Neighborhood Museum de Anacostia, em Washington;

    5. reunio de Aspen (Colorado), em 1966, onde Sidney Diiion Ripley, da Smithsonian Institution, lana a idia de um experimento de museu de vizinhana e resolve financiar a iniciativa de John Kinard em Anacostia;

    6. surgimento do livro de Freeman Tiiden sobre a interpretao do patrimnio, que permite a renovao da Museologia dos centros de inter- pretao (1 957);

    7. existncia das idias da Nova Museologia j subjacentes a todos os escritos de Georges Henri Rivire e especialmente de Hugues de Varine,

    'Manuelina Maria Duarte Cndido historiadora, especialista em Museologia e mestranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

    'A criao do MNES chega a ser mencionada como um dos marcos provveis da criao da Nova Museologia, como veremos a seguir.

    Z ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ , Andr. V~~IICI: une anthologie de Ia nouvelle museologie. Paris: WMNES, 1992. Vol. 1. p. 15-17.

  • diretores do ICOM - Conseiho Internacional de Museus - a partir de 1946 e de 1962, respectivamente;

    8.9' Conferncia Geral do ICOM (1 971), realizada entre Paris, Dijon e Grenoble, com o tema "Museu a servio do homem, hoje e amanh";

    9. primeiro anncio pblico do termo ecomuseu (Dijon, 1971), por Robert Poujade, prefeito da cidade e primeiro-ministro francs a ser mcar- regado do meio ambiente.

    'Vag~es - conceitos e proposies A antologia certamente no d conta de tudo que se refletiu e produ-

    ziu no campo da Nova Museologia, e esta foi a motivao de uma monografia que buscou a produo brasileira ausente ali. Por outro lado, no se limita ao que os muselogos estavam pensando, mas estende-se s interfaces com reflexes contemporneas em outras reas que estavam repensando a soci- edade em ebulio e que, por isso, prestavam-se ponderao da chamada "e dos museu-? Tem, por assim dizer, uma concepo editorial interdiscipiinar.

    E o que definem organizador e autores presentes na obra como sen- do a NOM Museoio@a? Desvalles identifica nela uma nova preocupao: o pblico e como se dirigir a ele. E no uma questo de quantidade de pblico, mas de qualidade na interao que possa haver entre o indivduo e o objeto.< Alguns elementos dessa Nova Museologia so a definio globalizante de. Museologia e museus - o conceito de museu cobre o miuer-o inteiro e tudo imuseak'~ue4 O museu como lugar especfico onde podem ser estudadas as relaes entre o homem e a realidade do universo em sua totalidade e a Museologia como cincia dessas relaes5

    No tudo ma&.yvei encontramos o trao do museu integral de Santi- ago. Entretanto, por no ser possvel museaiizar tudo, por serem indissociveis memria, museu e seleo, a reflexo museolgica internacional vem pauia- tinamente questionando o conceito de museu integral e se aproximando do museu integrado, sugerido em 1992, em Caracas.' Ao invs da pretenso de totalidade, a viabiizao da integrao. No plano prtico, essa posio con- duz aos museus interdisciplinares devido integrao entre diferentes ver- tentes patrimoniais - conseqentemente de disciplinas e de profissionais; entre diversas atividades e setores das instituies museolgicas; entre as comunidades e os museus.

    'A expresso quer dizer, nqmtender de Jean Clair. em L q h n ks rnrsrr? (1971). n problematizaqo em tomo de quai seria a funo do museu. Seria, na verdade, uma crise de identidade instituciond. (in: D~SVALLES, 1992, p 139-42.)

    ' D d i o de Caracas sobre A Misso dos Museus na Amrica Latina Hoje: Novos Desafios.

    69 a k, n31,p63-75,&t./f. mz

    p s e i ...J&S a ior fomq&s necessdae aos musetw &a9 & gs :qr-, desde as selees de acervos at

    ,&I hwssses e das condies de compreenso dos p .- Irdo, as i n t ~ e s substiniindo os entesomamentos. J o h Kiad 6.- dos que defendem essa proposta da nfase n a interpreta@ks do p ~ ~ a 7 Para ele, d a instituio que tem o nome museu e que &o mn a conta as possibilidades diversas de servir E comunidade deve repensar

    estatuto. O museu s& necessariamente um intermedirio, um barr onde as contribuie~ culturais das minorins devem ser expostas e compreendi-

