caderno violencia idoso atualizado 19jun

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  • 7/31/2019 Caderno Violencia Idoso Atualizado 19jun

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    Caderno de Violncia

    Contra a Pessoa Idosa

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    2 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Caderno de

    Violncia contra Pessoa Idosa

    ORIENTAES GERAIS

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    COORDENADORIA DE DESENVOLVIMENTO EPOLTICAS DE SADE - CODEPPS

    Caderno de

    Violncia contra a Pessoa Idosa

    ORIENTAES GERAIS

    Coordenao Geral

    rea Tcnica Cultura de Paz, Sade e Cidadania - CODEPPS/SMS

    Coordenador: Nelson Figueira Jnior

    Equipe Tcnica

    Jonas Melman

    Maria Ermnia Celiberti

    Mariangela Aoki

    Organizao

    rea Tcnica Sade do Idoso / CODEPPSSrgio Mrcio Pacheco Paschoal - Coordenador

    Equipe Tcnica

    Maria das Graas Lira Oliveira

    Marilia Anselmo Viana da Silva Berzins

    ElaboraoMarlia Anselmo Viana da Silva Berzins

    Colaborao

    IMSERSO - Instituto de Mayores y Servicios Sociales - Ministerio de Trabajo

    y Asuntos Sociales - Espanha

    Secretaria Municipal da SadeSo Paulo

    2007

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    FICHA CATALOGRFICA

    S241ca So Paulo (Cidade). Secretaria da Sade.

    Violncia domstica contra a pessoa idosa: orientaes gerais.

    Coordenao de Desenvolvimento de Programas e Polticas de Sade -

    CODEPPS. So Paulo: SMS, 2007

    68 p.

    1. Violncia domstica. 2. Idoso. I. Coordenao de Desenvolvi-

    mento de Programas e Polticas de Sade - CODEPPS. II. Ttulo.

    CDU 616.89-442

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 5

    2007 - Secretaria Municipal da Sade

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte

    e que no seja para venda ou qualquer fim comercial.

    Srie Cadernos Violncia e SadeVolume 3 - Violncia contra a Pessoa Idosa

    Prefeito da Cidade de So Paulo

    Gilberto Kassab

    Secretrio Municipal da Sade

    Januario Montone

    Coordenador da Coordenao de Desenvolvimento de Programas e

    Polticas de Sade - CODEPPS

    Cssio Rogrio Dias Lemos Figueiredo

    Ficha Tcnica

    Editorao - Uni - Repro Solues para Documentos LTDA

    Reproduo - Uni - Repro Solues para Documentos LTDA

    Edio

    1 edio - 2007

    Tiragem: 3.000

    Coordenao de Desenvolvimento de Programas e Polticas de Sade

    Rua General Jardim n 36 - 5 andar

    Vila Buarque - So Paulo/SP

    CEP: 01223-906Telefone: (11) 3218-4112

    E-mail: [email protected]

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 7

    SUMRIO

    Apresentao

    Envelhecer com dignidade, um direito humano fundamental ..................... 13

    Algumas reflexes sobre o lugar social da velhice do velho ...................... 16

    Quem cuida de quem cuida? ...................................................................... 18

    Violncia contra a pessoa idosa: uma realidade oculta ............................. 21

    Violncia contra a pessoa idosa: vamos romper o pacto do silncio! ........ 23

    Princpios orientadores................................................................................ 26

    Definindo Violncia contra a Pessoa Idosa ................................................ 28

    Tipologia da violncia.................................................................................. 29

    Como prevenir a violncia contra a pessoa idosa ...................................... 31

    Perfil da vtima e do agressor ..................................................................... 33

    Avaliao na prtica assistencial ................................................................ 34

    Atuao preventiva ..................................................................................... 37

    Como detectar a violncia contra a pessoa idosa ...................................... 39

    Indicadores de violncia contra a pessoa idosa ......................................... 42

    Sugestes para facilitar a comunicao ..................................................... 45

    Violncia constatada: sugestes para a entrevista ................................... 50

    Interveno profissional .............................................................................. 55

    Violncia institucional .................................................................................. 59

    Declarao de Buenos Aires ...................................................................... 62

    Concluses ................................................................................................. 64

    Referencia bibliogrfica ............................................................................... 65

    Anexo .......................................................................................................... 66

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    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos ao IMSERSO - Instituto de Mayores y Servicios Sociales -

    rgo do Ministrio de Trabajo y Asuntos Sociales do governo da Espanha, na

    pessoa da Dra. Ana Buron que autorizou a traduo livre de partes do docu-

    mento da Coleccin Manuales y Guias - Serie Personas Mayores: "Malos tratos

    a persona mayores: Guia de Actuacin" publicado em 2006, 2 edio.

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    10 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    NADA IMPOSSVEL DE MUDAR

    Bertolt Brecht

    Desconfiai do mais trivial,

    Na aparncia singela.

    E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

    Suplicamos expressamente:

    No aceiteis o que de habito como coisa natural,

    Pois em tempo de desordem sangrenta,

    De confuso organizada, de arbitrariedade consciente,

    De humanidade desumanizada,

    Nada deve parecer natural

    Nada deve parecer impossvel de mudar.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 11

    APRESENTAO

    Os problemas relativos violncia vm ganhando cada vez mais visibilida-

    de, tendo se tornado uma questo importante para a Sade Pblica em nossa

    cidade. Diminuir o ndice de morbimortalidade causada pelas formas mais

    freqentes de violncia e de acidentes constitui um grande desafio para o setor

    sade.

    Ao mesmo tempo, a compreenso da complexidade do fenmeno exige

    uma abordagem intersetorial e interdisciplinar na formulao de polticas pbli-

    cas integradas de superao da violncia e preveno dos acidentes.

    Nesta perspectiva, a gravidade e a abrangncia do fenmeno exige quetodos participem ativamente deste movimento. Trata-se de envolver a comuni-

    dade, estimulando o compromisso e a responsabilidade de todos na preserva-

    o dos direitos das pessoas e na construo da cultura de paz na cidade de

    So Paulo.

    Para minimizar o impacto da violncia sobre os cidados que procuram as

    unidades de sade, a Secretaria Municipal da Sade est implementando arede de cuidado de ateno integral s pessoas em situao de violncia,

    articulada com outras redes sociais, que possa oferecer uma ateno de qua-

    lidade s pessoas em situao de violncia em cada regio da cidade. Da

    mesma forma, est implantando um sistema de informao que possibilite a

    produo do conhecimento das diversas formas de violncia e acidentes para

    se dimensionar o seu impacto na vida das pessoas e nos servios de sade.

    Est realizando aes de preveno e promoo da sade que visem garantirdireitos, valorizar e respeitar a todas as crianas, os adolescentes, as mulheres

    e os homens, com a participao da comunidade.

    Este Manual faz parte de uma srie de outros manuais para apoiar os

    profissionais da sade no atendimento s pessoas em situao de violncia,

    principalmente dos grupos mais vulnerveis violncia domstica e sexual:

    criana e adolescente, mulher e pessoa idosa.

    Cssio Rogrio Dias Lemos Figueiredo

    CODEPPS/SMS

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 13

    ENVELHECER COM DIGNIDADE, UM DIREITOHUMANO FUNDAMENTAL

    Srgio Mrcio Pacheco Paschoal1

    Velhice tem sido pensada, quase sempre, como um processo degenerativo,

    oposto a qualquer progresso, como se nessa etapa da vida deixasse de existir

    o potencial de desenvolvimento humano. O esteretipo tradicional da velhice

    o de pessoas doentes, incapazes, dependentes, demenciadas, rabugentas,

    impotentes, um problema e nus para a sociedade.Envelhecer um processo, inerente a todos os seres humanos, que se

    inicia na concepo e perpassa todos os dias de nossas vidas. A cada instante

    tornamo-nos mais velhos que no instante anterior. Todos envelhecemos e, os

    mais jovens, um dia, sero os idosos de seu tempo. Esse processo pode

    resultar em duas situaes-limite: uma com excelente qualidade de vida e outra

    com qualidade de vida muito ruim. Entre esses dois extremos, diversas situa-

    es intermedirias. Em qual extremo vamos chegar depende de inmerasvariveis, algumas pertencentes a ns mesmos como indivduos e, as demais,

    dependentes da sociedade e do meio em que vivemos.

    Este Caderno pretende contribuir para compreender a situao de violncia

    que boa parte dos idosos brasileiros vivencia. O recente interesse sobre o tema

    est vinculado ao acelerado crescimento nas propores de idosos em quase

    todos os pases do mundo, o Brasil no fugindo regra. Esse fenmeno

    quantitativo repercute nas formas de visibilidade social desse grupo etrio e na

    expresso de suas necessidades. H um fenmeno paradoxal, em que o en-

    velhecimento populacional visto, de um lado, como conquista da humanidade

    e, de outro, como um problema, com enormes demandas para a sociedade,

    como a aposentadoria, a epidemia de doenas crnicas com suas seqelas e

    complicaes, a necessidade de oferta aumentada de servios sociais e de

    sade, a necessidade de cuidados de longa durao e assim por diante. H um

    1Coordenador da rea Tcnica de Sade do Idoso - CODEPPS/SMS

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    14 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    "desinvestimento" poltico e social na pessoa do idoso. A maioria das culturas

    tende a separar esses indivduos, segreg-los e, real ou simbolicamente, a

    desejar sua morte (Minayo, 2003).

    Quando se fala em violncia contra as pessoas idosas, pensa-se imediata-mente na violncia fsica, mas esta no a nica, pois h inmeras formas de

    violncia, veladas e mascaradas. A violncia tambm pode manifestar-se como

    psicolgica, econmica, moral, sexual, pode ser familiar, social, institucional,

    estrutural e pode resultar de atos de omisso e negligncia. Muitas vezes no

    a reconhecemos, pois os idosos tm importncia menor num mundo que valo-

    riza o vigor e a beleza da juventude. Sem perceber, tornamos os idosos cida-

    dos de segunda classe. Mesmo com leis avanadas, seu descumprimentodesqualifica sua importncia como cidados: "Apesar da existncia do Estatuto

    do Idoso, os idosos continuam a ter seus direitos desrespeitados, sendo trata-

    dos, por vezes, como crianas ou pessoas incapazes" (Mirian Trindade, CMI de

    Joo Pessoa, PB).

