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ESTRESSE EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: PESQUISA DE CAMPO NAS ÁREAS MATERNIDADE E UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Stress in nursing, particularly in the areas of Maternity and Intensive Care Unit Jaqueline de Andrades Modinger- [email protected] Simoni David Parente – [email protected] Graduandas do UNISALESIANO Profª. Ma. Elizeth Germano Mattos – UNISALESIANO [email protected] RESUMO São objetivos centrais deste estudo: avaliar a presença ou não de estresse e sintomatologia em Técnicos de Enfermagem alocados nas áreas Maternidade e UTI; e comparar a presença ou não de estresse e sintomatologia nos Técnicos de Enfermagem considerando-se as áreas nas quais estão alocados e suas especificidades. A pesquisa de campo foi realizada na Associação Hospitalar Santa Casa, situada no município de Lins, SP, entre os meses de maio a outubro de 2013. Trata-se de uma pesquisa descritiva, com caráter exploratório e análise qualitativa, tendo como métodos a Observação Sistemática e a Pesquisa de Campo. Técnicas utilizadas: Roteiro de Observação Sistemática; Roteiro de questionário para os Técnicos de Enfermagem e; Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp - ISSL. Participam da pesquisa 20 Técnicos de Enfermagem atuantes nas áreas de Maternidade e UTI da referida instituição. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da aplicação dos instrumentos de pesquisa. Os dados coletados são apresentados na forma descritiva e narrativa, mediante apresentação dos resultados em forma de tabelas, gráficos e citações transcrevendo a fala dos participantes seguida da análise dos dados. Com base nos dados obtidos por meio do questionário verifica-se que 67% dos participantes consideram a profissão estressante devido ao contato direto com pacientes, doenças e situações inusitadas. Por meio do ISSL constata-se que dos nove profissionais atuantes na maternidade, quatro apresentam estresse e dos 11 profissionais alocados na UTI, dois revelam a presença de estresse. Evidencia-se a ausência do Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.9, jul/dez de 2013

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ESTRESSE EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: PESQUISA DE CAMPO NAS ÁREAS MATERNIDADE E UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Stress in nursing, particularly in the areas of Maternity and Intensive Care Unit

Jaqueline de Andrades Modinger- [email protected] David Parente – [email protected]

Graduandas do UNISALESIANOProfª. Ma. Elizeth Germano Mattos – UNISALESIANO

[email protected]

RESUMO

São objetivos centrais deste estudo: avaliar a presença ou não de estresse e sintomatologia em Técnicos de Enfermagem alocados nas áreas Maternidade e UTI; e comparar a presença ou não de estresse e sintomatologia nos Técnicos de Enfermagem considerando-se as áreas nas quais estão alocados e suas especificidades. A pesquisa de campo foi realizada na Associação Hospitalar Santa Casa, situada no município de Lins, SP, entre os meses de maio a outubro de 2013. Trata-se de uma pesquisa descritiva, com caráter exploratório e análise qualitativa, tendo como métodos a Observação Sistemática e a Pesquisa de Campo. Técnicas utilizadas: Roteiro de Observação Sistemática; Roteiro de questionário para os Técnicos de Enfermagem e; Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp - ISSL. Participam da pesquisa 20 Técnicos de Enfermagem atuantes nas áreas de Maternidade e UTI da referida instituição. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da aplicação dos instrumentos de pesquisa. Os dados coletados são apresentados na forma descritiva e narrativa, mediante apresentação dos resultados em forma de tabelas, gráficos e citações transcrevendo a fala dos participantes seguida da análise dos dados. Com base nos dados obtidos por meio do questionário verifica-se que 67% dos participantes consideram a profissão estressante devido ao contato direto com pacientes, doenças e situações inusitadas. Por meio do ISSL constata-se que dos nove profissionais atuantes na maternidade, quatro apresentam estresse e dos 11 profissionais alocados na UTI, dois revelam a presença de estresse. Evidencia-se a ausência do profissional psicólogo na instituição. Considerando a análise dos dados, ressalta-se a importância da inserção do profissional de Psicologia a fim de contribuir para o enfrentamento, redução, controle e prevenção do estresse no ambiente de trabalho.

Palavras-chave: Estresse. Enfermagem. Psicologia.

