cadernos metropole, v. 13, n. 26, 2011
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Este artigo aborda os cortiços localizados no Centro de Santos. O objeto de análise são as habitações precárias de aluguel e o objetivo é fazer um histórico do processo de sua constituição até os dias atuais. A primeira parte situa a importância das áreas centrais, sua degradação física e as recentes discussões envolvendo sua revitalização. A segunda seção enfoca aspectos relevantes sobre os cortiços enquanto modalidade de habitação operária mais antiga de Santos e sua contextualização histórica. A terceira parte traça um panorama socioeconômico dessas habitações e sua precariedade. A quarta parte trata das legislações e dos projetos desenvolvidos pelo poder público na área. Por fim, as considerações finais fazem uma avaliação dessas ações destacando avanços e problemas a serem enfrentados.TRANSCRIPT
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Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011
Habitao precria e os cortiosda rea central de Santos
Poor housing and tenements in downtown Santos
Andr da Rocha Santos
ResumoEste artigo aborda os cortios localizados no
Centro de Santos. O objeto de anlise so as
habitaes precrias de aluguel e o objetivo
fazer um histrico do processo de sua constituio
at os dias atuais. A primeira parte situa a
importncia das reas centrais, sua degradao
fsica e as recentes discusses envolvendo sua
revitalizao. A segunda seo enfoca aspectos
relevantes sobre os cortios enquanto modalidade
de habitao operria mais antiga de Santos e sua
contextualizao histrica. A terceira parte traa
um panorama socioeconmico dessas habitaes
e sua precariedade. A quarta parte trata das
legislaes e dos projetos desenvolvidos pelo poder
pblico na rea. Por fim, as consideraes finais
fazem uma avaliao dessas aes destacando
avanos e problemas a serem enfrentados.
Palavras-chave: cortios; habitao precria; vul-nerabilidade social; precariedade urbana; poltica
habitacional.
AbstractThis article discusses the tenements located downtown Santos. The object of analysis is the precarious rented houses and the goal is to make a historical record of their settlement process until today. The first part places the importance of the central areas, their physical deterioration and recent discussions involving their revitalization. The second section focuses on relevant aspects of the tenements as the oldest housing modality of Santos working class, placing them in a historical context. The third part presents a socio-economic overview of this type of housing and its precariousness. The fourth part deals with the laws and the projects developed by public authorities in the area. Finally, concluding remarks are an evaluation of those actions highlighting the progress achieved and the problems to be faced.
Keywords: tenement; precarious housing; social vulnerability; urban precariousness; housing policy.
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A importncia desse debate
Cidades brasileiras que serviam como elo de
ligao do pas com o exterior, como Rio de Ja-
neiro, Salvador, Recife e o binmio Santos-So
Paulo, espantavam investimentos e imigrantes
no final do sculo XIX. Isso ocorria porque cida-
des como estas constituam motivos de repulsa
a qualquer um que estivesse habituado aos pa-
dres arquitetnicos e sanitrios das grandes
capitais europeias, como Londres, Viena, Paris
e So Petersburgo.
Assim, era preciso tirar as antigas cida-
des coloniais brasileiras, sobretudo as que se
reanimavam com a economia cafeeira, dos li-
mites de suas estruturas arcaicas em face das
novas exigncias econmicas (cf. Marins, 1998,
pp. 131-214; Andrade,1992, pp. 206-233). Ci-
dades que estivessem na rota do capital, como
Rio de Janeiro e Santos, entre outras cidades
brasileiras, foram reformadas sanitariamente,
tanto do ponto de vista de sua circulao vi-
ria, como do embelezamento e remodelao,
adquirindo assim uma nova imagem.
Alm de sanear as cidades tomadas pelas
epidemias, o urbanismo dar a elas um padro
esttico moderno, formas urbanas prprias que
acompanham a tecnologia de saneamento. Du-
rante toda a Repblica Velha, a implantao
desse projeto urbanstico se tornou um dos
principais objetivos do Estado brasileiro (cf. An-
drade, 1992, pp. 208-233).
Entretanto, muitas dessas reas que num
primeiro momento foram objeto de interven-
o passaram, em alguns casos, por processos
de declnio e/ou degradao com o passar do
tempo. A deteriorao de certas reas urbanas
um fenmeno mundial que, desde meados da
dcada de 1950, tem se intensificado em gran-
des cidades mundiais, possuindo relao direta
com as formas de produo e consumo. Carac-
tersticas como o forte crescimento populacio-
nal e a expanso fsica da malha urbana, alm
da insero da cidade em um contexto econ-
mico industrial, estabeleceram novas formas de
apropriao e valorizao do solo urbano com
reflexos no mercado imobilirio, se manifestan-
do mais intensamente nas reas centrais des-
sas cidades (cf. Simes Jr., 1994, p. 11).
Segundo Vargas e Castilho:
Ao mesmo tempo em que os centros congestionam-se pela intensidade de suas atividades, amplia-se a concorrncia de outros locais mais interessantes para morar e viver. Assiste-se ao xodo de ati-vidades ditas nobres e sada de outras grandes geradoras de fluxos, como as implementadas pelas instituies pbli-cas. A substituio faz-se por atividades de menor rentabilidade, informais e, por vezes, ilegais e praticadas por usurios e moradores com menor ou quase nenhum poder aquisitivo. Consequentemente, a arrecadao de impostos diminui e o poder pblico reduz a sua atuao nos servios de limpeza e segurana pblicas. (2006, p. 6)
Conforme vai acontecendo a expanso,
os padres de uso e ocupao daquelas reas
urbanas consolidadas vo sofrendo alteraes
e modificaes e, nesse sentido, vai se tor-
nando necessria sua readequao aos novos
condicionantes decorrentes do crescimento da
cidade. Ocorre que nem sempre se d essa rea-
daptao e esse fator que faz com que certas
reas de degradem ou se deteriorem.
Quando a estrutura econmica, fsica,
social e ambiental existente no local no est
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mais satisfazendo o papel funcional que lhe
exigido pela cidade, isto , no est mais aten-
dendo s expectativas definidas pela atividade
imobiliria,ocorre a degradao (Simes Jr.,
1994, p. 12).
Os anos de 1970 e 1980 marcaram a
poca de crise da ideia de plano ou de plane-
jamento no sentido modernista. Por oposio
prtica do planejamento urbano, as prticas
ps-modernistas passaram a se pautar por pro-
jetos urbanos abandonando a viso do espao
como algo a ser moldado para propsitos so-
ciais, ou seja, sempre subordinada a um proje-
to abrangente e macroestrutural e passando a
ver as intervenes nos espaos urbanos mais
parciais ou pontuais como coisa independente
e autnoma a ser moldada segundo objetivos
e princpios estticos que no tm necessaria-
mente nenhuma relao com algum objetivo
social abrangente (Harvey, 1992, p. 69).
