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CADERNO DE RESUMOS CADERNO DE RESUMOS FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS E CIÊNCIAS HUMANAS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO SÃO SÃO PAULO, 2 A 5 DE OUTUBRO DE 2017 PAULO, 2 A 5 DE OUTUBRO DE 2017.

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CADERNODERESUMOSCADERNODERESUMOS

FACULDADEDEFILOSOFIA,LETRASFACULDADEDEFILOSOFIA,LETRAS ECIÊNCIASHUMANASECIÊNCIASHUMANAS

UNIVERSIDADEDESÃOPAULOUNIVERSIDADEDESÃOPAULO

SÃOSÃO PAULO,2A5DEOUTUBRODE2017PAULO,2A5DEOUTUBRODE2017 ..

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DenisABRANCHESJuniorAlivreimprovisaçãomusicalcomoformadevidaEntre as práticasmusicais atuais podemos identificar a livre improvisação comouma atividade em que se abre o campo para a exploração musical voltada àsonoridadeno sentido apontadona obradePierre Schaeffer, e aprofundadopormusicólogos e compositores como Scelsci e Solomos, este último afirmando quepassamos de uma cultura da nota para a cultura do som. Há algum tempo sedesenvolvem escritos e pesquisas acadêmicas sobre a prática da livreimprovisaçãomusical,podendo-sedestacarostrabalhosdomúsicoDerekBaileyedo Prof. Dr. Rogério Costa, do Dep. de Música da USP. Em uma abordagemdeleuziana, Costa contrapõe a livre improvisação, à improvisação denominadaidiomática,quetemcomoreferênciaumaestrutura,umsistemaidentificável,umalinguagem, como o sistema tonal ou dodecafônico, por exemplo, tendo comoexpoente a improvisação no jazz. Na livre improvisação, ocorre uma variaçãocontínuaedapermanentedesterritorializaçãodas constantesqueconfiguramossistemasmusicais,etrata-sedeumapráticamusicalempíricaedeexperimentaçãoconcreta. Costa entende o músico em um ambiente de livre improvisação -especialmentena improvisação coletiva - comoumsistemacomplexo,dotadodeumageografiaeumaterritorialidade(nossentidosatribuídosporDeleuze),enaspráticasdelivreimprovisaçãoomúsicopõeemsituaçãodedesterritorializaçãodoseuknowledgebasemusical,desterritorializandoosidiomasmusicaisdesuaassimdita“bagagemmusical”,emumasituaçãodejogocomoutrosmúsicos.ApartirdosconceitosdeleuzianostrabalhadosporCosta,pretendemoscontribuirnadiscussãodapráticadalivreimprovisação, lançandomãodemodelosdeanálisesemióticosde tradição francesa, em particular a semiótica das formas de vida, levando emconsideração a atividade musical da Orquestra Errante, grupo de livreimprovisaçãodoDep.deMúsicadaUSP,dirigidaporRogérioCosta.

HeloisaVirnesAKABANEAnálise semióticadosArcanosmaioresdo tarôdeMarselha:umapropostaestruturalistaparaofuncionamentooracular.Areflexãoquesepropõeconsistenaanálisedosvinteedoisarcanosmaioresdotarô de Marselha que, enquanto trunfos que os diferenciam da composição dosbaralhos comuns, compõem a essência damatriz divinatória do oráculo e vistoscomo conjunto de signos ordenados num percurso gerativo de significadopermitemaabstraçãodeummodelonarrativoabrangentequeabarcaaexistênciadecadaserhumano,abrangendoaaquisiçãodecompetências internas,arelaçãodoindivíduocomasociedadeesuaexperiênciacomodivino.Paratanto,étrazidobreve panorama histórico do jogo de tarô e uma apresentação comparativa dasediçõesMarselha,Rider-WaiteeThothparaextraçãodoselementosderepetiçãoque indicariam os significados majoritariamente atribuídos aos arcanossignificantes. Com a delimitação do material sob análise, parte-se das lâminas

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consideradascomoumconjuntosequencialque levamoarcano iniciald’OLouco(0) - sujeito potencializado – a caminhar através de um programa de fazer,passandopormodalizaçõesqueotornamumsujeitorealizadoaofimdopercurso,poisemconjunçãocomoarcanoOmundo(XX).Oprogramanarrativodosarcanosmaiorestrazummodelodevida,morteepós-mortequerepresentaajornadadoserhumanoaocaminharpelaexistênciaepelanão-existênciaqueresultaemumaestrutura conglobante que traz uma justificativa semiótica ao funcionamento dosistema.Otarô,vistocomoagrupamentodesignosqueabrangemoprogramadefazerhumano,ageapartirdassemelhançasparapermitiraleituradavidadecadaindivíduo,emsuasdiferençaseenquantonarrativapessoal.

MicaelaALTAMIRANOApichaçãoeaconstruçãodesentidosnoespaçopúblicodeSãoPauloAcidadedeSãoPauloexibeemsuapaisagemumamanifestaçãovisualurbanadeconstrução estética singular, realizada de forma ilegal na fachada e no topo deedifíciosemonumentos,denominadapichação.Opresenteestudobuscainvestigarquais efeitos de sentido são produzidos no espaço público a partir da presençamassiva dessa manifestação e compreender processos comunicacionais eidentitáriosconstruídosnesteespaço,emumaanáliselocalizadanaregiãocentralda cidade. Ao optar pela análise dessa escrita urbana, coloca-se em pauta umuniverso complexo, protagonizado por agentes que vivenciam cotidianamente oambientedeconflitodoespaçopúblicodeumadasmaiorescidadesdomundo.Osestudossobreanoçãoà luzdasociossemióticanosoferecembaseparaentenderessa manifestação enquanto processo de construção de sentido, de construir-seperanteooutro,umestilodeocupaçãoestéticaeéticadacidadequereivindicaapresençavisíveldeumaalteridade,dapluralidadedoparecerparaasingularidadedoser.Assim,oobjetodepesquisaatravessaearticuladediferentesformasnovossentidos no espaço urbano, dando a ver uma cidade que abriga identidades ealteridades,discursospolêmicos,disputadevozes,disputapordireitos,modosdepresença e construção de memórias - aspectos presentificados nessa tipografiamanifestanaarquitetura.OrecortefocadonaocupaçãodeedifíciosemonumentoslocalizadosnocentrodacidadedeSãoPaulonosoferececondiçõesdeestudosdaprodução simbólica em um cenário que revela indícios de narrativas polêmicas,que atravessaram e atravessam a história, a construção e os usos do espaçopúbliconaconfiguraçãodenossacidade.

SílvioMoreiraJúniorBARBOSAAsemiosedamúsicagregaArcaica

Na nossa língua, o termo música deriva do grego mousiké. Téodore Reinachconsidera, em seu livro A Música Grega, essa experiência cultural o primeirorudimento damúsicaOcidental. Todavia, a sociedademítica não sustenta traçosinstrumentais suficientes para que a música se opere separadamente de outrosprodutos culturais (como poesia, formas jurídicas, ritual religioso, etc.). A

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experiência ocidental damúsica exigiria sua performance demodo autônomo, oquenãosepodegarantirqueocorranaGréciaArcaica.SeguindoospassosdeJaaTorrano, professor titular de língua e literatura grega da FFLCH-USP, e asdiretrizesmetodológicasexpostasacima,portanto,oobjetivodessacomunicaçãoéapresentaramousikéapartirdeseusistemaArcaico,comprometidacomastarefasdeumasociedadepautadapeloparadigmamíticodepensamento,enãoabstraídodele ou que se valha de elementos constantes de uma matriz Moderna depensamento. Como consequência, em vez de assinalar as propriedades sonoras,taiscomodefinidaspelafísicamoderna,dealtura,intensidade,duraçãoetextura,amúsicagregasustentaasoposiçõesentreasparteseotodo,aformaeoconteúdo,ocoroestelareacomunidadeterrena,entreoutrastensõespelasquaisocosmoseconstróicomopersonificaçãodasMusas.

PauloJeffersonPereiraBARRETOOdiscursodacrise:análisedecapasdejornaissobrearecessãoeconômicabrasileiraem2015A discussão proposta neste estudo lança alguns questionamentos e busca trazercontribuições para o entendimento de estratégiasmobilizadas na construção dedeterminadasnarrativasemtextossincréticos,tendocomocorpuscapasdejornaisbrasileirospublicadas em2015, cujo foco seria o “discursoda crise” no governoDilmaRousseff.Trêscapasdetrêsjornaisdiferentes(umaparacadajornal)foramselecionadas.Todaspublicadasnodia29deagostode2015,datadeanúnciodoProduto Interno Bruto (PIB) nacional, quando o país oficialmente entrou emrecessão. A capa é a porta de entrada da edição de um jornal. Nela, estão asprincipais pautas do dia, escolhidas a partir de uma série de técnicas e seleçõeshierárquicasnãoaleatóriasquepodemdefinirofazerjornalísticocomoespaçodecirculaçãoedeproduçãodesentido.Combasenisso,entendemosqueempreendera análise semiótica da capa de um jornal impresso é um exercício de leitura dosentidoconstruídopelamobilizaçãodeumdiscursoemquenadaégratuito.Tudoé estrategicamente articulado no manejo dos conteúdos textualizados pelasdiferentes linguagens que compõem textos dessa natureza. A questão que secoloca,noentanto,écomoessediscursodacriseeconômicanogovernodeDilmaRousseffem2015foiarquitetadoemcadajornal.Interessa,portanto,identificarasestratégiaspersuasivasmobilizadasporcadaumadessaspublicaçõesecomoelasconcorreramparaaapreensãodacrisebrasileiracomodesenhodeumarealidadeprojetadaemsuascapasparaopúblico.

DanylloFerreiraLeiteBASSOTranscendênciaimanente:osignocomoestruturaabertaApropostadecomunicaçãoqueaquiseinscrevedizrespeitoaumdiálogoteóricoentre a semiótica e o Círculo de Bakhtin. O cotejo entre as duas teorias nosinteressaporquenesseterritóriodevizinhançaépossívelapreenderosignocomoimanênciaetranscendência,aomesmotempo.Osignoassimpensadosepostula,de acordo com os estudos deDiscini (2015), como estrutura aberta. Essa noção

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esclarece que o signo embora imanente está de igual modo aberto ao outro(BAKHTIN,2003),aoacontecimento(ZILBERBERG,2011),aomundopercebidonaarticulaçãocomsujeitoquepercebe(MERLEAU-PONTY,2014).Disso,emergenosestudos discursivos o interesse tanto ao que está “dentro” quanto ao que está“fora”:tantoaestruturalinguísticaquantoseuaportesocialeideológico(FIORIN,2012); tanto a imanência do signo quanto sua lateralidade (SAUSSURE, 2012);tanto os mecanismos intradiscursivos como os interdiscursivos. Mais que isso,objetiva-se nessa comunicação revelar que o “fora”, a transcendência, já está“dentro”, na imanência: é o que se quer dizer com o termo Transcendênciaimanente. Nesse instante, a proposta se lança ao conceito de signo ideológico,cunhado emBakhtin (1992), emque todo signo (imanente) pulsauma ideologia(transcendente).Interessatambémaessapropostaanoçãodeestilo,segundoumaestilística discursiva, em que o Homem (transcendente) aparece encarnadosemanticamenteemseusdiscursos(imanentes).

GustavoCardosoBONINModosdePresença:SonetLumièredeGilbertoMendes

Pretendemos observar e apresentar os modos de presença das linguagens(códigos)queentramemsincretizaçãona instânciadasuamanifestaçãonaobraSon et Lumière. As ferramentas partemdas propostas de análise de umpossível“sistemasemiótico sincrético”,desenvolvidoporBeividas (2006)eampliadoporGuirado (2013), além de discutir direções apontadas por Hjelmslev (1975) eZilberbergemparceriacomFontanille(2001).SonetLumièreéaprimeirapeçademúsica cênica do compositor santista Gilberto Mendes, composta em maio de1968, obra que dialoga com o filme do diretor francês Jacques Rozier chamadoPaparazzi (1964), filmadonas gravaçõesdo filme franco-italiano IIDisprezzo, deJean-LucGodardde1963.ApeçadoGilbertoécompostaparatrêsintérpretes(um“manequim” femininoedois “fotógrafos”masculinos),SOMdepianogravadoemfitamagnéticaeLUZdeflashesfotográficos.Amúsicacênicaéumgênerosincréticointerno àmúsica contemporânea e experimental de concerto, emque interagemalém do códigomusical (predominante) outros códigos artísticos (teatro, dança,verbal, etc.). Seguindoa ideia apresentadaporBeividas,depensaro sincretismoatravésdo conceitohjelmslevianode “função”, vamos explorar algumasdireçõespossíveis para a função intersemiótica (modo de presença) na peça de Gilberto.Para tentarmos entender as dinâmicas de presença dos códigos no interior doobjeto, vamosdialogar coma ideiadedominância, apresentadaporHjelmslev, eporconsequênciaoparlatênciaefacultatividade,confrontandoessasideiascomasdireções apontadas no capítulo “Presença”, do livro Tensão e Significação, deZilberbergeFontanille.

