a pequena gigante do kart revista metropole

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0 A pequena gigante do kart por Renato J. Lopes em Esporte e Aventura Quem vê a pequena Thaline Mariana Zanella Chicoski, 17 anos, talvez não saiba, mas ela não é tão frágil quanto parece. Sua aparência de menina, suas longas madeixas louras, olhos azuis e sorriso singelo escondem uma fera do kart, que deixa muito marmanjo comendo poeira em provas por todo o Brasil. Foi paixão à primeira vista. O pai havia comprado um kart para o irmão e não queria deixá-la experimentar. Era perigoso, ela ainda era pequena, era frágil. Mas de tanto ela insistir, o pai deixou Thaline dar umas voltinhas, e a partir daí, já não havia volta. “Andei e na hora me identifiquei”, afirmou. Hoje Thaline briga pelo seu espaço no circuito do Kart nacional, território predominantemente de homens, o que aumenta ainda mais os desafios. “A cada corrida percebo que preciso superar meus limites. É uma paixão pela velocidade, pelo autocontrole e pelo domínio, que me entusiasma a cada dia buscar vencer as dificuldades enfrentadas, em um esporte praticado em sua maioria por pilotos do gênero masculino”, ressaltou. A primeira corrida e outras conquistas A primeira corrida em eventos oficiais aconteceu dois meses depois de ela ter começado a andar. Foi no fim de 2010, durante a última etapa da Copa Paraná de Kart, que aconteceu em Campo Mourão. “Acostumada com a pista, fui incentivada pelo pessoal do kartódromo a participar da etapa final da Copa Paraná. Foi minha primeira corrida. Uma experiência inesquecível”, lembrou. E Thaline não fez feio. Durante os treinos ela andava na frente, porém, no dia da corrida choveu muito e, como ela nunca havia treinado na chuva, a falta de experiência pesou. “Não tinha nenhuma noção, fiz a maior bagunça, algumas rodadas e tentativas de ultrapassagens. Mesmo assim consegui um lugar no pódio, conquistando um troféu de quarto lugar. Meu primeiro troféu!”, comemorou.

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A pequena gigante do kart

por Renato J. Lopes

em Esporte e Aventura

Quem vê a pequena Thaline Mariana Zanella Chicoski, 17 anos, talvez não saiba, mas ela não é tão frágil

quanto parece. Sua aparência de menina, suas longas madeixas louras, olhos azuis e sorriso singelo

escondem uma fera do kart, que deixa muito marmanjo comendo poeira em provas por todo o Brasil.

Foi paixão à primeira vista. O pai havia comprado um kart para o irmão e não queria deixá-la

experimentar. Era perigoso, ela ainda era pequena, era frágil. Mas de tanto ela insistir, o pai deixou

Thaline dar umas voltinhas, e a partir daí, já não havia volta. “Andei e na hora me identifiquei”, afirmou.

Hoje Thaline briga pelo seu espaço no circuito do Kart nacional, território predominantemente de

homens, o que aumenta ainda mais os desafios. “A cada corrida percebo que preciso superar meuslimites. É uma paixão pela velocidade, pelo autocontrole e pelo domínio, que me entusiasma a cada dia

buscar vencer as dificuldades enfrentadas, em um esporte praticado em sua maioria por pilotos do gêneromasculino”, ressaltou.

A primeira corrida e outras conquistas

A primeira corrida em eventos oficiais aconteceu dois meses depois de ela ter começado a andar. Foi no

fim de 2010, durante a última etapa da Copa Paraná de Kart, que aconteceu em Campo Mourão.“Acostumada com a pista, fui incentivada pelo pessoal do kartódromo a participar da etapa final da Copa

Paraná. Foi minha primeira corrida. Uma experiência inesquecível”, lembrou.

E Thaline não fez feio. Durante os treinos ela andava na frente, porém, no dia da corrida choveu muito e,

como ela nunca havia treinado na chuva, a falta de experiência pesou. “Não tinha nenhuma noção, fiz a

maior bagunça, algumas rodadas e tentativas de ultrapassagens. Mesmo assim consegui um lugar no

pódio, conquistando um troféu de quarto lugar. Meu primeiro troféu!”, comemorou.