Esse processo ocasionou vrias mudan-
as em muitas cidades que, diante de inmeros
fatores como a desindustrializao, o enxuga-
mento da produo e precarizao do trabalho
(com declnio das profisses formais, aumento
da subcontratao e do desemprego estrutu-
ral), a perda da capacidade de investimentos
do setor pblico e o aumento do setor de servi-
os, financeiro, de consumo e de entretenimen-
to, vm induzindo a certa mudana de viso
nas prticas tradicionais, no s do Estado, mas
de outros agentes interventores sobre o espao
urbano (Simes Jr., 1994; Frgoli Jr., 2000).
Nesse sentido, surgiu um novo momento
no processo de interveno nos centros urba-
nos. Por serem aes voltadas a tecidos
urbanos j existentes, no sentido de adequ-
-los outra vez, ou readapt-los, essas realiza-
es vm recebendo, a cada novo contexto,
novas denominaes, geralmente com o pre-
fixo re, como, por exemplo, revitalizao, re-
qualificao ou revalorizao (Vaz e Jacques,
2003, pp. 129-140; Vasconcellos e Mello,
2006, pp. 53-66).
Vargas e Castilho (2006) identificam os
anos 1980-2000 como a Era da Reinveno
Urbana, na qual esse perodo seria o reflexo
de um novo modelo de produo, ou seja, o
intervalo de tempo em que vem ocorrendo
a transio do regime de acumulao de ca-
pital fordista-keynesiano para um regime de
acumu lao flexvel (Harvey, 1992; Vargas e
Castilho, 2006).
Neste momento, a discusso em torno de
polticas pblicas visando revitalizao das
reas urbanas centrais que se encontram em
processo de deteriorao passou a representar
uma resposta possvel crise instaurada por
tais alteraes. A partir de determinado mo-
mento, grandes investimentos em megaproje-
tos, que at recentemente estavam concentra-
dos em reas perifricas ou em reas de expan-
so imobiliria, passaram a dirigir seus esfor-
os e atenes para reas situadas em pontos
centrais, histricos e de grande valor simblicos
nas cidades.
Os cortios enquanto modalidade habitacional na rea central de Santos
O novo modelo de urbanismo iniciado no final
do sculo XIX em certas cidades brasileiras
passou a ser o espao privilegiado das inte-
raes e dos conflitos entre os grupos sociais
mais poderosos interessados ou beneficiados
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pelas intervenes urbanas. A partir dessa po-
ca, as negociaes desses grupos sociais com
o poder pblico e o papel subalterno que foi
dado s camadas populares em geral exclu-
das das decises que afetam a cidade se con-
figuraram na regra dos processos sociais que
resultaram nas intervenes urbanas (Frgoli
Jr., 2000, p. 20).
Entretanto, tambm nesse mesmo
processo, que est ligado ao sistema expor-
tador de caf e aos primrdios da industriali-
zao que se iniciou nas ltimas dcadas do
sculo XIX, que o cortio, como modalidade
de habitao operria mais antiga em cidades
como So Paulo e Santos, aumentou vertigi-
nosamente sua quantidade em decorrncia
do grande fluxo de imigrantes (Kowarick e
Ant, 1994, pp. 73-91). Entre 1886 e 1900, es-
sas duas cidades cresceram, respectivamente,
223% e 403%, dividindo entre si as maiores
responsabilidades do setor urbano da econo-
mia cafeeira.
Dessa forma, para milhares de trabalha-
dores ocupados com as obras do cais, com o
embarque do caf e com os trabalhos na estra-
da de ferro, a proximidade ao Centro era im-
prescindvel. Tal situao, somada ao incessan-
te aumento da populao, esgotou a oferta de
moradias prximas ao local de trabalho, dando
origem a uma desenfreada especulao imobi-
liria, em que muitas das casas deixadas pelos
que fugiam da febre amarela, inicialmente nos
bairros Centro e Valongo, foram transformadas
em habitaes coletivas repartidas em peque-
nos cubculos e subalugadas a dezenas de fa-
mlias imigrantes. Essas casas de cmodos
eram subalugadas s famlias que pagassem
o maior preo possvel. A fiscalizao muni-
cipal contou, certa feita, 186 moradores numa
casa do largo dos Gusmes que no deveria
acomodar sequer a quarta parte disso (Gam-
beta, 1984, p. 19).
Os proprietrios dos cortios geralmente
se aproveitavam dos quintais das residncias
e casas de comrcio onde construam em ma-
deira e zinco diversos barracos enfileirados,
assemelhando-se bastante aos descritos, em
1890, por Aluzio Azevedo em sua obra rea-
lista O Cortio. O terreno no era cimentado,
no havia gua corrente e uma nica latrina
servia a todas as famlias. Certas vezes, nem
mesmo latrina existia e os dejetos recolhidos
eram lanados em fossas permeveis abertas
no solo. Lugares como os armazns, o espa-
o entre o forro e o telhado, os corredores,
os vos das escadas, os pores subterrneos,
ou seja, qualquer local onde se possa colocar
uma cama ou esteira era usado como moradia
ou dormitrio. Em 1890, foram contados, pe-
la municipalidade, 771 cortios numa cidade
que no tinha mais de 3.000 prdios no total,
ou seja, pode-se estimar que pouco menos da
metade de toda populao morava em corti-
os (ibid., p. 20).
Foi nessa situao de total degradao
que, em 1892, as obras da rede de esgotos da
cidade foram encampadas pelo Governo do
Estado atravs da Comisso Sanitria instala-
da em fevereiro de 1893. Em 1897, a Sanitria
como era chamada, foi fortalecida pelo Cdi-
go de Posturas Santista que, junto com o C-
digo Sanitrio do Estado, promoveu grandes
transformaes nas construes e no meio
urbano. A extino dos cortios e das cochei-
ras era um dos principais pontos do programa
e eles foram, de forma violenta e autoritria,
sendo demolidos do meio urbano entre 1896
e 1900.
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Ao se definir pela demolio ou desocupa-o das habitaes dos trabalhadores no se pensava onde os alojar. Isso no era rbita da Comisso Sanitria. Em geral, num movimento de expanso das frontei-ras urbanas os despossudos foram reco-locar os mesmos padres de habitao e precariedade, mas longe dos olhares civi-lizados. (Lanna, 1996, p. 113)
Aps a demolio dos cortios e a trans-
ferncia das cocheiras para longe das reas de
adensamento, os trabalhadores sem ter aonde
ir comearam a construir nos arredores barracos
iguais aos que alugavam nos quintais das casas.
Entretanto, todo o processo histrico,
econmico e espacial ocorrido at ento ser
o momento de ruptura a partir do qual a regio
central da cidade consolidar sua tradio por-
turia e comercial e se tornar, com todas as
transformaes do final do sculo XIX e come-
o do XX, em uma cidade civilizada, saneada e
moderna. Porm, esse ser tambm o momen-
to em que o Centro comear a perder uma de
suas principais caractersticas qual seja , o
lugar de moradia das camadas de alta renda.
