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AN02FREV001/REV 4.0 36 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE MUSEOLOGIA SOCIAL CONCEITOS, TÉCNICAS E PRÁTICAS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

MUSEOLOGIA SOCIAL CONCEITOS, TÉCNICAS E PRÁTICAS

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

MUSEOLOGIA SOCIAL CONCEITOS, TÉCNICAS E PRÁTICAS

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO II

Neste módulo vamos tratar sobre a função socioeducativa do museu e da

pesquisa museológica. Apresentaremos as ações e recursos que geralmente são

adotados para o desempenho eficiente dessa instituição tanto na promoção social

quanto na produção de conhecimentos.

6 FUNÇÃO SOCIAL DO MUSEU

Neste tópico será destacado o museu como um espaço democrático, que

tem como uma das suas responsabilidades contribuir para a inclusão social.

Nesse sentido, a função social dos museus é apresentar à coletividade sua

história e sua cultura. Na prática o museu deve promover ações para que a

comunidade valorize sua identidade e preserve seu patrimônio cultural. Todas as

ações devem contribuir para que a coletividade compreenda a importância dessa

preservação e participe dela.

“A função do museu deve centrar-se em poder colocar a população local em contato com sua própria história, suas tradições e valores. Por meio destas atividades o museu contribui para que a comunidade tome consciência de sua própria identidade que geralmente tenha sido escamoteada por razões de ordem histórica, social e racial” (Documento do ICOM – Conselho Internacional de Museus, 1986).

O desempenho dessa função social do museu envolve técnicas, recursos e

ações socioeducativas.

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6.1 FUNÇÃO SOCIOEDUCATIVA E MUSEU

A função socioeducativa do museu é concretizada a partir de projetos

museológicos voltados para a promoção e inclusão social.

Essas ações museológicas baseiam-se no conceito de educação popular,

criado pelo pedagogo brasileiro Paulo Freire, ou como ele costumava definir, uma

Teoria do Conhecimento.

Nesse processo teórico-metodológico o grupo social ou comunidade

envolve-se com a pesquisa, para conhecer e reconhecer sua realidade em seus

múltiplos aspectos (sociais, culturais e históricos). Ao conhecer e reconhecer sua

realidade torna-se capaz de buscar soluções e superar problemas.

É considerado um método de educação alternativa, que pode ser apropriada

pelo museu, sendo ele um reconhecido espaço de educação informal e lúdica que

enriquece o processo de ensino e da aprendizagem de crianças, jovens ou adultos.

Assim, o museu mostra-se como um espaço adequado para a promoção da

educação popular, isto porque como um dos canais de comunicação da sociedade

da qual faz parte, permite trocas de experiências e ideias possibilitando ao indivíduo

e a coletividade participar ativamente na produção de conhecimentos sobre sua

realidade. Sendo assim a comunidade é quem inspira e aponta as temáticas de

acordo com suas dificuldades e necessidades.

Para a implementação de projetos sociomuseológicos há necessidade de

conhecer a realidade na qual vai atuar, no caso de ações diretas com comunidades

é necessário obter um diagnóstico, histórico, cultural e ambiental (que poderá ser

realizado por estudantes, professores, interessados e coordenado por um

museólogo). Esse levantamento permite programar ações de acordo com os

interesses e com a participação da população local.

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6.2 EXECUÇÃO DE AÇÕES SOCIOCULTURAIS E EDUCATIVAS

As ações preservacionistas são estratégicas na exploração do patrimônio

cultural, como fator de desenvolvimento individual e social. Nesse sentido, as

situações de aprendizagem são criadas para que a comunidade possa refletir e

atuar sobre sua realidade, identificando seus problemas e buscando soluções para

melhorar suas condições de vida.

Nesse processo de conhecimento e reconhecimento da realidade, o acervo

museológico ou o patrimônio cultural local são os referenciais para o

desenvolvimento de atividades.

Diversas são as ações sociomuseológicas apontadas como adequadas para

a integração da comunidade às atividades do museu. Dentre outras estão:

A capacitação de jovens e adultos para a utilização responsável dos

recursos naturais como matéria-prima para a atividade artesanal

(escultura, cerâmica, trabalhos gráficos, serigrafias, tecelagem, pintura,

etc.).

Projetos socioeducativos de sensibilização com parcerias entre o

museu e a escola para a produção de exposições temporárias ou

itinerantes em espaços físicos na comunidade (parques, escolas,

igrejas, etc.);

Capacitação de jovens e adultos para atividades de formação e

recreação valorizando os elementos culturais e naturais: produção de

espetáculos, cursos, festivais de música, festivais de culinária,

exposições da literatura regional (apresentação oral de textos,

narrativas, etc.). Realização de oficinas de música (regional, folclórica,

etc.); de artes cênicas (encenações de fatos da cultura e história local,

etc.), de literatura (contos e poesias de atores locais ou regionais), etc.

Todas essas ações podem ser implementadas por meio de projetos

sociomuseológicos que permitem ao museu integrar-se à população local e na

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prática é um exercício de autoestima, de valorização e fortalecimento da identidade

cultural, de recuperação das suas tradições mais representativas.

6.3 PROGRAMAS EDUCATIVOS DO MUSEU

A finalidade desses programas é complementar e contribuir para elevar o

nível de educação e de conhecimentos das crianças, dos jovens e dos adultos.

Voltado para o ensino e a aprendizagem este tipo de projeto museológico

deve buscar estabelecer parcerias entre o museu, as escolas e outras instituições,

se for o caso, interessadas em colaborar. Um primeiro passo é buscar conhecer

quais as carências do ensino e da aprendizagem, para depois planejar e oferecer,

por exemplo: assessoria para escolas, produzir materiais de apoio didático para os

professores com informações sobre a inclusão o patrimônio cultural e natural local

ao currículo disciplinar, etc.

a) Projetos para crianças, jovens e adultos

Geralmente os projetos para crianças e jovens recorrem às exposições

temporárias ou itinerantes. Para isso, devem-se escolher temáticas coerentes com o

público ao qual se quer alcançar.

No planejamento destas exposições o museólogo deve realizar um

levantamento do perfil do visitante: a idade, o nível de escolaridade, etc., e decidir

sobre o que vai ser mostrado e o que será e como será transmitido.

No caso de exposições voltadas para as crianças, é importante que a

informação seja apresentada de forma simples e concreta, tenha uma proposta de

educação informal e lúdica, geralmente são usados materiais para contatos visuais,

e tácteis e atividades paralelas.

O público adulto diferente do público infantil, não vai ao museu para

aprender e sim para reaprender. As atividades de apoio aos programas

socioeducativos do museu voltado para este perfil de público geralmente são:

A realização de ciclos de filmes; oficinas de teatro, de artes; literatura,

música, seminários, exposições temporárias, realizadas com o acervo

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do museu, ou por temáticas, etc.

Conferências e palestras: são as formas das atividades

socioeducativas do museu, as quais contribuem para que a

comunidade obtenha maior conhecimento do conteúdo das exposições

ou do patrimônio cultural e natural local;

Atividades realizadas fora dos museus, mas baseadas no acervo

museológico: produção de exposições itinerantes, empréstimo de

material (recursos didáticos) para escolas, etc.

b) Visita Guiada

A visita guiada é um dos meios utilizados nos museus para facilitar a relação

entre o visitante e o conteúdo da exposição.

Essa atividade deve ser planejada levando em consideração o espaço e o

número de pessoas para cada grupo; o tempo de duração da visita (geralmente são

45 minutos), muito embora isto dependa da extensão, do percurso e da interação

resultante da motivação entre o grupo e o guia.

