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Café-com-LetrasRevista Literária da Academia

de Letras de Teófilo Otoni

Nº 12 - NOVEMBRO/2014Publicação anual

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ACADEMIA DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI

Fundada em 20 de dezembro de 2002Rua Dr. João Antônio, 57, fundos - centroTeófilo Otoni – MG - 39800-016www.letrasto.com – Telefone: 33 [email protected] - [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Amenaide Bandeira Rodrigues (Licenciada)

Vice-Presidente: Elisa Augusta de Andrade Farina (Presidente em exercício) Secretário Geral: Wilson Colares da Costa

Tesoureiro Geral: Leuson Francisco da Cruz

CAFÉ-COM-LETRAS: REVISTA LITERÁRIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI

Publicação anual

Produção editorial: Prof. Wilson Colares da CostaFoto da Capa: “Com as mãos de Deus” - Lu Peçanha PhotographyRevisão: Smirna CavalheiroCapa: Matheus SerôaMontagem: Roberto AchtschinImpressão: Gráfica EXCLUSIVA

Ficha Catalográfica

Revista Literária Café-com-Letras – Ano 12 n.12Teófilo Otoni: Academia de Letras de Teófilo Otoni, 2014.Fundada em 20021.Literatura – Periódico. 2. Obras Literárias 1. Academia de Letras de Teófilo Otoni

Os conceitos emitidos nos textos desta edição são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da

Academia de Letras de Teófilo Otoni.

ISSN 2317-7985

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Gilson de Castro PiresO médico da caridade

Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, atual Universidade Federal de Minas Gerais, em 1948. Exerceu suas atividades laborais por 60 anos na Associação Hospitalar Santa Rosália, como médico, diretor clínico e provedor, no período de 1987 a 1996.

Ocupou ainda a cadeira de Matemática do Colégio Mineiro de Teófilo Otoni, foi também chefe do Laboratório Regional de Saúde Pública de Teófilo Otoni, médico do Tiro de Guerra (sem vencimentos), Presidente da Sociedade de Medicina de Cirurgia de Teófilo Otoni, Vice-Presidente da Associação Médica de Minas Gerais, e ainda membro correspondente da Academia Mineira de Medicina, Garimpeiro do Ano, concedido pela Câmara Municipal de Teófilo Otoni, em 1988, Diploma de Reconhecimento do Rotary Club, pelos relevantes serviços prestados à comunidade, além do Troféu “Jegue”, de Filantropia que foi dado pela Confederação Nacional dos Hospitais Filantrópicos, como um dos quinze médicos mais caridosos do país. Recebeu por duas vezes o “Mérito Médico”, concedido pela Academia Mineira de Medicina, em 1982 e 2012, condecorado com “Honra ao Mérito”, pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Teófilo Otoni e com a Medalha do Bicentenário de Nascimento de Teófilo Otoni, em 2007, concedido pela Câmara Municipal de Teófilo Otoni. Integra o quadro de Convidados de Honra da Academia de Letras de Teófilo Otoni em reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento da vida social, científica e cultural do município.

Em seu livro 100 anos de medicina em Teófilo Otoni, escrito em 1953, o também médico, historiador e jor-nalista, Darcy de Almeida, assim se refere ao jovem colega Gilson de Castro Pires, ao construir o seu perfil biográfico: “Dr. Gilson de Castro Pires, dia a dia aprofunda mais os seus conhecimentos, e prestando alargados benefícios aos doentes de sua terra. Paciente e escrupuloso, assíduo e pertinaz, tais qualidades certamente muito contribuíram, para a grande clínica que em pouco tempo obteve o jovem médico”.

Guiomar Sant’Anna Murta, no livro Todos os Santos: Crônicas da Gente Nossa, assim se refere ao conterrâ-neo: “Gilson sempre cuida assim, sem alarde, da nossa e de muitas famílias, ampliando o seu compromisso além do coração, no sentido médico e metafórico. Ultrapassa o seu limite, bate novo recorde de dedicação ao seu povo, sua gente que o reconhece como especial Gente Nossa.

E adiante acrescenta para finalizar a crônica: “Sabe, filosoficamente, que ‘navegar é preciso’ para quem, tendo o oceano do sucesso garantido nos grandes centros, optou pela beira do Rio Todos os Santos, mas sem parar na margem. Seus conterrâneos todos, santos ou não, sabem porque Dr. Gilson de Castro Pires é tão maiúscula Gente Nossa”.

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Maria Eny Leal Fernandes da SilvaEducadora por excelência

Concluiu, em 1938, o curso Normal no tradicional Colégio São Francisco, dirigido pelas irmãs franciscanas Penitentes Ricoletinas. Em 1939, aos 16 anos, iniciou-se no magistério, a convite da Irmã Eufrosina, então diretora da Colégio São Francisco, permanecendo nesse estabelecimento até casar-se; retornou ao magistério como professora no Ginásio Mineiro, a convite do saudoso professor Pedro de Paula Ottoni. Quando ainda havia poucas unidades de ensino na cidade, criou em sua própria residência, um cursinho preparatório para aqueles que pleiteavam entrar para o curso ginasial, tendo em vista que existia, à época, o exame de admissão. Mesmo já professora conceituada, prestou vestibular e graduou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Teófilo Otoni. Lecionou História na Escola Estadual Alfredo Sá, até aposentar-se por tempo de serviço.

Em março de 1968, como sócia das irmãs Neyde Leal Nunes (in memoriam) e Neusa Soares Leal, funda a Escola Particular São Geraldo, da qual foi diretora por 42 anos. É detentora da Grande Medalha de Mérito Edu-cacional, honraria conferida pelo governo de Minas Gerais, em 1986. Também, em 2002, recebeu da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, placa de reconhecimento, pela passagem do Dia Internacional da Mulher. Integra o quadro de Convidados de Honra da Academia de Letras de Teófilo Otoni, em reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento da vida social, educacional e cultural do município.

Da sua convivência no Ginásio Mineiro, hoje, Escola Estadual Alfredo Sá, lembra com saudades da fraterna convivência com Neusa Carneiro, Isa Andrade, Libório Zimmer, Nazira Magalhães, Lurdinha Sena, Mercês Schade e tantos outros colegas que marcaram época na educação, nesta cidade. Hoje, aos 92 anos de vida, sente-se realizada como educadora, sobretudo quando vê seus alunos brilhando nas diversas profissões por eles escolhidas.

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Conscientizar e preservar

Em 2003, surge por meio de ecologistas, a ONG “Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri”, com a finalidade de proteger, recuperar, defender e conservar o meio ambiente, a paisagem natural, cultural, histórica e social, bem como promover e incentivar o desenvolvimento econômico-sustentável das bacias hidrográficas dos rios Todos os Santos e Mucuri, conforme previsto no estatuto social da entidade.

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Sumário

Apresentação - Profª Iracema das Graças Ferreira ..................................................9O canto da terra - Hilda Ottoni Porto Ramos...........................................................10Outras águas - Guiomar Sant’Anna Murta ..............................................................12Água, presente de Deus - Elisa Augusta de Andrade Farina ..................................14A água naquele tempo - Humberto Luiz Salustiano Costa ......................................16Água - Gervásio Horta .............................................................................................17Água – Milagre – Vida - Gilberto Ottoni Porto .........................................................18Água bendita que o Universo conduz - Antônio Jorge de Lima Gomes ..................19É tempo de despertar sua consciência - Sandra Ramalho de Oliveira ...................20A água e as rosas - Marlene Campos Vieira ...........................................................22Água de beber - Gessimar Gomes de Oliveira........................................................23Biodireito como fundamento de acesso à água potável - Priscilla dos Santos Gomes .........................................................................................................24Tanto que te quero água, para matar a minha sede - Varenka de Fátima Araújo Garrido .........................................................................................................26Dois pra lá, dois pra cá - Arnaldo Pinto Júnior ........................................................27Identidade líquida - Raquel Melo Urbano de Carvalho............................................29A passagem - Leandro Bertoldo Silva .....................................................................30As águas vão rolar - Antônio Altivo Gomes .............................................................31A vingança da natureza - Hélio Pereira dos Santos ................................................32Petróleo incolor - Paulo Dias Neme ........................................................................33Pura seiva viva da eternidade! - Odenir Ferro.........................................................34Água! Por que te amo - Helena Selma Colen .........................................................35Água, um patrimônio mundial - Elmo Notélio ..........................................................36O perfurador - Leuson Francisco da Cruz ...............................................................37Aventura de uma viagem no rio Jequitinhonha - Therezinha M. Urbano Carvalho ......... 38H2O – Até quando Terra, planeta água? - Egmon Schaper Filho ...................................40Água que vem das fontes - Francisco Martins Silva ...............................................41A importância da água no planeta terra - Wilson Ribeiro ........................................42Água - Maria Morais ................................................................................................43Planeta água, até quando? - Márcia de Jesus Souza .............................................44Velho Chico - Fátima Sampaio ................................................................................45Absurdo - Jota Neris ................................................................................................46Águas que gemem - João Ferreira de Freitas Filho ................................................47A gota da vida - Altamir Freitas Braga .....................................................................49Água nossa de todo dia - Glória Brandão ...............................................................50Planeta água - Brenda Batista Burmann .................................................................51O destino das águas - Seme Handeri .....................................................................52...quem na limpada fonte já bebeu - Ailton Ferraz Silva ..........................................53Água - Vinícius Pereira Martins ...............................................................................54Água: um tesouro a redescobrir - Marcos Pereira dos Santos................................55Águas passadas - Leônidas Conceição Barroso.....................................................57Os em-cantos da chuva - Janeuce Cordeiro Maciel................................................58

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Água mãestrina - Rodrigo Marinho Starling ............................................................60A água - José Moutinho dos Santos ........................................................................61Água - Cristina Carone ............................................................................................62Aqva - Vânia Rodrigues Calmon .............................................................................63Água: Brevíssima fábula sobre sua importância... - Teresa Azevedo ............................... 64Tu, viva em nós - Fernando Catelan .......................................................................66Pés molhados - Magali Maria de Araújo Barroso ....................................................68Escultura de água e sal - Clevane Pessoa..............................................................69Revelações afloradas pelas águas - Ilda Maria Costa Brasil ..................................70Terra, planeta água - Marly Rondan Pinto ...............................................................71Cai a chuva - Lenival de Andrade............................................................................72Força das águas - Humberto Barbosa ....................................................................73Chuva pantaneira - Marcos Coelho .........................................................................75Chove poesia - Eliane Silvestre da Costa ...............................................................76Simplesmente água! - Márcio Barbosa dos Reis ....................................................77Água: Fonte de vida de toda criatura - Sandra Helena Barroso .............................78Águas no fecho da onça - Ivonette Santiago de Almeida ........................................79A escassez da água: Isto é coisa pra se pensar! - Lucivalter Almeida dos Santos .......... 80Água, nosso maior patrimônio - Tadeu Laert ...........................................................81Metaforicamente, a gota d’água - Esther Rogessi ..................................................82Água e aluá - Daniel Antunes Júnior .......................................................................83Água, vida e morte se misturam - Dimythryus.........................................................84Planeta água - Angelica Villela Santos ....................................................................86Bendita água - Antônio Sérgio Torres Ferreira ........................................................87Bem precioso - Flávia Assaife .................................................................................88Depois da tempestade - Jacqueline Aisenman .......................................................89Enchentes - Alexandra Vieira de Almeida ...............................................................90Flagelo imundo! - Marcelo de Oliveira Souza..........................................................91Fonte da vida - Antonia Aleixo Fernandes ...............................................................92Gotas d’água - Amalri Nascimento ..........................................................................93Mar de gude - Oliveira Caruso ................................................................................94Constelações - Valter Bitencourt Júnior ..................................................................95Pimenta do reino: Carta aos insensíveis - João Batista Vieira de Souza ................96Planeta água - Isabel C. S. Vargas .........................................................................98Encontro das águas - Luciene Barros Lima ............................................................99Gotas d’água, bendita água! - José Geraldo Silva ................................................100Rio das Contas - Valdeck Almeida de Jesus .........................................................102Rio Vermelho em fúria - Elizabeth Caldeira Brito ..................................................103Sina d’água - Carlos Lúcio Gontijo ........................................................................104Sou água - Verônica Vincenza ..............................................................................105Vida seca - Cosme Custódio da Silva ...................................................................106Água e vida - Ricardo Maia ...................................................................................107Santo sangue da natureza - Marcos Miguel da Silva ............................................108Água que vai, muitas vezes não vem - Wenderson Cardoso ................................109Academia de Letras de Teófilo Otoni: histórico, patronos e quadro social ............113

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Apresentação

“... e Deus criou a água”.“E viu Deus que isto era bom”.

(Gênesis1, 9 e 10)

Deus viu que era bom, porque a criação de todos os elementos era imprescindível para a sobrevivência do ser humano. Pois bem, vem o ser humano e desconhece o olhar divino sobre todas as coisas criadas e busca tirar proveito desenfreado de tudo que existe no Planeta Terra.

Mas, com gravíssimas atitudes, desprotegeu os rios, as fontes e os mares. Fez queimadas, mudou o curso dos rios, poluindo-os com agrotóxicos, matando seus peixes. As matas ciliares foram devastadas desprotegendo suas margens, assoreando seus leitos.

Cantemos e louvemos a Deus pela água, tomando atitudes concretas para preservá-la, e que as gerações futuras não venham nos acusar da sede que por ven-tura venham sofrer.

Quero enaltecer e parabenizar cada escritor que deixou seu amor e seu clamor nos textos desta maravilhosa obra.

Nota-se que, em cada verso, pulsa um grito que não quer calar, saindo do fundo da alma: a água que temos hoje, não seque no amanhã dos nossos filhos, mas jorre, jorre muito, para alegrar e umedecer o chão que pisamos e colhemos os alimentos que nos dão vida e energia para cumprirmos nobremente nossa missão nesta Terra.

Que sejamos transparentes, como a água que sacia a sede, porque a construção do nosso paraíso se inicia aqui e agora.

Parabéns a todos vocês que estão se eternizando nesta belíssima coletânea.Carinhosamente,

Profª Iracema das Graças FerreiraSecretária Municipal de Educação de Teófilo Otoni

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O canto da terraHilda Ottoni Porto Ramos*

Sou o canto da terraSou fonte da vidade verde esperançaSou o chãoBoca sedenta, sequiosaespera ansiosaÁgua do céu: Presente de DeusQue a fome matandoA sede saciaMeu canto é louvor, amor, gratidão.meu canto é poesia.

Sou o canto da terraDas mãos calejadasAbrindo caminhosFazem com o mar me encontrarEu sinto as agruras que impõemNo chão pés descalços;Embates sofrendo, vencendo percalçosSou mãe natureza!

Sou o canto a terraEm mim pequeninaSemente germinaMeu seio protegeAmamenta, alimentao fruto gerado!Se a vida é mistério na voz do Profetaé teu meu cantarSou tua voz poeta.

Sou o canto da terraDesejo falarDa flor da campinaHumilde franzinaBeleza, encanto da várzea floridados lírios do campoAlvura sem par!Se berço, ser ninhodas aves que aninho.Poder colorir, saber matizar;Das mais belas flores.Ser suaves odores!

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Sou o canto da terra.Sou o barro que prendeTua casa no chãoSou a telha que cobreTeu lar, teu rincão!Sou entranha, fecunda promessaFartura, fartura!Sou o milho, arroz, gostoso feijãoSou o trigo no larna mesa teu pão!Na mesa do altarMilagre da fé Consubstanciação!

Sou o canto da terraUm dia poetaMeu canto da paz será derradeiroMeu ventre materno será verdadeiroIrá embalarteu corpo, teu ser espera guardar.Tua voz fantasiasTeus sonhos poesias!

Nas mãos de JesusPequena porçãome ungiu, transformouDivina saliva, milagre de amor!Fui lama benditaFui chama de luzQue o cego curou!Sou canto de glóriaSou o canto da terraMeu canto é...Vitória!

Convidada de honra e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 8.

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Outras águasGuiomar Sant’Anna Murta*

Eram claras, transparecendo a areia do fundo que os pedreiros retiravam para seus trabalhos, águas também de lambaris e de lavadeiras, com tantas histórias que o rio de todos parecia de santos, em ritos e mitos, sinais e contradições.

Moradores das margens de barrancos gramados viam as benzedeiras procu-rando ervas para banhos e rezas e, muitas vezes, assistiam a alguns rituais sacrali-zados, nos meandros da fé e da memória. A menina curiosa olhava, encantada, sem precisar entender...

O rio estreito permitia-lhe a escuta necessária: “Corre... Vai logo chamar aquela benzedeira da casinha do fundo da Toca da Onça... Parece caso grave!”. Caso assim já tinha visto da benzedeira que trazia tição fumegante, pois precisava de brasas coloca-das no remanso e à espera de flutuar resposta.

A história mais dolorosa a que assistiu, na outra margem do rio, foi a chegada de uma família, em desespero, que levava um menino muito ferido para o Hospital Santa Rosália. A mãe insistia com o marido que não parasse porque não podia perder um minuto de esperança. O pai exclamava, já cercado de curiosos, que não ia deixar de satisfazer a última vontade do menino que insistia, entre gemidos, em beber o derradeiro gole de água daquele rio, antes de ser entregue nas mãos dos médicos, no hospital. O menino sabia que ia morrer. O pai entendia a importância de dar-lhe, na concha da mão, o gole da água suja só para aliviar ou limpar o encardido da consciência de ter retardado providências... Ninguém entendia a cena confusa que passou rapidamente, mas que gravou forte na memória de quantos acorreram até a ponte, compondo coadjuvantes naquela cena dramática, no palco da Padre Virgolino. A única ajuda que o pai aceitou foi a de um lençol limpo para envolver o filho, após satisfazer sua vontade, no barranco enlameado, onde aconchegou o filho, chorando. Na tarde do mesmo dia, o pai voltou para juntar suas lágrimas com a água do rio, acreditando que a morte devia ter uma canoa confortável para levar seu menino, pelo Rio das Mortes, até a morada dos anjos.

O fim do ano chegava no calendário e nas férias da meninada da rua. A chuva da véspera engrossou o rio magro, chamando atenção das crianças que se curvavam na cabeceira da ponte para admirar o volume da água. “Aposto que já subiu um pal-mo! Será mesmo outra enchente?”. De repente, o fato inusitado: a mocinha de vestido estampado chegou à ponta da margem, tirou rápido o vestido e, de combinação cor-de-rosa, pulou no meio das águas... Muito susto, alguns gritos de surpresa e uma mu-lher a bradar, correndo pela margem: “Seu pai vai lhe dar uma surra de cabresto quan-do souber da sua loucura!”. Antes da curva dos bambus, a mocinha saiu da água, bem junto à pedra das lavadeiras. Alguém da Av. Israel Pinheiro chegava com uma coberta para envolver a adolescente seminua que, na memória de muitos, deixou a sombra das suas braçadas e da combinação colorida que ela usava. Passado o susto, alguns moleques já faziam brincadeira do caso: “Apareceu hoje uma sereia cor-de-rosa para enfeitar nosso rio”. Poucos sabiam da história triste da menina que havia chegado de trem, na véspera, da sua cidade, Ponta de Areia, que o mar estava engolindo.

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Outras tantas, completas ou fragmentadas, cenas e histórias se fixaram entre os meandros do curso das águas e da memória daquela menina curiosa que, pensando no rio que margeou sua vida, brinca, ainda, com 78 anos, de escrever e recordar. Em sua mente ressoa a voz do poeta Mário Muricy Sant’Anna declamando retalho de um soneto que ele fez, contemplando um rio:

“Esta espuma que cai ao pé dos teus barrancosvai me dando impressão, vai me dizendo, vaique estás ficando velho e tens cabelos brancos...”

* Escritora, assistente social, professora universitária aposentada. Convidada de honra da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água, presente de DeusElisa Augusta de Andrade Farina*

“E disse DEUS: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas.” (Gn 1.6)

E as águas benditas inundaram a Terra formando os rios, os mares, as cachoeiras. Deus povoou as águas de enxames de seres viventes, bem como a Terra.

Em seu plano de criação, o Onipotente abençoou a água como mantenedora da vida. Esta mesma água que escoa desde sempre, como símbolo de poder criativo e sabedoria inquestionável de um Deus que tudo sabe e tudo vê.

A ciência tem demonstrado que a vida se originou na água e que ela constitui a matéria predominantemente em todos os corpos vivos.

Jamais poderemos imaginar um tipo de vida em sociedade que dispense o uso da água: água para beber e cozinhar; para a higiene do lar e das cidades; para o uso industrial, irrigação das plantas, geração de energia, navegação, lavagem de transporte de detritos...

A água constitui fator de grande importância no estabelecimento do mundo em que vivemos e está em consonância com os desígnios de Deus.

No clima, permite a manutenção de temperaturas amenas e variações não muito acentuadas, é componente indispensável à existência da vida em todas as suas formas.

Os mais belos cenários da Terra, agradável aos sentidos, à imaginação, ao repouso e convidativos à poesia não podem deixar de ter água em sua composição, geralmente como fundo principal: as ondas do mar, das cachoeiras, os regatos, a neve sobre as montanhas, os lagos espelhados, a chuva caindo sobre a mata.

Graças à energia solar sobre a Terra e às características especiais das molé-culas de água, esta permanece em forma cíclica na natureza, mantendo a necessária umidade, bem como a disponibilidade permanente nos rios, no subsolo ou na forma de gelo, o que permite sua constante utilização.

Os organismos aquáticos, além das necessidades fisiológicas de água para a composição de suas células e fluidos circulantes, vivem em ambientes aquáticos, dependendo da água também como meio externo. Isso faz com que apresentem ca-racterísticas físicas, anatômicas e biológicas peculiares, além de exigirem certas qua-lidades de composição da água onde vivem.

“Tenho sede de ti, ó Deus vivo” (baseado no Salmo 42.2). Somos convidados, com as palavras deste salmo, a buscarmos a felicidade preenchendo o nosso vazio interior, na fonte que sacia a sede de nossa alma: o Pai Bondoso. Só Deus é capaz de nos oferecer um porto seguro no qual encontramos paz, esperança e novo alento.

As fontes naturais são de suma importância e nos cabe a sabedoria de re-cuperar a sua qualidade por meio de processos de tratamento que venham coibir a poluição que está matando as nascentes e os lençóis freáticos. Com um planejamento adequado e comprometimento será possível o uso mais racional e a proteção da qua-lidade de vida desse importante recurso mineral que é a água.

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E a fonte espiritual? Dá-me dessa água, como elaboração perene da certeza da Palavra do Salvador Jesus, fonte da Vida Eterna?