ABSTRACT

Main objectives of this study are : to assess the presence or absence of stress and symptomatology in Nursing Technicians allocated areas Maternity and ICU and to compare the presence or absence of stress and symptomatology in Nursing Technicians considering the areas in which they are allocated and their specificities . The field research was conducted in the Santa Casa Hospital Association , located in

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the city of Lins , SP , between the months May to October 2013. This is a descriptive research with exploratory and qualitative analysis , and methods as the Systematic Observation and Field Research . Techniques used : Systematic Observation Guide ; Roadmap questionnaire for Nursing and Technicians ; Inventory of Stress Symptoms for adults Lipp - ISSL . Participating were 20 nursing technicians working in the areas of Maternity and ICU of the institution . All participants signed an informed consent form prior to the application of research tools . The collected data are presented in a descriptive and narrative , by presenting the results in tables , charts and quotes transcribing the speech of participants followed by data analysis. Based on the data obtained through the questionnaire it appears that 67 % of respondents considered the profession stressful due to direct contact with patients , diseases and unusual situations . Through ISSL notes that the nine professionals working in maternity four present stress and 11 professionals working in the ICU , two reveal the presence of stress . This confirms the absence of the professional psychologist at the institution . Considering the analysis of the data , it emphasizes the importance of the inclusion of professional psychology in order to contribute to the coping , reduce , control and prevention of stress in the workplace .

Keywords: Stress. Nursing. Psychology.

INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema surgiu em decorrência da constatação da importância

do bem estar do profissional em ambiente organizacional.

Segundo Hans Selye (1936), o stress é um conjunto de reações que ocorrem

em um organismo quando está submetido a um esforço de adaptação.

Para França e Rodrigues (1999) em relação ao stress no trabalho, ele é

definido como as situações em que a pessoa percebe seu ambiente de trabalho

como ameaçador as suas necessidades de realização pessoal e profissional e ou a

sua saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o

ambiente de trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a

ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações.

A presença do estresse no ambiente de trabalho pode trazer fatores negativos

para a instituição, como, falta de motivação dos colaboradores e tensão no ambiente

de trabalho, com isso, os colaboradores podem não se sentir motivados a prestar

um bom serviço e consequentemente pode diminuir o rendimento da instituição,

prejudicando diretamente os pacientes.

Neste estudo não se aspira esgotar a discussão sobre o estresse, assim

como quanto às possibilidades de intervenção da Psicologia no que diz respeito ao

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estresse de Técnicos de Enfermagem atuantes, especialmente, nas áreas de

Maternidade e UTI.

Entende-se como importante identificar a presença ou não de estresse no

ambiente hospitalar, em especial nas áreas Maternidade e UTI, a fim de verificar se

há presença de estresse nestas áreas e qual a sintomatologia. Tendo em vista

analisar as condições ambientais de cada uma destas áreas e de suas

especificidades, inclusive questões relativas à carga horária, turno de trabalho,

necessidade de dar um atendimento imediato ao paciente e a dificuldade com

relação aos recursos disponíveis no ambiente hospitalar.

1 Definição de estresse e sua sintomatologia

De acordo com França e Rodrigues (1999) o termo stress vem da Física, e

nesse campo de conhecimento tem como sentido o grau de deformidade que um

objeto sofre quando é exposto a um esforço. Selye utilizou o termo estresse pela

primeira vez em 1936, e o termo denominava o conjunto de reações que o

organismo sofria ao ser submetido a uma situação que exigia esforço de adaptação.

A partir da teoria de Selye outros expoentes ousaram definir o termo estresse,

construindo um conceito mais abrangente, passando da perspectiva essencialmente

biológica para a biopsicossocial, psicologia e social do ser humano, no que implica

uma reação interativa entre o individuo e o contexto em que está inserido.

(BELANCIEIRI, 2005).

Segundo Lipp (apud CAMPOS, 2007) o estresse é uma reação complexa com

componentes físicos, psicológico, mentais e hormonais e essa reação ocorre diante

de qualquer desafio seja ele positivo ou negativo que o ser humano tenha que

enfrentar, e essa forma de enfrentamento vão depender de cada pessoa.

