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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICO S
JEAN SANTOS OTONI
LEITURA DE TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA NO TIMOR-LES TE:
OS RECURSOS INFERENCIAIS QUE DÃO SENTIDO AO TEXTO
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa: Ensino de leitura e Produção de Textos da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Francisco Dias.
Belo Horizonte
2011
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JEAN SANTOS OTONI
LEITURA DE TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA NO TIMOR-LES TE:
OS RECURSOS INFERENCIAIS QUE DÃO SENTIDO AO TEXTO
Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e aprovada em sua forma final pelo Curso de Especialização em Ensino de Leitura e Produção de Textos do Programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da UFMG.
Belo Horizonte, _____ de _____ de __________.
______________________________________________________ Professor e orientador, Título.
______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, Título.
______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, Título.
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Este trabalho é dedicado aos meus pais, Fábio e
Delmira. Eles são a principal razão da minha persistência!
Com eles, pude compartilhar, carinhosa e
compreensivamente, todos os momentos deste estudo.
É também dedicado a todos que ocupam um grande
espaço em meu coração.
Aos meus Mestres pela dedicação e contribuição e a
todos os meus colegas pelo apoio, incentivo e convivência
fraterna durante o curso.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por estar aqui e por iluminar meus passos.
Aos meus familiares e amigos pelo amor, compreensão e afeto.
As minhas amigas Lucimar França e Nídia Gonçalves pela
contribuição na realização da pesquisa.
A meu orientador Dr. Luiz Francisco Dias pelo incentivo,
compreensão, dedicação, apoio e amizade.
Aos mestres que colaboraram com a minha formação.
Aos amigos e colegas por suas intervenções e sugestões que
contribuíram para o meu desenvolvimento intelectual.
À Faculdade de Letras da UFMG.
Agradeço com muito carinho.
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“A história das palavras nos proporciona um riquíssimo material de reflexão a
respeito da história das nossas sociedades em geral. Os movimentos da
linguagem ocultam, mas ao mesmo tempo revelam, os movimentos dos desejos,
dos medos, dos preconceitos e dos conhecimentos dos seres humanos...
Examinadas com atenção, as palavras põem diante da crua realidade da
violência institucionalizada que tem marcado a história das nossas sociedades:
a presença de uma repressão às vezes camuflada, mas permanente e dolorosa,
na preservação das hierarquias”.
(Leandro Konder)
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RESUMO
O objetivo geral deste trabalho é compreender algumas hipóteses, variáveis e indicadores que interferem na leitura e compreensão de textos em língua portuguesa, considerando o cotidiano sócio-político-histórico de usuários de mais de uma língua e dialetos diversos. Parte-se da hipótese de que a maneira como a leitura e a compreensão é concebida pelos graduandos que aprendem o português como segunda língua exerce forte influência e diferentes formas de compreensão, interpretação e reflexão de acordo com o gênero de texto. A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de ensino superior em Timor-Leste, país do sudoeste asiático que teve a sua independência política restaurada em 2002 após 24 anos de opressão indonésia.
Naquele tempo a língua portuguesa foi impedida de ser falada e ensinada em Timor-Leste. Por meio de leituras, observações, entrevistas e depoimentos busca-se teorias, concepções e abordagens que fundamentem o objeto da pesquisa. Parte-se da leitura e compreensão de textos que circulam na sociedade timorense e, para isso, foram escolhidos o suporte jornal e o gênero notícia. Fez-se uma fusão de algumas categorias bakhtinianas de linguagem, signo linguístico, compreensão, contra palavra, alteridade e transcrição fonética. Também busca-se em Geraldi, os princípios de que a unidade linguística básica é o discurso, e que leitura e compreensão são espaços ampliados de constituição humana e prática discursiva. Essa, por sua vez, presente em Timor-Leste num processo imbricado de diversas línguas e dialetos, simultaneamente. O presente trabalho pretende mostrar a importância do bom uso da língua e o fato de que uma palavra, uma frase ou um texto quando usados de forma desviada e/ou inadequada pode propiciar resultados negativos na comunicação.
Verifica-se nas atividades de leitura e compreensão textual, a ocorrência de inferências de sentido e significado feitas a partir de palavras transcritas foneticamente do português e usadas na língua tetum, língua nacional e franca de Timor-Leste. A escolha desse tema nos levou a vários resultados obtidos na pesquisa, dentre eles, considera-se mais importantes os seguintes: a base do ensino fundamental no processo de alfabetização dos graduandos nascidos no período da dominação indonésia; a não-prática de leitura em português; o processo de resgate da língua portuguesa que ainda não se voltou de modo efetivo para o ensino superior; a relação entre ler e compreender por meio da transcrição fonética ortográfica como método de ensino e a resistência a um aprendizado de língua portuguesa de modo sistemático, atendendo a ideologias sócio-políticas. Houve também a contribuição das áreas de Leitura e Compreensão utilizadas na realização deste trabalho, destacando as seguintes: Ivo Castro (1991); Thomáz (2002); Neves (2008); Xavier (1983); Hull (2001); Cagliari (1989); Bloom (1974); Zimmer (2010); Beaugrande (1997); Marcuschi (1985); Martins (1982); Freire (1982) e Perini (1980). Os resultados obtidos ajudaram a compreender os constantes problemas de comunicação em Timor-Leste e, sobretudo, as diversas estratégias criativas usadas como formas de auxílio à diminuição desses problemas.
Palavras-chave: Linguagem escrita, Leitura, Compreensão, Gênero de texto.
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SUMMARY
The aim of this study is to understand some hypotheses, variables and indicators that interferes reading and understanding texts in Portuguese, considering the daily socio-political history of users from more than one language and different dialects. It starts with the hypothesis that the way reading and comprehension is designed for graduate students who are learning Portuguese as a second language has a strong influence and different ways of understanding, interpretation and reflection under the kind of text.The survey was conducted in a public institution of higher education in East Timor, Southeast Asian country that has had its political independence restored in 2002 after 24 years of Indonesian oppression. At that time the Portuguese language was not allowed to be spoken and taught in East Timor. Through readings, observations, interviews and testimony seeks to theories, concepts and approaches in support of the object of research. It starts with the reading and some texts comprehension its use to circulate in East Timorese society. There was a fusion of some categories Bakhtinian language, sign language, comprehension, word against, otherness and phonetic transcription. Also search in Geraldi, the principles of the basic linguistic unit is the speech, and reading and understanding are extended areas of the human constitution and discursive practice. In East Timor, the practice discursive happen throught many languages and dialects in the same time. This study aims to show the importance of good language use and the fact that a word, phrase or text when used diverted and / or negative results may provide inadequate communication. It appears in reading activities and reading comprehension, the occurrence of inferences made sense and meaning from words phonetically transcribed and used in the Portuguese language Tetum, the national language, frank and primitive Timor-Leste. The choice of this theme has led to many achievements in research, among them, it is considered the most important: a basic primary education in the process of literacy graduates born in the period of Indonesian rule, the non-reading practice in Portuguese; the redemption process of the Portuguese language that has not yet turned in an effective way for higher education, the relation between reading and understanding through the phonetic spelling as a method of teaching and learning of a resistance to the Portuguese language in a systematic way, given socio-political ideologies. We also present the contribution in the areas of Reading and used in this work, highlighting the following: Ivo Castro (1991) and Thomaz (2002), Snow (2008), Xavier (1983), Hull (2001), Cagliari (1989) ; Bloom (1974), Zimmer (2010); Beaugrand (1997); Marcuschi (1985), Martins (1982), Freire (1982) and Perini (1980). The results helped to understand the constant communication problems in Timor East and especially the many strategies used as creative ways to aid the reduction of these problems.
Keywords: Language Writing, Reading Comprehension, Genre text.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 09 2 HISTÓRICO DA ENTRADA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMO R-LESTE ....... 11
2.1 Inserção da Língua Portuguesa e seus períodos de proibição ..................................... 12 2.2 A oficialização da Língua Portuguesa ........................................................................ 13
2.2.1 Disposições da Constituição da República Democrática de Timor-Leste relativo às línguas ................................................................................................. 14
3 CONFLUÊNCIAS DAS LÍNGUAS TETUM E PORTUGUÊS NO CENÁRIO TIMORENSE .............................................................................................................................. 15
3.1 A Língua Tetum .......................................................................................................... 15 3.1.1 Empréstimos da Língua Portuguesa ........................................................ 16 3.1.2 Formas na modalidade escrita e sua pronúncia ...................................... 17 3.1.3 Estrutura linguística .................................................................................. 17
4 A COGNIÇÃO NO PROCESSO DE LEITURA ................................................................. 19 4.1 O sentido está no leitor ............................................................................................... 19 4.2 Uso de vocábulos do Português na Língua Tetum: contribuições à leitura ................ 20 4.3 Depoimentos ............................................................................................................... 28
5 PRÁTICAS DE LEITURA NO TIMOR-LESTE ................................................................. 32 5.1 O texto ........................................................................................................................ 33 5.2 Sugestão Metodológica ............................................................................................... 37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 39 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 41 ANEXOS ..................................................................................................................................... 44 ANEXO A – TRADUÇÃO DA NOTÍCIA ANALISADA ....................................................... 45
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1 INTRODUÇÃO
Nas aulas de língua portuguesa na Faculdade de Engenharia da Universidade
Nacional de Timor-Leste (UNTL), é perceptível as seguintes situações: alguns alunos
enfrentam dificuldades na compreensão das diversas situações textuais; outros são capazes de
inferir quanto ao sentido de algumas tipologias e gêneros textuais. Assim, depara-se com dois
níveis de leitores que acaba por despertar o desejo de investigar e descrever quais os
mecanismos cognitivos utilizados por esses leitores na busca da compreensão de textos
escritos em língua portuguesa.