Para grupos de estudantes é interessante propor atividades com caráter

exploratório tanto educativo como recreativo, pois estimulam a curiosidade e a

criatividade dos visitantes.

Os guias devem possuir formação técnica ou prática. Para isso, o museu

deve capacitá-los para que eles obtenham um conhecimento aprofundado (e não

superficial) do conteúdo das exposições.

O museu deve estabelecer um horário fixo para as visitas, sem esquecer-se

de estabelecer uma forma de autoavaliação. Geralmente, isso é feito a partir de

entrevistas com os visitantes. Essa é uma técnica do museu avaliar suas ações.

c) Oficinas

As oficinas são formas de apoio para as atividades socioeducativas na

formação e capacitação. Podem tratar de áreas específicas de conhecimentos ou de

técnicas empregadas com os recursos naturais e elementos da cultura local, como

por exemplo, nos trabalhos artesanais, artísticos ou tradicionais.

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d) Publicações de museus

As publicações de museus podem ser produzidas por meio físico ou digital,

porém elas devem estar bem fundamentadas, exigem por isto uma rigorosa

pesquisa. O seu objetivo é permitir que a população conheça o museu, as pesquisas

e projetos que realiza, etc.

Publicações promocionais: a finalidade desse tipo de publicação é

difundir e incentivar o acesso da população as atividades organizadas

pelo museu. Podem ser pequenos folhetos, miniguias, etc., com

informações sobre as atividades do museu; as características do

museu e seus recursos expositivos, os horários de atendimento ao

público, as atividades paralelas como ciclos de filmes, palestras, os

serviços de transportes, serviços especiais para estudantes e cursos,

informações como a direção do museu, telefones, formas de acesso,

etc.

Publicações especializadas: essas publicações possuem informações

extensas e aprofundadas sobre o patrimônio cultural e natural e/ou

coleção, como também sobre exposições que se realizam no museu.

Outros tipos de publicações são: catálogos: devem possuir uma linguagem

acessível tanto ao público especializado quanto ao público em geral; guias de

estudo com informações da história e da cultura local e regional de caráter didático

contendo a bibliografia completa; boletins informativos ou revistas apresentando os

avanços dos trabalhos de investigação do museu ou de instituições afins, ou com

informações sobre a comunidade, clubes, excursões, notícias sobre outros centros

culturais, artigos de interesse, etc. Esses periódicos podem ser publicados em

edições mensais, bimensais ou semestrais.

As parcerias entre o museu e instituições são opções interessantes para a

implementação de políticas culturais de incentivo para os autores, artistas, artesãos,

entre outros atores sociais, publicando livros, a criação de vídeos, a produção de

jogos educativos, encenações, etc.

Todas essas ações são formas do museu contribuir para o desenvolvimento

da capacidade individual e coletiva, permitindo a eles informar-se e aprender a

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comunicar suas experiências, por meio da valorização e preservação do seu

patrimônio cultural.

7 PATRIMÔNIO CULTURAL: RECURSO INTERDISCIPLINAR PARA AÇÕES

EDUCATIVAS

Este tópico tem como objetivo apresentar o patrimônio cultural como recurso

teórico-metodológico para o ensino-pesquisa no ambiente formal e informal de

educação.

No ambiente de ensino e aprendizagem o patrimônio cultural ou natural é

uma fonte de conhecimento interdisciplinar particularmente fascinante que pode ser

usado por qualquer disciplina do ensino formal e informal como um recurso

educacional e exercício de cidadania e de autoestima.

Como fonte de conhecimentos o patrimônio cultural permite ultrapassar as

equivocadas limitações de cada disciplina, unindo áreas aparentemente distantes no

processo educativo.

Os profissionais da educação apontam algumas sugestões que podem ser

utilizadas por cada disciplina do currículo escolar, entre elas estão:

Língua Portuguesa: a pesquisa com o patrimônio cultural imaterial

permite comparar termos ou expressões de épocas passadas com a

atualidade; há também a possibilidade de evidenciar as diferentes

formas de linguagem, de ritmo e pronúncia das diferentes regiões e

das diversas origens étnicas que formam a nação brasileira. Como

resultado ou desdobramento as opções são inúmeras, por exemplo: a

elaboração de artigos, a criação de documentários e de peças teatrais,

produzir exposição física ou virtual, a realização de uma apresentação

oral e a produção de textos, etc.

Matemática: as atividades extraclasses utilizando o patrimônio cultural

é uma ótima opção para o desenvolvimento de observações das

edificações e de sítios históricos, visitas a museus, etc. Tais

observações permitem ao educando vivenciar a utilização do cálculo

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de ângulos, das áreas e volumes; o estudo das formas e dos planos

geométricos, etc. Como resultado pode ser realizado uma exposição

com a confecção de maquetes, gráficos, para os escolares e a

comunidade.

Ciências da Natureza: incluir o patrimônio cultural nessa disciplina

pode ser feito, promovendo discussões sobre o estado de conservação

do patrimônio cultural local, sobre o impacto das atividades humanas

para o equilíbrio climático; o papel do clima e da umidade na

deterioração de materiais e construções históricas. A história da ciência

é outro recurso que permite uma reflexão sobre o papel da tecnologia e

o impacto causado ao meio ambiente e sobre a vida das pessoas.

Educação Artística: nesta disciplina o patrimônio imaterial pode ser

explorado por meio da pesquisa (bibliográfica ou virtual) sobre a origem

e a função de manifestações populares e tradicionais da localidade ou

da região. Como resultado pode-se produzir eventos nos quais

poderão ser encenadas as manifestações folclóricas locais ou

regionais, a exposição das indumentárias e das coreografias; a

encenação de lendas ou da produção literária local ou regional,

promover depoimentos de artistas e pensadores locais, etc.

Geografia: o patrimônio cultural pode ser explorado nesta disciplina,

com a observação, por exemplo, do impacto ambiental que ocorre em

um centro histórico, ou parque, a pesquisa é outro recurso que pode

ser usada para conhecer sobre a procedência de materiais, as técnicas

construtivas, os recursos e características ambientais da localidade.

Como resultado está à confecção de dioramas, de exposição virtual,

etc.

História Social: incluir o patrimônio cultural nesta disciplina permite

demonstrar as modificações ocorridas ao longo do tempo com as

funções de objetos, dos monumentos, e as alterações do cotidiano e

modo de vida da sociedade local. Como resultado prático está à

produção de exposição física ou virtual, encenação de fatos ou

personagens históricos, a confecção de maquetes, etc.

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7.1 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: ENSINO-PESQUISA COM PATRIMÔNIO

CULTURAL

Entende-se por Educação Patrimonial uma metodologia de ensino-

aprendizagem a partir da experiência direta com o patrimônio cultural em seu amplo

sentido.

Essa proposta tem como objetivo não somente sensibilizar os educandos

para a valorização e preservação do patrimônio cultural local, como também

desenvolver habilidades e capacidades dos indivíduos para encontrar soluções para

problemas locais.

O patrimônio cultural é explorado como instrumento cognitivo, ou seja,

transmissor de conhecimentos, permitindo aos educadores e educandos valorizar

suas origens, sua história, sua visão de mundo, seus modos de fazer de ser; sua

identidade e memória cultural.

Nessa abordagem o bem cultural seja material, imaterial ou natural é um

recurso interdisciplinar para o desenvolvimento de ações com a finalidade de

promover o pensamento crítico, uma visão totalizante da realidade, pois ela dá

ênfase à interação entre o ser humano, a natureza e os seus semelhantes,

promovendo o respeito pela diversidade cultural e pelo meio ambiente.

a) Envolvendo a comunidade escolar

A educação patrimonial como recurso para o ensino-pesquisa não é um

evento, é um processo contínuo de eventos; não é realizado com improvisos e

despreparo, mas a partir de um planejamento das atividades a serem desenvolvidas

de forma sistematizada para que o resultado seja alcançado de forma satisfatória.

