caminhar a partir da palavra… em tempo do capítulo provincial · bondade, ó senhor, fala-me e...

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A Palavra é fonte de renovação da comunidade Caminhar a partir da Palavra… em tempo do Capítulo provincial A Palavra «conta histórias de vida, alimenta a esperança, purifica o nosso olhar sobre o mundo» e «dá-nos luz para discernir os caminhos de Deus no seguimento de Jesus Cristo». (MHBN, 14) XX Capítulo provincial

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A Palavra é fonte de renovação da comunidade

Caminhar a partir da Palavra… em tempo do Capítulo provincial

A Palavra «conta histórias de vida, alimenta a esperança, purifica o nosso olhar sobre o mundo»

e «dá-nos luz para discernir os caminhos de Deus no seguimento de Jesus Cristo».

(MHBN, 14)

XX Capítulo provincial

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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8 - 13. Outubro 2012

…a missão de Jesus cumpre-se no Mistério Pascal: aqui vemo-nos colocados diante da «Palavra da cruz»…. O Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se «disse» até calar, nada retendo do que nos devia comunicar. (…) «Está sem palavra a Palavra do Pai (…). Aqui, verdadeiramente comunica-se-nos o amor «maior», Aquele que dá a vida pelos próprios amigos.

(Bento XVI – A Palavra do Senhor, nº 12)

MOTIVAÇÃO DA LECTIO DIVINA

Viver a Palavra e da Palavra … em tempo de Capítulo provincial

O Capítulo provincial é um momento de graça na vida da nossa Província, um tempo para fazer memória, agradecer, e acolher os desafios actuais. Como comunidade capitular, queremos abrir o nosso coração à Palavra, acolhê-la, escutá-la, contemplá-la, guardá-la, fazer dela a Luz da nossa vida e caminhar em Hospitalidade. A Palavra gera comunhão e neste sentido pedimos a colaboração a algumas irmas para preparar a lectio divina do Evangelho do dia, com matiz hospitaleiro, partilhando conosco o tesouro da Palavra. Que a Palavra de Deus nos acompanhe em cada dia, nesta busca contínua da Sua vontade, e faça de nós instrumentos credíveis e significativos na construção do Reino e nos ajude a fazer vida do lema capitular.

Que o Espírito nos ilumine a recrear a hospitalidade!.

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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8 de Outubro

2ª feira da XXVII T. Comum

O que usou de misericórdia para com ele

Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»

Sentido de busca: “Mestre que hei-de fazer para possuir a vida eterna?” Quem sou? “E quem é o meu próximo?” Que caminhos percorro? “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó (…) por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote, (…). Do mesmo modo, também um levita (…). Mas um samaritano chegou ao pé dele e…”

Texto: Lc 10, 25-37

Lectio: O que me diz o texto?

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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Qual o meu olhar? “e, vendo-o encheu-se de piedade. Aproximou-se…” Envio/Compromisso… “Vai e faz tu também do mesmo modo”