    Pessoas idosas no querem mais do que as outras: desejam eqidade, um

    direito humano. Querem um tratamento digno, independentemente de sexo,

    raa, origem tnica, deficincia, situao econmica. necessrio mudar ati-tudes, prticas e polticas, para concretizar as potencialidades do envelheci-

    mento, favorecendo-o como digno e seguro e criando oportunidades de desen-

    volvimento pessoal. fundamental garantir a participao dos idosos na vida

    econmica, poltica e social, participao como cidados em plenos direitos e

    desenvolver plenamente seu potencial, mediante acesso a recursos culturais,

    espirituais, educativos e recreativos. Para eliminar a violncia e a discrimina-

    o, preciso valorizar a famlia, garantir a igualdade entre gneros e criarmecanismos de proteo social.

    Deve-se reconhecer as contribuies dos idosos frgeis, doentes e vulne-

    rveis e garantir seus direitos de ateno e segurana, para se construir "uma

    sociedade para todas as idades", onde mesmo os mais dependentes possam

    dar alguma contribuio, no mnimo dos exemplos de vida.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 15

    O que importa dignidade! Uma velhice digna e respeitosa, que valha a

    pena ser vivida! Vivida com conforto, segurana, carinho, ateno, respeito,

    amor, alegria, felicidade, autonomia e que favorea o envelhecimento ativo.

    Independentemente do passado que tiveram, todos merecem respeito nesse

    instante da vida.

    Como profissionais de sade temos enorme responsabilidade na preven-

    o, diagnstico e tratamento da violncia contra as pessoas idosas. Organizar

    nossos servios para ateno a esse grupo etrio em todos nveis, oferecer

    condutas adequadas atravs de profissionais preparados e sensibilizados,

    garantir acesso e acessibilidade, tratar com respeito e dignidade, so condi-

    es necessrias para garantia do direito sade e condies importantespara que tambm no sejamos ns os perpetradores de violncia contra essas

    pessoas, que merecem respeito e dedicao.

    Que os sonhos se transformem em conquistas. Sonhos de uma velhice

    plena, com direito vida, paz, diversidade, incluso social, cidadania,

    boa aposentadoria, boa qualidade de vida e boa qualidade de morte.

    preciso levar dignidade aos dias finais!

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    ALGUMAS REFLEXES SOBRE O LUGAR SOCIALDA VELHICE E DO VELHO

    Elisabeth Frohlich Mercadante2

    A longevidade humana apresenta-se atualmente como uma grande con-

    quista histrica e social.

    Viver a longevidade revela o aumento da vida humana em sua durao

    cada vez mais temos velhos mais velhos e tambm aponta para o crescimen-

    to de um nmero maior de pessoas idosas. Esses dados so indicadores

    seguros que evidenciam os idosos como compondo um dos grupos que mais

    cresce na sociedade brasileira.

    Diante do crescimento populacional do segmento idoso e do aumento do

    nmero de anos de vida, impe-se hoje pensar e analisar a velhice, no como

    o fim da vida mas, como uma nova etapa a ser vivida.

    A nossa sociedade prioriza o novo, destaca a juventude como um valor

    cultural a ser perseguido por todos e apresenta o futuro como algo prprio que

    pertence ao jovem.

    O velho aparece como o oposto do jovem, sem futuro, vivendo de lembran-

    as de uma vida passada j vivida como adulto e jovem.

    Essa viso da velhice geradora de representaes sociais que a

    homogenezam, podendo desenvolver atitudes discriminatria em relao ao

    segmento idoso.

    A discriminao presente nos olhares e atitudes manifesta-se nas diversas

    esferas da vida social famlia, trabalho, sade criando diferentes formas de

    violncia em relao a pessoa idosa.

    Diante desse quadro importante chamar a ateno do profissional da

    sade que lida diretamente com idosos, para o papel que deve desempenhar

    2Antroploga. Coordenadora do curso de Ps Graduao em Gerontologia da Pontifica da UniversidadeCatlica de So Paulo.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 17

    como sujeito social ativo, como agente de mudana cultural no sentido de

    desconstruir uma viso estereotipada da velhice.

    Certamente para essa desconstruo o profissional da sade dever (ou

    poder) contar com o idoso, no como um "outro" que com o profissionalcontrasta, mas, como um "outro" que est ao seu lado e que tambm est

    sujeito ao processo biosociocultural e histrico do envelhecimento.

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    QUEM CUIDA DE QUEM CUIDA?

    Zally P.V. Queiroz2

    O aumento da expectativa de vida da populao brasileira, conquistadograas aos avanos tecnolgicos e da medicina, no garantiu, no entanto, a

    qualidade dessa existncia prolongada. J so significativos, no contexto da

    populao brasileira, os percentuais de nonagenrios e at mesmo de cente-

    nrios, na sua maioria portadores de comprometimento da capacidade funcio-

    nal, exigindo dessa forma cuidados especiais, mais freqentemente em domi-

    clio, ou em instituies de longa permanncia.

    Essa situao fez emergir um novo personagem no cenrio da ateno aesses idosos: o cuidador domstico, geralmente um familiar pouco preparado

    para essa funo, que assumida em decorrncia dos arranjos familiares

    estabelecidos a partir da situao de dependncia a ser enfrentada. Fraturas

    de fmur e de quadril, artroses, acidentes vasculares cerebrais, doenas reu-

    mticas, demncias, so eventos freqentes em idosos muito idosos, determi-

    nando inmeras limitaes e alterando a dinmica, a economia e muitas vezes

    a sade das famlias desses idososDe acordo com Caldas (1995), a sobrecarga fsica, emocional e scio-

    econmica decorrente dessa situao muito grande, no se podendo esperar

    que os cuidadores familiares dem conta dessa situao, sem dispor de algu-

    ma forma de suporte.

    Em estudo realizado por Medeiros(1998), os cuidadores entrevistados

    mencionaram que, por ocasio da alta hospitalar, muito poucos receberam

    informaes claras a respeito da doena dos seus idosos, bem como orienta-

    o para o cuidado em casa. De maneira bastante superficial, esses cuidadores

    foram orientados apenas sobre medicao, alimentao e retornos.

    Algumas pesquisas que vm sendo realizadas nos ltimos anos tm mos-

    trado que, em geral, so as mulheres que assumem esse cuidado e essa

    funo considerada natural, pois percebida como um prolongamento do

    3Assistente social, especialista em Gerontologia pela SBGG, coordenadora do Curso de Especializao emGerontologia do Centro Universitrio So Camilo (SP).

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 19

    papel de me. Cuidar dos seus familiares idosos , portanto mais uma tarefa

    que as mulheres assumem, acumulando com todas as outras que tradicional-

    mente so da sua responsabilidade.

    Os estudos tm mostrado tambm que a maioria dessas mulheres so

    filhas desses idosos, esto na meia-idade ou j so idosas jovens, tm algunsproblemas de sade como hipertenso, diabetes e problemas de coluna. A

    maioria dedica muitas horas do seu dia para o cuidado de seu familiar, poucas

    tm revezamento com outra pessoa nessa funo de cuidar, por isso mesmo

    muitas sentem-se deprimidas e estressadas.

    Com certeza, esse quadro geral aponta para a necessidade de suporte

    para essas cuidadoras, cuja situao se enquadra nos fatores de risco para

    violncia contra idosos, particularmente para as situaes de negligncia do-mstica.

    A ateno ao cuidador, e quase poderamos dizer s cuidadoras uma vez

    que so muito poucos os cuidadores do sexo masculino, torna-se uma deman-

    da crescente em nossa sociedade que envelhece to rapidamente. Enquanto

    no dispomos em nosso pas de polticas efetivas para a promoo do enve-

    lhecimento ativo, que afastaria a velhice dependente para o extremo final da

    vida, preciso pensar na formulao de uma poltica de ateno ao idosofragilizado e funcionalmente comprometido, que inclua a ateno ao cuidador

    informal, geralmente um familiar, por meio do estabelecimento de uma rede de

    suporte institucional. Como refere Caldas (2003) o cuidador informal poderia e

    deveria ser visto como um agente de sade, recebendo orientaes relaciona-

    das prestao de cuidado adequado ao idoso e preservao da sua prpria

    sade.

    Sabendo como atuar de forma adequada, esses cuidadores no s estari-am contribuindo para uma melhor qualidade de vida do idoso dependente como

    estariam preservando a sua integridade fsica e emocional e, desta forma,

    envelhecendo de maneira mais saudvel.

    Um outro aspecto a ser considerado que a implementao de programas

    de orientao e apoio ao cuidador, promoveria tambm a preveno da negli-

    gncia domstica, que corre um srio risco de ser praticada por cuidadores

    estressados, como apontam alguns estudos (Machado e Queiroz, 2006).

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    20 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Finalizando, gostaramos de citar Karsch (2003); "Neste pas, a velhice sem

    independncia e autonomia ainda faz parte de uma face oculta da opinio

    pblica, porque vem sendo mantida no mbito familiar dos domiclios ou nas

    instituies asilares, impedindo qualquer visibilidade e, conseqentemente,

    qualquer poltica de proteo social."

    Este , sem dvida alguma, mais um novo desafio para o setor de Sade

    Pblica em nosso pas, desafio que se coloca de forma pungente para os

    profissionais de sade do Brasil.

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    VIOLNCIA CONTRA PESSOAS IDOSAS:UMA REALIDADE OCULTA

    Nelson Garca Araneda4

    Vivemos em um mundo onde impera a violncia, produto de uma crise

    geral, poltica, social e econmica que afeta todos os setores da vida social.

    Neste contexto est includo um grande nmero de seres humanos pertencen-

    tes s camadas mais vulnerveis da populao: crianas, jovens, pessoas

    portadoras de deficincia, mulheres e pessoas idosas. Estes grupos so os que

    mais sofrem a violncia social em suas mltiplas facetas.

    Durante os ltimos anos tm aumentado consideravelmente o grau desensibilidade social pelo fenmeno da violncia e o maltrato. No princpio, a

    ateno foi focada na violncia criana, depois na violncia domstica e

    recentemente tem despertado interesse o maltrato e negligncia de que so

    vitimas as pessoas idosas.