Quando pedimos “Dá-me dessa água” estamos nos aproximando do Salvador, fonte perene da vida eterna, aplacando a sede espiritual e motivados para viver e compartilhar Cristo, a água da vida, com disposição e alegria.

* Professora universitária, escritora e vice-presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 6.

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A água naquele tempoHumberto Luiz Salustiano Costa*

“... e a fonte a cantar: chuá, chuáe a água a correr: chuê, chuê...”

Naquele tempo em que o meio ambiente não sofria os malefícios da degradação que hoje assola o planeta no seu todo, a água se fazia abundante. Os nossos rios favoreciam a mais rica piscicultura e no seu curso floresciam imensas áreas cultiváveis.

Naquele tempo, desde cedo a água era ensinada nas escolas como sendo verdadeira fonte de vida, o precioso líquido do qual o mundo inteiro se utiliza em todas as suas necessi-dades essenciais.

Naquele tempo eram preservadas todas as nascentes, pelo respeito que se devia à natureza.

Naquele tempo, as fontes, já em seu nascedouro, eram cuidadas com o devido ca-rinho, uma vez que nas propriedades rurais elas representavam uma das riquezas maiores, sempre cercadas de cuidados especiais.

Naquele tempo a água que abastecia as pequenas propriedades rurícolas chega-va a seu destino doméstico através de bambus enfileirados, sendo este um modelo de encanação da época.

Naquele tempo a água vinda das nascentes era cristalina, bem próxima de água gela-da. Beber água de bica era, de fato, refrescante, saudável e muito bem-vinda.

Naquele tempo não existiam as chamadas leis protecionistas de hoje, no entanto, o meio ambiente era respeitado e mantido em seu estado natural.

Naquele tempo não se falava no mau uso da água porque os povos tinham na devida conta o seu valor, sendo utilizada sem desperdício. Lavar calçadas em vez de varrê-las, ja-mais. Esse tipo de conduta era de todo desconhecido.

Naquele tempo ninguém, em sã consciência, podia imaginar que um dia o mun-do viesse a se preocupar em face da escassez do precioso líquido que era abundante em nossos rios, que de caudalosos foram se transformando em simples filetes d’água, isso quando não se prestam a esgoto a céu aberto nas cidades onde o saneamento básico ainda não chegou.

Naquele tempo, a água, como fonte inesgotável de vida, ainda teria de passar por um processo de tratamento, o que só viria ocorrer muito tempo mais tarde, representando o fim de alguns males provocados pelas naturais impurezas que continha a partir do momento em que a ação predatória do homem se encarregou de contaminá-la.

Naquele tempo os grandes mananciais representavam a certeza de que o mundo ja-mais iria experimentar a maior das preocupações diante da ameaça iminente da falta d’água.

Enfim, naquele tempo, a água, que era abundante, aos poucos vai escasseando num crescendo deveras preocupante. Muitos, no entanto, são aqueles que sabem usá-la com cri-tério, bem como há os que simplesmente continuam teimando em agredir a natureza no que de mais importante ela tem a nos dar: a água, cuja escassez poderá levar o mundo a enfrentar o maior flagelo de toda a história da humanidade.

* Membro titular da Academia Caratinguense de Letras, membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni, Presidente da Fundação Educacional Erich Gade e diretor-presidente do Sistema Cara-tinga de Comunicação.

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ÁguaGervásio Horta*

“São as águas de março fechando o verão e a promessa de vida no meu coração.”

Busco lembrar onde está ÁGUA nas letras das nossas canções, certo de que as promessas vividas, como diz o imortal Jobim, certamente virão com ela.

Lembro dos antigos carnavais: “Alá lá ô ô ô ô ô... mande água pra Iaiá, mande água pra Ioiô. Alá, meu bom Alá”.

Lembro de Zé e Zilda comandando a folia: “As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver ficar”. Da cantora Marlene, agitando os salões cariocas: “Lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, pelas mãos leva a criança, lá vai Maria...”.

Lembro dos tempos do ginásio estadual. Do professor Arquimedes, repetindo em suas aulas de geografia: “Tudo é rocha, toda água é mineral”.

Dos bons tempos em que a “cachaça vinha do alambique e a água vinha do ribeirão”. E a mãe perguntava para o menino: “Ô fio, você tá comendo vidro? Eu não, mãe, tô chupando é pedra d’água”.

Tempos inocentes, em que a poluição era palavra estranha e os batuqueiros entoavam este refrão: “Dona Mariquinha, me dá água pra beber, se você não me der água, vou falar mal de você”.

E para não ficar ausente, lembro do ano de 1960, quando os foliões de BH cantavam nossa canção: “As águas já rolaram na rua da Bahia, mais do que em Três Marias ê ê ê”.

Lembro-me de muita coisa: dos banhos nos rios e do espanto de conhecer a água salgada nos mares de Alcobaça. Das preguiças da Praça, buscando água em uma pequena fonte.

E agora, cheio de recordações, peço tudo pela água, menos que fechem o verão.

* Cantor e compositor teófilo-otonense. Reside em Belo Horizonte/MG, é membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água – Milagre – VidaGilberto Ottoni Porto*

Milagre da natureza, milagre de Deus. Sem água é impossível a vida. Planeta sem água é matéria estéril.Os primeiros filósofos já consideravam a água, junto com a terra, o fogo e o ar,

substância fundamental na formação do mundo.No Gênesis, no início da criação, o espírito de Deus pairava sobre as águas.Água é bênção de Deus, sagrada por natureza, força poderosa que constrói

e destrói colocada à disposição da humanidade para a sua evolução. É fundamental valorizá-la e cuidá-la.

Água contaminada é fonte de inúmeras doenças. A sustentabilidade da vida na Terra exige que cuidemos da água como dom sagrado. Usá-la com sabedoria e parcimônia é indispensável à continuidade da vida.

Cada um em particular, a sociedade como um todo e os governos em especial, todos temos compromisso com sua preservação.

Precisamos colaborar com as empresas de saneamento, informando os va-zamentos em nossas ruas, evitando lavar passeios com água tratada, racionalizando seu uso para o bem de todos. Os apartamentos em prédios devem ter hidrômetros separados para controle do consumo. Empresas como a Copasa deveriam ter reser-vatórios espalhados por toda a cidade, para garantir pressão e vazão suficientes para todas as residências, evitando caixas d’água domiciliares, fontes de contaminação e criatório de mosquitos da dengue, quando mal cobertas.

O esgoto sanitário, totalmente separado da água de chuva, deveria ser todo coletado em redes que o levassem a tratamento, evitando lançamento direto nos córregos e valas.

As prefeituras precisam reservar ruas e avenidas ao longo de todos os córregos e rios para facilitar o esgotamento sanitário.

Tratar esgoto é dar vida aos rios, recuperando sua flora natural e seus peixes, bem como evitar a disseminação de doenças como a esquistossomose, tifo e outras.

Com a vida não se brinca, água é o milagre de Deus a ser valorizado e pre-servado.

* Engenheiro civil e sanitarista. É conselheiro do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri e membro benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água bendita que o Universo conduzAntônio Jorge de Lima Gomes*

Água da serra, água do chão.Água da fonte e do brejão.Água do poço, água do ar.É o caminho do rio pro mar.

Bendita água. Bendita seja.Água bendita. Sempre serás.

Que mata a sede dos povos da TerraDe todas as plantas e dos animais.

Água do queijo, do requeijãoÁgua do amor, da amamentação.

Do sabor da mãe, do pai e do irmãoQue une as famílias de bom coração.

Bendita água. Bendita seja.Água bendita. Sempre serás.

Que refloresce os frutos da Terra.A cidade e o campo desde os ancestrais.

Água da vida, água do pão.Água do arroz e do feijão.

É mantimento, esperança e luzÉ o universo que a todos conduz.

Bendita água. Bendita seja.Água bendita. Sempre serás.

Que enriquece os campos da TerraTodos os vales e as serras gerais.

Água da guerra, Água da paz,Água do beijo e do sexo voraz.

És a placenta, vida e eternidadeQue semeia no mundo a fraternidade.

Bendita água. Bendita seja.Água bendita. Sempre serás.

Que alimenta os povos da TerraTodas as galáxias e seus orbitais.

* Professor Adjunto da Universidade Federal do Jequitinhonha e Mucuri, atualmente no cargo de Vice-Diretor do Instituto de Ciência, Engenharia e Tecnologia, membro da Sociedade Brasileira de Geofísica. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 5.

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É tempo de despertar sua consciênciaSandra Ramalho de Oliveira*

Expandir minha consciência foi a forma que encontrei para ser feliz.Comecei a pesquisar sobre a vida, o espírito, o universo e a força da mente.O despertar em mim sobre o valor do universo e seus componentes surgiu,

quando na juventude, juntamente com amigos, íamos nadar numa cachoeira des-lumbrante, na fazenda do tio Hermes (Lelé) em Itambacuri. Aqueles passeios, sem dúvida, foram a grande fonte inspiradora da minha vida.

Olhar aquela água transparente me dava uma sensação inexplicável de energia, alegria e percepção da força criadora do mundo. Começou aí minha viagem pelo espaço, uma magia que me empolgava e, ao mesmo tempo, permitia religar o universo a Deus.

O barulho das águas soava melodiosamente em meus ouvidos e, embalada naquele som, procurava meditar sobre aquele líquido precioso e pensar na sua real importância para a humanidade. Interessei-me pelo significado grandioso da água em nossa vida.

A água é a seiva do planeta. Ela alimenta a vegetação, os animais, a atmos-fera, a indústria e a nossa vida. Inúmeros são seus benefícios. Afinal, ela é a força e energia...

Conscientizarmo-nos de seu potencial e utilidade é um desafio premente, a fim de garantir um mundo melhor para todos nós.

Por falar em conhecimento ou educação, vemos a poluição atingir rios e ma-res, causando impactos destruidores em nosso planeta. Assim, a contaminação da água causa a morte dos peixes e polui os mangues.

No corpo humano, a água é o principal constituinte, com aproximadamente 70%. Ela é essencial para nós, agindo como reguladora da temperatura e transporte de nutrientes para os órgãos.

A água cobre dois terços da terra e movimenta-se seguindo o ciclo de evapora-ção e transpiração, contribuindo para a formação de chuvas. Seu valor é inestimável para o desenvolvimento econômico, industrial e elétrico.

Principalmente na era atual, temos a urgente necessidade de pensar no seu valor para evitar desperdício. A falta de água potável leva à morte 4 mil crianças por dia no mundo. Vinte e nove países já têm problemas com a falta de água...

Uma pesquisa científica prevê que no ano de 2025 dois em cada três habitan-tes do planeta serão afetados pela escassez de água. A sua falta já afeta o Oriente Médio, a China, a Índia e o Norte da África.

Podemos presenciar uma nova modalidade de guerra: a batalha pela água. Isso aconteceu em 1967, quando os árabes fizeram obras para desviar o curso do rio Jordão, que nasce no sul do Líbano e banha Israel e Jordânia. O governo israelense ordenou o bombardeamento da obra.

Por esse motivo, a ONU instituiu, em 1992, o Dia Mundial da Água em 22 de março, com o objetivo de refletir e discutir sobre o problema da poluição.

Sua proteção é uma necessidade vital e uma obrigação moral do homem para

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com as gerações futuras.O Brasil é um país privilegiado, pois tem 20% da água doce da Terra.Diante desses fatos, é urgente que a sociedade colabore com o saneamento

ambiental, que não jogue lixo na rua, nos rios, nos mares, nas praias.Abra sua mente e ela lhe dará a chave da compreensão sobre o valor indes-

critível da água.

* Assistente social, escritora e artista plástica, membro da Academia Caratinguense de Letras. É mem-bro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A água e as rosasMarlene Campos Vieira*

No dia das Mães ganhei rosas de presente, foram presente de uma amiga

muito querida, eu as coloquei em uma jarra com bastante água. Hoje, ao me aproxi-mar, vi que elas estavam murchas, troquei a água e nada. Fiquei tão triste! Quisera poder revivê-las... Aquela postura reverente, cabeça baixa de quem se põe de joelhos para agradecer, transmitiu-me um sentimento diferente: a humildade da criação divi-na; pensei num final feliz para elas. Queimá-las? Acho cruel, então pensei em jogá-las nas águas, seria um lindo final. Só então me lembrei das águas que passam pelo rio, no centro da cidade; sujeira, detritos e esgotos. Volto-me para as palavras bíblicas, que resumem o que é sagrado: “Eu sou a Água Viva”.

A importância da água é declaradamente notória, pois somos seres formados, em essência, pela água. Penso então nos versos da música poética: “Se as rosas falassem”, de Cartola. Como jogá-las na podridão se elas levam o perfume que rou-baram de mim enquanto aqui estiveram, e eu o delas. Pode parecer banal meu racio-cínio, mas, é só meu, e sentimento não se explica. Jogar nas águas correntes, lembra muito os versos de Cecília Meireles. Na poesia Canção, ela diz: “E o sorriso que eu te levava, desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim”. Nas águas do meu rio, não vive sorriso, só tristeza, mas minhas rosas, não irão acabar assim, elas precisam de água viva.

A morte que as autoridades decretaram às fontes de água viva um dia será co-brada. Vemos todos os anos, nos períodos chuvosos, cidades alagadas. Num tempo remoto, era costume enrolar os mortos e jogarem seus corpos nas águas, seguido de grandes rituais. Revendo o passado, tive boas lembranças dos rios, das cidades onde morei. Gostaria tanto de passá-las a meus netos, mas meus filhos cresceram vendo a invasão de águas em nossa casa. Muitas vezes fomos expulsos pela revolta do rio. Quantas lembranças se foram naquelas águas, barrentas. Mas nosso lado positivo fala mais alto, nossa essência busca a felicidade, sendo assim, lá do fundo das mi-nhas lembranças, chega o barulho e a deslumbrante visão das Cataratas do Iguaçu. Ali vemos o poder divino, o qual cita Jó-14, “Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como a planta nova”.

Ziraldo conta no livro O menino e seu amigo a história do seu avô. Ele diz: “O homem segurava a mão do menino para, juntos, irem ao rio ver o tempo e o rio pas-sar”. Belas lembranças de um passado onde se podia curtir esta alegria. Como não posso mudar a minha realidade, decidi guardar minhas rosas, até secarem, depois as jogarei debaixo de uma roseira; elas estarão em família. Eu esperarei outras rosas, até que chegue um tempo feliz, onde as águas irão levá-las ao infinito. Será um tempo novo, em que chegando à beira do rio veremos nossa imagem nele refletida. Do fundo da alma uma declaração: “Água, bendita água!”.

* Escritora e educadora. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 29.

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Água de beberGessimar Gomes de Oliveira*

O planeta está pedindo água,Em todos os sentidos.

Temos sede de justiça,Sede de solidariedade humana.Desejo por gotas de fraternidade,Nessa vida insana.

E as fontes secando,Tanto as que alimentam os rios,Quanto as que saciam o coração humano.

As pessoas não estão preservando a água,Que corre fluída pelos minguados riachos e rios,Se um dia toda a água findar neste planeta,Não haverá nem lágrimas para serem derramadas.

Salvem o Rio São Francisco,Salvem o Rio Todos os Santos,Salvem a nós mesmos.

* Escritor teófilo-otonense, residente em Montes Claros/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Biodireito como fundamento de acesso à água potável

Priscilla dos Santos Gomes*

O direito ao acesso à água potável é um direito fundamental, intimamente liga-do ao direito à vida e à saúde. É inegável que sem água não há vida, dada a sua es-sencialidade. A água é um recurso vital insubstituível, sendo um poderoso instrumento econômico e geopolítico.

Na interação entre Direito, Saúde e Ciências encontramos o biodireito, como sendo um conjunto de normas que tem por objeto regular as atividades desenvolvi-das pelas biociências e biotecnologias, com a finalidade de manter a integridade e a dignidade humana sempre em favor da vida. Assim, o acesso à água potável é uma questão intrínseca ao biodireito.

A bioética, como ramo do biodireito, é entendida como o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, à medida que esta conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais. Esta interage com estudos e pesquisas científicas, nas diversas áreas do saber, na constante busca do avanço do conhecimento científico, objetivando sempre o bem-estar da sociedade.

Após a Segunda Guerra Mundial, foi criada, em 1945, a Organização das Na-ções Unidas (ONU), surgindo como importante organismo de proteção internacional aos direitos humanos, encontrando-se nessa geração de direitos fundamentais o di-reito ao meio ambiente equilibrado e saudável, sendo a água potável o componente essencial.

A água deve, antes de tudo, ser considerada um bem socioambiental. Deste modo, em vez de exclusivamente se priorizar a água como um bem econômico, carece, também, no mesmo nível de importância, considerar a água como um bem social.

A fundamentalidade dos direitos inerentes à água potável por muito tempo foi debatida devido à sua importância e preservação. Desta forma, em 22 de março de 1992, a ONU instituiu o “Dia Mundial da Água”, publicando um documento intitulado “Declaração Universal dos Direitos da Água”, com o objetivo de atingir a todos e se fazer cumprir o princípio da dignidade da pessoa humana e para que se desenvolva o respeito aos direitos e obrigações nela anunciados. Assim, os direitos fundamentais dispostos nas declarações da ONU são reconhecidos mundialmente como direitos de todos os homens.

Diante da recente escassez de água potável a ONU definiu a “Década Inter-nacional para Ação, Água, fonte de vida”, entre 2005 e 2015, através da Resolução A/RES/58/217, com a finalidade de conscientizar todas as sociedades para a preser-vação da água em nível global.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 não incluiu a água como direito fun-damental, desconsiderando-a do rol dos Direitos Sociais, no entanto, engloba a água no Título III da Organização do Estado, no art. 20 que os lagos, rios e quaisquer cor-rentes de água, são considerados bens da União, englobando, ainda, no art. 26, que as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes e emergentes são bens dos Estados.

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Dessa forma, a água, por ser um bem da União e dos Estados, é um bem acessível a todos, possuindo status constitucional.

No ano de 1992, ocorreu no Rio de Janeiro a ECO-92 – Conferência das Na-ções Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ficando estabelecido um acordo internacional assinado por 130 chefes de Estado, que grafa na Agenda 21 nos princípios da solidariedade e benefício mútuo nas questões referentes à água potável.

Em 1997 foi sancionada a Lei Federal nº 9.433 – Da Política Nacional de Re-cursos Hídricos, na qual fundamenta que “a água é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico”.

É importante ressaltar que o direito ao acesso à água é um direito humano fundamental e que deve ser difundido de modo igualitário a todos os cidadãos, sob pena de se ferir a dignidade humana, haja vista que não existe vida sem água e não há como se viver dignamente se seu acesso for inviabilizado.

Nesse sentido, o acesso à água está associado à bioética, ao direito ambien-tal, civil, penal e constitucional, que tem nas suas relações jurídicas a dignidade da pessoa humana.

* Doutoranda em Sociologia, Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo pela Univer-sidade de Coimbra/Portugal; mestre em Ciências da Educação; especialista em Gestão Educacional; bacharel em Direito; professora Universitária e de Pós-graduação.

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Tanto que te quero água, para matar a minha sede

Varenka de Fátima Araújo Garrido*

Princípio de um modo com metamorfose. O processo da água inicia-se dentro do útero da mãe. Saímos de um mundo inundo por água, para vivermos neste mundo abundante de água, pois cerca de três quartos da superfície planeta Terra são cober-tos de água, somos um planeta azulado, a cor que acalma e nos enche de energia positiva.

É preciso que saibamos que somos compostos por água. E que a civilização, desde os primórdios, preferia viver próxima do rio para suprir suas necessidades e se desenvolver mais rapidamente. Ressaltamos que tudo que tem vida na Terra depende da água. Obviamente, uns homens gananciosos devastaram e fizeram a desertifica-ção, sendo prejudicial para o planeta. Então, do meio do caminho, façamos nossa parte não desperdiçando água e devastando nosso planeta, pois desde já devemos nos conscientizar que água é vida e sem água morreremos.

* Escritora, poetisa, reside em Salvador/BA, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Dois pra lá, dois pra cá... Arnaldo Pinto Júnior*

Quando toda a humanidade vive aos sobressaltos diante do possível pro-blema de faltar água em algumas regiões do globo terrestre, poucos são os brasileiros que se mostram preocupados com tal alerta. Afinal, salvo informação que modifique aquilo que aprendi nas aulas de Geografia nos antigos cursos primário, ginasial e científico, o território brasileiro é um privilegiado no tocante à água existente por aqui. Afinal, os ambientalistas dizem que possuímos a maior reserva de água doce do planeta Terra e, mesmo com a seca que, vez por outra, assola alguma região, as nossas reservas são suficientes para o suporte naquilo que se poderia chamar de “tempo de vacas magras”.

Nem vou lembrar da extensa bacia hidrográfica brasileira com todos os cursos d’água que dela fazem parte. Aquele momento de estudar todos os rios e seus respectivos afluentes pela margem esquerda e pela margem direita já foi por demais sacrificante quando tinha que me preparar para as provas mensais ou parciais de Geografia dentro do currículo escolar.

Mas, se falamos em cursos d’água, há que se tirar o chapéu para dois rios brasileiros. Um tem total semelhança com um oceano. Em nível nacional, o gran-dioso Amazonas é o destaque maior, disparado. O outro, tem bastante a ver com a nossa mineiridade: refiro-me ao querido Velho Chico, o nosso São Francisco, o rio da Integração Nacional. A integração fica por conta da sua passagem por cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergi-pe. Ou seja, se a referência fica pelo Amazonas e pelo São Francisco, há de se considerar que todos os rios brasileiros atuam como fator preponderante para a navegação, irrigação de plantações e para a pesca, impulsionando a economia das populações ribeirinhas.

Pois é, se considero interessante falar em dois rios de grande expressão para destacar a magnitude da bacia hidrográfica brasileira, gostaria também de citar dois outros que podem ser considerados riachos, se fôssemos compará-los com os portentosos Amazonas e São Francisco. Refiro-me aos dois pequenos rios que passam pela área urbana da cidade de Teófilo Otoni: os nossos queri-díssimos Todos os Santos e Santo Antônio, o segundo afluente do primeiro. São pouco representativos, mas é com eles que a população da nossa cidade tem se virado ao longo dos seus mais de 160 anos de fundação. Primam pela humildade e nem há uma visão mais destacada pelo fato de que o Todos os Santos deságua no Rio Mucuri, esse, sim, grande expressão do município, mas que passa ape-nas pela área rural, sem dar o seu toque pela cidade propriamente dita.