França e Rodrigues (1999) definem o estresse como a relação de uma

pessoa e o ambiente em que ela está inserida e as circunstâncias nas quais ela esta

submetida, que a pessoa entende como uma iminência ou algo que exige dela mais

do que os seus recursos e habilidades e que pode colocar o seu bem estar em

perigo. Não apontam somente fatores estressores (internos e externos), mas

também a maneira de como a pessoa reage e enfrenta as situações que para elas

são consideradas nocivas. Os autores citados tem em comum o fato de que eles

avaliam o estresse como um processo e não um estado.

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Podemos hoje compreender melhor o fenômeno stress. E sabemos que ele, em si, não é bom nem ruim. E que é impossível e indesejável erradicá-lo. Ao contrário, ele pode ser um recurso importante e útil para uma pessoa fazer frente ás diferentes situações de vida que ela enfrenta em seu quotidiano. A resposta ao stress, ou melhor, é ativada pelo organismo, com o objetivo de mobiliar recursos que possibilitem ás pessoas enfrentarem situações – as mais variadas- que são percebidas como difíceis e que exigem delas esforço. (FRANÇA; RODRIGUES, 1999, p. 25-26).

Segundo França e Rodrigues (1999) a todo instante as pessoas fazem o

movimento de adaptação, ou seja, tentativas de ajustar as diversas formas de

exigência, sendo do ambiente externo quanto o interno. Toda a reação de adaptação

do organismo estará sob o efeito do stress.

De acordo com Lipp (1994 apud CAMELO; ANGERAMI, 2004, p.16) diante do

estresse o indivíduo pode apresentar possíveis reações físicas e emocionais. Ao

nível físico, a ocorrência de sinais e sintomas de maior frequência inclui: aumento da

sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da mandíbula, ranger

de dentes, hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Ao nível psicológico podem

ocorrer sintomas como: ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades

interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, preocupação excessiva, inabilidade de

concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao estressor, dificuldade

de relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva.

A presença do estresse no indivíduo pode desencadear doenças. E caso não

ocorra o alívio da tensão a pessoa poderá se sentir, cada vez mais, exaurida, sem

energia e depressiva. Fisicamente algumas doenças podem acometer o indivíduo

dependendo da herança genética. Podem ocorrer: úlceras, hipertensão, crise de

pânico, de herpes e outras doenças. A ausência de um tratamento especializado

que considere as características pessoais poderá tornar-se um risco para a

ocorrência de problemas graves, como: enfarte, acidente vascular encefálico, dentre

outros. De forma que, o estresse não causa, mas propicia o desencadeamento de

doenças, para as quais o indivíduo já apresentava predisposição, ou pode reduzir a

defesa imunológica, abrindo espaço para o surgimento de doenças oportunistas.

(LIPP 1996 apud CAMELO; ANGERAMI, 2004)

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2 Técnico de Enfermagem X Estresse

A Enfermagem é uma profissão marcada por constante convivência com

ocasiões de impacto, que poderão ser vivenciadas com uma maior carga de

ansiedade e tensão, podendo aparecer alguns sintomas de estresse, o que pode

prejudicar o desempenho profissional, e resultar em problemas de saúde.

De acordo com Miranda (1998), o principal lócus de trabalho da Enfermagem ainda é o hospital, caracterizado por um ambiente insalubre, com uma grande variedade de riscos, o que favorece a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho. (BELANCIEIRI, 2005, p. 52)

Segundo Bulhões (apud BELANCIERI, 2005) o ambiente hospitalar apresenta

vários fatores que poderão afetar a saúde do trabalhador. E ainda ressalta que os

riscos para os trabalhadores da área da Enfermagem são maiores, pois eles se

constituem no maior grupo de profissionais de saúde que tem contato direto com os

doentes.

O ambiente hospitalar contém fatores que geram insalubridade e sofrimento

aos profissionais que atuem nele e a Enfermagem é apontada por vários estudos

como uma profissão que tem uma maior disposição para apresentar um nível de

estresse ocupacional. (COSTA; MARTINS, 2011).

3 Atuação em Maternidade: fatores estressores

Segundo Tamez e Silva (2006) a estrutura para receber os recém-nascidos

deve levar em conta os avanços tecnológicos disponíveis e terapêuticos a fim de

atender as necessidades dos mesmos. E toda a organização e planejamento esta

área, incluindo a escolha do material, recursos humanos e planta física, necessita

enfatizar o cuidado centrado na família em todos os aspectos da assistência, da

admissão até a alta hospitalar, e a assistência integral ao recém-nascido.