Contudo o presente estudo partirá da leitura de textos em tetum, língua franca e
nacional de Timor-Leste que, por sua vez, contribuem com a aprendizagem da língua
portuguesa. O produto da pesquisa será um questionário a partir do gênero de texto “notícia”
retirado de um jornal de grande circulação nacional. Trata de um texto em Tétum a fim de que
se faça uma análise dos empréstimos do português à língua nacional que acabam por
contribuir com a leitura em língua portuguesa.
Entender os caminhos pelos quais os alunos recorrem para chegar à compreensão do
texto nos dará recursos para investigar e definir estratégias que levem a um ensino de língua
portuguesa eficiente capaz de atender às necessidades de leitura apresentadas pelos alunos.
Dessa forma, há que se buscar não só a investigação e análise, como também a
sugestão de práticas de leitura que facilitem o ensino dessa competência aplicada a textos da
língua portuguesa em Timor-Leste.
O objetivo geral dessa pesquisa será identificar a utilização dos empréstimos
vocabulares da língua portuguesa à língua tétum como facilitadores da compreensão textual. E
de modo específico, o estudo pretende investigar os mecanismos cognitivos que os alunos
possuem para a compreensão de textos escritos em língua portuguesa bem como construir
conceitos que fundamentem o uso desses mecanismos, averiguando as dificuldades
enfrentadas pelos alunos timorenses no processo de leitura e as possibilidades de solução
dessas dificuldades com vistas a um bom desempenho de leitura.
O estudo partirá das seguintes hipóteses:
� Os alunos têm contato com a língua portuguesa desde o ensino primário,
possibilitando o estímulo cognitivo do processo de leitura.
� Os alunos possuem conhecimento prévio do signo e significante dos
vocábulos presentes no texto.
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� Os alunos recorrem aos empréstimos da língua portuguesa, existentes na
língua tétum para possibilitar a compreensão textual.
� Mesmo sendo o português, uma das línguas oficiais do país, os alunos
necessariamente não possuem habilidades para inferir em textos escritos
nessa língua.
O ponto de partida será da contextualização histórica até a conjuntura atual da
educação de Timor-Leste. Sabemos que a formação dos alunos segundo o Ministério da
Educação de Timor-Leste prevê o ensino do português desde o ensino primário até o
secundário, sendo obrigatório ainda no ensino superior. Entretanto, as dificuldades não
permitem que isso aconteça com certa eficácia, devido à formação dos professores em
exercício. Não podemos ignorar também que o legado linguístico proveniente do tempo da
dominação indonésia ainda faz parte do cenário educacional da nação timorense.
A problemática desse estudo está embasada na seguinte pergunta: Quais os
mecanismos cognitivos que o aluno timorense utiliza no processo de leitura de textos escritos
em língua portuguesa?
Neste sentido, esse estudo pode contribuir com os professores timorenses como
ferramenta para análise da prática docente que elimina a língua tétum quando no ensino da
língua portuguesa. É necessário considerar a língua portuguesa como segunda língua de
ensino, tendo a língua tétum como base de ensino. Assim, posteriormente, serão possíveis
novas matrizes para inserção do português como base de ensino.
Sendo uma pesquisa de base empírica aplicada a um estudo de caso relativo à leitura
de textos em língua portuguesa no Timor-Leste por meio do mapeamento de alguns
mecanismos cognitivos que dão sentido ao texto, seu corpus de análise será:
� Alunos dos cursos de Engenharia Informática, Engenharia Mecânica,
Engenharia Elétrica e Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia
Técnica da Universidade Nacional de Timor-Leste.
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2 HISTÓRICO DA ENTRADA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR- LESTE
A história da nação timorense é marcada por ocupações que se iniciam no século
XVI com a chegada dos portugueses. Os colonizadores portugueses permaneceram por mais
de quatrocentos anos em Timor.
Chama-se a atenção para essa colonização no corpus dessa pesquisa pelo fato da
introdução da língua ter sido o primeiro elemento de imposição ao povo timorense. Assim, a
língua portuguesa passa a fazer parte da cultura local e disputa espaço com as línguas nativas.
Dessa forma, a nova língua, então, estabelece relações de poder e domínio em detrimento das
línguas locais.
Sabemos que a língua portuguesa é proveniente da Península Ibérica que esteve
durante alguns anos sob o domínio dos romanos. Timor-Leste como antiga colônia portuguesa
começou o português europeu, a partir da chegada do descobridor e colonizador. Contudo,
essa língua portuguesa transportada para a nação timorense pelos colonizadores não se impôs
de imediato pois, ao chegar em Timor, o colonizador encontrou-se com pelo menos dezesseis
línguas e vários dialetos que fazem parte do cenário linguístico local. Com isso, havia,
obviamente, histórias, culturas e políticas específicas do povo primitivo que devido a essa
singularidade estavam bem distantes e eram bem diferentes do que era imposto pelo
colonizador. Inicia-se assim, no país, um processo histórico de constituição da língua
portuguesa que implica não apenas na imposição dessa língua, mas também de alguns valores,
costumes e cultura de Portugal.
Após a Revolta dos Cravos, em Portugal, os descobridores e colonizadores de Timor-
Leste deixam o país em 1974, permitindo que o povo timorense respire a liberdade e declare a
sua independência. Em agosto de 1975, teve início uma guerra civil entre dois partidos
políticos timorenses que lutavam pelo poder. No dia 07 de dezembro do corrente ano o
território foi invadido militarmente numa ação conjunta dos três ramos das Forças Armadas
da Indonésia que permaneceram por um quarto do século em Timor-Leste. Vinte e quatro
anos depois, o regime de ocupação indonésio acabou após a realização de uma consulta
popular, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a 30 de agosto de 1999, que
culminou com a saída das forças indonésias, ficando o país sob a gestão da Administração
Transitória das Nações Unidas (UNTAET) até 20 de maio de 2002 quando a independência
da República Democrática de Timor-Leste (RDTL) foi promovida, restaurada e promulgada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) para toda a comunidade internacional.
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2.1 A inserção da língua portuguesa e seu período de proibição
A língua portuguesa teve sua inserção durante o período colonial português e seu
papel era eminente na colonização. Toda a administração utilizava o português como única
língua de comunicação oral e escrita. A língua de ensino em todas as escolas era
exclusivamente o português. Essa atitude perante a língua portuguesa fez parte da política
ultramarina de assimilação linguística e cultural do período colonial.
Durante os anos de 1974-1978, começaram os cursos de alfabetização, ministrados
em tétum, a língua local mais importante. Isso aconteceu pouco depois da fundação da Frente
Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN), no ano de 1974. Esses cursos
findaram em 1978, devido o perigo de serem descobertos pelos militares indonésios no
período da ocupação.
Convém ressaltar, que a liderança da FRETILIN continuou a considerar o português
como língua oficial, mas com a invasão indonésia em 1975, na forma de uma agressão
combinada dos três ramos das forças armadas indonésias, a política linguística mudou
completa e abruptamente.
No período de 1975-1999, a língua indonésia foi introduzida em todos os domínios
da vida pública timorense. Seu uso foi exclusivo durante toda a dominação indonésia. Desde a
escola com inserção dos professores indonésios, transmigrantes, vindos, sobretudo, da ilha de
Java, a ilha mais importante e mais povoada da Indonésia até as autoridades do território
timorense. A Língua Portuguesa foi proibida porque era considerada uma língua suspeita. Os
indonésios além de não conhecerem-na também não queriam aprendê-la. Dessa forma, em
1981, a língua portuguesa foi excluída da vida pública e o inglês passou a ser a única língua
estrangeira aceita para ensino nas escolas além do indonésio.
Em 1992, o Externato São José, uma escola Católica e a única que ainda utilizava o
português como língua de ensino, foi obrigado a fechar suas portas. Somente os seminários
católicos puderam continuar com o ensino de português. Na missa, o país opressor exigiu a
abolição da língua portuguesa e a substituição dessa pela língua tétun.
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2.2 A Oficialização da Língua Portuguesa
O contexto de Timor-Leste hoje possui quatro línguas de relevância. São o tétun, o
português, o indonésio e o inglês que disputam entre si a eficiência e/ou eficácia da
comunicação no dia-a-dia timorense. A língua nacional, o tétun, é falada por
aproximadamente 80% da população timorense. A língua oficial considerada como a “língua
da resistência” à dominação indonésia é o português, falado, atualmente, apenas por
aproximadamente 15% da população que foi escolarizada [a maioria cursou até a 4ª série da
educação primária] no tempo em que o país foi uma província ultramarina portuguesa.
Contudo, grande parte da população tem um conhecimento restrito, mínimo do português
devido a presença de algumas palavras e expressões do português na língua tétun, transcritas
foneticamente.
Mesmo que o timorense não seja falante ou nunca tenha estudado a língua
portuguesa é possível assimilar alguma coisa de uma conversa ou discurso em português
visto a presença no tétun de alguns vocábulos que funcionam como chave no discurso. Alguns
conhecimentos da língua portuguesa sempre foram conservados pela elite política de Timor-
Leste. A liderança da Frente Armada de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL)
sempre acreditou no português como a língua que uniria todos os timorenses.
Mas, a verdade é que a língua indonésia é bem conhecida pela nova geração, devido
a alta porcentagem de escolarizados no período da dominação. Aliás, a Indonésia
democratizou a escola em Timor-Leste o que favoreceu a difusão do idioma indonésio. Essa
porcentagem formou uma camada da população defensora do indonésio como língua de
comunicação geral.
