cadernos f/508 #2
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Segunda edição da revista Cadernos f/508 do Espaço f/508 de Fotografia.TRANSCRIPT
cadernosƒ/508
2013 ∙ f508.com.br
Espaço f/508 de FotografiaNúcleo de pensamento imagético
CA #2
colaboradores
Raquel Pellicano, fotógrafa responsável pelo Estúdio, entre outras coisas, Raquel é pau pra toda obra.
Humberto Lemos, fotógrafo há cerca de 30 anos, é coordenador do Espaço f/508 de Fotografia, e editor do Cadernos f/508. Nem pensem em aparecer com postes, lixei-ras, beija-flores e florzinhas na frente dele.
Rose May Carneiro, doutoranda e co-ordenadora do Núcleo de Cinema do Espaço f/508. Rose é um conjunto ordenado de fotogramas, quase como um roadie movie.
Tainá Seixas, estudante de Audiovisual pela Universidade de Brasília (UnB), é hip-pie chic e Che Guevara de plantão.
Isabela Brito, estagiária, é estudante de Design pela Universidade de Brasília (UnB), entusiasta da fotografia analógica e respon-sável pelo visual do Cadernos f/508.
Julia Salustiano, é fotógrafa, jornalista e mão na roda do f/508.
cadernosƒ/508CA #2
6 Rose May
14 Aice Prina
20 Clarice Gonçalves
32 Galeria f/508: Antonio Nepomuceno
36 Fábio Baroli
50 Raquel Pelicano
54 Bete Coutinho
62 Glenio Lima
70 Humberto Lemos
78 Julio Lapagesse
90 Hermusche
editorial
Na segunda edição dos Cadernos f/508, Brasília é o nosso foco. Fizemos uma com-pilação de trabalhos de artistas brasilienses que, assim como a cidade, são híbridos por natureza. Por aqui, pinturas que transitam pela foto e pelo cinema, com quadros que pedem licença à fotografia para criação de um realismo irônico, criado a pinceladas.
No trabalho de Clarice Gonçalves, a pintura vira suporte para uma reivenção da memória. Memória essa distante no realismo frio das fotografias de Rose May, que vão ao encontro da geometria Bauhaus, gelada nas linhas, mas quente na utilização voraz da luz.
Memória também remexida e latente na aberta caixa de Pandora da série de Deva-neios de Bete Coutinho, que trazem não só as lúdicas lembranças do imaginário infan-til, mas também as sombrias.
Nas pinceladas de Fábio Baroli, o realismo fotográfico faz contraponto com a estética da tinta escorrida e fragmentos de imagem, que direcionam a atenção para detalhes e pedaços de fantasmas que vagam pelas telas.
Já nas curiosas pinturas de Glenio Lima, o misto de culturas está representado em mo-mentos que nos proporcionam uma viagem visual de sensações - que não precisam ser figurativas para nos transportarem.
Mas tudo que é sólido se desmancha no mar... em um mar de imagens. Navegare-mos por fotografias pictóricas e desmem-bradas que, técnicas à parte, desconstroem a realidade almejada pelo momento fotográ-fico, desarticulando a relação causal entre o sujeito principal e o resultado final. Este, aliás, quase sempre inesperado.
Imagens que, fotografias ou pinturas, flutuam como espectros e conseguem pert-encer, ao mesmo tempo, às duas realidades que construímos ao nosso bel-prazer.
As incansáveis experiências de descon-strução e reconstrução imagética criam visões que não deixam espaço para tecnicis-mo, e a fruição da obra, o sentir sinestésico, pedem passagem. Fiquem à vontade para se aventurar.
Agradecemos à todos que enviaram mate-rial para seleção da segunda edição do CA f/508.
Equipe ƒ/508
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Porto inseguroPor Rose May Carneiro
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Nem o lugar da ida, nem mesmo a volta. No fluxo das marés, o barco segue errante, ao sabor dos ventos e das intempéries.
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Ao longe, só nos resta observar a partida. O porto é cada vez mais inseguro.
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Um lugar de ancorar e abraçar o barco. Mas o barco, com o seu coração de metal, se deixa enferrujar e parte deixando rastros de fuligem.
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As ondas abrem o caminho. O sol e a lua são cúmplices do barco, do porto e de algumas vidas que já foram entregues ao amor, mas que hoje, se lançam ao mar.