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RodrigoBRAVOAtraduçãodoverbalemvisual:oanimeeaestéticadohaikai

Apresente apresentação tempor objetivo investigar, a partir de dispositivos dalinguística de orientação saussureana, somados aos desenvolvimentos teóricosavançadosporLouisHjelmsleveRomanJakobson,aincorporaçãodemecanismosdiscursivos e coerções próprias do plano da expressão do gênero haikai pelaanimaçãojaponesa(anime),maisprecisamenteapartirdoestudodoatofinaldoepisódio 16 da sérieRurouni Kenshin (Samurai X) – de título "Yuuki aru chikai!Moeyohiken,shidentachi"–,emquesefazmençãodiretaaumpoemacélebredopoeta haikaísta Matsuo Basho (1644-1694) (in: Shirane (2017) TraditionalJapanese Literature – an Anthology). Pretende-se, ainda, demonstrar que apresençadopoemadeBashonatramadoepisódiotranscendeameracitação,masconstitui, nos termos que defino no estudo Erigindo Babel (in: Melo e Castro;Bravo; Pietroforte (2016) Ernesto na Torre de Babel), exemplo do regimesubstancial de tradução, em que se executam os critérios composicionais dedeterminadogênero,comumentemanifestosemdeterminadalinguagem–querdenaturezaverbal, visual, sincrética, etc. –, emoutra, dandonovaexpressãoa seustemas e figuras próprios. Por fim, a partir do cotejo com outros exemplos domesmofenômenoemdiversassériesdogênero,pretende-selevantarahipótesedequetaltraçocomposicional–i.e.odaversãodohaikaiverbalemlinguagemvisual–nãosetratadecasoisolado,mas,umavezquesetratadearteinfluenciadapelaeinseridanoeixohistóricodatradiçãooriental,depráticarecorrentedaanimaçãojaponesa.

MatheusdeO.L.M.BUENOPropostaparaatraduçãodapoesiabeat

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta alternativa para atradução da poesia da geração beat, especificamente do célebre poemaUivo, deAllen Ginsberg, publicado em Nova Iorque, em 1955. Uma das principaismotivaçõesparaoempreendimentodestacomplicadatraduçãofoiainconsistênciatotaldatraduçãovigentedestaobra,quedeixadelevaremconta,emsuapesquisa,tanto os fatores básicos da gramática da língua inglesa, quanto as normas econvenções vigentes à época para este tipo de discurso. Proponho, em minhatradução,portanto,umaadequaçãoaogênerodapoesiabeatesuascoerções, talcomoaimprovisação,oritmodoJazz,aexploraçãodeimagensefigurasatravésdeum plano prosódico, todas elas em um plano de expressão guiado pelamusicalidade,ondesemanifestaodiscurso(pertencenteaoregimedopregador)da poesia beatnik. Para tanto, faço uso indispensável do artigo The MusicalFoundationsof the verse, publicadopelo linguistaEdwardSapir.Destaco também,porfim,que,tendoemvistameusobjetivosacimaapresentados,procura-sefazeruma tradução substancial, que não se pauta exclusiva e prioritariamente pelocampo lexical, mas sim tenta reproduzir da maneira mais fiel possível aquelamesmamúsicaeaquelemesmosentidoqueAllenGinsbergtentouinserirnosseusversos.

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VictorHugoCruzCAPARICAPerspectivassemióticasnaaudiodescriçãodeHistóriasemQuadrinhosA audiodescrição é uma prática inscrita no campo das tecnologias assistivas, ecomotalseuobjetivoépromoverainclusãodaspessoascomdeficiênciavisualnomeioculturaldasociedadeemqueseinserem.Comoprática,remontanosEstadosUnidos à década de 80 e no Brasil ao início dos anos 2000. Como campo depesquisaacadêmica,aaudiodescriçãoseinscrevenaáreadatradução,comoumamodalidade de tradução visual ou tradução intersemiótica. Essa prática consisteessencialmentedatraduçãodeimagensempalavras,dasemiosedaimagemparaasemioseverbal,demodoaproduzirumaobraacessíveledeapreciaçãoviávelparaaspessoascomdeficiênciavisual.Ao longodasdécadasdepráticaprofissionaleacadêmica, a audiodescrição ganhou parâmetros de boas práticas em diferentespaíses, mas tais parâmetros unissonamente abordavam e ainda abordam umavasta gama de gêneros textuais da qual não fazem parte as histórias emquadrinhos. Tratando-se os quadrinhos de uma mídia tão pródiga em grandesobrasetãorepresentativadosmeiosculturaisdeondesurgem,torna-seevidenteoimperativo de que sejam desenvolvidos à luz das ciências da linguagem umconjuntodeparâmetros sugeridospara a execução eficientedessaprática. Essesparâmetrosdeverãoguiareapoiarasdiferentesemuitasescolhasenfrentadasemtodoprocessotradutório,casodoqualaaudiodescriçãonãoéexceção.Ahipótesecentral desta pesquisa é a de que a teoria semiótica francesa, partindo de A. J.Greimas e seguindo até as recentes contribuições da semiótica tensiva e dopercurso gerativo da expressão, pode fornecer à pesquisa acadêmica emaudiodescriçãoumarcabouçode categoriasdeanálisequeembasemasescolhastomadas no ato de audiodescrever uma obra e seus sentidos.Os objetivos destapesquisa são desenvolver um conjunto de parâmetros sugeridos para aaudiodescrição de Histórias em Quadrinhos e um embasamento teóricofundamentadoemteoriasdodiscursoquelhedeemsustentaçãocientífica.

DariodeAraujoCARDOSOOlogoscristãoearespostacognitivaàPalavraReveladaA constituição daBíblia Sagrada como Palavra Revelada se realiza pormeio daactorialização do enunciador divino, promove uma mobilização sensível quedesorganiza o mundo profano e exige do leitor bíblico uma respostacorrespondente ao impacto tônico e acelerado que esses eventos provocam.GreimaseFontanille(1993,p.156)apontaramcomodimensõesprincipaisdeumasintaxepassionaldiscursivaasensibilizaçãoeamoralização.Aconstataçãodeumsujeito sensibilizadopelo discurso, tornanecessário apontar os resultadosdessepercurso em termos da moralização e da etização que produz. A resposta doenunciatáriobíblicosedápormeiodeumareelaboraçãodeseuestadoepistêmicoepode seranalisadaapartirdedoisaspectos:o cognitivoeoético.Destacamosparaacomunicaçãooaspectocognitivo.GreimaseCourtés(2012,p.168)quandointerpretam o mecanismo da enunciação em termos de intencionalidadeentendendo-a “como uma ‘visada do mundo’, como uma relação orientada,transitiva, graças à qual o sujeito constrói omundo enquanto objeto aomesmo

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tempoemqueconstróiasipróprio”.Aoconsideraroprincípiodequeosensívelregeo inteligível,postulamosqueamobilizaçãosensívelpromovidapelaPalavraRevelada reorganiza o universo cognitivo do enunciatário. O exercício demodulação que visa atenuar o impacto do sobrevir para que o sujeito possacompreender o objeto pode ser entendido como uma atividade que visa àidentificação. Greimas e Courtés (2012, p. 252) descrevem a identificação como“uma das fases do fazer interpretativo do enunciatário, quando ele identifica ouniversododiscurso(ouumapartedesseuniverso)comoseuprópriouniverso”.O estudo sobre os efeitos sensíveis promovidos pela Palavra Revelada permiteavançarnoconhecimentodosmecanismoscognitivosenvolvidosnesseprocesso.

TatianaCristinaCARLOTTIOsincretismoemZero:entreoverbaleovisualApartirdapremissadequeoexperimentalismovemestabelecendoocânonenaliteraturabrasileira,construindonovosparadigmasparaacriaçãoartística,nossapesquisa de doutorado se concentra na investigação do modus operandi quecaracterizaoexperimentalismopraticadonaproduçãodaprosanacional.Aanálisese dá a partir dos dispositivos da semiótica greimasiana, na medida em que acrítica literária não dispõe de uma teoria capaz de dar conta das atualizações ereinvenções na linguagem verbal, praticadas por autores consagrados e,sobretudo, contemporâneos. Ao longo do doutorado, analisaremos oexperimentalismo realizado por autores consagrados pelo cânone literáriobrasileiro como Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas), JoãoGuimarães Rosa (Grande Sertão Veredas) e Oswald de Andrade (Serafim PonteGrande); e, também, por autores contemporâneos em obras ainda poucoconhecidaspelograndepúblicoe, atémesmo,pelopúblicoacadêmicocomo JoséAgrippinodePaula(PanAmérica),GlauberRocha(RiverãoSussuarana)eIgnáciodeLoyolaBrandão(Zero).Nestaapresentação,daremos focoemZero,de IgnáciodeLoyola Brandão que traz como pano de fundo a repressão militar no Brasil.Lançada primeiramente na Itália (1974), Zero teve sua circulação proibida peloMinistérioda Justiçabrasileiro, após ser consideradaumatentadoàmoral e aosbons costumes. Seu experimentalismo é, portanto, construído sob a égide darepressão e do desejo de liberdade. Entre os aspectos experimentais da obra,daremosênfaseaosincretismoentreaslinguagensverbalevisualeaconstrução,apartirdacolagemdeváriosgênerosnarrativos,desuacomposiçãohíbrida,capazde integrar desenhos, anotações, estatísticas, slogan etc. à linguagem verbal.Também enfatizaremos o diálogo da obra com outras práticas experimentais daliteratura nacional, evidenciando sua contribuição na construção de novosparadigmas à produção literária e os caminhos que a obra constrói para suadecifraçãoduranteoatodeleitura.

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GustavoHenriqueRodriguesdeCASTROProcedimentosdiscursivosdeconstruçãodaidentidade:ocasodoatorHillé,deAobscenasenhoraDOpresentetrabalhotemcomoobjetivodivulgarosresultadosparciaisdeanáliseoriundosdapesquisa:“FormadevidadramáticaeconstruçãodaidentidadeemAobscenasenhoraD”,cujoobjetivoprincipaléaanálisedaconstruçãoidentitáriadoatorHillé,personagemprincipaldanarrativadeHildaHilst. Segundoopontodevistaadotado,reconhecerumaidentidadeconsisteemidentificarum“princípiodepermanência”segundooqualoatorsemióticoseconstrói.Trata-sedareiteraçãodeelementossensíveisque,sedimentadosaolongodacadeiadiscursiva,edificamedãounidadeàsuaidentidade,istoé,suacapacidadede“continuaromesmo”,de“persistirnoseuser”aolongodeumaexistênciasemióticaparticulareirrepetível.Emoutraspalavras,analisarumaidentidadeéreconhecerformasparticularesdeisotopias, identificáveis nas estruturas profundas (isotopias predicativas, queapontam para o estado, a direção do percurso etc.) bem como na manifestaçãodiscursiva (isotopias temáticas, figurativas e passionais). No que diz respeito aoatorHillé, sua identidade se constrói a partir de umprocedimentoparadoxal deconcentração e descentralização de si mesma, como o presente trabalhodemonstrará.Com isso,o textoassumeumcaráterpluri-isotópiconamedidaemquedoiseixossemânticossearticulamnaconstruçãoidentitáriadeumúnicoator:oprimeiro,fundadonaisotopiadainteriorização,constrói-sepormeiodetemasefiguras que trazem os semas /ocultação/ e /fechamento/ (o vão da escada, osvincos,asmáscarasetc.);osegundo,oeixoisotópicodaexposição,constrói-seportemasefigurasrelativosà/exposição/eà/abertura/(ajanela,avila,osvizinhosetc.). O caráter pluri-isotópicodo texto revela o percurso cíclico do ator, emummovimento que vai da interiorização à exposição, sucessivamente.Figurativamentefalando,comopretende-sedemonstrar,oatormostra-seeexpõe-seaumaespéciedepúblicoouplateia,edepoisretornaparaseupontodepartida,como se tivesse que voltar aos “bastidores” para recompor-se. Uma vez“recomposto”, o ator poderá proceder, novamente, à exposição de si, assumindocomportamentos,visõesdemundoevaloresquecontrastarãocomacoletividadeaoseuredor.Assim,pretende-se,nestetrabalho,analisarosaspectosdiscursivos,isto é, a figurativização e a tematização das oposições que, edificadas no nívelprofundo, projetam-se na superfície discursiva do texto, construindo e dandocontornoàidentidadedeHillé.