As espaosas casas trreas e os sobrados do
Paquet e do Valongo so em pouco tempo
transformados em habitaes coletivas de esti-
vadores, porturios e empregados do pequeno
comrcio.
As famlias de maior poder aquisitivo to-
mam o caminho da Barra, isto , das praias,
que tiveram seu acesso facilitado pelo sistema
de bondes puxados a burro, pela orientao
das novas Avenidas Ana Costa e Conselheiro
Nbias e pelos canais de Saturnino de Brito.
A partir desse perodo, foi relegada ao Centro
outra funo na estruturao econmica e
espacial da cidade.
Como mostrou Lanna:
[...] essa dualidade permanece at hoje quando existem quase duas cidades. A ligada praia e a do centro. Uma mais moderna, turstica, mais rica. A outra, chamada centro, concentra as atividades comerciais, de abastecimento, a zona ce-realista, atacadista, os cortios, a popu-lao mais pobre muitas vezes ligada aos trabalhos do porto. (1996)
preciso observar tambm que, at os
anos 1930, a acumulao produtiva estava ba-
seada em torno de poucos lugares, nas proximi-
dades do cais, estruturando a cidade de modo
a concentrar os trabalhadores nos locais prxi-
mos ao trabalho, pois, alm das longas jorna-
das de trabalho, os gastos com o transporte em
bondes, se as distncias fossem longas, seriam
extremamente elevados e, portanto, incompat-
veis com a compensao salarial.
Quando Santos ultrapassa 220 mil habi-
tantes, entre as dcadas de 40 e 50, tem incio
a ocupao nos morros, mangues e restingas
e os terrenos que ladeavam a velha linha 1 de
bondes, rea pantanosa e pouco povoada que,
por isso mesmo abrigava, desde fins do sculo
XIX, o Matadouro Municipal. Essa populao
instala-se tambm em reas de pior infraes-
trutura dos municpios de Cubato (Jardim
Casqueiro), So Vicente (Humait e Samarit),
Guaruj (Vicente de Carvalho) e Praia Grande
(Carvalho, 1999; Pimenta, 2002).
Durante as dcadas de 60 e 70, com o
crescimento do polo industrial de Cubato,
bem como com a expanso do comrcio e do
turismo ligados orla nas outras cidades da
regio metropolitana como So Vicente, Gua-
ruj e Praia Grande, o Centro tradicional foi
sendo gradativamente preterido por atividades
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geradoras de fluxos e substitudo por outras
de menor rentabilidade, informais e, por ve-
zes, ilegais e praticadas por usurios e morado-
res com menor ou quase nenhum poder aquisi-
tivo (Vargas e Castilho, 2006, p. 4).
O panorama socioeconmico da rea central
O perodo dos anos 1980 traz, segundo
Kowarick (2002), a configurao de um fato
indito em nossa histria republicana, isto ,
o bloqueio na mobilidade social ascendente.
O resultado de tal situao foi o considervel
aumento do contingente de trabalhadores
desempregados ou que desenvolviam tarefas
assalariadas marcadas pela informalidade. Na
mesma direo, o emprego assalariado formal
decresce ao longo das dcadas de 1990 e in-
cio do sculo XXI.
Na Tabela 1, podemos ver como, num
perodo de apenas quatro anos, apesar das
oscilaes, a porcentagem de pessoas na in-
formalidade aumentou de 29,2% para 33,0%.
Com uma participao muito grande de pes-
soas na informalidade em razo do desem-
prego, o trabalhador, quando consegue se
integrar cadeia produtiva, o faz de forma
precria, alm de no garantir acesso aos
direitos sociais bsicos e de ter uma renda
muito baixa. Nessa direo, a parcela de pes-
soas desempregadas tambm muito alta. A
Tabela 2 mostra uma parcela considervel de
22,1% da populao economicamente ativa
desempregada em fins da dcada de 1990 na
cidade de Santos:
jun/99 mar/00 set/00 mar/01 set/01 mar/02 set/02
% formal 70,8 80,9 77,8 69,8 70,0 65,0 67,0
% informal 29,2 19,1 22,2 30,2 30,0 35,0 33,0
Total 100 100 100 100 100 100 100
Tabela 1 Participao do mercado de trabalhoformal e informal em Santos/SP
Fonte: Ncleo de Estudos Socioeconmicos (setembro/2002).
Tabela 2 - Populao economicamente ativa
Habitantes
Total 257.033
Empregados 200.144
Desempregados 56.889
ndice de desemprego 22,1%
Fonte: Ncleo de Estudos Socioeconmicos (dezembro/1998).
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Dentre os desempregados, destaca-se o
elevado nmero de jovens nessa situao, co-
mo mostrado na Tabela 3, em que se somando
a porcentagem de jovens entre 15 e 17 anos
mais as porcentagens de jovens entre 18 e 24
e entre 25 e 29, chega-se enorme porcenta-
gem de 55% dos jovens entre 15 e 24 anos
desempregados.
Essa parcela da populao, que repre-
senta um nmero bastante alto em meados
dos anos 1980 e 1990, caracteriza, segundo
Kowarick (2002), nossa questo social, onde
essas recentes situaes precrias de trabalho
e, por conseguinte, de moradia caminham no
sentido terico de problematizar o conceito de
desfiliao que, conforme proposto pelo autor,
baseado em Castell (1998), denota perda de
razes e remete queles que foram desliga-
dos, desatados, desabilitados para os crculos
bsicos da sociedade. Esses indivduos esta-
riam desenraizados social e economicamente
com o enfraquecimento de certas relaes so-
ciais referentes famlia, ao bairro, vida as-
sociativa e ao prprio mundo do trabalho, com
o desemprego de longa durao ou o trabalho
irregular, informal ou ocasional que o faz estar
excludo do sistema produtivo (Kowarick, 2002
apud Castell, 1998).
nesse quadro de subcidadania e au-
mento do desemprego nos anos de 1980 e
1990, que foi feito o primeiro levantamento
sobre a situao socioeconmica precria dos
cortios em Santos. Apesar do processo de pe-
riferizao que ocorreu na Baixada Santista a
partir dos anos 50, o cortio nunca deixou de
existir e, em certos momentos, alcanou den-
sidades populacionais bastante altas. Sobre os
cortios Kowarick e Ant (1994), afirmam que:
Tabela 3 Emprego e desemprego em Santos
Faixa etria Desempregados Empregados
Abaixo de 15 anos 3,1 0,7
De 15 a 17 anos 10,7 2,0
De 18 a 24 anos 34,4 22,3
De 25 a 29 anos 9,9 12,1
De 30 a 38 anos 19,1 16,5
De 40 a 49 anos 13,7 25,6
De 50 a 59 anos 7,6 13,2
Acima de 60 anos 1,5 7,6
Total 100 100
Fonte: Ncleo de Estudos Socioeconmicos, dezembro/1998.