É necessário que a equipe de enfermagem, na assistência hospitalar na

maternidade e no alojamento conjunto, esteja capacitada para cuidar do recém-

nascido. Importante esclarecer que, o alojamento conjunto refere-se à acomodação

precoce do recém-nascido ao lado do leito da mãe para que a mesma possa tocá-lo,

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aprendendo a cuidar de si mesma e do seu filho sob a supervisão e orientação da

equipe multiprofissional.

A atuação da equipe de enfermagem junto com neonatologista consiste em

estar atento aos cuidados ao prestados ao recém-nascido, no controle de infecção,

na revisão sistemática dos equipamentos, como também, na supervisão de preparo

de medicamentos, lavagem das mãos, observação do relacionamento mãe-filho e

demais familiares, aleitamento materno, orientações para a alta e acompanhamento

após a saída da maternidade. (BARROS; MARIN; ABRÃO, 2002).

As enfermeiras que coordenam os serviços de assistência ao recém nascido, tanto na maternidade como em ambulatórios de consulta de enfermagem, mantenham programas educativos que apresentem soluções simples, mediante orientações com a participação ativa de mães e familiares responsáveis pela a criança.O treinamento da equipe de enfermagem e demais profissionais da saúde que atuam na maternidade é essencial para a melhoria da qualidade de assistência e saúde puérpera e do bebê. (BARROS, MARIN, ABRÃO, 2002, p. 285).

Atualmente a equipe de enfermagem materno-infantil é responsável pela

assistência da gestante do inicio ao fim do trabalho de parto, e em sequência é

responsável pelos cuidados ao recém-nascido e à mulher até a alta. (BRANDEN,

2000).

Nesse ambiente de atuação da equipe de enfermagem pode ocorrer o

estresse devido ao número reduzido de enfermeiros na equipe de enfermagem, as

dificuldades em delimitar os diferentes papéis entre enfermeiro, técnico de

enfermagem e atendentes e também devido à carga horária longa, os baixos

salários e a falta de vagas no mercado.

Conforme Stacciarini e Troccoli (2001) alguns estudos indicam que a equipe

de enfermagem que atua em área de ambiente critico está mais propensa ao

estresse. Mas, também existem outros autores que não diferenciam o nível de

estresse da equipe de enfermagem em ambiente critico quando comparados a uma

população normativa.

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3 Atuação em UTI: fatores estressores

A forma de trabalho de uma UTI deve ser definida a partir da sua organização.

É necessário ter uma equipe interdisciplinar composta por médicos, enfermeiros,

arquitetos, engenheiros e administradores que precisam avaliar as características da

UTI, os serviços que serão proporcionados, os critérios de alta, a demanda e a taxa

esperada de ocupação. É preciso também uma avaliação minuciosa dos recursos

humanos, das equipes médicas, de enfermagem, fisioterapia, farmácia, nutrição e

psicologia, entre outras. A avaliação depende das características da unidade e da

disponibilidade de serviços de apoio (laboratórios, radiologia e outros). (KNOBEL,

2006).

Segundo Knobel (2006) as instituições hospitalares precisam trabalhar com

profissionais de enfermagem diferenciados, capazes de gerenciar a assistência de

forma a obter resultados melhores assistenciais a um custo compatível. Atualmente

o papel das atividades humanas nos hospitais não está mais relacionado somente a

descrição de cargo, mas sim a um perfil capaz de trazer a instituição inteligência,

dinamismo e criatividade.

O enfermeiro da UTI deve ter um preparo especial. Cuidar de pacientes em UTI demanda conhecimentos muito específicos e diferenciados. Todos os pacientes são graves e muitos deles inconscientes, confusos ou incapazes de se comunicarem. A alta rotatividade dos pacientes e o constante contato com a morte causam frequentemente sentimentos de aproximação e separação que não são facilmente suportados pela equipe. Os enfermeiros trazem sobre si a responsabilidade da vigilância contínua dos pacientes e dos equipamentos em uso e da interpretação de alterações de sinais e sintomas clínicos, devendo adotar medidas iniciais de emergência. (KNOBEL, 2006, p. 18)

Para a equipe de enfermagem da UTI é indispensável a fundamentação

teórica ligada a capacidade de apreensão, tomada de decisão, trabalho em equipe,

iniciativa, liderança e responsabilidade. A equipe deve estar bem treinada para

atender o paciente e a manejar os equipamentos com segurança. É necessário

também que seja desenvolvido com a equipe de enfermagem um trabalho

comportamental, discussões interdisciplinares, para que o ambiente de trabalho não

se torne impessoal, pois os enfermeiros lidam com sucessão de emergências,

frequentes oscilações do estado dos pacientes e falta de comunicação com os

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mesmos e com a equipe, o que pode ocasionar estresse na equipe de enfermagem.

