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CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO

Nelson Machado da Silva

[email protected]

Instituto Agronômico-IAC

Há muito tempo tem-se buscado entender a relação entre necessidades nutricionais das

plantas e respostas à adubação. Desde a secular Lei do Mínimo, que enaltecia o papel do nutriente em menor

disponibilidade, até às complexas relações das superfícies de resposta envolvendo dois ou mais nutrientes,

muitas dúvidas têm sido esclarecidas.

A nutrição vegetal, como processo biológico, é influenciada por uma série de fatores. A

reação das plantas à aplicação de nutrientes varia em função do cultivar, da irrigação, do sistema de manejo,

do tipo de solo, etc., razão porque a experimentação agrícola deveria ser regional e renovada sempre que

necessário. Certos fatos, entretanto têm sido constatados com muita freqüência em estudos dessa natureza,

mesmo conduzidos em situações muito diversas. Por exemplo, a produção vegetal nem sempre aumenta de

forma linear e contínua diante de acréscimos na adubação. Em verdade o que prevalece é a lei dos

incrementos decrescentes, qual seja, de uma queda gradativa na intensidade de aumento da produção,

podendo até ocorrer decréscimos. É uma premissa que deve ser considerada quando se iniciam atividades em

regiões novas. Também, alguns resultados experimentais podem ser, de pronto, adaptados às novas

realidades, poupando maiores despesas e/ou perda de tempo. Com esse intuito são reunidos nesse trabalho, de

forma resumida, dados colhidos em centenas de ensaios de campo conduzidos em regiões produtoras de

algodão em São Paulo, no último século.

O algodoeiro sempre se mostrou muito sensível à acides do solo, tendo reagido bem à

calagem mesmo em baixa disponibilidade de Al. Para os cultivares e níveis de adubação adotados na região

estabeleceu-se, como meta adequada, a correção para faixa de 60% de saturação por bases. Em solos muito

pobres deve-se usar calcário contendo Mg, dolomítico ou magnesiano, incorporado o mais uniforme e

profundamente possível, cerca de três meses antes do plantio, no mínimo. A utilização de produtos mais

finamente moídos ou a mistura de calcário com gesso, podem acelerar o efeito da correção. Interações

importantes com a adubação são a seguir relatadas.

Estudo básico de marcha de absorção permitiu determinar a exigência relativa de nutrientes,

conforme seqüência: K/N, Ca, Mg, P e Fe. Indicam, também, que o algodoeiro mostra-se mais exigente em

Mg, S e Fe, nos primeiros 30 dias, e a N, P, K e Ca, na fase entre o abotoamento e o máximo florescimento.

A despeito disso, as plantas reagiram mais efetivamente à aplicação de fosfatos solúveis por ocasião do

plantio, face à pouca mobilidade do P no solo, à grande possibilidade de sua adsorção, além do notório efeito

do acompanhante Ca e do próprio P no desenvolvimento radicular inicial.

Nossos solos são pobres em fósforo, de um modo geral, e o problema de deficiência se

agrava em condições de acides. A resposta do algodoeiro, em tal situação, é tão grande que o P se consagrou

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como o “elemento de produção”. Demonstra, no entanto, destacado efeito residual no solo e sua

disponibilidade aumenta com a correção de acides, em certos casos. Embora em condição de campo os

sintomas de deficiência de P não se evidenciem, a correção dela conduz a plantas com ciclo menor, mais

produtiva e com capulho, semente e fibra maiores. Nas condições paulistas, a dose recomendada varia de 100-

120 a 20-40 kg/ha de P205, caindo gradativamente de glebas pobres e ácidas, para aquelas corrigidas e com

altos resíduos de adubação, guardando boa relação com resultados de análises de solo.

A reação a N, em contrapartida, aumenta com o uso do solo e com a prática da adubação.