    Contudo Desvaes no considera que o movimento ao qual perten- ce seja inovador ou revolucionPrio, mas acredita que ele seja um retorno M~seohgia, que ha* envelhecido e perdido nlgims de saia prindpios, forja- dos j an Revoluo Francesa, como o da democra&a@o dos museus. Para eie, essa Museologia retoma, para os museus de todas as disciplinas, o que Claude Lvi-Strauss definiu em 1954 para os de Antropologia: que oo ser- viriam exclusivarnenw para recolher objetos, mas sobtetudo para compre- ender os homens8 Destata-se aqui outro aspem da inovao epistemol$a da Museologia, no que diz respeito E compreenso do seu objjto de estuda

    Peta Van Mensch um dos estudiosos d a m qwdo e delimita qua- ao tendncias do pensamento museolgim i n t d n d a partir do exame da produo do ICOFOM,9 a saber:

    + estudo da W d a d e . e # v orgardmf" doe museus. 6 a adotada no documento do Se9lioaaio Regional da UNESCO sobre a Funo Educativa dos Museus (Rio de Jableirq 19%);10 estudo da implement&b e htegrao das atividades dos museus com vistas i preservaqo e uso da herana cultural e natural;

    E) estudo dos objetos museolgicos (cultura material) e da musealidade c o m a detiniu Strbsk$, as& informao con- tida nos objetos rmircolgicos e si processo de emisso;

    .3 estudo de uma relao especfica entre homem e realidade?'

    Van Mmsch entende que existiram duas revolu6es no universo dos museus. A p h e i r a delas no final do scuio XE, com a criao de organiza-

    ?UNARD, Jobn. I#kfM&&n~ r#& 1111~d tf @tWW?J(~llf; (1971). h: D E S V ~ , 1992 @ ~ k , p 9% 108.

    IDESVALLT%S, 1992, op rit,, p 24. 9 C o d de teoria mnseol6gicn do ICOM. loARAvJO e BRUNO, I@. Q., p 11-16. "Antcnormente, a terceira tendncia a+ apresentada desdobrava-se em duas: estudos dos objetos de -eu e e s d o s & mus&dadC A rearticula$o em p t n > d"S das tendncias C a opo atual de Van Mas&. idias mcd0&s a seguir, salva nota bibliogrfica em contrrio, foram captadas d-e seu S&O no CWSO dc Espechho em Mu~coiogia da USP. entre 02 c 06/10/20M).

  • es profissionais, cdigos de tica e associaes de amigos dos museus, entre outros fatores, alm de profundas alteraes na linguagem expositiva, adotando a "limpeza" visual e possibilitando a observao da singularidade dos objetos, ao invs dos espaos anilhados at ento. A segunda seria a chamada New Museolo~, fruto do rompimento com a idia de coleo como base dos processos museolgicos e da organizao dos museus. A partir da essa organizao se estabeleceria nas funes dos museus. Nesta segunda revoluo, surgiu o que ele considera a contribuio mais relevante da Am- rica Latina para o pensamento museolgico internacional, o documento de Santiago e a noo de museu integrado.12

    ainda Van Mensch que esclarece a mdtiplicidade de sigdicados atribudos expresso Nova Museologia. Segundo ele, Mills e Grove utiliza- ram-na em 1958 para referirem-se aos avanos na Museologia naquela po- ca nos Estados Unidos. Luc Benoist t-la-ia utilizado, com grande recuo no tempo, para tratar do que ele chama de primeira revoluo dos museus, na passagem do sculo. Desvalles a empregraria em aditivo de 1980 ao captu- lo de uma enciclopdia redigido por Georges Henri Rivire. E Peter Vergo, em 1989, lanaria tal expresso no sentido de novas tendncias da Museohgia. A predominncia do significado dado por Desvalles deveu-se, no seu enten- der, grande utilizao daquele texto na Frana, especialmente por muselogos que se opunham prtica dos antigos curadores e que em se- guida criariam a MNES. Van Mensch chama a ateno, assim, para a relao entre Nova Museologia e experimentao social na idia de Desvdes. A orientao da MNES e do MINOM,13 que surgiria no seu rastro, teria a sua origem. Ambas as organizaes reivindicam que a interpretao para o ter- mo Nova acarrete mais que inovaes tericas ou prticas, uma tomada de novas atitgdes: novas funes para os museus e novos papis para os muselogos.

    As experimentaes decorrentes dessa Nova Museologia teriam fei- to surgir, para Van Mensch, modelos como os museus integrados, os mweus comunitn'os, os museus de yi@nhanca e os ecomuseus.