(KNOBEL, 2006)

Conforme Knobel (2006) a equipe de enfermagem na UTI atua junto ao

paciente e a família no sentido de minimizar os transtornos e efeitos da

hospitalização. Inicialmente a assistência de enfermagem na UTI era focada

somente no paciente, em sua evolução, observação e monitoração de complicações

e, pouca importância era dada para os problemas sociais e familiares. Atualmente as

instituições estão incluindo a assistência humanizada dentro dos hospitais, sendo

papel do enfermeiro preparar a equipe para o recebimento do familiar na UTI e

cuidar também da família de forma que a mesma participe do cuidado com o

paciente.

Para Knobel (2006) é possível observar que a equipe de enfermagem tem um

contato direto com os pacientes hospitalizados na UTI e isso pode desencadear

reações emocionais nesses profissionais por meio do contato contínuo com

pacientes em situação de crise ou terminalidade e pode implicar no desenvolvimento

de sintomas patológicos, em especial, transtornos depressivos e de ansiedade.

Porém, existem outras condições em que, mesmo não expondo alterações físicas ou

psíquicas o profissional sofre. Este sofrimento poderá ser agravado pelo despreparo

na formação profissional, devido a sobrecarga no trabalho e diante da insatisfação,

podendo representar no contexto hospitalar, uma dificuldade no relacionamento com

os pacientes e equipe.

O stress experimentado pelo profissional da UTI consiste em um conjunto de reações progressivas, físicas, psicológicas e comportamentais a estímulos “nocivos” contínuos. Essas reações têm sido descritas por meio de uma síndrome bem caracterizada chamada “Burnout”. As reações psicológicas e comportamentais ligadas a esta síndrome são descritas como uma tendência a pensamentos negativos, perda de energia, desânimo, chegando até a sintomatologia de ansiedade intensa e depressão. (KNOBEL, 2006, p. 44)

As condições de trabalho também são fator de grande impacto para a equipe

de saúde que trabalha na UTI, pois a sobrecarga de trabalho, aliada a baixas

condições de atenção á saúde dos pacientes por falta de materiais e equipamentos,

traz ao profissional um elevado grau de insatisfação, o que pode desencadear o

estresse e devido a isso é importante prevenir o estresse laboral dentro desse

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ambiente, para promover a saúde dos profissionais que atuam na com saúde.

(KNOBEL, 2006).

4 Pesquisa de campo

São objetivos deste estudo, avaliar a presença ou não de estresse, fase e

sintomatologia em Técnicos de Enfermagem alocados nas áreas de Maternidade e

UTI atuantes na Associação Hospitalar Santa Casa de Lins; e comparar os

resultados considerando-se as áreas nas quais os participantes estão alocados e

suas especificidades.

Participaram da pesquisa 20 Técnicos de Enfermagem, sendo nove

profissionais alocados na Maternidade, e 11 alocados na UTI. O turno de trabalho

dos participantes incluiu o horário diurno e noturno. O critério de inclusão foi o de

estar devidamente contratado pelo hospital, podendo ser de ambos os sexos, aceitar

participar do estudo mediante a assinatura do TCLE, e estar alocado

especificamente em uma das duas áreas, Maternidade ou UTI. Foram excluídos

deste estudo os Técnicos de Enfermagem alocados nestes dois setores que se

encontravam afastados da atividade laboral.

A apresentação e análise dos dados segue a seguinte sequência: exposição

das categorias descritivas; caracterização e enfoque dos Técnicos de Enfermagem;

e avaliação do estresse mediante aplicação do ISSL.

As categorias descritivas foram definidas com forma de análise dos

questionários aplicados nos Técnicos de Enfermagem, participantes deste estudo.

Ou seja, as categorias serviram como forma de agrupamento de questões,

separando-as por temas e/ou assuntos.