Sentido de busca: “Mestre que hei-de fazer para possuir a vida eterna?” Esta pergunta coloca-me em sintonia com Deus… qual criança, pergunto por onde ir e estou atenta à resposta pela vocação recebida na missão confiada. Nesta busca vou-me descobrindo e descobrindo Deus no meu caminhar hospitaleiro… Quem sou? “E quem é o meu próximo?” A resposta a muitas das nossas questões não estão exatamente em nós, mas nos nossos próximos …descentrar-me de mim para me Encontrar em Deus nos Irmãos. (Art. 2, 3, 4 e 5 Constituições) Ct 660 “ Na prática da caridade hospitaleira coma as doentes, lembrai-vos que cada uma representa ao vivo nosso Senhor Jesus Cristo…” Que caminhos percorro? “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó (…) por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote, (…). Do mesmo modo, também um levita (…). Mas um samaritano chegou ao pé dele e…” Analisar os caminhos percorridos leva-nos a Ser Mais Hospitalidade e a viver mais o sentido do Serviço, Quais verdadeiras mães em profunda de dedicação (RMA, pg. 206-207; Art. 60 e 61 Constituições) Qual o meu olhar? “e, vendo-o encheu-se de piedade. Aproximou-se…” Antes de lançar o meu olhar no Horizonte Hospitaleiro, é importante deixar-me Olhar pela piedade de Jesus Cristo … só a partir do Seu Olhar consigo olhar à minha volta … Penso ser interessante colocar em paralelo com texto bíblico uma “cena viva” da nossa história, por isso coloco o testamento de Maria Josefa e o acolhimento da primeira Doente. Nestas “cenas” podemos iluminar o nosso agir, o meu agir… Hoje, aqui e agora como olho o meu Próximo? Envio/Compromisso… “Vai e faz tu também do mesmo modo” No tempo que me toca viver e no local onde estou, como me comprometo? Trazer à memória e ao coração o meu dia a dia… sinto-me enviada como samaritana de hoje? Elaborar um pequeno, possível e prático compromisso hospitaleiro.

Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

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Colocar-me em atitude de confiança e esperar… Deus vem, aproxima-se e com piedade vai ligar a minha fragilidade na sua fidelidade, na sua ternura… Nesta atitude confiança e abandono trazer ao coração os momentos que me deixei sanar para ir em seu Nome e Ser Sanação. Rezar o compromisso hospitaleiro que fiz – trazer ao coração o propósito de SER Mais Hospitalidade… Neste ponto sugiro balbuciar as palavras de Bento Menni na carta 446 “A Tua bondade, ó Senhor, fala-me e transforma-me” ou da carta 209 “Sinto nascer em mim um grande desejo: ser todo do meu Jesus”.

ORAR – Em tudo o que realizo sentir-me enviada deste Samaritano – SER Marta e Maria no quotidiano. Rezar, oferecer a Deus cada tarefa é já por si algo que me mantém em relação constante com Deus. Em cada amanhecer oferecer a Deus os meus planos e projetos… Visitas, mesmo que curtas ao sacrário. Quando me desloco de um lado para o outro rezar uma avé Maria, por exemplo. Rezar por cada uma das irmãs que me são dadas – apresenta-las com tudo o que são e têm – ajuda a tomar consciência da construção da fraternidade. SERVIR – Dar bom dia, boa tarde ao que chega e ao que passa. Descer do meu eu (da minha montada, burro) e ir ao encontro do outro, do próximo. AMAR – Insistir no perdão pessoal e para com o próximo. Praticar o exercício de abrir o coração ao próximo, mesmo que pense e sinta diferente. Evitar projetar no outro a minha medida, mas assumi-lo a partir da sua medida e da medida do amor de Cristo Hospitaleiro. Recordar que “Jesus quer servir-se da nossa docilidade para fazer através de nós obras grandes” (ct. 144)

Fernanda Esteves, hsc

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

Oratio: O que dizemos nós a Deus como resposta à sua Palavra?

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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9 de Outubro 3ª feira da XXVII T. Comum

Andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária

Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»

Jesus peregrino, interrompe o caminho e deixa-se ‘agasalhar’ no seio do lar de Betânia (cf. C. 494), por Marta e Maria. Marta como mulher judia segue todo o ritual da hospitalidade, acolhe O hóspede com disponibilidade, dividindo-se e multiplicando-se para O servir abundantemente. Maria, livre diante das regras, encantada pela presença do Mestre e seduzida pelo seu olhar e pela sua Palavra irresistível, assume a posição de discípula e sentada aos seus pés faz do silêncio uma escuta transformadora e revitalizante. Nada ocupa Maria naquele encontro, pessoal e íntimo, com Jesus. Nada a divide, por isso está inteira para amar e deixar-se amar (cf. Const. 6). Nada e ninguém pode separar Maria do amor do Mestre, a experiência de ser amada é irrevogável (cf. Const. 10) e ninguém lha pode tirar.