    Retomamos Vagues para citar as primeiras experimentaes enceta- das nessa nova vertente: Anacostia Neighborhood Museum - Washington (EUA), 1967; Casa de1 Museo - a partir do Museu Nacional de Antropolo- gia do Mxico; e, na Frana, os parques naturais de Armorique (Finistre) e da Grande Lande (Landes) e os museus a cu aberto que se tornariam os primeiros ecomuseus, em Ouessant (1968) e Marquze (1969).14

    1 2 0 conceito formulado no mencionado documento , para esse autor, j de museu intcgmdo, no inte- g*. "Movimento Internacional para m a Nova Museologia, surgido a partir da Dedarao de Quebec (1984).

    So essas novas formas de museus, onde a interpenetrao dos dife- rentes domnios supera a anterior organizao tipolgica e a viso fragmen- tada, que Georges Henri Rivire defende. Esta relao imbricada entre ho- mem, natureza e cultura que d o tom de urna abordagem ecobgica, isto , integrada.15

    Partindo das mesmas premissas, o museu concebido por Desvalles necessariamente interdisciplinar: Ce mzlseprsente to& enfonction de /'bomme: son environnement, ses cyances, ses actr'vits, de bplus lmentaire laplgs complexe. Le pointjcal du muse n'estplus /"artefact' mais /'Homme dans saplnitude.l6

    Se as experimentaes estavam deslocando o centro dos processos museolgicos das colees, interessante notar, porm, como mesmo numa publicao assumidamente da Nova Museologia, que os textos no ignoram as colees j recolhidas aos museus e a responsabilidade necessria sobre esse patrimnio. Somente no perdem de vista a necessria contextualizao." Declaram ter plena conscincia de que um museu nada pode fazer sem uma coleo, sem um ncleo selecionado realizando a funo de instrumento mnemnico e de fermento para as orientaes futuras. Na coleto, percebi- do o carter de resumo da expedncia coletiva, apesar das dificuldades imanentes a uma prtica que a constitui por meio de um responsvel nico.'8

    Stephen Weil, em seu Lz vritable re~onsabkt du muse: les ides ou les choses? (1989),'9 j no to afirmativo quanto Gaudibert, por exemplo, e firma sua argumentao em que o poder dos museus est em suas idias. Mas menciona que, apesar de no ser fator capaz de determinar sozinho a excelncia do museu, a boa gesto das colees essencial.

    A reavaliao do objeto de estudo da Museologia e do foco de atua- o dos museus deslocou-se entre a coleo e as relaes do homem com seu patrimnio. Grandes alteraes tambm se fizeram sentir na relayo mtl- sea-pbli~02~ e, especialmente, na redefinio de seupapelsocial.

    Hugues de Varine, presidente de honra da MNES, diretor do ICOM, de 1964 a 1974, insere-se nessa discusso. Em seu texto de 1969, intitulado L.e muse au semice de /'bomme et du dveloppement disseca essa questo.21 Para ele,

    lSCremos que o holstico, quando usado em Museologia. deva ter tambm esse sentido preciso.

    "Idem. p. 59.

    "KINARD, John. Pour satisfaire /es besoins dupriblic d'aujourd'hui (1971). In : DESVALLCES, 1992. v . i f . , p. 238-242.

    "GAUDIBERT ef alli. Problmes du muse d'art contemporain en Occident" (1972) in DESVALLES, 1992, op. i f . , p 150-151.

    '%IL, Stephen. "La oritabk reiponsaiiit ah mnse: ks ides ou /e5 choses? (1989). In: DESVALLES, h d r . Vagues: une anthologie de Ia nouvelle museologie. Paris: WMNES, 1994. Vol. 2. p. 433-452.

    mA esse respeito, Duncan F. Cameron escreveu vrios artigos entre 1968 e 71. A questo que se colocava era sobre os cdigos interpretativos necessrios para interagir com o discurso expositivo. Vagues apresenta alguns desses texto;.

    21VARINE-~OHA~, Hugues. Lc mu& ou sm'ce dc l'bornme ef du d w / ~ p r n e > ~ f (1969). In: DESVAU~ES, 1992, op. L+., p. 49-68.

  • o museu estaria teohcamente predestinado a desaparecer junto com o tempo, o mundo e a classe social que o criaram: a era pr-industrial, o mundo euro- peu e a classe burguesa "culta". O modelo tradicional em crise no seria revitalizado apenas pelo uso das mdias ou por reformas institucionais. Em sua avaliao, urgia uma transformao conceitual.