MarcosRogérioMartinsCOSTAManifestaçõesderua:a"verdademutante"Emjunhode2013,acontecerammanifestaçõesderuaquemobilizarammilhõesdepessoasnasruas,acontecimentoquenãoocorriadesdeo impeachmentdeCollor,de1992edasDiretasJá,em1984.Essefenômenofoiintituladocomoas“JornadasdeJunho”.Depois,emmarçode2015,houveosprotestos,oracontra,oraafavordo Governo da, então, presidente Dilma Rousseff. Essas manifestações foramchamadas os “Protestos de março”. Juntas elas representam as maioresmobilizações populares do período de redemocratização brasileiro. À luz da

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semiótica de linha francesa, pretendemos analisar como se constrói o efeito deverdadedentrodos textos jornalísticospublicados respectivamenteem junhode2013emarçode2015nosveículosOEstadodeSãoPaulo (OESP)eFolhadeSãoPaulo(FSP).Apartirdessecorpus,emespecíficodoseditoriaisedasreportagens,podemosdizerqueoatordaenunciaçãoarticuladediferentesmaneirasosobjetosdevaloreosobjetosnocivosnanarratividadedosseustextos.Paraverificarisso,este estudo se apoia, metodologicamente, no cotejo das distintas construçõesdiscursivas do ator do enunciado manifestante de rua nos dois veículosselecionados,recuperadosnosdoisdiferentesmomentoshistóricossupracitados.Comisso,depreendeu-sequeaenunciaçãodecadatextoemcadaperíodo(junho,2013;março, 2015) e em cada veículo (OESP; FSP) criou suaprópria “verdade”;logo,oconceitodeverdadenoepelotextoé“mutante”,poiselaé(re)construídaacadatextoemcadamomentosocioculturalehistórico.Evidênciadissoéqueoraomanifestantederuaéconcebidocomo“baderneiro”,“arruaceiro”e“vândalo”,oraéapresentadocomo“agentedademocracia”,“luzdasnovasgerações”e“visionário”.

ZenoQueirozCOSTAOexercíciodoacontecimento:aestetizaçãodaviolênciaemPulpFictionVencedordediversosprêmios,QuentinTarantinovemdespertandoointeressedacrítica especializada e do público leigo desde sua primeira obra cinematográficanão independente. Contudo, apesar de as produções do cineasta já terem sidoexaminadasporpesquisadoresdediversasáreasdeestudo,nãoencontramosumtrabalho em semiótica discursiva que se proponha a realizar uma apreciação decaráter científico da filmografia do diretor americano. Diante disso, com baseprincipalmentenateoriatensivadesenvolvidaporClaudeZilberberg,estetrabalhotem como principal meta averiguar quais procedimentos cinematográficos sãoadotadosnofilmePulpFiction(1993)paramodularosefeitosdesentidocausadospela violência, a fim de examinar os modos como extensidade e intensidade searticulam na construção do espaço tensivo do enunciado fílmico e como issorepercutenaexperiênciaestéticadoenunciatário. Inicialmente,percebe-sequeaviolência se insere em um regime fundado na regularidade, de forma que asvariações intensivas são controladas pela dimensão da extensidade, dificilmentehavendo uma saturação de intensidade e, portanto, jamais sendo atribuído àviolênciaumestatutodeacontecimento.Valendo-se,assim,dealgunsmecanismosfílmicos, que pretendemos descrever, Tarantino parece investir em andamentos,tonicidades, temporalidades e espacialidades adequados para o exercício dainteligibilidade, isto é, lança mão de procedimentos que promovem mais aapreensãocognitivadas cenasdeviolênciadoquea suaexperiênciaafetiva,quepermitiriaaoenunciatáriofruiraobrapreponderantementenadimensãoracional.Dessamaneira, a partir de estudos semióticos bastante recentes e, a nosso ver,extremamenteadequadosaosnossospropósitos,intencionamosampliarocampode discussão acerca de um aspecto muito peculiar do trabalho de QuentinTarantinoe lançar luzsobrequestõesquepodem–edevem–serdesenvolvidasempesquisasfuturas.

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ValériaNassifDOMINGUESAfacepoéticadeArnaldoAntunesArnaldo Antunes, poeta, músico e compositor brasileiro teve sua poesia muitoinfluenciadapeloconcretismo.Apesardeelepróprionãoseconsiderarumpoetaconcretistadevido a escolhasmetodológicas (comonão seprender aopaideumaelegido pela tríade canônica – Augusto de Campos, Haroldo de Campos e DécioPignatari) é inegável que seu trabalho carrega diversas características domovimento.Dentreessas,aexploraçãodostipos,aexploraçãodoespaçodafolhaea exploração da significação do espaço gráfico em branco são exemplos quemostram como que ao se investir na plasticidade que incide sobre a imagemescrita,cria-seumanovarelaçãoentreexpressãoeconteúdo.Nestacomunicação,analisar-se-á alguns de seus poemas visuais pelo viés teórico-metodológico dasemiótica desenvolvida por Greimas e seus colaboradores. O enfoque será dadosobretudo ao plano de expressão dos poemas uma vez que no concretismo “onúcleo poético é posto em evidência não mais pelo encadeamento sucessivo elinear de versos, mas por um sistema de relações e equilíbrios entre quaisquerparses do poema” (Trecho doManifesto Concretista- Publicado originalmente narevistaad-arquiteturaedecoração,SãoPaulo,novembro/dezembrode1956,n°20). Para isso, a análise se baseará principalmente na teoria semiótica visualdesenvolvidaporJeanMarieFloch.

DjavamDamascenodaFORTAApoéticaverbivocovisual:leiturasemióticadetrêspoemasconcretosOpresentetrabalhopretende,apartirdateoriasemióticadevertentegreimasiana(tambémconhecidacomodiscursiva), analisarquaisestratégiasenunciativassãoempregadasempoemasdomovimentodepoesiaconcretaparaaconstituiçãodoefeito de sentido de verbivocovisualidade, especialmente no que diz respeito àmobilizaçãodeformaseidéticasnodiscursopoético.Talconceito,reivindicadoemtextos programáticos domovimento concreto, atesta a pertinência da linguagemem suas dimensões semântica, sonora e visual para a constituição do efeito desentido de poeticidade. Em termos semióticos, o efeito de verbivocovisualidadepode ser entendido como a mobilização em discurso de formas topológicas,cromáticaseeidéticasdaescritaalfabética,demodoquetaisformas,normalmenteneutralizadaspelousocorriqueirodaescritaeprópriasdeumasemióticaplástica,passema ser pertinentes para semiose dos poemas enunciados pelomovimentovisado no presente trabalho. A análise se debruçará sobre as relaçõessemissimbólicasqueseestabelecementreasformasplásticaseidéticasatualizadasnodiscursoconcretoeasformasdoconteúdoqueelasmanifestamemtrêspoemasemblemáticos do movimento: “código”, de Augusto de Campos; LIFE, de DécioPignatari; eZen, de Pedro Xisto, procurando evidenciar como as estratégiasdiscursivasdescritascontribuemparaaespecificidadedocorpusanalisado.

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HenriqueMatiussiFRANCOSemióticaejogoseletrônicos:umaanálisedanarrativaemGrandTheftAutoIVEsta pesquisa buscou, através do uso da semiótica francesa, examinar commaisprecisão o amadurecimento das narrativas dos jogos eletrônicos, usando comoobjeto de estudo “Grand Theft Auto IV”. Nossa hipótese de partida foi que apersonagemprincipalnãoéplanaesimplesdecompreender,mascarregaconsigoumamisturadepaixõesquetornamoenredomaiscomplexoeapreciável,nãosetratandosódeumjoguinhoparabrincardevezemquando.Alémdeumaanálisedeenredo,tambémnosvoltamosparaamanifestaçãodapaixão“vingança”comoocombustívelquemotivaosujeitoaatingirseusobjetivoserealizaraperformanceesperadanoprogramanarrativoprincipal.Nãodiscordamosdafunçãoprimáriadeum jogo,queédivertir,maspodemosafirmarquecomopassardo tempo, jogoseletrônicos tambémpassaramaserproduzidoscomo intuitodenarrarumaboahistória e colocar o jogador no controle do progresso da narrativa. Quanto aosujeito analisado, notamos que nos foi apresentado um protagonista não tãocomplexo, mas definitivamente não plano, ou superficial. O jogador passa a terempatia pela personagem principal e sua trajetória e o jogo não se trata só deroubar carros e atirar, mas, para os jogadores atentos, uma crítica àqueles quecolocam o dinheiro como o objeto de valormais importante em suas vidas, nãomedindoesforçosparaconquistá-lo.

BrunoSampaioGARRIDOO combate à malária nas páginas da revista Unesp Ciência: sincretismo,identidadeeestiloO objetivo deste trabalho é analisar a significação de reportagem publicada narevistaUnespCiência (UC),cujotemaéocombateàmalária,eamaneiracomooenunciadorconstróiosimulacrodesimesmoedeseus leitores,comvistasaumestilo próprio. O Corpus abrange capa e reportagem da edição 20 de UC(junho/2011).Areportagemanalisada,emparticular,discorresobreasiniciativasdepesquisadoresvinculadosàUnespeaoutrasinstituiçõesdeensinovoltadasaocontrole da malária, doença tropical ainda bastante comum na Amazônia. Oreferencial teórico-metodológico adotado neste trabalho ancora-se,principalmente,nasemióticadiscursivapropostaporAlgirdasJulienGreimaseporseus colaboradores, em especial a abordagem standard (GREIMAS; COURTÉS,2008; BERTRAND, 2003), a semiótica plástica de Jean-Marie Floch (1985; 1995;2000)eosestudosdaenunciação(FIORIN,2005;2008;2013)edoestilo(DISCINI,2004) sob a perspectiva da semiótica greimasiana. Por meio da análise daslinguagens sincréticas da reportagem de UC e das marcas enunciativas quecaracterizamaidentidadedosujeitodaenunciação,verificamosqueasnarrativasvisuaiseaconfiguraçãodoéthosdoenunciadorsãodecisivasparacriarumestiloque valoriza a empatia com o enunciatário e a experiência sensível com oenunciado,criando-seefeitosdepresentificaçãoedeimersão–emqueépossível,inclusive,notarcertosestadosdealmadospersonagensdanarrativa(comofadiga,irritação e enfado). Há também nessa reportagem uma ênfase na terminologia

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especializadadaepidemiologiaedaparasitologia,nabaseempíricadapesquisaenos procedimentos teórico-metodológicos adotados. Essas informações invocamum enunciatário com ummínimo de conhecimentos sobre ciências biológicas esobremetodologiacientíficaparaqueareportagemsejacompreendida.

VanessaGHILARDI-FOSSÃPercursogerativodesentido:amanipulaçãoemVenhaveropôr-do-sol,deLygiaFagundesTellesOpresentetrabalhopropõeapresentarumbreveestudosobreopercursogerativode sentido, o qual se refere aoplanodo conteúdodo texto epreocupa-se comomodocomoosentidoneleéconstruído.Noentanto,restringimosnossoestudoàanálise do nível narrativo, e dentro deste, percorremos uma de suas fases, amanipulação.ComocorpusselecionamosocontoVenhaveropôrdosol,deLygiaFagundes Telles, visto que tal escolha justifica-se pelo fato de entendermos amanipulação como algo inerente ao referido texto, sendo uma de suascaracterísticasprincipais,oquecolaborarácomanossaanálise.Oaporte teóricoutilizado neste estudo funda-se nas contribuições da semiótica, sobretudo comGreimas & Courtés (s.d.), Greimas & Fontanille (1993), Barros (2002; 2005) eFiorin (2009; 2012). E como procedimento metodológico, fizemos análises dasformas de manipulação presentes no conto selecionado. Nessa perspectiva deestudo do discurso, uma estrutura narrativa manifesta-se em qualquer tipo detexto,procurandoexplicaros seus sentidospormeiodaanálisede seuplanodoconteúdo, e este,por suavez, é concebido soba formadeumpercursogerativo.Desse modo, nosso objetivo principal ao apresentar a organização do nívelnarrativoécompreendercomoafasedemanipulaçãocontribuiuparaaconstruçãode sentido do texto pormeio dos discursos das personagens, bem como sugerirque a construção do percurso gerativo de sentido pode ser útil na leitura einterpretaçãodetextosliterários,umavezqueconstruídoumpercursodeleituraépossívelpercebercomoocorreasignificaçãodedeterminadassituaçõesdeleiturasaquesomosexpostos.