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Nas reas mais centrais da cidade, de implantao mais antiga, em zonas que jamais alcanaram altos valores imobili-rios e mesmo em reas extremamente valorizadas, esto os cortios que, pela proximidade dos servios, pela disponibi-lidade de infraestrutura e principalmente pela facilidade de transportes, abrigam aquela parcela de trabalhadores que, por opo ou por obrigao, recusa o padro perifrico. Comprar um terreno, construir uma casa, por mnima que seja, exige um arranjo familiar e econmico que nem to-dos podem enfrentar. Por outro lado, estar prximo ao trabalho, ter um transporte de fcil acesso aos diversos pontos da cida-de, gastar menos tempo e dinheiro para se locomover, usufruir dos servios e at mesmo da diverso so fatores que, con-trapostos ao isolamento e precariedade da periferia, pesam significativamente.
Segundo estimativas realizadas pela
Prefeitura, atravs da Secretaria de Desenvol-
vimento Urbano e Meio Ambiente, no ano de
1990, existiam 840 habitaes coletivas prec-
rias de aluguel na cidade (Sedam, 1992).
Os levantamentos posteriores, de 2001,
feitos pela Fundao Seade para o Programa
de Atuao em Cortios (PAC) da CDHU do Go-
verno do Estado, mais a pesquisa de 2002, feita
pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura,
apontam para 14.500 moradores encortiados
nos bairros Vila Nova, Paquet e parte da Vila
Mathias.
A seguir, apresentamos os dados mais
relevantes, segundo as diferentes pesquisas, co-
meando pelo PAC, que teve como base territo-
rial de amostra a Rua Amador Bueno e Avenida
So Francisco no Paquet. Nessa pesquisa, o to-
tal de imveis pesquisados foi de 40. O total de
domiclios e de domiclios ocupados foi de 352
e 239 respectivamente. Dentre as famlias resi-
dentes, o nmero foi de 253 e o total de indiv-
duos residentes foi de 622. O perodo da coleta
de dados foi em setembro e outubro de 2001.
Fonte: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, 2002.
Grfico 1 Distribuio dos indivduos segundo faixa etria
At 9 anos
10 a 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
60 a 69 anos
70 anos e mais
20%
16%
19%
13%
14%
9%
3%6%
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O perfil da populao pesquisada
predominantemente jovem. Mais da metade
possui at 29 anos (55,9%), com significa-
tiva concentrao de crianas (21,3%). Do
outro lado da pirmide etria encontramos
poucos indivduos com mais de 60 anos, ape-
nas 9%.
elevada a proporo de chefes de
famlia fora do mercado de trabalho. Cerca
de 70% dos chefes de famlia esto ocupa-
dos, contudo, 10,4% encontram-se desem-
pregados e 21,5% no trabalham por outros
motivos.
O rendimento per capita, entre as fam-
lias encortiadas, concentra-se nas classes de
meio at um salrio mnimo (32,5%) e mais de
um at dois salrios mnimos (31,6%) sendo
18,4% sem rendimentos ou que dispem de
at meio salrio mnimo per capita, como mos-
trado no Grfico 3.
A maioria dos domiclios tem apenas um
cmodo e esse espao interno bastante re-
duzido. Lembrando que se considera cmodo
todo compartimento contido no domiclio que
separado por paredes fixas de alvenaria ou
de madeira:
Grfico 2 Insero no mercado de trabalho e renda
Fonte: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, 2002.
Trabalha
No trabalha porque noencontra trabalho
Outros motivos
10%
68%
22%
Grfico 3 Distribuio das famlias segundo renda per capita
Fonte: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, 2002.
Sem rendimento
At 0,5 salrio mnimo
Mais de 0,5 at 1 salrio mnimo
Mais de 1 at 2 salrios mnimos
Mais de 2 at 3 salrios mnimos
Mais de 3 at 4 salrios mnimos
Mais de 4 at 5 salrios mnimos
Mais de 5 salrios mnimos
15%
33%32%
9%
5%
1%
2%
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Como podemos ver no Grfico 4, na
grande maioria dos domiclios (83,3%), os dife-
rentes espaos internos no possuem divisrias
mveis ou improvisadas. Apenas 16,7% das
unidades habitacionais contm cortinas, arm-
rios e outros tipos de paredes removveis para
separar funes como, por exemplo, o quarto e
a cozinha (ou a cama e o fogo) (CDHU, 2002,
p. 33).
O resultado do censo dos moradores dos
cortios foi realizado pela Seplan, entre outu-
bro e dezembro de 2002, e divulgado em agos-
to de 2003. O universo da pesquisa consistiu
em 14.500 moradores encortiados e a amos-
tra feita corresponde a 1.238 moradores inte-
grantes de 412 famlias pesquisadas.
Os principais dados so bastante pare-
cidos com a pesquisa realizada pela Fundao
SEADE. Assim como na pesquisa encomendada
pela CDHU, a populao predominantemente
jovem: 41% possuem de zero at 19 anos, 60%
de zero at 29 anos e somente 15% esto aci-
ma de 50 anos. A maioria das famlias possui
at trs pessoas (68%) e estas so naturais do
estado de So Paulo. Foi constatado que 23%
das famlias tm apenas um filho e as que pos-
suem um nmero acima de quatro filhos com-
pem a minoria, com apenas 8%.
A baixa renda familiar predominante po-
de ser explicada pela baixa escolaridade. Dos
chefes de famlia, 10% so analfabetos e 67%
possuem apenas o curso fundamental incom-
pleto. J nos aspectos econmicos, conclui-se
que 93% dos chefes de famlia esto econo-
micamente ativos, porm apenas 47% tm
atividade profissional formal com comprovao
de renda. A maioria dessas pessoas recebe at
R$400, representando 73% da amostra, e 40%
recebe menos de R$200.
No que se refere s questes fsicas, a
maior parte das famlias (86%) ocupa apenas
um cmodo nas residncias e foram verifica-
dos, em alguns casos, que essas famlias tm
um nmero alto de componentes habitan-
do esse local sem condies fsicas para essa
demanda.
Grfico 4 Distribuio dos domiclios segundo presena de divisrias
Fonte: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, 2002
Sequncia 1
80
0
20
40
60
100
Possuem divisrias No possuem divisrias
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Habitao precria e os cortios da rea central de Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011 559
A distribuio das famlias nos cortios
mostra que 51% dessas habitaes compor-
ta de uma a seis famlias em cada um. E em
15% desses cortios coabitam de treze a vinte
e quatro famlias se somarmos as porcentagens
dos cortios com treze a quinze famlias, mais
a porcentagem com dezesseis a vinte e quatro
famlias, como mostrado no Grfico 6.