    Ao nosso ver, essa transformao est, para ele, nos objetivos e rnis- ses, no na ruptura radical com as colees. No texto Le musepeut &er ou.. .

    faire uivre, ele chega mesmo a expor esta idia. O novo objetivo seria o desen- volvimento global e a nova misso, refletir a totalidade do meio ambiente e da atividade do homem. Mas utilizando a mesma linguagem: a das coisas reais, reunidas de modo a perceber as relaes entre os objetos e seu contex- to.22

    A questo era: para quem esta herana? E analisando-a, Varine se contrape a uma cultura para consumo turstico. Aceitaremos a transfoma~o do museu em um lugar resewado ao psblico dos hotis e restaurantes? - perguntava- se.23 No seu entender, a cultura que deve criar as condies necessrias ao de~envolvimento. No museu, encontram-se todos os valores fundamentais do indivduo e tambm as respostas achadas pelos diversos grupos humanos aos problemas sucessivamente colocados. Mas tambm l podem ser acha- dos valores e respostas encontrados por outros grupos e que possam ser teis ao seu desenvolvimento, desde que perfeitamente digeridos e fundidos aos seus valores e respostas tradicionais. De acordo com Varine, o museu precisa ser descoloni~ado ~uIturalmente.~ E o perfil de um profissional de museu deve aproximar-se de um tcnico de desenvolvimento. O desenvolvimento esperado tambm continuamente repensado, do anseio pelos padres desenvolvimentistas do Primeiro Mundo identificado na Carta de Santiago por Ana Cristina Evre~,2~ s respostas locais para os problemas especficos colocados a uma regio.

    O arquiteto argentino Jorge Enrique Hardoy, presente em Vaguescom o texto Progrs ou ~oissance?,2~ de 1974, objetiva refletir sobre o papel dos museus na sociedade diante do processo mundial de urbanizao. Para Hardoy, um museu cuja existncia, razo de ser e autoridade decorram da anlise contnua e apresentao do que o homem faz atualmente por ele e seus semelhantes, implica uma orientao e uma dinmica que no esto de acor- do com regulamentos institucionais estreitos. Seu papel seria pr os valores humanos em primeiro plano, a contribuio para dissipar crenas e precon-

    "VARINE-BOHAN, Hugues. Le musepeut tuer.. . oufarre vrure (1979). In: DESVALLES, 1994. op. nt., p. 65-73.

    2 3 V ~ ~ ~ ~ ~ - ~ ~ ~ ~ ~ , (1969). In: DESVALLEES, 1992, op nt., p. 54. "Idem, p. 58.

    2 5 E V R ~ ~ . Ana Cnstina. A musealr~a~o da naturqa. Pahrmnro e memtia na museolop. Rio de Janeiro: UNI-RIO, 2000. (D~ssertao de Mesuado em Memria Social e Documento), p. 40.

    Z 6 m R ~ ~ ~ ~ o r ~ e Enrique. Pmgrs ou croissance? (1974). In: DESVALLES, 1992, op. cit., p. 213-222.

    68 Gw. lei, Pwto A&, a.31,1,p.63-75,p /IYn 2W2

    ceitos. Para isso deveriam fazer cair os muros que protegem o passado intocvel e infaivel e consagrarem-se a um presente no qual o homem co- mum possa assumir sua dimenso de ator principal: expor exatamente os problemas crticos da sociedade. Sua misso deveria s,er criar as bases da compreenso dos problemas, para formar indivduos responsveis por um processo de mudanas sociais e polticas, porque, no dizer desse autor, numa poca de transformaes aceleradas, instituies no-revolucionrias no podem sobreviver.

    Segundo Stanislas Adotevi, a contribuio possvel para os museus ao desenvolvimento deve ser a de se constiturem em ncleos de inspirao, lugares de profuso cultural, matrizes fecundas onde se fundem as teorias humanas do desenvolvimento. Da propor mesmo que o museu deva dar lugar aos centros de formao e de reciclagem histrica. Sua ponderao sobre o desenvolvimento d conta de que este no somente um fenmeno econmico, mas um momento da criao contnua do homem pelo homem em todas as suas dunenses e que todo critrio para sua construo interi- or a cada civili~ao.~~

    Que as exposies museolgicas devam pr em causa os problemas da sociedade atual, ponto consonante nas idias de Vagues. John Kinard afirma que cabe a elas exibir os problemas atuais pondo-os em paralelo com seus equivalentes histricos. Dessa maneira, os museus seriam guias da ao mais que seguidores dos modelos de geraes ante ri ore^.^^ O autor manifes- ta o desejo de que o museu possa, como catalisador da evolufo social, achar o seu lugar na histria humana, isto , o de uma instituio das mais esclarecidas que o esprito humano j concebeu." Porm, mais que funcionar como vi- trine da Ilustrao, o museu deve promover a reflexo. Retoma-se o ponto da interpretao do patrimnio, com o clebre texto L'interpre'tation de notre pathoine, de Freeman Tilden (1957). Segundo ele, a interpretao pode re- sultar no interesse preservacionista. E deve basear-se mais na provocao que na instruo.30

    O musezl-templo x o museu;frum tema em expanso na Museologia e um dos textos deflagradores foi redigido por Duncan Cameron?' com ques-

    "ADOTEVI, Stanislas. Le muse inwersion de 6a uie @ muse dans les rystmes ducatifs et culturds contemporainr (1971). In: DESVALLES, 1992, op. cit., p, 133-4. 28KINARD, John Intermdiaires entre muse et communaut (1971). In: DESVALLES, 1992, op. cit., p. 102.