ViniciusFelixGODOIO conceito de "textualização" em manuais brasileiros de semióticagreimasianaApósumbrevelevantamentofeitoemperiódicosdaáreaeemtesesedissertações,foiconstatadoqueoconceitode“textualização”nãoerasuficientementeabordado.Entende-se por textualização “o conjunto de procedimentos – chamados a seorganizarem numa sintaxe textual – que visam à constituição de um contínuodiscursivo, anteriormente à manifestação semiótica (...)” (GREIMAS e COURTÉS,2016, p. 504), isto é, a junção dos planos de conteúdo e de expressão aindaanteriores à manifestação. Segundo Barros (2011, p. 7), “A semiótica tem porobjetootexto,oumelhor,procuradescrevereexplicaroqueotextodizecomoelefazparadizeroquediz(grifosdaautora)”.Sabendoqueesse“oque”estáparaoplanodoconteúdo, assimcomoo “como” inclui tambémoplanodaexpressão,o

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conceito de textualização se revela de extrema importância para o projetosemiótico.Apesquisa aqui apresentadaentão sepropôsa inventariar e analisar,em uma perspectiva diacrônica, a recorrência e omodo pelo qual o conceito detextualizaçãoera abordadonosmanuaisde semiótica, segundo suasdefinições eseususos a fimdeobterumpanoramadapresençadesse conceitona semióticabrasileira.Paraessefim,foiselecionadoumcorpuscompostoporsetemanuaisdeintrodução à semiótica greimasiana produzidos no Brasil entre 1979 e 2009,cobrindo,assim,trintaanosdeproduçãocientíficasobreotema.

EdisonGOMESJuniorSemiótica e adaptação cinematográfica de Paranoid Park: do hipotexto aohipertextoA partir da semiótica greimasiana e de seus desdobramentos mais recentes, deordemtensiva,pretende-seabordaraadaptaçãodoromanceParanoidParkparaocinema.Atransposiçãodotextoverbal,ohipotexto,emtextoverbo-audiovisual,ohipertexto, será tratada como uma possibilidade de se lidar com a práxisenunciativa que, respeitando as coerções da textualização, atualiza e realiza umtexto virtual monolinguístico (verbal) em um texto plurilinguístico (sincrético).Pretende-se demonstrar que o percurso gerativo de sentido, acionado porprocessoseufóricosedisfóricosquecontrolamas intensidadeseasextensidadesdodiscurso,podeserexcelenteferramentaparaabordardinâmicasdeadaptaçãoou tradução intersemiótica. Do ponto de vista enuncivo, discutiremos como onarrador/interlocutor do texto, que escreve uma carta sobre um acontecimentopassadoqueomarca,equeexistenotantonopresentedaenunciaçãoenunciadacomonopassado,atravésdedebreagensespaciaisetemporais,étranspostoparaotexto audiovisual. Do ponto de vista tensivo, tentaremos demonstrar como osmodossemióticosdeeficiência,existênciae junçãomodalizam“oacontecimento”no romance e no filme, causando efeitos de aceleração e desaceleração danarrativa, sendo igualmente vertidos em sons e imagens no texto audiovisual. Otrabalhofazpartedeumatesequeestáemandamento.

AmandaHelenaGRANADOMétodosdeanálisedeHistóriaemQuadrinhos:umpercursohistóriconoBrasilA referente pesquisa teve o objetivo de inventariar e analisar metodologias deanálise semiótica aplicadas ao estudo da história em quadrinhos (HQ) paraestabelecer o estado de arte desse objeto verbo-visual no âmbito da semióticacontemporânea.Apesquisasededicouaobservardequemodovemdespontando,enquanto referência para os estudos das HQs, os pressupostos da semióticadiscursiva sugerida pela tradição semiótica francesa, pois em sua vertentesemiológica, desde 1960, e em sua vertente semiótica discursiva, desde 1980.Recursos teóricos concebidos por estudiosos como A. J. Greimas, L. Hjelmslev,UmbertoEco,RolandBartheseasmaisproeminentesanálisessegundoconceitosdasemióticatensivadeC.ZilberbergeJ.Fontanilleforamapontadosnapesquisa,

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indicando a relevância de leituras semióticas para os estudos das narrativassincréticas, ou seja, textos organizados simultaneamente em linguagens verbal evisual.Ocorpusdapesquisacompreendeuartigos,monografias,TCCs,dissertaçõese tesespublicadasnasrevistasCasa,EstudosSemióticos,GaláxiaeSignificação,eartigos da UNESP, UNICAMP e USP. Foram selecionadas obras que utilizamconceitos da semiótica geral, compreendendo a tradição francesa, americana erussa. Na segunda etapa, comprometemos aos estudos sobre HQ da tradiçãosemióticafrancesa.Noquedizrespeitoaotrabalhodocumental,utilizamosavisitaa acervos especializados e buscas na internet.No levantamento, constatamos18trabalhos publicados nas revistas e defendidos nas referidas universidades. Noentanto,mesmoqueretraída,asemióticadasHQsnoBrasilseapresentasempreem construção. Atualmente, as pesquisas de Antônio Pietroforte acerca damissividadeecomponentes tensivosdeC.Zilberberg integramcontribuiçõesquereformulammodelosdeanálisesemióticadeobjetosverbo-visuaisecompõemumpercursonotávelparaaciência.Outrosconceitosdasemióticalevantadostambémdemonstraram resultados satisfatórios para as análises e exploração de textossincréticos,osquaisbuscamosdelinearnoreferidotrabalho.

NatáliaCipolaroGUIRADOContornosesinuosidades:DaImperfeição.Ao compreender que as noções de “estética” e de “estesia” são tomadas nosestudossemióticosgeralmentecomodependentesdosdomíniosdointeligíveledosensível, Greimas aborda tais dimensões da significação demodo a colocar queestas se sustentammutuamentee se relacionam.Asemióticaassumiaumavisãodualista,aocolocardiantedosujeitoummundo-objeto,fazendocomqueestefosseexterior e, de outra maneira, em Da imperfeição (2002), o semioticista lituanoabriuumaviaparaumasériedeinvestigaçõescomplementaresqueabordamumaoutraformadeencontroentreosujeitosemióticoeomundo,omomentoestésico.Neste livro, o autor colocou situações narrativizadas que precedem o encontroentre o sujeito e o objeto de valor (que se encontravam em disjunção), a uniãofugaz de ambos (o que configuraria perfeita conjunção destes) e o momentoposterior a esta relação estabelecida (quando se dá nova disjunção) com seusrespectivosefeitosdesentidoresultantes.Paraaelaboraçãodeumasemióticaquedeixariadeoporo inteligívelaosensíveleo tensivoaoestésico,serianecessárioarticulartaisdimensõesparacompreenderacontribuiçãodadimensãosensívelnaprodução da significação. Portanto, a partir dos instrumentos de análise dasemiótica pertinentes para a descrição científica de objetos significantes,exploraremosoconceitodeestesiainseridoedesenvolvidonosestudossemióticosapartirdaúltimaobrapublicadaporGreimas,Daimperfeição(2002),assimcomoosavançossobreotemaquepodemserobservados.

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AdrianaElisaINÁCIOUmaleituraaspectualdaultrapassagemdelimitesnodiscursopoéticoConformeapontaC.Zilberberg(2012),amatrizaspectualdebasetensivaconstituiuma estrutura elementar de significação estabelecida a partir da oposição entredois intervalos de natureza desigual: o intervalo maior [S1↔ S4] opõe limites,constituindo,assim,umacontrariedadeforte;ointervalomenor[S2↔S3]colocalimiares (ou graus) em oposição, constituindo, dessa forma, uma contrariedadefraca. Uma grandeza qualquer inserida em tal estrutura estará continuamentesujeita a uma série potencialmente infinita de modulações aspectuais,responsáveis pela projeção, através de um prisma tensivo, de uma sintaxe e deuma semântica discursivas, as quais serão, por sua vez, analisáveis sob trêsperspectivas complementares e interdependentes: a intensiva, a extensiva e ajuntiva. Limites e limiares não são estáticos: os dois domínios são passíveis deconversãomútua, ou seja, limites podem se tornar limiares e limiares podem setransformar em limites. Procuraremos examinar a primeira das duastransformações, como uma resultante da operação de recursividade concessiva(ZILBERBERG, 2011), que consiste na ultrapassagem de um limite, e suaconsequentetransformaçãoemlimiar,pormeiodorecrudescimentorecursivodeum máximo de mais ou de um máximo de menos. Empregaremos um exemploextraídodouniversopoéticoparailustraressaoperaçãoesuamanifestaçãocomodiscursivizaçãodeumacontecimento.

DanielCarmonaLEITEOprotagonismonosníveisnarrativoetensivo:umapropostadesemiotizaçãoQuandofalamosnoprotagonismodeumapersonagem,nosensocomum,estamosnos referindo, sobretudo, àquilo que no nível discursivo da semióticaconsideraríamos como uma alta frequência da figura de um ator, uma presençaconstante. Porém, ao nos referirmos à “qualidade” dessa presença, aproximamo-nos mais daquilo que denominamos aqui de protagonismo narrativo. Essaproposiçãoprevêqueexisteumcontratoreflexivonopercursonarrativodebasedo sujeito. Simultaneamente, há aí uma ocupação maior de diferentes papeisactanciais por uma mesma instância figurativa. A posição descrita permite aoanalistadistinguirpersonagensautônomaseoutrasqueagemguiadaspela forçadeumdestinadormajoritariamenteexternoaoatordosujeito,alheio.Oproblemase torna mais complexo quando examinamos a problemática da composição doator do sujeito, que pode se dar por meio de investimentos individuais oucoletivos. Estes últimos podemprever figurações parcialmente coincidentes comaquelas do destinador-manipulador, dificultando a depreensão de um atorprotagonistanessestermos.Outraquestão,aindamaisdesafiadoratalvez,surgenomomento de se examinar textos nos quais há um grande aprofundamentosubjetivo, onde os limites entre os universos de apreensão interno e externo dosujeito tendem a ser menos determinados, mais difusos. Como depreender apresença do protagonismo narrativo nesses contextos? Talvez seja a semióticatensivaa teoriaquemelhorpodenosoferecer instrumentosparadescreveresse

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tipodefenômenos,graçasàcompreensãodequecadaprocessosignificativoprevêaexistênciadeumcampodepresençanoqualinteragemvalênciasqueoscilamemintensidade e extensidade. Buscaremos soluções a essas questões nessaapresentação, tomando como base teórica as obras de autores como Greimas,LandowskieZilberberg.

CaioVictordeOliveiraLEMOSElementosparaaconstruçãodoestatutoenunciativodointérpretemusicalNa área musical, a ideia de centralizar a análise hierarquicamente fundada emtornodapartituratrouxealgumasconsequênciasparaapesquisaemperformancemusical: a primeira foi a atribuição de um valor prescritivo sobre o atoperformático, perpetuando a concepção de que uma análise a priori baseadaexclusivamenteemseuregistrográficojustifiqueumaperformancecomolegítimaounão;asegundaéanegaçãodopróprioatoperformático:aanálisetorna-seumfim em si mesma, perde-se a perspectiva de um devir. A proposta para estetrabalho é lançar mão de ferramentas elaboradas pela semiótica nodesenvolvimentodeumaabordagemenunciativaaplicadaàrealizaçãomusical,deforma a validar o lugar enunciativo do fazer performático de maneiraindependentedasperspectivasnotacionais.Paratanto,buscamosadaptareaplicaras categorias enunciativas à música instrumental, bem como os conceitos dedialogismo, uso linguístico, contrato veridictório, enunciado sincrético eintencionalidade.Analisaremos,assim,duasperformancesmusicaisregistradasemvídeo da peça Nocturnal op. 70,de Benjamin Britten, executada por diferentesintérpretes — Paul Galbraith e Kazuhito Yamashita—, procurando abordar osenunciados em sua totalidade, isto é, enquanto textos sincréticos que unemmúsica, gestualidade e demais elementos sonoros e visuais. Por fim, em nossaanálise, apresentaremos, a partir do instrumental teórico enunciativo proposto,alguns dos elementos que tornampossível a construção do estatuto enunciativodosintérpretes.