Impulsionadas pelo amor ao próximo podemos afanar-nos e servir o outro, solícita e incansavelmente, como Marta até perder a paz e o motivo da nossa entrega. É possível fazer tudo em favor do Mestre, pelo Mestre e para o Mestre,

Texto: Lc 10, 38-42

Lectio: O que me diz o texto?

Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

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mas faltar o essencial: estar com o Mestre. Como aprendizes da compaixão do Mestre somos desafiadas a completar a atitude de Maria com a de Marta. Despidas perante a nossa fragilidade, Jesus pode repetir o nosso nome desafiando-nos a viver como discípulas apaixonadas, centradas n’ele, enviadas a servir o irmão que sofre. Como recebo Jesus na intimidade? Fico extasiada “aos pés do Divino Mestre” (RMA, p. 140) e exclamo ‘Donde me é dado que venha a mim o meu Senhor’? Estou preocupada com o que vou oferecer ao Mestre, ou antes estou ocupada em entregar-me ao Mestre (cf. Const. 4)?

Jesus nosso Mestre, no silêncio quotidiano queremos discernir o teu murmúrio e viver com autenticidade e inteireza o ser hospitaleiras “amantes da vida contemplativa unida à ativa” (RMA, p. 141). Enamoradas de Ti, sentadas aos Teus pés, sejamos capaz de romper com o ritmo louco do dia, para reconhecer as Tuas visitas inesperadas e a Tua presença escondida no irmão que sofre. Tudo passa, mas a Tua Palavra Jesus fique gravada e esculpida para sempre no coração, pata testemunharmos que só és o “nosso Tudo” (C. 172).

É preciso apostar na “estreita relação” (XX Doc. Cap. Ger, 2012) com Jesus para escutar desde dentro a Sua Palavra, e discernir uma hospitalidade generosa que se desvela em favor do irmão que sofre. Sossegar o olhar e reconhecer a irmã que sofre ao meu lado, para dividir o peso da sua dor, e tornar viva a união de corações (cf. RMA). Seja a voz de Jesus a única a levar-me. Que ao longo do dia possa encontrar o melhor de mim para o dar aos outros, e no final do dia entregar tudo, abandonadamente, ao Mestre. É na amizade com Cristo que se alcança a unificação (cf. C. 493.3; Const. 6) e se aponta a melhor parte, escutando como Maria e servindo como Marta, permanecendo inteira.

Susana Silva, hsc

Oratio: O que dizemos nós a Deus como resposta à sua Palavra?

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

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10 de Outubro

4ª feira da XXVII T. Comum

Senhor, ensina-nos a orar…

Sucedeu que, estando Ele algures a orar, disse-lhe, quando acabou, um dos seus discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar como João também ensinou os seus discípulos». Disse-lhes Ele: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende. E não nos sujeites à tentação».

Sucedeu que Jesus estava algures a orar- Jesus ora ao Pai algures, num lugar indeterminado, porque na Sua Pessoa se inauguram tempos novos, manifestamente caraterizados pelo sopro do Espírito nos quais “se adora em espírito e verdade” (cf. Jo 4, 23). Esses dias já chegaram, concretizando-se na Sua Pessoa, marcadamente impregnada pelo Espírito que gera intimidade profunda e comunhão total com Deus. Tal comunhão transborda em capacidade de relação confiante, total, generosa, gerando louvor e gratidão (Lc. 10, 21-24). O lugar da oração de Jesus é a terra que pisa, os sonhos que sonha, a rejeição que sente da parte dos homens, os limites que toca enquanto homem “semelhante a nós em tudo, exceto no pecado”, os homens e as mulheres do seu tempo e de todos os tempos: “Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti (...). (Jo. 17, 20)

Ao verem o modo como Jesus rezava, um dos discípulos dirige-lhe uma súplica sentida, proveniente do seu coração inquieto mas atento aos efeitos da oração no seu Mestre e deseja experimentar profundamente a mesma paz que d’Ele irradia: «Senhor, ensina-nos a orar!» Do coração orante de Jesus soa a resposta que supera a expetativa do discípulo interveniente e vai muito além do que João Batista ensinou, porque expressa em tom vibrante e dócil, genuíno e firme, o abandono filial, o reconhecimento de que somos irmãos, membros de

Lectio: O que me diz o texto?