    29KINARD, John. L m e de woisinage, catabseur de l'uolution sociale (1985). In: DESVALLES, 1992, 9. cit., p. 116.

    'WLDEN, Freeman. L'hterprtation de notrepahimoine (1957). In: DESVALLES, 1992, op. d, p. 243- 58.

    31CAMERON, Duncan. Le muse: un temple ou un forum (1971). In: D E S V A ~ E S , 1992, q. Cit., p. 77-86. Outro texto do mesmo adtor a retomar o tema Lsparquets de marbre sont fropfioidsporr lespetitspiedr nus (1992). In: DESVALLGES, 1994, op. cit,, p. 39-57. Nele, a inspirao a frase de Mrio Vasquez para explicar como a Casa de1 Museo, no Mxico, estava suprindo lacunas que o Museu Nacional de Antro- pologia, devido imponncia, no resolvia em sua atuao.

  • tes sobre o sistema de comunicao e a linguagem dos museus, preocupan- do-se com seu carter elitista. Desvalies revolve essa oroblemtica nos findernents ao Captulo 1 de VagueP2 ao aiirmar que similes reformas no museu-templo no sero suficientes e que necessrio estabelecer o frurn como instituio em nossas sociedades.

    O significado das analogias com templos e fruns est explicitado em Cameron: o frum onde se ganham as batalhas, o templo onde se encontram os vencedores. O primeiro lugar de ao, o segundo o lugar dos pmdutos da O museu-frum Iugar onde fomentada a ao sem, contudo, perder suas especificidades, preocupados em se desenvolverem como museus. A nfase, no nosso entender, mantida no C M & ~ ~ ~ S ~ U # & ~ e no museu como m i o a% comunicao.

    Nesse turbilho, o museu , para Vacine, o espao onde as noes de passado e futuro desaparecem, no qual tudo se passa no presente, numa comunicao entre o Indivduo e a Humanidade, tendo por intermedirio o Objeto. E a noo esttica de conhecimento substitdda pela dinmica do enriquecimento permanente, portanto, desenvolvirnent0,3~ Desses eiemen- tos, partiremos para a discusso, adiante, de conceitos como: fato museai e educapio permanente.

    Para a concretizao desse museu, o autor francs chega a propor um esquema que no seja um modeh, mas uma mtodohgia para repensar cada museu em funo de condies particulares. Suas bases seriam integrao da instituio na comunidade; transformao psicolgica do muselogo, cuja formao deve ser tripla (cientfica, tcnica e de desenvolvimento); abando- no do carter unidisciplinar do museu; adaptao das atividades e mtodos do museu ao seu "pblico natural", a comunidade prxima; associao ao museu de representantes da comunidade, particularmente dos jovens, a par- tir da elaborao de programas que resultem numa a v ~ o institucional permanente; orientao sistemiitica do museu tanto para a pesquisa como para a "animao"; vocao territorial (nacional~regionalilocal) dos mu- seus em substituio s tipologas.

    E assim apresentam-se outros pontos para anlise: a imposio de novos parrnetros para a fmaopmfi5;onaie da substituio das tipologias pela mca- o Sem'tonu~ dos mmm. Neste ltimo, encontramos o museu como lugar de reforo da coeso cuiturai e das identidades, portanto como espelho no qual uma comunidade se percebe e projeta sua imagem para as demais.

    Varine prope a localizao da Museologia entre as disnjlina aplica- &S. Para tanto, no que se refere formao, apresenta trs dom'nios princi- pais cuja articulao permitir Museologia preparar profissionais em sinronia com essa demanda de servir ao desenvolvimento do homem:

    12DES~ALL&, 1992, q. cik p 71-76. URON, (1971). In : DESVAILES, 1992, q. cit,p 93. WmE-BOHAN, (1969). In: DESVALLES, 1992, op cit.,p. 59.