Grfico 5 Distribuio das famlias segundo nmero de cmodos
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, 2003.
1 Cmodo2 Cmodos
3 Cmodos
6 Cmodos ou mais
86%
1%
3%
10%
Grfico 6 Distribuio dos cortios segundo nmero de famlias
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, 2003.
De 1 a 3 famlias
De 4 a 6 famlias
De 7 a 9 famlias
De 10 a 12 famlias
De 13 a 15 famlias
De 16 a 24 famlias
34%
17%9%6%15%
19%
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Andr da Rocha Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011560
Outros dados que mostram o alto nvel
de precariedade e promiscuidade das habita-
es so os relativos ao uso do banheiro e do
tanque de lavar roupa, onde 91% dos domic-
lios utilizam banheiros coletivos e em 94% os
tanques so de uso comum.
Quanto aos vnculos urbanos da popula-
o encortiada permanncia na cidade , o
censo revela que grande parte dos moradores
dos cortios vive no municpio h mais de 15
anos (46%), sendo que 26% do total perma-
necem no mesmo bairro h mais de 15 anos.
A Fundao SEADE criou, em 2000, o n-
dice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS),
com o intuito de construir indicadores que ex-
pressassem o grau de desenvolvimento social
e econmico dos 645 municpios do estado
de So Paulo, alm de identificar os espaos
e as dimenses da pobreza a partir do censo
demogrfico de 2000. Esse ndice classifica os
municpios paulistas referentes s questes de
equidade e condies de vida no interior dessas
localidades. Para os objetivos de nosso trabalho,
reproduzimos a classificao do IPVS dos trs
Grfico 7 Distribuio dos domiclios segundo utilizao do banheiro
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, 2003.
Privado
Coletivo
91%
9%
Grfico 8 Distribuio dos domiclios segundo utilizao do tanque
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, 2003.
Privado
Coletivo
94%
6%
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Habitao precria e os cortios da rea central de Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011 561
grupos de vulnerabilidade social que se situam
nos bairros da rea central:
Grupo 4 Vulnerabilidade mdia: seto-res que apresentam nveis mdios na di-menso socioeconmica; encontrando-se em quarto lugar na escala em termos de renda e escolaridade do responsvel pelo domiclio. Nesses setores concentram-se famlias jovens, isto , com forte presena de chefes jovens (com menos de 30 anos) e de crianas pequenas.
Grupo 5 Vulnerabilidade alta: setores censitrios que possuem as piores condi-es na dimenso socioeconmica (bai-xa), situando-se entre os dois grupos em que os chefes de domiclios apresentam,
em mdia, os nveis mais baixos de renda e escolaridade. Concentra famlias mais velhas, com menor presena de crianas pequenas.
Grupo 6 Vulnerabilidade muito alta: o segundo dos dois piores grupos em ter-mos de dimenso socioeconmica (baixa) com grande concentrao de famlias jo-vens. A combinao entre chefes jovens, com baixos nveis de renda e de escola-ridade e presena significativa de crian-as pequenas, permite inferir ser este o grupo de maior vulnerabilidade pobreza (Seade, 2003).
Para o municpio de Santos, temos o se-
guinte mapa do IPVS:
Figura 1 ndice Paulista de Vulnerabilidade Social Municpio de Santos 2000
Fonte: Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados, 2003.
Setores censitriosMunicpio de SantosHidrografiaLogradouros
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Andr da Rocha Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011562
Os bairros Centro, Valongo, Paquet, Vila
Nova e parte da Vila Mathias esto totalmente
situados entre os grupos de vulnerabilidade m-
dia (grupo 4), alta (grupo 5) e muito alta (grupo
6). Segundo a Fundao Seade, esses dados so
analisados para Santos da seguinte forma:
Grupo 4 (vulnerabilidade mdia): 13.425 pessoas (3, 2% do total) . No espao ocupado por esses setores censitrios, o rendimento nominal mdio dos respons-veis pelo domiclio era de R$450 e 61,9% deles auferiam renda de at trs salrios mnimos. Em termos de escolaridade, os chefes de domiclios apresentavam, em mdia, 5,3 anos de estudo, 88,9% deles eram alfabetizados e 30,1% completaram o ensino fundamental. Com relao aos indicadores demogrficos, a idade mdia dos responsveis pelos domiclios era de 40 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 24,7%. As mulheres che-fes de domiclios correspondiam a 30,4% e a parcela de crianas de 0 a 4 anos equivalia a 12,3% do total da populao desse grupo.
Grupo 5 (vulnerabilidade alta): 31.389 pessoas (7,5% do total ) . No espao ocupa do por esses setores censitrios, o rendimento nominal mdio dos respons-veis pelo domiclio era de R$493 e 57,8% deles auferiam renda de at trs salrios mnimos. Em termos de escolaridade, os chefes de domiclios apresentavam, em mdia, 5,0 anos de estudo, 84,7% deles eram alfabetizados e 28,3% completaram o ensino fundamental. Com relao aos indicadores demogrficos, a idade mdia dos responsveis pelos domiclios era de 46 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 13,8%. As mulheres che-fes de domiclios correspondiam a 32,9% e a parcela de crianas de 0 a 4 anos equivalia a 9,4% do total da populao desse grupo.
Grupo 6 (vulnerabilidade muito alta): 21.378 pessoas (5,1% do total). No es-pao ocupado por esses setores censi-trios, o rendimento nominal mdio dos responsveis pelo domiclio era de R$345 e 74,3% deles auferiam renda de at trs salrios mnimos. Em termos de escola-ridade, os chefes de domiclios apresen-tavam, em mdia, 4,6 anos de estudo, 82,4% deles eram alfabetizados e 21,9% completaram o ensino fundamental. Com relao aos indicadores demogrficos, a idade mdia dos responsveis pelos do-miclios era de 40 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 24,4%. As mulheres chefes de domiclios corres-pondiam a 33,7% e a parcela de crianas de 0 a 4 anos equivalia a 12,3% do total da populao desse grupo. (Seade, 2003)
As estimativas com relao populao
moradora em cortios na cidade de Santos no
so precisas, sendo, em alguns pontos, bastan-
te frgeis. Como afirmam Moreira, Leme, Naru-
to e Pasternak (2006), desde sua conceituao
at sua mensurao, as pesquisas envolvendo
esse tipo de objeto so uma realidade bastan-
te difcil de captar de forma precisa apenas por
pesquisas de carter quantitativo. Contudo, as
repeties de alguns dados em diferentes pes-
quisas realizadas na rea mostram inmeros
traos em comum e apontam para situaes
em que a vulnerabilidade social acontece em
um quadro de precariedade urbana (Moreira,
Leme, Naruto e Pasternak, ibid., p. 23).