Texto: Lc 11, 1-4

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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uma comunidade que reza manifestando o desejo de uma nova ordem na terra e que ao mesmo tempo exprime a sua vulnerabilidade e por isso recorre a Deus para que o livre de qualquer espécie de mal.

O “algures” da nossa vida hospitaleira, é o caminho que percorremos cada dia, no meio de encontros e desencontros, contradições, anseios, quedas, tentações, dificuldades... donde surge a súplica: “Ensina-nos a orar!”; isto é a confiar em Deus que pacifica e renova os nossos passos, restabelece as nossas forças e lhes dá novo vigor. Este grito interior, tornado realidade, mobiliza a fé, infunde esperança e fortalece a caridade.

“Convencidas de que só o Senhor pode dar sentido ao nosso agir, a oração deve ser a ocupação constante do coração, andando sempre na presença de Deus e fazendo todas as coisas por seu amor.” (Const. 35). A propósito desta união íntima com Deus na oração S. Bento Menni, escreve na carta 210: “A religiosa deve viver uma vida de oração de tal modo que, de manhã até à noite e de noite até de manhã, todos os movimentos do seu coração, todos os suspiros de sua alma e todos os seus pensamentos se dirijam para o Senhor, pedindo a Sua Divina Magestade que a esvazie de si mesma e seja Ele a sua vida nova.” O convite à oração incessante é expresso em Jesus no auge da sua missão “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.” (Mt. 26, 41).

Tais palavras demonstram que a oração é o oxigénio da vida, que não a deixa sufocar, mas a mantém lúcida e constante na luta por estabelecer o Reino de Deus, mesmo nos ambientes mais inóspitos ou nas circunstâncias menos favoráveis.

Obrigada Senhor por despertares em nós o desejo da oração e responderes com prontidão amorosa ao apelo do nosso coração inquieto: Ensina-nos a rezar! Que o Teu Espírito nos inspire em todos os momentos e que na oração de cada hora saibamos dirigir-nos a Ti com um coração aberto e fraterno, que humildemente se coloca à Tua disposição para Te pedir e implorar, louvar e

Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

Oratio: O que dizemos nós a Deus como resposta à sua Palavra?

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agradecer. Que o Teu Reino se estabeleça hoje, aqui e agora através dos nossos gestos e da entrega da nossa vida na persistente luta de todos os dias! Mantém em nosso coração a chama viva da caridade hospitaleira; na esperança que alenta e pacifica e na fé que constrói e eleva. Amén!

A leitura deste texto, constitui um apelo forte à comunhão íntima com Deus, para poder alicerçar a nossa vida nos fundamentos da fé, da esperança e da caridade. Esse é o ponto de partida a que se tem de voltar sempre, pois o coração humano é suscetível ao cansaço, à desilusão, à desesperança. No combate constante, a única fonte onde pode saciar a sua sede é a mesma que dessendentou o próprio Senhor, na sua difícil missão. Essa fonte que o manteve forte, constante, atento e firme no cumprimento da vontade de Deus, é a mesma que nos amplia os horizontes às vezes fechados; nos abre à fraternidade na qual a aceitação das diferenças não é sempre fácil; nos questiona quando a missão é demasiado exigente e sentimos o faltar das forças!