LetíciaMoraesLIMAApontamentossobreanoçãodetextonasemióticatensiva

O texto, tão presente emnosso dia a dia, nasmais variadas práticas sociais, é oobjeto de estudo de diversas áreas das ciências humanas e sociais, recebendodiferentesacepçõesdeacordocomoconstrutoteóricoassumidopelopesquisador.Podemosdizer,portanto,queoraasuanoçãoémaisestrita,oraelaémaisamplaedifusa,oraelaabarcaanoçãododiscursoeoraprojetaamesmaparaforadeseualcance. Buscando contribuir para a problemática que se insinua sobre aconcepçãodotextonasemiótica,optamosporobservarmaisatentamentecomotalconceitovemsendodelineadonopontodevistatensivodasemiótica,erigidoporClaudeZilberberg,comaajudadeJacquesFontanille.ÉprincipalmenteapartirdoestudodaobradeZilberberg,desdeasuaformulaçãoatéomomentopresente,quebuscamoscompreendercomootextoéconcebidonoconjuntodeseusescritos.Os

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procedimentosmetodológicosdapesquisadizemrespeitoi)àinvestigaçãosobreanecessária (ou não) distinção entre o texto e o discurso, a partir das discussõesfomentadas pelos semioticistas brasileiros Fiorin (2012) e Barros (2016); ii) àretomada do conceito de texto e textualidade na semiótica standard (COURTÉS;GREIMAS,1979);e,porúltimo,iii)aosapontamentossobreaconcepçãodetexto,discurso e textualidade no ponto de vista tensivo da semiótica (ZILBERBERG,2012).Apropostadelineada,neste trabalho,éumrecortedeumapesquisamaisampla,quetemportítuloAnoçãodetextonasemiótica,projetodedoutoramento,cadastrado no Departamento de Linguística, na Universidade de São Paulo, efinanciadopeloCNPq,sobaorientaçãodoprofessorDr.IvãCarlosLopes.

CássiodeBorbaLUCASSignificânciasdamúsicasampleadaOtrabalho,ligadoapesquisademestradorealizadanoPPGCOM-UFRGS,retomaadistinção,propostaporKristevaeBarthes,entreosestudosdesignificaçãoeosdesignificânciaparaproporuma investigaçãodaprodutividadecomunicacionalqueproblematiza, trabalha, desestabiliza o sentido da música. Abordamos asintersemioses da música sampleada, discutindo questões de dialogismo eintertextualidade, significação da música e articulando estas teses em umainvestigação da fenomusicalidade e da genomusicalidade (aspectos dasignificância)demúsicasespecíficas(CaetanoVelosoeTheAvalanches).

MarcoAntonioCalilMACHADODasemióticadasemiótica

Acomunicaçãoobjetivaensaiar,àmodabreveeimpressionista,acercadodiscursoda Semiótica; trata-se, então, de uma semiologia da semiologia. Esta dobratautológica deve trazer à baila tenções e tensões intensivas e intencivasconcernentesaogestodeestudarasignificação:adespeitodasdiferençassígnicase das diferentes semióticas, figurar-se-á um campo indistinto e indiferente desaberes-práticasatentosaossignificadoseaospercursosdesignificaçãocomoumasuperfície retórico-epistêmica que inscreve, produtiva e estruturalmente, asignificação na significação, a presença da significação na necessidade designificação, a contingência da significação no horizonte sempre possível designificação, dizibilidade em cognitividade, chaves de leitura em formaçõesdisciplinares etc. Para tanto, serão brevemente analisados alguns cenários emtornodosdiscursos semióticos: os vetorespedagógicospara a formaçãodeumaatenção semiótica; a extrapolação semiológica em campos exo/extra-linguísticos,comoaantropologia;eacríticadasignificaçãodasignificação.Istoposto,pode-sefixar, por seus topoi intelectuais, pontos de convergência que produzam umaracionalidade semiológica a qual, quer-nos parecer, apreende e administra apossibilidade do não-sentido sob maquinações epistêmicas do raciocíniologocentrado, positivamente significante, necessariamente semiológico,organizado, descrito e descritível, discreto e discernível. Antevê-se, ao fim e ao

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cabo,um limiardonão-sensoedanão-significaçãopeloqualsepossadeslocaredesfigurar pares mínimos das epistemontologias de “mundo versus discurso”,“teoriaversusprática,”“presençaversusausência,”“sentidoversusnão-sentido,”eoutrosmais,queosseguemacarretados.

MatheusHenriqueMAFRA"Pescaria"e"Édocemorrernomar"nocontextodoálbum:umaanálisedageraçãodesentidonosequenciamentodeduascançõesNasegundametadedoúltimoséculo,oálbumdecançõesseconsolidoucomoumaforma de discurso – principalmente graças aos assim chamados "discosconceituais".Aodepararmo-nos comumdiscursode tal natureza, a intuiçãonosdizqueaprópriaordenaçãodasfaixas,emsi,nãoéfortuita.Emoutraspalavras,osequenciamentodascançõesgerasentidoporsipróprio,jáqueéelequeconfiguraodiscursododisco.Lançandomãoderecursosteóricosdasemiótica,notadamentedaquelesconcebidosporTatiteZilberberg,mostraremosumexemplodecomoosequenciamento de duas faixas pode estabelecer um sentido que transcendeàqueles das canções tomadas individualmente. Selecionamos para este trabalho"Pescaria"e"Édocemorrernomar",cançõesquecompõemumexcerto(4ªe5ªfaixas)dodisco"CançõesPraieiras"(1954),oprimeiroálbumdeDorivalCaymmietalvezoprimeirograndediscodecançãopopulardoBrasil.Asfigurasdomar,dapraia, dospescadores e de suas resignadasmulheres – bem comodas entidadesmísticasqueregulamosseusdevires–criamumcontextoenuncivoqueasseguraforte vínculo, em nível superficial, entre as canções que analisaremos.Pretendemosdemonstrar,noentanto,queháumaoutrarelação,emníveltensivo,queestabeleceumaquantificaçãosubjetivaqueaumsótempodefineeamplificaoalcancedetaiscanções.

JosedaSilvaMatosMAIAAsublimaçãosimbólicaactancialnalongaduraçãodanarrativahistóricaEm um primeiromomento o programa da pesquisa projeta analisar a produçãotextual marxista conjuntamente aos eventos históricos do final do períododitatorial, a resistência à ditadura pelas forças juvenis, passando pelaredemocratização, eleição do Lula e a passagem do poder de forma direcionadapara Dilma, mas analisados como uma narrativa dentro da linha histórica paraextrair os eventos sígnicos que permitam a demonstração da malha simbólica.Esseseventosespecíficos,podemreproduziressasublimaçãorelacionalactantedatrama longa,gerandoumefeitoemsuspensãocênicananarrativa,queparecesedeslocardadinâmicalineardopercursoparaumasançãodelongaduraçãodentrodo tempo histórico, criando pela mediação das forças envolvidas uma inversãoabsoluta do poder. Esse efeito pode servir como material de extração doselementos sígnicos objetivos dessa proposta de pesquisa, e que acima foramdescritos, ou seja, possibilitar na malha do conjunto das ações dos actantes,identificar prováveis emissões expressivas de sentidos, muito discretos, se nãoocultos,quesomenteteriamsentidosnaconexãodialógicatensivadatramalonga,

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resultante de emissões de diversos actantes, mas que seriam interpretados emsuspensãoparaumapossívelleitura,emanadasdasdisposiçõespatêmicasqueoseventossimbólicosemitemlateralmentenanarrativa.

FelipeMarquesdeMELLODirecionamentosaoacontecimentonamúsicadeconcertocontemporâneaO acontecimento é descrito por Zilberberg (2011) como o produto dassubvalênciasparoxísticasdeandamentoetonicidade.Seuandamentoaceleradoesuaaltatonicidadedeixariamosujeito“atordoado”,fazendocomqueeleperdessea noção de tempo e de espaço. Essa noção de acontecimento é embasada naprimeira parte do livro “Da Imperfeição” (2017), de Greimas, intitulada “AFratura”. Nesse livro, aomencionar a rapidez do “evento estético”, a “apreensãoestética” e o “deslumbramento”, o autor estabelece as relações que foramposteriormente propostas por Zilberberg sobre o acontecimento. Ainda nessalinha,Tatit(2010)comentaqueoacontecimentoextraordinárioretirariaosujeitoporuminstantepassageirodesuabuscapeloobjeto,instanteesseemquesujeitoeobjetoestariamemplenafusão.Essafusãodescrevecomexatidãooefeitogeradopelo valor estéticomencionado por Greimas: o guizzo. A partir domomento emqueaimagemcriadadosujeitonamúsicadeconcertonãoestáestabelecidacomamesma solidez comonas linguagens literárias, uma vez que o sujeito literário jávemsendoinvestigadohámaistempo,énecessáriopensarquaisoslimitesemquesepodedescreverumacontecimentomusical.Importaressaltarapossibilidadedediferentesgrausdeacontecimento,adependerdaintencionalidadedaobra.Sendomais específico, ao abordar a música de concerto contemporânea, serãoinvestigados como ocorrem e como estão organizados os acontecimentos nasseguintes obras do compositor Leo Brouwer: Per Suonare a Due, Sonata de LosViajeros e La Espiral Eterna. Em geral, as obras do compositor cubano sãocaracterizadaspelautilizaçãodeelementosnacionalistasaomesmotempoemqueapresentamumaestéticacontemporânea,eseudiscursoéconstruídopormeiodeacontecimentos sucessivos, que, de alguma maneira, utilizam esses elementoscomposicionaisparagerarum“impactoestético”nosujeito.

ClarissaFerreiraMONTEIROConstruindoHistórias:asdiversascombinaçõesemBuildingStories,deChrisWareEste trabalho apresentará uma das partes do mestrado que se encontra emandamento, cujo objeto de estudo é a história em quadrinhos Building Stories(2012), do quadrinista norte-americano ChrisWare. Building Stories é compostapor quatorze impressos de diferentes formatos e tamanhos: tiras de papel,cadernos, jornais e até mesmo um tabuleiro. Esses impressos são soltos (ficamarmazenadosemumacaixa)enãoéapresentadaaoleitorumaordemdefinidadeleitura.Destaforma,épossívelfazermaisdeoitentaesetebilhõesdecombinações,o que demonstra não ser este um quadrinho convencional. Não por acaso, oprópriotítulodaobraapresentaasuapropostapormeiodeumjogodepalavras:

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“building” significa tanto “prédio” como “construindo”, e “stories” significa tanto“andares”quanto“histórias”.Warepropiciaumaexperiênciadeleituraalternativa,buscando aproximá-la a uma experiência de memória e de construção daidentidadeapartirdefragmentos.Osobjetivosdestaapresentaçãosão:considerarestaconstruçãoinusitadadeumahistóriaemquadrinhosefazerumaaproximaçãocom as definições de paradigma e sintagma dadas por Ferdinand de Saussure eelaboradas mais adiante por Algirdas Julien Greimas, Roland Barthes e LouisHjelmslev (observando até que ponto é possível estabelecer tal paralelo). Apossibilidadedebilhõesdecombinaçõesdeixaclaroqueoobjetivodoquadrinhonãoépossuirumaúnicaordemdeleitura,masproporcionardiferentesmaneirasde se compreender Building Stories como um todo, por meio das diferentescombinaçõesdesuaspartes.