Para a implementação dessa proposta a coordenação pedagógica deve ser

consultada sobre a viabilidade dos trabalhos: o planejamento de visitas aos museus,

sítios históricos, etc., a liberação das salas de informática e de vídeo em horários

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previstos no cronograma das atividades e a forma de apresentação do resultado

final.

O passo seguinte é definir a natureza e o bem cultural a ser explorado: os

instrumentos para a coleta de informações; a distribuição das equipes de trabalho

(elaboração de roteiro com informações prévias do bem cultural).

Uma sugestão é utilizar as tecnologias da informação: a criação da

exposição virtual, consulta a web sites, criação de grupos virtuais de discussão,

blogs, webquest, boletins eletrônicos, encenações, produção de vídeos, etc.

7.2 O PROJETO PEDAGÓGICO

O projeto pedagógico é o instrumento que delimita o campo de atuação,

pois, orienta os procedimentos e determina o que se pretende e como produzir.

Nele devem constar o que será pesquisado e quais os objetivos, a

relevância educativa e social; as etapas de trabalho, os instrumentos e técnicas que

serão utilizadas, e a forma de apresentação como resultado final.

Como proposta pedagógica a educação patrimonial busca implementar

atividades extracurriculares com a finalidade de contribuir para um processo de

reconhecimento e valorização do patrimônio cultural e natural local.

A importância sociocultural da educação patrimonial é a possibilidade dela

contribuir para revitalizar a memória coletiva e a história local, permitindo que os

educandos/pesquisadores vivenciem um processo de conhecimento por meio da

apropriação da herança cultural, isto amplia e enriquece o processo de ensino e da

aprendizagem formal e não formal.

Os objetivos socioeducativos da educação patrimonial são: o

desenvolvimento de habilidades como ler e interpretar as evidências culturais;

desenvolver a autoestima dos indivíduos e comunidades; permitir aos alunos do

ensino fundamental e médio vivenciar e experimentar a metodologia da investigação

científica usada em pesquisas arqueológicas, antropológicas e por historiadores.

As competências e habilidades exercitadas nesse processo são: conhecer

os conceitos básicos de cultura, bem cultural material, imaterial e natural;

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desenvolver uma leitura conceitual e a realização de pesquisas em fontes primárias

de informações; desenvolver a capacidade de pensar soluções para problemas da

comunidade.

Quanto aos recursos materiais, que devem ser claramente definidos no

projeto pedagógico, são:

A confecção dos instrumentos de apoio (fichas, diário de pesquisa,

roteiro) para a observação direta;

A programação para as visitas técnicas a museus, bibliotecas, centro

ou sítio histórico;

A listagem de materiais que serão utilizados (máquinas fotográficas,

gravadores, etc.).

E finalmente a elaboração do cronograma das atividades, necessários

para o bom andamento e desempenho do processo.

a) Desenvolvendo o projeto

As sugestões que serão apresentadas não são modelos fixos, antes têm a

intenção de demonstrar a viabilidade de práticas nessa forma de aprendizagem.

Claro que, cada projeto dependerá do nível de compreensão e da criatividade dos

interessados, sendo que as atividades podem ser simplificadas ou dificultadas

conforme o nível de ensino em que será trabalhada.

O tempo previsto para o desenvolvimento do projeto de ensino-pesquisa

depende do tipo de resultado ou produto que o grupo quer apresentar, entretanto a

duração aproximada são 30 a 60 dias letivos e envolve um processo com três fases:

uma teórica, outra prática e a construção da comunicação ou produto final:

1ª fase: Etapa Teórica

a) Esclarecer aos participantes a finalidade da proposta e das atividades;

b) Apresentação dos conceitos: cultura, patrimônio cultural material, imaterial

e natural, e bens culturais. Uma forma criativa de desenvolver essa fase é recorrer a

vídeos e documentários sobre o patrimônio cultural brasileiro em suas diversidades.

c) Apresentar sugestões do bem cultural (material, imaterial ou natural) a ser

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trabalhado.

d) Definir os recursos materiais que serão utilizados para a coleta de dados,

as fontes complementares de dados e o tratamento das informações.

e) Proposta inicial da forma de apresentação final.

2ª fase: Etapa Prática

a) Confecção do material de apoio: roteiro, fichas para a descrição e

identificação do bem cultural, o diário de pesquisa, etc.

b) A pesquisa de campo: exploração do bem cultural por meio da

observação direta. Visita técnica em museus, sítio ou centro histórico, reserva

natural, etc.

c) Pesquisa complementar em livros, revistas, Internet, etc. Esse é o

momento de visitas às bibliotecas, arquivos, buscar depoimentos de pessoas, etc.

Procurando aprofundar as informações em relação ao Centro Histórico.

d) Interpretação das informações coletadas, dando destaque para as

principais descobertas. É importante para os pesquisadores descobrir sobre os

aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais relacionados ao objeto de estudo.

3ª fase: Comunicação

A forma de apresentação deverá ser pensada desde o início e conforme o

desenvolvimento das atividades pode ser ampliado ou não, dependendo da

qualidade e empenho dos alunos/pesquisadores e dos coordenadores. A seguir

alguns exemplos:

Realização de exposição física e/ou virtual;

Encenação;

Exposição de fotografias, mapas e maquetes;

Produção de vídeo com depoimentos da população local, etc.

É importante destacar que o patrimônio cultural é fonte de conhecimentos e

sua compreensão não deve ficar limitada ao aspecto estético, para isso é necessário

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descrever o processo histórico para evidenciar significados e sentidos do bem

cultural para a comunidade que o elegeu.

Outra importante questão diz respeito à utilização dos suportes da memória

local como bibliotecas e arquivos; recursos de apoio que podem ser aproveitados

para a realização de aula-pesquisa. Dessa forma, o educador e os

alunos/pesquisadores podem vivenciar outros ambientes de aprendizagem. Nesse

caso o educador deverá buscar informações antecipadamente sobre o apoio

material e humano que essas instituições oferecem.

A aula-pesquisa em uma biblioteca ou arquivo público proporcionará aos

educandos a oportunidade de observar diretamente um sistema de documentação e

identificação de livros, revistas, catálogos, jornais, etc. Conhecer fontes primárias de

informações, descobrirem nomes originais de ruas, avenidas, terem a oportunidade

de conhecer desenhos de mapas e fotografias antigas e observar as transformações

ocorridas ao longo do tempo.

Quanto às pesquisas realizadas no ambiente virtual o professor/coordenador

deve selecionar previamente os sites (hipertextos e/ou vídeos) facilitando para os

educandos a navegação na Internet.

A utilização da educação patrimonial como abordagem didático-pedagógica

é uma experiência enriquecedora que permite aos educandos e educadores utilizar

técnicas e métodos das ciências, ou seja, observar, pesquisar, interpretar e registrar

o conhecimento adquirido.

Nesse processo educativo é possível ir além da superficialidade da

informação, aprofundando o conhecimento adquirido por meio da pesquisa. Nesse

sentido o aluno/pesquisador deve ser estimulado a uma interpretação crítica,

buscando descobrir relações e significados que dá sentido a existência de um bem

cultural como testemunho da história, da identidade e memória da comunidade da

qual é parte.