    Este no um fenmeno recente. importante que da comunidade cientifica

    aos profissionais da sade haja cada vez mais ateno ao problema, envolven-

    do tambm os prprios idosos na conscientizao do problema.Entretanto, para a maioria das pessoas h uma dificuldade de compreender

    a ocorrncia do problema, porque consideram que somente nas instituies

    que os idosos sofrem violncia e lhes parece improvvel que as mesmas

    possam ser maltratadas em suas prprias casas.

    A violncia contra pessoas idosas uma violao aos direitos humanos e

    uma das causas mais importantes de leses, doenas, perda de produtivida-

    de, isolamento e desesperana.Os direitos, concomitantes com os deveres pessoais e sociais que temos,

    no so distintos nos ciclos de nossas vidas. A nfase na proteo aos DIREI-

    TOS HUMANOS das pessoas idosas deve superar as desvantagens existentes

    e evitar que perpetuem as discriminaes e as situaes de inferioridade dadas

    socialmente e culturalmente aos idosos.

    A violncia que os idosos sofrem em todo o mundo se caracteriza por ser

    4Assistente Social. Mestre em Cincias Sociais. Professor da Univesidad del Bio-Bio no Chile onde coordenao Programa de Polticas Pblicas para pessoas idosas.

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    generalizada, habitualmente no se denuncia e tem custos econmicos e hu-

    manos muito difceis de serem pagos pelos governos.

    Os custos da violncia contra pessoas idosas ainda que no estejam sufi-

    cientemente documentados tm implicaes diretas e indiretos. Os custos di-

    retos podem estar associados preveno e interveno, assim como a pres-tao de servios, processos jurdicos, assistncia institucional e programas de

    preveno, educao e interveno. Os custos indiretos referem-se a menor

    produtividade, baixa qualidade de vida, dor e sofrimento emocional, a perda de

    confiana e autoestima, as incapacidades e a morte prematura.

    Para a abordagem e reduo dos abusos e violncias contra as pessoas

    idosas, necessrio um atuao multisetorial e multidisciplinar e que participe

    os profissionais da justia e dos direitos humanos, segurana pblica, profissi-onais da sade, da assistncia, instituies religiosas, organizaes e associ-

    aes de idosos, poder legislativos e tantos outros atores e protagonistas

    sociais.

    A dificuldade para definir e reconhecer a violncia contra a pessoa idosa

    no deve ser obstculo para continuar investigando e intervindo.O conheci-

    mento das manifestaes dos diferentes tipos de violncia crucial para a

    interveno. A avaliao deve ser completa e realizada por um ou vrios mem-bros da equipe multidisciplinar que, entre outras habilidades, deve estar prepa-

    rados para entrevista e a avaliao.

    Existem muitas razes para que as pessoas sofram violncia, entre a mais

    freqentes, est a deteriorizao e fragilizao das relaes familiares. Outras

    causas esto associadas ao estresse do cuidador, ao isolamento social e

    tambm no desequilbrio de poder entre a vitima e o agressor. A ateno a uma

    pessoa enferma e dependente um peso para qualquer pessoa. Quando oscuidadores tm um escasso apoio da comunidade podem sofrer um estresse

    e apresentar comportamentos que levem ao abuso e violncia.

    Diante da violncia contra a pessoa idosa, a sociedade como um todo,

    dever prestar mais ateno a pessoa idosa, elaborando alternativas com o fim

    de erradicar as causas das diversas violncias que este contingente populacional

    sofre. Tenhamos em mente que todas as melhorias investidas nos idosos de

    hoje com certeza uma melhora para todos ns que mais tarde deveremoschegar a esta etapa da vida.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 23

    VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA: VAMOSROMPER O PACTO DO SILNCIO

    Meu Mundo... Seu Mundo... Nosso Mundo -

    Sem violncia pessoa idosa.

    A violncia contra a pessoa idosa um fenmeno universal e representa

    um importante problema de sade pblica e cujo interesse tornou-se evidenteapenas nas ltimas dcadas. Nenhuma sociedade, por mais ou menos desen-

    volvida que seja, est imune a ocorrncia da violncia e maus-tratos as pesso-

    as mais velhas. Infelizmente, os inmeros abusos cometidos so sub-notifica-

    dos, no revelando a magnitude desse fenmeno. Simone de Beauvoir no

    clssico livro A Velhice afirma que h uma "conspirao do silncio" contra a

    velhice, manifestada por alguns grupos sociais que perpetuam uma imagem de

    velhice como fase temida e apavorante da vida. A violncia contra a pessoaidosa parte dessa conspirao.

    Os diversos abusos e o maltratos as pessoas idosas representam um grave

    problema. Infelizmente um fenmeno pouco reconhecido e denunciado. So

    graves as suas conseqncias, principalmente aquela que leva a um no

    reconhecimento do abuso. A sociedade e muitos dos idosos consideram que as

    condutas so normais da idade. H resistncia e dificuldade nos idosos, nos

    profissionais e na sociedade em falar sobre o tema e conseqentemente a suanegao. preciso romper com este silncio.

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    24 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    A violncia contra a pessoa idosa uma violao dos direitos humanos e

    uma causa importante de leses, doenas, isolamento e falta de esperana.

    Enfrentar a violncia a pessoa idosa requer um enfoque multidisciplinar.

    O 5INPEA, instituio de reconhecida relevncia internacional na defesa

    dos direitos da pessoa idosa, em parceria com a Organizao das NaesUnidas declarou o dia 15 de Junho como o Dia Mundial de Conscientizao

    da Violncia Pessoa Idosa com o principal objetivo de sensibilizar a socieda-

    de civil para lutar contra as diversas formas de violncia pessoa idosa. O ano

    de 2006 foi a primeira vez que esse dia foi celebrado no mundo e o slogan

    escolhido foi "Violncia contra a pessoa idosa: vamos romper o pacto do siln-

    cio". Foi um desafio lanado cujo contedo extremamente atual e cuja reper-

    cusso no mundo foi eficiente e oportuno. O tema do ano de 2007 foi "Vamos

    em frente" entendendo que o pacto do silncio ainda no foi rompido e que

    existe muita coisa para ser feita na defesa dos direitos das pessoas idosas.

    preciso romper o vu do silncio que cobre o assunto. A violncia

    pessoa idosa ocorre na sua grande maioria no contexto familiar, praticada por

    um membro da famlia da pessoa idosa. Muitas vezes, em defesa do agressor

    (filho, filha, neto, neta...) o idoso se cala, omite e muitas vezes, somente a morte

    cessar a cadeia dos abusos e maus tratos sofridos. muito difcil penetrar naintimidade da famlia. Se para mulheres em situao de violncia, em muitas

    situaes, difcil denunciar o marido agressor, para as pessoas idosas a

    dificuldade acentua-se muito mais em denunciar ou declarar que seus filhos

    so os agressores. Muitas pessoas idosas se culpabilizam pela violncia sofri-

    da ou ento ou acham que normal da idade sofrer a violncia.

    Este Caderno Temtico do Idoso uma ferramenta para os profissionais de

    sade intervirem na violncia contra a pessoa idosa. Os servios de sade solocais privilegiados de interveno nas mais variadas manifestaes da violn-

    cia. O Caderno pretende colaborar para a melhor qualificao dos nossos

    5The Internation Network for the Prevention Elder Abuse (Rede Internacional de Preveno de Maus-Tratos a

    Idosos) foi fundado em 1997 e se dedica disseminao global de informaes como parte do seu compromissocom a preveno de violncia a idosos em todo o mundo. Reconhecendo as diferenas culturais, educacionaise de estilo de vida das diferentes populaes no mundo, o INPEA busca capacitar a sociedade, por meio dacolaborao internacional, a reconhecer e responder aos maus-tratos a idosos em qualquer situao queocorram, para que os ltimos anos de vida das pessoas sejam livres de maus-tratos, negligncia e explorao.Maiores informaes no site www.inpea.net

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 25

    profissionais, habilitando-os para uma prtica fundamentada no respeito e na

    dignidade humana.

    Todas as formas de violncia precisam ser enfrentadas. Minayo considera

    que o maior antdoto contra a violncia a ampliao da incluso na cidadania.

    Como prev o Estatuto do Idoso, todas as formas de aumentar o respeito, todasas polticas pblicas voltadas para sua proteo, cuidado e qualidade de vida

    precisam considerar a participao dos idosos, grupo social que desponta

    como ator fundamental na trama das organizaes social do sculo XXI.

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    26 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    PRINCPIOS ORIENTADORES

    O tema da violncia contra a pessoa idosa comporta uma complexidade

    muito grande, a comear pelo recente reconhecimento do fenmeno pela so-

    ciedade. Para facilitar a compreenso dos diversos fatores que envolvem a

    violncia contra a pessoa idosa, chamamos a ateno para os seguintes prin-

    cpios orientadores:

    Toda pessoa idosa, at que se prove o contrrio, competente para tomar

    decises sobre sua vida. preciso respeitar o princpio da autonomia, con-

    dio inerente ao ser humano e que deve percorrer a existncia. Envelheci-

    mento no sinnimo da perda de autonomia. Entretanto, sabemos que apresena da violncia pode promover o medo e inibir a capacidade de

    deciso da pessoa idosa. Deve-se garantir a deciso da pessoa idosa nas

    intervenes.

    Em alguns casos, a avaliao profissional, a partir da situao apresentada,

    poder nos levar a concluso de que existe a violncia contra a pessoa

    idosa, mas a prpria pessoa idosa, no tem a percepo de que ela esteja

    acontecendo. Essas situaes exigem do profissional maior cuidado e pru-dncia.

    Preveno deve ser a palavra chave. A melhor forma de prevenir oferecer

    recursos eficientes e adequados para as pessoas idosas, famlias, institui-

    es e profissionais que superem a precariedade e a falta de sensibilidade.

    preciso investir numa cultura que oferea atitudes positivas na sociedade

    sobre a velhice e envelhecimento. Diversos estudos apontam que a violncia contra a pessoa idosa em muitas

    vezes passa despercebida por profissionais. Para a deteco da violncia

    indispensvel a prontido e ateno para identificar os sinais de alerta.