Durante muito tempo esses dois rios serviram de depósito à rede de esgo-tos da cidade, além do mau costume da população em despejar todo tipo de lixo em suas margens. As autoridades até que têm procurado dar boa solução aos problemas, primeiro com a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) e, em outro enfoque, incentivando a população a que contribua para minimizar a poluição

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dos nossos dois rios, fato que ainda não ganhou a total aceitação. Só que, humildes em seus cursos, águas não tão volumosas quando os

notáveis dois pra lá Amazonas e São Francisco, os nossos dois pra cá Todos os Santos e Santo Antônio vêm suprindo as necessidades dos teófilo-otonenses ao longo dos anos, nunca tendo registrado no município falta do precioso líquido para os que nele vivem.

* Professor e jornalista, membro benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Identidade líquidaRaquel Melo Urbano de Carvalho*

Somos gente com sede. Talvez porque nascemos no meio de um país com muito mar, mas de nós distante. Talvez porque São Pedro, às vezes, esqueça desse canto de Minas, abandonando-nos no inverno de céu azul, ar seco, sol brilhante a queimar as folhas e os miolos. Vai ver que temos sede porque em nossa alma sobra inspiração que, coberta com o pó e pela dureza da vida, insiste em jorrar, não importa que pouco refresque nossos dias.

Somos todos parte do mesmo rio. Aprendemos cedo que o risco de desapa-recer é constante e a teimosia em ficar também. Não temos receio do pouco ou do quase nada, nem de nos avolumar e sair por aí absorvendo, levando e arrastando o que nos é lançado. Seguimos um caminho que não sabemos qual, mas que deságua maior, quase ilimitado. Sabemos que, correndo leito afora, nos misturamos a mundos diversos; brotamos gelados para, sendo nós mesmos, abrandar secura; verdadeiras fontes renascidas e renascentes, aquecidas na transformação.

Temos um lado tempestade, braveza que surge avassaladora e até inespe-rada. Melhor é se afastar quando o barulho avisa a trovoada: a que vem antes dos raios e da enchente, impiedosos. Mas somos também bolinhas de sabão. Saímos por aí distraídos, frágeis, sem preocupação com a hora de acabar, apenas existindo e encantando, até no reflexo de luz. Paramos na praça, defronte a fonte; aquela que resistiu além do Palácio, bem ao lado da preguiça (não a mesma, mas outra, que é a mesma), deixando jorrar lembrança boa e simples, como são as melhores.

Somos água que desce dos olhos. Aquela que molha o rosto diante do injusto e da maldade. Nascidos, descobrimos que existem. O mau pode ser vizinho ou andar sem rumo, a afogar sonhos bonitos, do tipo mais puro, mesmo quando eles encontram a força, a disciplina e a coragem. Mas tem nada não. Aprendemos a secar com as costas das mãos, deixando-as logo livres para o recomeço. Descobrimos o segredo: afogar tristeza em aconchego próximo e mergulhar em novo poço, renovados, cui-dando para escapar de outros redemoinhos. Evaporamos medo e gotejamos suaves lágrimas, únicas. De alegria.

Somos suor, saliva e paixão. A energia da fertilidade que banha de (a) vida. Sô-fregos, agarramos o plano: mudar. E manter. O mundo. E a essência. Ensopamos de esperança, que bem sabemos esconder. E revelar. No lugar de empoçar, escorremos, felizes, sozinhos ou acompanhados, pela insensatez ou lucidez das nossas esco-lhas. O impossível, tão contraditório, que nos faz ser quem somos. Sem pensar, sem precisar fazer, apenas sendo. Cristalinos e sujos. Inodoros e inebriantes. Límpidos e opacos. Um mar de possibilidades. Líquidas.

* Escritora, poetisa e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 24.

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A passagemLeandro Bertoldo Silva*

É possível escrever nos espaços onde as águas preenchem...

Um dia um pescador saiu para pescar. Levantou mais cedo que os outros e foi para o rio. Lá, desembainhou o facão e desvestiu a pele de seu corpo se jogando na água. Assim que seu corpo sem pele tocou a água, ele se transformou em um peixe lindo que encantou os outros peixes conduzindo-os às redes dos outros pescadores que, a essa altura, já estavam armadas. No final do dia, e já em forma de homem, voltou para casa levando um único peixe, diferente dos demais que voltaram com as redes cheias. Com o tempo, seu filho foi achando aquilo estranho, mas era só ouvir as algazarras dos meninos que logo esquecia e ia brincar com as outras crianças.

Uma vez o rapaz acordou mais cedo que o pai. Esperou que este saísse e o seguiu presenciando o que ele fazia. Naquele dia o pai não mais voltou para casa. Os pescadores também não levaram peixe algum. Assim foram todos os outros dias que se seguiram até que o rapaz, que havia mantido silêncio, fez o que precisava: levantou cedo e foi para o rio procurar o pai. Ao chegar, o viu de costas na margem da água parecendo que o esperava.

– Você descobriu... Agora terá que tomar o meu lugar.– E se eu não quiser, pai?– Todos morrerão de fome. Nós dois sabemos que não há escolha.Desembainhou o facão e um grito de pânico se fez ouvir. O rapaz sentou-se na

cama se sentindo completamente ofegante e suado...– Pesadelo, filho?– Sim, eu...– Já não era sem tempo... Levante-se! Hoje você vai pescar comigo.Um medo terrível o assolou e ele fez a mesma pergunta do sonho:– E se eu não quiser, pai?– Nós dois sabemos que não há escolha... Eu vi como ontem você não quis

brincar com as outras crianças...O tempo havia chegado... E foi assim que a passagem de sua infância se deu

como uma lâmina a desvestir o seu corpo e expor a sua alma. Era o que pensava lembrando-se do pai enquanto ele, agora homem feito, olhava o filho que dormia parecendo que sonhava, enquanto o rio – infinidade dos possíveis – preparava novas águas...

* Escritor e professor, reside em Padre Paraíso/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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As águas vão rolarAntônio Altivo Gomes*

As águas vão rolar limpas, cristalinas, a verdejar as plantas, matar a sede, a tilintar nos riachos, ondular nos rios, cumprindo a sua missão de dar vida às plantas, recarregando as águas subterrâneas, alimentando nascentes. As águas vão rolar cla-ras, transparentes a mostrar os peixes no Todos os Santos, Mucuris e outros rios que atravessam cidades e que deixaram de encantar os seus moradores, que podiam neles nadar, lavar suas roupas e os seus pecados, aliviando suas almas, ao emergir nela as suas nudezas.

As águas ainda vão rolar do jeito que Deus as criou e quis, ao nos oferecer os Jardins do Éden, tendo como maior bem as suas águas, que ainda hoje teimam em irrigar o mundo, com a humildade de quem serve por amor.

As águas vão rolar, acionando moinhos engenhos, turbinas a produzir ener-gias e iluminar as ruas e as nossas casas, à acionar os raios laser, nos livrando das cataratas que nos tiram a visão, e os tumores malignos pelas mãos milagrosas dos cirurgiões.

As águas vão rolar, irrigando as lavouras, produzindo alimentos para garantir a vida no planeta, ou seja, no paraíso oferecido por DEUS, que depois de ver que tudo era bom, é que foi fazer o homem a sua imagem e semelhança, na esperança que dotado de inteligência, pudesse o homem zelar pela água, a fonte da vida.

As águas vão rolar através das chuvas que irrigam as matas criando humos e enriquecendo o solo, alimentando as árvores através das raízes capilares, provocando nuvens, transformando novamente em chuvas a irrigar as lavouras e pastagens umede-cendo a terra, conservando nascentes que alimentam córregos, riachos e rios a tilintar castas benfazejas pelo universo.

As águas vão rolar, embelezando com suas cascatas e cachoeiras alimentando os mares.

As águas vão rolar, criando lagos alimentando peixes e todas as vidas sub-mersas.

Se as águas não rolarem limpas e cristalinas, cumprindo seu ritual Divino de levar a essência da vida, o homem morrerá por não ter cumprido a sua missão de ser inteligente à imagem e semelhança de Deus.

* Diretor e redator do jornal A Pedra, do município de Ladainha/MG.

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A vingança da naturezaHélio Pereira dos Santos*

– Eu posso gastar água à vontade, afinal, estou pagando!– Não adianta eu economizar água, pois outras pessoas não economizarão e

só eu vou ficar prejudicado?– Temos muita água, é bobeira economizar.– Água foi feita é para usar.– Não vou deixar minha calçada nem meu carro sujos, para economizar água

para outros.– Desde que esteja pagando, posso usar água à vontade.Essas e outras frases foram ditas por pessoas que hoje estão ficando até 10

dias sem ver a preciosa saindo em suas torneiras, em várias cidades de Minas e do Brasil. Água mineral está sendo comprada, por quem pode, para beber, cozinhar e até tomar banho, de vez em quando. E quem não pode? Imagina o que estão passando.

Estão desmatando e fazendo queimadas desordenadamente. Em consequ-ência, as minas estão secando, os rios estão morrendo e os peixes pedindo socorro. Poços artesianos estão sendo furados desesperadamente, muitas vezes sem sucesso. O lençol freático está baixando em muitas regiões. As pessoas estão se reunindo para rezar/orar, pedindo a Deus que mande chuva, mas nunca se arrependem das frases ditas, muito menos das atitudes tomadas, em épocas de muita água, mas já previstas a escassez!

Talvez pensassem que a falta de água só aconteceria muitos anos à frente. Mas é hoje que está faltando em muitos municípios, e se atitudes de reflorestamentos, de economia, de alerta, de educação, de estudo e de conscientização, não forem tomadas, VOCÊ, caro leitor, se nunca experimentou o que é viver sem água, com certeza vai experimentar e afirmo que não vai gostar.

“A VINGANÇA DA NATUREZA TARDA, MAS NÃO FALHA.”Mude de atitude HOJE, AGORA. Faça a sua parte e eduque sua família.

* Escritor, reside em Contagem/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Petróleo incolorPaulo Dias Neme*

IJesus Cristo foi batizadocom a água do Rio Jordãorio abençoadoque tem santa tradição. IIA água é importantepara a sobrevivência da humanidadea vida torna-se destoantesem água, que preciosidade. IIIÁgua potável não se deve desperdiçarpara que não haja balbúrdiae sim bem-estare não anomalia. IV O homem deve ficar espertocom escassez da água sadiaporque é quase certoque a água acabará um dia.

* Professor, poeta, historiador, cientista político, jornalista, reside em São Paulo/SP, é membro corres-pondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Pura seiva viva da eternidade!Odenir Ferro*

Desde o romper da bolsa grávidaEstamos envolvidos no líquido amniótico.Nascemos, vivemos e morremos para a vida,Dependentes da água, até no visual estético!

Somos amamentados, e o nosso corpoCompõe-se, quase na sua totalidade,Deste líquido que é tão milagroso...E é a pura seiva viva da eternidade!

Fluente, influente, tornando-nos capazesDe vivermos livres, saciando a nossa sede,Pois este líquido nos dá guarida, estabilidade.

Vivencial, emocional, espiritual, sublimandoA nossa capacidade de sermos os algozesAmantes deste líquido que bebemos vibrando!

* Escritor, poeta e Embaixador Universal da Paz pelo Cercle Universel des Ambassadeurs de La Paix Suisse/France, reside em Rio Claro/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água! Por que te amoHelena Selma Colen*

Refletir sobre o que estava acontecendo já não acrescentava nada; ouvira dizer por várias vezes que poderia haver racionamento para o planeta, não deram créditos às opiniões dos cientistas consultados e agora fazia uma semana que se encontravam em uma escassez total, havia começado devagar, e aos poucos fora tomando uma proporção impactante, em lugar algum havia aquele líquido que é tão necessário e insubstituível.

Antes era tão simples entrar no banheiro e fazer toda a higiene corporal, tomar um banho, escovar os dentes, depois preparar um jantar, e agora, quando encontrassem algo pronto para comer, estariam salvos.

A matriarca da família havia guardado alguns litros do maravilhoso líquido que se encontrava trancado a “sete chaves”. Eram para a última emergência, dizia ela. E ele, que era um dos membros daquela família, às vezes sonhava que a mãe estava entregando um litro para ele, então ele corria para o quarto para sorver de porta fecha-da e sentir o líquido escorrendo pela garganta abaixo, invadindo a laringe, a faringe e como numa vertente alcançando o esôfago e, finalmente, deslizando até o estômago. Naqueles momentos ele sofria, pois nunca imaginara sentir tanta falta dela.

Quando toda a família encontrava-se impotente e perturbada, a mãe os cha-mou para uma reunião. Apanhou os litros que se encontravam guardados e, como num ritual, entregou a cada um a parte que lhe cabia por direito. “Sei como estão se sentindo, a boca seca, a língua já não cabe na boca de tão inchada, creio não haver esperança para nós, estamos condenados à desidratação total”.

Naquele momento ele acordou cansado e suando muito. “Meu Deus, que so-nho horrível!” Ficou macambúzio, meditando se aquilo poderia acontecer em suas vidas, mas em uma coisa ele acreditava com certeza. Daquele dia em diante, daria muito valor a ela. Aquela que saciava sua sede, hidratava sua pele, seu rosto, seu corpo, sua vida.

Sentia uma necessidade incontrolável de lutar pelas nascentes, procurar pes-soas interessadas em batalhar pela preservação das águas e queria acreditar que ninguém nunca mais sofreria falta dela que despertaria no ser humano o amor, o carinho, a certeza de que ela seria amada em todo o universo. Iria à luta, com certeza encontraria seres conscientes que comungariam com ele os mesmos interesses, os mesmos pensamentos e eles jorrariam juntos a ela para sempre. Água, pra que te quero! Água, por que te amo?

* Professora, escritora, reside em Ladainha/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água, um patrimônio mundial Elmo Notélio*

Gostaria, neste momento, de me incrustar na alma de um filósofo e pensador como Sócrates ou Aristóteles, para então poder exprimir em prosa e verso toda a tris-teza que me invade o coração neste momento.

A água que mata a nossa sede, que é necessária para o cozimento do nosso alimento, que gera energia para as nossas casas e empresas, que é utilizada na higiene diária do nosso corpo, que deveria ser mesmo um patrimônio mundial, está sendo violada desde o seu nascedouro até a formação de rios e lagos.

Por ignorância de alguns, e por maldade da maioria dos seres humanos, a maior riqueza do planeta está sendo poluída e desperdiçada. Por culpa dessa maioria, está surgindo um enorme buraco na camada de ozônio, camada essa que protege os seres vivos do planeta dos nocivos raios ultravioleta emanados pelo Sol.

Se o ser humano não se conscientizar com a máxima urgência, dos males que vem causando à natureza, em muito pouco tempo o planeta não terá espaço para qualquer ser vivo. Em breve, teremos sucumbido à maldade humana.

* Escritor teófilo-otonense, reside em Frei Inocêncio/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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O perfuradorLeuson Francisco da Cruz*

Um pobre homem cavavaUm buraco há vários diasTrabalhando sem pararSem achar o que queria.Um lavrador o observavaFicava ali por várias horasVendo aquele moço cavandoSem achar nem uma escora.Curioso, logo pergunta:– O que está procurandoNesse vale triste e raso?Por acaso, alguma gema?E continua tagarelandoNessa terra dura e secaQue tipo de pedra dar?Por ventura, ametista?Reflete por um momentoE mostra conhecer do assuntoLogo depois desembuchaNessa terra não dá nadaNem cristal nem morionNa verdade, é sua lutaQuem cava por essas bandasSe encontrar é pedra bruta!O perfurador respondeu:Provou ser ruim detetive!Procuro uma coisa preciosaQue sem ela, ninguém vive!O lavrador retrucou:– Que coisa é essa, homem?O que cavava respondeu?– Estou procurando “água”!

* Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 12.

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Aventura de uma viagem no rio JequitinhonhaTherezinha Mello Urbano Carvalho*

Canoeiros do Vale, seu ofício perdeu valor. Abriram-se estradas, construíram pontes e o transporte, nesta região, mudou. Só restam lembranças e saudades de um tempo mágico que se foi.

Era emocionante descer e subir os rios Araçuaí e Jequitinhonha nas canoas que singravam as águas dos nossos sonhos. Cada viagem era um lazer, uma aven-tura, um desafio a vencer.

A história dos canoeiros foi apresentada na oralidade, sem determinação de tempo e espaço, pelos próprios canoeiros. Homens fortes, destemidos, determinados a provar, como disse Odilo Paulo, canoeiro de Jequitinhonha, “Canoa não é força, é opinião”.

Quanta verdade nesta definição. “É viajar nas canoas do vale”, ao “ranger da volga”, dos canoeiros era mais que profissão, era vocação, para serem mais livres. Braços nus, dorsos fortes, seguiam os canoeiros levando a canoa e sua cantiga para “ninar as águas de Araçuaí e Jequitinhonha”. Para eles, memória não é sonho; é trabalho, é ação, é “sobrevivência do passado tudo como aconteceu” é trazê-los ao presente, projetando o futuro.

A subida do rio era mais difícil e cansativa. Os canoeiros lutavam contra a força das águas que desciam e empurravam a canoa rio acima. Quando o vento era forte, armava-se a “tolda” e assim a força do vento substituía o esforço dos “proeiros”. Só o piloto trabalhava norteando a canoa. Quando levava passageiro, armava-se o “boi”. Elas eram construídas de um único tronco, seja vinhático, putumujus, oiticica ou ipê. Tinham mais ou menos com 18 metros de comprimento, 1,20 de largura e 0,80 de altura.

Por mais impecáveis que sejam os textos, usando sempre palavras certas para descrever essa odisseia, será impossível para quem não viajou, nas mágicas águas desses rios, retratar o encantamento e o lazer dessas viagens.

Meu pai contratou por duas vezes uma canoa grande que nos levou de Araçuaí ao Salto da Divisa. Lembro-me bem da segunda viagem que fizemos na canoa de seu Clementino. Era só alegria”. Medo das águas do rio, ninguém tinha. A canoa deslizava nas águas e nós não perdíamos um entardecer, um nascer do dia. Canoeiro começa a lida ao alvorecer.

O mais apaixonante, mais poético era dormir na barraca, nas praias. Eu dormia contando estrelas e em noite de Lua, nem sono tinha. Acompanhava os raios da lua até que eles se fundissem nas águas do rio. Era fantástico, era de uma beleza eston-teante, lírico, repleto de um silêncio puro, de mistério.

Poesia silêncio

Silêncio, este bem Que restaura a alma

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Se esconde;No céu tranquiloNo rio sem ruídoNos passos não andadosNos folguedos imaginadosNas canções sem notas musicaisNo silêncio as palavras nascemA sabedoria nos ensina ouvi-las.O silêncio aquece sentimentosO silêncio aquece sentimentosacaricia emoçõesSilêncio é ponte construídacom vigas de vento da saudadedo desalento, da esperança.Abre horizontes de interaçãotudo isto em sintonia com DeusO silêncio está no momentonão tem princípio nem fim.

E foi no silêncio, de uma noite fria do inverno, que escrevi este texto carregado de memória, de emoções e de saudades.

* Educadora, escritora e poetisa, é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 25.

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H2O – Até quando Terra, planeta água?Egmon Schaper Filho*

Apesar de estar presente em abundância na atmosfera terrestre como vapor e nos polos como gelo, menos de 3% desse volume é de água doce. A maior parte concentrada em geleiras polares e neves das montanhas. Os dados de pesquisas mais recentes dos cientistas são preocupantes!

A água é considerada o solvente universal, sendo responsável pelo transporte de nutrientes em nosso organismo, regulador da temperatura do corpo, onde pode fazer uma verdadeira “faxina” em seu interior. Um dos fatores mais importantes para a conservação da saúde, auxiliando, inclusive, na prevenção das doenças (cálculo renal, infecção urinária, etc.), sendo de fundamental importância para a vida de todas as espécies, protegendo nos-so organismo contra o envelhecimento.

Porém, está ocorrendo um grande desperdício deste recurso natural. A poluição hí-drica compromete negativamente os nossos mananciais e nascentes existentes. Rios sen-do poluídos por esgotos domésticos, resíduos hospitalares, agrotóxicos, resíduos químicos industriais, são alguns fatores que nos ameaçam ecologicamente.

Imaginem só uma futura escassez de água?O pior é que a qualidade da água não é a mesma de outrora. Sua propriedade físico-

química está sendo alterada.Você sabia que:– O nosso organismo é composto aproximadamente de 80% por água?– Atualmente, 55% da população não têm água tratada nem saneamento básico?– Pesquisas indicam que, para cada R$ 1,00 investido em saneamento, o governo

deixa de gastar R$ 5,00 em serviço de saúde?– Poderíamos reduzir o desperdício de água com pequenas atitudes como: • Fechar a torneira enquanto escovamos os dentes; • Aproveitar a água das chuvas, armazenando-a de forma correta;• Reaproveitar o papel, pois, para produzi-lo, são gastos muitos litros de água;• Acabar com o pinga-pinga da torneira;• Reduzir o consumo doméstico de água potável; • Não contaminar os cursos d’água;• Agir como consumidores conscientes e exigir produtos de limpeza e detergentes

biodegradáveis;• Ao tomar banho, desligar o chuveiro ao ensaboar-se;• Evitar o desperdício, reparando vazamentos de água.Por isso, a necessidade de políticas públicas desenvolvidas para uma real necessi-

dade de garantir a preservação dos nossos mananciais, rios, nascentes e lençóis freáticos, preservando-nos, assim, de uma catástrofe iminente.

O bem mais valioso da Terra precisa ser preservado. Façamos nossa parte, adotando mudança de hábitos pequenos e simples, iremos gerar grandes diferenças.

H2O SEMPRE – SORVA COM PRAZER ESTA IDEIA!

* Ativista político, ator e artista plástico.

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Água que vem das fontesFrancisco Martins Silva*

Oh, água, dádiva e atributo sagradoRiqueza e bênção de nossa Terra

Meio insubstituível de sustento às vidasTu que desde as fontes corres para quem te espera.

Desde as nascentes andas a seguir teu cursoE as terras férteis tornar

E produzir a grão, o pão, o trigoE aos filhos da amada terra a sede saciar.

Mereces sempre ser pura, cristalinaRiqueza abundante das regiões

Digna de todo o zelo, és bênção divina.

Tua essência é viva, singela e realÉ movimento que jorra das fontes

Da vida tu és líquido sagrado, o manancial.

* Professor, escritor e poeta, reside em Uruçuí/PI, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A importância da água no planeta terraWilson Ribeiro*

A água é um composto químico formado por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Sua fórmula química é H2O.

Cerca de três quartos da superfície da Terra é coberta pela água. O corpo humano é quase totalmente formado por água. A água também é fundamental para nossa sobrevivên-cia, dos animais e plantas do nosso planeta.