O professor australiano Geoffrey Hull, da Universidade de Western Sydney, quem
deu um grande impulso para a reintrodução da língua portuguesa, afirmou, durante uma
palestra proferida no Congresso Nacional do Conselho Nacional da Resistência Timorense
(CNRT), no dia 25 de agosto de 2000, que o tétun, a língua nacional de Timor-Leste, só
poderia se desenvolver juntamente com o português. São o tétun e o português que reafirmam
o compromisso do povo com a fé cristã e, consequentemente uma reafirmação da identidade
nacional de Timor-Leste. Em contrapartida, o inglês seria pouco apropriado como língua
oficial, porque essa língua aspira sempre um papel dominador ameaçando as línguas locais. A
Austrália, as Filipinas e Malta são exemplos de assassínio linguístico. Após essa alocução, o
Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNRT) decidiu introduzir o português como
língua oficial da futura República Democrática de Timor-Leste, pois o idioma indonésio não
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poderia servir de língua oficial por estar associado ao terror e à brutalidade vividos durante o
período da dominação.
2.2.1 Disposições da Constituição da República Democrática de Timor-Leste relativo às
línguas
O artigo 13º da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, aprovada no
dia 22 de março de 2002, dispõe sobre as línguas oficiais e nacionais da seguinte forma:
“1. O tétun e o português são as línguas oficiais da República Democrática de
Timor-Leste.
2. O tétun e as outras línguas nacionais são valorizadas e desenvolvidas pelo
Estado”.
E ainda o artigo 159º que discorre sobre as línguas trabalho conforme o seguinte:
“A língua indonésia e a inglesa são línguas de trabalho em uso na administração
pública a par das línguas oficiais, enquanto tal se mostrar necessário”.
Dessa forma, a partir do dia da Independência todos os documentos teriam de ser
redigidos em português ou tétun, podendo utilizar-se das línguas inglesa ou indonésia como
línguas de trabalho em caso de necessidade. Quanto aos documentos oficiais utilizados
durante o período de trabalho da administração transitória das Nações Unidas, esses teriam de
ser traduzidos, no mínimo, do inglês para o português.
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3 CONFLUÊNCIAS DAS LÍNGUAS TÉTUN E PORTUGUÊS NO CENÁRIO
TIMORENSE
3.1. A língua tetum
O tetum, língua nacional de Timor-Leste, pertence ao grupo das línguas malaio-
polinésias ou austronésias, sendo classificada como austronésia. O tetum possui duas
variantes: o tetum Térik, o primeiro tetum que conforme o censo realizado em 2004 em
Timor-Leste é utilizado em alguns lugares como Soibada, Natarbora, Fatuberliu, Alas, Ossú,
Fohorém Fatumean, Tilomar e numa parte do Timor Ocidental. Já a sua segunda variante, o
tétun-praça, é língua materna de outras localidades além de Dili – capital de Timor-Leste
estabelecida em 1769.
Segundo IVO CASTRO, 1991, p.60:
“(…) Para o resto da população, o português é a segunda língua,
naqueles casos em que é língua materna o tetum (em Oé-cussi e
Lautem), ou é língua terceira, após a materna e a veicular, quer dizer,
o tétun.”
De acordo com THOMÁZ, 2002, acredita-se que a língua tetum como língua franca
não possui explicações precisas sobre sua difusão. Relata-se que o tetum como língua franca
teria sido difundido pelos missionários em Soibada ou em Dili. O autor não considera o relato,
visto que a missão de Soibada foi fundada em 1898, confrontando-se com depoimentos
anteriores da difusão do tetum. Um exemplo disso é o dicionário de Rafael das Dores
publicado em 1903 e compilado em 1871, vinte anos antes da fundação da Missão de Soibada.
Atualmente, o tetum é a língua de maior expressão em Timor-Leste. É a língua
nacional e co-oficial. Apesar do tetum-praça possuir variações regionais e sociais, hoje o seu
uso é alargado porque é compreendido por quase toda a população timorense.
Com base em todo o olhar histórico em torno da instauração da língua tetum em sua
variante “tétun-praça”, o governo através do Decreto-Lei no 01/2004, de 14 de agosto
estabelece a padronização ortográfica dessa língua, conforme o texto a seguir:
“A variedade do tetum afirmada como língua oficial e nacional é o tetum oficial,
uma forma literária moderna do vernáculo mais comum no país, baseado no tetum-praça.”
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O multilinguismo em Timor-Leste permite que um timorense seja, no mínimo,
bilíngue. Com essa situação e com a introdução das línguas portuguesa e indonésia, o tetum
hoje está muito mesclado, porém a presente pesquisa irá se ater aos empréstimos da língua
portuguesa e suas contribuições na leitura e compreensão dessa língua.
Segundo NEVES, 2008, a língua portuguesa difundiu-se em Timor a partir do século
XVI, com a entrada dos portugueses por meio de diferentes vias como dominação política,
comércio e evangelização, desenvolvendo-se posteriormente com a abertura de várias escolas
estatais e diocesanas. Entretanto, devemos considerar ainda o período da dominação
indonésia, pois além do português, muitos vocábulos do idioma malaio também se misturaram
ao tetum.
3.1.1 Empréstimos da língua portuguesa
O português, na sua forma literária, é a língua materna dos europeus criados no
território timorense e da maior parte dos mestiços, cujo número em 1970 era por volta de
2000 pessoas, segundo dados fornecidos por Carlos Xavier (1983, p. 305-312). Mais tarde,
com a ocupação indonésia, o Timor passou a ter contato com uma nova cultura e língua
diferente, proveniente do mesmo continente, que contribuíram ao lado dos dialetos locais,
para a formação da língua nacional – o tetum.
A língua portuguesa é proveniente da Península Ibérica que esteve durante alguns
anos sob o domínio dos romanos. O Timor-Leste, como antiga colônia portuguesa, começou a
usar a língua do colonizador – o português europeu, a partir da sua descoberta e colonização.
Contudo, essa língua portuguesa levada para o Timor pelos colonizadores não conseguiu de
imediato se impor à língua dos timorenses, concorrendo com os dialetos locais.
Apesar de serem duas línguas distantes do ponto de vista tipológico-geográfico, essas
duas línguas ocupam espaço na nação timorense, há séculos, como diz Luís Costa no
Dicionário tetum-português, 2000. No tetum, há um grande número de palavras do português
conforme alguns exemplos apresentados no quadro a seguir:
tetum português
administrasaun administração
agradese agradecer
deklarasaun declaração
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destakado destacado
deskonta descontar
3.1.2 Formas de pronúncia e escrita
Segundo HULL, 200, o alfabeto do tetum possui vinte e seis letras: a, b, d, e, f, g, h,
i, j, k, l, ll, m, n, ñ, o, p, r, rr, s, t, u, v, w, x, z. Há letras duplas devido alguns empréstimos
fonéticos oriundos do português. As letras C e Q não fazem parte do alfabeto do tetum por
estarem contempladas no uso das letras K e o W.
De acordo com o dicionário tetum-português, 2001, de Luís Costa,
português tetum
cadeira kadeira
água wé
chave xave
senhora señora
Podemos perceber no exemplo cadeira - kadeira, que o som não tem um valor
distintivo. Mas, segundo CAGLIARI, 1989, um som pode não distinguir palavras num
determinado contexto, mas apresentar um valor distinto em outro contexto. Um exemplo disso
é o caso da palavra “senhora” em português e “ señora” em tetum. O autor ainda diz que ao
trocar um som por outro num determinado contexto, estamos fazendo o que se chama de teste
de comutação. Pensemos então, que um falante de português entenderia señora de acordo com
a pronúncia dos timorenses - cenoura. Contudo, temos realidades fonológicas diferentes. Mais
a frente será abordado sistemas fonológicos e formas lexicais diferentes para palavras de
mesmo significado.
Interpretar a fonologia do tetum é algo bastante complexo, pelo fato de existirem não
apenas variantes regionais de pronúncia, como também registros diferentes das suas formas
lexicais que acabam por se distinguirem em sua realização fonológica.
3.1.3 Estrutura linguística
O tetum-praça como qualquer outra língua austronésia, possui uma estrutura simples
se comparada com a língua portuguesa. Os verbos não são flexionados como no português,
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mas tem palavras que são empregadas junto ao nome da ação ou verbo a fim de determinar o
tempo. Isso signfica que no tetum o verbo é uma classe gramatical invariável, ou seja, possui
uma única forma que pode ser aplicada a todos os pronomes pessoais. Os exemplos seguintes
demonstram esse fenômeno.
Emprego dos verbos
Ami prepara livru ruma atu hanorin. / Nós preparamos livros para ensinar.
Alunu hotu tenki estuda sempri. / Todo aluno deve estudar sempre.
Nia prefere lao ain ba eskola. / Ele/Ela prefere andar a pé para escola.
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4 A COGNIÇÃO NO PROCESSO DE LEITURA
A aquisição do conhecimento, o conjunto dos processos mentais usados no
pensamento, na percepção, no reconhecimento dos elementos que contribuem no processo de
leitura é segundo definição do dicionário Aurélio um conceito de cognição.
Pretende-se nessa parte do estudo demonstrar os diversos aspectos e/ou elementos
que levam à compreensão dos textos em tetum por meio de determinados empréstimos
(vocábulos) do português, estabelecendo correlações possíveis, apesar de não serem falantes
usuais do português.