Se estivermos “convencidas de que só o Senhor pode dar sentido ao nosso agir” (Const. 35) então podemos avançar, sem medo, seguindo os “critérios de vida de Jesus; continuar a optar pelos mais vulneráveis e marginalizados, às vezes em situações de grande incerteza, na qual se tem de arriscar o tudo por tudo; assumir a missão como espaço de convocação; promover a integração dos que estão de fora; abrir de para em par as portas da hospitalidade aos jovens, realizar a missão como projeto comum. Assim se constrói o Reino no aqui e agora, avançando para metas novas, deixando-nos conduzir pelo Espírito para recrear a hospitalidade. (Cf. XX Capítulo Geral)

Filomena Barros, hsc

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

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11 de Outubro 5ª feira da XXVII T. Comum

“Pedi e dar-se-vos-á; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á…”

Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo e for ter com Ele à meia noite e lhe disser. ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer’, e se ele lhe responder lá de dentro: ‘Não me incomodes, a porta está fechada e os meus filhos estão comigo na cama, não posso levantar-me para tos dar’. Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar. Digo-vos, pois: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede recebe; quem procura encontra e ao que bate abrir-se-á. Qual de vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Portanto, se vós, maus, como sois, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito santo àqueles que lh’O pedem!» S. Lucas neste texto apresenta-nos alguns ensinamentos sobre a atitude interior com que havemos de nos dirigir a Deus. Através do amigo que, apresenta a atitude da insistência e persistência de quem sabe tocar o coração, porque tem confiança que vai obter o que procura. Assim pode-se entender que, se o Senhor nos afiança que quem pede recebe e a quem bate abre-se. Ensina-nos que a oração nunca é uma perda de tempo e que a mesma tem sempre uma resposta positiva, embora nem sempre ao que pedimos, mas ao que Deus sabe que temos necessidade. Cristo quer mostrar-nos que, devemos ser assíduos à oração e ao mesmo tempo criar em nós o desejo de querer corresponder a este convite.

Texto: Lc 11, 5-13

Lectio: O que me diz o texto?

Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

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A esta mesma atitude de oração constante nos convida Bento Menni quando afirma que a religiosa hospitaleira deve viver uma vida de oração de tal modo que, de manhã até à noite e de noite até de manhã, todos os movimentos de seu coração, todos os suspiros de sua alma e todos os seus pensamentos se dirijam para o Senhor. A oração tende sempre para o núcleo vital, que é amar, pois orar é entrar em diálogo de amor com Deus, que é Pai, em quem podemos confiar, e com os irmãos. Orar é fazer da nossa vida entrega por amor, como referem as Const nº 35, a oração deve ser a ocupação constante do coração, andando sempre na presença de Deus e fazendo todas as coisas por amor. Para a hospitaleira existe uma continuidade entre o amor oblativo ao Pai, vivido e experimentado na oração e o amor vivido e experimentado na entrega total aos irmãos pobres que o Senhor nos confia. Quem experimenta o amor de Deus na oração, não é capaz de o calar, mas leva-o à experiência da relação com todos os que passam na sua vida. Brota do meu coração um desejo de Te agradecer por continuamente dia após dia me convidares a estar junto a Ti. Obrigada por me fazeres perceber com o coração que rezar é despojar-me de mim, é querer estar diante de Ti. Perdão Senhor, pois tantas vezes, vou à tua presença com os minutos contados, perdão por tantas vezes deixar que as preocupações falem mais alto e me roubem o tempo que tinha reservado para estar contigo. Recordo hoje Senhor a experiência da Tua presença silenciosa na minha vida que me anima e me impele a dizer-te sim, a estar disponível para a missão hospitaleira, onde quer que isso me leve. Quando nos colocamos na atitude de oração constante, quando nos damos conta de que amamos sinceramente o Senhor, nada na nossa vida pode impedir o estarmos totalmente consagradas ao seu serviço. Tal como nos propõem as Const: sejamos capazes de nos colocar em íntima união com o Senhor mesmo no meio do trabalho, fomentando tudo quanto nos ajude a criar um clima de vida interior e a ter uma profunda experiência de Deus.