EversonLuizOliveiraMOTTAPlickers: análise semiótica de uma ferramenta digital como metodologiaativaemprocessosdeavaliaçãoComossoftwareseducacionaisnaEradaEducação3.0,surgemcommaisfrequênciametodologiasativasquesãoprocessosdeensino-aprendizagembaseadosnaautonomiadoalunonoatodeapreendereinteragircomosobjetosdeensino.Ultimamente,essasmetodologiastêmsidousadaspelosaplicativosdecelularedecomputadorparapopularizaroseuuso.Nesteestudo,objetiva-seinvestigarausabilidadedoaplicativoPlickers,lançadoem2013,comometodologiaativaemprocessosdeavaliaçãonaáreadaEducação,porqueoaplicativoéumaespéciedequisdigital.Comocorpusdeanálise,foramselecionadasimagenscapturadasdoreferidoaplicativo.Ocritériodeseleçãoutilizadofoiodepertinênciaequalidade,istoé,foiescolhidaaimagemquefossemaissignificativaparaseentenderoprocessodeusabilidadedosoftwareemanálise.Comisso,osobjetivosespecíficosdesteestudosão:(i)descreverasprincipaiscaracterísticasdoaplicativoPlickers;(ii)depreendercomoametodologiaativaestáassociadaaessascaracterísticas;(iii)problematizarcomoametodologiaativapodeserutilizadanoprocessodeavaliaçãonaáreadaEducação.Oarcabouçoteóricobaseianasemióticafrancesa(GREIMAS;COURTÉS,2008),compreendendoseusatuaisdesenvolvimentostensivos(FONTANILLE,ZILBERBERG,2001)eemdiálogointerdisciplinarcomaspropostasdeFava(2016),HorneStaker(2015)eBerbel(2012).Comoresultadosparciais,verificou-sequeaanálisesemióticadastelascapturadasauxilianadepreensãodasestratégiasdiscursivascriadasnanarratividadedostextossincréticosequeessasestratégiasseutilizamdeumfazerpersuasivoquerequerarespostaativadoenunciatário-usuárioalunocomoaplicativosemqueoenunciador-professorpercaocontroledoquestionário.QuandoissoéaplicadoàáreadaEducação,podebeneficiaroprocessodeensino-aprendizagem,porqueaferramentaPlickersrepresentaumrecursodidáticodeinteração/imersãodoalunonoatodeavaliardeformadigital.

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DenilsondeOliveiraMOURAOPercursoGerativodoSentidoemOsmanLins

AnalisaremossemioticamenteocontoRetábulodeSantaJoanaCarolina,publicadopor Osman Lins (1924-1978), em 1966, dentro do volume de narrativas Nove,Novena. O Retábulo de Santa Joana Carolina, narrativa biográfica de uma avó,professoraprimáriadazonaruraldePernambuco,comoaPaixãodeJesusCristo,écomposto por doze cenas ou doze mistérios permeados de incompletude e defragmentação narrativa. Dá-se uma dimensão mítica pela divisão em mistérios,pelos diversos ciclos danatureza, pelos signosdo zodíaco, etc. Configura-se estanarrativa um retrato do Brasil interiorano, nordestino, pobre e rural. Nossointeresse é a habilitação com a metodologia e terminologia semiótica chamadastandart, da escola de Paris, a partir das bases desenvolvidas por Greimas,anteriormenteàspesquisasedesenvolvimentosdadita“semióticatensiva”.Nossafundamentaçãoteóricaerige-sedeAlgirdasGreimas,DianaLuzPessoadeBarroseJoséLuizFiorin.Emnossaanáliseestruturalista,noplanodoconteúdo,partiremosdonívelqueprimeiroseapresentaaoleitor:oníveldiscursivo.Apartirdoelencode isotopias figurativase temáticas, engendraremosonossonívelnarrativoparaeste conto. Uma vez esquematizado o nível narrativo com suas modalizações,valores e actantes, saltaremos para uma concepção acerca das categoriassemânticas basilares do nível profundo, ou, fundamental. De certo que o textoofereceaoleitornãosomenteaescritaalfabéticadalínguanatural,antesempregasímbolos alquímicos e astrológicos, será imprescindível abordarmos o que sejaconcernenteaoplanodaexpressãoesuarelaçãosemissimbólicacomoplanodoconteúdo.

ClaudiaRodriguesdaSilvaNASCIMENTODesafioseconquistasnoensinodaleituranaeradigitalA leituracomomeioessenciale capazde levaro indivíduoaacessardemaneirasatisfatóriaseusdireitoscivis,delheabririnúmeraspossibilidadesdeaquisiçãodeconhecimentoecomissoalcançarumprogressosatisfatório tem,nodecorrerdotempo, sido relegadaaumplanode subutilizaçãoquebeiraanulidade.Partedaculpadesseprocessodedesuso recai sobre as instituições quedeveriamprimarjustamentepelo contrário: as escolas. Formar leitores é o objetivoprioritáriodaeducação básica, conforme elucida os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).No contexto escolar, a leitura é uma habilidade capaz de fundamentar qualquerdisciplina. Sendo assim, em cada ano letivo, o aluno deveria desenvolvercapacidades, competências e estratégias por meio da leitura que ocapacitassempara lidar com as novas demandas curriculares. Logicamente, asescolasnãoestão sozinhas; essa culpa tambémé compartilhadapela ineficiênciadaspolíticaspúblicas implantadase tambémporumaclassedocente,emgrandenúmero,despreparadaedescompromissadacomesseidealtãonobre.Emfacedomomento hoje vivido com tantas inovações no campo da tecnologia, com osurgimento da chamada geração digital, faz-se necessário um profundo estudoobjetivandoinvestigararelaçãodosnativosdigitaiscomlivrosnosanosiniciaisdo

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ensinofundamental,afimdedetectarosdesafiosexistentesedeproporsoluçõesqueeliminemosentravesquedificultamoaparecimentodeumpúblicoleitor.

AnaCarolinaCortezNORONHAPlanodeaulaonline:umainvestigaçãosemióticaEste trabalho consiste em um breve estudo a respeito dos regimes de interaçãopropostosporEricLandowskiemseulivroInteraçõesArriscadas(2014)eprocuraaplicaressateoriautilizandocomocorpustrêsplanosdeauladisponíveisnositedoMECchamadoPortaldoProfessor. Essecorpus épartedenossapesquisadedoutorado.Nessemesmosite,define-seplanodeaula,emumaediçãodoJornaldoProfessor,como“umaprevisãodeatividadesvinculadasaumplanodeensinomaisamplo, desenvolvido em etapas sequenciais e em consonância com objetivos econteúdosprevistos”esedizqueeleprecisaconteroobjetivodaaula,oconteúdoa ser desenvolvido, as atividades e a avaliação e que serve para organizar aintenção do professor e o modo de operacionalizá-la. Trata-se, portanto, de uminstrumento de trabalho do professor e expressa as concepções teóricas quesustentamasatividadesdocentes.Porespelharessaconcepçãodoprofessorsobreaorganizaçãoeodesenvolvimentodaaula,essedocumentofoiescolhidopornóscomocorpusde investigaçãoparaquepossamosentendermelhoroprocessodetransmissãoeconstruçãodeconhecimentopertinentesànossaculturaeànossasociedadequeacontecemdentrodaescola.

GustavoMacieldeOLIVEIRAKafka e o neofantástico: análise dos mecanismos breantes no conto ApreocupaçãodeumpaidefamíliaEste trabalho temdois objetivos, que, em verdade, se cruzam: omais premente,realizarumestudosemióticodocontoApreocupaçãodopaide família,deFranzKafka, com o intuito de mostrar elementos deste conto que o aproximam daliteraturachamadaneofantástica,apartirdaexplicitaçãodemecanismoseefeitosde sentido gerados pelo texto, mormente os referentes à sintaxe discursiva(instalaçãodaenunciaçãonoenunciado).Antesdisso, e aqui seexplicitaooutroobjetivo, estaremos frisando a importância de Kafka para que a questão doneofantásticocomeçasseaserpensada.Estefrisaraimportânciadoescritortchecoserve de ensejo para uma discussão mais estritamente semiótica: posto que anoçãoderealestásempresubordinadaaocrivodorelativismoculturalehistórico,propomos que a definição do que é fantástico/neofantástico só pode serconfiguradaapartirdeumarelaçãodecontrariedadequeseestabeleceentreostermos“fantástico”e“real”,oquepossibilitaumaaproximaçãoentreaabordagemteórica da semiótica e as contribuições dos teóricos da crítica literária doneofantástico.Mostraremosqueessaaproximaçãoépossívelporqueosautoresdacríticaliteráriacomquedialogamostambémsemostramcautelososquantoaessaquestão. Para a consecução desses objetivos, nos valeremos principalmente deGreimas (2014), Greimas;Courtés (2012) e Fiorin (2016), bem como dascontribuições de Roas (2014), Alazraki (1990), autores da crítica literária do

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neofantástico,nabuscadedesenvolveressasquestõesnocontoenaobradeKafka,tudo isso intentando mostrar, a partir da análise do conto, que residemprecisamentenosmecanismosbreantesosfatoresquefazemaescritakafkianasercaracterizadacomoneofantástica.

TaísdeOLIVEIRAApontamentos sobre o tempo em duas adaptações de Mrs. Dalloway, deVirginiaWoolfEmnossapesquisadedoutoramento,propomosanalisarduasadaptaçõesfílmicasde três romances canônicos ingleses. Nosso principal objetivo, ali, é analisarcomparativamente essas adaptações, cotejando-as com seu texto fonte (osromancesquelhesderamorigem),buscandoidentificarumagramáticasubjacentea essas traduções intersemióticas. Neste trabalho, concentramo-nos nasadaptações de um dos romances do nosso corpus: trata-se do romance Mrs.Dalloway,deVirginiaWoolf,lançadoem1925,edesuasduasadaptaçõesfílmicas,Sra.DallowayouAúltimafesta(MarleenGorris,1997)eAshoras(StephenDaldry,2002). Nosso interesse é, neste momento, fazer um levantamento sobre asquestões temporais dos dois filmes, buscando pontos em comum entre as duasadaptaçõesedelascomotextofonte.Interessamo-nosporquestõestemporaisdalinguagemfílmica,comomontagemelegendas,bemcomoaquelasquefazemparteda história em si, como referências ao tempo, às horas (tempo cronológico), aesperas,atrasoseadiantamentosdaspersonagensparaseuscompromissos,assimcomoquestõessubjetivassobreotempo,istoé,comoaspersonagensvivenciamatemporalidade e a aspectualidade. Mrs. Dalloway é considerado como um dosprecursores do chamado fluxo de consciência. O trabalho com a elasticidade dotempoénotórionoromance,jáqueofoconãoéemações,emacontecimentos,masnas questões psicológicas das personagens. Assim, mostra-se a vida daspersonagens emumúnicodiade suas vidas.O tempoé, nosdois filmes, tratadoenquantoduração,enãoenquantosucessão.Aordemdosfatosnãoimporta,tantoqueapassagemdotempoédiminuta:tudocontinuaacontecendoaolongodeumúnico dia. Além disso, histórias se intercalam, num ir e vir temporal e espacial.Assim, interessa-nos pensar o tempo enquanto aspectualidade. Em nossasconclusões, consideramosqueasduasadaptaçõesmantiverama centralidadedotempopresentenotexto-fonte.

ElianeDomaneschiPEREIRARecombinandoFoucault:ascamadasdosaberEmL’archéologie du savoir (1969), o filósofoMichel Foucault define o saber emrelaçãoàsnoçõesdepositividadeeformaçãodiscursiva,apontando,entreoutrosaspectos,queo saberconsisteemumconjuntodeobjetos, formadosdemaneiraregularpormeiodeumapráticadiscursiva,indispensáveisàconstituiçãodeumaciência,masnãonecessariamentedestinadosadarorigemaela.Assim,aformaçãodiscursivaexcedeasdisciplinasqueporventuraelapermitademarcareaciênciaapenas se inscreve em um campo do saber e ali tem um papel. Para além das

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definições encontradas nesta obra em específico, interessa-nos aqui umacaracterísticasuigenerisdopensamentodeFoucaultedesuaproduçãointelectualdeformaampla,quenosmostraumpesquisadorque,acadaobra,mudouseunívelde pertinência para análise, voltando-se a novos objetos e problemas, que sãoentão abordados a partir de umametodologia também refeita. Dessemodo, porexemplo, Foucault passa de uma arqueologia do saber em 1969 para umagenealogia do poder emAordemdo discurso (1970), ondenovos problemas sãoencaradosapartirdeumnovoníveldeanálise,métodoeconceitos,queporvezesemnadadialogamoudevemaproduçõesanteriores. Essacaracterísticadaobrade Foucault é salientada no documentário Foucault contre lui-même (2014), emque nos é apresentado um intelectual sempre preocupado em evitar que opensamento se feche em si mesmo, acomodando-se satisfeito em seus própriosconceitos.OobjetivodestacomunicaçãoérefletireanalisarsemioticamenteessadinâmicacognitivatraçandoalgumasrelaçõesdelacomoconteúdodeDescarteseBrunelleschi – la pensée au mirroir (2011), de Jean-François Bordron, e com aesquematizaçãodosmovimentosdavidamentalpropostaporHenriBergsonemMatièreetmémoire(1896).