    Quando houver a suspeita da ocorrncia de violncia a pessoa idosa, lem-

    brar que a suspeita, por si s no a prova da existncia da violncia. No

    podemos dar aos indcios identificados a natureza de prova. preciso inves-

    tigar para se chegar confirmao da violncia.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 27

    O diagnstico e interveno na violncia a pessoa idosa requer a participa-

    o de diversas categorias profissionais, bem como diversos servios e

    instituies. Torna-se imprescindvel o estabelecimento de critrios ticos

    inte-rprofissional e inter-institucional para evitar que se provoque incmodos

    ou danos a pessoa idosa que j est passando por situaes difceis econstrangedoras.

    Para a abordagem da violncia pessoa idosa deve-se partir de uma tica

    baseada no respeito e na considerao ao ser humano. A atuao profissio-

    nal exige compromisso e responsabilidade para analisar os princpios morais

    envolvidos e tambm nas conseqncias das decises tomadas.

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    28 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    DEFININDO VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

    So muitos os termos utilizados para definir o que a violncia contra a

    pessoa idosa. So exemplos: maus-tratos, abuso, negligncia, omisso, aban-

    dono etc. Cada um destes termos possui significados distintos, dependendo da

    situao onde utilizado e existem diferentes percepes sociais, culturais e

    tnicas sobre o que eles podem definir.

    Neste Caderno, usaremos a expresso Violncia contra a Pessoa Idosa

    (VCPI) e optamos em utilizar a definio da International Network for the

    Prevention of Elder Abuse (INPEA) e adotada pela Organizao Mundial de

    Sade:

    A violncia contra a pessoa idosa se define como qualquer

    ato, nico ou repetitivo, ou omisso, que ocorra em qualquer

    relao supostamente de confiana, que cause dano ou inc-

    modo pessoa idosa.

    Podemos observar no conceito que existem trs fatores determinantes:

    1. Um vnculo significativo e pessoal que gera expectativa e confiana;2. O resulto de uma ao: dano ou o risco significativo de dano;

    3. A intencionalidade ou no intencionalidade.

    Para melhorar a compreenso do conceito, Minayo amplia a definio da

    OMS e assim define a violncia a pessoa idosa:

    A violncia pessoa idosa pode ser definida como aes ou

    omisses cometidas uma vez ou muitas vezes, prejudicandoa integridade fsica e emocional das pessoas desse grupo

    etrio e impedindo o desempenho de seu papel social. A vio-

    lncia acontece como uma quebra de expectativa positiva

    dos idosos em relao s pessoas e instituies que os cer-

    cam (filhos, cnjuge, parentes, cuidadores e sociedade em

    geral).

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 29

    TIPOLOGIA DA VIOLNCIA

    Na cartilha produzida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos "Vio-

    lncia contra Idosos o Avesso de Respeito Experincia e Sabedoria"

    escrita pela professora Maria Ceclia Minayo so definidas as tipologia das

    diversas formas de violncia contra a pessoa idosa. So elas:

    Violncia Fsica: o uso da fora fsica para compelir os idosos a fazerem

    o que no desejam, para feri-los, provocar dor, incapacidade ou morte.

    Violncia Psicolgica: corresponde a agresses verbais ou gestuais com

    o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar do convvio

    social.

    Violncia Sexual: refere-se ao ato ou jogo sexual de carter homo ou

    hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam a obter

    excitao, relao sexual ou prticas erticas por meio de aliciamento, vio-

    lncia fsica ou ameaas.

    Abandono: uma de violncia que se manifesta pela ausncia ou desero

    dos responsveis governamentais, institucionais ou familiares de prestaremsocorro a uma pessoa idosa que necessite de proteo e assistncia.

    Negligncia: refere-se recusa ou omisso de cuidados devidos e neces-

    srios aos idosos por parte dos responsveis familiares ou institucionais. A

    negligncia uma das formas de violncia mais presente no pas Ela se

    manifesta, freqentemente, associada a outros abusos que geram leses e

    traumas fsicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se encon-

    tram em situao de mltipla dependncia ou incapacidade.

    Violncia Financeira ou econmica: consiste na explorao imprpria ou

    ilegal ou ao uso no consentido pela pessoa idosa de seus recursos finan-

    ceiros e patrimoniais.

    Auto-negligncia: diz respeito conduta da pessoa idosa que ameaa sua

    prpria a sade ou segurana, pela recusa de prover cuidados necessrios

    a si mesma.

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    30 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Violncia Medicamentosa: administrao por familiares, cuidadores e

    profissionais dos medicamentos prescritos, de forma indevida, aumentando,

    diminuindo ou excluindo os medicamentos.

    Violncia Emocional e Social: refere-se a agresso verbal crnica, incluin-do palavras depreciativas que possam desrespeitar a identidade, dignidade

    e autoestima. Caracteriza-se pela falta de respeito intimidade; falta de

    respeito aos desejos, negao do acesso a amizades, desateno a neces-

    sidades sociais e de sade.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 31

    COMO PREVENIR A VIOLNCIA CONTRAA PESSOA IDOSA?

    A preveno tem como principal objetivo evitar as diversas manifestaes

    da violncia contra a pessoa idosa, detectando situaes e fatores de risco e

    a efetiva interveno nas suas conseqncias.

    Para prevenir preciso ferramentas que subsidiem a prtica assistencial

    cotidiana em busca da melhoria integral da qualidade de vida das pessoas

    idosas, incluindo a valorizao dos riscos e sobretudo a interveno dos pro-

    fissionais, preferencialmente quando feita por uma equipe interdisciplinar.

    Situaes e Fatores de Risco

    Entre as diversas circunstncias que podem favorecer a VCPI podemos

    destacar:

    A dependncia em todas as suas formas (fsica, mental, afetiva,

    socioeconmica);

    Desestruturao das relaes familiares;

    Existncia de antecedentes de violncia familiar;

    Isolamento social;

    Psicopatologia ou uso de dependncias qumicas (drogas e lcool);

    Relao desigual de poder entre a vtima e o agressor.

    Alm das situaes anteriores, podemos destacar ainda:

    Comportamento difcil da pessoa idosa;

    Alterao de sono ou incontinncia fecal ou urinria que podem causar um

    estresse muito grande no cuidador.

    A enumerao de uma srie de caractersticas pode nos ajudar a ter uma

    idia do perfil das pessoas idosas e dos cuidadores com maior risco de situa-

    es de violncia, tendo-se o cuidado de que eles no sejam fatores de acu-

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    32 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    saes. Precisamos usar com muita cautela e cuidado. O propsito para

    servir de alerta sobre a necessidade de prestar um apoio aos profissionais que

    lidam com a questo e no promover uma "caa s bruxas".

    SITUAES DE RISCO

    Associadas a vtima

    Dependncia fsica sem condies

    de desenvolver suas AVDs

    Dependncia psquica: alterao

    das funes cognitivas

    Dependncia emocional:

    associada a transtornos

    emocionais

    Isolamento social

    Associadas ao agressor

    Estresse e isolamento social do

    cuidador

    Problemas econmicos ou

    dependncia econmica da vitima

    Abuso de dorgas

    Diferentes tipos de transtorno mental

    nico cuidador

    Associadas a questes estruturais Pobreza absoluta

    Discriminao etria

    Esteretipos da velhice

    Relaes intergeracionais

    desrespeitosas

    Descumprimento das leis que

    protegem os idosos

    Violncia Institucional Profissionais sem formao

    profissional

    Baixos salrios

    Sobrecarga de trabalho ou nmero

    insuficiente de profissionais

    Escassez de recursos materiais

    Normas de funcionamento

    inadequadas

    Falta de controle e fiscalizao

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    PERFIL DA VITIMA E DO AGRESSOR

    Os diferentes estudos realizados apontam que na violncia intrafamiliar, o

    perfil da vtima e do agressor so os seguintes:

    Perfil da Vtima:

    Mulher, viva, maior de 75 anos;

    Vive com a famlia;

    Renda de at dois salrios mnimos;

    Idoso frgil ou em situao de fragilidade;

    Depende do cuidador para suas atividades de vida diria;

    Presena de vulnerabilidade emocional e psicolgica.

    Perfil do Agressor:

    Filho, filha ou cnjuge da vtima; Consome lcool ou droga;

    Transtorno mental;

    Apresenta conflito relacional com a pessoa idosa.

    Minayo lembra citando Chaves e Costa que:

    Dentre todos os fatores de vulnerabilidade dos idosos violncia familiar,

    a grande maioria dos estudiosos ressalta a forte associao entre maus tratos

    e dependncia qumica. Segundo Anetzberger et al (2004), 50% dos abusadores

    entrevistados por seu grupo tinham problemas com bebidas alcolicas. Esses

    autores e Chavez (2002) assinalam que os agressores fsicos e emocionais

    dos idosos usam lcool e drogas numa proporo trs vezes mais elevada que

    os no abusadores. Isso foi tambm assinalado no estudo de Chaves e Costa

    (2003).

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    34 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    AVALIAO NA PRTICA ASSISTENCIAL

    Os profissionais de sade em muitas situaes so as nicas pessoas que

    tm contato com as pessoas idosas e muitos deles so os nicos que so

    autorizados a entrar nas casas e domiclios dos idosos (equipe de Sade da

    Famlia). A responsabilidade destes profissionais aumenta muito na preveno

    nas diversas situaes de violncia.

    A preveno de possveis situaes de violncia contra a pessoa idosa nas

    equipes de sade deve partir de uma avaliao global, considerando e detec-

    tando os fatores de risco e elaborando estratgias eficientes e respeitosas de

    interveno.

    Avaliando uma vtima em potencial

    Incluir na anaminese uma avaliao focada em possveis situaes de

    risco. Isto no requer um aumento substancial de tempo. preciso classificar

    e ordenar os possveis fatores de riscos fsicos, psicolgicos, sociais e econ-

    micos.

    Avaliao Fsica

    Grau de dependncia: necessita de ajudar para realizar a maioria das suas

    atividades de vida diria (vestir, tomar banho, alimentao etc)?

    Idade: tem mais de 75 anos? Quanto mais idade, maior o risco de dependn-

    cia.

    Sono: Altera o sono do resto da famlia? Levanta-se diversas vezes noite?