A água é tão importante em nossa vida que no dia 22 de março de 1992 foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o “Dia Mundial da Água”. Assim, o dia 22 de março de cada ano é destinado à discussão sobre os diversos temas relacionados a este importante bem material.

A razão para nos preocuparmos com o tema é que pouca quantidade, cerca de 0,008% do total da água do nosso planeta é potável para o consumo humano. Grandes fontes desta água, ou seja, rios, lagos e represas, infelizmente estão sendo contaminadas e poluídas pela ação predatória do nosso estilo de vida.

A terra abriga cerca de sete bilhões de seres humanos, cada pessoa é um ser único, diferente de todos os outros seres em muitos aspectos, como é o caso da aparência exter-na. Mas o corpo humano é formado basicamente pelas mesmas estruturas e somos todos influenciados pelo ambiente em que vivemos. Essa influência vem do meio social, da cultura de que fazemos parte e também das relações afetivas que vivenciamos.

Dizem que a água do planeta Terra está diminuindo. Ela vai acabar um dia? Existe previsão de que quando isso vai acontecer? O que está sendo feito para resolver a situação?

O engenheiro Léo Heller, da Universidade Federal de Minas Geais, explicou que a quantidade de água no planeta é a mesma nos últimos milênios e não deve mudar no futuro, ou seja, a água como um todo não vai acabar. O problema, porém, é que a quantidade de água de boa qualidade e disponível para o consumo – aquela que podemos usar para beber e cozinhar – está diminuindo, como consta na percentagem acima, ou seja, 0,008% do total da água. Ele conta que as mudanças no clima do planeta geram secas, enchentes e outros eventos que causam impactos nos rios e lagos que abastecem as cidades. “Pouca coisa tem sido feita a respeito, mas já passou da hora das autoridades planejarem situações de emergência e criar condições para que as cidades estejam mais preparadas para enfrentar a falta de água”, alerta o engenheiro Léo.

Este ano, na região Sudeste, a situação é mais que crítica, é desesperadora para o abastecimento da água. Em São Paulo está havendo quebra-quebra e incêndio de ônibus pelo desespero da falta de água para o consumo. A produção de energia está comprometida, sendo que a maior parte da energia no Brasil provém de usinas hi-drelétricas, muitas das quais estão com reservatórios com um volume baixo de água.

Se cada um fizer sua parte, o desperdício de água será cada vez menor. Pequenas atitudes como evitar banhos muito demorados, fechar a torneira enquanto escovamos os dentes e até mesmo regar as plantas ao amanhecer e ao entardecer já fazem uma grande diferença!

* Escritor e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 30.

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ÁguaMaria Morais*

A substância preciosa mineralque compõe quase todo seu serIndispensável, necessária e vitalsem ela não dá pra viver.

Nos rios, nos lagos, nos maresNos ribeirões, nos vegetais e nos laresNos animais, nos vegetais e no ar,Presente e indispensável em qualquer lugar.

Líquida, sólida, gasosaInodora, insípida, incolorTesouro que a natureza generosaPara suporte dos viventes preparou.

Água é estrada, é força-motrizEm quedas gera a elétrica energiaPossibilitando que o homem viva felizE que o progresso aconteça a cada dia.

Mas essa vida e fonte de vida sem igualEstá sumindo, se esvaindo desse chãoPor desperdício, falta das matas, afinalPoluída e quase em extinção.

Se de mãos dadas, não houver luta globalPela preservação da preciosa águaPerecerá todo vivente no tal.

Sem esse líquido, é morte e magia.Preserve a água que é quase toda vocêSem água não há mesmo como viver.

* Professora aposentada, reside em Brasilândia de Minas/MG, é membro correspondente da Real Aca-demia de Letras do Rio Grande do Sul e da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Planeta água, até quando?Márcia de Jesus Souza*

Água, substância essencial para todos os tipos de vida existentes na “face da terra”, porém sua escassez é agravada a cada dia em virtude da desigualdade social, onde uns usam e abusam, enquanto outros sentem na pele a crise mundial dos re-cursos hídricos...

Mas a verdade é que economizar é preciso em todas as classes sociais, pois se essa “fonte secar” atingirá o mundo inteiro. É preciso reduzir o seu consumo, uti-lizando apenas o necessário na hora do banho, nas lavagens de roupas, na higiene bucal, etc., fechando torneiras, verificando se há vazamentos em sua rede, tomando as precauções cabíveis para evitar desperdícios, agindo assim diminuiremos o risco do seu racionamento.

Temos de nos conscientizar e preservar o nosso bem maior, “a água”, pois, segundo as estatísticas, com tanta poluição, aquecimento global e os reservatórios secando o planeta Terra, composto por 71% de água, não se sabe até quando supor-tará o mau uso e o descaso da própria humanidade...

* Escritora, poetisa, compositora, designer gráfico e membro da Academia Nevense de Le-tras Ciências e Artes de Ribeirão das Neves/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Velho Chico...Fátima Sampaio*

Eu vou descendo esse rio,Em meio a turbilhão existencial,Navegando na embarcação milenar, A vapor...Carregada de fantásticas histórias...O encontro é místicoCom os seres da proa...Mágicas carrancas...Espíritos que voam...Em que canto ecoa o som da sua água,Ser transparente...No louvor à CriaçãoDo Santo de Assis...Rosário desfiado...Na veste do FreiTecendo o amor ao Vale...Francisco...Xico...Velho Chico...A vida reflete mistério,Mergulhada no transcendente...Ficar na margem eÀ margem do barro da miséria humana,Condição vulnerável,Finita...Sou luz e lama...Paradoxo ocular...Velho Chico...Sua resistência é transformação...

* Professora, educadora ambiental. Reside em Belo Horizonte/MG, Embaixadora do Cercle Universel des Ambassadeurs de La Paix – Suisse/France; Conselheira da Associação Internacional Egrégoras pela Paz; Embaixadora Cultural Estadual para Minas Gerais/Brasil pelo Movimento União Cultural de Taubaté/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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AbsurdoJota Neris*

Marília, no auge dos seus 22 anos, é uma moça muito extrovertida e comunica-tiva, mora no Rio de Janeiro e está no último semestre da faculdade de Comunicação e Marketing. Em suas experiências acadêmicas esteve em vários lugares e se orgu-lha ao mostrar as fotos de Londres, Veneza, Paris, Los Angeles, Cidade do México e Buenos Aires.

Já estava tudo certo com a revista na qual trabalhava para realizar uma pes-quisa em Manaus quando o celular chama com a indicação de numa mudança re-pentina, pois deveria fazer sua pesquisa em uma cidade nordestina. Sem pestanejar ela assenta e muda seu roteiro, dizendo a si mesma: “Melhor ainda, assim conheço o Nordeste e pego aquele bronze!”.

Ao chegar correndo à sua casa, resmunga que era um absurdo, um grande absurdo ter de ficar apenas uma hora no chuveiro, pois havia racionamento de água no seu bairro, além do mais ela tinha pouquíssimo tempo para chegar ao aeroporto. Chateada, grita para o pai que ela é mar, uma imensidão de água, não uma ilha para ficar isolada e ter que se contentar com tão pouco. Mesmo assim se arruma e sai voando com destino a João Pessoa. De lá segue cerca de 200 quilômetros para a zona rural da cidade de Cabaceiras.

Ela fica uma semana em convivência com aquela gente sofrida, simples, ale-gre e acolhedora do sertão paraibano. Emociona-se ao ver quão difícil é buscar água e tratada como uma preciosidade. Chama-lhe a atenção saber que uma catingueira consegue se banhar todinha, ficar linda e cheirosa, lavando tudo o que tem direito com apenas uma cabaça média de água. Em uma caminhada pela terra árida, chega exausta a uma casinha de enchimento, toma três goles d’água e, se preciso fosse, pagaria ouro.

Conclui seu trabalho e retorna ao Rio. Chegando em casa, toma um rápido banho frio, o pai se assusta com tamanha brevidade e ela diz que é um absurdo, um grande absurdo gastar tanta água em um simples banho com tanta gente morrendo de sede.

* Escritor, reside em Mata Verde/MG. Membro correspondente da Academia Conquistense de Letras, Vitória da Conquista/BA e da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Águas que gememJoão Ferreira de Freitas Filho*

A água se torna, a cada dia, o recurso natural mais precioso que a humanida-de possui. Embora mais de 70% do nosso planeta esteja coberto pela água, apenas 2,5% é própria para o consumo humano e apenas 1% dessa água está disponível para o consumo. Os recursos hídricos do nosso planeta são praticamente os mesmos desde a criação. Através dos processos naturais é que eles se renovam e continuam a atender nossas necessidades. Mas, em contrapartida, a população mundial que de-pende dessa água tem experimentado um crescimento aceleradíssimo. No ano 1 da era cristã a população mundial era de aproximadamente 150 milhões de pessoas. De-zenove séculos mais tarde, em 1900, a população mundial estava na casa de 1 bilhão de habitantes. Hoje nosso planeta possui 7 bilhões de habitantes que se valem da mesma quantidade de água que o planeta tem oferecido desde sempre. Esses núme-ros nos mostram que a quantidade de água disponível por pessoa caiu drasticamente. Esses números tendem a se tornar mais preocupantes, levando-se em consideração que as estimativas apontam que em 2050 a população mundial atingirá a cifra de 9 bilhões de habitantes. Essas cifras não incluem as populações de animais e vegetais. Esses números podem parecer um tanto sombrios e, à primeira vista, oferecem um prognóstico pessimista do futuro da nossa população com relação à água. É inegável que se não mudarmos a nossa postura em nosso relacionamento com a água é pos-sível que as mais lúgubres previsões comecem a se tornar realidade.

A humanidade tem uma enorme dívida de gratidão com a água, sejam as águas doces dos rios ou a salgada dos mares. Afinal, ela sempre figurou em inúmeros eventos durante o desenrolar da história. No tempo dos faraós, o Egito, a maior po-tência mundial de então se valia do rio Nilo como sua principal matriz energética. Era do Nilo que se estendiam canais que irrigavam as plantações egípcias. A civilização egípcia só floresceu naquela região desértica graças à presença daquele rio. Sobre esta bem-sucedida relação homem-água, o historiador Heródoto declarou: “O Egito é uma dádiva do Nilo”.

Na história bíblica as águas sempre marcaram presença. Moisés teve sua vida poupada ao ser encontrado em um cesto à beira do Nilo por uma princesa egípcia. No dilúvio, as águas da chuva foram o agente do juízo Divino para sentenciar o mundo de então. Nos evangelhos, vemos Jesus sendo batizado no rio Jordão, corpo d’água visitado anualmente por milhares de peregrinos. Vemos também Jesus acalmando as águas agitadas do Mar da Galileia, um lago de água doce ao norte de Israel. No Apocalipse, o livro que apresenta o desfecho da história humana, encontramos o rio da Vida.

No período das grandes navegações, o mar foi a estrada por onde singraram as naus que descobriram novos mundos. Nosso país foi descoberto quando a esqua-dra de Cabral aportou em Santa Cruz de Cabrália, no litoral sul da Bahia. A Guerra do Paraguai foi motivada pelo desejo de o país guarani encontrar um saída para o oceano.

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Nosso país também possui uma relação histórica com as águas. Afinal, aqui se encontram 12% das águas doces do mundo, além de sete mil quilômetros de praias. Com tantos corpos d’água em nosso país era natural que ocorressem inúmeros fatos atrelados à presença hídrica. Nosso Hino Nacional imortalizou o riacho do Ipiranga, em São Paulo. Possuímos a maior concentração hídrica do mundo, a bacia Amazô-nica, que recebeu esse nome por conta do descobridor espanhol Francisco Orellana, que afirmou ter visto as mitológicas amazonas, mulheres guerreiras em suas mar-gens. O mais novo Estado da federação, o Tocantins recebeu esse nome por conta do rio que banha suas terras. Quando as águas do rio-mar se encontram com as águas do Oceano Atlântico, formam um fenômeno denominado “Pororoca”. O dito popular “do Oiapoque ao Chuí” decretou o ribeiro do Amapá e o arroio gaúcho como pontos extremos ao Norte e ao Sul do nosso país.

Mas agora é hora de tirarmos a água da condição de figurante na história para um papel de destaque em nossa existência. Durante anos, a humanidade a enxergou como um recurso ilimitado, abundante, acessível, sempre disponível. Mas essa condi-ção está mudando. Quando vemos São Paulo, o Estado mais rico do nosso país pa-decendo por falta d’água, percebemos algo errado. Quando vemos os filhos da nossa pátria mãe gentil (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) disputando água de um mesmo rio para abastecimento de seus cidadãos, devemos nos preocupar. Nossos mares sofrem com a poluição, com os esgotos que neles são lançados, com desas-tres ambientais e a atividade pesqueira que em alguns casos beira o predatismo.

Sim. A água está gemendo. Como um moribundo do qual nos aproximamos para podermos ouvir seu sussurro, nos acheguemos à água com respeito, gratidão e ouçamos esse sussurro que grita por um uso consciente, que haja empenho em sua preservação e o envide para que façamos todos os esforços para protegê-la contra qualquer forma de desperdício ou dano.

* Bacharel em Teologia e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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A gota da vidaAltamir Freitas Braga*

A água, fonte da vida, é pura e cristalina em sua nascente. O homem, em sua busca frenética pelos bens materiais, é que a empobrece tornando-a cada vez mais impura e escassa. Quanto mais crescem as populações, em geral ribeirinhas, a que chamamos impropriamente de civilização, mais se vê uma agressão desmedida ao curso das águas. Haverá um dia – se não for revertida essa insana agressão aos cau-dais – a humanidade irá pagar um alto preço. E aí será uma demonstração inequívoca de que somos predadores natos.

Bem fizeram os ingleses. Levaram centenas de anos poluindo o rio Tâmisa. Negando o princípio da destruição total dos mananciais, em um esforço agora civi-lizado resolveram despoluí-lo em todo o seu curso, com sucesso. Todavia, a fim de garantir a sua perenidade, tomaram medidas saneadoras e o patrulham diariamente.

No Brasil, desgraçadamente, a destruição das matas ciliares, o uso dos rios como ligeiras, a derrubada das matas, as queimadas que destroem todo um ecossis-tema, enfim, a falta de educação ambiental, está cada dia em descompasso com a realidade existencial. Temos uma extraordinária bacia hidrográfica: 14% de toda água doce do mundo. Contudo, não sabemos aproveitá-la. Segundo estudos da ONU, no Brasil de hoje somente um rio está vivo: o Amazonas.

Existe uma teoria sobre as experiências atômicas em subsolo. A água doce está em fuga para o Manto. Os técnicos em perfuração de poços artesianos sabem que qualquer explosão, quando se fura um poço, faz com que o veio d’água desapare-ça. Assim, quando encontram obstáculos (pedra, por exemplo), eles procuram outras técnicas, como a utilização de brocas especiais. Existem teorias em que as explosões – notadamente as subterrâneas – levaram imensos aquíferos em direção ao Manto na parte da interface com a crosta terrestre.

A falta de educação, a ganância, a destruição do meio ambiente, o excesso de confiança de que a água não acabará nunca, aliada às alterações climáticas, de acordo com alguns analistas do ecossistema será a causa da terceira guerra mundial. Exagero? Veremos...

* Advogado e escritor, reside no Rio de Janeiro/RJ, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água nossa de todo diaGlória Brandão*

A vida sem água, não vale nada – é morteSem água, no universo não haverá sobrevivênciaSentindo sede, não há vivente que a suporteDizem que do céu virá a santa providência... O homem alvedrio traça a sua própria sorteCom o livre-arbítrio, inclina-se a decadênciaProgresso de um lado e poluição do sul ao nortePois poluem os rios e lagos sem inteligência. A água pode nos faltar! Economize na hora de usarRios poluídos são rios sofridos a choramingarÉ preciso consciência... Saber usar para não faltarA gota da água economizada chegará a outro lugar. A água aplaca a sede do homem e do passarinhoA água favorece as plantas e a poética roseiraSem a água não vive você e nem o seu vizinhoFauna e flora carecem de água a vida inteira. Vamos todos profetizar que água pode acabar Economize água no seu lar e onde quer que estejaFaça a sua parte, acredite, a natureza saberáNão poluir os rios, é também ação benfazeja.

* Poetisa, contista, cronista e pensadora, reside em Itabuana/BA. Membro da Academia Grapiúna de Letras e correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, da Academia de Letras de Niterói/RJ e de Academia de Letras e Artes de Portugal, na classe estrangeira.

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Planeta águaBrenda Batista Burmann*

Não exalo cheiroMuito menos tenho sabor

Sou substância líquidaE jamais trago cor.

Sou a água cristalinaQue da terra faz brotar

Minhas nascentes são preciosasDando vida e limpeza ao ar.

Sou benéfica,Cuido bem das plantações

Sacio a sede da humanidadeSendo assim, desfrutada por todas as nações.

Possuo maior parte da terraMas nem de tudo se pode usarNeste planeta estou acabando

Pena que muitos não querem enxergar.

Ouvimos ecos de socorroTentamos o ouvido tampar

De braços cruzados encontramosDeixando a água evaporar.

Ser amiga da água é lemaCuidar dela é dever

Poluída e maltratada,Certamente não pode ser.

* Estudante do Ensino Médio da Escola Estadual Ione Lewick Cunha Melo, em Teófilo Otoni/MG.

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O destino das águasSeme Handeri*

Quando me sinto sozinho

Ouço o barulho das águasQue correm fluentesPassando pela minha vidaComprida, estendida,sem causa aparente.

São águas clarasÁguas turvas do mangueLavando toda nódoaEnxaguando o vermelho sangue.

São essas águas que vejoInundando labirintos,Invadindo segredos,Lambendo doces lembranças,Apagando desejos.

Ouço o barulho das águasCaindo em meus pesadelosComo cachoeira que despenca.Do alto de um despenhadeiro.

Assim passam as águasEscorrendo em meu caminhoAté chegarem ao mar de minhas ilusõesComo as ondas que quebram na areiaProfundamente, fluentemente... de mansinho.

* Advogado e procurador jurídico do município de Teófilo Otoni.

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...quem na limpada fonte já bebeuAilton Ferraz Silva*

Abre-se a madre e a bolsa se rompea infante brinca deslizando na corredeiravirgem donzela que, saltitando pelas cascatas,é menina sapeca que serpenteia montanhas.

Ninfa adolescente, logo cortejadasem malícia, aproxima-se da selva de pedrae o menino mau, que assobia na calçada,dejeta galanteios pelo mundo subterrâneo.

Enamorada percorreu fétidos canaisnão percebeu que, o seu nome foi maculadoe, sob a ponte, o menino encabuladona surdina, rabisca o seu poema madrigal.

Adulta, desonrada e já sem forçassem saber, no entanto, quem a corrompeusaudosa e contrita, no fétido lamaçalrelembra-se de quem na limpada fonte já bebeu.

* Agente de Correios. Teófilo Otoni/MG.

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ÁguaVinícius Pereira Martins*

Que cai das nuvens,Em pequeninas gotas

Que passa pelas asas dos pássarosComo o vento.

Que cai sobre os prédios e, pelas janelas,Vem deslizando em minha direção.

Que cai em minha face,Deixando-a brilhante.Que molha meu rosto,

Descendo devagarzinho,Caindo em minha gravata.Que molha-me a camisa

E encharca-me os sapatos.

ÁguaQue faz brotar as plantas,

O verde,A esperança.

Água que traz vida,Fertilidade,

Saúde.

Água que faz-me felizQue aguça-me o paladar,

Que mata-me a sedeQue limpa-me a pele

Que faz-me viver.

ÁguaFonte...

... de energia,... felicidade,

Fonte de vida!

* Estudante do Ensino Médio da Escola Estadual Ione Lewick Cunha Melo, em Teófilo Otoni/MG.

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Água: um tesouro a redescobrirMarcos Pereira dos Santos*

Cordiais saudações hídricas. Peço licença para que possa proferir algumas singelas palavras de impor-

tância capital para a sobrevivência dos seres humanos nos dias atuais, as quais também servirão de alerta para as gerações vindouras.

Meu nome científico é H2O. Quimicamente falando, minhas moléculas são compostas de dois átomos de hidrogênio e de um átomo de oxigênio. Estou presente na Natureza desde a fundação do mundo. Não tenho forma, cor, es-pessura, altura, largura, tamanho, gosto e nem cheiro. Entretanto, me adapto a qualquer lugar e espaço. Tudo sou capaz de movimentar, arrastar, dissolver, destruir e reconstruir. Posso ser encontrada em quatro estados físicos principais, a saber: sólido, líquido, pastoso e gasoso.

No início da criação, Deus me fez perfeitamente pura e translúcida, de modo a ocupar, aproximadamente, três quartos da superfície do planeta Terra. Existente em forma abundante, fui designada pelo Criador para ser responsável pela vida de homens, mulheres, animais, vegetais e minerais.

Na Grécia antiga, fui considerada pelo filósofo pré-socrático e matemá-tico grego Tales de Mileto, por exemplo, como sendo o arkhé, o apeíron, isto é, a substância primordial de onde procedem todas as coisas, a força motriz, o “alimento” vital de tudo o que existe. Sendo assim, pode-se dizer que, em linhas gerais, dou origem a tudo e a tudo governo. Sou a verdadeira fonte de vida.

Digo isto, porque posso ser encontrada em grande quantidade nos oce-anos, mares, rios, lagos, riachos, etc. Também estou presente no interior dos corpos dos seres humanos, principalmente nas moléculas de sangue e na pele. Além disso, me apresento ainda em forma de chuva, geada, neve, orvalho, ga-roa, geleiras e icebergs. Ademais, tenho inúmeras utilidades: sirvo para beber, cozer, lavar, limpar, molhar, umedecer, oxigenar, hidratar, gerar energia elétrica, dentre outras finalidades.

Todavia, com o decorrer das décadas históricas, paulatinamente fui per-dendo o respeito por parte de muitos seres humanos, haja vista o completo des-cuido e descaso demonstrado pelos mesmos para comigo.

Atualmente, em pleno século XXI, tenho sido vítima constante de poluição orgânica, química e industrial; o que, via de regra, tem afetado muitíssimo a qua-lidade de vida dos homens no planeta Terra. Essa atitude inconveniente e desas-trosa praticada por algumas pessoas sem consciência ambiental tem gerado vários problemas de ordem social, política, econômica e até planetária, tais como: o aquecimento global, as tsunamis, o efeito estufa, os abalos sísmicos, o surgi-mento de doenças incuráveis, as bruscas oscilações de temperatura (verões e invernos demasiadamente rigorosos ou a ausência deles), as enchentes em larga escala, os longos períodos de seca e, principalmente, o racionamento de água em muitos Estados e municípios.