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

Lectio: O que me diz o texto?

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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Que esta experiência que fazemos de Deus não fique no foro pessoal, mas que a deixemos transparecer para aqueles que em cada dia se cruzam connosco, em gestos de acolhimento, de aceitação, de hospitalidade. O Senhor pede-nos maior coerência entre a vida de intimidade com Ele e a caridade para com os irmãos. Uma deve impulsionar a outra. Sem oração não somos religiosas, mas sem caridade não somos Hospitaleiras.

Bernardete Regina Dinis, hsc

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12 de Outubro sexta-feira da XXVII semana T. C.

«Se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então o reino de Deus

chegou até vós»

Naquele tempo ,Jesus expulsou um demónio, mas alguns dos presentes disseram: «É por Belzebu, príncipe dos demónios, que Ele expulsa os demónios».Outros, para O experimentarem, pediam-Lhe um sinal do céu. Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse: «Todo o reino dividido contra si mesmo, acaba em ruínas e cairá casa sobre casa. Se Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então quer dizer que o reino de Deus chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os seus bens estão em segurança. Mas se aparece um mais forte do que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está comigo está contra Mim e quem não junta comigo dispersa. Quando o espírito impuro sai do homem, anda a vaguear por lugares desertos à procura de repouso. Como não o encontra, diz consigo: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Quando lá chega, encontra-a varrida e arrumada. Então vai e toma consigo sete espíritos piores do que ele, que entram e se instalam nela. E o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro». Jesus confronta-se com os seus contemporâneos. Acusam-no de expulsar demónios em nome de Belzebu; outros pedem um sinal que confirme os seus feitos extraordinários! Jesus aproveita para esclarecer e desarmar a argumentação daqueles que especulam sobre a sua atuação. Se agisse por

Lectio: O que me diz o texto?

Texto: Lc 11, 15-26

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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Satanás, este estaria dividido contra si mesmo; se age em sintonia com Deus, significa que o reino está já no meio de nós, revelando que o poder de Deus é superior ao do demónio. Há também um apelo à vigilância porque Satanás não descansa, nem se dá por vencido. Em relação a Jesus, não há espaço para neutralidade, somos confrontados com duas possibilidades: ou se está com Ele, ou se está contra Ele. Vivemos sob influência de duas forças bem presentes no nosso íntimo: a do bem e a do mal; estão as duas profundamente enraizadas em nós e o combate está permanentemente em tensão, exigindo esforço para nos mantermos no caminho do seguimento de Jesus e da união com Deus. Contamos com a graça de Deus que nos ajuda a percorrer o caminho de fidelidade à nossa vocação de caridade: com o coração aberto à Palavra; uma fé viva fortalecida na celebração, recepção e adoração da Eucaristia, uma caridade criativa que se inspira na contemplação da Paixão; uma fraternidade consequente que se alimenta da comunhão trinitária (cf. nº 7 Constituições). Senhor Jesus Cristo, agradeço de coração a tua ação libertadora e corajosa contra o mal. Dá-me uma fé viva, uma confiança sem limites, a coragem para a luta, luz para que não me deixe seduzir pelas aparências de bem; enche-me de esperança e de alegria. Que eu jamais me afaste de Ti procurando falsas seguranças. Que eu faça de Ti o único necessário, vivendo centrada e enraizada em Ti, numa relação pessoal de amor que me leve a uma progressiva identificação com os Teus sentimentos, buscando a Tua vontade, continuando a fazer presente o Reino, dispondo de tudo o que tenho e sou! Concede-me, Senhor, a graça de permanecer unida a Ti para que possa agir em Teu nome, em cada dia da minha vida! Somos filhos amados de Deus e por isso não nos faltará a força e a graça de forma a experimentar e transparecer a alegria de lhe pertencermos e de

Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

Oratio: O que dizemos nós a Deus como resposta à sua Palavra?