    Dor: Tem alguma dor crnica que no est sendo tratada de forma adequa-

    da?

    Higiene pessoal: Apresenta-se em condies satisfatrias de higiene? Tem

    forte odor? Suas roupas esto limpas ou muito velhas?

    Alimentao: come bem? Perde peso freqentemente?

    Quedas: a casa est preparada para evitar quedas?

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    Avaliao Psicolgica

    Solido: passa muitas horas sozinho? Tem horrios diferentes dos demais

    membros da famlia para alimentar, dormir ou realizar a higiene pessoal?

    Comunicao: incapaz de comunicar suas emoes, desejos, sentimen-

    tos? Mostra-se inibido? Quando lhe feita uma pergunta, olha para o cuidador

    antes de responder, para observar a reao dele, como se tivesse "pedindo

    autorizao" para poder responder?

    Estado de nimo: Parece assustado, desconfiado, tmido, como medo? Chora

    com facilidade, muda de humor de forma inexplicvel?

    Intimidade: a sua intimidade respeitada?

    Autopercepo: diz que se sente maltratada? Expressa desgosto quando se

    refere a convivncia com a famlia?

    Avaliao Financeira

    Autonomia: Necessita de ajuda para fazer uma compra ou vender seu

    patrimnio, controlar sua conta bancria ou carto de segurado? Administraseus recursos financeiros com total liberdade ou delega a uma outra pessoa

    para administrar este assunto?

    Condies de moradia: reside com algum membro da famlia sem ajudar

    economicamente?

    Escassez de recursos: reclama que est sempre sem dinheiro?

    Avaliao do possvel agressor

    Tempo do cuidado: O cuidador est na funo h mais de dois anos?

    Capacitao: a pessoa que cuida est capacitada para faz-lo? Tem os

    conhecimento, habilidades e atitudes precisas para a realizao da tarefa?

    Diviso da tarefa: o principal ou o nico cuidador? H revezamento na

    tarefa?

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    36 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Alterao da rotina de vida: foi necessrio renunciar um trabalho, frias,

    estudo para ser o cuidador da pessoa idosa? Tem dificuldades de encontrar

    tempo para si mesmo? Est isolado, sem relacionamento social, absorvido

    pela responsabilidade de cuidar?

    Alterao fsica e psicolgica: apresenta sintomas de cansao no exerccio

    da tarefa? Tem sentimentos de desespero, de impotncia, chora ou se irrita

    com facilidade quando fala do trabalho que realiza como cuidador? Tem

    problemas de sade e sente que no pode cuidar de si porque est cuidando

    da pessoa idosa?Sofre dores crnicas que no tm explicao orgnica?

    Impacto econmico: realiza de forma gratuita a funo? Tem dificuldades

    econmicas?

    Relacionamento com a pessoa idosa: no se comunica com a pessoa idosa?

    Recebe da pessoa idosa sinais de agradecimento pelo trabalho que o cuidador

    presta?

    Relao com os servios pblicos: permite que sejam realizadas visitas

    domiciliares? Dificulta a interveno dos profissionais?

    Sade mental: tem problemas com o uso de substancias qumicas? Temantecedentes de problemas relacionados com sade mental? Est passan-

    do por algum problema de ordem pessoal de extrema importncia?

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 37

    ATUAO PREVENTIVA

    Recomendaes aos profissionais:

    Avaliar periodicamente o nvel de independncia nas suas atividades de vida

    diria. Lembra sempre que quanto maior a dependncia, maior ser o risco

    da ocorrncia de violncia;

    Estimular a preservao da independncia e autonomia para decidir as

    questes que envolvem a vida dos idosos;

    Incentivar que os idosos participem de atividades sociais, de lazer e re-creao;

    Promover atividades para a informao e preveno da violncia.

    Recomendaes s pessoas idosas

    Evitar o isolamento social por meio das seguintes aes: Manter em contato com velhos amigos;

    Ter um bom amigo com quem possa falar abertamente dos seus proble-

    mas;

    Ter amigos que possam lhe visitar em casa;

    Aceitar as oportunidades que aparecem para coisas novas, inclusive a

    novas amizades;

    Participar de atividades sociais da comunidade (grupos de idosos, centros

    de convivncia etc);

    Participar dos servios voluntrios;

    Realizar suas necessidades pessoais;

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    38 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Ter controle dos seus pertences;

    Abrir e enviar sua prpria correspondncia;

    Ter o controle do seu carto bancrio, no fornecendo a senha para estra-

    nhos ou terceiros;

    Procurar ajuda legal quando necessitar;

    Ter algum a quem recorrer quando se sentir maltratado.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 39

    COMO DETECTAR A VIOLNCIA CONTRAA PESSOA IDOSA

    Dificuldades para a Deteco

    No fcil detectar a VCPI e por muitas vezes, o fenmeno permanece

    velado e escondido pelos protagonistas. Entretanto, detectar a violncia uma

    necessidade e uma responsabilidade do profissional de sade.

    Os profissionais devem estar conscientes de que enfrentaro alguns obs-

    tculos e barreiras que podero dificultar ou interferir. preciso reconhecer e

    superar as dificuldades. Elas podem vir das prprias pessoas idosas, das

    famlias, dos cuidadores, dos prprios profissionais e ate mesmo da sociedadeque no enxerga a violncia contra a pessoa idosa.

    1. Dificuldades advindas da pessoa idosa

    O no reconhecimento da existncia da violncia contra a pessoa idosa. A

    negao uma das dificuldades mais comuns e frustrantes para a deteco e

    informao da violncia contra a pessoa idosa. A vtima mostra-se reticente a

    admitir que est sofrendo o maltrato e da situao vivenciada.As principais dificuldades que as pessoas idosas manifestam so as se-

    guintes:

    Medo da vtima de possveis represlias. Por exemplo: o aumento da violn-

    cia, a institucionalizao, a perda da liberdade, etc.

    Medo que ao revelar a existncia da violncia, o agressor (geralmente mem-

    bro da famlia da vtima) torne-se mais violento e ponha em risco a sua vida.

    Sentimento de culpa. A pessoa idosa pode pensar que sua a culpa por

    estar sofrendo os maus tratos, pois no foi um bom pai ou uma boa me e

    agora est colhendo os resultados.

    Vergonha. A vtima pode sentir vergonha por no ter conseguido controlar ou

    superar a situao em que se encontra. O fato dela romper a cadeia de

    violncia poder abalar a reputao da famlia.

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    40 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Chantagem emocional por parte do agressor.

    Pensar que se relatar o fato ningum acreditar na sua palavra.

    Dficit cognitivo. A vtima no capaz de informar a situao que se encon-

    tra pelo fato de sofrer de problemas de memria, comunicao e outrosdistrbios.

    Acreditar que buscar ajuda o reconhecimento do fracasso.

    Isolamento social. A pessoa idosa que vive no isolamento social tem menos

    oportunidade de pedir ajuda.

    Dependncia exclusiva do cuidador para prover suas necessidades de vida

    diria.

    Acreditar que ser maltratada faz parte do processo do envelhecimento: "isso

    normal da idade".

    2. Dificuldades advindas do agressor

    As principais dificuldades so:

    Negao. O agressor tem o mesmo sentimento da vtima: nega a ocorrncia

    da violncia.

    Isolamento. O agressor pode tentar impedir que a vtima tenha acesso ao

    sistema de sade e servios sociais para evitar que os profissionais detec-

    tem a violncia.

    Medo do fracasso. Da mesma forma que a vtima, o agressor pode pensar

    que ao admitir a existncia da violncia e a busca de ajuda, estar atestando

    que as coisas no esto indo como deveria, e portanto, h o fracasso.

    3. Dificuldades advindas dos profissionais

    Assim como a vtima e o agressor, os profissionais tambm tm dificulda-

    des. Relatamos algumas delas:

    Falta de informao adequada para identificar corretamente os sinais, os

  • 7/31/2019 Caderno Violencia Idoso Atualizado 19jun

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 41

    indicadores e os procedimentos adequados para a interveno na violncia

    contra a pessoa idosa.

    Ausncia de protocolos para a deteco, avaliao e interveno nas situa-

    es de VCPI. Ausncia de meios adequados para diagnosticar de forma diferencial a vio-

    lncia quando se apresentar leses e traumatismos ou quando do apareci-

    mento de desidratao, desnutrio, hipotermia ou quedas.

    Acreditar no mito de que a famlia sempre proporciona apoio e amor aos

    idosos. A existncia deste mito impede que os profissionais considerem

    possveis situaes abusivas.

    Medo de que a pessoa responsvel pelo idoso tome represlias contra a

    pessoa idosa.

    No querer envolver-se com questes legais.

    Inexistncia ou desconhecimento de recursos disponveis.

    Sentir-se impotente mediante as situaes de violncia.

    No dispor de tempo necessrio para a realizao de uma avaliao minu-ciosa da situao.

    Manter determinadas atitudes, tais como:

    Ambivalncia: pensar, por exemplo: "roupa suja se lava em casa";

    Tendncia a culpar a pessoa idosa pelo que est passando: "ela deve

    estar pagando o que fez na vida" ou " no fcil cuidar de pessoa idosa";

    Acreditar que se a vtima quisesse, ela poderia ter sado da situao

    sozinha.

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    42 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    INDICADORES DE VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

    H mltiplas situaes, condutas, sintomas e sinais que podem levar a

    suspeitas da existncia de violncia. A prpria queixa por parte da pessoa

    idosa um dos indicadores mais sensvel e especifico, comum a todos os tipos

    de violncias.

    Mas, um indicador de suspeita no pode converter-se num definidor de

    violncia. A suspeita no confirma por si s a existncia da violncia. Ela se

    caracteriza como um aviso e recomendando ir em busca de mais informao

    para a definio do diagnstico.

    Damos a seguir os principais indicadores existentes.

    O que observar?

    Determinados comportamentos ou condutas de uma pessoa idosa ou de

    seus cuidadores podem indicar a possibilidade de que esteja vivenciando uma

    situao de violncia.