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Sem mais delongas, quero humildemente fazer o seguinte apelo: “Habi-tantes do planeta Terra: preservem o meio ambiente! Cuidem com muito carinho de seus reservatórios hídricos! Água é um bem precioso! Ela corre risco de extinção! Ainda há tempo para acooooordar!!!”

Assina: A ÁGUA.

* Escritor, poeta, cronista, articulista e pesquisador da área educacional. Membro corresponden-te da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG. Pedagogo e matemático. Licenciando em Letras: Língua Portuguesa e Literaturas. Doutorando em Educação, Professor adjunto da Faculdade Sagrada Família, junto a cursos de graduação (bacharelado/licenciatura) e pós-graduação lato sensu, em Ponta Grossa/PR.

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Águas passadasLeônidas Conceição Barroso*

Minha mãe arrumou os filhos com trajes domingueiros, roupas de ver Deus, como costuma dizer. Convidados para almoçar com uma família de amigos, fomos, meu pai, minha mãe, três irmãs e meu irmão, uma escadinha. Eu, o mais velho, pouco mais de 9 anos, o caçula, com 1 e meio. Era muito longe.

Sol quente na cabeça, poeira nos pés.... Íamos seguindo os trilhos do trem, o irmão mais novo, no colo da minha mãe. Meu pai, cuidando de não perder de vista as duas meninas e eu, trazia nos braços a mais nova. Passamos em frente à estação fer-roviária, linda, a segunda casa do meu pai, atravessamos o pontilhão e continuamos a caminhada. Num dado momento abandonamos a linha do trem e subimos uma pe-quena elevação. Lá estava a casa dos amigos. O primeiro pedido: um copo d’água!

Almoçamos macarronada, frango assado, azeitonas, queijo parmesão rala-do, regados com refrigerante. Depois do banquete, fomos passear no quintal. Era enorme.

Meu pai, vendo um filete d’água tirou do bolso o canivete que ganhou de pre-sente do meu padrinho. O canivete tinha estampada uma gôndola com seu gondolei-ro, paisagem de Veneza, na Itália, onde estivera o compadre esticando peregrinação, que fizera a Roma, de navio. Falava que, em alto mar, só se viam céu e água. Dizia também que nadara no mar e que Veneza era uma cidade onde as casas ficavam dentro da água e o leito das ruas não era de terra, como na minha cidade, e, sim, de água. Fiquei fascinado com a narrativa. Encabulado, tentava entender como uma cidade poderia flutuar. Mas a maravilha das maravilhas, verdadeiro deslumbramento, foi quando meu pai, usando o canivete, preparou duas forquilhas e improvisou, com bambus tenros e finos, uma roda. Ele colocou, delicadamente no leito da vala, as duas forquilhas, fixou a roda num eixo fino, fazendo-a girar. – Essa roda d’água é pra você, meu filho! Fiquei parado. Olhava e mais olhava, a roda rodando... O que mais importava era o presente, feito pelo meu grande herói. Pena não poder levá-lo para casa.

Os amigos moravam nas Palmeiras e nós, no Arrasta Couro, hoje Marajoara. A distância não era tão longa como as pernas do menino experimentaram. O refrigeran-te servido era Mate-Cola, paixão que persiste até hoje. O compadre, meu padrinho, é nome de uma rua. O pontilhão continua, apenas para pedestres, com outra cor, sobre o córrego, cujas águas, também, mudaram de cor. Os trilhos da estrada de ferro, não existem mais, tampouco sua estação de estilo neoclássico. Agora, com feições des-pojadas, sem a beleza original, abriga a rodoviária. Os dois irmãos mais novos e meu pai já partiram. Permanece a saudade gostosa desses entes queridos e da paisagem de Teófilo Otoni da minha infância, vivida nos anos 50 do século XX.

* Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, teófilo-otonense, reside em Belo Hori-zonte/MG, é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 22.

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Os em-cantos da chuvaJaneuce Cordeiro Maciel*

Sempre desconfiei do meu caso de amor com a chuva, já que ela deu de tro-vejar em mim desde tempos que não mais me alcançam. Bastava ela cair docemente para eu me aquietar e, em resposta aos seus afagos, me aninhar todinha, envolvida em recantos, ouvindo sons que só se fazem no escuro sombrio e tantas vezes melan-cólico trazido pelo tempo da chuva. Assim é que comecei a tecer histórias, plantando, regando, adubando e colhendo, a partir das sementes que ela fecundava em mim.

Na casa grande da roça, o barulho da chuva no telhado era ficção para uma menina com sede de emoção. Então eu ia imaginando o lá fora, o além das janelas, o além das paredes, o além das estrelas, enquanto o infinito era alcançado por meus órgãos fujões. Consoante a isso, as goteiras entravam pelas frestas do telhado, inva-dindo a casa, o quarto, até chegarem à cama. Ter que arrastar a cama para fugir da chuva não dispersava meu pensamento, sempre ao longe, batendo asas na menina viajeira, acolhedora de encantos, sonhadora contumaz.

Tanto que quando o dia me acordava para a realidade, eu parecia recém-che-gada de algum outro lugar. Olhava os mesmos pastos, os mesmos campos, as mes-mas pessoas e, como se o mundo se virasse ao avesso, eu estava nutrida de uma sensação de graça, parecendo ver tudo pela primeira vez. Tal fato me foi ensinando a perceber um jeito diferente de me situar no mundo, pois já não podia conceber outra forma de sentir, que não fosse sangrando até aos pulmões. O que a olhos comuns era tão simples e tão óbvio, a mim me assaltava a vida de repente, fazendo-me caminhei-ra errante nas estradas da razão. O passado começou a me acertar pedaços de um tempo que não mais, enquanto o presente me costurava aos longes da alma.

Pois é. Hoje o dia acordou anunciando, sobretudo ao meu coração, que é tempo de primavera. Bem ao meu redor, a seca escravizava o tempo e acinzentava a natureza, os pássaros, aflitos em busca de outras paragens onde houvesse sombra e alento, fugiam do meu alcance. Porém, como num passe de dança bem ensaiado, a chuva lavou o cinza da vegetação e resgatou o verde de sono profundo. Os campos, agradecidos, já exalam as essências da pureza, e eu posso apreciar o matiz desnudo, verdadeiro espetáculo para meus olhos que sentem. Ao pisar o chão, a terra sutil-mente se afasta, me convidando a perceber que ela está prenhe da fonte da vida. Em movimentos curiosos, procuro os arredores, quando sou surpreendida pelas planícies orvalhadas e pelos pequizeiros em flor, prenúncio de fartura para meu povo.

Pasmo ante tão sublime espetáculo, ao mesmo tempo em que contabilizo que a natureza é mesmo um presente do Criador. Inda aqui, debaixo do sol que racha o solo e do calor que sufoca todo e qualquer vivente, onde o duro da vida ganha mais largueza, basta a chuva cair para que a natureza se abra, prodigamente. O céu é uma mistura de anil e de nuvens carregadas de presente. O arco-íris dá mostras de que a festa da terra provém do céu. Quero brincar de colorir o mundo com ele, mas temo que seja confessional demais uma comemoração tão evasiva. E o meu temor se mistura à possibilidade – quase comprovada – de outra vez faltar chuva e outra

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vez faltar água. É então que, nutrida de arco-íris, tento proteger meus verdes e azuis, agora renascidos na chuva que caiu e lavou os ares. Contento em ser criança outra vez. Abro os braços para o céu e reencontro o gosto de viver. Quero beber o bom da vida, sorver a seiva perfumada na paisagem que se esgueira pelo horizonte e faz a alegria dos homens da minha Terra.

Ah, chuva maldita, incansável na arte de jogar com as emoções de quem mais precisa dela. Ah, chuva bendita, que gotejou poesia no meu coração e inundou-me os olhos de sede do impalpável e do improvável. A ti, chuva, toda a minha reverência.

* Professora de Língua Portuguesa, Pós-graduada em Letras Português e suas literaturas, reside em Turmalina/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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ÁGUA MÃEsTRINARodrigo Marinho Starling*

LÍQUIDA (A) VIDADESPERDÍCIO/PARTIDA

SÓ (L) IDASEM VOLTA/MINA

GA (SOS) - ÀMÍN/GUA

* Filósofo e poeta. Pós-Graduado em Gestão de Políticas Sociais e mestrando em Ciências Políticas (ULHT Lisboa). Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni; Presidente do Minas Voluntários e Embaixador do Cercle Universel des Ambassadeurs de La Paix – Suisse/France.

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A águaJosé Moutinho dos Santos*

O que é água? De onde vem? Para que serve? As respostas às indagações, a seguir: a água é o nosso precioso líquido natural e monumento da divina criação do Grande Arquiteto do Universo. É incolor, não tem cheiro ou sabor, e transparente. É formada de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio e sua fórmula é H2O. Do latim “Aqua”, é substantivo feminino e se apresenta nas condições: sólido, líquido e gasoso, é essencial à vida, a todas as vidas, de todas as raças, espécies e origens.

Ela provém da chuva – do lat. pluvia – sf. vapor d’água condensada na atmos-fera que se precipita sobre a terra em forma de gotas, água que cai das nuvens, cujas dimensões variam entre 1 e 3 mm e chuva de pedra, meteor., precipitação de granizo. Os recursos naturais da terra “têm 75% de sua constituição geográfica tomadas por mares e oceanos, que são também, fonte de alimentos”. Além de essencial à vida, a água tem, também, valor econômico por ser insubstituível na agricultura, pecuária, agroindústria, no comércio, abastecimento humano e nos serviços, em face das sin-gularidades de uso e até de reciclagem. É preciso, porém, cuidar bem dela e evitar o desperdício, sobretudo nos grandes centros urbanos.

A água forma os córregos, riachos, rios, cascatas também chamadas “corre-deiras”. A chuva, quando abundante e com ventos fortes, pode resumir em propor-ções catastróficas – tempestades – com enchentes, propiciando prejuízos materiais, desalojamentos e mesmo ceifando vidas. Contudo, sua grandeza não será maculada, continuará sendo a criadora e o sustentáculo de todas as vidas, dando-lhes o de be-ber, de lavar-se e o preparo dos alimentos, na busca de saúde e a sobrevivência. É oportuno lembrar, ainda, que grandes embarcações navegam pelos mares, cuidando dos transportes de riquezas nossas e de todo mundo.

A água é também grande fonte de inspiração na formação de nomes: água-benta, água-quente, água vermelha, água sanitária, “aguardente”, água-viva, água fria, aguarrás, Águas Formosas, água de cheiro, água tônica, água mineral, e até o rei do baião, Luiz Gonzaga criou “Água Dormida”, consta de uma narrativa musicada.

“Assim é a Água, com sua incalculável grandeza/nos alimenta e nos conforta e nos concebe.../ protege a saúde, cria vidas e produz riquezas,/por isto é bendita e abençoada por Deus.” (do poema deste autor).

* Advogado e escritor, reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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ÁguaCristina Carone*

Água puraCristalinaCintilante,Como um diamante.Eterna... Eterno...Do alto das montanhas,Descendo degrausVai caindo fortemente,Como uma chuva de cristais.O esplendor das cachoeirasHipnotiza sempre,Os olhos, de quemAs vê.Quando o SolAs acaricia,Com seus reflexos,A água se tornaLuminosa,Dando mais imponênciaÀ natureza.Água que sacia a sedeDo nascer,Até o morrer.Água benta milagrosaÁgua VivaQue vem do marÁgua quente, bem gostosa,Percorrendo um corpoDe mulher,Que é só fetiche e sensualidade.Água doce bem românticaComo um beijoNuma noite de luar.

* Escritora, poeta, reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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AqvaVânia Rodrigues Calmon*

Intrigou-me, esses dias, o nome AQVA de um edifício aqui em Vitória. Repor-tei-me à possibilidade de estar diante de uma sigla. Coisa não muito comum em se tratando de prédios residenciais. Minha mãe diria “Santa ignorância!”.

Acredito mesmo que ainda somos muito ignorantes quando o tema é água. Grafada em latim então... Talvez no tempo de uso da língua-mãe a humanidade não fosse tanto, guardadas as devidas proporções cognitivas do mundo de cada época.

Retorno à forma patética de como desvendei o significado da “sigla”: apenas a mencionei diante de minha professora de teclado. Dá para entender a minha surpre-sa? Além da música, ela conhece o latim. “Aqva? Água”, disse ela. Curioso foi identifi-car essa mostra de conhecimento à de uma senhorinha de Água Fria.

D. Alice, Aliça no dizer da região, sempre dizia que não conseguia entendera preferência de suas noras e filhas pelo filete de água das torneiras ao de lavar a louça no córrego da frente de sua casa.

A casa ficava de um lado da estrada, depois do Água Fria que corria friinho. No dizer de D. Alice, frio desde a madrugada, da buscada de água pra coar o café até as horas de lavar as vasilhas da janta. Já o banho às três da tarde era um sacrifício ou um só menos banhinho de gato.

Depois daqueles dois aneurismas, D. Alice teve mesmo de seguir por uns tem-pos em São Paulo. Casa do filho mais velho. Uma penitência, dizia, ficar dependendo daquele fiozinho de água envenenada de torneira. Bem que seus filhos contradiziam que não era mais do que as do “córgo”. “O Água Fria?”. Assusta-se D. Aliça. “Como?”. Ao que eles respondiam: “Pois se era onde o Ramano (tratavam assim o “seu” Hermann, alemão vizinho de cima) lavava as ferramentas e vasilhas de veneno pra tomateiro”. E ela ligeira, mais ainda atiçada pelo gardenal, retrucava: “Que é isso, que depois de cortar aquele mundão de quase cinco hectares de terra, ainda ia lá sobrar algum farelo de agrotóxicos que fosse?”

Dou por certo que o sangue de D. Alice fervia do occipital até o frontal, exclusive a região dos parietais protegidas pelo comprimidinho de nada. Assanhada, tinha mais coisa pra falar. E falava. “O mais certo é que nesse sobe e desce paredão, em tanto cano, de todo rodo, essa água tratada-envenenada vem morrendo nos canos, tão fina desce nas torneiras. Mas o que chega, de resto, ainda vai chegar? E esse mundaréu de gente que encontro nos ônibus, metrôs, nas calçadas, nas lojas, no hospital, que é onde eu mais vou, jogando seus esgotos e suas lixaiadas nos riinhos. Coitados! Sei não! Se tiver chuva, ainda penso com meu terço de cabeça, que vai lavar essa podri-dão e sobrar um pouco, se não tiver chuva esse povão vai é lamber lodo”.

O que pensaria D. Alice diante do AQVA, com seus trinta e quatro andares, recuado pela piscina em forma de lagoa pontuada por três palmeiras imperiais. Um monumento?

* Professora de música, estudante de Direito, palestrante, escritora, teófilo-otonense, reside em Vila Velha/ES, é membro correspondente da Academia de Teófilo Otoni.

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Água:Brevíssima fábula sobre sua importância na vida do ser humano

Teresa Azevedo*

Havia um mundo obscuro onde a substância química, cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, era inexistente em quaisquer de seus estados físicos principais: sólido, líquido ou gasoso. Neste mundo não havia o azul abundante dos oceanos, rios e lagos, ou o branco das geleiras. O vapor também não podia ser visto subindo ao céu, e nem descendo dele em forma de chuva.

Os únicos seres sobreviventes naquele mundo assemelhavam-se a mor-tos-vivos: dois seres cadavéricos de sexos opostos, horrendos, de peles resse-cadas e retorcidas. Era surpreendente que ainda assim eles conseguissem se movimentar, mesmo que muito lentamente. Aparentemente, suas células, seus vasos sanguíneos e tecidos de sustentação não tinham perdido totalmente a fun-ção e essência devido à falta de hidrogênio. Naturalmente, devido à ausência de água, tais seres conviviam com toda sorte de compostos tóxicos, vírus e bactérias, e sobreviviam como por milagre.

Eles praticamente não produziam dejetos, já que rarissimamente se ali-mentavam. Andavam nus, pois há muito seus trapos ressecados se desfizeram. Caminhavam por entre os escombros daquilo que um dia havia sido casas de luxo, empresas renomadas, fósseis de “pessoas azuis”, ou seja, pessoas cujos corpos eram formados por 70% água.

Naquele mundo sombrio e turvo tudo o que se podia encontrar a quilô-metros de distância era um lodo que os dois habitantes pensavam ser ouro. Também existiam espaços imensos chamados desertos, uns que de fato eram desta forma denominados em outros tempos, e outros antes conhecidos como mares e oceanos. Ainda assim, os dois seres cavavam havia meses um buraco de quase 300 metros a fim de encontrarem água salobra para tentar transformá-la em água potável.

Em um dos dias em que o Sol amanheceu mais cedo, os seres viram através de ondas de calor insuportável algo que pensaram ser uma miragem – mas que, na verdade, nada mais era que um portal para o tempo passado, onde eles te-riam a missão de conscientizar a humanidade e alterar seu destino.

E assim foi. Em uma luta grande e difícil, mal puderam acreditar que aque-las pessoas não cuidavam do que tinham: água, vegetação, ar puro, alimentos e tantas outras maravilhas que Deus propiciou. Então eles se tornaram fortes e gritaram aos quatro ventos como trovões, de modo que nenhum homem pode deixar de ouvi-los:

VALORIZEM A ÁGUA!VIVER SEM ELA NÃO É VIVER, É SER MORTO EM VIDA! E SE ESTAMOS

AQUI HOJE É PARA ALERTÁ-LOS QUE AINDA HÁ ESPERANÇA. NÃO PER-CAM ESTA OPORTUNIDADE!

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Assim dito, aqueles seres desapareceram como fumaça no ar, deixando ali apenas sua mensagem...

Quem ainda não começou um programa de zelar pela água, pense em iniciá-lo logo, tanto em casa quanto no trabalho. Será que sobreviveríamos sem água?

* Licenciada em Letras, reside em Campinas/SP, é membro efetivo da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro e correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, da Academia de Letras de Goiás e Academia Niteroiense de Belas Artes e Ciências.

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Tu, viva em nósFernando Catelan*

Tu, viva em nós, insistes, contudo, em tomar o rumo de um escoadouro onde te percas de vez, tamanho o ultraje por nós perpetrado diante do que és, único elixir verdadeiramente palpável de nossas vidas.

Quão efêmeros somos ante a um poder conosco sempre irmanado às raias da própria servidão em si, mas agora, cansada de a nós te devotares no quanto poderíamos chamar de desvario cindes o elo que, pela eternidade, te prendeu às desmesuras de uma humanidade avarenta, mesquinha, reclamando-te, tu que és tudo quanto dádiva, a cobrares caro daquele que se ressente da necessidade imperiosa de mitigar a sede.

Sim, escapaste por sulcos que teu amigo Sol rasgou no leito de toda sorte de cursos ou reservatórios que honras com tua nobre e virtuosa presença, e, assim, perto do âmago da Terra, desgostosa que estás, eivada mesmo de ira, tu, de natureza serena, amiga, ainda que com todos os teus predicativos cogitas vingança, ideando te lançares ao magma terrestre e, em contato com a massa chamejante de cromo e níquel, ativares a um só tempo erupções, maremotos, terremotos, abalos sísmicos, seguindo nesse crescendo até finalmente converter-se da vida que és em nós tua antítese, a morte que não deixaria pistas da vida.

Se decides não pelo teu fim, também o nosso, mas pela vida que lhe é toda inerente, água, em ti, verás, finalmente, te expulsando de onde te aninhaste e de vez à flor destas superfícies onde majestosa deslizas que, ainda que no fulgir de um mágico instante, é outra hoje a humanidade, muitos tendo reencontrado o caminho, ao passo que muitos outros ainda o buscam, se um tanto desviados ao menos com boa-fé.

Iara, a mãe d’água, diva maravilhosa que é, a ti reservará, água, o mais esplen-doroso dos sorrisos, e, então, deusas que são, irão à caça do refrigério das almas, dos extenuados de tanto calor, da sede, seja de natureza física ou espiritual que tanto assolou quantos a terem enveredado pelas vertentes do devaneio.

Pousa com teu hálito dum plácido sereno cobrando mais eficiência da umidade e menos poder abrasador ao Sol, pensa nos que mal te sorveram na vida, e, assim, não te debela, não te põe revolta, já que nesta nossa precariedade tamanha é nossa carência de ti.

Água, te repleta vez mais e abastece os sonhos ‘inda sejam de um bebê ino-cente, enquanto nós aqui movemos nossas engenhocas porque, sendo tu nossa mais ilustre esperada, até pulverizando as nuvens com gelo seco e fazendo chover.

Cai, chuva, cai, mas com a moderação que tem que te dar o Alto, afinal, cá estas paragens incumbidos nós de cuidar nisso fomos simplesmente desastrosos, abrindo toda sorte de brechas no sentido de que não caminhasses para lençóis freáti-cos uma vez se precipitando pela terra, mas sucessivamente, sendo água, castigada impiedosamente por intensas evaporações, quando não na aplicação de concreto e superfícies asfálticas.

Tu, viva em nós, água, do contrário ausente qualquer natureza de vida, mas

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quem mais abastado sem dificuldade de sorver-te, enquanto em muitas regiões do Nordeste brasileiro verdadeiramente marcante a odisseia do povo de lá atrás de açu-des cuja assepsia, por exemplo, no acondicionamento da água é de se supor ques-tionável.

Deixemos um feixe poético no que tange tu, viva em nós, e que vem a ser a água, água que não nos falta tão somente levando-se em conta como supre perfei-tamente várias de nossas necessidades físicas e biológicas, mas também de sua ausência quanto se ressente o poeta, glorificado em sua sensibilidade quando a um só tempo chove e também faz sol, as gotículas de chuva, nelas refletida a luz do sol, se convertendo em prismas óticos agrupados por graus de afastamento dos feixes de luz incidente e dos feixes de luz refletida.

Venerar a água pode soar como um atavismo irrefletido, mas assim não pro-cedem índios do Amazonas, de uma sabedoria comprovadamente notável? No Brasil, por exemplo, certamente em razão da total ausência de planejamento da ocupação do solo vindo dos colonizadores, perdemos a oportunidade de ocupar racionalmente terras já invariavelmente desmatadas e nos embrenhamos por florestas virgens.

Roguemos em nossas preces feitas no recôndito do lar e no silêncio que a chuva, um ente finalmente ressurgido em sua importância, renasça, mas em dose moderada, uma vez que chuvas torrenciais colocariam em xeque o precário planeja-mento urbanístico e a questionável lei de zoneamento urbano disseminados por aí.