O fato de haver palavras pertencentes ao português presentes nos textos escritos em
tetum será demonstrado aqui a fim de justificar que o ensino da língua portuguesa para
pessoas que lêem e compreendem o português presente no tetum torna-se um facilitador, visto
que esses vocábulos já fazem parte do cérebro-mente do aprendiz.
Bloom (1974) aponta três elementos fundamentais para aquisição da linguagem: o
insumo, o aprendiz e o contexto interacional. Desses três elementos essa parte do estudo
tomará como objeto de análise – o aprendiz (cognição), contudo não deixaremos de lado os
outros dois elementos que também são importantes para a construção e resultado final da
análise. O insumo está estritamente ligado ao processamento feito pelo aprendiz que acaba
por colocar em evidência a cognição.
Como diz Zimmer (2010) “a aprendizagem da língua materna ou da língua
estrangeira está, de fato, tão estranhada na cognição, que relações entre sua produção e
compreensão com o meio físico em que é processada às vezes se perdem”. Os estudantes do
curso de informática da Faculdade de Engenharia da Universidade Nacional de Timor-Leste,
amostra desta pesquisa, são capazes de fazer associações das palavras emprestadas do
português para o tetum. Sabemos que a aquisição da linguagem está estritamente ligada a isso
e depende de vários mecanismos cognitivos fundamentais já trazidos para discussão no início
do texto. E a autora citada anteriormente coloca os processos em ligação à extrema
capacidade dos aprendizes de fazer associações, o que se deve à plasticidade cerebral e à
transferência neuronial.
4.1 O sentido está no leitor
A leitura por ser um processo de interação entre autor, texto e leitor sempre terá um
valor muito grande para as pessoas que dela fazem uso visto que essa interação implica
20
compreender que alguém dá algo a alguém. Esse algo é o texto requerido pelo leitor e que
dele se apropria, construindo sentidos. É um processo de posse. O texto é compreendido de
acordo com a capacidade de quem interage com ele tanto no momento da produção quanto da
recepção. O receptor torna-se um elemento plural e mais importante no processo de
comunicação porque chega à sociedade, cumprindo sua função [ou funções]. Nesse caso, o
leitor é um elemento muito importante. Este poderá intervir tanto no contexto quanto no
universo de muitos significados que um texto oferece. É importante destacar que o texto é a
parte do cotidiano da sociedade na qual o leitor letrado ou iletrado, de compreensão realista
ou não, constrói signficados de acordo com os próprios interesses e convicções. Sendo assim,
[…] “pode-se definir texto, hoje, como qualquer produção lingüística [sic.], falada ou escrita,
de qualquer tamanho, que possa fazer sentido numa situação de comunicação humana, isto é,
numa situação de interlocução”. (COSTA VAL, 2004, p. 113).
O que leva o jovem leitor timorense a fazer inferências por meio de palavras da língua
portuguesa que são comumente usadas, misturadamente, na língua nacional, é a busca da
compreensão do fato mesmo que isso dependa de conflitos ou ruídos no processo de
comunicação. O texto, nesse caso, torna-se interessante e instiga a curiosidade do leitor de
desbravá-lo. Há que considerar que este leitor timorense é usuário cotidiano de tetum e
indonésio, além de um ou mais dialetos, e estudante de português como segunda língua. Por
isso, afirma-se que o sentido do texto não é exclusivamente oferecido pelo texto, mas criado a
partir do contato desse texto com o leitor.
4.2 Uso de vocábulos do português na língua tetum: contribuições à leitura.
Com o objetivo de identificar o uso dos empréstimos vocabulares da língua
portuguesa à língua tetum como facilitador da compreensão textual, foi escolhido um texto do
jornal Timor Post de circulação diária em todo o território de Timor-Leste, escrito em tetum o
qual constitui o enfoque dessa parte do trabalho.
O texto elaborado pela jornalista Domingas Saldanha e transcrito neste tópico, foi
publicado na edição de número 0834147 do dia 29 de outubro de 2010. Trata da entrega de
livros nas áreas de agricultura e pecuária doados pelo governo brasileiro ao Ministério da
Agricultura e Pescas - MAP.
21
Brasil intrega livru agricultura-pecuaria 550 bá MAP
DILI – Nasaun Brazil Liu husi Embaixada Brazil iha Timor-Leste entrega livru
kona-ba agrikultura no pecuária hamutuk 550 ba Ministeriu Agricultura e Pescas
hodi Fo kapasitasaun tekniku BA dosentes Eskola Agroteknikas Fuiloro (Lautem),
Natarbora (Manatuto) no Korlule (Bobonaro).
Embaixador Brazil iha TL Edson Marinho Duarte Monteiro Liu husi nia
apresentasaun hatete livru ne’ebé nia entrega hatudu konkluzaun projeto
kooperasaun tekniku bilateral entre TL ho Brazil.
Hodi ajuda tau livru hirak ne’e iha biblioteca eskola agroteknikas tolu hanesan
Fuiloro, Natarbora no Bobonaro nudar meius atu Fo kapasitasaun tekniku no
pedagojika ba dosentes eskola agrikola iha TL.
“Livru ne’e halo husi ekipa professor Brazil, ne’ebé mai husi eskola Agroteknikas
Federais Crato no Iguatu iha sidade reijaun Norte deste Brazil,” dehan nia liu husi
aprezentasaun, horisehik iha MAP – Komoro.
Nia dehan, doasaun livru ne’e mai husi publikasaun oi-oin husi empreza brazileira
de pesquisa agropecuária ne’ebé diak, iha área peskiza dezenvolvimentu projetu,
área agrikultura no pecuária. Livru ne’e oras ne’e sai rekuinhesidu iha
internasional.
Iha fatin hanesan Ministru Mariano Assanami Sabino liu husi nia aprezentasaun
hatutan, livru ne’ebé distribui husi Embaixada Brazil, ho objetivu atu haklean
kapasidade dosentes no estudante iha eskola agroteknikas Natarbora, Fuiloro no
Bobonaro.
“Livru ne’e atu fórnese ba eskola tekniku, nune’e professor no alunus atu hariku
deit sira nia biblioteka, laos modul ba alunus. Maibe sira so bele le’e hodi
Kumpriende istoria oinsa mak sai estratégia hanesan refrensia hodi aumenta
pengetahuan ba dosentes sira,” dehan nia.
Iha fatin hanesan Professor Domingos Maia husi Eskola Agroteknika Bobonaro, iha
esperansa makas katak sira sei aplika buat fóun ruma ba estudantes liu husi livru
ne’e apoiu husi nasaun Brazil.
“Ida ne’e mak agora dadaun ami hein, mais ami seidauk hatene lo-loos livru laran
ne’e koalia saída. Em jeral ami hatene katak livru ne’e koalia kona-ba tekniku
nian,”katak nia. (Domingas Saldanha)
O texto acima fez parte de um questionário aplicado aos estudantes dos cursos de
Engenharia Informática, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica da Faculdade de
Engenharia da Universidade Nacional de Timor-Leste. O objetivo foi de identificar as
dificuldades enfrentadas pelos estudantes na compreensão da língua portuguesa. Assim, por
meio do tetum os alunos poderiam demonstrar o domínio do vocabulário para posteriormente
22
delinear em língua portuguesa a compreensão do texto. As questões aplicadas aos estudantes
foram as seguintes:
1. Identifique as palavras em tetum que também pertencem ao português.
2. Quais as diferenças apresentadas nas palavras que são usadas tanto no tetum e
no português?
3. Qual o assunto da notícia?
4. Identifique os verbos presentes no texto.
5. Traduza um dos parágrafos do texto.
As questões propostas demonstram a liberdade dos estudantes em realizar a proposta
do questionário. Na nossa vida diária usamos constantemente o conhecimento armazenado na
memória. Baseados na nossa experiência individual e no nosso conhecimento geral do mundo,
formulamos previsões com relação àquilo que esperamos que se realize. O leitor está
constantemente fazendo previsões sobre o que provavelmente possa aparecer num
determinado texto.
O leitor pode fazer inferências com base no seu conhecimento sobre as combinações
de letras possíveis numa língua. Muitas de nossas interpretações estão ligadas ao
conhecimento a respeito de que tipo de letra seria possível num determinado contexto. Assim,
pode-se dizer que para estudantes do Brasil, a compreensão do texto acima estaria ligada a
uma espécie de colaboração ou de interação entre a informação visual e o nosso conhecimento
anterior.
Nesse sentido, os estudantes correriam atrás de pistas fornecidas pelo texto,
primeiramente por meio de informação visual. Pressupõe-se que a primeira estratégia de
leitura seria a ortográfica devido à visibilidade dos empréstimos da língua portuguesa na
língua tetum, considerando a diferença ortográfica, pois a escrita apresentada toma como base
a transcrição fonética da palavra.