LuciaPassafaroPERESApresençadoenunciadoremumvídeoeducativodematemáticaOobjetivodesteestudoéidentificarcomoseapresentaocorpodoenunciadoremumvídeoeducativoem3D,deMatemática,quevisaaexplicarademonstraçãodoteorema de Pitágoras. O objeto de análise utilizado é o vídeo "Teorema dePitágoras", que faz parte do software educativo Eureka.in, desenvolvido pelaempresa indiana DesignMate. A análise foi feita com base na teoria semióticaconstruídaporAlgirdas JulienGreimas, nas décadas de 1960 a 1980, e por seusdesdobramentos, comoa semiótica tensiva,desenvolvidamais recentementeporClaude Zilberberg e Jacques Fontanille. O tipo de presença do enunciador foidepreendido pormeio de aspectos comomarcas da enunciação no enunciado –debreagensdepessoa, tempoeespaço,porexemplo–epormeiodeescolhasdoenunciador que se observam tanto no plano do conteúdo como no plano daexpressão. Foram considerados, portanto, além de marcas da enunciação,evidenciadas pelo uso do eu/aqui/agora, aspectos como andamento do vídeo,cortes e duração das telas, movimentação das imagens, tridimensionalidade ecaracterísticasdanarraçãoedossonsutilizados.Entende-sequeamaneiracomooenunciador se apresenta no vídeo possibilita uma melhor compreensão de seufazerpersuasivo–fazeroenunciatário(destinatário)entraremconjunçãocomoobjetodevalor"compreensãodoteoremadePitágoras".

LucasPortodeQUEIROZEntre amorte e omorrer: notas semióticas a partir da letra deNão tenhomedodamorte,deGilbertoGilEstacomunicaçãoprocurachamaratençãoparaalgumasnuancesdoprocessodesignificaçãoapreensíveisnaletradacanção"Nãotenhomedodamorte",composta

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porGilbertoGil.Sendoinicialmenteumacanção,sabemos,sobretudoapartirdosestudosdesenvolvidosnosúltimosanosporLuizTatit, que "Não tenhomedodamorte"seconstituicomoumobjetocujasignificação filia-setantoàumplanodeexpressão verbal (letra) quanto à um planomelódico.Melodia e letra, então, aomesmo tempo em que definem a canção, demandam-se reciprocamente namanifestaçãodosconteúdoscancionais.Porém,nãoénossointuitoaquianalisaracitada cançãodeGilbertoGil, demodoquenosvemosautorizados, aomenosdoponto de vista teórico, a fissurar este objeto em favor de considerações tãosomenteacercadoplanodeexpressãoverbal.Aletraserá,portanto,nossotexto.

CristianoLimadeAraujoREISDorenegritude:efeitosdesentidoemEvocações,deCruzeSousaEmbora saibamos que a negritude não deva ser marcada exclusivamente peloespectrodo sofrimento, sabemosque a dor se confunde com suahistória.Dessemodo, o presente trabalho, parte da pesquisa de doutoramento intitulada Aestéticadadornodiscursoartísticodanegritude,discuteosprocessosconstitutivostantodadorquantodanegritudenaobradeCruzeSousa,apartirda leituradolivro Evocações. Entendemos que o autor em questão, mesmo entendido comosimbolista,extrapolaoslimitesdetalestéticaaoinstalaremsuaobraumdiscursoconstituídoapartirdoestatutodador,deixandodeserumsimbolista“ortodoxo”aoestetizarsuaprópriacondiçãodevidademodoqueaescuridãoquepairasobreseuspoemasemprosasejaaumsótempoefeitodosombrio, traçoparticulardodecadentismo, como também matéria-prima de uma identidade negra que seconstróiaolongodeEvocações.Paratalpercursodeanálise,buscou-sesuportenasemiótica discursiva ou greimasiana por entendermos que esse seria o suporteteórico-metodológico que melhor responderia às exigências da pesquisa emquestãoumavezquenossapreocupaçãoéinvestigarosprocessosdeconstituiçãodadoresuasmanifestaçõesbemcomodanegritudecomoefeitosdesentidodeumdado discurso, no caso, o discurso artístico propagado pela atormentada vozsousiana.

ThaísBorbaRibeiroRODRIGUESOshinospatrióticoscomoestratégiadiscursivaepublicitáriaNesta comunicação falaremos dos hinos patrióticos como um gênero discursivointegradoaodiscursopublicitário,observandocomoele temsidoexploradopelamídiaparareforçaridentidades.Paraisso,foramselecionadasquatrocampanhaspublicitáriasqueseutilizamdoshinoscomointuitoderessaltara(re)uniãoentrecertos grupos sociais, ao mesmo tempo que integra seus produtos nesse ideal.SelecionamosaspropagandasdacervejaBrahmaedaredefastfoodBob´s(marcasbrasileiras) e do smarthphone da Samsung, do banco Sul-Africano FNB - FirstNational Bank (marcas estrangeiras), sendo que todas elas retomam a práticacívica dos hinos nacionais para criar novos hinos. Trata-se de propagandasaudiovisuais veiculadas, principalmente, durante eventos esportivos de largaabrangência, momentos em que a intensidade das abordagens identitárias é

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elevadaaograumáximoeodiscursoda“unidade”ganhacamponasmídias.Nessesentido, o hino aparece como um gênero apropriado para essas estratégias dediscurso, devido a sua capacidade de promover a enunciação coletiva, incitandoafetosepaixões.Astemáticaseas figurativizaçõesexistentesnas letrasremetemsemprea reafirmaçãodosentimentonacionalista, reforçando,dialogicamente,osdiscursosdohinonacional.Osaspectossocioculturaisqueenvolvemacirculaçãodessas canções também serão discutidos, pois determinam a intensidade deadesãoeaidentidadequeodiscursoécapazdepromoverentreosenunciatários.Portanto, utilizando o referencial teórico da semiótica discursiva, pretende-sedesenvolveraquestãoda identidade, levandoemconsideraçãocomoasfiguraseostemasrelacionam-separageraraidentificaçãodoenunciatáriocomodiscursodohinoeatuamefetivamentenaformaçãoe/ounamanutençãodeidentidades.

RonaldoHeberTorresBarretoSALESFundamentosdepublicidadedialógica:acontribuiçãodeMikhailBakhtinEsta comunicação oral discute como alguns conceitos-chave da filosofia dalinguagem e da teoria estética de Mikhail Bakhtin podem servir para ampliar acompreensãodo trabalho criativo nas agências de publicidade e propaganda emuma sociedade cada vez mais conectada à internet. Inicialmente, descreve asetapas do processo de planejamento e criação de campanhas publicitáriasconforme proposto por um conjunto de autores e profissionais da área. Depois,procurarevertalabordagemsegundoumpontodevistabakhtiniano:asnoçõesdedialogismo, polifonia, exotopia, gêneros discursivos e carnavalização são entãomobilizadas. Em todos esses casos, procura ilustrar com os exemplos decampanhasefetivamenteveiculadasnamídiacomoosconceitospodemserusadosparamelhorentenderomodocomoapublicidadeeapropagandaoperamdesdequeocorreu,apartirdosanos1950,apropalada"revoluçãocriativa"nosetor.Odialogismoévistocomofenômenocentralnãosónacomunicaçãomercadológicaqueocorrenainternet,mascomoumprincípiogeraldeconstruçãodosentidonosdiscursos das marcas. Nesse percurso, destaca-se o trabalho de concepção damarcacomoum"autorcriador",oqual,porsuavez,évistocomoposiçãoverbo-axiológicaemmeioàpolifoniaexistentenas"comunidadessemióticas".Éapartirdaíqueotrabalhodecriaçãopublicitáriaapelariaparaosgênerosdiscursivoseacosmovisãocarnavalescacomomeiosdedarformasamensagenssurpreendentese,aomesmotempo,relevantesparaoseupúblico.Todosesseselementospodemser reunidos em ummodelo de publicidade dialógica relativamente abrangente,capazdecontemplartodasasetapasdoprocessoemanálise.Éoquepropomos,atítulodehipótese,nasconsideraçõesfinaisdestacomunicaçãooral.

HoneyRodriguesNobregaSANTANAAtaquesracistasesuarepercussãono(s)espaço(s)doG1Desdemeadosde2015,pôde-seobservarcasosemquefiguraspúblicassãoalvosdecrimesvirtuais,especificamenteataquespormeiodecomentáriosracistasemredessociais.Em03de julhode2015,DiaNacionaldeCombateàDiscriminação

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Racial, a jornalista Maria Júlia Coutinho, “garota do tempo” do Jornal Nacional(telejornal transmitido pela Rede Globo de Televisão), foi “alvo de comentáriosracistas”naredesocialFacebook,comonoticiouoG1,portaldenotíciasdaGlobo.Logoapósoocorrido,umacorrenteemapoioàjornalistaseespalhoupelainternetpormeiodahashtag#somostodosmaju.Deacordocominvestigaçõescomandadaspelo Ministério Público, os crimes não são fatos isolados; o mesmo grupo deinternautasresponsávelpelasofensasàjornalistatambémteriadisparadoataquescontraaatrizglobalTaísAraújo,queem31deoutubrode2015prestouqueixaporataques racistas em seu perfil no Facebook. Posteriormente, outras mulheresnegras de destaque, atrizes, cantoras, jornalistas, também sofreram ataquesracistas,sendoalvosdeagressõesemredessociaiscomooFacebookeoInstagram.Sabemos que, no que diz respeito ao racismo, o tema do preconceito é, quasesempre,tratadodemaneiratendenciosapelamídiabrasileirae,aindaquevivamosem um país miscigenado, vemos frequentemente a manutenção de discursosdegradantes, irônicosoucômicos sobreaspessoasnegras.Destemodo,valendo-nosdospressupostosteóricosdasemióticadiscursivaedeseusdesdobramentosmais recentes, comoa semióticadaspráticas, pretendemosanalisar comentáriosdereportagenson-linedositeG1evídeosdenotícias,buscandodemonstrarcomose constroem,no site,na televisãoenos comentáriosdosespectadores/usuáriosdainternetospapéistemáticos“homemnegro”e“mulhernegra”ecomoaquestãodo racismo tem sido problematizada (ou não) pela grande mídia, perpetuando,atenuando,oureconstruindoosseusvalores.

JosuelPereiradosSANTOSPropostadeatividadeslúdicasparaoensinodeL1Apresentepesquisase inscrevenapropostaquevimostecendoparadissertaçãodemestrado numa iniciativa de aproximar os avanços alcançados na linguísticamodernaàspráticasdeensinodeL1naeducaçãobásica.Saussureaproximoudoiscamposdofazerhumanonumametáfora:oinvestigativo,istoé,ofazercientífico,comolúdico(ojogodexadrez),interaçãoentresujeitosquepressupõeregrasdeelementosestruturadossistematicamente.Emnossofazerinvestigativo,portanto,buscamos unir jogos de elementos linguísticos à atividade docente. Partimos daseguinte hipótese: os avanços alcançados pela linguística moderna e suasistematizaçãoanalíticapodemcontribuirnaelaboraçãodemateriallúdicoparaoensinodeL1naeducaçãobásica.Dessaforma,propomo-nos,àguisadeexemplo,responder à pergunta: como a Linguística pode contribuir na elaboração deferramentaslúdicasparaoensinodeLínguaPortuguesanoBrasil?Asugestãoquese propõe é: operar os mecanismos dos jogos e atividades lúdicas com osparâmetrosorganizacionaisdosistemalinguístico–eixodeseleçãodoselementos(Paradigma)eeixodeorganizaçãodesseselementos(Sintagma)–afimdevariaras atividades gramaticais de modo atrativo e análogo ao sistema linguístico. Oobjetivo das atividades propostas é despertar a atenção dos alunos para maioraquisiçãoderepertóriolinguístico,e,porconseguinte,fazerescolhasacertadasnoprocesso comunicativo de produção de texto-enunciado nas variadas cenasenunciativaseseuscoercitivospapéistemáticos.

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RafaelAlbertoAlvesdosSANTOSPapaFrancisco:construçãodaimagemdeumnovojeitodeserIgrejaDesde que foi eleito Papa, emmarço de 2013, o Cardeal argentino Jorge MarioBergogliotemsurpreendidoaspessoascomonovojeitodeprojetaraimagemdoPapado.Jáaescolhadonomequepassariaausarcomopontífice,Francisco,gerouefeitos de sentido de grande impacto antesmesmoda imagemdo novo líder daIgrejaCatólicaApostólicaRomanaaparecernasacadadaBasílicadeSãoPedro,emRoma, após o tradicional Habemus Papam. Fugindo à regra, ele surgiu vestidounicamentedebrancoe,antesdeconcederabençãoaopovoque lotavaapraça,curvou-seepediuqueopovorezasseemseu favor.Essesgestosquequebramaexpectativa em relação ao “papel temático” de ser Papa que Francisco exerce seestendem em falas, documentos e nas escolhas dos paramentos e vestuários.Apoiado na teoria Semiótica proposta por Greimas, e em seus desdobramentosrecentes–especialmentenasociossemióticadeLandowski,opresentetrabalhosepropõe, a partir de um corpus composto por documentos escritos pelo PapaFrancisco e fotografias suas veiculadas em jornais impressos brasileiros,compreender como esses modos de presença tem garantido ao novo Papa umaaproximação com as pessoas sem necessariamente mudar orientaçõesdoutrináriastradicionaisdaIgrejaRomana.