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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partilharmos a sua missão. A resposta em fidelidade a este dom exige percorrermos os caminhos: da intimidade com o Deus Hospitaleiro que nos desafia à entrega corajosa da nossa vida, da união que potencia a nossa fragilidade e pequenez, da luta contra tudo o que nos divide, do encontro com os que procuram o sentido das suas vidas, do diálogo em verdade e transparência com todos, da escuta ativa da realidade que nos envolve, dos gestos audazes em favor das pessoas que assistimos, sendo testemunhas coerentes do que o Reino é uma realidade entre nós!

Fernanda oliveira, hsc

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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13 de Outubro sábado da XXVII semana T. C.

Felizes os que escutam a palavra de Deus e a põe em prática

Enquanto falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse: «Felizes as entranhas que Te trouxeram e os seios que Te amamentaram!» Ele, porém, retorquiu: «Diz antes: Felizes os que escutam a palavra de Deus e a põe em prática». “Feliz Aquela que Te trouxe” diz uma mulher desconhecida, erguendo a voz. Mas para Jesus, “FELIZES” /“BEM-AVENTURADOS” são aqueles que ESCUTAM a PALAVRA DE DEUS e A põem em PRÁTICA”. Jesus parece contradizer as palavras daquela mulher, e relegar Maria para a “sombra”, para segundo plano. De facto, lendo este texto à luz de outros, damo-nos conta que é exactamente o contrário. Jesus apresenta-nos Maria como MODELO DE FELICIDADE. Maria é proclamada “FELIZ” porque acreditou e obedeceu à PALAVRA. No Magnificat, Ela própria profetiza que todas as gerações a proclamarão “BEM-AVENTURADA” por se ter rendido totalmente à PALAVRA que compromete a sua fé e a sua vida. “FELIZ”, esta é portanto, a identidade profunda de Maria que também a nós é proposta, a nossa FELICIDADE está em SER possuído de Deus e dos outros. Escutar a PALAVRA de Jesus, que é o Verbo “PALAVRA DO DEUS VIVO” é o segredo para ser bem-aventurado/ feliz e sinal evidente de um amor activo e provocador no nosso mundo tão cheio de si. Deixa que a PALAVRA como em Maria, a 1ª Hospitaleira se cumpra hoje em ti para seres feliz! Para viveres o amor jubiloso e libertador da Palavra na tua vida. Ser “feliz”, alcançar a pacificação, a verdadeira liberdade interior e a alegria de coração, é possível hoje, aqui e agora! Mas esta bem-aventurança e felicidade não se alcançam pelo papel que desempenhamos ou pelas coisas que

Texto: Lc 11, 27 - 28

Lectio: O que me diz o texto?

Passo 2 – Meditatio: O que nos diz o texto bíblico a nós?