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alice prina
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alice prina
Por página:
14 Estampa: Deer
16 Estampa: Orquídea
17 Willy, variante
18 Willy
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Por página:
20 Por ser mulher e por ousar não ser mulher, óleo sobre tela, 100x90cm, 2012.
22 Na areia nua das solidões, óleo sobre tela.
24 O cadeado elabora sua ferrugem (the lock produces its rust), óleo sobre tela, 70x89cm, 2012.
25 O simultaneo e o sucessivo high, óleo sobre tela.
26 Que cada gênero de nuvens tenha sua zona de flutuação (Each genre of clouds has its floating zone), óleo sobre tela, 95x45cm, 2012.
28 Num vazio infinito causado pela colisao das particulas solares (In an infinite void caused by the collision of solar particles), 50x40cm, 2012.
30 Bordando labirintos brancos, óleo sobre tela, 160x200cm, 2012.
clarice gonçalves
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A pintura como eterno
retornopor Clarice Gonçalves
Num repositório de memórias inventadas, a pintura confidencia cenas, vontades, diva-gações de memórias antepassadas e revive personagens. Como se ao perder a memória e tendo a oportunidade de refazê-la através de imagens, tateio dentre imagens de fontes diversas, os sussurros de minhas avós, mães, tias, vizinhas, filhas, sobrinhas, en-teadas, cunhadas: íntimas desconhecidas.
A tinta as dá corpo emocional, clausura de si e do outro, se adapta a sensações, não só da imagem ou o manejo desta, mas em conjunto com o formato de seu su-porte, distorcendo as proporções em que normalmente se vê imagens (15x21, A4 entre outras), propiciando outras formas de composição dentro da imagem bidimen-sional e em relação as outras pinturas e o espaço.
Os títulos são trechos, frases, traduções literárias, expressões antes lidas nas mais diversas fontes e também ouvidas em pale-
stras, discussões, filmes ou contextos cotidi-anos dos mais diversos, leituras e diálogos que são consumidos por muitos de nós nas pausas ou durante as expirações e afazeres, são belezas jogadas ao vento que nada mais fiz que separá-las de seu contexto, descartan-do-o e agregando a minhas elucubrações imagéticas, numa tentativa de cons-truir um haicai de palavra, tinta e imagem.
O corpo da obra, a afinidade entre estas imagens, se dá de forma cíclica, produzindo diálogos e narrativas das mais diversas, ao serem dispostas, avizinhadas, inquilinas umas das outras. As pinturas dialogam entre si com vozes advindas de diferentes épocas de produção. O assunto ao invés de se esgo-tar na massificação da produção, (visando uma montagem/apresentação “uniforme”), amadurece, e ressurge em uma oitava acima, em meio a produção mais recente, o “dito” de antes ressurge e acrescenta sua fala, como um adágio, ou conselho de vó.
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galeria ƒ/508
da série Gênesis
Antonio Nepomuceno
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tiragem: 7
60x90cm
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tiragem: 7
60x90cm
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Por página:
36 Piroca do doido, Óleo sobre tela (díp-tico), 150x220cm, 2011.
38 Brucutu, Óleo sobre tela (díptico), 100x160cm, 2011.
40 Dois cara véio apagando o fogo do curtiço da vizinha, Óleo sobre tela, 150x260cm (díptico), 2013.
42 Gênesis3, Óleo sobre tela, 110x230 (díptico), 2013.
44 Meu Matuto Predileto., Óleo sobre tela, 150x260 (tríptico), 2013.
46 Uno zero ou uma Parati arregaçada, Óleo sobre tela, 100x160cm (díptico), 2013.
48 Big Brasil, Óleo e carvão sobre tela (díptico), 150x220cm, 2011.
fábio baroli
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bete coutinho
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bete coutinho
Impulsionada por memórias latentes, a série Devaneios — Entre o real e o imaginário da fotógrafa Bete Coutinho reinventa, de forma intuitiva, sensações, percepções, sentimentos, momentos remanescentes da infância.
Vultos, objetos, paisagens... manchas, que se mesclam como pintura, fundem-se em camadas de significados e questionam o limite entre o real e o imaginário. As ima-gens, estruturadas em composições inco-muns — como num jogo de lembranças —, transformam, reconstroem, preservam e transcendem a própria memória.
O passado salva-se do esquecimento em novas formas de sentido interior.
Devaneios: Entre o real e o imaginário
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impressão fine art
+ infos: f508.com.br/impressao [email protected]
Em uma sala aconchegante, com ilumi-nação adequada, as impressões são reali-zadas em papeis museológicos das marcas Hahnemühle e Canson, que atestam sua conservação e qualidade por cerca de 200 anos. O uso de pigmentos minerais, em impressora HP de 12 cores, garante alta fidelidade de matizes e detalhes na ima-gens, ideais para trabalhos fotográficos, reproduções, desenhos e ilustrações. Pro-jetos, exposições e montagem de portfólio dispõem de descontos especiais.