Sugestões de práticas

Exemplo I: Explorando um Sítio Histórico

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Definição: “Um sítio histórico urbano é o espaço que concentra

testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas manifestações. O

contexto físico do sítio histórico urbano envolve as paisagens naturais e construídas.

O espaço edificado é resultado de um processo de produção social” (Carta de

Petrópolis, 1987).

Público-alvo: Ensino Médio

Pré-requisito: Conhecimentos em história da arte: arquitetura e arte

brasileira do século XVI ao século XIX.

A - Etapa teórica: Definição dos Conceitos

Patrimônio Cultural Material;

Monumento histórico;

As categorias dos bens culturais materiais.

B - Fase prática: Coleta de Dados Primários

A observação direta: visita técnica ao centro histórico e preenchimento

das fichas de observação (descrição das edificações: materiais, forma, função

original e atual, estilo da construção);

Registros visuais (máquinas fotográficas, filmagens, etc.);

C - Pesquisa complementar: Coleta de Dados Secundários

Identificar sua localização, o período histórico de origem das

construções, funções originais e atuais.

Descobrir acontecimentos importantes que ocorreram no local;

Identificar as transformações ocorridas ao longo do tempo comparando

fotografias e desenhos antigos do centro histórico e do seu entorno;

Registrar o estado de conservação e fazer sugestões sobre as formas

de proteger o centro histórico da degradação natural e do impacto da intervenção

humana.

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D - Tratamento dos dados coletados

Essa fase é para a organização e síntese dos dados coletados buscando

obter informações sobre o patrimônio cultural explorado. Nesse momento é preciso

avaliar a veracidade das informações.

A interpretação dos dados deve destacar as principais descobertas

realizadas e é a fase na qual o professor deve colaborar para que os

alunos/pesquisadores relacionem em um contexto. Para isso, deve ser realizado um

levantamento dos aspectos econômicos, sociais, políticos e artísticos que envolvem

o centro histórico. Desse modo, serão evidenciados os significados e sentidos que o

faz testemunho importante para a formação da sociedade e da identidade local.

E – Comunicação

A comunicação do resultado final deve ser apresentada para a comunidade,

por isso exige-se uma boa dose de criatividade. Como sugestão aponta-se:

A criação de roteiro físico ou virtual para visitas ao centro histórico;

Encenação de algum fato histórico ou curioso ocorrido no local;

Exposição de fotografias, mapas e maquetes do Centro Histórico;

Produção de vídeo com depoimentos da população do Centro

Histórico, etc.

Exemplo II: Valorizando o Patrimônio Imaterial local: um exercício de

autoestima

“O Patrimônio Imaterial consiste de práticas, representações, expressões,

conhecimentos e técnicas (instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são

associados) que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos

reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural” (Recomendação de

Paris, 2003).

Objeto de estudo e pesquisa: Manifestação folclórica local.

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Público-alvo: Ensino Fundamental.

Pré-requisito: Informações sobre as festividades e celebrações locais.

Tempo previsto: 30 a 60 dias letivos.

A - Etapa teórica: Definição dos conceitos

Patrimônio imaterial;

Cultura tradicional e popular;

Formas de difusão e salvaguarda do patrimônio imaterial.

B - Etapa prática: Construção dos instrumentos para a coleta de

informações

Elaboração de fichas para a identificação e descrição;

Elaboração do roteiro das atividades;

Elaboração de questões orientadoras para a observação;

A identificação: que é; como ocorre; onde ocorre: o espaço ou região

onde acontece.

Descrição da manifestação: tipo de indumentária; os instrumentos;

adereços; perfil dos participantes (crianças, jovens e/ou adultos), outras

informações.

C - Pesquisa complementar: Coleta de Dados Secundários

As origens: influências étnicas;

Os fatores que contribuíram para a sua continuidade;

Como era antes, e como é atualmente.

D - Comunicação: Apresentação do resultado final

Produção de calendário das celebrações e festividades local;

Encenação da manifestação folclórica;

Exposição física e/ou virtual;

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Produção de vídeo com depoimentos dos personagens e dos

alunos/pesquisadores.

Exemplo III: Explorando o Patrimônio Natural Local

Os bens componentes do patrimônio natural são as paisagens, formações

geomorfológicas, sítios submarinos, rios, cavernas, flora e fauna de uma região. Os

monumentos naturais são constituídos por unidades ou grupos de formações físicas

e biológicas. As formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente

delimitadas que constituam o habitat de espécies animal e vegetal armazenados. Os

lugares naturais ou as zonas naturais estritamente delimitadas (Recomendação para

a Proteção dos bens culturais e naturais. UNESCO, Paris, 1972).

Pré-requisito: Conhecimentos sobre meio-ambiente.

Público-alvo: Ensino Fundamental e Médio.

A - Etapa teórica: Escolher o objeto de observação

Rios, nascentes, trilhas, formações geológicas, etc.

B - Etapa prática: Construção dos instrumentos para a coleta de

informações

Elaboração de fichas para a identificação e descrição;

Elaboração do roteiro das atividades;

Elaboração de questões orientadoras para a observação.

C - Trabalho de campo: Observação Direta

A identificação: o que é; localização, como era, como está, função para

a localidade, estado de conservação;

Observação e descrição dos estratos vegetais e outros estratos;

O impacto causado pela presença humana;

Sugestões para a conservação e educação ambiental da comunidade.

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D - Pesquisa complementar

Levantamento sobre a fauna e flora local ou do entorno;

Aspectos históricos, sociais, econômicos, e industrial, referentes ao

patrimônio natural trabalhado.

E - Interpretação e tratamento das informações coletadas:

Nessa tarefa o educador/coordenador deverá orientar os alunos na

escolha das informações, quais serão descartadas e quais deverão ser aceitas.

F – Comunicação

Exposição;

Construção de dioramas;

Elaboração de roteiros para a realização de caminhadas ecológicas;

Elaboração de cartilha contendo dentre outras informações formas de

prevenção contra a depredação do patrimônio natural, etc.

7.3 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO-

APRENDIZAGEM

Não há como excluir os recursos da tecnologia da informação nos processos

educativos. A linguagem digital e o ciberespaço ou espaço virtual é uma realidade

que está em todos os aspectos do cotidiano, seja no trabalho, em casa, no processo

de ensino e formação, etc. Esse ambiente permite um trabalho informacional de

desenvolvimento e sistematização dos recursos de tecnologias intelectuais como a

memória (bancos de dados, hipertextos, fichários digitais), a imaginação

(simulações), a percepção (tele presença, realidades virtuais), os raciocínios (a

simulação).

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Essas tecnologias incrementam e transformam determinadas capacidades

cognitivas humanas como a memória, a imaginação, o raciocínio.

A criação de uma webquest é uma forma de participar desse método de

prática pedagógica que foi definida pelo seu criador o professor Bernie Dodoge

(criou webquest no ano de 1995) como “uma atividade investigativa, em que alguma

ou toda a informação com que os alunos interagem provém da Internet”. O termo

traduzido para o português significa ‘busca na web’.

Os passos para a criação de criar uma webquest são:

a) Definir a temática;

b) Planejar a(s) tarefa(s);

c) Determinar as fontes de informações (listar os sites, indicar livros, textos,

quando for o caso);

d) Estruturação dos processos e recursos.