A seguir, um quadro com algumas palavras, emprestadas da língua portuguesa e
identificadas por estudantes de nível intermediário de português, durante a realização do
questionário investigativo dessa pesquisa:
tetum português
Agrikola agrícola
agrikultura agricultura
23
agroteknikas agrotécnicas
Ajuda ajudar
Alunus alunos
Aplika aplicar
Apoiu apoio
aprezentasaun apresentação
Aumenta aumentar, ampliar
biblioteca, também
biblioteka
biblioteca
Bilateral bilateral
Distribui distribuir
Doasaun doação
Dosentes docentes
Ekipa equipe
embaixada embaixada
Empreza empresa
Entre entre
Eskola escola
Esperansa esperança
Estrategia estratégia
estudantes estudantes
Fórnese fornecer
internasional internacional
intrega, também entrega entregar
Istoria história
Jeral geral
kapasidade capacidade
kapasitasaun capacitação
kooperasaun cooperação
kumpriende compreende
Livru livro
Meius meios
ministeriu ministério
24
Ministru ministro
Nasaun nação
Objetivu objetivo
pecuaria, também pekuaria pecuária
pedagojika pedagógica
pescas, também peskas pescas
Peskiza pesquisa
Professor professor
publikasaun publicação
Refrensia referência
Reijaun região
rekuihesidu reconhecido
Sai sair
Sidade cidade
Tekniku técnico
Beaugrande (1997:10) conceitua o texto como um evento comunicativo (um
acontecimento) em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas. Sabe-se, portanto,
que tanto a produção como a compreensão textual não ocorre quando se entende a palavra, a
frase ou mesmo o parágrafo, visto que essas competências não se constróem por meio de
unidades isoladas e sim, nos eventos discursivos ou entidades enunciativas.
Enquanto evento, o texto se acha em estreita interação com seu contexto de produção
pela mediação dos próprios sujeitos sociais que operam com o mesmo. Esses sujeitos são o
escritor ou falante e leitor ou ouvinte. De acordo com a figura seguinte:
Escritor (INTENÇÃO) Leitor (FUNÇÃO)
Domingas Saldanha Alunos da Faculdade de Engenharia
(não falante de português) (falantes de língua portuguesa) Nível Básico
Neste caso, o texto apresenta um alto grau de instabilidade e indeterminação
por ser um sistema muito complexo e com muitas relações que se completam na situação de
uso. Por isso, retomo as aulas ministradas pela professora Regina Péret no curso de
25
especialização em língua portuguesa da Universidade Federal de Minas Gerais que expõe uma
série de consequências relativas à compreensão textual, como:
1. Entender um texto não equivale a entender palavras ou frases.
2. Entender as frases ou as palavras é vê-las em contexto.
3. Entender é produzir sentidos e não extrair conteúdos.
4. Conteúdos e sentidos não se equivalem.
5. Indivíduos diferentes podem produzir sentidos diferentes.
6. Entender o texto é inferir numa relação de conhecimentos prévios.
7. Não existe uma compreensão ideal e definitiva de um texto.
8. Todas as compreensões do mesmo texto devem ser compatíveis.
Dentro dessa série podemos dizer que as palavras acima mapeadas contribuem com o
processo de leitura de um texto em português, mas convergindo com o que foi apontado pela
professora na consequência 1, é o número 6 que aponta uma relevância dentro do estudo feito,
pois a partir das palavras em tetum que os estudantes vão conhecendo, surge uma
aproximação com o conhecimento do português, de forma que na hora da leitura, o aluno
aciona seu conhecimento prévio na compreensão de algumas palavras e passa a ver a mesma
dentro de um determinado contexto. Como a dificuldade ainda é muito grande torna-se
essencial retomar textos em tetum para favorecer o aumento de vocabulário e ao mesmo
tempo colocar os indivíduos a frente de variados gêneros textuais.
A língua tetum deve ser vista como um instrumento que pode auxiliar o ensino do
português, pois dessa forma haverá uma positividade da aprendizagem do português. Sabe-se
que ambas as línguas caminham em conjunto para assumirem todo o território nacional, pois
Timor-Leste apresenta um cenário linguístico bem complexo visto que há uma variedade de
línguas, que sem contar as mencionadas anteriormente, totalizam quinze línguas diferentes
pertencentes às duas grandes famílias austronésia e papua. São austronésias as línguas: bekais,
tetum, galoli, wetar, kawaimina, habun, makuva, tukudede, kemak, mambae e idalaka. As
línguas papuas são: bunak, makasae, fataluku e makalero, sendo que parte destas línguas
apresenta diferentes dialetos. Um exemplo disso é o tetum e o mambae que têm três dialetos
diferentes cada um. Dessa forma, as cadeias dialetais são a Kawaimina (kairui – waima'a –
midiki – naueti) e a Idalaka (idaté – lakalei – isni), compostas por quatro e três dialetos
respectivamente. Do isni ainda deriva o isoleto lolein, falado em Díli. Ainda há o wetarês,
26
língua da ilha de Ataúro, que se subdivide em três dialetos na própria ilha e mais um na ilha
de Timor (Dadua) (HULL, 1998 apud ENGELENHOVEN, 2006).
A leitura vai além da decodificação de sinais ou reprodução de informações. De
acordo com a sétima consequência apontada, cito MARCUSCHI (1985):
A leitura é um processo de seleção que se dá como um jogo, com
avanço para predições, recuos para correções, não se faz
linearmente, progride em pequenos blocos ou fatias e não produz
compreensões definitivas. (p.03)
Se os alunos timorenses conseguem decifrar a escrita, possivelmente alcançaremos o
objetivo de formação, no entanto alguns vocábulos passaram em textos escritos em língua
portuguesa desconhecidos pelo aluno, pois o mesmo se em contato apenas com textos
jornalísticos não terá a possibilidade de compreender textos que extrapolam os gêneros que
compõem o jornal, mas é uma etapa a ser vencida pela sociedade timorense que ainda não
possui textos poéticos publicados em língua tetum.
Segundo MARTINS (1982):
Se o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da
escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao
processo de formação global do indivíduo, à sua capacitação para o
convívio e atuações política, social, econômica e cultural. (p.22)
É evidente como é tratada a leitura por Martins. Ele vê como a conformação do
indivíduo às normas e valores do mundo a sua volta. Mas, a leitura vai muito além, pois
envolve a interpretação, o questionamento, as críticas e inferências.
Conforme afirma FREIRE (1982):
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a
posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da
leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A
compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica
a percepção das relações entre o texto e o contexto. (p. 11-12)
27
Dessa forma, não podemos apenas considerar a escrita ou o uso de vocábulos do
português, pois dentro desse emaranhado de palavras, é necessário procurar o fio condutor
que leva à compreensão do texto, tanto em tetum como em português. Convém destacar, que
os alunos timorenses não possuem hábito de leitura em português e até mesmo em tetum, não
pelo fato de não gostarem de ler e sim pela carência de publicação literária no país. Sendo
assim, não há esforços suficientes para incentivar a leitura que permanece inexistente.
Em Timor, acontece anualmente a feira do livro que vende os livros a preço
completamente fora do mercado. tal evento é parte das atividades da cooperação portuguesa
no país em parceria com o governo brasileiro. O objetivo maior é a difusão da língua
portuguesa, então por vezes os livros em venda não alcançam de fato o público, por tratar de
livros doados e que exigem uma leitura com um grau de dificuldade bem maior. São, muitas
vezes, livros científicos, literaturas riquíssimas, contudo complexas ao leitor timorense. A
feira no ano de 2009 estava em sua quarta edição e ainda não se foi pensada uma forma de por
assim dizer que a feira é capaz de trazer leitura num nível à altura de todos.
PERINI (1980) sugere que um estudo contrastivo entre o que chamou estilo escrito e
estilo falado teria uma aplicação prática imediata no campo da leitura. Segundo o autor, as
diferenças entre o estilo escrito e o estilo falado podem constituir fontes de dificuldades de
leitura. Numa categorização acerca do que se trata no Brasil dialeto padrão e coloquial aqui
poderíamos dizer na realidade de Timor-Leste que a variante em questão está afetada pelo
português ensinado no tempo português e das influências do tétum no português ensinado
atualmente no território.
Em um trabalho realizado com o mesmo grupo ora em estudo nessa pesquisa foi
evidenciado que o português padrão falado pelos timorenses é bem diferente daquele que
possivelmente seriam capazes de compreenderem em determinada situação textual.
Tribunarte, o nome do projeto, foi realizado com oito turmas do quarto período da Faculdade
de Engenharia, em nível de língua estrangeira os estudantes estariam no nível intermediário
do português. O projeto tinha como objetivo geral criar um ambiente de discussão em língua
portuguesa, promovendo o processo de ensino-aprendizagem. O tema da discussão tratou das
línguas nacionais e das línguas de trabalho; de um lado, um grupo defendia a adoção do
português e do tetum e do outro, o indonésio e o inglês. Isso, na verdade, é algo bem
complexo para ser debatido em Timor-Leste.
O projeto visou à criação de um espaço cênico voltado para a discussão das
situações corriqueiras da nossa realidade nos remetendo a sua análise. O nome “Tribunarte”
foi originado da formação das palavras “tribuna” e “arte” e podem ser entendidas pela
28
abertura de uma tribuna aonde vão levar, à tona, questionamentos pensados, mas jamais ditos
pelos estudantes. Dentro desse espaço nos reportamos ao mundo da arte, pois não temos a
legitimidade para algumas colocações. Esse encontro promoveu o uso da língua portuguesa e
ao mesmo tempo o processo de aprendizagem da mesma. O posicionamento do estudante
como ator social, deu a oportunidade dele se expressar em língua portuguesa e questionar o
uso da mesma.
A atividade também deu espaço à leitura, pois como parte do trabalho os alunos
mapearam as contribuições da língua portuguesa dentro do território timorense, trazendo
também textos de como esse assunto era visto anteriormente. Foi possível observar que as
diferenças relacionadas à oralidade e escrita, não são simples frutos de convenções
linguísticas. É resultado de adaptações às nossas limitações cognitivas e às diferentes
situações textuais.
4.3 Depoimentos
Há que se afirmar que outros gêneros textuais se escritos em tetum-praça como o
gênero notícia apresentado neste trabalho pode fornecer pistas suficientes para que falantes da
língua portuguesa sejam timorenses ou de outra nação da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa - CPLP. Percebe-se, inclusive, que em Timor-Leste alguns falantes da língua
portuguesa independente do país de origem apresentam mais facilidade para falar o tetum do
que outros estrangeiros CPLP ou não.