    70 ik &, Mo&, nJI,p63-?5,~0~./~ fWZ

    CS Antropologia Social e Cultural, Sociologia, Psicologia, Economia (aplicadas aos problemas nacionais e locais de desenvolvimento);

    CS estudos de metodologia (do trabalho muladisciplinar, das comu- nicaes de massa, da pedagogia, das pesquisas de avaliao);

    CS elaborao de tcnicas de desenvolvimento adaptadas ao carter especfico do museu.35

    Afora o sentido da formao profissional em Museologia, Vagues apresenta um forte apelo para a possibilidade de uma educaopermanente em museus. Essa ainda uma noo que identificamos nos comentrios de Mrio Moutinho Declarao de Quebec, quando contrape exposio museolgica para contemplar um processo defomafo permanente.% E vemo-la subjacente a diversas outras falas da Nova Museologia.

    Assim como a educao em museus deveria mais provocar que ins- truir, o princpio bsico da interpretao que deva apelar necessariamente a um trao da personalidade ou da experincia do visitante.

    Aqui cabe um parntese para falarmos de Paulo Freire, que, junta- mente com Fernanda de Camargo-Moro, compe a pequena representao brasileira na antologia. Enquanto Moro aparece relatando uma experincia museolgica junto ao Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janei- ro;" Freire insere-se no que chamamos de proposta editorial interdisciplinar de Vagues, com um texto sobre educao. Juntamente com a participao na obra de profissionais como o arquiteto Hardoy, comprova a abertura da obra aos debates contemporneos de outras reas do conhecimento que de alguma forma podiam tambm se agregar quelas que estavam repensando OS museus.

    No entender de Desvdes, a formulao da ed~cago libertadora por esse educador casava com a queda das barreiras culturais no mundo dos museus.38 A influncia de seu pensamento naqueles que estavam renovando a Museologia culminou no convite emblemtico que lhe foi feito para presi- dir a Mesa-Redonda de Santiago do Chile e qual foi impedido de compare- cer pela ao do Delegado brasileiro da UNESCO por razes polticas. Sua influncia na Museologia contempornea uma constatao, mas ainda no foi alvo de estudos aprofundados.

    ''Ibid. p. 64-5. O mesmo modelo de formao mencionado no texto Le muse inversion de /a yie (Le muse dans ks systmcs ducatifS et c~lturels contemporaines) (1971), de Stanislas Adotevi, dirigente do Institu- to de Pesquisas Aplicadas do Dahomey e estudioso do papel dos museus nos pases subdesenvolvidos (in: DESVALLES, 1992, p. 64).

    ) B M ~ U T ~ ~ ~ O . In: ARAJO e BRUNO, 1995, op. d., p 27.

    3~nstituio criada por Nise da Silveira para abrigar a produo artstica dos internos do Centro Psi- quimco Nacional Pedro Ii, com a qual a autora e Lourdes do Rego Novaes colaboraram como consultoras do ICOM-AM.

    WESVWES, 1992, op. cit., p 75.

  • A relevncia da avaliao dephblico tambm um elemento inovador e apenas permitido quando a importncia dele passa a ser ponderada pela Museologia. O conhecimento sobre metodologias para avaliao passa a ser defendido como componente para a formao em Muse~logia.~~ Sua utiliza- o est presente tambm em relatos de experincias apresentados em Va- gues, e h mesmo textosN cujo foco principal a avaliao.

    Um dos termos mais difundidos nessa Nova Museologia, e que ain- da no mencionamos, o ecomuseu. Robert Poujade tornou pblico o neolo- gismo ecomuseu, pela primeira vez em 1971, de acordo com Varir~e.~' No mesmo ano, a Maison de l'Homme et de I'Indmbie criou, em Creusot, uma esp- cie de prottipo, cujo objetivo era fazer o pblico apropriar-se e tomar inici- ativa das aes do museu."

    Embora o anncio pblico da nova palavra seja de Poujade, o con- ceito ecomuseu foi gestado por Hugues de Varine. Porm seu esboo an- terior e devido a Georges Henri Rivire, em cujo pensamento j estavam presentes aquilo que Varine articulou: um museu ecolgico - ou seja, do homem e da natureza, relativo a um territrio sobre o qual vive uma popu- 1a0.~~

    Varine conduz sua reflexo no sentido de exprimir, no ecomuseu, urna ampliao dos vrtices de uma relao j existente no museu tradicio- nal. Seu modelo de ecomuseu sintetizado em um quadroM que expomos a seguir:

    museu tradicional = edifcio + coleo + pblico novo museu = territrio + pattimnio + populao

    Ana Cristina Evres pe em debate essa triangulao da Museol0gia,4~ j que, segundo ela, qualquer que seja a Museologia, vem sempre se basean- do na deinio de vrtices correspondentes ao homem, ao objeto e ao es- pao, de onde partem as relaes. No aprofundaremos a discusso dessa autora, que rompe com essa articulao triangular, mas deixamos essa sua observao como registro, at porque, se buscamos as especificidades da Museologia brasileira, no podemos deixar de tratar da conceituao de fato

    'Troposies de Varine e Adotevi, j mencionadas.