    Na pessoa idosa

    Parece ter medo de um familiar ou de um cuidador profissional

    No querer responder quando se pergunta, ou olha para o cuidador antes

    de responder

    Se comportamento muda quando o cuidador entra ou sai do espao fsico

    onde se encontra

    Manifesta sentimento de solido, diz que precisa de amigos, famlia, di-

    nheiro, etc

    Expressa frases que indicam baixo autoestima: "no sirvo pra nada", "s

    estou incomodando"

    Se refere ao cuidador como uma pessoa com "gnio forte" ou que est

    freqentemente "cansada"

    Mostra exagerado respeito ao cuidador

  • 7/31/2019 Caderno Violencia Idoso Atualizado 19jun

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 43

    No cuidador, possvel agressor

    Sofre um importante nvel de estresse ou sobrecarga nos cuidados com

    a pessoa idosa

    Dificulta ou evita que o profissional e a pessoa idosa conversem emparticular

    Insiste em contestar as perguntas dirigidas a pessoa idosa

    Pe obstculos para que se proporcione no domicilio a assistncia neces-

    sria a pessoa idosa

    No est satisfeito com o fato de ter de cuidar da pessoa idosa

    Mostra descontrole emocional, fica sempre na defensiva

    Mostra-se excessivamente "controlador" nas atividades que a pessoa ido-

    sa realiza na vida cotidiana.

    Tenta convencer aos profissionais de que a pessoa idosa "louca" ou

    "demenciada"

    Culpabiliza o idoso por tudo que acontece, inclusive nas suas condiesde sade.

    Na interao da pessoa idosa e o cuidador

    Observar as histrias divergentes, contraditrias ou estranhas acerca de

    como um determinado fato ocorreu

    Observar se h relao conflitiva entre o cuidador e a pessoa idosa, com

    freqentes discusses, insultos, etc Se houve conflitos ou crises familiares recentes

    O cuidador mostra-se hostil, cansado ou impaciente durante a entrevista

    e a pessoa idosa est demasiadamente agitada ou indiferente na sua

    presena

    A relao entre os dois de indiferena mtua.

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    44 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    O quadro abaixo consta no Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade,

    elaborado pela Organizao Mundial de Sade e pode auxiliar os profissionais

    a estarem atentos aos indicadores de violncia relativos a pessoa idosa:

    Tabela 5.1

    INDICADORES RELATIVOS AOS IDOSOS INDICADORESRELATIVOS SPESSOAS QUECUIDAM DOS

    IDOSOS

    COMPORTAMENTAISE EMOCIONAIS

    FSICOS SEXUAIS FINANCEIROS

    Retiradas de dinheirosque so incomuns ouatpicas do idoso.

    Retiradas de dinheiro

    que no esto de acor-do com os meios do ido-so.

    Mudana de testamentoou de ttulos de proprie-dade para deixar a casaou bens para "novosamigos ou parentes".

    Bens que faltam.

    O idoso "no consegueencontrar" as jias oupertences pessoais.

    Atividade suspeita emconta de carto de cr-dito.

    Falta de conforto quan-do o idoso poderia ar-car com ele.

    Problemas mdicos ou

    de sade mental queno so tratados.

    Nvel de assistncia in-compatvel com a rendae os bens do idoso.

    A pessoa que cuida doidoso aparece cansadaou estressada.

    A pessoa que cuida do

    idoso parece excessiva-mente preocupada oudespreocupada.

    A pessoa que cuida doidoso censura o idosopor atos tais como in-continncia.

    A pessoa que cuida doidoso se comportaagressivamente.

    A pessoa que cuida doidoso o trata como umacriana ou de modo de-sumano.

    A pessoa que cuida doidoso tem uma histriade abuso de substnciasou de abusar de outros.

    A pessoa que cuida doidoso no quer que oidoso seja entrevistadosozinho.

    A pessoa que cuida doidoso responde de mododefensivo quando ques-tionada; ela pode serhostil ou evasiva.

    A pessoa que cuida doidoso tem estado cuidan-do dele por um longo

    perodo de tempo.

    Queixas de ter sido se-xualmente agredido.

    Comportamento sexualque no combina com os

    relacionamentos comunsdo idoso e com a perso-nalidade antiga.

    Mudanas de comporta-mento inexplicveis, taiscomo agresso, retrai-mento ou auto-mutila-o.

    Queixas freqentes dedores abdominais;

    sangramento vaginal ouanal inexplicvel.

    Infeces genitais recor-rentes ou ferimentos emvolta dos seios ou da re-gio genital.

    Roupas de baixo rasga-das com ndoas ou man-chadas de sangue.

    Mudanas no padro daalimentao ou proble-mas de sono.

    Medo, confuso ou apa-

    tia.

    Passividade, retraimen-to ou depresso crescen-te.

    Desamparo, desespe-rana ou ansiedade.

    Declaraes contradit-rias ou outrasambivalncias que noresultam de confusomental.

    Relutncia para falarabertamente.

    Fuga de contato fsico,de olhar ou verbal coma pessoa que cuida doidoso.

    O idoso isolado pelosoutros.

    Queixas de ter sido fisi-camente agredido.

    Quedas e lesesinexplicveis.

    Queimaduras e hemato-mas em lugaresincomuns ou de tipoincomum.

    Cortes, marcas de dedosou outras evidncias dedominao fsica.

    Prescries excessiva-mente repetidas ousubutilizao de medica-o.

    Desnutrio ou desidra-tao sem causa relaci-onada a doena.

    Evidncia de cuidadosinadequados ou padresprecrios de higiene.

    A pessoa procura assis-tncia mdica de mdi-

    cos ou centros mdicosvariados.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 45

    SUGESTES PARA FACILITAR A COMUNICAOCOM A PESSOA IDOSA VTIMA DE VIOLNCIA

    A suspeita da presena de indicadores da existncia de VCPI deve levar o

    profissional a estabelecer estratgias para romper as barreiras de comunica-

    o. importante lembrar que o profissional dever oferecer um ambiente

    seguro que possibilite a pessoa idosa expressar o que est passando. Apre-

    sentamos algumas recomendaes.

    Princpios chaves

    Adaptar a linguagem ao nvel cultural da pessoa idosa, de forma que seja

    claro e compreensvel, para que ela entenda a informao relevante quese pretende transmitir e para que eficiente a forma de comunicao.

    Propiciar um ambiente relaxado. Observar para que o lugar da entrevista

    oferea as condies mnimas de segurana.

    No julgar as opinies, crenas ou pensamentos da pessoa idosa.

    Estabelecer uma relao emptica (pr-se o lugar do outro). A pessoa

    idosa se sentir mais compreendida, no sentir criticada e poder expres-

    sar realmente o que a preocupa. Cabe ao profissional dar o primeiro passo

    nesta relao.

    Estratgias na entrevista

    Manter uma postura que aproxime o profissional da pessoa idosa

    Manter o contato visual Cuidar dos outros aspectos da comunicao no verbal como por exem-

    plo a expresso facial, o tom de voz.

    Mostrar ateno, dizendo por exemplo, "sim", "entendo",quando a pessoa

    idosa estiver relatando o fato

    Mostrar uma atitude tranqila, tanto quando estiver perguntando (utilizan-

    do um tom de voz sereno, bem modulado, evitando parecer surpreso oucansado) ou ouvindo as respostas, independentemente do que ela relate.

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    46 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Repetir alguma idia expressada pela pessoa idosa, com as mesmas

    palavras que ela utilizou ou com suas prprias palavras, para compreen-

    der melhor e para que ela perceba o que est contando.

    Realizar uma sntese final para confirmar se a informao est correta.Esta sntese tambm poder servir para captar a informao mais impor-

    tante.

    Formular perguntas que comecem com: "como que..." som mais produ-

    tivas que aquelas que comeam com "por que" pois podem dar um tom

    acusatrio e portanto, levar a pessoa se colocar numa situao defensiva.

    Dicas de perguntas e comentrios durante a realizao da entrevista:

    Assegurar a confidencialidade da informao:

    "O que o senhor est comentando comigo confidencial. Garanto

    que, se o senhor desejar, a informao ficar entre ns".

    Utilizar perguntas abertas e gerais como por exemplo "o que mais o

    preocupa...?" para possibilitar a abertura e confiana. importante

    contextualiz-las:

    "Vejo que o senhor no pode se levantar da cama e que passa a

    maior parte do tempo sozinho, sem a presena da sua famlia. O

    que mais o preocupa sobre este assunto?"

    Associar o que o preocupa subjetivamente com o que se objetiva como

    um possvel maltrato sob a tica profissional.

    "Essa preocupao que o senhor me expressou - que cada vez

    mais depende dos outros - me sugere o quo difcil para o

    senhor depender das outras pessoas que no so da sua famlia,

    principalmente nos cuidados com a sua higiene pessoal."

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 47

    Utilizar perguntas abertas e objetivas. Algumas mais gerais e outras mais

    especificam. As perguntas devem propiciar um clima de escuta e confian-

    a:

    O que o senhor conversa com o seu filho quando ele no vaitrabalhar?

    Interessa-me muito saber a sua opinio de como a senhor est

    vivendo, suas dificuldades, suas facilidades.

    Validar o direito que tem a seus sentimentos, especialmente aos seus

    medos:

    "Voc tem o direito de estar triste e desapontado com seu filho

    quando este te trata mal..."

    "Entendo que esteja preocupado por no poder administrar o seu

    carto bancrio que est em poder do seu filho e tenha medo de

    que precise comprar alguma coisa e no possa...".

    Apresentar-se como algum que pretende ajudar e apoiar a pessoa idosa,

    independente da categoria profissional, expressando a disponibilidade deapoio:

    "O que voc me contou muito importante. Aqui estamos para

    ajud-la. Se voc tem alguma outra coisa importante que a preo-

    cupa, estamos a sua disposio para ouvir... "

    No emitir juzo de valor sobre as pessoas e mostrar sensibilidade diante

    das necessidades de todos os membros da famlia.

    "De fato, estamos diante de uma situao difcil, para vocs e para

    alguns dos membros da sua famlia..."

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    48 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Se conseguirmos superar as barreiras da comunicao, ser mais fcil

    continuar nas busca de informaes que nos permita confirmar a suspeita de

    violncia, para posterior interveno.

    TCNICAS DE ESCUTA

    Aclarao Uma pergunta que pode

    ser:

    - Quer dizer que...

    - Est dizendo que...