Neste tópico, como uma forma de fundamentar esse estudo apresentamos alguns
depoimentos de falantes e/ou usuários de Língua Portuguesa e, falantes de Português e tetum
a fim de mostrar semelhanças e diferenças entre um conhecedor de uma determinada língua e
outro que nunca teve contato com essa determinada língua.
O primeiro depoimento foi o da professora brasileira, Lucimar França dos Santos
Souza que esteve em Timor-Leste pela primeira vez no período 2005-2007, seguido de outras
duas viagens 2009-2010 e 2011 . Segundo ela, logo nos primeiros momentos de interação
com o povo timorense, percebeu que o tetum detinha palavras e expressões oriundas da língua
portuguesa que foram transcritas fonética e ortograficamente para a língua nacional
timorense.
Na condição de falante e usuária da Língua Portuguesa e também profissional da área
de língua e linguagem, a professora Lucimar disse que teve o interesse e também a
necessidade de observar o emprego do português no tetum a fim de verificar as possibilidades
29
de compreensão do discurso, visto que estava naquele país, participando de um processo de
reconstrução da nação, incluindo o resgate da língua portuguesa, mas, àquela altura, lidava,
com um público-alvo cuja prática linguística cotidiana se dava por meio do tetum. Enfim,
usuários constantes dessa língua.
A professora relata que ao lecionar a disciplina Linguagem e Alfabetização para
futuros professores da Educação Primária, percebia que tanto nas exposições orais quanto
escritas (resumo de teorias e proposta de atividades) o uso de palavras e expressões já
dominadas pelos graduandos não propiciava toda a compreensão necessária. Os estudantes (a
maioria jovens que nasceram no período 1975 -1999) faziam associações e/ou inferências que
na maioria das vezes se distanciavam do objetivo da exposição oral ou do material escrito.
A Professora recorda que ao iniciar o referido trabalho, ministrando as aulas em
português, empregava alguns vocábulos bem comuns ao Tetum e cotidianos no meio
escolarizado de Timor-Leste. Durante o primeiro mês de aula, percebeu que os alunos
ficavam atentos e tentavam assimilar e/ou abstrair significados, mas quando eram propostas
as atividades práticas, as abstrações necessárias à boa condução da atividade não havia
ocorrido. Dessa forma, a Professora Lucimar começou a aprender o tetum por meio da
imersão em diferentes grupos da comunidade, ou seja, com os mais e os menos escolarizados
e, também, com os que nunca tinham ido à escola, na maioria, analfabetos. Esses, às vezes,
não apresentam muita diferença na comunicação com os demais, o que comprova a “força” da
oralidade do povo timorense. No processo de imersão para aprender e conhecer o tetum, a
professora também contemplou diferentes faixas etárias. Ela conversava, constantemente,
com crianças e jovens que encontrava comumente pelas ruas por onde geralmente andava,
passando a fazer amizade, tornar-se colega e desenvolver bate-papos rápidos. Eis um trecho
do relato da professora:
“Formei um grupo de amiguinhos e amiguinhas para irmos à missa juntos,
aos sábados, à tarde. Também passei a recebê-los, de vez em quando, em minha
casa, para um lanchinho. Eu os ouvia atentamente em Tetum e ensinava Português
fazendo traduções do Tetum, de acordo com as percepções e inferências, para o
Português e respondendo às curiosidades deles. Lembro-me bem daqueles
momentos. Posso ouvi-los dizendo: “TAL COISA ASSIM ASSIM EM PORTUGUÊS
COMO SE DIZ?
Não muito tempo depois, eu passei a receber convites para visitas às casas,
participação em festas de família etc. Os idosos era o grupo que eu mais gostava
porque eu aproveitava para me entreter na companhia deles. Quando eu estava
cansada, eu saía andando calmamente e quando avistava um idoso ou idosa de
olhar bem receptivo, eu parava e batia um longo papo. Era sempre uma excelente
30
oportunidade para aprender muita coisa do passado, da história, das alegrias, das
dificuldades do povo timorense, e sobretudo, da imbricação de línguas a serviço da
comunicação. Em todos os momentos dessa imersão, eu fazia excelentes
descobertas. E assim eu descobri que algumas palavras usadas no Tetum Praça ou
Díli transcritas foneticamente do Português não possuem o mesmo valor semântico
da língua de origem. Um exemplo disso é a palavra “MERECE” , no Tetum grafada
como “merese”. Na Língua Portuguesa, essa palavra significa fazer jus, ostentar,
ser digno de possuir, independente do sentido ou valor atribuído. No Tetum não
ocorre da mesma forma, visto que o valor semântico é sempre negativo e o valor
realmente atribuído à palavra refere-se a sanções negativas e penalidades”.
O segundo depoimento que compõe esse capítulo foi concedido pela Sra. Nídia
Gonçalves, de nacionalidade timorense. Ela estudou a língua portuguesa e teve a oportunidade
de vivenciar a prática dessa língua num outro momento sócio-histórico de Timor-Leste. Além
disso, ela viveu fora de Timor, estabelecendo-se por um longo tempo em Portugal e Austrália
o que a permite fazer análises linguísticas bastante interessantes sobre o contexto linguístico
de seu país, considerando a experiência intensa com outras línguas em diversas situações de
comunicação dentro e fora de Timor.
Segundo a Sra. Nídia Gonçalves, um dos grandes dificultadores da proposta de
resgate da língua portuguesa em Timor-Leste é o próprio timorense. Ela diz ser consciente de
que o processo de resgate da língua portuguesa em Timor-Leste será a longo prazo,
considerando as especificidades do aprendizado dessa língua. No entanto, a necessidade de
um longo prazo deve ser associada a políticas públicas voltadas para a conscientização e
motivação da população acerca da importância do aprendizado dessa língua. Para a Sra Nídia
essas políticas não devem restringir-se apenas ao currículo da educação nacional. Em sua
explanação, ela mencionou o fato de muitos estrangeiros esforçarem-se para aprender o tetum
_ à língua nacional timorense_ a fim de manter uma comunicação efetiva com os timorenses e
uma interação suficiente para realizar o trabalho a que se propõe. Muitos estrangeiros dizem
que buscam aprender o tétun em prol do sucesso de suas missões. Se houvesse uma política
séria de motivação da população para aprender o português, o timorense aproveitar-se-ia da
intensa presença portuguesa e brasileira em Timor. Enfim, de acordo com a opinião da Sra
Nídia, o timorense não quer aprender português e dessa forma, acaba por pretender, que
alguns brasileiros e portugueses aprendam o tetum. Para a Sra Nídia, é preciso criar políticas
de exigência nesse sentido.
31
No espaço escolar, quando o português está presente como componente curricular ou
quando há alguma atividade em língua portuguesa, o timorense, sobretudo aquele que é fruto
do tempo indonésio, no momento da interpretação ou compreensão, seja auditiva, oral ou
escrita, lança mão de uma estratégia que passa pela associação ou correlação com palavras do
português usadas no tetum. Isso é um recurso de duas vias: pode ser eficaz ou não. Por isso, a
Sra Nídia insiste em uma maior responsabilidade e conscientização da população porque a
base para o sucesso de todas as situações de comunicação é a linguagem. As dificuldades de
comunicação retardam o processo de desenvolvimento e dá espaço para os mais diversos tipos
de mistura de línguas o que, às vezes, infelizmente, pode gerar conflitos e insatisfação na
comunicação.
32
5 PRÁTICAS DE LEITURA NO TIMOR-LESTE
Neste capítulo, o objetivo é apresentar sugestões que contribuam com a melhoria e
intensificação das práticas de leitura em Timor-Leste. Um dos aspectos importantes a ser
considerado é que se trata de um país de tradição oral. Essa característica é constante no
cotidiano do povo timorense. Todo o patrimônio linguístico de Timor-Leste está representado
em sua literatura especificamente oral como registro histórico-cultural e também como
elemento de unificação. Portanto, essa língua está fortemente centrada na oralidade e
notamos, diariamente, o quanto o povo timorense tem uma familiaridade muito forte com a
fala. As decisões e discussões ganham notoriedade mais por meio da fala do que da escrita.
Daí, a língua surge como elemento unificador e também como espelho de uma cultura. Há
que se afirmar que dessa forma, todos os aspectos sócio-culturais do povo são trabalhados em
parceria com a língua, demonstrando sua função enquanto língua, literariamente classificada
como oral. Nesse caso, a obra literária vem como motivação para a aquisição da língua
desenvolvendo a capacidade da interpretação realizada pelo aluno. Em minha opinião, a
aproximação integrativa da língua com a literatura oral no currículo das escolas da nação
timorense tende a contribuir com o processo de ensino da língua portuguesa visto que se
ensina uma modalidade ou variedade linguística a partir dos conhecimentos trazidos pelo
aluno.
Conforme A. Kleiman em Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura, 1996, p.158,
uma maneira adequada de ativar o conhecimento prévio da criança consiste em fornecer um
objeto à leitura (vamos ler para descobrir por que, como..., para conhecer os detalhes de...,
para ter uma ideia geral de). A criança deve aprender a adaptar suas estratégias de leitura e de
abordagem ao texto aos seus próprios objetivos.