A apresentação da webquest consiste das seguintes seções:

1) Introdução: é um texto curto apresentando o tema e antecipando aos

alunos quais as atividades eles terão de realizar;

2) Tarefa: descrição das atividades e o que se espera dos alunos e quais

ferramentas que devem ser utilizadas para elaborá-lo;

3) Processo: nesta seção apresentam-se os passos que os alunos terão

de percorrer para desenvolver a tarefa. Nela, devem estar os links dos sites (também

chamados de recursos) escolhidos pelo professor para a pesquisa que devem ser

consultados pelos alunos para realizar. Como também sugestões sobre a forma

como os alunos deverão organizar as informações que serão reunidas;

4) Avaliação: o aluno deve ser informado sobre como será avaliado o seu

desempenho e se a verificação será individual ou coletiva.

5) Conclusão: resumir, em poucas frases, os assuntos explorados na

webquest e os objetivos supostamente atingidos. A conclusão é também o espaço

para incentivar o aluno a continuar refletindo sobre o assunto, por meio de questões

e links adicionais.

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57

Links para a pesquisa

http://www.unesco.org.br/areas/cultura/areastematicas/patrimonio/patrimoni

oimaterial/index_html/mostra_documento

http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=

paginaIphan

http://ifolk.vilabol.uol.com.br/index.htm

http://www.edukbr.com.br/artemanhas/artespopulares.asp

Exemplo de planejamento de uma Webquest

Reconhecendo Patrimônio Cultural Imaterial Local

Webquest planejada por Laise R França

Email: inserir o e-mail do (a) palestrante

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58

Introdução

Preservar o Patrimônio Cultural Imaterial é manter ‘viva’ as formas de

expressão de um povo, seus modos de criar, de fazer, de viver, de agir, seus

saberes, costumes e instruções. Essas características identificam e ao mesmo

tempo diferenciam uns povos de outros.

Preservar um bem cultural imaterial é apoiar sua continuidade, é conhecer e

divulgar a sua história, a sua origem, as influências e os significados atribuídos pelo

grupo social que o elegeu. Valorizando desse modo a cultura local (Recomendação

de Paris, 2003, UNESCO).

Tarefas

1) Definir o conceito de Patrimônio Cultural Imaterial.

2) Descrever o Processo Jurídico para Registro do Patrimônio Cultural

Imaterial.

3) Identificar e descrever o(s) tipo(s) de artesanato(s), danças e festas

folclóricas, que fazem parte da cultura local.

4) Elaborar um roteiro das festividades do calendário local.

Processo

1) Formar equipe (mínimo 3 e no máximo 4 pessoas).

2) Definir o bem cultural imaterial se quer trabalhar (festividades, dança

folclórica, etc.).

3) Consultar os links propostos para pesquisa.

4) Complementar pesquisa on-line com artigos, jornais, livros, etc., que

tenham referências da cultural local.

Links para a pesquisa

http://www.unesco.org.br/areas/cultura/areastematicas/patrimonio/patrimon

ioimaterial/index_html/mostra_documento

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http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno

=paginaIphan

http://ifolk.vilabol.uol.com.br/index.htm

http://www.edukbr.com.br/artemanhas/artespopulares.asp

As informações coletadas devem ser lidas, interpretadas e sintetizadas e

depois desse tratamento devem ser enviadas para o e-mail: inserir o e-mail do (a)

palestrante.

Avaliação

O grupo será avaliado com os seguintes critérios:

A - O grupo conseguiu que todos participassem das atividades;

B - Alguns membros do grupo não participaram das atividades;

C- Os membros do grupo não conseguiram realizar as atividades.

Conclusão

Ao final das atividades vocês concluíram as etapas de um processo que teve

como objetivo colocá-los diante de bens culturais que pertencem ao patrimônio

cultural imaterial local.

8 PESQUISA MUSEOLÓGICA COM O PATRIMÔNIO CULTURAL: CONCEITOS,

MÉTODOS E INSTRUMENTOS

A pesquisa museológica com o patrimônio cultural é geralmente motivada

por duas razões: a produção de conhecimentos e/ou a promoção e

desenvolvimento, o individual e coletivo. Para entender sobre a área de atuação da

qual estamos tratando vamos recorrer a Constituição Federal no Capítulo II, Seção

II, Artigos 216, reconhece como elementos do patrimônio cultural brasileiro.

Artigo 216: Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza

material, e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

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60

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da

sociedade brasileira, nos quais incluem:

I - As formas de expressão;

II - Os modos de criar, fazer e viver;

III - As criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais.

V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Os bens culturais materiais e imateriais remetem aos modos específicos de

criar e fazer de um grupo social ou comunidades.

Estão incluídos nesse conjunto:

a) As descobertas e os processos científicos, artísticos e tecnológicos;

b) As construções referenciais e exemplares da tradição brasileira, incluindo

bens imóveis (igrejas, casas, praças, conjuntos urbanos, sítios históricos, etc.) e

bens móveis (obras de arte, artesanato, objetos, etc.).

c) As criações imateriais como a literatura e a música; as expressões e os

modos de viver, como a linguagem e os costumes; os locais dotados de expressivo

valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral, assim

como as paisagens e as áreas de proteção ecológica da fauna e da flora.

d) A importância dos significados conferidos a um bem cultural ao longo do

tempo acaba por dar-lhe uma identidade própria, com a propriedade de representar

um povo, um lugar, uma civilização.

8.1 DEFINIÇÃO DE BEM CULTURAL

A museologia entende como bem cultural todo testemunho da criação

humana ou da evolução da natureza, devido ao seu significado e valor para a

ciência, para as artes e/ou para a história.

Para o olhar museológico o bem cultural não é visto apenas pelas suas

qualidades físicas e materiais, ou seja, o objeto em si, mas como elemento

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61

importante que possui a potencialidade de refletir uma rede de relações e portador

de significados.

Para melhor compreendermos sobre os bens culturais e os contextos em

que eles estão contidos são sugeridas três categorias:

a) Bens culturais imateriais (as formas de fazer e o saber fazer). Nesse

universo estão:

Os componentes do patrimônio intelectual: a música, a literatura, a

dança, o teatro, as tradições, as técnicas, etc.

Os componentes do patrimônio emocional: as expressões do

sentimento individual ou coletivo: as manifestações folclóricas e

religiosas, etc.

b) Bens culturais materiais: estão em sítios históricos, urbanos,

arqueológicos e arquitetônicos. Seus componentes estão classificados como parte

dos seguintes conjuntos culturais:

No patrimônio arqueológico: achados arqueológicos;

No patrimônio urbanístico e paisagístico: paisagens naturais e/ou com

interferência humana em áreas urbanas e rurais;

No patrimônio artístico e arquitetônico: bens móveis, objetos de arte,

objetos utilitários, documentos arquivísticos e iconográficos;

edificações rurais e urbanas.

c) Bens naturais (patrimônio natural): rios, cachoeiras, matas, florestas,

grutas, climas, etc.

Na pesquisa museológica o bem cultural pode ser tratado de duas maneiras:

a) Como objeto de pesquisa científica, para produzir conhecimentos;

b) Como instrumento cognitivo: para a transmissão de conhecimentos.

O bem cultural (seja material, imaterial ou natural) como objeto de pesquisa

e suporte de informações é capaz de evidenciar aspectos históricos, econômicos,

sociais de um espaço/tempo. Sendo assim, eles permitem recuperar ou produzir

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62

informações sobre o modo de vida das pessoas e sociedades do passado e do

presente; recuperar informações sobre a memória coletiva, etc.

Como instrumento cognitivo os bens culturais são apresentados de forma

processual e em um contexto, evidenciando a sua origem, sua função e os

significados a ele atribuídos.

Mas, qualquer que seja a motivação, é importante esclarecer que a pesquisa

sobre um bem cultural deve ir além da leitura estética, ela deve procurar evidenciar a

rede de relações e o contexto (tempo, região, história, entre outros aspectos) que

envolve um bem cultural.