Escrever a ti, perpetuação minha e de todos os seres em nada difícil, água, bendita água!

* Membro do IWA – International Writer’s and Artists Association (Toledo, Ohio, USA), dedica-se, no momento, à literatura, à poesia e ao jornalismo, também exercendo a atividade de tradutor técnico e de Engenheiro Mecânico. Reside no Rio de Janeiro/RJ é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Pés molhadosMagali Maria de Araújo Barroso*

Molho os pés no Rio São Francisco e agradeço a essa tortuosa estrada. É ela que serve de fuga para a mulher que, após a morte do marido – um oficial holandês – escapa de Olinda, com dois filhos e uma filha “por sertões e lugares incultos”. Durante muitas noites e dias se escondem da morte e louvam a vida, a cada minuto que conquistam. Quando encontram o rio, se libertam. Suas águas os conduzem a Sabará, depois de passarem pelo Rio das Velhas. Lá, um comerciante de ouro se encanta pela menina moça e desse encontro descende minha avó materna.

Olho meus pés molhados pelas águas do rio, generoso e persistente como o Santo, e me pergunto: A água do mundo é a mesma? Quanto dessa água já conhece estas paragens?

Daquelas águas que salvaram meus antepassados, muitas ficaram pelas mar-gens, se infiltraram pelo solo e seguiram rios subterrâneos até brotarem lá trás e, quem sabe, passaram por aqui novamente. Outras se foram para o mar e alimentaram seres marinhos ou se transformaram em vapor, formando nuvens que o vento levou para países longínquos. Depois, caíram como gotas de chuva, no fundo de um vale, ou flocos de neve no cume de alguma montanha. E, por um mistério da natureza, sur-giram, em centenas de anos, de novo por aqui, fazendo o mesmo percurso.

E eu, aqui, parada, diante dessas águas andejas, pego um barco e me atrevo?

* Professora e doutora em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, editora da revista e-xacta do Centro Universitário de Belo Horizonte. Reside em Belo Horizonte, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Escultura de água e salClevane Pessoa*

Espumas que vêm e vão,liquefazem-se e refazem-senos desenhos do abstrato ...Num dado momentoolhamos e vemos com o olhar esbugalhadopor um átimo de tempouma esculturaque jamais veremosde novoe que ninguém fará- espuma no arem volutas molhadasquais os seres no prazer...

* Escritora, poetisa, membro da Academia Feminina Mineira de Letras, reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Revelações afloradas pelas águas...Ilda Maria Costa Brasil*

A chuva suavizara, no ar um docee refrescante perfume. O céu, antes acinzentado,ganhou um tom azulado claro. Meu coração, no entanto,está amargurado e triste. Estou inquieta,um intenso desassossego envolve-me. Medos... inseguranças... mágoas,um único sentimento. O ruído desconfortantede meus batimentos cardíacosrepercute em meus pensamentose em minhas lembranças, mexendo com as minhas emoçõese sensibilidade. Estou triste... Sou desassossego.Estou só... Sou solidão. Preciso sair desse estado de espíritoe resgatar a vida. Uma nesga abre-se em meu sere um raio de luz o invade. Minha subjetividade aflora,revelando-me possibilidadesinesgotáveis de fortalecer o amore as múltiplas faces de minhas emoçõese de minha expressão artístico-literária.

* Graduada em Letras; pós-graduada em Recursos Humanos para Administração e Supervisão Esco-lar, reside em Porto Alegre/RS, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Terra, planeta águaMarly Rondan Pinto*

Água é vida, a vida surgiu na água, Gerando seres simples, unicelulares,Um mundo num processo lento...A vida evoluiu na água.

Água, líquido precioso,Guardando os segredos da criação.Um mundo mágico: o oceano,Ainda desconhecido por nós.

Águas profundas, pouco sabemos,Guardamos lembranças do paraíso: Útero materno, na água nascemos,Até hoje, nos formamos no meio dela.

Água, um líquido milagroso,Gerando seres, sempre evoluindo.Urgência em preservá-la, sem água...A vida do planeta será exterminada.

Água, sem ela não sobreviveremos,Geleiras dos polos, sendo destruídas. Única maneira de salvarmos o planeta:A humanidade se unir e preservar.

* Graduada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil e mestrado em Educação. Trabalhou por 25 anos como professora e diretora escolar. É proprietária da Editora Sol, com edição de pequenas tiragens, editando seus livros e atendendo novos escritores e poetas. Reside em São Paulo, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Cai a chuvaLenival de Andrade*

Como esse azul é bonitoE infinitoComo a água é belaAté na favela

Quando ela caiAté me distraiE me atraiEla não trai

Sublimes gotasGotas bonitasAzuis como o marO céu parece chorar

Mas não está tristeO ser supremo e maiorIsso não é o piorRetire o que você disse

Ela cai insistenteParece vir de repenteNão cai a viúvaQuem cai é a chuvaChuva divinaMolhando a meninaE regando as plantasAjudando até nas jantasSeja no Japão, Indonésia ou NicaráguaTodo o planeta precisa e não vive sem água

* Escritor, cordelista e bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Reside em Catolé do Rocha/PB, é diretor-presidente do Sertão Nosso Cultural e membro correspondente da Aca-demia de Letras de Teófilo Otoni.

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Força das águasHumberto Barbosa*

A natureza tem lá seus caprichos insondáveis. Desde os primórdios, utilizamos das águas como meio de transporte para conquistar novos mundos. O que os ateus e céticos ainda não puderam esclarecer, à luz da ciência, é de que forma teriam nascido os mananciais para jorrar água de dentro da terra. São conhecidos em nossa região como minadouros, fontes que alimentam córregos, lagoas e rios. Torna-se ainda mais difícil explicar a manutenção e equilíbrio das águas no mar. Uma quantidade muito grande de água, que respeita os limites das praias.

A água (H2O), acertadamente apelidada de precioso líquido, não só mantém o sustento de todos os seres vivos, como contribui para o equilíbrio da Terra. Sempre ouvi que nosso planeta tinha dois terços de água. O corpo humano é constituído de 70% do mesmo líquido. Carregamos um barril cheio de água em nosso organismo, junto com ossos, músculos, vísceras, cartilagens, cabelo, unhas, neurônios e outros componentes para nossa funcionalidade e estética. Todo ser vivo precisa de água.

Os ambientalistas do mundo inteiro estão preocupados com a biodiversidade e preservação das fontes aquáticas. Se tentarmos elencar alguma coisa sobre a impor-tância desse líquido, vamos encher a matéria. Todos nossos alimentos precisam de água. Os vegetais utilizam da irrigação. Animais da mesma forma, aguardam chuvas para melhorar as condições dos pastos. Curioso é que as fontes energéticas carecem de usinas hidráulicas, cujos geradores operam através de fontes naturais. Todo o pro-cesso industrial não sobrevive sem água. O corpo humano funciona como verdadeiro laboratório, filtrando, separando bactérias, vírus, bacilos, quase sempre excretados pela urina.

Alguns filósofos, da linha profética, vaticinam que nosso destino será ocupar com maior intensidade as águas do mar. Ali dentro pode aparecer nossa redenção. O feto convive dentro da placenta nadando no líquido amniótico. Ainda falta um pouco, mas vai chegar o tempo com a falta de água potável, teremos que mexer com as águas salgadas.

Quando Neil Armstrong pousou na Lua com os companheiros Edwin Aldrin e Michael Collins da nave Apolo XI, em julho de 1969, uma das primeiras pesquisas foi procurar vestígios de água.

Tem outro aspecto interessante sobre as águas do mar. A grande produção do cloreto de sódio (sal) acaba sendo a maior fonte fornecedora de ingredientes para nossa alimentação e vem de dentro das águas. O ser humano consome sal de forma moderada, os animais nem tanto.

As Escrituras Sagradas afirmam que no fim dos tempos haverá uma retirada de parte da população, para conviver com o Pai Celestial na Morada Eterna. Diante das agressões às fontes naturais, podemos arriscar que a falta de água potável, pos-sa, de alguma forma estimular essa triagem.

O ser humano começou descartar seus excrementos dentro de casa. Passou a jogá-los pela janela, depois foi para os quintais, construindo fossas, latrinas, privadas

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ou WC até chegarem os esgotos que canalizam tudo para os córregos, rios e o próprio mar. Transferem de lugar os agentes poluidores. A água está sempre sendo utilizada para funções nobres e menos dignas. Sofre toda forma de agressão. Os seus bene-fícios estão ficando comprometidos.

Markuse teria dito que: “O progresso é um agente desagregador”. Chega muito bem intencionado, depois deixa um rastro sequelar. Os primeiros desmata-mentos criaram conforto e bem-estar para as pessoas. Por medida de consequência estimularam a combustão, e daí o processo industrial que, além de poluir o planeta, agride o ecossistema e prejudica as fontes naturais. A utilização indevida das águas para receber dejetos sanitários, vem de longa data.

A doçura, suavidade, meiguice e ternura das águas se transformam em turbi-lhão de violência, arrastando veículos, derrubando árvores, devorando casas e até sacrificando pessoas. Ouvi dizerem que a natureza enfurecida, de tanto ser agredida pelo homem, de vez em quando resolve recuperar seu território invadido, numa ação de desespero, manifesta uma vingança voraz, através das inundações, temporais, tipo tsunami, que em 2004 matou mais de cem mil pessoas na Indonésia. A natureza tem mostrado sua força através das águas.

Existe na região do Atlântico ocidental, costa sudeste dos Estados Unidos, sul da Flórida região das Bahamas e Porto Rico, o denominado Triângulo da Bermudas, onde desaparecem naves e embarcações. Centenas de navios e aviões, bem como milhares de pessoas desapareceram. Os relatos de desaparecimentos foram regis-trados pela marinha e aeronáutica americana. O livro Triângulo das Bermudas, de Charles Berlitz, cita inúmeros episódios ocorridos. Outra obra, cujo autor não me lembro, Como escapei do Triângulo das Bermudas, narra detalhes de uma civilização intramarina. É do conhecimento de todos a história do desaparecimento da Atlântida, cujas especulações dão conta de que esteja, nas profundezas do mar.

As águas do mar hospedam mistérios de diversas naturezas. Foram caminhos para as primeiras embarcações. Guardam segredos de monstros, tipo Ness. A natu-reza devolve em forma de chuvas, todas as moléculas de hidrogênio e oxigênio, rece-bidas pelo processo de vaporização. Faz lembrar quando Deus desceu o Manah para os hebreus que acompanhavam Moisés no deserto, em busca da terra prometida.

* Colunista esportivo do jornal Agora e Diário do Mucuri, em Teófilo Otoni.

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Chuva pantaneiraMarcos Coelho*

Telhado de barro, casa simples...Lá da fazenda, ouve-se o piuí animado do trem...Do céu, caem gotas de chuva...No campo, molham o ânimo, o pelo...Ah! O Trem do Pantanal...Chuva nos seus trilhos de ferro fundido...Lágrimas de saudade... Permeáveis de vida...Sonhos que ficaram esquecidos...Caem, agora, em gotas de chuva...Na verde folhagem...Líquida, transparente, translúcida imagem...Escorrem pelo chão na paisagem...Fazem-se bica menina, nascente, vertente,Corrente, riacho, rio, ribeirão,Banhado, alagado, Pantanal, coração...Na relva, como orvalho da manhã,Gotícula diamantina, cristalina,Serena, límpida aguarda na folhagem...Pra virar nuvem... Sonho...Em versos, poesia, sentimentos...No rócio da lágrima na tua rústica pele...E, no chão, a chuva pantaneira...Rocia o pantanal, agora, prenhe de vida...

* Poeta, escritor, graduado em Letras. Reside em Dourados/MS, é membro titular da cadeira 6, da Aca-demia Douradense de Letras e correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Chove poesiaEliane Silvestre da Costa*

Crianças e bicicletas, na chuva.Conversas infantis, no vento.Riscando o asfalto, rodas molhadas.Riscando a tarde, crianças regadas.Cheirinho de mato encharcado.

Uma melodia procura a chuva,Fugindo pela janela,O céu carregado, torna-se refúgio para ela.

Nuvens pesadasSonham em ser crianças levadas –Andam de carona na bicicleta do vento.E eu penso, neste momento:Com certeza, não é para criança que se destinaA previsão do tempo.

(Publicado na coletânea do Banco de Talentos da FEBRABAN/2003 e no livro Asas e Vôos da Ed. Guemanisse/2005)

* Atriz, escritora e ilustradora, membro da Academia Taguatinguense de Letras/DF e correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Simplesmente água!Márcio Barbosa dos Reis*

Água sem fronteiras.Água globalizada!O Universo é o limite das águas.

Corre de um lugar para o outro,Circula, gira, escoaÉ mansa e às vezes bravia,Não se importa com a noite tampouco com o dia.

Não tem nacionalidade,O seu território é o planeta,Dela dependem as vidas, não importa qual seja a idade.

Aquilo que é vivo, ali se faz presente,A vida preservar é sua primeira missão,Nem por isto tem postura altiva,Ainda que tantos lhes tratem com agressão.

Ela é sábia e perspicaz,Não lhe detém as muitas barreiras.Nos momentos de frágua,Importa com ela contar. Até quando? Simplesmente água!

* Professor de Matemática, contabilista, teólogo, psicanalista, pós-graduado em Direito Tributário e em Matemática, acadêmico do curso de direito, autor do livro O jovem e o mundo em transição. Auditor fiscal da Receita Estadual de Minas Gerais e ocupante do cargo de delegado fiscal na Delegacia Fiscal em Teófilo Otoni.

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Água: Fonte de vida de toda criaturaSandra Helena Barroso*

A água brota no seio da terra e se propaga. Nasce escondida entre pedras e matas, regando a terra como se fosse um jardineiro a cuidar da beleza de seu jardim. Desce as encostas, formando-se lagos, que vão saciar a sede dos seres ali viventes.

Nascem também os rios, que em suas magnitudes cumprimentam outros rios e vão se encontrar nos oceanos. As correntezas dos rios nos parece conduzir a um mistério maior que é a nossa existência. Somos seres vivos e a magia de nossa per-manência terrena se dá também pela tão sublime água.

A chuva cai de mansinho sobre a terra e faz germinar novas vidas. As relvas, erguidas do solo, são regadas pelas gotículas de água; parecem mantos verdes a cobrir a terra como se quisessem protegê-la.

A água também é um símbolo batismal. Conforme as Escrituras, no início, o es-pírito de Deus pairava sobre as águas, das quais emergiram a terra e os seres vivos. Pelas águas do batismo, santificadas pelo Espírito Santo, emergem novas criaturas. A água limpa nosso corpo e purifica nosso espírito. A água sacia a sede. A água nos dá a vida plena.

Planeta Terra, planeta Azul, planeta vida. Que a água jorre sobre nós e o nosso planeta em abundância. Devemos cuidar do mundo em que vivemos e fazer com que a água brote em todos os lugares.

O ser humano caminha por entre as certezas e incertezas do mundo. E a cer-teza maior é que nada que habita na Terra pode viver sem a água.

Estamos unidos na Terra e fazemos parte de uma imensa vida. Vida que nos faz contemplar o Sol, a Lua, e o céu de estrelas cintilantes. Que nos mostra a terra de onde germinam flores e frutos. Que nos faz ver os pássaros, os peixes, as borboletas. Que convida a brisa suave a tocar nossa face. Deus, em sua infinita bondade, nos deu a água e nos diz que ela mantém o homem nascido no espírito e que é fonte de vida de toda criatura.

* Professora da Comunidade de Pinhões, em Santa Luzia/MG, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, especialista em Lazer e Bibliotecária da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

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Águas no fecho da onçaIvonette Santiago de Almeida*

Cerrado e serra estreitam-se na bacia do Corumbá.Dos olhos da serra pedras jorram olhos d’água.Filetes prateados de lágrimas rolam nos ruídosde pequena amplitude de função global.

Dos olhos das serras nascem os fios prateados d’água.Adornam os olhos de pedras onde jorra essencial vida.Olhos d’água lavam os olhos de meninas que choram.Meninas dos olhos que veem e sentem o fecho da onça.

Meninas dos olhos de oriente e ocidente, indefesas.Olhos que choram por atrás de burcas reais e virtuais.Burcas sociais de cor e turbidez de hipócritas civilesbrotam dos olhos de pedras e de geleiras sociais em prantos.

Olhos d’água de meninas adolescentes nigerianas sequestradas.Suplicam aos olhos de pedras sem águas das burcas mundiais.Surtos em águas turvas de holocaustos vertem águas de demências,delírios, fobias e obsessões de neuroses étnico-culturais.Cosmologia encarnada em pedras ecoam no que se vive aqui e agora.

Signos ininteligíveis da história humana que caminhase dessacraliza, se abre, se democratiza e desafia a todos.Como colocar o ser humano a salvo dos próprios laços de ignorância?Efeito estufa de falácias de poder em degelos de esperanças.Fecho da onça onde cantam águas de ínfima estupidez humana.

* Docente em Saúde e Educação aposentada pela Universidade de Brasília-UnB. Médica pediatra. Consultora especializada em Planejamento e Gestão em Saúde, reside em Brasília/DF, teófilo-otonen-se, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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A escassez da água: Isto é coisa pra se pensar!Lucivalter Almeida dos Santos*

Este precioso líquido composto por dois átomos de hidrogênio e um de oxi-gênio, sem cor, sem cheiro, sem sabor, cuja fórmula é H2O está desaparecendo do planeta. Isto é preocupante! Parece até um paradoxo, haja vista que mais de 70% do planeta é coberto por água. É bom que se diga também que, apesar de ser um recurso renovável, não é infinito. Assim como o corpo humano, mesmo sendo formado por 70% de água, se passar mais de quatro dias sem ingerir água, morrerá. Mais uma vez, parece um paradoxo!

Segundo a ONU (2003), da totalidade de água que existe no planeta, 97% são salgadas e encontradas nos oceanos e mares, e estas não servem para beber, ba-nhar, irrigar. Somente 3% restantes são de água doce, com serventia para o consumo humano. A vida animal e vegetal da terra depende essencialmente dela.

É preciso acordar para tal realidade e refletirmos como temos usado este re-curso natural. Sensibilizarmo-nos, é uma questão de sobrevivência para a vida do planeta. Repensar sobre os recursos hídricos no país é preocupar-se com as futuras gerações. Isto não é problema meu, ou seu, sem dúvida, isto é problema nosso! Aprendi que, quando as pessoas dizem: “Ah, se eu soubesse” – É sempre depois do prejuízo!

A sociedade certamente mudará suas atitudes quando se der conta da gravi-dade do problema. Ao escovar os dentes, tomar banho, lavar os pratos, as roupas e outras atividades, a torneira ou o chuveiro só deverão ser ligados na hora certa, isto evitará o desperdício e demonstrará uma questão de consciência.

Tendo noção da seriedade com que devemos tratar o assunto, lembro-me ter passado por vários lugares pelo país afora, e notado que locais onde dantes corriam rios, hoje carros podem transitar a seco. É hora de agirmos, e como diz um trecho da letra da música “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Eu posso fazer alguma coisa, você tam-bém, e por que não dizer: Nós podemos fazer alguma coisa; e não é muito: simples-mente a nossa parte. Pense nisto!

* Professor e escritor, reside em Nazaré/BA, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água, nosso maior patrimônioTadeu Laert*

Água que brotado fundo da terra.Nasce em silênciona encosta da serra.(É mina, manancial, se faz canção)

Um olho d’água forma a nascente.Começa seu ciclo,inicia a corrente.(É nascente, água corrente, é ribeirão).

Primeiro um riacho, depois vira rio.Em busca do mar:é o seu desafio.(É correnteza, vira onda na imensidão).

Água sem cheiro, também sem sabor.Não tem volume,pura e incolor.(Não tem cheiro, não tem cor. Não tem não).

Presente de Deus, líquido precioso,em qualquer “estado”sólido ou gasoso.(É gelo, geada e cerração).

A águaÉ tão importante que está presente em 60% do corpo humano e ocupa dois terços

do planeta Terra. Está abaixo de nossos pés nos lençóis freáticos, ao nosso lado nos rios e mares e acima de nossas cabeças, nas nuvens.

* Cantor e compositor, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 17.

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Metaforicamente, a gota d’águaEsther Rogessi*

Há uma grande diferença entre, a primeira e a última gota d’água... A primeira é sempre bem-vinda, a última é catastrófica, significativa e decisiva... É a gota! A que faltava... O fim!

Curioso é que não há primeira, sem segunda, sem terceira... E, de gota em gota, surgem poças, lagos, rios e oceanos.

Porém, cada um, por mais volume d’água que comporte, tem seu limite trans-bordará, em um momento preciso, e iminente – o momento da última gota, conse-quente da infinidade de outras tantas, que pingaram em forma de alerta, para que se evitasse o transbordamento, e daí..., a fatalidade –, não usando de incongruên-cia, nesta analogia metafórica, mas crendo que há dualidade em tudo percebo, que através desse transbordamento pode-se chegar à ruptura de algo, que existiu e aprisionou vidas, por longo tempo, que se esvaíram, em morte lenta, até o momento crucial, de não mais aceitar a última gota!

Comumente, há a possibilidade de descaso, sobre a tolerância do ser humano. Achamos que conhecemos as pessoas com as quais convivemos e, assim,

pensamos que jamais tomarão decisões que venham nos constranger. O ser humano é uma incógnita, desconhecemos as nossas limitações.

Certo é que devemos respeitar a individualidade e direitos de cada ser. Devemos ter consciência de que tudo quanto possa aborrecer ao meu próximo tem relevância, mesmo que este próximo seja quem, intimamente, divide conosco o mesmo espaço.

Em se tratando de relacionamento entre casais, quantos são desfeitos por qua-se nada, ruptura oriunda dos pequenos e relapsos vilões: a tolha molhada, continua-mente largada sobre acama, a roupa íntima estendida no box, os sapatos jogados ao léu ou empilhados embaixo da cama, e tantas outras coisinhas repetidas e cobradas no dia a dia que desgasta uma relação. Desencanta até que, em um momento crucial, transforma-se na gota d’água! Devemos primar, em todas às áreas, pela medida certa, para que possamos evitar a última gota causadora da ruptura do então represado.

* Educadora e escritora, reside em Recife/PE, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água e aluáDaniel Antunes Júnior*

Água, meu neto! – Azeite, minha avó... (Das histórias fantásticas de Manoelzinho de Lindolfo)

Um velho adágio diz que água e conselhos só se dão a quem pede. Todavia, negar um copo de água a quem tem sede seria mesquinhez, se não fosse o fim da picada...