Essas condies de precariedade se
transformam, mas a relao entre a vulne-
rabilidade social e a precariedade urbana, ca-
ractersticas de cortios como os de Santos,
que explicam sua existncia e constncia h
mais de um sculo e as dificuldades do Poder
Pblico em erradic-las (ibid.).
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Habitao precria e os cortios da rea central de Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011 563
Planos, programas e projetos envolvendo a questo habitacional
Em 1968, foi aprovado o primeiro plano diretor
da cidade. a primeira legislao a prever zonas
com diferentes adensamentos urbanos, ou seja,
com limites de construo de prdios diferencia-
dos por bairros e regies. O projeto vislumbrava
o uso da orla como zona turstica e proibia a
construo de habitaes no Centro que deve-
ria ser planejado para ser uma zona comercial.
Alm disso, criava zonas mistas, com a possi-
bilidade de explorao comercial e residencial.
Os limites de adensamento foram relativamente
respeitados, embora a lei tenha sido vrias ve-
zes alterada para acomodar interesses imobili-
rios e comerciais, alm das habitaes no Cen-
tro continuarem a existir, na forma dos cortios.
No final da dcada de 1970, esse plano
j no atendia s necessidades reais da cidade
em vista das transformaes urbanas ocorridas
e o resultado foi a contnua decadncia do co-
mrcio no Centro e Paquet, tornando-se, cada
vez mais, bairros de habitaes precrias (Sil-
vares, 1980).
Dessa forma, a cidade chegou ao final da
dcada de 1980 sem uma poltica habitacio-
nal efetiva para o permetro urbano das reas
central e porturia, onde o problema dos cor-
tios no era tratado ou o era de forma isola-
da e separada do conjunto. Apenas na gesto
Telma de Souza (1989-1992) essa questo foi
debatida de forma direta e especifica na pro-
posta do novo plano diretor (PMS, 1995). Nessa
gesto, foram aprovadas as leis de instituio
das ZEIS e de criao do Fundo de Incentivo
Construo de Habitao Popular e do Conse-
lho Municipal de Habitao, bem como foram
desenvolvidas as estratgias de interveno
dos programas em favelas e de novos assen-
tamentos habitacionais, em ao conjunta do
Executivo e segmentos populares (Carvalho,
1999, p. 152).
A poltica de planejamento urbano foi
efetivada na prtica com a implantao da
parte do plano diretor relativo ao Zoneamen-
to Especial de Interesse Social, atravs de uma
poltica municipal de habitao executada no
governo David Capistrano (1993-1996). Com a
definio da habitao como uma das priorida-
des de agenda, esta administrao desenvol-
veu a poltica de habitao sobre as bases das
condies criadas no governo anterior (Martins,
1998, pp. 17-18).
O ponto de partida para a interveno
no setor habitacional foram os novos regula-
mentos institudos com a lei de ZEIS, espec-
ficos para o parcelamento, uso e ocupao
dos lotes urbanos destinados habitao de
interesse social. As perspectivas da sua con-
tinuidade como poltica participativa assenta-
ram-se nos instrumentos legais que, em 1992,
criaram o CMH e as Comisses de Urbanizao
e Legalizao e estabeleceram a diretriz de
atendimento da demanda organizada (Carva-
lho, 1999, p. 153).
A lei de ZEIS compunha o captulo do zo-
neamento especial, delimitando reas do terri-
trio insular do municpio com funes espec-
ficas, objeto de regulao urbana diferenciada,
e inclua ainda as propostas de Zonas Especiais
de Interesse Cultural, Ambiental e Urbans-
tico e de criao de Corredores de Atividades
Econmicas.
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Andr da Rocha Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011564
Essas ZEIS correspondem a reas ocupa-
das por favelas, loteamentos irregulares ou
clandestinos, cortios e terrenos vazios ou mal
utilizados, nas quais o poder pblico se pro-
pe a intervir com base no reconhecimento da
necessidade da populao de ocupar ordena-
damente os espaos urbanos. Identificadas e
delimitadas espacialmente, foram criadas trs
categorias de ZEIS: ZEIS 1, que correspondem a
reas j ocupadas, de forma irregular ou clan-
destina, nas quais se prope a regularizao ju-
rdica e urbanstica; ZEIS 2, que correspondem
a reas no ocupadas, nas quais se prope a
implantar empreendimentos habitacionais
segundo critrios especiais de parcelamento,
uso e ocupao do solo; e ZEIS 3, que corres-
pondem a reas de concentrao de cortios,
localizados em bairros centrais deteriorados,
nos quais o poder pblico prope recuperar as
condies de habitabilidade (ibid., p. 75).
A Lei Complementar que criou as ZEIS foi
promulgada em 15 de maio de 1992. Ela estru-
tura a interveno visando solucionar o proble-
ma de moradia de interesse social atravs de
legislao que regulamenta as zonas de ocupa-
o especial para esse uso especfico, indican-
do os mecanismos jurdicos para o tratamento
da questo fundiria, os mecanismos espec-
ficos relacionados partilha do solo urbano e
s exigncias para edificao e os mecanismos
financeiros prprios para o acesso moradia
popular (Carvalho, 2001, p. 104).
A abrangncia do problema habitacional
objeto de interveno dessa modalidade de zo-
neamento especial destinou-se ao atendimento
da necessidade da populao de baixa renda.
Segundo Carvalho, no caso da ZEIS 3, a inter-
veno feita atravs da ao pblica de:
[...] renovao urbana e produo de uni-dades habitacionais de carter popular atravs da interveno em rea com con-centrao de habitao coletiva precria de aluguel (cortios), onde haja interesse de se promoverem programas e projetos habitacionais destinados prioritariamen-te populao de baixa renda familiar moradora da rea. A delimitao desta rea corresponde ao tipo de zonea mento denominado ZEIS 3. (1999, p. 105)
Contudo, tal mecanismo no conseguiu
se efetivar na prtica. Esse instrumento teve
a sua incluso na lei complementar n. 53/92
ocorrendo de forma distinta dos demais tipos,
no se apoiando em nenhum programa pblico
de interveno em andamento. De forma dis-
tinta das ZEIS 1 e 2, que poucas resistncias so-
freram, a proposta de interveno nos cortios
localizados na rea central da cidade foi critica-
da pelo setor da construo civil.
Nesse sentido, a poltica de interveno
nos cortios e, por decorrncia, na rea cen-
tral da cidade, onde foi delimitado o permetro
de ZEIS 3 teve de ser redefinida, passando a
se estruturar como programa de locao social.