Por ter caráter móvel, deve ser aplicado a cada ano de forma parcelada, a maior parte na fase inicial do

florescimento. Por ser prontamente absorvido via foliar, como alternativa pode ser pulverizado em fase

avançada da cultura. Seu efeito sobre a produção interage com outras técnicas culturais: aumenta com a

intensidade de cultivo, com a adubação, irrigação, uso de regulador de crescimento, etc., e costuma ser mais

modesto em esquema de rotação de culturas. Em carência, o algodoeiro apresenta amarelecimento uniforme,

baixa intensidade de desenvolvimento e de frutificação. A correção devolve o vigor vegetativo, regulariza o

ciclo, aumenta o capulho, a semente e a produção, além de melhorar o comprimento, a maturidade e o

Micronaire da fibra. No sistema tradicional de cultivo, as recomendações variam de 25 a 80 kg/ha de N, em

função da intensidade de cultivo e do desenvolvimento esperado.

Na experimentação regional paulista, o K também demonstrou ser nutriente de interação.

Sua necessidade aumenta com a calagem e adubação fosfatada e se complementa com o uso de N. Em alta

exigência, deve ter aplicação parcelada, na mistura de plantio e em cobertura junto com o adubo nitrogenado.

Clorose seguida de bronzeamento de folhas mais velhas, constitui-se em deficiência inicial do nutriente; a

seca prematura das plantas é a conseqüência final. Adubação adequada regulariza o ciclo do algodoeiro,

conduz a aumentos no capulho, nas sementes e na produtividade, além de melhoria nas características da

fibra: comprimento, uniformidade de comprimento; maturidade e Micronaire. Nas condições tradicionais das

lavouras paulista, a necessidade de K2O varia de um mínimo de 20 kg/ha (“manutenção”) até 120 kg/ha, em

função da análise de solo. Excepcionalmente, obteve-se sucesso com doses maiores aplicadas a lanço, como

adubação corretiva.

Dentre os macronutrientes secundários houve destaque para o S, uma vez que Ca e Mg são

levados ao solo em quantidades bem superiores às necessárias como nutrientes, quando da calagem. Durante a

correção inicial de solos ácidos, a reação a S costuma ser importante. O uso de produtos sulfatatos na

adubação (superfosfato simples, sulfato de amônio e mesmo gesso) normalmente fornecem mais do que a

quantidade necessária de S, cerca de 30 kg/ha/ano. Clorose de folhas novas de ponteiro (“verde limão”)

seguida de amarelecimento geral da planta e perda de carga, caracterizam a deficiência de enxofre.

Embora em algumas situações o algodoeiro tenha reagido a Zn (3kg/ha) e a Mo (1 kg de

molibilato de sódio/ha), o micronutriente que se destacou na experimentação paulista foi o B. Folhas de

ponteiros cloróticas, enrugadas, deformadas antecipam um “shedding” anormal de formações frutíferas, em

lavouras deficientes. Flores defeituosas, ramos retorcidos, anéis circulares nos pecíolos, engrossamento e

rachaduras de nós, superbrotamento, etc., acabam conduzido a atraso na maturação e baixa produtividade

final. Nessas condições, a aplicação de B até 1,5 kg/ha, no sulco de semeação, ou no sulco e em cobertura,

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proporcionam acréscimos importantes na produção de algodão. Adubação foliar semanal, por ocasião do

florescimento (0,15 kg/ha B, 3 a 4 vezes), é recomendada como medida curativa. Ensaio permanente

demonstrou que altas e freqüentes adubações podem levar a acúmulo de B no solo, propiciando condições de

toxicidade.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

McCLUNG, A.G.; FREITAS, L.M.M.; MIKKELSEN, D.S.; LOTT, W.L. Adubação do algodoeiro em solos

de campo cerrado no Estado de São Paulo. São Paulo: IBEC Research Institute, 1961. 35p. (Boletim

27).

RAIJ, B. van. Fertilidade do Solo e adubação. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1991. 343p.

SILVA, N.M. Nutrição Mineral e adubação do algodoeiro no Brasil. In: Cultura do algodoeiro. Piracicaba:

Potafos, 1999. p. 57-93.

SILVA, N.M.; KONDO, J.I. & SABINO, N.P. Importância da adubação na qualidade do algodão e outras

plantas fibrosas. In: Importância da adubação na qualidade dos produtos agrícolas. São Paulo:

Ícone, 1994a. p. 189-215.

SILVA, N.M. & RAIJ, B. van. Fibrosas. In: Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São

Paulo. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. p. 107-111.