A palavra é fonte de renovação da comunidade

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pensamos fazer para cumprir apenas deveres ou alcançar situações de primazia… Ser “feliz” por sendas hospitaleiras, implica deixar que os “roteiros” dos nossos dias, dos teus dias, das tuas horas, dos teus minutos, ainda que preenchidos por diversos compromissos e na realização de várias actividades, sejam unificados pelo primado da ESCUTA DA PALAVRA DE DEUS. Uma escuta encarnada na vida… uma escuta que implica a totalidade da tua vida consagrada a Ele, porque optas-te por “ser mulher apaixonada por Jesus Cristo, configurada com a Sua maneira de ser e agir (…) hospitaleira compassiva com a humanidade, que escuta o clamor daqueles que sofrem(…)” (XX CG, pág.6, nº3). Uma escuta que desafia a acolher com frescura os desafios e novidades de cada dia para ti, para a Congregação, para a Província, para a Comunidade, para a Missão hospitaleira… Será que estás disponível como Maria para mudar de “veste” interiormente? “Totalmente disponível ao querer do Pai (…) e aceitar com alegria a vontade de Deus” (Const.Nº34)? A esqueceres-te da tua vontade? E acolher a de Deus? A prioridade da escuta orante da Palavra leva-nos a isto, a despojarmo-nos de nós mesmos, do nosso egocentrismo, do nosso fazer… e reveste-nos um pouco mais de Cristo, dos Seus sentimentos do Seu Coração, do seu estilo de amor. Abeirar-nos da felicidade de Maria, leva-nos a “obter entrada e permanência no Coração do Filho para vivermos e reproduzirmos em nós os seus sentimentos” (Const. Nº 8). A prioridade da escuta da Palavra leva-nos ao desafio diário da fé “companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós” (Carta Apostólica, Porta Fidei, nº 15) e em nós, além disso impulsiona-nos à oblação da nossa própria vida, cumprindo a Palavra de Deus. Maria é Modelo de como se escuta e acolhe na vida a Palavra. Aproxima-te Dela para a amares mais e te apaixonares por Ela. A exemplo de “Maria, “Nossa Mãe”, redescobre a tua condição de Mulher consagrada para a hospitalidade e vive de forma mais radical o amor incondicional, a simplicidade de vida e a pronta disponibilidade…” (XX CG, pág.6, nº 1). Não temas entrar neste dinamismo de felicidade e alegria. Será que esta não é a tua nova identidade, para recriares a hospitalidade hoje junto das novas gerações? Ser mulher feliz? É que somos chamadas a ser felizes, “de forma pessoal e gratuita, e Cristo convida-nos todos os dias a renovar a nossa opção por Ele e a testemunhar com a nossa vida consagrada a força transformadora das bem-aventuranças” (Doc. XX CG, pág.4, nº1).

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“Criaste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Ti”(Santo Agostinho). Criaste-nos para a felicidade, para a alegria. Mas, Tu és a Felicidade, Tu és a alegria! A tua Palavra enche-nos de alegria. Dá-me a graça de continuar a “Ser Feliz” e de uma escuta sempre activa/ comprometida. Que a Tua Palavra seja o meu principal e apaixonado interesse todos os dias, para que a minha vida esteja centrada e enraizada em Ti sempre! Concede ao meu coração o silêncio e a disponibilidade interior necessária para acolher a Tua Palavra e pô-la em Prática. Que o Teu Espirito me ajude A torná-la vida, no ministério da hospitalidade a que Tu me chamas e envias cada dia. E a Tua vida me revista interiormente, para que aprenda a servir e a amar como Tu, a partir do coração as tuas “vivas imagens”e a testemunhar o Teu amor samaritano. Que a Tua Palavra faça eco em mim, e se erga também na minha vida, para que Tu Sejas louvado e glorificado junto dos homens e desta nova geração! Neste contacto com a Palavra que quer encarnar e frutificar no meu coração hospitaleiro sinto hoje o desafio a viver a Caridade hospitaleira com maior radicalidade a partir: Da minha identidade e de um coração feliz, centrado no Verbo Encarnado-Jesus Cristo, e apaixonado pela Palavra de amor do Pai, De uma actitude de escuta e intimidade com a Palavra de Deus, a partir do coração, ao jeito de Maria, a 1ª Hospitaleira De um coração mais despojado de si mesmo, pobre, humilde, humano, disponível e livre interiormente, De um amor activo e oblativo, que me leva a recriar a compaixão e a misericórdia junto dos mais fracos e pequenos, De um discernimento e acolhimento da vontade de Deus na fé manifestada na Palavra de Deus, rendendo-me a Ela, De um testemunho vocacional alegre, feliz, convincente e provocador pessoalmente, comunitariamente e na missão de forma a recriar e a provocar dinamismos de felicidade hoje junto dos jovens, porque hospitalidade é felicidade!

Mariana Camacho, hsc

Oratio: O que dizemos nós a Deus como resposta à sua Palavra?

Contemplatio: Que conversão de coração e de vida nos pede o Senhor?

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