Nesse sentido, a pesquisa museológica exige um conhecimento amplo e

profundo dos aspectos de uma realidade. Por isso ela necessita da

interdisciplinaridade e precisam recorrer aos métodos, técnicas e instrumentos das

ciências sociais, da história e de ecologia.

8.2 PESQUISA MUSEOLÓGICA: CONTRIBUIÇÕES DAS CIÊNCIAS HUMANAS,

SOCIAIS E DA ECOLOGIA

Das ciências humanas a museologia recorre à linguagem histórica e ao

conceito de processo histórico. Das ciências sociais recorrem aos métodos, técnicas

e instrumentos para descrever, comparar ou generalizar aspectos de uma

determinada realidade. Da ecologia usa o seu modelo de interpretação e

compreensão sistêmica.

a) Linguagem histórica

A linguagem histórica é um corpo de ideias e procedimentos. Não é somente

um instrumento de comunicação, mas um instrumento para o pensamento.

b) Processo histórico

O processo histórico é estabelecido a partir de uma sequência de eventos

inter-relacionados seja por meio da causalidade ou finalidade. Por meio do processo

histórico o conhecimento do passado mostra-se em movimento, ou seja, torna-se

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63

dinâmico e por isto está em constante transformação. Claro que o passado não sofre

modificações, mas, podem ocorrer diversas reinterpretações. A história não é mais

percebida de forma congelada e em um tempo linear.

A descrição processual e contextual de um bem cultural permite evidenciar

aspectos importantes de uma realidade; é um recurso para descobrir as redes de

relações e o contexto em que foi produzido; o desenvolvimento da vida social,

econômica, política e intelectual; a origem e os significados que lhes foram

atribuídos ao longo do tempo.

c) Os métodos das ciências sociais

O método histórico

O método histórico consiste em investigar contextualizando acontecimentos,

processos e instituições do passado para verificar as fases do seu desenvolvimento

e sua influência na sociedade presente. Ele permite descrever e compreender a

formação do fenômeno cultural e as modificações ocorridas, permitindo desse modo,

a comparação de diferentes culturas.

Criado por Franz Boas esse método considera que as atuais formas de vida

social, as instituições e os costumes têm sua origem no passado. Por isso, conhecer

as origens dessas formas sociais possibilita ao pesquisador compreender sua

natureza e a sua função. Esse método assegura a percepção da continuidade e das

inter-relações dos fenômenos sociais e culturais.

Método comparativo

Proposto por Edward B. Tylor, este método consiste comparar, considerando

diferenças e semelhanças entre os diversos tipos de grupos, sociedades ou culturas

do presente ou do passado, por exemplo: o modo de vida rural e o urbano, as

características sociais da colonização portuguesa no continente africano e da

colonização espanhola na América Latina, etc.

Método monográfico

Criado por Le Play consiste no estudo de determinados indivíduos,

profissões, instituições, grupos ou comunidades, etc., com a finalidade de obter

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64

generalizações. A investigação examina o tema escolhido observando todos os

fatores que o influenciaram e descreve todos os seus aspectos. Exemplos: questões

de gênero (o papel da mulher, adolescência, idosas, etc.); questões urbanas (bairros

rurais e industriais, análise-econômica da cooperativa, etc.).

Método estatístico

Tem como objetivo reduzir fenômenos (sociológicos, políticos, econômicos,

etc.), a termos quantitativos e a manipulação estatística buscando com isso,

comprovar as relações dos fenômenos entre si e obter generalizações sobre a sua

natureza, significado ou ocorrência. Este método é usado para obter representações

simples de conjuntos complexos e constatar se as verificações simplificadas têm

relação entre si. É considerado um método de análise e experimentação. Exemplos:

público estudantil, tipos de lazer e trabalho, etc.

Método tipológico

Criado por Max Weber (1864-1920), o método tipológico consiste em

construir modelos ideais (não reais) a partir da análise de aspectos do fenômeno

social. O tipo ideal é um modelo para a análise e compreensão de casos concretos.

Sua característica principal é não existir na realidade. A construção do modelo

consiste em ampliar certas qualidades e fazer ressaltar certos aspectos do

fenômeno que se pretende analisar. Esses fenômenos estão restritos a uma

possível dicotomia de tipo e não tipo, conforme se observa nos estudos realizados

por Weber.

Método funcionalista

Utilizado por Malinowski, é considerado mais como um método de

interpretação do que de investigação. Considera a sociedade como um sistema

organizado, formada por partes inter-relacionadas e interdependentes. A

compreensão das partes a partir das funções que desempenham no todo. Esse

método estuda a sociedade a partir da função de suas unidades, um sistema

organizado de atividades.

Page 30: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

65

Método Estruturalista

Desenvolvido por Lévi-Strauss, consiste em abstrair um fenômeno concreto,

por intermédio da construção de um modelo que represente o objeto de estudo.

Esse método vai do concreto para o abstrato e vice-versa, buscando dispor de um

modelo para a análise da realidade concreta dos diversos fenômenos.

d) Técnicas e instrumentos de pesquisa

A coleta de dados

No estudo científico todas as informações relacionadas ao problema e às

hipóteses são chamadas de dados e classificadas como: primários e secundários.

Dados primários: são informações extraídas da realidade em primeira mão

pelo investigador, não se encontram, portanto, registrados em outro documento. Na

pesquisa com bens culturais o patrimônio é fonte primária de conhecimento.

Dados secundários: são chamados secundários por já terem sido

anteriormente elaborados e registrados com uma finalidade específica para a

pesquisa que os gerou e registrou. Não foram compilados em primeira mão pelo

investigador que está se servindo deles, daí sua denominação de secundários. São

encontrados na web, em livros, teses, dissertações, artigos, tabelas, gráficos,

esquemas, etc., elaborados por entidades de pesquisa ou associações de classe,

universidades, entre outros, ou seja, são informações já disponíveis, sendo

acessíveis por meio de consulta a livros, arquivos, etc. Ela é necessária a qualquer

trabalho de pesquisa, antecedendo a pesquisa experimental.

Dados primários

Os dados primários são coletados a partir de técnicas (análise, entrevistas e

observação) e instrumentos apropriados, (questionários e formulários).

Pesquisa documental: realizada a partir da análise de documentos

autênticos, também usada pelas ciências sociais e humanas, para descrever e

comparar fatos sociais, estabelecendo suas características ou tendências. Neste tipo

de pesquisa as fontes primárias são arquivos públicos e particulares, estatísticas

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AN02FREV001/REV 4.0

66

oficiais, censos, Livro de Tombo, etc. A pesquisa documental somente é

considerada fonte primária de dados se os documentos forem autênticos.

História de Vida: consiste em obter os dados referentes à determinada

pessoa, em todas as fases de sua vida.

Entrevista: essa técnica exige investimentos de tempo e recursos

financeiros. Requer um planejamento cuidadoso. É aconselhável deixar claro ao

entrevistado o objetivo da pesquisa, por que e por quem está sendo feita. É

importante ter cuidado quanto à objetividade das perguntas, sua quantidade e

pertinência.

a) Entrevista informal: exige a organização de um roteiro inicial para a

introdução do tema, mas não há uma preocupação com o controle rígido das

respostas, pois seu objetivo é justamente ampliar as perspectivas de análise de um

tema, ou ampliar o conhecimento sobre a relação teórico-prática de uma área

específica.

b) Entrevista formal: exige o planejamento de um roteiro com questões das

quais as respostas atendam ao objetivo específico de obter informações de um

determinado assunto da pesquisa. No geral, as respostas serão avaliadas

qualitativamente, requerendo um mínimo de padronização para que se possam

comprar as respostas dos entrevistados e daí extraírem os subsídios para a

pesquisa.

c) Entrevista livre: quando se solicita ao entrevistado discorrer sobre o tema

pesquisado. Para maior segurança e fidelidade, as entrevistas devem ser gravadas

e depois transcritas.