Mas, vamos ao caso. Lembrei-me de um episódio interessante. Há muitos anos, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo estava construindo a estrada de ferro que ligava o sul ao norte do país, por necessidade estratégica, uma vez que a navegação de cabotagem estava exposta a perigos com submarinos nazistas que infestavam os mares. Na época, eu estava de férias em Espinosa, minha terra natal, por onde passaria a nova ferrovia.

Uma comissão de oficiais do Exército Nacional vinda do Rio de Janeiro, ali chegou num ônibus novinho, para inspecionar, ou visitar as obras, e devia seguir até Salvador, na Bahia. E fui gentilmente convidado pelo comandante, para acompanhá-los.

Ao lado do leito da estrada de ferro em construção, que atravessava uma região pouco habitada, seguia outra de terra, de apoio logístico, recentemente aberta e então sem trânsito. Foi por ela que viajamos.

Estávamos no mês de agosto, e a viagem era confortável, apesar do sol escaldante, do calor e da poeira. Mas aconteceu que, na altura de Brumado, o cubo da roda traseira do ônibus se partiu e o veículo ficou adernado, sem a mínima possibilidade de reparo no local. Ficamos, por assim dizer, no mato sem cachorro. Num raio de muitas léguas, não havia nenhuma possibilidade de socorro.

Enquanto o comandante estudava uma solução definitiva para o caso, eu e mais uns três companheiros, com o sol a pino, seguimos em frente, a pé, até encontrarmos, qui-lômetros distantes, uma casinha tosca, ao lado da estrada.

Quando nos aproximamos, um cãozinho vira-lata deu sinal da nossa presença, e dois meninos curiosos apareceram na janela.

Depois dos cumprimentos e do relato que lhes fizemos, soubemos que o pai dos meninos estava ausente. E já sedentos no último grau, pedimos um copo de água. Um dos meninos, para surpresa nossa, perguntou:

– Os senhores não aceitam um pouco de aluá?Com a nossa resposta afirmativa, ele foi lá dentro e trouxe-nos aquele delicioso

refresco de cascas de abacaxi, fresquinho, que tomamos avidamente e ele ainda perguntou se queríamos mais.

Intrigado com a inesperada generosidade, observei:– Meninos, os seus pais não se incomodam com isso?– Não, senhor, caiu um sapo no pote e ninguém mais quis beber...

* Escritor e historiador, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, reside em Belo Horizonte/MG, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água, vida e morte se misturamDimythryus*

Vamos comemorar cada gota d’água,Cada rio, cada nascente, cada gota

D’orvalho, cada lágrima da terra,Cada fonte viva que ainda temos.

Vamos festejar o espetáculoDa desova (a piracema)

O encontro das águas (a pororoca)Os igarapés, as cataratas.

Vamos navegar nas praias nordestinas,Cariocas, maranhenses, paulistanas

Vamos clamar cada fio de vidaSalgado ou doce, límpida ou negra.

Vamos dessalinizar nossas consciênciasCom o Pinheiros, Tamanduateí ou Tietê

Em nossos banhosEm nossos carros.

Vamos encarar a vidaE a morte das nossas águas

Vamos agradecerCada qual ao deus que tem

Os três por cento de nossa riqueza;E os que não têm deus algum

Clame a seiva do planetaA força que rege o mundo,

Cada braço que corta as matasCada greta que rasga o mundo.

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Vamos ovacionar os nossos rios:O São Francisco

O AmazonasO Rio GrandeO Rio Paraná

Todos os mananciaisNossas pequenas lagoas

Até mesmo as temporáriasAs represas, os arquipélagosEsses guerreiros ainda vivos.

Vamos olhar pelas águasPor este patrimônio do planeta

Por estas águas cristalinasSilenciosa, alegre e triste vida.

Vamos como crianças arteirasChorar as águas que matamos

Os muitos Pinheiros fecundadosAs muitas praias que negramos.

E ainda, se tempo houver;Sob a verve que nos rege

Festejemos as petsE as indústrias químicas

Do entorno.

Vamos clamar, louvar, sei lá...Cada peixe, cada pássaro!

Em palidez revestidaMortos, tácitos nas margens

E leitos dos nossos rios.Vamos cuidar do que ainda nos resta,

Vamos salvar as nossas águas,Vamos salvar as nossas vidas!!!

* Embaixador Universal da Paz do Cercle de Les Ambassadeurs Univ. de La Paix – Genebra/Suíça, reside em São Paulo/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Planeta águaAngelica Villela Santos*

“... e o Espírito de Deuspairava sobre as águas.”Águas nascentes.Águas divinas, vindas do Criador para a vida do planeta.

Rios.Mares.Fontes.Lagos.E a chuva que Deus fez, para as águas não faltarem.Planeta Água nasceu.

Porém...Homem ingrato,assassino e suicida,polui,destrói e mata.Planeta Água padece.

Rio seco.Mar sem vida.Fonte em gotas.Lago pó.Não mais evaporação, Deus recolhe a chuva.Planeta Água desaparecerá.

* Membro titular da Academia Taubateana de Letras. Reside em Taubaté/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Bendita águaAntônio Sérgio Torres Ferreira*

Água que me lava a alma,Em frescor único, banha o corpo,Límpida quão sonhos de criança,A fluir do seio da terra como néctar.

Água que te quero benta,Purifica o coração dos perversos,Pois à custa do futuro de muitos,Julgam com indelével severidade,Mormente fatídica, coletiva, crueldade.

Símbolo de elo com o Criador, pelo batismo,Flui dos dedos como as vidas,De inocentes esvaindo-se, no eterno jogo do poder,Em prol de egocêntricos, inconsequentes líderes.

Lavas como avalanche a mediocridade, de figuras patéticas,Na esfera do planeta que compartilhamos,Amores, louvores, clamores, rumores,E a fluidez da sua onipotência, apesar de cada vez mais desprezada, Vem com o clamor e brados que tu podes ser, o princípio e o fim,De toda uma geração, que se perdeu à custa da busca,Pela supremacia do controle absoluto de toda a vida e consciência da humanidade...!

* Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 21.

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Bem preciosoFlávia Assaife*

Força da vidaÁgua benditaPureza d’almaNascente calma

Da vida ao mundoDeságua riachosLágrimas límpidas e purasColheita e semeadura

O ser humano insanoPolui e destróiO bem mais preciosoEle só faz subtrair...

* Escritora, consultora organizacional e designer instrucional. Reside no Rio de Janeiro/RJ, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Depois da tempestadeJacqueline Aisenman*

Águas mansas beijam meus pés.Elas estão assim desde o fim da tempestade, mansas e turvas.Há poucas horas atrás, estavam à mercê da fúria.Jogavam-se loucas sobre as pedras e a praialevando com elas o que podiam.Sábio o pescador que tomou distância:Deixou o barco no porto e foi para casa,da janela observando tudo.Eu também vi a tempestade pela janelae era como eu se eu de repente tivesse me permitido o impensável.O vento, a chuva torrencial, o vento, as ruas se enchendo, o vento...Nada mais em seu lugar.E, como em mim, tudo depois passou. Veio a calma dos céus e da água. O mar quase adormeceu.Foi quando, descalça e despojada das dores de antes, vim para a beira do mar.Que agora, manso e belo, me molha os pés numa carícia só.

* Escritora, reside em Genebra/Suíça, é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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EnchentesAlexandra Vieira de Almeida*

Enchentes que extravasam doresrecolhem a memória dos pequenos.Mortes, sobressaltosa chuva costura a face mórbida.Resíduos, lixosa devassidão da lógicainvertida em angústia.Sobressai nos terrenos movediçosa fétida desordem do caosque amalgama o sofrimento e a expiação.Enchentes que corremsobre os esqueletos das ruastrafegam venenos de partição.Descuido do povo, a insensatez do luto.Enchentes, desejamos rompera obscura incoerência.

* Escritora e doutora em literatura comparada, reside no Rio de Janeiro/RJ. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Flagelo imundo!

Marcelo de Oliveira Souza*

O ser humanoDito como racionalDono de seu ambiente.Muitas vezes é inconsequenteDestruindo tudo ao seu redor. Na sua escala de degradaçãoMata, destrói, poluiO conhecimento ruiCom a poluição. A água, um bem constante...A cada dia some do tanque,Cujo “amigos” do Tietê“Contribuíam” com perfeição. O tempo passou...O rio morreuO povo se arrependeDa preservaçãoQue não ocorreu. A poluição mandaO peixe espantaE a cidade maiorDo mundoParou... com o seu flageloImundo!

* Escritor, organizador do Concurso Literário Sem Fronteiras. Reside em Salvador/BA, é membro do IWA e correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Fonte da vidaAntonia Aleixo Fernandes*

Olho d’água borbulhanteTímido forma a nascente.Seus neurônios interligadosFormam rios divergentes

Suas águas cristalinasProcriam cardumes benevolentesCom diversas espécies de peixesQue alimentam tanta gente

A água que nos mantém vivosHoje, agoniza em seu leito.Pobre homem gananciosoMata os rios e os seres viventes

Finge não vêA natureza pedindo socorroSalve-me ante que eu morra

Bendita a naturezaCom sua sabedoriaDevolve a humanidadeA maldade recebida

Hoje, a seca assola a terra.A água está escassaSomente Deus para dar jeitoTrazendo a chuva esperadaPor toda a humanidade

Sábia é a naturezaEnvolta a tanta belezaAgonizando em seu deleitoDevolve a humanidadeSem dó nem piedadeTudo o que lhe têm feito!

* Escritora e assistente social. Reside em São Paulo/SP, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Gotas d’águaAmalri Nascimento*

Veste-me subitânea e miúda chuvaAfluindo sangue e arrepios que correm céleresOlhares eflúvios marejamO som do ar que respiramos gotas d’água*Aromas outonais orvalhoDe efluências tapetes em cores...A garoa cai a pingosCintilando lembranças eclosão d’alma...Pálio que me cobre o corpoDe frêmitos notívagos Qual barco que se desvanece aos olhosTragado no horizonte de alémMaresia evaporada no hálito aladoLiberto do arfar de êxtases meus...Paisagem do meu corpo ave* Dispersando pensamentos soltosEm voos pelo ar que inspiram idíliosQual canção oníricaFrouxa nos lábios da melodia...Sibilante alento de momentos idos que ainda se vão...E em vão no esmo de caminhos ermos dissimuladosResignam-se as folhas caídas no amarelecer da estaçãoNoites e dias repetidos igualmenteEquinócio de sonhos querentes...

* Helena Branco“Não me aguardes o rio que então corrias... / sumiste as margens... / paisagem do meu corpo ave dispensada nos lábios da canção... / o som do ar que respiramos gotas d’água / conformadas pétalas de Verão...”

* Suboficial da Marinha do Brasil, poeta, contista, artista plástico autodidata, reside no Rio de Janeiro/RJ. É associado à APPERJ e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Mar de gudeOliveira Caruso*

Fito a Baía de Guanabara e, em meu trajeto, vem-me uma lembrança ditosa dos já distantes tempos de infância. O jogo de bolas de gude no chão jamais me atiçou a sede de vitórias ou a vontade de participar da emoção despertada em meus também jovens colegas.

Preferia colecioná-las e, não raro, procurava olhar através das mesmas, na esperança de enxergar o outro lado exterior a seu colorido. A água, tal qual o cristal, pode oferecer transparência ou translucidez. Isto depende de fatores diversos, como sua limpidez. Então, lembrando-me de quando mirava os olhos contra a parte cristali-na da bola azul, tenho agora a impressão de que a Baía parece uma delas.

É como se a paisagem exótica daquela linda bolinha tivesse ganho vida. Águas passam a pegar carona nas rasas brisas e nuvens, nas altas; embarcações e naves penetram no cenário; uma ponte gigante espreguiça-se, de forma a dar passagem a automóveis. Teria minha bola azul, num de meus lançamentos, se afastado e ganho realmente vida após tanto quicar? Teria, com a força do arremesso, colidido contra o chão e como numa explosão, liberado tal cenário dentre seus cacos? Não, sou ínfima criatura tentando seguir a serviço do criador.

Ademais, bolas azuis de gude – como várias de outras cores – normalmente também se dotam de uma parte branca, a lembrar espessas nuvens que “escondem” o sol em dias nublados. Aliás, o próprio céu se recobre sempre de um azul em tona-lidade mais clara. Desta forma, juntando-se a imaginação descrita, pode-se segurar uma bola azul de gude com os dedos polegar e indicador, de modo a manter-se o azul escuro da mesma para baixo e o branco no topo. Assim feito, aptos estão os que, tipo eu, consideram-se amantes do clima nublado, a sonhar com o controle da natureza de um modo mais puro, diferente do que o homem já faz há muito.

* Administrador e advogado. É comendador da Associação Brasileira de Desenho e Artes Virtuais, membro efetivo da Academia Brasileira de Trova, da Academia de Letras e Artes de Paramapuã, e correspondente da Academia de Artes de Cabo Frio, da Academia de Letras y Artes de Valparaíso/Chi-le, da Academia Niteroiense de Belas Artes e Academia de Letras de Teófilo Otoni e do Internacional Writers and Artist Association/IWA/USA.

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ConstelaçõesValter Bitencourt Júnior*

Sacia a sede,E toda a sua necessidade, De sobrevivência,Necessitar de aprender Por entre a vida,A água que vocêBebe é sabedoria.Não temas!Incognitamente Toda a inspiração,Por entre todas as fontesDa cisterna,Lá distante toda a escuridão,Perto de você a saudade,Não ande assim com tanto medo,Deixa de lado o seu ser solitário,Suspira no ar todo este vapor,Mata toda a sua necessidade, Jorra pra fora toda Está lágrima.Deixa, deixa transbordar,Não temas,Que tudo necessita de calma.Bebe todas as pequenasLinfas que se encontram no pote.O amor, nascerá tudo de novo,Pra que seja vivenciado,o mundo transborda,Precisamos de luz,Necessitamos de paz.

* Poeta e escritor, reside em Salvador/BA, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Pimenta do reino: Carta aos insensíveisJoão Batista Vieira de Souza*

Já faz algum tempo que venho observando esta gente... Povo mal humora-do, estressado, confuso e mal agradecido. Vocês são uns reclamões enrustidos!

Às minhas velhas margens, escutei muito escárnio, buzinaço... Vi homens e máquinas trabalhando e um desvio imenso do trânsito. Uns metros a mais e quilômetros de insatisfação.

Então percebi que estavam a salvar-me ou inundar-me de vez no ostracis-mo. Por alguns dias, o transtorno foi imenso... Mas, e para quem espera há mais de cem anos? Por mais de dez décadas fui suprido pelas suas fezes, seus obje-tos e eletrodomésticos estragados, pneus e ferros retorcidos. Motoristas embria-gados ou desatentos já caíram em meu leito sórdido, pescadores desavisados aventuraram-se a saciar a fome com meus peixes cascudos e descaracteriza-dos. O seu padrão de limpeza sou eu; o seu padrão de beleza sou eu. Virei lugar inóspito. Refúgio de ratos e malfeitores. Sou a imagem do seu espelho.

Eu sou o seu lixo... Eu sou o seu desperdício... Eu sou o seu vício voraz, dadas as garrafas jogadas em mim. Queria ser seu fascínio, sua metade; seu socorro. Entretanto, sou o seu desprezo, seu escárnio, seu castigo... Sua indife-rença. Sou um resto de rio... “Um rio às avessas!”

Fizeram para mim canções... Não tocam em seu rádio: o lixo é outro; fizeram poemas em minha homenagem... Mas esgoto a céu aberto não vira best seller: o vício é outro; fizeram imagens das minhas águas turvas... Mas o programa assistido está em outro leito de morte.

A única alegria que me aparece são os Ipês na Primavera... Faz-me ter a ilusão de que sou desejado, sobretudo quando saio em famigerados calendários ou cartões políticos postais. Eu posso esperar, você tem muita pressa... Eu posso morrer à míngua, minhas águas não servem mais. De vez em quando re-cebo um banho, não para limpar-me... Mas por medo das minhas revoltas.

Eu sinto frio... Tenho o curso incerto! Estou no centro da sua cidade, mas não sou o centro das atenções. Tenho sede de saúde, tenho fome de dias me-lhores. Vamos trocar de lugar por alguns segundos e sentirá na pele como é ser ignorado.

Já fui navegável, sabia? Quem me fez me incumbiu de saciar todos àque-les que se achegassem com sede. Mas quem me corrompeu grita aos quatro ventos que me ama. Minha nascente brota a esperança, mas tenho receio de passar por aqui. Homens cruéis, insensíveis... Matam-me e morrerás junto. Esta não é a cidade que conheci. Anoiteço e amanheço só! Minhas águas são apenas a ponta do seu iceberg.

Eu sou o palco das suas caminhadas. Mesmo quando você está de óculos escuros; sou sua frustração. Meus ouvidos doem de tanto te ouvir falar de outros rios... Lindos... Caudalosos e imponentes! Suas viagens e seus encantos eno-jam-me. O seu luxo é o meu lixo. O seu bem-estar é o meu refluxo.

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Eu não preciso do seu desprezo, preciso do seu bom senso! Ainda não morri. Estou em agonia, se não faz nada para ajudar-me, não atrapalhe. O pro-gresso e o futuro desta terra começam por mim... Muito prazer, eu me chamo RIO TODOS OS SANTOS!!! Pronto, falei!

* Professor de Língua Portuguesa, escritor e membro da academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 10.

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Planeta águaIsabel C. S. Vargas*

Água que corre nos rios,Que formam os mares,

Que transportaram homensRepletos de sonhos.

Água que rega a sementeQue faz brotar a flor,Que colore a vida,

Fazendo renascer a esperança.Água que limpa as impurezas,

Que rega os alimentos que matam a fome.Água que sacia a sede

Que mantém a vida.Água que é parte do corpo humano

E se transforma em lágrimaQuando a alma chora.

Água! Fonte de um universo ricoQue se esconde debaixo dela,

Formando um habitat multifacetário de seres diversos,Água, sem a qual é impossível sobreviver.

Elemento indispensável na natureza,Estudada pelos cientistas,

Cantada em música, em versos, na prosaPor sua importância capital.

Mesmo assim, os tolos existentesIgnoram sua beleza, sua relevância

E a poluem impunemente,A desperdiçam com insensatez

Comprometendo a vida de todos nós.Consciência! Respeito! Educação

É o que pode nos salvar de uma catástrofe.

* Escritora, reside em Pelotas/RS, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Encontro das águasLuciene Barros Lima*

Água para meu corpo...Sedento, ávido da sede de te amar.Água de paz, límpida de luz que me traz vocêNa direção das águas sem destino algumSegue o som...Da correnteza, do silêncio... Das águas profundas desse nosso encontroSem medida, sem noção, sem hora marcada...Água que me refugio e me limpaLava-me da saudade de vocêDesatando nosso nó, nossos ais e desencontros...Deságua em minha pele, sobre meus porosBusca do meu ser perdido e escondido.De além mar de amar a quem?A quem amas, a minha alma?A quem procura nessas águas profundas que é o amor?Insano e covarde que se esconde do outro lado do mundoE me sentencia de uma esperaNo encontro das águas.

* Arte educadora, artista plástica e poetisa. Licenciada em Desenho e Artes Plásticas com pós-gradu-ação em Arte e Patrimônio Cultural, reside em Salvador/BA, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Gotas d’água, bendita água!José Geraldo Silva*

De gota em gotaSe enche um copo,Esvazia uma caixa,Abre uma cratera no chãoSe move um moinhoDerruba um edifício;De gota em gotaSe forma um rio, As nuvens se fazemBrota a chuva,Revitalizam as nascentes,Os rios, enche o oceano;De gota em gotaMolha a terraFertiliza a plantaAlimenta a sedeFortalece a sementeFaz a vida revivida,Faz o viver se manter,Faz o broto crescerA planta germinar,A alegria reviverA esperança aumentar;De gota em gota Tudo é possível;Manter o coração vivoA palpitar,O filtrar dos rins,O corpo sadio de péA vitalidade sagradaPara caminhar firmeO suor derramado,Banhado de fé, de amor Com certeza que tal alimentoJamais faltará,Sustento eterno inevitávelPara a saúde Alimento de que todos precisam Para continuar erguidosEnquanto aqui permanecer,

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Cujo valor indecifrávelE em tudo está presente;Gotas de fertilidadeGotas d’água, Gotas mais valiosas que prata,Que ouro, que tudo, Que deus nos presenteouPara o bem;Gotas sagradas, gotas d’águaÁgua, bendita água!

* Escritor e poeta, é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 11.

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Rio das ContasValdeck Almeida de Jesus*

És o Rei da regiãoPois a ela inteira rasgasDando a todos pão e vidaQue a enchente carrega. Das Contas, teu nome é rioE também Rio da SereiaMas agora, sem beleza,És somente o Rio da Areia. Teus peixes aos poucos se vãoTuas águas te abandonamSó ficam da ponte os vãos. E agora Rio das Contas?O que haverás fazerCom tuas piabas tontas?

* Escritor, jornalista e poeta, reside em Salvador/BA, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Rio Vermelho em fúriaElizabeth Caldeira Brito*

Grande, calmo e belo rio,de água límpida e clara.O que fizeram de ti,para provocar tua ira?

Onde estão as belas margens,seus habitantes naturais,suas matas ciliares,seus peixes, mananciais?

O bicho homem desmata,mata a mata, abate árvores,extinguindo animais,provocando dissabores.

A correnteza levoucom fúria a terra lavada,arrastando construçõesde casas, pontes e margens.

Olhos espraiados na água.O homem assiste assustadotoda a história afogada...– É o que restou do passado.

* Escritora, membro efetivo da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, da Academia de Letras do Brasil e da União Brasileira de Escritores/GO, é mem-bro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Sina d’águaCarlos Lúcio Gontijo*

A água é apaixonada pela superfície da terraCondenada a hibernar em lençóis do subsoloNão se resignou ao protocolo divinoE assim brotou em diversos lugaresPor alegria compõe versos em cachoeiraCorre prazenteira por todos os caminhosCórregos, riachos, rios, lagoas onde faz ninhosA água mundo afora estende seu abraço amigoEm umidade festiva de eterno cioCumpre com dignidade o seu castigoDe entregar-se doce ao mar salgadoComo se toda pena branda fosseDepois de ter-se amado...