Para definir as categorias foi necessário primeiramente identificar os

conteúdos de cada questão. Os assuntos tratados no questionário foram, portanto,

reordenados em categorias, foram separados por assunto.

O quadro 1 apresenta as categorias descritivas utilizadas para analisar as

respostas dos participantes.

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Quadro 1: Categorias descritivas para os Técnicos de Enfermagem

CATEGORIA I Atribuições ProfissionaisCATEGORIA II Percepção sobre o ambiente de trabalhoCATEGORIA III Dificuldades encontradas no desempenho da funçãoCATEGORIA IV Considera a profissão estressanteCATEGORIA V Gosta da área na qual está alocado

CATEGORIA VI Percepção do trabalho desenvolvido no setor em que está alocado.

Fonte: PARENTE; MODINGER, 2013

As informações coletas sobre a caracterização dos profissionais e o enfoque

dos mesmos sobre questões relativas ao trabalho, à instituição, e a outras questões

ligadas ao estresse ocupacional, foram subtraídas do questionário.

Todos os Técnicos de Enfermagem receberam o questionário, de forma

individual, sendo estipulado o prazo de uma semana para entrega a contar a partir

da data do recebimento do mesmo.

No entanto, dos 20 questionários entregues, 14 foram respondidos e

devolvidos na data determinada pelos pesquisadores e, seis questionários foram

descartados pelo fato de não terem sido respondidos.

Em todo o processo, houve a preocupação em preservar o anonimato do

participante.

As questões específicas do questionário são analisados mediante as seis

categorias descritivas definidas pelos pesquisadores.

A análise das categorias descritivas dos Técnicos de Enfermagem indica as

opiniões e percepções dos participantes quanto às atribuições profissionais,

ambiente de trabalho, dificuldades encontradas no desempenho das funções, se o

participante considera sua profissão estressante, se gosta do setor no qual está

alocado e a percepção em relação à instituição na questão da prevenção do

estresse.

No questionário verificou-se que, 67% dos que responderam consideram sua

profissão estressante, os itens que foram citados como insatisfatórios foram:

relacionamento com a equipe e número de funcionários versus a demanda por

serviços, os itens citados como regular foram: recursos disponíveis, atuação dos

gestores, administração do tempo e pontualidade.

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Os participantes também foram submetidos à aplicação o Inventário de

Sintomas de Stress para Adultos de Lipp – ISSL em 20 Técnicos de Enfermagem

sendo 45% alocados na Maternidade e 55% alocados na UTI adulto.

Gráfico 1 – Setor de trabalho dos Técnicos de Enfermagem

Fonte: PARENTE; MODINGER, 2013.

Dos participantes, 30% apresentaram a presença de estresse, o que

corresponde a seis profissionais. Destes 66,6% atuam na Maternidade (quatro

profissionais) e 33,3% estão alocados na UTI (dois profissionais).

Gráfico 2 – Presença de estresse nos Técnicos de Enfermagem

Fonte: PARENTE; MODINGER, 2013.

Verifica-se que os quatro profissionais atuantes na Maternidade, sendo todos

do sexo feminino, apresentaram estresse, na Fase de Resistência, com

predominância de Sintomas Psicológicos. O mesmo resultado foi verificado com os

dois profissionais da UTI, sendo um do sexo masculino e outro do sexo feminino.

O estresse é uma reação do organismo com componentes psicológicos,

físicos, mentais e hormonais que ocorre quando surge a necessidade de adaptação

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a um evento ou uma situação de grande importância. Sendo negativo ou positivo.

(LIPP, 2000).

A Fase de Resistência é caracterizada por um período onde agentes

estressores se acumulam e o organismo entra em ação para impedir o desgaste

total de energia entrando na fase de resistência, quando resiste aos estressores e se

tenta, inconscientemente, reestabelecer o equilíbrio interior (homeostase) que foi

quebrado na Fase de Alerta. A produtividade cai dramaticamente. É caracterizada

pela produção de cortisol. A vulnerabilidade da pessoa a vírus e bactérias se

acentua. (LIPP, 2000)