    - Comprovar com preciso

    o que estamos entenden-

    do.

    - Favorecer a elaborao

    da mensagem por parteda pessoa idosa.

    - Tornar mais claras as

    mensagens vagas ou

    confusas emitidas.

    - Ajudar a possvel vtima

    a centrar no contedo da

    sua mensagem

    - Extrair o contedo quan-

    do dos sentimentos ain-

    da prematuro.

    Repetio do contedo da

    mensagem (com outras

    palavras).

    Repetio

    Reflexo Repetio da parte afetiva

    da mensagem

    - Incentivar a possvel viti-

    ma a expressar e conhe-cer seus sentimentos

    - Ajudar a ser mais cons-

    ciente dos seus senti-

    mentos

    - Ajudar a definir seus sen-

    timentos com mais preci-

    so

    TCNICA DEFINIO OBJETIVO

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 49

    TCNICA DEFINIO OBJETIVO

    Sntese ou Resumo a sntese das mensa-

    gens e reflexes feitas

    pela possvel vitimam

    - Identificar um tema co-

    mum

    - Interromper a ambigida-de

    - Resumir o processo

    Auto-revelao Informao que o pro-

    fissional transmite a pos-

    svel vtima sobre si mes-

    ma.

    - Reduzir a distncia emo-

    cional entre o profissional

    e possvel vtima

    - Aumentar a confiana e

    a empatia

    Comunicao no verbal - Manter contato visual

    - Tom de voz audvel e

    suave

    - Postura relaxada e aten-

    ta

    - Distncia adequada

    - Expresses faciais con-

    gruentes com a mensa-

    gem do interlocutor

    - Aumentar a confiana e

    a empatia e favorecer, a

    relao entre o profissio-

    nal e possvel vtima.

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 51

    Que no devemos fazer?

    Sugerir resposta s perguntas que so formuladas.

    Pressionar a pessoa idosa que responda a perguntas que no quer respon-

    der.

    Julgar ou insinuar que a pessoa idosa pode ser a culpada pela situao.

    Mostrar-se horrorizado diante do relato que ela faz da situao que se en-

    contra.

    Fazer promessas que no pode ser cumprida.

    Criar expectativas que podem no ser reais, sobre a resoluo da situao.

    Falando com o agressor

    Que podemos fazer?

    Tentar estabelecer uma relao de confiana, ainda que isso parea difcil.

    Realizar entrevista em local reservado, dependendo da situao com ou sema presena de outro profissional.

    Entrevistar aps ter entrevistado a pessoa idosa, para evitar que haja troca

    de informaes sobre o que foi perguntado a pessoa idosa.

    Se a pessoa mantiver-se numa atitude defensiva, repetir que a informao

    ser de grande ajuda para a situao.

    Que no devemos fazer?

    Fazer perguntas que possam ser interpretadas como provocadoras ou acu-

    sadoras para evitar que o agressor se ponha na defensiva.

    Mostrar ira, horror ou desaprovao diante da situao em que se encontra

    a pessoa idosa.

    Culpabilizar ou fazer juzos de valor que podem fechar as portas para ainterveno.

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    52 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    O QUE PERGUNTAR

    No h modelos fixos de perguntas ante a suspeita de violncia, mas

    existem algumas recomendaes. Em primeiro lugar, recomenda-se formular

    perguntas gerais, atravs das quais se poder obter informaes do bem-estargeral da pessoa idosa. Posteriormente, formular perguntas mais especificas

    para a deteco dos diferentes tipos de violncias (fsica, psicolgica, financei-

    ra, abandono etc).

    O que perguntar a possvel vtima

    Perguntas gerais

    Vive sozinho?

    Como esto as coisas em casa?

    Gostaria de falar alguma coisa em especial?

    Se sente seguro onde vive?

    Descreva um dia normal em sua vida.

    Perguntas especficas: explicar previamente que so perguntas

    formuladas a pessoas que se encontram em situaes similares a

    sua e portanto, torna-se necessrio formul-las para o auxilio das

    providncias que sero dadas.

    Violncia Fsica

    Algum bateu ou agrediu o senhor?

    Alguma vez o senhor ficou amarrado ou preso em sua casa?

    Tem medo de algum em sua casa?

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 53

    Violncia Psicolgica

    Se sente s?

    Alguma vez foi ameaado com castigos?

    Alguma vez gritaram com o senhor de forma que se sentiu cons-

    trangido ou mal consigo mesmo?

    O que acontece quando algum familiar est em desacordo com a

    forma que a senhora pensa sobre um determinado assunto?

    A senhora tratada de forma pejorativa?

    Violncia Sexual

    Alguma vez algum tocou em seu corpo ou rgos genitais sem

    o seu consentimento?

    J foi forado a manter relaes sexuais sem o seu consentimento

    Violncia Financeira

    Quem administra os seus assuntos econmicos?

    O seu dinheiro usado por outras pessoas sem a sua permisso?

    O senhor j foi obrigado assinar alguma procurao ou outro do-

    cumento?

    O seu dinheiro j foi usado para fazer compras para outras pesso-as sem que houvesse a sua concordncia?

    A pessoa que cuida do senhor depende do seu dinheiro para as

    despesas pessoais?

    A senhora j foi obrigada a fazer emprstimo consignado?

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    54 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    Abandono/Negligncia

    Alguma vez j negaram comida ou medicao que estava neces-

    sitando?

    O senhor tem passado necessidade de roupas, alimentao, me-

    dicamentos?

    Fica sozinho a maior parte do tempo?

    Pode receber a visita de parentes e amigos?

    Suas chamadas telefnicas so controladas?

    Tem algum em sua casa que dependente de lcool ou droga?

    O que perguntar ao possvel agressor

    Poderia me descrever como um dia tpico em sua vida (para

    avaliar o nvel de sobrecarga ou estresse no cuidado com a pes-

    soa idosa).

    Que tipo de ajuda e apoio tem de outros familiares e que ajudagostaria de receber?

    Como est a sua sade, tanto fsica como mental?

    Que faz quando se est cansado?

    Que compromissos tem fora de casa?

    Obs: se houver evidncia de violncia, fazer perguntas diretas comopor exemplo, "como foi que sua me adquiriu aquele hematomas?"

    ou "voc acha que seu pai est desnutrido ou mal alimentado?"

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 55

    INTERVENO PROFISSIONAL

    Que fazer quando h suspeita de violncia contra a

    pessoa idosa?

    1. Como e o que avaliar antes de intervir?

    Se h suspeita da pessoa idosa est sendo vtima de violncia ou sofrendo

    negligncia e abandono, recomenda-se realizar uma avaliao pormenorizada

    da situao da possvel vtima, preferencialmente realizada por uma equipe

    multidisciplinar que inclua aspectos mdicos, psicolgicos, sociais e etc. Oprincipal objetivo da avaliao ser a busca de provas ou indicadores que

    confirme ou no as nossas suspeitas.

    A avaliao pode ser realizada em um s encontro ou de forma gradual

    durante um determinado perodo, respeitando-se a situao e ainda as rela-

    es familiares, o nvel de cooperao que a famlia demonstra. Em ltimo

    caso, a avaliao dever sr realizada o mais rpido possvel, para intervir o

    quanto antes.A avaliao deve incluir, alm da possvel vtima, o possvel agressor,

    outros familiares, amigos, outros profissionais, com o objetivo de conhecer o

    entorno e a dinmica familiar.

    importante observar o comportamento e a comunicao verbal e no

    verbal entre a possvel vtima e o possvel agressor, assim como a interao

    entre ambos. possvel que este possa dificultar o contato dos profissionais

    com a pessoa idosa, ou negar-se a sair do espao fsico onde ser realizadaa avaliao. Geralmente, a chave para o acesso a pessoa idosa a persistn-

    cia que demonstra o profissional.

    A avaliao deve incluir:

    Realizao de exame fsico da pessoa idosa, com o objetivo de identificar

    possveis leses ou sinais que requeiram interveno mdica. Deve-se se-

    guir alguns princpios:

    - Solicitar, previamente, a autorizao e consentimento da pessoa idosa

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    56 Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa

    - Realizar o exame, sempre que possvel, sem a presena do cuidador e

    preferencialmente com outro profissional presente (mdico e enfermeira)

    - Usar uma atitude sensvel

    Usar tempo suficiente para a pessoa idosa sentir-se cmoO principal objetivo da interveno ser a garantia da segurana da pessoa

    idosa, evitando que as situaes de violncia se mantenham ou se repitam.

    PRNCIPIOS GERAIS DE INTERVENO

    Vrios princpios importantes podem ser enumerados para uma interven-

    o ativa e eficiente. Manter o equilbrio entre a proteo vtima e o respeito a sua autonomia.

    Avaliar o risco de morte ou leso grave para a vtima e decidir se neces-

    srio ou no uma interveno urgente.

    Observar a intencionalidade ou no do agressor quando h suspeita da

    violncia.

    Lembrar que a ocorrncia de violncia reconhecidamente um fator de risco

    para a ocorrncia de novos episdios.

    Quando possvel, levar o agressor a entender que ele parte da situao

    problema e que com a sua cooperao, a soluo pode ser mais fcil.

    Registrar detalhadamente todos os dados da histria.

    Realizar a interveno em conjunto com equipe interdisciplinar. A existncia

    de uma equipe interdisciplinar no significa a anulao da responsabilidade

    individual de atuao de cada profissional.

    O plano de interveno deve contemplar as condies fsicas, emocional,

    social e familiar da pessoa idosa .

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    Caderno de Violncia Contra a Pessoa Idosa 57

    ESTRATGIAS DE COMUNICAO PARA FACILITARA TOMADA DE DECISES

    A seguir, alguns aspectos mais relevantes no momento da interveno,

    aps ter sido confirmado a presena da violncia:

    Respeitar a vtima e conquistar a sua confiana

    imprescindvel o respeito vtima. O profissional deve informar desde o

    incio da interveno o seu desejo de ajud-la na situao que est vivenciando.

    O estabelecimento de uma relao de confiana uma condio primordial

    para a interveno. Em muitas situaes a pessoa idosa pode sentir-seconstrangida com a situao que est passando e apresentar dificuldades em

    relatar o que est lhe acontecendo. responsabilidade do profissional favore-

    cer uma atmosfera de confiana para a pessoa idosa.