Enquanto programa de locao social, os resul-
tados quantitativos alcanados foram baixos
e, ao final da segunda administrao petista,
apenas dois empreendimentos haviam sido
concludos. Ambos os empreendimentos con-
sistiam na reforma de imveis localizados na
rea central da cidade e visavam o direito de
moradia e no de propriedade populao. O
primeiro atendeu 14 idosos e o segundo, 8 fa-
mlias. Alm destes, em 1996, um terceiro em-
preendimento encontrava-se em andamento e
outros trs em fase de estudos (Carvalho, 1999,
pp. 152-155).
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Habitao precria e os cortios da rea central de Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011 565
Segundo a diretora da COHAB-ST, o pro-
jeto de ZEIS 3 no foi formulado a partir da
demanda expressa por qualquer segmento da
populao, tal como ocorreu com as ZEIS 1 e 2.
Alm disso, tal mecanismo foi incorporado ao
projeto de lei de criao das ZEIS de ltima
hora, posto que se concluiu que era interes-
sante (Carvalho, 2001, p. 106):
A ZEIS 3 no aconteceu na prtica. Tive-mos levantamento, pesquisas em cortios. Chegamos a fazer projeto, no governo do David mais ainda. (...) A ZEIS 3 mesmo no d pra falar que foi uma experincia bem-sucedida... (Ibid.)1
Alm das ZEIS, outro instrumento de
poltica urbana visando questo da moradia
na rea central foi amplamente debatido na
cidade nos ltimos anos. Trata-se do Progra-
ma de Atuao em Cortios da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Governo do Estado. Em 1999, houve o primei-
ro anncio e, em 2001, o primeiro estudo de
ocupao e a proposta de convnio, para dar
incio ao programa criado em junho de 1998.
A iniciativa do PAC visava extinguir esse tipo
de locao habitacional, alm da revitaliza-
o urbana das reas em que se concentram,
permitindo que as famlias permaneam na
mesma regio onde moram e possam usufruir
a infraestrutura disponvel. O Programa con-
centra o seu foco de ao nas reas Centrais,
cumprindo o papel de revitalizar o centro
deteriorado das maiores cidades do Estado.
(CDHU, 2003).
Em 2002, foi aprovada a sano da Lei
Complementar n. 457 que alterou o anexo
I da Lei que criou as ZEIS. Com essas altera-
es ficaram estabelecidas as condies para
a construo de moradias com verbas dos pro-
gramas habitacionais, promovidos pelo Gover-
no do Estado. O Municpio ficou responsvel
pela promoo do ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle de uso.
O CMDU j havia aprovado tambm a
proposta de alterao da Lei de ZEIS, incluindo
algumas das sugestes encaminhadas por con-
selheiros, que visavam melhorar a redao da
proposta, evitando dvidas de interpretao.
Encaminhadas pelos membros ao conselho, as
sugestes foram alvo de debates e avaliaes
que resultaram na aprovao do texto da mi-
nuta do projeto.
O objetivo principal das alteraes, vota-
das pelos componentes do CMDU, foi a melho-
ra da redao, deixando clara a nomenclatura
de locais especificados pela Lei de ZEIS, alm
de explicar no prprio texto da lei alguns
termos especficos da matria. A minuta que
foi confrontada com a Lei atual (cuja alterao
estava sendo sugerida) foi elaborada por meio
do trabalho coordenado pela Seplan, do qual
participaram tcnicos da Cohab Santista, CET
e Seosp. Com a aprovao do projeto, o mu-
nicpio passou a contar com 46 reas de ZEIS
e, entre as novas, est a ZEIS-3 no bairro Pa-
quet no permetro que compreende as ruas
Amador Bueno, Doutor Cchrane, Joo Pessoa
e Conselheiro Nbias (D. O., 28/5/2002).
Tendo como foco a ao nas reas cen-
trais encortiadas das grandes cidades do es-
tado, a equipe do PAC demonstrou grande
interesse em Santos, por conta de algumas
caractersticas que deram ao municpio priori-
dade na implantao do projeto. Dentre essas
caractersticas, o fato de a rea ser bem menor
do que em outras cidades e estar concentra-
da espacialmente, alm de os imveis terem
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Andr da Rocha Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011566
particularidades arquitetnicas de relevo hist-
rico que devero ser reabilitadas, reurbanizadas
e requalificadas urbanisticamente, visando ex-
tinguir esse tipo de concentrao habitacional.
De acordo com o levantamento da Pre-
feitura entregue ao rgo estadual, a rea de
atuao do PAC seria a regio do Mercado
Municipal e do Cemitrio do Paquet, on-
de as intervenes abrangeriam cerca de 10
quarteires. Segundo o convnio, o programa
seria implantado por meio da parceria entre a
Prefeitura, o Governo Estadual e Banco Intera-
mericano de Desenvolvimento (BID) rgo fi-
nanciador , que estaria empregando em torno
de US$100 milhes para o projeto em todo o
Estado (D.O., 5/10/2001).2
Em maro de 2004, houve o ato simbli-
co de acionamento do bate-estaca no terreno
da Rua Joo Pessoa, 400, no Centro, onde seria
construdo um conjunto habitacional com 600
unidades, sendo que as 60 primeiras deveriam
ser entregues em julho de 2005 pela CDHU.
Na mesma solenidade foi anunciado que o
governo estadual estava investindo R$1,4 mi-
lho no projeto que teria trs prdios, de cinco
pavimentos cada. Nesse caso, o municpio no
entraria com nenhum encargo, que seriam sub-
sidiados, meio a meio, pelo BID e CDHU.
Ainda no mesmo ano de 2004, em no-
vembro, o secretrio de Estado da Habitao e
o gerente regional da CDHU, em visita ao Pa-
o Municipal, reafirmaram as parcerias entre
Figura 2 Ruas dos bairrosValongo, Centro, Paquet, Vila Nova e parte da Vila Matias
Fonte: Google Maps, 2007.
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Habitao precria e os cortios da rea central de Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011 567
Prefeitura e Governo do Estado nas polticas
pblicas para moradia popular e anunciaram
que at o final de 2006 seriam totalizadas 339
moradias habitacionais dentro do PAC. O in-
vestimento seria da ordem R$10 milhes e as
construes teriam o cuidado de ser adequada
com os objetivos propostos pela revitalizao
do Centro Histrico (D. O., 29/11/2004).
O programa funcionaria na cidade em
trs frentes. A primeira delas, a Santos F, con-
templaria 60 apartamentos que estavam sendo
construdos na Rua Joo Pessoa, nmero 400.
Depois de dois anos de atrasos, a previso
era de que a obra estaria pronta at maro de
2007, mas esse prazo no foi cumprido.
Na segunda frente do programa, a San-
tos H, na Rua Amador Bueno nmeros 387/397,
a situao no foi diferente. A previso mais
otimista era que as obras seriam entregues
somente em novembro de 2008. Na Santos I,
localizada na Avenida So Francisco nmeros
409/415, as obras para a construo dos 81
apartamentos sequer saram do papel. Ao todo,
as reas abrigariam 311 famlias.