    "'SCREVEN, Chandler G. L'uaiuation dw untir 'e@osiiron: une approche centn sur lbbjmf (1976). In: DEsVWES, 1994, op cit., p 171-203. "VARINE, Hugues de. h: DESVALLES, 1992, op. it., p. 450.

    4 Z ~ E S ~ ~ ~ ~ ~ ~ , 1992, op cit., p. 27. "RIVIRE, Georges Hemi. L'comusie, un modh miuhf(1971-1980). In: DESVWES, 1992, op. d., p. 441-5.

    *h DESVALLES, 1994, op. cit., p. 91. " E m , 2000, op cit., p. 52.

    rnu~eal,~~ considerada a mais importante formulao da brasileira Waldisa Russio?'

    Consideraes finais

    Nesse ponto, detemo-nos um pouco e propomos a leitura integral da monografia em que so feitas anlises e intersees entre a produo de autores brasileiros, porm mencionamos aqui algumas contribuies que pensamos serem de maior relevo. Pela recorrncia na bibliografia da conceituao gerada a partir da definio de fato museal por Russio, consi- deramos que esta tenha sido at o momento a mais proeminente contribui- o brasileira para a construo epistemolgica da Museologia.

    Outra reflexo que consideramos de fundamental importncia na bibliografia nacional a opo por solues particulares e criativas frente s tecnologias onerosas e inadequadas vindas do exterior. Essa idia est pre- sente na produo de Maria Clia Santos e Waldisa Russio, por exemplo. A necessidade de reduo das teorias aos contextos especficos faz parte das reflexes que os pases em desenvolvimento podem, mais que quaisquer outros, recomendarem, por suas prprias e mal-sucedidas experincias an- teriores com a importao de padres no-adaptados s suas realidades.

    E ainda: assim como a biodiversidade proporciona diferentes solu- es para a sobrevivncia biolgica das espcies, a diversidade cultural re- presenta os recursos disponveis para a sobrevivncia e adaptao da espcie humana ao seu ambiente. Tendo isso em apreo, podemos avaliar o Brasil como sendo no apenas uma importante reserva ambiental da humanidade, como possuidor de um conjunto cultural especialmente diverso e, por isso mesmo, detentor de um vasto universo para experimentaes que venham a alimentar a teorizao em reas como a Museologia.

    No sentido das contribuies epistemolgicas, identificamos uma outra formulao de grande relevncia, quando Cristina Bruno, em seu exer- ccio de sistematizao da teoria museolgica, vai na essncia da questo da especificidade do carter preservacionista da Museologia, desenvolvido por meios de aes que garantam a salvaguarda e a comunicao patrhoniais. A deinio dessa cadeia operatria bsica para a Museologia e a concepo de que a preservao a natureza desse processo nos parece ser um avano no sentido da demarcao de fronteiras entre a Museologia e outros ramos do conhecimento.

    ' O fato museal " a reiao profunda entre o Homem, sujeito que conhece+ e o Objeto, pam da Realidade qual o Homem tambm pertence e sobre a qual tem o poder de agir, num cenrio instucionalizado, o museu!' RSSIO, Waldisa. "Conceito de cultura e sua inter-relao com o p h n i o cultural e a preservaa" h: Cadernos Muscolgms, 3. Rio de Janeiro: IBPC, 1990. *'MENSCH. In: BRUNO, 1996, op ar., p. 16.

  • Se h urna ou vrias museologas, outra questo de fundo dessas discusses. Entre os autores brasileiros estudados,48 mais que uma opo radical por uma Nova Museologia, h exatamente uma reflexo e questionamento, uma busca de renovao da prtica museolgica. , por- tanto, uma Museologia com movimentos de renovao.

    Agradecimentos Gostaria de agradecer a sugesto de Mrio Chagas para a publicao

    de um artigo a partir do trabalho Ondas do Pensamento Museolgico Bra- sileiro; alm de mencionar a leitura crtica realizada em diversas fases desses trabalhos por Luciana Conrado Martins e Gabriela Aidar, que tambm rea- lizou a verso em ingls do resumo para esta publicao.

    Agradeo muito especialmente a leitura atenta e as inmeras corre- es e sugestes feitas por Andr Desvdes ao trabalho original, que foram incorporadas largamente neste artigo. A responsabiiidade pelas idias aqui expressas, entretanto, exclusivamente da autora.