Fontes orais: a oralidade como fonte de informação histórica teve seu

reconhecimento no século XX. A oralidade e a memória são reconhecidas como

fontes para a produção do conhecimento especificamente da história do presente.

Observação: essa técnica é considerada como a mais adequada para o

estudo de fenômenos sociais, ou seja, para a compreensão da manifestação de

comportamentos e atitudes dos grupos. Essa técnica de coleta de dados primários

exige um planejamento para a construção de um esquema de registro e do plano de

análise. Deve-se determinar com antecedência o que vai ser observado e com fazê-

lo indicando qual será a participação do pesquisador nesse processo.

A observação pode ser sistemática, participante e não participante.

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67

a) Observação sistemática: focaliza uma situação específica, segue um

plano definido para sua realização. Recorre-se ao uso de formulários ou

questionários previamente elaborados, para se obter um registro padronizado das

observações feitas.

b) Observação participante: quando o pesquisador está presente em uma

situação de estudo, acompanhando o que de fato é vivido pelo grupo cujas reações

deseja conhecer.

c) Observação não participante: quando o investigador se coloca apenas

como espectador que não interfere na situação observada.

Instrumentos para coleta de dados

Questionários: são instrumentos para a coleta de dados primários usados

tanto para a pesquisa qualitativa quanto para a quantitativa. São construídas

questões estruturadas, previamente formuladas e impressas segundo uma ordem

preestabelecida, contendo espaços para o registro das respostas. Podem ser

entregues pessoalmente ou enviados pela internet ou pelo correio, pois são

preenchidos pelos informantes sem a presença do pesquisador. Esses questionários

podem incluir questões abertas, fechadas, múltipla escolha ou combinar partes dos

tipos de formulação.

Formulários: são estruturados a partir de questões previamente elaboradas

pelo entrevistador, que busca as respostas em uma situação direta com o

entrevistado.

O número de questionários e formulários deve ser delimitado a partir do

tema e dos objetivos da pesquisa.

9 TRATAMENTO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Esse tópico tem como objetivo apresentar os recursos complementares para

a produção de conhecimentos a partir da interpretação e descrição dos bens

componentes do patrimônio cultural e natural.

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68

O tratamento das informações é realizado a partir da organização, descrição

e síntese dos dados escolhidos para a explicação do problema da pesquisa.

A descrição dos dados coletados tem como objetivo aprofundar e buscar

respostas ao problema da pesquisa e verificar se as hipóteses elaboradas

(respostas presumidas) são adequadas e coerentes.

A interpretação dos dados deve destacar as principais descobertas da

pesquisa, nesta fase o pesquisador deve usar sua capacidade de relacionar os

resultados com a problemática inicial (problema e hipótese) e elaborar um

argumentar a favor ou contra.

O pesquisador deve tomar cuidado para que suas conclusões não sejam um

resumo das fontes pesquisadas. Nessa fase do trabalho, o pesquisador pode

estabelecer novas relações entre os elementos do tema/problema e acrescentar

algo ao conhecimento já existente. Para isso, é necessário recorrer aos

procedimentos do método científico.

Como resultado das pesquisas sociomuseológicas espera-se:

Sugestões para superar dificuldades e melhorar a qualidade de vida de

comunidades;

Apresentar o patrimônio cultural local como fator de desenvolvimento

sustentável;

Promover um diagnóstico do patrimônio cultural material, imaterial e

natural para implementação de projetos para incrementar a modalidade

do turismo cultural rural e/ou ecológico, etc.

A pesquisa museológica deve promover ações comprometidas socialmente

para o desenvolvimento e uma economia sustentável, por meio da preservação e

valorização do patrimônio cultural e natural local.

9.1 ABORDAGEM ECOLÓGICA OU HOLÍSTICA: O PENSAMENTO SISTÊMICO

Aqui trataremos por ecologia a ciência das inter-relações que ligam os

organismos vivos ao seu ambiente. Essa ciência é considerada natural e social ao

mesmo tempo, por possuir potencialidades que podem ser aplicadas na

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AN02FREV001/REV 4.0

69

interpretação e compreensão dos assuntos humanos, ao entender que em todas as

situações há relações e influências entre os componentes ambientais, sociais,

políticos e econômicos, o que configura um sistema.

No modelo de pensamento sistêmico holístico ou ecológico, o universo é

explicado como um grande sistema, uma rede dinâmica de eventos inter-

relacionados. Sendo assim a percepção de uma determinada realidade não faz

sentido se ao observá-la não considerar o seu contexto. Nessa perspectiva o

observador também é parte integrante da realidade observada, pois nada se

encontra isolado e tudo faz parte de uma rede de relações, na qual todos são

responsáveis por tudo.

Por sistema entende-se um conjunto com dois ou mais elementos

(conceitos, ideias, objetos, organismo ou pessoas), em constante interação, que

sempre buscam atingir um mesmo objetivo ou equilíbrio. Esta forma de

compreensão e interpretação é uma inovadora estrutura conceitual do processo de

pensamento, seja em relação à natureza, à sociedade ou ao processo de construção

do conhecimento.

A visão holística ou sistêmica é um retorno às antigas cosmovisões. Na

filosofia milenar chinesa há uma ideia da existência de uma harmonia cósmica, uma

espécie de equilíbrio que conecta os seres humanos a natureza, a sociedade e ao

cosmo.

a) As características do pensamento sistêmico

Segundo Fritjof Capra (1972), algumas das características do pensamento

sistêmico são:

A compreensão das propriedades das partes é feita a partir da

dinâmica do todo;

As partes são padrões de uma rede de relações. E cada estrutura é

vista como uma manifestação de um processo implícito;

No processo de conhecimento deve ser incluída a descrição explícita

dos fenômenos naturais;

A rede de inter-relações é a metáfora do conhecimento, para

representar os fenômenos observados. A disposição das partes ou dos

elementos de um todo coordenados entre si funciona como uma

Page 35: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

70

estrutura orgânica dinâmica, onde existe fluxo e transformação;

Todos os conceitos, as teorias e as descobertas são aproximações da

realidade.

No modelo de pensamento sistêmico ou holístico a natureza é vista como

todo, o mundo é um grande sistema orgânico, uma rede dinâmica de eventos inter-

relacionados em que todas as coisas estão conectadas e influenciam umas às

outras.

A contextualização é apontada como o princípio fundamental para a

produção do conhecimento sistêmico. Isso porque por meio dela é possível

encontrar e revelar as inter-relações de um determinado fenômeno, ampliando

desse modo, campo de percepção do observador na compreensão de seu objeto de

pesquisa, que pode ser um fato, uma ideia ou um acontecimento.

Adotar uma abordagem sistêmica implica em utilizar recursos do

pensamento sistêmico no processo de investigação e estruturação de

conhecimentos em qualquer área do conhecimento.

É importante esclarecer que o pensamento sistêmico não é apenas uma

filosofia, é uma metodologia que envolve a produção de sínteses e gestão de

problemas a partir do pressuposto de uma mudança da perspectiva do

relacionamento do ser humano com seus semelhantes e destes com o meio

ambiente. Com recurso metodológico orienta ações que tem como finalidade

produzir mudanças de comportamentos, de valores éticos e de princípios, individuais

e coletivos.