Diante dos constantes atrasos nas obras,
foram realizadas Audincias Pblicas no primei-
ro semestre de 2007, com vrias manifestaes
de cobrana em relao aos programas habi-
tacionais em andamento e os que estavam em
processo de execuo (A Tribuna, 17/6/2006).
Sem uma soluo de curto prazo, a enti-
dade Associao de Cortios do Centro (ACC)
recorreu ao Crdito Solidrio do Ministrio das
Cidades, um programa de habitao destina-
do a associaes e cooperativas de morado-
res que atendem famlias com renda de um
a cinco salrios mnimos. A proposta da ACC
para a construo das unidades habitacionais
foi analisada pela Caixa Econmica Federal,
agente financiador do programa (A Tribuna,
21/6/2006) e empreende desde o incio de
2009 a construo de 181 unidades habitacio-
nais sendo 113 apartamentos pelo Programa
Crdito Solidrio, e 68 pelo Programa Minha
Casa, Minha Vida Entidades, ambos do Go-
verno Federal em terreno recebido pela Se-
cretaria do Patrimnio da Unio (SPU), ligada
ao Ministrio do Planejamento, Oramento e
Gesto, atravs de Concesso de Uso, instru-
mento jurdico do Estatuto da Cidade. A pri-
meira etapa, que prev a construo dos 113
apartamentos, recebeu tambm recursos do
governo do estado de So Paulo.
Essa ao proveniente essencialmente da
organizao popular dos moradores de cortios
hoje (2011) a maior interveno na rea cen-
tral de Santos e, segundo a previso, iro retirar
dos cortios, at o final de 2012, aproximada-
mente 800 pessoas. Contudo, segundo a ACC,
tal iniciativa no tem recebido da prefeitura a
devida ateno, pois desde o incio do proces-
so tem sido buscada uma parceria, atravs da
COHAB Santista, para complementao de re-
cursos para que os apartamentos sejam entre-
gues com todos os seus acabamentos previstos
em projeto, o que no ocorre atualmente. Isso
ocorre porque os recursos disponveis para a
construo so menores do que os recursos
necessrios e, por conta disso, alm de os aca-
bamentos internos dos apartamentos ficarem a
cargo de cada morador, os mesmos ainda esto
tendo que pagar uma parcela da construo
atravs de trabalho por mutiro, ou seja, mem-
bros das famlias participam da construo au-
xiliando na realizao dos trabalhos tcnicos
da mo de obra contratada.
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Andr da Rocha Santos
Cad. Metrop., So Paulo, v. 13, n. 26, pp. 549-571, jul/dez 2011568
Consideraes finais
Muitas das aes e dos acontecimentos relacio-
nados regio central esto ocorrendo junto
com a realizao desta pesquisa e, dessa forma,
procuramos dar uma contribuio discusso e
ao debate mais amplo sobre os caminhos e o
futuro dessa regio. Entretanto, podemos obser-
var que o Centro de Santos vem recebendo nos
ltimos anos diversas interven es do poder
pblico que vem dotando a rea com uma signi-
ficativa infraestrutura urbana e um conjunto de
propostas especficas e articula das. Todas essas
aes tm procurado dinamizar a regio com o
incentivo gerao de empregos, instalao
de atividades econmicas pblicas e privadas e
o reforo da identidade cultural.
O projeto urbano contemporneo tem
colocado na pauta de aes do poder pblico
a importncia do Centro como uma localizao
que, apesar de no estar mais satisfazendo o
papel imobilirio que lhe exigido pela cidade,
possui dentro da rede intraurbana toda uma in-
fraestrutura de transportes, servios e equipa-
mentos j implantada, e investimentos nesses
locais tem a possibilidade de produzir uma no-
va adequao funcional atraindo capital e pes-
soas, tornando a regio convidativa do ponto
de vista turstico e comercial.
Entretanto, podemos afirmar que, apesar
de o poder pblico ter uma ao destacada
no que tange s intervenes de cunho cul-
tural e de entretenimento, no tem tido uma
ao eficaz no que se refere s aes ligadas
a questes sociais, notadamente as relaciona-
das habitao. Segundo o discurso oficial, di-
ficuldades tcnicas, financeiras e polticas so
as razes que tm impedido que a proposta
de edificao de prdios de apartamentos seja
executada na rea. Ainda segundo tal discurso,
dentre as dificuldades que dificultariam a ope-
racionalizao do programa encontram-se as
prprias condies do solo santista, que invia-
bilizariam financeiramente esse tipo de soluo
para segmentos de baixa renda.
Finalmente, podemos acrescentar que a
regio central permanece como uma rea de
alto nvel de excluso social em que os subci-
dados, principalmente na regio do mercado
municipal e no Paquet, l permanecem sem
uma poltica efetiva de promoo da incluso.
A fragilidade da cidadania nessas reas, en-
tendida como as inmeras formas de vulnera-
bilidade quanto ao emprego, aos servios de
proteo social e violncia criminal, alm da
perda ou ausncia de direitos e a precarizao
de servios coletivos que garantiriam uma ga-
ma mnima de proteo pblica para grupos
carentes de recursos privados, tem permaneci-
do sem modificaes como um componente da
vida urbana na regio.
Dessa forma, podemos dizer que dentre
os objetivos pretendidos pelo discurso das ad-
ministraes locais nas ltimas duas dcadas,
alguns foram cumpridos e outros ainda no,
ou seja, apesar dos inmeros avanos, o pro-
jeto ainda no foi capaz de reverter o processo
mais amplo de declnio econmico e nem de
melhorar as condies de vida da populao
residente, pois as principais aes prometidas
na rea habitacional como as relativas ZEIS 3
e ao PAC praticamente no saram do papel, e
a situao social e habitacional na rea perma-
nece sem nenhuma alterao significativa h
mais de trs dcadas.
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Assim, palavras como frustrao e decepo
ilustram o pensamento de grande parte dos mora-
dores dessa regio que em determinado momento
Notas
(1) Entrevista concedida a Carvalho (2001) por Mrcia Cristol Luz, em 6/8/98.
(2) O investimento seria de R$20 milhes, numa mdia de R$22 a 25 mil para cada uma das unidades
que tero em torno de 40m com um ou dois quartos. A prestao do financiamento para as
moradias seria de 15% do salrio mnimo, em torno de R$40,00. Segundo a CDHU, as famlias dos
cortios da Rua Amador Bueno e da Avenida So Francisco seriam cadastradas e identificadas
pela empresa e pela Prefeitura (D. O., 8/3/2004).
Andr da Rocha SantosSocilogo pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de So Paulo. So Paulo, [email protected]
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Centro pudesse, na mesma velocidade, tambm
melhorar suas precrias condies de vida.
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Andr da Rocha Santos
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Texto recebido em 17/fev/2011Texto aprovado em 11/abr/2011