camillia cowling, pesquisadora: ‘as escravas sabiam usar ... · só espero que o país não abra...

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PUBLICIDADE A inglesa Camillia descobriu, em arquivos públicos no Brasil e em Cuba, que escravas dos dois países venciam os riscos e a opressão e moviam "ações de liberdade", mecanismos jurídicos da época, para lutar por seus direitos Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo Camillia Cowling, pesquisadora: ‘As escravas sabiam usar as leis em seu favor’ Professora de História da América Latina especializada na escravidão brasileira (que, em livro, compara à cubana), inglesa participou de seminário na Casa de Rui Barbosa POR CRISTINA TARDÁGUILA 08/10/2015 6:00 PUBLICIDADE “Tenho 37 anos, trabalho na Universidade de Warwick, na Inglaterra, e me considero uma historiadora de gênero. Interessome pela história da mulher. Para estudar a escravidão no Brasil fiz um CULTURA COMPARTILHAR BUSCAR g1 ge gshow famosos vídeos

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A inglesa Camillia descobriu, em arquivos públicos no Brasil e emCuba, que escravas dos dois países venciam os riscos e a opressão emoviam "ações de liberdade", mecanismos jurídicos da época, paralutar por seus direitos  Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo

Camillia Cowling,pesquisadora: ‘Asescravas sabiamusar as leis em

seu favor’Professora de História da América Latina

especializada na escravidão brasileira (que, emlivro, compara à cubana), inglesa participou de

seminário na Casa de Rui Barbosa

POR CRISTINA TARDÁGUILA

08/10/2015 6:00

PUBLICIDADE“Tenho 37 anos, trabalho na Universidade de Warwick, na

Inglaterra, e me considero uma historiadora de gênero. Interessome

pela história da mulher. Para estudar a escravidão no Brasil fiz um

CULTURA COMPARTILHAR BUSCAR

g1 ge gshow famosos vídeos

curso audiovisual de português. Passava umas duas horas por

semana, ouvindo fitas de walkman, até que, um dia, aprendi”

Conte algo que não sei.

Os escravos e as escravas do Brasil, assim como de Cuba, sabiam

usar e usavam as leis para melhorar sua condição de vida.

Documentos provam que muitos compareceram diante de tribunais

para reclamar seus direitos ou os de seus familiares. No Rio, havia

defensores públicos que agiam em favor desse grupo. Em Havana

também. Eram as chamadas “ações de liberdade”.

Quantas ações desse tipo foram abertas aqui?

Não há um número preciso, já que os historiadores ainda estão

trabalhando sobre documentos encontrados no Arquivo Nacional e

no Arquivo Geral da Cidade. Mas as ações de liberdade se contam aos

milhares, aqui e em Cuba.

Algum caso a chocou?

Em agosto de 1884, a escrava Josefa Gonçalves de Moraes comprou

sua própria liberdade e abriu um processo no Rio pela custódia da

filha Maria, de 10 anos que, pela Lei do Ventre Livre, nascera em

liberdade, mas teria que ficar sob a guarda do antigo senhor de

Josefa até a maioridade. Na ação, ela argumenta que é a pessoa certa

para cuidar da filha. Mas o antigo senhor diz que a alimenta e lhe dá

educação, coisas que Josefa não poderia garantir.

E qual é o desfecho?

É triste: Josefa perde. Em 1886, o juiz Joaquim José de Oliveira

Andrade escreve em sua sentença: “A menor Maria vive

contentemente e é tratada com devoção por José Gonçalves de Pinho

e sua mulher. A mãe, recentemente liberta e amasiada não é capaz de

dar boa educação e cuidados”.

Mas tem que ter algum caso de sucesso, não?

Há o caso da negra liberta Maria Rosa, que escreveu uma carta à

imperatriz Teresa Cristina alegando seus direitos e pedindo que sua

filha Ludovina, também menor de idade, fosse incluída nas

chamadas “cerimônias de liberdade”. Não sabemos quem autorizou

sua inclusão, mas Ludovina foi entregue à mãe. Para mim, o

interessante nesses dois casos é que eles mostram que as mulheres,

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não só os homens, sabiam fazer pressão.

Há uma mulher como Zumbi dos Palmares?

Não que se saiba, mas os estudos seguem. Quando a gente lê sobre

Zumbi, os quilombos, ou a escravidão como um todo, no Brasil e em

Cuba, encontra um ambiente masculinizado. Sempre me perguntei:

onde estavam as mulheres? Como viviam isso? Então passei seis

anos entre Rio e Havana e o conteúdo está no meu primeiro livro.

A escravidão morreu?

A escravidão foi abolida e não existe, de forma legal, no Brasil desde

1888, mas ela obviamente está aí, acontece na prática. Aposto que

aqui mesmo, no Rio, há muita gente escravizada, convivendo com a

mais absoluta falta de controle sobre sua própria vida.

Como vê o futuro de Cuba, após as pazes com os EUA?

Não me arrisco muito a palpitar nesse assunto porque ele suscita

discussões acaloradas, mas acho que Cuba vai se aproximar mais dos

EUA e que, em consequência, terá cada vez mais desigualdades

sociais. Só espero que o país não abra mão das importantes

conquistas que obteve.

Se pudesse escolher, onde moraria de novo? No Brasil ou

em Cuba?

(Risos) Preferiria ser rica no Brasil, ou então pobre em Cuba. Rico

em Cuba não é tão rico e pobre no Brasil é pobre mesmo.

[email protected]

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