    Assegurar a confidencialidade

    O profissional deve assegurar a confidencialidade das informaes queesto sendo relatadas a ele, evitando que se ponha em situao de maior risco

    a pessoa idosa em situao de violncia. Dentro do possvel, realizar a entre-

    vista em lugar que favorea o sigilo.

    Respeitar as decises da pessoa idosa

    Se a pessoa idosa est em pleno exerccio das suas capacidades cognitivas,deve-se respeitar as suas decises,mesmo que no estejam de acordo com a

    dos profissionais envolvidos.

    Infelizmente, muitas pessoas idosas que esto sendo em situao de vio-

    lncia, escolham continuar na situao, devido aos laos afetivos que ela tem

    com o agressor.

    Esta situao pode resultar em frustrao para os profissionais e um sen-

    timento de impotncia. Apesar da escolha da pessoa idosa no ser a maisapropriada, cabe ao profissional continuar mostrando seu apoio, dando nfase

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    que a pessoa idosa no precisa necessariamente continuar nesta situao e

    proporcionar algumas alternativas para cessar a cadeia da reproduo da

    violncia. Por exemplo:

    "Quando o senhor (a) se sentir preparado para..., estarei dispostoa ajud-lo (a). Pode me procurar."

    Confrontar a resistncia a interveno

    A resistncia em aceitar a interveno pode acontecer com a vtima, com

    o responsvel pela agresso ou em ambos.

    A resistncia da pessoa idosa pode ocorrer porque ela tem medo e isso semanifesta com expectativas pessimistas da interveno. A forma de proceder

    mais vivel ser na resposta de argumentos pessimistas.

    Por exemplo, em lugar de dizer a pessoa idosa "Me parece que a senhora

    no tem muita esperana de que pode melhorar a situao, mas possvel que

    tenhamos uma soluo", prefervel dizer "Vamos por parte. Vamos admitir

    que as coisas no vo melhorar num abrir e fechar de olhos e que pode ser que

    no consigamos nada do seu filho no momento...".A pessoa idosa pode ter pensamentos do tipo "Se as pessoas descobrirem

    que meu filho me maltrata, pensaro que eu fui uma m me e portanto,

    mereo isso". A este pensamento, o profissional pode responder: "Conte-me

    como a senhora chegou a esta idia. Culpar a ns mesmos uma reao

    normal em situaes como a senhora est vivendo; agora o que precisamos

    de ajud-la a acabar com esta situao."

    Promover a expresso dos sentimentos da vtima

    importante que antes de qualquer interveno, a pessoa idosa em situa-

    o de violncia deve falar e manifestar os seus sentimentos. A expresso dos

    sentimentos pode promover uma descarga da tenso vivida. Diante da mani-

    festao dos sentimentos, evitar emitir juzo de valor sobre eles.

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    VIOLNCIA INSTITUCIONAL

    H prticas violentas exercidas por instituies pblicas e privadas, cujo

    principal objetivo deveria ser a prestao de servios aos cidados que delas

    necessitam e dependem, principalmente nas instituies de prestao de ser-

    vios de sade, assistncia e previdncia. Segundo a Secretaria Especial de

    Direitos Humanos, estas instituies so as campes de queixas e reclama-

    es nas delegacias de proteo a pessoas idosas.

    Segundo o Ministrio da Sade violncia institucional aquela exercida no

    e pelos prprios servios pblicos, por ao ou omisso. Esta violncia pode

    incluir desde a dimenso mais ampla da falta de acesso, m qualidade dos

    servios. Ela abrange abusos cometidos em virtude das relaes de poder

    desiguais entre usurios e profissionais dentro das instituies. Abaixo, alguns

    exemplos de como a violncia institucional pode ser manifestada nos servios

    de sade:

    Peregrinao por diversos servios at receber atendimento;

    Falta de escuta e tempo para a clientela;

    Frieza, rispidez, falta de ateno, negligencia;

    Maus tratos dos profissionais para com os usurios, motivados por discrimi-

    nao, abrangendo questes de raa, idade, opo sexual, gnero, deficin-

    cia fsica, doena mental;

    Desqualificao do saber prtico, da experincia de vidas diante do saber

    cientifico;

    Violncia fsica (por exemplo: negar acesso anestesia como forma de

    punio, uso de medicamentos para adequar o paciente a necessidades do

    servio ou do profissional);

    Detrimento das necessidades e direitos da clientela;

    Proibio ou obrigatoriedade de acompanhantes ou visitas com horrios

    rgidos e restritos;

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    Criticas ou agresses dirigidas a quem grita ou expressa dor e desespero,

    ao invs de se promover uma aproximao e escuta atenciosa visando

    acalmar a pessoa, fornecendo informao e buscando condies que lhe

    tragam maior segurana do atendimento e internao.

    Diagnsticos imprecisos, acompanhados de prescrio de medicamentos

    inapropriados ou ineficazes, desprezando ou mascarando os efeitos da vio-

    lncia.

    A omisso e inexistncia dos servios de sade so tambm uma forma de

    violncia institucional. Esta causalidade repercute nos servios, pois os servi-

    os so afetados pela violncia na forma de precrias condies de trabalho,

    na superlotao de seus leitos com os feridos por acidentes e agresses, mastambm pelos riscos sofridos pelos profissionais na ateno aos envolvidos em

    conflitos que buscam atendimento. Seria uma relao de causa e efeito que se

    retroalimentam. Violncia gerando violncia. Isso nos faz lembrar de Arendt

    que afirma que a violncia dramatiza causas.

    Os idosos e as crianas so os principais usurios dos servios de sade.

    As demandas na rea de sade dos idosos diferem radicalmente das observa-

    das para o restante da populao. Dado que o seu perfil de morbidade caracterizado, principalmente por enfermidades crnicas. Os custos direitos e

    indiretos so em geral, mais elevados, pois os procedimentos apresentam uma

    durao mais longa. Os idosos consomem mais remdios, mais servios de

    sade, suas internaes em hospitais so mais freqentes do que as do res-

    tante da populao e, bem como sua permanncia os mesmo mais

    longa.(Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2005).

    Esta constatao pode provocar uma a discriminao dos idosos comocategoria social. Os idosos so vistos como uma carga pesada para o sistema

    de sade pblica, incentivando um gerontofobismo ou etarismo no qual est

    implcito a idia de que os idosos j cumpriram a sua misso na vida, so

    improdutivos e portanto no so mais merecedores de investimentos sociais

    pois no daro o retorno.

    A questo da violncia praticada contra a pessoa idosa sem dvida

    alguma um problema de natureza histrico-social e ao mesmo tempo de natu-

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    reza da sade. Ela de natureza social-histrica porque envolver as relaes

    dos sujeitos na vida social. A violncia ocupa cada vez mais lugar nas relaes

    e chega-se ao ponto da banalizao. A violncia nos aterroriza e atemoriza e

    nutre no interior da sociedade e conseqentemente no seu imaginrio o medo

    de perder a vida.Ela de natureza da sade porque so nas portas dos servios de sade

    que ela bate para receber o socorro. A violncia produz diariamente centenas

    de vtimas no pas e na especialmente na nossa cidade. A violncia, nas suas

    mais diversas manifestaes uma questo da sade pblica, notoriamente j

    reconhecida pela Organizao Mundial de Sade, Organizao Panamericana

    de Sade rgos nacionais. O grande nmero de vitimas provoca uma deman-

    da imediata e tambm complexa de necessidades de assistncia, recuperaoe reabilitao da sade.

    A violncia contra idosos tem sido identificada em instituio de cuidados

    continuados em quase todos os pases onde estas instituies existem (ONU,

    2002). No Brasil, como j mencionado anteriormente, h poucos trabalhos que

    analisam esta situao e na sua maioria referem-se a instituies asilares.

    O Relatrio Mundial nos adverte que importante fazer uma distino entre

    os atos individuais de abuso praticados por agentes institucionais e negligncianas instituies e aquele que se refere a abuso institucionalizado, ou seja, o

    regime prevalecente na prpria instituio quando se caracteriza abusivo ou

    negligente.

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    DECLARAO DE BUENOS AIRES SOBREA VIOLNCIA PESSOA IDOSA6

    Reunidos no "Projeto Compromisso com a Vida" organizado pela Defensora

    do Povo da Cidade de Buenos Aires, pela Sociedade Iberoamericana de

    Gerontologia e pelo Parlamento da Terceira Idade com o apoio, entre outros, do

    Ministrio de Desenvolvimento Social da Nao, com a Direo Geral da Terceira

    Idade da Cidade Autnoma de Buenos Aires e do Instituto de Maiores e Servios

    Sociais da Espanha, os abaixo-assinados no abrimos mo da nossa condio de

    cidados que formam parte das organizaes envolvidas com a temtica de En-

    velhecimento e dos Direitos Humanos, sensibilizados pela extenso e gravidade

    da Violncia contra a Pessoa Idosa:

    Acordamos que:

    1. A violncia contra a pessoa idosa supera amplamente as expresses familia-

    res e cotidianas, descritas nos tratados e informes dos especialistas na mat-

    ria.

    2. Acrescenta-se que existem semelhanas entre os diferentes pases representa-dos no Encontro, a propsito da envergadura e gravidade da Violncia contra a

    Pessoa Idosa e apesar das especificidades culturais, econmicas e polticas

    destes pases.

    3. Na realidade dos nossos pases, resultam prevalentes e distintas formas de

    violncia estrutural, institucional e cultural, que assumem status de violao dos

    direitos humanos das pessoas idosas, resultante das organizao fragmentria

    e excludente da vida social.

    4. Somos conscientes de que o enfrentamento exige mltiplas intervenes ligadas a

    prticas tradicionais e no tradicionais na matria, que vai desde o uso de indicado-

    res e guias de interveno, at aes no mais alto nvel por parte dos dirigentes

    polticos, passando por intervenes sociais e organizadas nos meios de difuso,

    cultura, educao, trabalho, previdncia, justia, etc.

    6Declarao assinada em 20 de Julho de 2007 quando da realizao do Projeto Compromisso com a Vida,realizado na cidade de Buenos Aires, na Argentina.

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    CONCLUSES

    O Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade no captulo que trata da violnc