Nesse capítulo apresentamos um texto de tradição oral voltado para o nível
secundário. a escolha do texto dá-se pelas seguintes razões:
1. O receptor-leitor tem mais capacidade para interpretar textos da literatura
oral;
2. O receptor-leitor é capaz de ler textos em língua portuguesa1;
3. A leitura de textos literários é requisito para cursar esse nível de ensino. É a
fase em que o aluno deve conhecer textos literários mais complexos e interagir com
1 Os jovens estudantes timorenses (amostra deste trabalho), nascidos no período da ocupação Indonésia e que, por isso, não dominam o português, ao se depararem com um texto em língua portuguesa buscam abstrair algum significado ou compreensão por meio de palavras ou expressões do português presentes no Tetum. Mas, para que haja uma completa compreensão textual é necessário o domínio de outros elementos indispensáveis à tessitura textual.
33
diversos gêneros textuais literários a fim de que a transmissão de culturas e de
valores éticos, étnicos e morais bem como o conhecimento de hábitos e costumes
possam transformar-se em instrumento de aprendizagem por meio da fruição ou
entretenimento. Vale ressaltar que a leitura de um romance, de uma crônica, de um
poema, de um conto dentre outros deve, primeiramente, proporcionar a fruição e, em
seguida, proporcionar uma reflexão acerca da realidade temporal e espacial nas
quais o leitor está inserido.
5.1. O texto
Timor-Leste vive atualmente um novo momento, dedicado à reconstrução do país e
reafirmação da restauração de sua democracia após 24 anos de opressão indonésia no período
1975-1998. Os registros proibidos nos tempos de colonização (tempo português) e dominação
aparecem nos dias atuais como colaboração ao ensino e difusão da cultura local.
Nesse sentido, faz parte deste trabalho, um texto que está inserido no Programa de
Formação de Professores em Exercício no Ensino Primário – PROFEP / Timor. A história é
intitulada “Uma kain Lawai Taek matak Lori ba tasi” (O dia em que a família de Lawai Taek
foi arrastada pela ribeira até o mar) e trata de uma das histórias utilizadas nas escolas
timorenses como mecanismo de aprendizagem para a compreensão e interpretação de textos
Na língua tetum. O objetivo aqui proposto é realizar uma comparação entre o texto em tétun e
em português traduzido sem qualquer alteração, ou seja, traduzido literalmente a fim de
buscar caminhos e propostas signficativas para a inclusão de diferentes gêneros textuais na
sala de aula, trabalhando com o (tetum- praça ou Díli)2 uma vez que esse é o tetum que detém
alguns elementos transcritos do português.
Leia-se a seguir uma versão do texto citado anteriormente em tetum:
Iha uma kain ida, ema nain 4. Namo Taek, Lawai Taek, Dau Taek no Loi Taek. Sira nain 4
nee hela iha foho Kalaun, foho Fehuk, Foho Anak Liam Bau no foho Dia. Iha foho 4 nee sira nia let
iha kolan ida.
Loron ida Namo Taek sei soru hela tais, manu berliku ida semo hadulas ba mai hodi harani
los ba ai be Namo Taek hodi soru tais nee. Namo Taek hora-horas hakfodak too nia hirus, nia kair ai
ida hodi soru tais nee nia rohan hodi Baku manu nee maibe lae kona, Baku kona tiha kolan ibun, teki-
2 “o tétum praça ou tetum Díli surgiu, originalmente, do tetum terik, uma língua já existente no território timorense e,
posteriormente, influenciada por palavras e expressões trazidas pelos portugueses no período da colonização. O som dessas palavras e/ou
expressões adquiriu uma característica timorense. Dessa forma, a ortografia foi se adaptando ao alfabeto do tétum a fim de corresponder à
fonética”.
34
tekir kolan nee nakfera no lori liu kedas sira nain 2 ba tasi, ba tama los iha onu laran boot ida maibe
lae mate, hena deit maka mota Lori. Sira atu sai mai Raí luan lae diak tamba sira moe.
Loron ida katuas ida naran Nai lia manas ba soro ho nia assu kuain, sira lao-lao, rona ba
assu hatenu ona sira nain 2. Katuas sente ba katak iha buat foun ruma, nunee nia hahurit assua tu
bele tatá buat nee hodi lao besik ba dadaun. Wainhira nia lian besik dadaun, sira nain 2 sente na lae
diak tamba sira isin molik hela, sira nain 2 hakilar nunee:
-Ó se mos lae likan mai Liu tamba ami moe.
Nai lia Manas hatan:
-Imi moe tamba sá?
Sira hatan:
-Ami moe tamba ami isin molik, mota lori ami hosi foho mai. Ami hanoin katak ita mos kala
hare ona sinal sira nee.
Nai lia Manas hatan:
Se nunee entaum imi hein deit iha nee, hau sei ba foti lai unuk ruma ba imi. Wainhira nia too
mai, sira nain 2 haruka nia sés tiha, naran katak nia tau hela unuk nee iha fatin be nia koalia ba nee.
Nunee sira nain 2 ba foti unuk nee hodi hatais tiha, hafoin sira bolu nia hodi kumprimenta malu no
mos hodi agradese ba nia. Nunee nia lori ona sira nain 2 ba uma hodi fila sira hanesan maun alin
rasik.
Loron-loron sira nain 2 hetan fiar hosi nia. Loron ida Nai lia Manas husu ba Lawai Taek:
-Iha foho loro-loron ó halo saída?
Lawai Taek hatan nunee:
-Hau iha neba loro-loron halo toos no mos dala barak Liu ba soro.
Nai lia Manas hatutan tan nunee:
-Se nunee, aban ó bele sai ho assu ba soro, assu sira nee mesak Kwain ten deit.
Nunee Lawai Taek kotente tebes ho lia fuan nee, maibe nia hanoin nee hakarak fila fali ba
foho.
Loron ida nia ba soro, no iha loron nee nia oho naan barak tebes, maibe ida nee atu hodi
halo Nai lia nain kontente deit.
Iha loron seluk fali Lawai Taek ba soro maibe nia hanoin tenke ba too foho leten atu hodi
hare rai, nunee nia sae too foho ida naran rú laletek hodi hare fohoAnak Liam Bau no foho sira seluk.
Iha loron ida nee nia lae oho buat ida. Wainhira nia too iha uma, katuas Nai Lia Nain husu
ba nia:
-Ó ba iha nebe deit maka ó lae lori naan?
Lawai Taek hatan:
Loro-loron assu sira badinas tatá naan, maibe ohin nee lae liu! Lae hatene tamba sá!
Katuas Nai Lia Nain hateten tan:
35
Aban ó sai ba soro nafatin, hanesan nee, nia sai fali ona ba soro hodi Liu hosi Naha Waik,
Salau, Pua Laka, Wai-Raran (Ahi Lakan) hodi ba too kedas Lai-Dada. Wainhira nia too iha neba
kalan ona, maibe nia hanoin tenke fila fali kedas, nunee nia hanoin katak nia tenke marka hela kedas
rai nee hanesan marka ida. No hafoin nia fali ona. Wainhira nia too uma, Nai Lia Manas hare ba nia
lae lori buat ida nunee nia husu kedas ba nia:
-Nusá maka ó lao loro-loron ó lae hetan buat ida?
Nia hatan:
-Hau lao dunik maibe assu lae tatá.
Nai Lia Manas hateten tan:
Entaum aban ó sai fila fali. Katuas halo tuir deit nunee hodi lao tuir deit nia ain fatin.
Wainhira hira nia too iha Naha-Waik, nia soe Kantiga nunee:
Naktele Naha-Waik kati lor assu.
Lor assu Tada ba fatuk rui leu.
Nunee nia Liu nafatin, wainhira nia too Lai-Dada, nia hatene Liu ta nona fatin nebe nia
halimar ba. Wainhira nia too besik família sira, nia hare ema serviço makas tebes, entaun nia bolu:
-Imi halo saída?
Ema sira nee simu nunee:
-Ó se maka bolu nee?
Nia hatan:
-Hau Sah! Hau Lawai Taek.
Nunee sira halai hasoru Malu hodi hakoak Malu hodi tanis.
Liu tinha ida nee, sira lori nia ba ba tur tiha hodi husu ba nia kona ba buat neebe mosu ba
nia ho Namo Taek neebe lae mai hamutuk ho nia. Entaun nia konta ba sira kona ba buat sira neebe
mosu ba sira hanesan ita hatene ona iha leten. Nia dehan tan:
-Hau maka mai maibe Namo Taek sei iha tasi, sei iha katuas ida naran Nai Lia Manas nia
liman. Dala ruma, hau ba hau sei lae lori nia fila mai tamba katuas nee fila ami hanesan maun alin
rasik. Nunee hola aban nia fila ona, too iha neba Nai Lia Manas husu nafatin ba nia ho admira tebes
nunee:
-Nusá maka dala 3 ona be ó lao nee ó lae oho naan?
Nia hatan:
Assu sira nee ba ida toba, hau bolu mos sira lae kohi tuir, hetan naan mos hahurit sira lae
kohi tuir. Maibe Nai Lia Manas hatene tamba nia matan dook, nia hatene tuir hela. Nunee Nai Lia
Manas soe kantiga ida nunee:
Ó meli-meli Bere main katak
Bere-liku Narui Raí main katak.
Nunee nia simu fali mos ho cantiga nunee:
Nai eh lia taka lia, laran moras ba Malu
36
Kore karik lia hae neon no Malu
Liu tiha sira nee nia hateten sai ona.
Hau hetan ona ha unia família sira, nee duni hau husu ba ita katak hau tenke fila ona.
Nunee katuas hatan:
-Ó lae bele fila, hau fila imi hanesan ha unia maun alin no feton no nan. Nunee sira haksekuk
Malu makaas los, entaum katuas dehan tan:
-Ó mai kleur ona, ita hare Malu diak tebes, agora ó atu fila?