De acordo com Lipp (2000) há algumas recomendações para prevenir e

controlar o estresse, dentre as quais:

a) a alimentação, para repor as energias, vitaminas e nutrientes que podem

ser utilizados nos momentos de maior estresse, consumir verduras, de

preferência cruas só feitas no vapor, e em casos de insônia não deixar de

tomar um copo de leite antes de dormir ou de comer um pouco de gergelim

que é rico em cálcio e ajuda o sono;

b) técnicas de relaxamento, como exercícios de respiração profunda, yoga,

relaxamento muscular, músicas, filmes, leitura. o relaxamento ajuda a

eliminar o excesso de adrenalina produzida e restabelece a homeostase

interna do organismo;

c) praticar exercícios físicos por pelo menos meia hora, pois o corpo produz

uma substância chamada “beta endorfina” que produz uma sensação de

tranquilidade e bem estar;

d) estabilidade emocional para manter uma atitude positiva perante a vida,

procurar ver o lado bom das coisas e refletir sobre as prioridades;

e) ter uma boa qualidade de vida nas áreas social, afetiva, profissional e a

que se refere à saúde.

A devolutiva desta etapa da pesquisa foi realizada de maneira individual,

ocasião na qual foi apresentado o resultado obtido no ISSL. Explicou-se sobre a

identificação da presença de estresse, e foi explicado sobre a fase na qual eles se

encontram e as medidas de prevenção. Após a apresentação dos resultados junto

aos Técnicos de Enfermagem foi-lhes entregue por escrito algumas orientações

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sobre o conceito teórico do estresse e algumas recomendações para prevenção,

coforme sugestão contida no final do manual do ISSL (LIPP, 2000).

Foi possível observar que os Técnicos de Enfermagem ficaram satisfeitos em

receber a devolutiva do ISSL e de orientações sobre como prevenir e controlar o

estresse.

Considerando a hipótese de trabalho deste estudo e os resultados obtidos

mediante os instrumentos aplicados verifica-se que a área de atuação dos Técnicos

de Enfermagem pode exercer forte influencia sobre o aparecimento de sintomas de

estresse. Porém, a ideia inicial de que na UTI é mais desgastante atuar do que na

maternidade, pelo fato da UTI apresentar maior possibilidade de lidar com a morte,

sendo, portanto, mais propensa ao estresse, não foi confirmada neste estudo.

Percebe-se que há diferença em trabalhar na Maternidade e na UTI, devido às

especificidades de cada área.

Com base na análise dos dados obtidos no ISSL verificou-se que 30% dos

profissionais apresentaram sintomas de estresse, sendo que 100% desses estão na

fase de resistência, com predominância de sintomas psicológicos. Sendo que,

66,6% dos Técnicos de Enfermagem atuam na Maternidade e 33,3% dos Técnicos

de Enfermagem atuam na UTI.

Estes dados conduzem à conclusão de que, ao contrário da hipótese inicial, o

que leva os profissionais dessa área A apresentarem sintomas de estresse não é

necessariamente o fato de lidar com a vida ou a morte (Maternidade e UTI) e sim,

questões internas da instituição, como relacionamento com a equipe, número

reduzido de funcionários considerando a demanda de serviços e os demais citados a

cima.

É importante mencionar também um aspecto observado durante a elaboração

do Roteiro de Observação Sistemática, que é a situação de “silêncio” no ambiente

da UTI, pelo fato de lidar com pacientes que, na maior parte do tempo, encontram-se

inconscientes.

Pode-se inferir que a maior dificuldade no setor da UTI esteja relacionada à

família dos pacientes, e à atenção aos recursos necessários e controle dos

equipamentos. Já na Maternidade os profissionais atendem tanto as gestantes que,

na maioria das vezes, chegam ao hospital com muita dor, tensas e inseguras com

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Page 14: CANAIS DE MARKETING - UNISALESIANO - · Web viewThrough ISSL notes that the nine professionals working in maternity four present stress and 11 professionals working in the ICU , two

relação ao nascimento dos filhos, o que pode deixar o ambiente mais estressante,

além de atender aos familiares, visitantes e ao recém-nascido.

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou compreender com maior clareza que a Enfermagem é

uma profissão na qual os trabalhadores estão em contato direto com pacientes e

doenças e situações de alerta e inesperadas, e esses fatores podem desencadear

sintomas de estresse. Por meio do questionário e da aplicação do ISSL verificou-se

respectivamente a percepção dos profissionais quanto às suas atribuições e a

relação destas com o estresse, assim como a presença do estresse nestes

profissionais.

REFERÊNCIAS

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