    Referncias Bibliogrficas

    ARAUJO, Marcelo Mattos; BRUNO, Cristina (Orgs.). A memria do pensamento museolgico brasileiro: documentos e depoimentos. Comit Brasileiro do ICOM, 1995. BRUNO, Maria Cristina Oliveira. O&to de museu: do ohjeo testemunho ao o6jeto di/qo. Palestra proferida na Reunio Regional da Associao Brasileira de Antropologia. Belm: 1993 (digitado). -. Musealirafo da Arqueologia: um estudo de modelos para o Projeto Paranapanema. So Paulo: FFLCH/USP, 1995. (Tese de Doutorado.) -. Museologia e comunica~o. Lisboa: ULHT, 1996. (Cadernos de Sociomuseologia, n. 9.) DESVALLES, Andr. "A Museologia e os museus: mudanas de conceitos". In: Cadernos Museolgicos, 1. Rio de Janeiro: Ministrio da Cultura/SPHAN - Pr-Memria, 1989. -. Vagues: une anthologie de Ia nouveile museologie. Paris: WMNES, 1992. Vol. I . -. I'agues: une anthologie de Ia nouveile museologie. Paris: WMNES, 1994. Vol. 2. DUARTE CANDIDO, Manuelina Maria. Ondas do pensamento museoigico brasileiro. So Paulo: MAE/ USP, 2000. (Monografia de Especializao.) EVRES, Ana Cristina Lo Barcellos. A musealr~afo da naturera. Pafninnio e memh na museologia. Rio de Janeiro: UNI-RIO, 2000. (Dissertao de Mestrado em Memria Social e Documento.) FA'ITOUH, Nadine, SIMEON, Nadia. ICOFOM - Orientations museologigues et on@nes geographiques der auteurs. Paris: cole du Louvre, 1997. RUSSIO, Waldisa. Um museu da indstria na cidade de So Paulo. So Paulo: FESP, 1980. (Tese de Doutorado) -. "Conceito de cultura e sua inter-relao com o patrimnio cultural e a preservao." In: Cadernos Museolgicos, 3. Rio de Janeiro: IBPC, 1990. SANTOS, Maria Ciia T. Moura. Repensando a ago cu/tura/e educatiua dos mu~eus. Salvador: Centro Edito- rial e Didtico da UFBA, 1993.

    48 Como universo para anlise da produo brasileira no mbito do trabalho monogrfico mencionado,

    selecionamos a obra de seis autores, pela relevncia de sua produo acadmica e bibliogrfica, de suas experincias na aplicao da Museologia e de sua participao na formao profissional em Museologia: Waldisa Russio, Crisna Bruno e Heloisa Barbuy (SP); Maria Clia Santos @A); Mrio Chagas e Teresa Scheiner (RJ).

    -. ProCe~so museoIgico r educafZo: construindo um museu didtico-comunitrio. I i ~ b o z ULHT, 1996. (Cadernos de ~ociomuseoop, 7.) V,, MENSCH, Peter. O ob~efo de e& da mrreola~a. Rio de Janeiro: UNI-NO/UGF, 1994. p r e t a - tos Museolgicos, 1 .)

    Resumo fite texto uma adapmo de parte do trabalho m ~ n o g r ~ c o de concluso do CUM de Especi&za+ em Museolog~a no Museu de Arqueolopa e Emolopa da Universidade de So Paulo W E / U S P ) , h t idado Ondas do Pensamento Museolg~co Brasiioro. A proposta do presente artigo apresenta um ,m daquele uabaiho, especificamente o captulo I, no qual feito um levantamento das principus idias que norteavam a produo internacional alinhada com a chamda Nova Museolo@ e presente nos dois volumes de Vagues. Os termos em destacpe so conceitos fundamentds discutidos pdos autores dentados em Vagues e cujas formulaes consideramos conwumlc expor aqui. So esses os conceitos que foram depois confrontados com o que aparece na produo dor museiogos biasileiros. Esperamos que esta leinira motive o mterese pela integra daquele trabalho.

    Pakam-chaves: pensamento muselogo, nova museologia.

    Absaact 71ur article is adapted from a piece of the monograph entitled "Trends in the Brazlim museologid thoughi', written for the Diploma c o m e in Museologi, offered by the Museum of k c h a m l o g m d Ethnology of the University of So Paulo (MAE/USq. The present article ntends to present a pan of the monograph, e s p e d y chapter 1, where the mah i d a s that gwded the internauond production concerning New Museology, found in the 2 volumes of V a p , are pointed o u t The terms 1n bdd that wiU be seen are fundamentai concepts dircussed by the Vagues authors, whose reflecuons we consxlered r e l m t to be exposd h e z ,e are the same c o n c q s that were Iater used to d p e the producnon of