* Escritor e jornalista, membro da Academia Interamericana de Literatura e Jurisprudência, da Academia de Estudos Literários e Linguísticos (ambas em Anápolis/GO), da Acade-mia de Letras do Brasil-Mariana, da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores e da Academia Santantoniense de Letras, reside em Santo Antonio do Monte/MG. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Sou águaVerônica Vincenza*

Sou águaFluída na vidaFonte de vidaMutante: mudando constantemente de formaPerspicaz: ultrapassando até o obstáculo mais duroSe me espalhas,dissipo-meSe me agregas,fico mais forteEm cada estado, sei o meu lugar Sou, ás vezes, constante: até chegar ao objetivoÁs vezes, inconstante: gerando grande confusãoOra, pacífica lagoaOra, mar em agitaçãoFria e dura Quente e borbulhante Infinita: em suas inúmeras possibilidadesFinita: pela fragilidade do ser e estarSou águaEntre tantas formas, estados e modos E mesmo assim,Inegavelmente, Sempre a mesma.

* Escritora, poetisa, relações públicas, reside em Águas Belas/DF, é membro correspondente da Aca-demia de Letra de Teófilo Otoni.

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Vida seca

Cosme Custódio da Silva*

A secaMata a mataMata o bichoMata a genteSó não mata a fé Enquanto issoO guarda-chuvaGuarda o SolAguardando chover E quando caem as águas pluviaisO chão cheiraO barro assentaGerminaFloresceDá frutos. Água é vida!

* Escritor e poeta, reside em Salvador/BA, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

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Água e vidaRicardo Maia*

Água de onde veio... para onde vai...você está em 70% do meu corpo

nasci com você em volta e dentro de mimesteve no meu batismo

está no planeta também com 70%está na demonstração das minhas tristeza e alegrias.

está nas formas de vida inanimadas e animadas.Está em mim, em nós e nos faz irmãos de água.

Você é vida, partilhada e compartilhada.Quero lhe preservar pura, respeitar os seus estados líquido, sólido e gasoso.

Perante você água, somos iguais e dependemos de você.Água você é uma dádiva de Deus Pai uma das provas que ELE está em todos os lugares.

Você faz parte da minha vida do início ao fim, na sua ausência sou carbono.Mas estaremos sempre misturados em vários ciclos da vida, tentando manter o equi-

líbrio natural na balança da existência.Obrigado, ÁGUA.

* Gestor e analista ambiental com pós-graduação em Auditoria e Perícia Ambiental. É membro do Ins-tituto Histórico e Geográfico do Mucuri.

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Santo sangue da naturezaMarcos Miguel da Silva*

Idem a malha venosaQue num corpo emaranha,Seja d’um animal racional ou “humano”...Assim são as veias aquosas,Donde o líquido jorra, bravo ou brando.Nutrindo a vida na terra,Acalanto da sábia e divina grandeza.Eis ser a água o santo sangueQue toda a terra irriga,Mantendo viva e bela a natureza.

De vezes minguada, imperceptível...Cortando a terra em suas entranhas,Em quantity a alimentar áreas extensasDe jatobás, angicos, ipês e aroeiras.Que além de regar matas densas.Ainda formam pântanos, lagos,Grandes rios, cascatas e cachoeiras.Francos celeiros da biodiversidade.Cerne do equilíbrio natural da terra,Garantia do futuro vital à humanidade.

Quão útil, quão bela...Eternamente venerável,Sendas de contemplação,Néctar da sombriedade.Palco e cenário de grande beleza.Ah, água... Sempre a água...Fonte fecunda de pura riqueza.Líquido precioso, pilar da vida,Lágrimas dos céus...Santo sangue da natureza.

* Natural de Teófilo Otoni/MG e residente em Itaipé/MG, advogado, servidor público, escritor, historiador e poeta. No campo literário possui alguns trabalhos publicados, destacando-se o livro: Rio das Pedras – Itaipé 50 anos, além de publicações em antologias e outros. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 15.

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Água que vai, muitas vezes não vemWenderson Cardoso*

Sabemos que o ciclo hidrológico é a contínua circulação do bem mais precioso para a sustentabilidade da vida em suas diversas formas, inclusive à humana no Pla-neta, a água é, deveras, o tesouro de incalculável valor, essencial para a sustentabili-dade da fauna e flora, incluindo, claro, do Homem na Terra.

Quando há precipitações, ou seja, chuvas, para uns é um milagre de Deus, pois, representa o “sangue” que dá forças para o ressurgimento e a manutenção da vida; já para outros, representa estágios de agruras, em forma de enchentes, desliza-mentos, soterramentos e outros sofrimentos.

No entanto, tais penúrias, na verdade é de exclusiva culpa humana, que pro-move ações antrópicas, levando a degradação e a impactos socioambientais que, muitas vezes, são irreversíveis.

A chuva traz a água que lava o sal da terra e que renova esperanças de nova e melhor vida para todos, através da fartura de alimentos, estes cruciais para a auto-sustentabilidade dos seres vivos.

É a água que traz a vida... mas também pode trazer a morte. Pois, se não cui-dada, ela pode se transformar em uma “veia letal” que transporta agentes patológicos prejudiciais à saúde humana, dos animais e até das plantas. Água limpa... pura... sem contaminação é tudo... tudo de bom!

Pra gente ter sempre água limpa, de excelente qualidade e própria para o consumo humano e dos animais, própria também para a manutenção da qualidade de vida floral, o único ser existente na face da Terra dotado de “sapiência” para provocar mudanças “positivas” no ambiente, ou seja, o homem, tem que proteger os manan-ciais, os rios, as cachoeiras, as bacias hidrográficas, os aquíferos subterrâneos, os mares e os oceanos.

O homem tem que cuidar, principalmente do rio por todo o seu percurso, não jogando lixo e/ou detritos ou dejetos; não desmatar as margens; não construir em cima do rio, pavimentando-o... como, também, não provocar queimadas, que enfra-quecem o solo e contribuem para o surgimento de erosões.

O Brasil deve aprender com outras nações que, ao invés de cobrir seus rios metropolitanos, que cortam as megas e pequenas cidades, simplesmente os limpam e tratam suas águas. Deve-se ensinar e aprender que: a água que vai, muitas vezes não vem.

*Professor Mestre e Doutorando em Ciências da Educação; Especialista em Gestão Ambiental; Jorna-lista-Documentarista; e Educomunicador Socioambiental. Reside em Contagem/MG, é membro corres-pondente da Academia de Letras de Teófilo Ooni.

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Academia de Letras de Teófilo OtoniHistórico, quadro social e patronos

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Academia de Letras de Teófilo Otoni

“Resgatando a arte literária na cidade”

Fundada oficialmente em 20 de dezembro de 2002, é composta por 30 membros ti-tulares e efetivos; cada cadeira é designada numericamente e tem um patrono, imutável, em homenagem a personalidades que tenham se notabilizado nas letras, nas ciências, nas ar-tes, na política, na educação e na imprensa. A entidade tem por objetivos: realizar estudos e pesquisas na área da literatura local e regional; promover e incentivar a cultura através da realização de conferências, exposições, concursos, cursos e outras atividades de natureza cultural; coletar, pesquisar, elaborar e divulgar estudos e informações de cunho cultural, relacionados aos interesses da entidade, bem como congregar os esforços daqueles que se interessam pelo processo cultural, o cultivo e divulgação da língua e literatura nacio-nais.Realiza, anualmente, a tradicional “Noite do Café Com-Letras”, com recital de poesias, lançamento da Revista “Café-com-Letras”, com trabalhos dos acadêmicos e convidados especiais e, ocasionalmente, posse de novos membros titulares e correspondentes.

Mantém a Biblioteca D. Didinha e o Núcleo de Documentação, destinado ao resga-te, à guarda e conservação de livros, documentos (manuscritos e iconográficos) e demais objetos de valor histórico cultural com referência à literatura no município de Teófilo Otoni e região do Vale do Mucuri.

Desenvolve em parceria com a União Estudantil de Teófilo Otoni e Conselho Munici-pal da Juventude, atividades de estímulo à leitura e escrita por meio da realização anual do Prêmio Literário Jovem Escritor para os alunos na faixa etária dos 14 aos 29 da comunidade escolar da educação básica e superior.

Outorga, anualmente, o Prêmio Academia de Letras de Teófilo Otoni: Troféu Cul-tural Isaura Caminhas Fasciani com premiação nas seguintes modalidades: Prêmio ALTO conjunto de obra literária; Prêmio ALTO produção literária: poema, romance, conto, crônica, crítica literária, roteiro adaptado e literatura infantojuvenil; Prêmio ALTO produção técnico - científica e intelectual: dissertação, tese, ensaio, artigo científico, artigo jornalístico e mono-grafia; Prêmio ALTO expressiva atividade elevadora da cultura teófilo-otonense; Prêmio ALTO livro do ano: por obra poética ou em prosa lançada no decorrer do ano; Prêmio ALTO incentivo cultural para pessoas físicas ou jurídicas, incentivadoras da arte e cultura no município; Prêmio ALTO Veículo de Comunicação e Prêmio ALTO escritor do ano.

Outrossim, concede a cada ano, “A Medalha de Mérito Cultural Dª Didinha” des-tinada a homenagear pessoas físicas e jurídicas que tenham se destacado na criação e promoção lítero-cultural, através de atividades pertinentes às contribuições literárias, cultu-rais, artísticas, religiosas e pesquisas em favor do desenvolvimento da pessoa humana e da sociedade teófilo-otonense ou pelo estabelecimento de políticas e projetos para o desenvol-vimento da educação, o ensino e civismo no município e região do Vale do Mucuri.

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Patronos

Cadeira: Patrono:01................................................................... Pedro de Paula Ottoni02................................................................... Ruy Homero de Oliveira Campos03................................................................... Lourenço Ottoni Porto04................................................................... Olbiano Gomes de Mello05................................................................... Paul Max Rothe06................................................................... Pedro Antônio do Nascimento07................................................................... Régulo da Cunha Peixoto08................................................................... Reynaldo Ottoni Porto09................................................................... Augusto Pereira de Souza10................................................................... Adail Barbosa de Oliveira11 ................................................................... Lourival Pechir12................................................................... Dom Quirino Adolfo Schmitz13................................................................... Joaquim Nunes14................................................................... Joaquim Alves Portugal15................................................................... Tristão Ferreira da Cunha16................................................................... José Alfredo de Oliveira Baracho17................................................................... Nelson de Figueiredo18................................................................... Rubem Somerlate Tomich19................................................................... Dely Coelho Nogueira20................................................................... Darcy de Almeida21................................................................... Libório Zimmer22................................................................... Johann Leonard Hollerbach23................................................................... Petrônio Mendes de Souza24................................................................... Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto25................................................................... Ione Lewicki da Cunha Mello26................................................................... Leônidas Alves Lorentz27................................................................... Luiz Gonzaga de Carvalho28................................................................... Noé Rodrigues dos Santos29................................................................... João Salomé de Queiroga30................................................................... José Gonçalves Sollero

Patrono OficialProf. Celso Ferreira da Cunha

Patronesse: Prêmio Academia de LetrasIsaura Caminhas Fasciani

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Patrono OficialProf. Celso Ferreira da Cunha

Patronesse: Prêmio Academia de LetrasIsaura Caminhas Fasciani

Patronesse: Bibliotecae da Medalha de Mérito Cultural

Hilda Ottoni Porto Ramos - DªDidinha

Patrono: Publicações EspeciaisAlbert Schirmer

Patrono: Convidados de HonraMonsenhor Otaviano José de Magalhães

Patrono: Membros CorrespondentesLuiz de Almeida Cruz

Patrono: Membros HonoráriosSerafim Ângelo da Silva Pereira

Patrono: Membros BeneméritosHorácio Rodrigues Antunes

Patrono: Prêmio Jovem EscritorFábio Antônio da Silva Pereira

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Quadro socialMembros Titulares

Amenaide Bandeira RodriguesAntônio Sérgio Torres FerreiraAntonio Jorge de Lima Gomes

Elisa Augusta de Andrade FarinaHilda Ottoni Porto Ramos

Maria Laura Pereira da Silva CouyMarlene Campos Vieira

Neuza Ferreira SenaJoão Batista Vieira de Souza

José Geraldo SilvaJosé Carlos Pimenta

José Salvador Pereira AraújoLeuson Francisco da Cruz

Leônidas Conceição BarrosoLizia Maria Porto Ramos

Llewellyn Davies Antonio MedinaMarcos Miguel da Silva

Olegário Alfredo da SilvaRaquel Melo Urbano de Carvalho

Sérgio Abrahão AspahanTadeu Raimundo Laert

Therezinha Melo Urbano de CarvalhoWilson Colares da Costa

Wilson Ribeiro

Convidados de HonraDom Aloísio Jorge Pena Vitral

Gilson de Castro PiresGuiomar Sant’Anna MurtaHilda Ottoni Porto Ramos

Isaura Caminhas Fasciani – In memoriamLaiz Ottoni Barbosa FerreiraLuiz Gonzaga Soares Leal

Maria Eny Leal Fernandes da SilvaMaria Laura Pereira da Silva Couy

Neusa Guedes CarneiroSuzana Maria Rêgo

Membros HonoráriosGervásio Barbosa Horta

Humberto Luiz Salustiano CostaIvan Claret Marques Fonseca (In Memoriam)

Nestor de Aguilar SoutoSebastião José LoboWilson Pires Neves

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Membros BeneméritosArnaldo Gomes Pinto Júnior

Detsi Gazzinelli Jr.Gilberto Ottoni Porto

João Carlos da Cunha MelloMaria José Haueisen Freire

Theomar Sampaio Paraguassu

Membros CorrespondentesAdão Alves de Oliveira Filho – Uberlândia/MG

Alberto Slomp – Araraquara/SPAlcione Sortica – Porto Alegre/RS

Alexandra Vieira de Almeida – Rio de Janeiro/RJAlexandre Cezar da Silva – Ocara/CE

Almir Fernandes de Souza – Nanuque/MGAltamir Freitas Braga – Rio de Janeiro/RJ

Angelica Maria Villela Rebello Santos – Taubaté/SPAntonia Aleixo Fernandes – São Paulo/SP

Arahilda Gomes Alves – Uberaba/MGAurineide Alencar de Freitas de Oliveira – Dourados/MSBenvinda da Conceição de Melo Lopo – Lisboa/Portugal

Bruno Resende Ramos – Teixeiras/MGCarlos Henrique Pereira Maia – Niterói/RJ

Carlos Lúcio Gontijo – Santo Antonio do Monte/MGCarmem Lúcia Hussein – São Paulo/SP

Carmem Terezinha Rodrigues Moraes – Porto Alegre/RSCelso Gonzaga Porto – Cachoeirinha/RS

Charlene dos Santos França – Rio de Janeiro/RJCícero Barbosa Teixeira – Inhapi/ALCláudio de Almeida – São Paulo/SP

Cláudio de Almeida Hermínio– Belo Horizonte/MGClevane Pessoa de Araújo Lopes – Belo Horizonte/MG

Cosme Custódio da Silva – Salvador/BADaniel Antunes Júnior – Belo Horizonte/MG

Darlan Alberto Tupinabá Araújo Padilha – São Paulo/SPDécio de Moura Mallmith – Porto Alegre/RS

Dilercy Aragão Adler – São Luiz/MAElba Gomes de Andrade – Paranaguá/PR

Eliane Silvestre da Costa – Brasília/DFElizabeth Abreu Caldeira Brito – Goiânia/GO

Elmo Notélio – Frei Inocêncio/MGEloisa Antunes Maciel – São Martinho da Serra/RS

Else Dorotéia Lopes – Nova Lima/MGEmerson Maciel Santos – Laranjeiras/SE

Fátima Cristina Sampaio Luiz – Belo Horizonte/MGFernando Catelan – Mogi das Cruzes/SP

Fernando da Matta Machado – Rio de Janeiro/RJFlávia Assaife Campos Almeida – Rio de Janeiro/RJ

Flaviana Tavares Vieira – Diamantina/MGFlávio Sátiro Fernandes – João Pessoa/PB

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Francisco Alves Bezerra – São Bernardo do Campo/SPFrancisco de Assis Dantas – João Pessoa/PB

Francisco José da Silva – Bom Jesus do Galho/MGFrancisco Martins Silva – Uruçui/PI

Francisco Soriano de Souza Nunes – Rio de Janeiro/RJGeraldo José Sant’Anna – São José do Rio Preto/SP

Gessimar Gomes de Oliveira – Montes Claros/MGGilmar da Silva Cabral – Rio de Janeiro/RJ

Gilmar Ferraz da Silva – Teixeira de Freitas/BAGleidston César Rodrigues Dias – Lagoa da Confusão/TO

Helena Selma Colen – Ladainha/MGHelenice Maria Reis Rocha – Belo Horizonte/MG

Hélio Pedro Souza – Natal/RNHélio Pereira dos Santos – Contagem/MGIeda Cunha Cavalheiro – Porto Alegre/RSIlda Maria Costa Brasil – Porto Alegre/RSIrineu Barone Costa – Belo Horizonte/MGIsabel Cristina Silva Vargas – Pelotas/RS

Isadora Cristiana Alves da Silva – Capoeiras/PEIvonette Santiago de Almeida – Brasília/DF

Jacqueline Bulos Aisenman – Genebra/SuiçaJader Moreira Rafael – Nanuque/MG

Jane Guilherme da Silva Rossi – Guarulhos/SPJaneuce Maciel Cordeiro – Turmalina/MG

Jean Albuquerque – Nova Viçosa/BAJelvisson dos Santos Nascimento – Salvador/BAJoão Carlos de Oliveira Tórtora – Petrópolis/RJ

João de Souza Neres – Mata Verde/MGJoão Marques de Oliveira Neto – Osasco/SP

João Santos Gomes – Medeiros Neto/BAJohnathan Felipe Bertsch – Jaguará/SC

Joilson Maia dos Santos – Una/BAJorge Fregadolli – Maringá/PR

Jorge Henrique Vieira Santos – Nossa Senhora da Glória/SEJosé Amalri do Nascimento – Rio de Janeiro/RJ

José Aparecido Araújo – São Paulo/SPJosé Feldaman – Maringá/PR

José Geraldo Tavares – In MemoriamJosé Moutinho dos Santos – Belo Horizonte/MG

Juarez Silva Dantas – Belo Horizonte/MGJúlio César Bridon dos Santos – Gaspar/SC

Kátia Storch Moutinho – Vitória/ESLeandro Bertoldo da Silva – Padre Paraíso/MG

Lenival Nunes de Andrade – Catolé do Rocha /PBLilian de Sousa Farias – Aracaju/SE

Lucas Menck – Curitiba/PRLúcia Helena Pereira – Natal/RN

Luciana Tannus de Andrade – Aracaju/SELuciene Barros Lima – Salvador/BA

Lucilene Ianino Lima Peçanha – Belo Horizonte/MG

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Lucivalter Almeida dos Santos – Nazaré/BALuiz Gonzaga Marcelino – In memoriam

Luiz Paulo Lírio de Araújo – In memoriamMagali Maria de Araújo Barroso – Belo Horizonte/MG

Mamede Gilford de Meneses – Itapipoca/CEMarcelo Allgayer Canto – Cachoeirinha/RSMarcelo de Oliveira Souza – Salvador/BA

Márcia de Jesus Souza – Ribeirão das Neves/MGMárcia Devincenzi Reis Terra – Águas Claras/DF

Marco Aurélio de Freitas Lisboa – Belo Horizonte/MGMarcos Coelho Cardoso – Dourados/MS

Marcos Pereira dos Santos – Ponta Grossa/PRMarcus Vinícius Bertolini Rios – Iúna/ES

Maria Aparecida Araújo Moreira Alves – Guarulhos/SPMaria Cristina Carone Murta – Belo Horizonte/MG

Maria da Conceição Rodrigues Moreira – Belo Horizonte/MGMaria da Glória Oliveira Brandão Marques – Itabuna/BA

Maria Helena Sleutjes – Juiz de Fora/MGMaria José Alves Coelho – Brasilândia de Minas/MG

Maria Norma Lopes de Macedo – Turmalina/MGMaria Telma Barbosa de Lima – São Paulo/SP

Marlene Bernardo Cerviglieri – Ribeirão Preto/SPMarise Fátima Andreatta – Dourados/MS

Marly Rondam Pinto – São Paulo/SPMárson Alquati – Nova Roma do Sul/RS

Mauro Marques de Carvalho – Manaus/AMMônica Yvonne Rosemberg – São Paulo/SP

Nelci Veiga Mello – Campo Mourão/PRNeri França Fornari Bocchese – Pato Branco/PRNorma Disney Soares de Freitas – Fortaleza/CE

Nylton Gomes Batista – Cachoeira do Campos/MGOdenir Ferro – Rio Claro/SP

Odyla Pinto de Paiva – Rio de Janeiro/RJOrmuz Barbalho Simonetti – Natal/RN

Paulo André Gazzinelli – Belo Horizonte/MGPaulo Cesar de Almeida – Andrelândia/MG

Paulo Dias Neme – São Paulo/SPPaulo Murilo Carneiro Valença – Recife/PE

Paulo Roberto de Oliveira Caruso – Rio de Janeiro/RJRegina Batista Magalhães Silva – Bebedouro/SP

Renata Rimet Ramos Silva – Salvador/BARoberto de Piratininga Ferrari – Carapicuiba/SPRoberto Prado Barbosa Junior – São Vicente/SPRodrigo Marinho Starling – Belo Horizonte/MGRogério Ferreira de Araújo – São Gonçalo/RJ

Rogessi de Araújo Mendes – Recife/PERossana Monteiro Cruz – Aracajú/SE

Rossidê Rodrigues Machado – São Vicente/SPRozelene Furtado de Lima – Teresópolis/RJ

Sandra Avelino da Silva – São Paulo/SP

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Sandra Helena Barroso – Santa Luizia/MGSandra Ramalho de Oliveira – Caratinga/MG

Stefany Nayara Santanna Alves – Guarulhos/SPTeresa Cristina Carvalho Mércuri Azevedo – Campinas/SP

Valdeck Almeida de Jesus – Salvador/BAValdivino Pereira Ferreira – Turmalina/MG

Valter Bitencurt Júnior – Salvador/BAVânia Rodrigues Calmom – Vila Velha/ES

Vanina Miranda da Cruz – Salvador/BAValéria Victorino Valle – Anápolis/GO

Varenka de Fátima Araújo Garrido – Salvado/BAVilson Barbosa Costa – Belo Horizonte/MG

Walter Teófilo Rocha Garrocho – Barbacena/MGWeder Ferreira da Silva – Rio de Janeiro/RJ

Wenderson Cardoso – Contagem/MGWilson de Oliveira Jasa – São Paulo/SP

Yara Regina Franco – Araraquara/SPZenir Izaguirre Carvalho – São Jerônimo/RS

Voluntários da Secretaria GeralEduardo Amorim SilvaEgmon Schaper Filho

Última atualização do Quadro Social: 05/11/2014

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