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glenio lima
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Por página:
62 Sem Título, Técina mista e Acrílica sobre tela, 200x200cm, 2010.
64 Sem Título, Técina mista e Acrílica sobre tela, 200x200cm, 2010.
66 Sem Título, Técina mista e Acrílica sobre tela, 200x200cm, 2010.
67 Sem Título, Técina mista e Acrílica sobre tela, 200x200cm, 2010.
68 Sem Título, Técina mista e Acrílica sobre tela (díptico), 200x400cm, 2010.
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O conjunto de pinturas faz parte de um projeto de Residência Artística realizado no México em 2010. A proposta era criar uma série de pinturas envolvendo duas culturas indígenas, sendo os Yanomamis do Brasil o ponto de partida. No México a cultura indígena prehispânica Mixteca entrou como elemento de contraponto na criação das pinturas — o resultado foi a elaboração de telas de grandes formatos com o surgimen-to de cores e formas que me surpreenderam e me emocionaram. São 4 telas de 2x2 m e um díptico de 2x4 m na técnica mista e acrílica sobre tela.
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da série Intempéries
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julio lapagesse
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julio lapagesse
Por página:
78 O Terceiro Aniversario.
da série Every Sensible Child,
80 Every Sensible Child 1.
81 Every Sensible Child 2.
82 Every Sensible Child 3.
83 Esfinge – Crianças do Deserto.
da série Assembleia Boreal,
84 Assembleia Boreal 1.
85 Assembleia Boreal 2.
da série Peligrafia,
86 O Abraço
87 O Conforto
88 O Encantamento
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hermusche
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Por página:
da série Das Noites Brasilianas,
90 Bombax Longiflorum, pastel oleoso em papel preto, 110x240cm, 2010.
92 Eu espectro (I spectral), pastel oleoso em papel preto, 100x280cm, 2004.
94 Gari noturno (Night worker), pas-tel oleoso em papel preto, 100x210, 1980.
hermusche
hermusche
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96 Janela (Bsb Window), pastel oleoso em papel preto, 70x200cm, 1980.
98 Neons, pastel oleoso em papel preto, 100x280cm, 2004.
100 Neons #2 pastel oleoso em papel preto, 70x200cm, 2004.
102 Sub Rodô pastel oleoso em papel preto, 70x200cm, 1980.
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Pela janela do carro,
quem é ele?
Os desenhos de Hermusche guardam uma grande unidade, apesar das três décadas que separam os primeiros dos últimos. São paisagens urbanas, noturnas. As escolhas estéticas do artista sintetizam uma longa convivência com outras matérias de ex-pressão, a fotografia, o video, a ilustração, o graffite que imprimem ao desenho caracte-rísticas próprias como a preferência por um tipo de lente, a grande angular, e o interesse pela iluminação e pelo movimento. São recursos mobilizados para encenar a gênese de um mundo autônomo e trazer à tona as fantasmagorias poéticas da cidade.
Onde está a estranheza? Quem é o espec-tro que dirige o automóvel? Certamente um espectro que vê demais, que quer deixar um
por Angélica Madeira
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registro da emoção, do impulso ao gesto que se resolve em manchas, linhas e ícones - car-ros, postes, túneis - sempre dentro de um quadro bem demarcado: parabrisa e moldu-ra. O desenho, mesmo em grande formato, não perde sua tensão, a densidade intimista do grafismo, uma espécie de escrita da sub-jetividade. Cria-se assim um personagem, um cronista das noites brasilianas que vê a cidade a partir da janela de seu carro em movimento, ora mais lento, ora acelerado.
Cria-se ao mesmo tempo um universo único, feito de riscos e rabiscos, linhas sinu-osas, enérgicas, verdes, cinzas, vermelhas, amarelas, tirando partido da fatura do pas-tel que, por não empastar completamente o suporte, mantém uma textura porosa e
permite a exploração das possibilidades poéticas da luz. O desenho intitulado Eu, espectro é uma figuração alegórica do de-sejo de narrar desse personagem que, atado por correntes ao volante de seu carro, vê os painéis de néon reservados à publicidade transformados em um poema visual feito de palavras como Sex, Doubt, Death, Carne, Liebe, Lust, Korrupt, Lie, Macht, Love, Vida, Loss, Greed, Freiheit. São idéias-força que provêm de línguas diferentes, revelado-ras da trajetória nômade e da herança mul-tiétnica e multicultural do artista.
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