Depois da primeira conquista, ela continuou a treinar, se esforçar e participar de torneios regionais,

estaduais e nacionais. Em 2011 ela participou da Copa Paraná e Campeonato Paranaense na categoria

de motores Honda quatro tempos, cujos títulos ela conquistou, o que garantiu a participação na Copa das

Confederações em 2012, realizada em Vitória-ES, onde conseguiu o nono lugar. No segundo semestre

de 2012, ela também participou do Campeonato Nova Schin, realizado na Arena Schincariol, em Itu-SP,com o apoio da fabricante de chassis, Mega Kart e Cuca Preparações, terminando em sexto lugar na

classificação geral.

Já em 2013, ela mudou de categoria, participando agora de campeonatos com motores dois tempos, comapoio da fabricante de motores KTT. E já na primeira corrida, ela se destacou, ficando em quarto lugar,

na primeira etapa do campeonato Sul Brasileiro, realizado em Farroupilha-RS, no mês de maio.

Treinamento e patrocínio

No Kartismo, assim como em todo esporte, o treinamento é fundamental, além de dedicação e

determinação. Tanto que os pilotos que mais se destacam são os que treinam regularmente e participamde competições quase todos os fins de semana. Como os custos de treinamento são altos, Thaline acaba

não treinando com a frequência necessária, por falta de apoio. Atualmente ela conta com o apoio daTecno Tools, que é a fabricante de motores KTT, uma empresa genuinamente brasileira e que, apesar de

bem pouco tempo no mercado, quebrou o domínio dos motores importados.

Moda e Estilo

Como ainda não dá para viver apenas do esporte, Thaline se dedica a uma outra profissão. Desde o

início do ano, ela cursa Bacharelado em Moda, em Maringá, na Unicesumar, e divide seu tempo entre asduas atividades que têm muito em comum. “A moda está presente no design do carro, nos modelos de

vestimentas e acessórios automobilísticos, nas pinturas artísticas nos capacetes, etc”, destacou. Como amoda está intimamente ligada ao automobilismo, ela pretende conciliar a profissão com a paixão.

E como piloto, é preciso ter estilo? “Claro. Além de estilo, ter perfil de piloto, postura e disciplina. O

estilo está na coragem de acelerar e frear dentro de uma curva. É preciso ter estilo para superar limitessem errar”, disse.

Assédio e preconceito

A piloto afirmou sofrer com preconceito e assédio no meio do automobilismo, pois a presença femininaem um espaço até então predominantemente masculino já gerou diferentes manifestações. “Normalmente

quando retiro o capacete e as luvas, as pessoas demonstram-se surpresas ao se depararem com uma facefeminina de unhas pintadas, mas sempre fui tratada com muito respeito e carinho pelo pessoal, tanto que

fiz muitas amizades”, ressaltou. Segundo Thaline, muitos admiram a coragem e torcem pelo considerado“sexo mais frágil”, mas para ela, isso não existe. “Para mim, na pista não existe lado, vence quem for o

melhor e sei que com muita determinação e dedicação posso ser a melhor. Por outro lado, vivencioatitudes preconceituosas por parte dos homens. Imagina perder para uma mulher?”, destacou.

Futuro

Como toda jovem, Thaline tem seus próprios sonhos, que, no caso dela, é ingressar na Fórmula Indy. E

para que isso aconteça, é necessário passar por outras categorias inferiores do automobilismo nacional.

“Assim eu vou adquirir experiência e bagagem de forma gradativa, mas para isso acontecer, é necessário

um bom patrocinador”, lamentou ela.

Enquanto isso, ela continua correndo, dentro das possibilidades que tem, tentando participar das

principais provas do circuito nacional, lutando e acreditando que um dia ela vai encontrar o apoio

necessário para subir até o mais alto dos pódios.

Fotografia: Acervo, Mário Ferreira, Maurício Vilela