Lawai Taek hatan:
-Se hau lae fila hau sei halo udan boot mai no tasi sei SAE.
Nai Lia Manas hatan:
-Ó bosok tem, ó hakarak fila maka ó hatete netik hanesan nee.
Lawai Taek simu ho lian makaas:
-Tebes ka?
Nai Lia Manas simu tan:
-Tebes, hau hakarak hare took tasi atu sae no udan atu tau boot nee oin sa?
Katuas simu dehan:
-Ó hakarak koko, agora dunik hau hatudu, nia kair ba batar musan hitu no hare musan hitu
hodi tatiti lia nunee: “Hau nudar ema, mota lori hau sei mate hodi oin, maibe nudar Maromak nia
oan, uma lulik nia oan, mate sira nia oan atu lae bele haluha história ida nee entaum imi hotu haraik
udan boot no tasi boot mai halo rai nee nakonu ho be ohin kedas. Nia hamulak hotu tiha, nia kari
batar no hare musan hitu nee, lae kleur udan boot mai no tasi mos sae kedas.
Nunee Nai Lia Manas mos tauk kedas, liu tiha loron balu, nia husu kedas deskulpa ba katuas,
hodi sira nain 2 hakotu on alia katak:
Nia rasik sei lori katuas ho nia fen ba hamutuk ho sira nia família iha foho. Nunee sira lao
ona ba foho, wainhira sira too iha foho, sira promete ba malu:
Atu lae bele haluha história nee, hodi fila malu hanesan maun hanesan maun ho alin, no lia
ruma mosu karik, atu tulun malu nafatin, no promete ba malu atu fo rai ba malu hanesan hodi kesi
sira hanesan agora dadauk sira iha Natarbora hatudu hela rai balu ba sira iha Soibada ho Laclubar
balu iha neeba.
Se o objetivo de uma atividade com o texto acima for o ensino de língua e
linguagem, há que se admitir essa possibilidade, pois a leitura do texto literário colocará o
leitor em contato com a própria realidade social e cultural. As palavras do português que
fazem parte do texto serão bem assimiladas uma vez que se encontram atreladas a trama num
espaço que o leitor conhece muito bem e tem o interesse de interagir com o mesmo a fim de
37
tomar conhecimento da tentativa de minimização ou solução do conflito apresentado na
história.
5.2. Sugestão metodológica
A análise realizada durante o presente estudo difere do texto apresentado no tópico
anterior. Ele não pode ser tomado como base para o ensino da língua portuguesa, pois o
mesmo não apresenta muitos empréstimos da língua.
Tal acontecimento ocorre devido à influência dos dialetos locais e o tétum ora escrito
pelo historiador Calisto Doutel Sarmento. A proposta a ser apresentada tratará o texto em
tétum como uma preparação para o ensino de textos registrados em língua portuguesa da
tradição oral. O que nos interessa no fim é a interação com a oralidade.
Segundo Genouvrier, (1985:18):
Todos os acontecimentos e informações na vida cotidiana do ser
humano querem na forma escrita ou oral, aparecem como uma
medalha de duas faces: ler ou ouvir. Se a informação aparece
oralmente, o ouvinte decifra uma sequência de signos fônicos, se
aparece na forma escrita, o leitor decifra uma sequência de signos
gráficos.
O objetivo central dessa proposta é valorizar os signos de cultura presentes nos
textos. Eles contribuem para a valorização do receptor-leitor. A estratégia de trabalho é
importante para que os alunos livremente não deixem o português desaparecer do cenário
educacional. Vale ressaltar que a presença do português no tétu dá, em alguns casos, uma
ideia acerca do tema com compreensões fragmentadas sobre o assunto e é possível fazer
apenas algumas inferências devido à ausência de alguns fatores de textualidade importantes
para a compreensão textual.
Com o desenvolvimento e fortificação da língua tetum, ensinar o português nas
escolas timorenses tem sido uma tarefa difícil. Muitas vezes são os próprios professores que
misturam a sua língua materna (ou a do aluno) e o português. O desenvolvimento linguístico e
cognitivo pode e deve ser encarado como o resultado de um processo dialético entre o
indivíduo e o seu meio.
38
Importa no texto em tetum compreender, interpretar, ler a realidade cultural
timorense veiculada, através das narrativas da literatura popular de tradição oral.
39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para falar em Educação, principalmente, sobre leitura de textos em língua portuguesa
em Timor-Leste, primeiramente há que ver educação e leitura como instrumentos
extremamente importantes no processo de reconstrução da nação timorense. Em seguida, é
preciso falar da importância de uma língua, a linguagem com seus códigos diversos e
comunicação como elemento importante para a melhoria da condição social e humana de um
povo.
Dessa forma, observar a realidade timorense, analisá-la e procurar compreendê-la
pode ser através da competência leitora em português um meio para a promoção do
desenvolvimento de habilidades com vistas às competências necessárias e conhecimentos que
são absorvidos e ampliados gradativamente na produção sócio-cultural do povo.
O que se vê no cotidiano do povo timorense após a restauração da independência é
que a população necessita de conhecimento e reflexão sobre as novas, inovadas e renovadas
aquisições de Timor-Leste a cada dia, atendendo ao novo contexto no qual o país está
inserido, ou seja, Timor-Leste desponta para o mundo. Dessa forma, o país recebe o mundo
inteiro e sai para o mundo inteiro também em busca de aprimoramento para sua política social
e econômica.
Se a sociedade timorense quiser ascender ao mundo inteiro a fim de definir processos
mais justos, solidários e humanos, há que investir na formação de pessoas críticas e capazes
de conduzir a si próprio, tomar decisões, aprender a discernir, participar e transformar o meio
em que vive. Para isso não são necessários somente recursos ou investimentos financeiros
embora esses sejam muito importantes. Mas também a definição de políticas significativas de
difusão das línguas oficiais do país o que requer dedicação, esforço e profissionalismo por
parte das instituições de ensino como neste caso a Universidade Nacional de Timor-Leste e,
também, fazer um trabalho que desperte a consciência dos alunos a fim de que se reconheçam
como elementos muito importantes no processo de reconstrução da nação timorense após os
vinte e quatro anos de opressão indonésia e, sobretudo, reconhecerem a importância da
identidade cultural do povo o que os reporta a Portugal, país descobridor e colonizador de
Timor-Leste. Em consequência disso, compreender e aceitar a razão da língua portuguesa ser
uma das línguas oficiais desse país; refletir sobre a importância de Timor-Leste ser um dos
países membro da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e a contribuição
para o processo de desenvolvimento por meio de outros segmentos já adentrados.
40
No entanto, para que tudo isso seja concretizado, faz-se necessário trabalhar de uma
forma vinculada à leitura. Há que se fazer da leitura, não apenas uma simples decodificação
ou usar estratégias de comunicação não tão bem fundamentadas, mas um mecanismo de
transformação da realidade, onde ler seja em português traga conhecimento e dê novas
descobertas e novas possibilidades de resgate de valores em todas as dimensões da sociedade
timorense. Ler, compreender, interpretar e refletir dá ao povo o poder de alcançar
transformação pessoal e social. Após isso, fica mais acessível chegar à formação da
criticidade frente a própria nação e ao mundo.
Finalizando este trabalho, percebe-se que as questões mais intrigantes e latentes
desenvolvidas nessa pesquisa, voltam-se para estratégias eficazes com vistas ao aprendizado
de leitura e compreensão de textos em português e, por meio dessas, a formação da criticidade
que é, na verdade, uma questão de políticas públicas de difusão da língua portuguesa e projeto
político sustentável, socializado nas instituições de ensino e trabalhado por todos.
41
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Vol. 6, n.1. jan/jun 2002, Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2003, 161p.
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ANEXO A – Tradução da notícia analisada
Governo brasileiro entrega 550 livros técnicos ao Ministério da Agricultura e Pescas
A nação brasileira entregou aproximadamente 550 livros técnicos especializados
em diversos ramos da agricultura e pecuária, a entrega foi realizada pelo Embaixador do
Brasil em Timor-Leste, Edson Marinho Duarte Monteiro, ao Ministro da Agricultura e Pescas,
Mariano Assanami Sabino.
A entrega do material didático mencionado marca a conclusão das atividades do
projeto de cooperação técnica bilateral Brasil / Timor-Leste denominado “Apoio ao
Fortalecimento das Escolas Agrotécnicas de Timor-Leste”, iniciado no mês de julho de 2008,
e as obras serão destinadas às bibliotecas das Escolas Agrotécnicas de Fuiloro (Lautém),
Natarbora (Manatuto) e Korlule (Bobonaro) que carecem de bibliografia disponível em língua
portuguesa a ser utilizada por seus estudantes e professores.
O projeto foi coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) em
conjunto com o Ministro da Agricultura e Pescas de Timor-Leste (MAP), tendo como
instituições executoras o próprio MAP e o Ministério da Educação do Brasil, através de sua
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica.
O principal objetivo dessa cooperação bilateral foi a capacitação técnica e
pedagógicas das Escolas Agrícolas de Timor-Leste, realizada por uma equipe de professores
brasileiros provenientes das Escolas Agrotécnicas Federais de Crato e Iguatú, cidades
localizadas no Estado do Ceará, região Nordeste do Brasil.
Dentre as obras doadas é importante salientar a existência de inúmeras
publicações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cuja excelência em
pesquisa e desenvolvimento de projetos na área de agricultura e pecuária, é reconhecida
internacionalmente.