No campo da museologia social a abordagem sistêmica (interdisciplinar,

processual e contextual) amplia a compreensão do bem cultural para além da

coleção, isto porque ele é percebido em um contexto repleto de inter-relações

sociais, econômicas, culturais, políticas, etc.

Esta inovadora estrutura conceitual, ou seja, uma nova forma de interpretar

e entender a realidade como uma rede dinâmica de inter-relações, contribui para

que o patrimônio cultural transforme-se em referencial capaz de permitir uma

compreensão ampla de aspectos de uma realidade, sendo assim a descrição do

bem cultural vai além da percepção e leitura estética.

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AN02FREV001/REV 4.0

71

b) Técnicas usadas na abordagem sistêmica

Para delimitar o contexto da ocorrência de um fenômeno estabelecendo

inter-relações e influências que representa fenômeno cultural (objeto ou

manifestação cultural) o conhecimento sistêmico utiliza algumas técnicas, como por

exemplo:

Descrição e interpretação dos contextos de interesse, considerando

seus principais elementos;

Compreensão do processo histórico, identificando os atores sociais

que possuem alguma relação com o objeto de pesquisa e exercem

influência sobre eles;

Desenvolvimento de um modelo teórico para representar as inter-

relações entre a dinâmica institucional (missão e propósito do museu) e

organizacional do setor (a gestão do museu);

Identificar as respostas, focalizando as diferentes estratégias adotadas

(método que foi adotado para a coleta e interpretação dos dados).

Neste tópico estudamos sobre os critérios científicos para a pesquisa

museológica e percebemos a potencialidade que possui os bens culturais quando

tratados como fonte de informações para a produção de conhecimentos.

9.2 INFORMAÇÕES SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL DE UMA COMUNIDADE:

O DIAGNÓSTICO

Conhecer os aspectos naturais e culturais de uma localidade permite ao

museólogo e a comunidade encontrar temáticas pertinentes à sua realidade para

implementar atividades coerentes com as necessidades sociais.

O relatório final do diagnóstico é um referencial importante para o

planejamento de ações estratégicas de preservação do patrimônio cultural que pode

ser usado para projetos de inclusão social, ou como recurso educacional, e turístico.

Page 37: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

72

Além do que é um primeiro passo para sistematizar informações que são úteis para

o registro e a produção de inventário cultural.

O diagnóstico deve ser realizado pela comunidade e coordenado pelo

museólogo, que desenvolverá as técnicas e instrumentos intelectuais apropriados

para a coleta e tratamento dos dados:

As informações básicas que devem ser coletadas são:

a) Localização;

b) Histórico;

c) Aspectos naturais, e o estado de conservação;

d) Patrimônio imaterial (as manifestações culturais);

e) Acervo arquitetônico e urbanístico;

f) Bens móveis;

g) Arquivos públicos e particulares;

h) Patrimônio arqueológico;

h) Sítios naturais.

As informações obtidas nesse levantamento devem ser tratadas como

matéria-prima para o planejamento de programas e ações que serão desenvolvidas

no museu e fora dele, com, e para a comunidade.

9.3 PRODUÇÃO E COMUNICAÇÃO DO CONHECIMENTO: A MONOGRAFIA

A pesquisa científica é uma atividade necessária para a produção do

conhecimento e, é o resultado de um processo de descoberta a partir da seleção,

observação, registro e sistematização dos dados com a finalidade de descrever uma

realidade ou um fenômeno.

O registro de uma pesquisa científica é feito por meio da elaboração de uma

monografia, documento adequado para a comunicação dos resultados obtidos,

devido aos critérios metodológicos exigidos para a sua elaboração.

A monografia organiza o resultado das observações, das leituras e das

reflexões feitas pelo pesquisador; ela documenta a observação e a coleta de

Page 38: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

73

informações de maneira sistematizada, estabelecendo relações entre as

informações e as observações registradas.

O desenvolvimento de uma monografia contém os seguintes tópicos ou

etapas. Sendo que dependendo da área e do objeto de estudo, algumas etapas ou

tópicos podem ser suprimidos ou desenvolvidos ao longo do trabalho:

O título do trabalho: trata do assunto trabalho. É mais abrangente que

um tema.

O tema: é a denominação específica do assunto, por isso não precisa

ser igual ao título da monografia.

O problema: a elaboração das questões que serão respondidas pela

pesquisa. Apresenta o objeto de estudo sob a forma de frase interrogativa.

A hipótese: é a provável resposta do problema. Um problema pode

sugerir várias hipóteses, por isso o pesquisador deve escolher para a investigação

as mais prováveis de serem verdadeiras, como também levar em consideração a

acessibilidade para a verificação.

O(s) objetivo(s): demonstrar as finalidades gerais da pesquisa, ou

seja, o que se pretende como resultado da pesquisa.

A justificativa: é a descrição do motivo da realização do tema

escolhido. Expressa o interesse e a importância do tema na área de conhecimento

em que se insere. Deve indicar o uso (prático e teórico) que se faz ou poderá ser

feito do estudo, seja de ordem social, histórica ou filosófica.

As fontes de dados: é a indicação das fontes de dados e/ou

informações a serem consultadas. Se for um dado primário, será preciso indicar,

além das informações a serem coletadas, as técnicas e os instrumentos que serão

utilizados para obtenção dos dados (questionários, entrevistas, observação). Se for

dado secundário, é preciso indicar os dados disponíveis e informar como serão

obtidos.

Page 39: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

74

A metodologia de pesquisa: indica como será realizada a pesquisa,

quais são os métodos e técnicas da coleta de dados que serão usados: se a

pesquisa será exploratória ou descritiva?

O sumário preliminar: é a apresentação dos itens que vão compor a

abordagem do tema.

As referências bibliográficas: é a relação de todas as fontes de

informações utilizadas e citadas ao longo do trabalho.

Webgrafia: devem constar os sites visitados e citados no trabalho.

Bibliografia: listagem das obras consultadas relacionadas ao tema,

mesmo que não estejam citadas no trabalho.

Cronograma: é o estabelecimento dos prazos das etapas; a

organização de datas das atividades que serão desenvolvidas no projeto.

Para facilitar, o pesquisador pode iniciar cada etapa, buscando responder as

quatro perguntas preliminares:

1) O Quê? O tema

2) Para quê? Os objetivos

3) Como? O método

4) Por quê? A justificativa

Estrutura e elementos da monografia

Segundo a NBR 14.724 – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,

2002), a estrutura da monografia apresenta elementos pré-textuais, textuais e pós-

textuais.

Page 40: Museologia Social 02

AN02FREV001/REV 4.0

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ESTRUTURA ELEMENTO

Pré-Textuais

Capa Folha de rosto Folha de aprovação Dedicatória* Agradecimentos* Epígrafe* Resumo na língua vernácula Resumo em língua estrangeira (espanhol, inglês ou francês) Lista de ilustrações* Lista de abreviaturas e siglas* Sumário

Textuais Introdução Desenvolvimento Conclusão

Pós-Textuais

Referências Bibliográficas Glossário* Apêndice* Anexo*

Nota: * Itens opcionais.

FONTE: Arquivo pessoal do autor.

Convém destacar a importância científica da pesquisa com o patrimônio

cultural, quando dentre outras coisas ela contribui para a validação da história oral

como fonte primária de informações; o aumento de interesse pela etno-história e

seus estudos sobre os modos de vida, das relações de produção e das

representações do passado e do presente de um grupo social; a realização de

pesquisas interdisciplinares interagindo com áreas de conhecimentos como a

antropologia, geografia, história da tecnologia, história das mentalidades, etc.

FIM DO MÓDULO II