VítorJochimsSCHNEIDERAcientifizaçãodosimbólicoemummanuscritosaussurianoUm século após sua morte, Ferdinand de Saussure segue sendo apontado pelahistoriografiadalinguísticaedasciênciashumanascomosendoofundadordeumnovomodo de fazer ciência. Seu nome, vinculado ao Curso de Linguística Geral,serviu como catalisador para diversas reflexões acerca das possibilidades deproduzir conhecimento cientificizável em torno dos fenômenos simbólicos. Osdiversosleitoresdocorpussaussurianosedividementreaquelesque,comoJean-Claude Milner, diagnosticam no pensamento do mestre genebrino uma matrizepistemológicaaristotélica,eaquelesmaiscontemporâneos,comoSimonBouquet,que identificam em diferentes porções de diferentes manuscritos as marcas deumaciênciamodernadeordemgalileana.Opresentetrabalho,temcomoobjetivoapresentar uma análise epistemológica do fazer científico registrado em umaporção específica do corpus saussuriano: o manuscrito Notes sur l'accentuationlituanienne.Esteconjuntodetextos,produzidosem1894,aindaqueextremamenteexóticosparaos leitorescontemporâneos,cumpreumpapelcentralna trajetóriainvestigativa traçada por Ferdinand de Saussure ao longo de sua vida, tento emvistaqueoestudodiacrônicodoacentoagudolituanopermitiriaao linguistadarprovas históricas da quarta vogal indo-europeia hipotetizada no seu Memóire.Atravésdeumaapresentaçãodocontextohistóricodaproduçãodestetextoedaapresentação de trechos precisos do manuscrito, será possível apresentar osmodoscomoSaussurepropõeosconceitosdeexistênciaediferençaparapropornovaformadeproduzirconhecimentosobreofenômenosimbólico.

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SauloSCHWARTZMANNAconcessãodeZilberberg:ocasodasrupturas fortese fracasna trajetóriadosenunciadospictóricosEsta comunicação tem como objetivo central discutir a engrenagem“concessão/implicação”propostaporZilberberg(2011,p.98-99;2012,p.76-77),tendo como recorte as continuidades e as rupturas no percurso da história dapintura.Inicialmente,sugiroduasclassificaçõesparaorganizaressadiscussão:(a)classificação segundo um pêndulo tensivo, em que as oscilações vetorizam-sesegundoomovimento“figurativo→plástico→figurativo→plástico→figurativo...”; (b) classificação segundo uma relação hierárquica depreenchimento/esvaziamento semântico, ou seja, todopreenchimento guardanalatência um esvaziamento anterior e todo esvaziamento carrega na latência umpreenchimento anterior. Para demonstrar como se dão essas duas etapasclassificativas, me proponho a analisar quatro ocorrências de enunciadospictóricos, em que há tanto a classificação (a) quanto a classificação (b) acimamencionadas: primeira ocorrência: enunciados pictóricos classificados com ummesmorótulo(ouestética);segundaocorrência:enunciadospictóricosdemesmopintor; terceira ocorrência: enunciados pictóricos de pintores diferentes e commesmo rótulo; quarta ocorrência: enunciados de pintores diferentes e comdiferenterótulo.Emseguida,ecombasenaanálise,questiono:(a)seráquedáparadefender uma ruptura “forte” e uma ruptura “fraca” sem causar desajuste nomodelo de “concessão/implicação”, proposto por Zilberberg? (b) daria paracolocargradaçãonarupturasemqueissoimpliquealteraro“emboraXseráY”daconcessão?(c)senãograduarmosasrupturas,comosustentaracontinuidadeeadescontinuidade,dentrodatrajetóriadahistóriadapintura,senemtoda“ruptura”rompe? (d) pelas análises das amostras que fizemos até aqui, nem toda rupturarompe; se nem toda ruptura rompe e resgata um movimento anterior, comodefender uma ruptura “purista” sem estabelecer como hipótese uma ruptura“fraca” (oque eu chamavade “átona” antesdeminhaqualificação)?Todas essasquestões,advindasdasanálises,configuram-sepautadestacomunicação.

LucasTakeoSHIMODATimbreecifraaspectual:umapropostaderecategorizaçãoAlargandoolugardepertinênciaconcedidoàtemporalidadenasemióticapadrão(Greimas; Courtés, 2012), a reformulação da noção de aspectualização avançadaporZilberberg(2011)instauraumanovadimensãodemaiorabrangênciaanalíticano modelo descritivo da semiótica. Por manejar grandezas temporais, essaabordagem tem semostrado produtiva para compreender os efeitos de sentidoproduzidosnasassimchamadas“artesdotempo”,comotestemunhadopelafartaaplicação desse modelo por Luiz Tatit (1986, 1997, 2002, 2007) ao estudo dacançãopopularbrasileira.DesbravandoatrilhaabertapelosestudosdaSemióticadaCanção,Coelho(2007)propõeaplicarcritériosigualmentetemporaisparacriaruma tipologia de timbres que integram o arranjo da canção popular. Segundo ahipótese traçadaporesseautor,oarranjode canções tematizantes (regidaspelaaceleração) tenderia a privilegiar instrumentos com menor sustentação sonora,

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classificados como “percussivos”. Em contrapartida, canções passionalizantes(regidas pela desaceleração) concentrariam em seu arranjo mais instrumentoscom sustentação sonora longa, denominados pelo autor como “melódicos” (cf.Coelho,2007,p.132).Subjacenteaessatipologia,pode-sereconheceraoposiçãoaspectual pontual vs. durativo/cursivo. Debater criticamente essa proposta deCoelho(2007)éoquepretendeopresentetrabalho,discutindoopercursotraçadoporesseautorparaconstruir suacategorizaçãoeasconsequênciasderivadasdesuasescolhas.Ospontos-chavedebatidosservirãodereferênciaparareorganizaressa tipologia de timbres lançando mão dos termos de segunda geração doquadrado semiótico conforme estabelecido por Greimas (2012). Precedentesencontrados nos trabalhos de Jacques Fontanille (1999, 2001) e Herman Parret(2006)servirãodeargumentoafavordeumaaplicaçãoexpandidadoconceitodeaspectualizaçãoaelementosdoplanodaexpressão.Porfim,evidênciasempíricasserão apresentadas para debater como esse nível de descrição mais amplo eabstratonãoexplicasatisfatoriamentecertasinequivalências,verificadasnapráxisenunciativa,detimbrescommesmacifraaspectual.

GabrieladosSantoseSILVAO tempo tonificantedeHitchcock: análise dasmodulações tensivas emUmcorpoquecaiAlfred Hitchcock, considerado o “mestre do suspense”, nomeado e premiadoinúmerasvezesporseutrabalhonotávelcomodiretor,éreferêncianogênerodeseu epíteto. O cineasta britânico, em entrevista a François Truffaut, define osuspense colocando-o em contraponto à surpresa: enquanto esta tomaria oespectador demodo súbito, aquele prolongaria a espera pelo clímax da diegese(TRUFFAUTeSCOTT,1983apudZIBERBERG,2011p.136).Otempodaesperadosuspense seria, portanto, segundo Zilberberg (2011), tonificante, regido pelasemoções trazidas à tona pela narrativa. Para tal definição, o suspense implica,consequentemente, um alongamento da temporalidade aliado, entretanto, a umaexpectativa em relação ao desfecho, o que incorpora um caráter intensivo econtrabalanceia a dilatação extensiva do tempo. Em Um corpo que cai (1958),clássico thriller psicológico da cinematografia de Hitchcock, o suspense étrabalhadomagistralmente,utilizando-sedediversosartifíciosparaproduziroqueZilberberg (2011) intitula uma dilatação extensiva de uma espera intensiva,deixando o enunciatário à espera do acontecimento, enquanto envolve a tramacom subjetividade. Desse modo, com base na teoria tensiva desenvolvida porClaude Zilberberg, o presente trabalho tem como objetivo o exame da obracinematográficaemquestãoafimdeanalisarasmodulaçõestensivasresponsáveispelaconstruçãodeumefeitodesuspensenanarrativadeHitchcock,identificandocomo, ao longo do enredo, balanceiam-se os mecanismos responsáveis peloalongamentodatemporalidadeepelatonificaçãodaespera.

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LucasAlmeidaSILVAA estereotipização do gênero no discurso literário: planos de expressão econteúdoemBom-criouloOdebateacercadogêneroemsaladeaulaencontraassento,emespecial,quandodasescolasliteráriaseseusciclos,bemcomonasindagaçõesporelaspropostaseemquemedidavariantessociais,políticas,econômicaseculturaisserefletememseumateriallinguístico-discursivo(CANDIDOetal,2011).NoRealismo,percebe-sequeessesistemacríticoéaindamaisintensificadopelabusca(principalmenteemsuafasenaturalista)daexposiçãodarealidade(oudasrealidades?)socialvigente,de modo a denunciar os mais variados comportamentos do homem. O fazerenunciativo, nessa fase da literatura brasileira, preconizou descrições que, porvezes, contribuíram à estereotipização de determinados grupos sociais. Naatualidade, observa-se, entretanto, que tais práticas enunciativas ainda estãopresentes em discursos político-religiosos acerca da questão do gênero,hibridizando-se em afirmações do senso comum que generalizam conceitos dediferentes áreas do conhecimento, demodo a tornar rarefeito o debate por elasestabelecido (FOUCAULT, 2012). Assim, objetivou-se analisar em que medida aestereotipização narrativa influencia na disseminação de discursos do sensocomumnoquetangeàsquestõesdegênero.Comometodologia,foramanalisados,partindo-sedeconceitosdasemióticagreimasiananoqueserefereaosplanosdeexpressão e de conteúdo (BARROS, 2015), fragmentos da obra Bom-crioulo, deAdolfo Caminha, conduzida pela temática do relacionamento homoafetivo. Emváriaspassagens, observou-seo gritoda sociedadeorganicistada época, e comoessesdiscursosestereotipavamavisãoquese tinhadaspersonagensenvolvidas:“econsumou-seodelitocontraanatureza”,“amizadeescandalosacomopequeno”.Concluiu-se,assim,queaestereotipizaçãodasquestõesdegêneroencontra-sevivana literatura, e que, comahibridizaçãodosprocessos comunicativos, atua comorecursoargumentativodosensocomum(FOUCAULT,2012),esteresponsávelporpropagar discursos cada vez mais distantes das realidades vivenciadas,atualmente.

MárioSérgioTeodorodaSILVAJuniorA semiótica da canção da USP no panorama das semióticas sincréticasaudiovisuaissensoriais:deTatitaFontanille.Aimportância,noâmbitodasemióticadiscursiva,dosestudosdamúsicapopularbrasileira, frutos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP),é tantoquantitativaquantoqualitativa.São inúmeros trabalhosdefendidosna área, desenvolvendo, vigorando e complexificando as reflexões trazidas porLuiz Tatit no tocante à semiótica da canção. Ao mesmo passo, outras reflexõessemióticas foramdesenvolvidaspor JacquesFontanille, emumaexímiapropostadeinserçãodosensinamentossemióticosnocampodacultura,daspráticassociaise do corpo do sujeito. Ambas as obras se aproximam por se interessarem pelamaterialidade, seja pelo viés da textualização ou pelo viés da sensorialidade,trazendo, também, em si reflexões que ficarammarcadas emDa imperfeição, domestre Greimas. Nelas, o sensível está sempre correlacionado de maneira

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intrínseca ao inteligível no âmago da produção do sentido, e corroboram comestudosmaisrecentesdamaterialidadeaudiovisualemtextocinematográficos,degames, e de redes sociais, todos do tipo sincrético, por mobilizarem diversasformalizaçõesdaexpressãoemumconjuntoconcisodeconteúdoeque,sobretudo,visam ao enunciatário como corpo sensível responsável pela realização dosentido.Portanto, como objetivo desta comunicação, determina-se o debate daaplicação dos conceitos da teoria de Tatit, em solidariedade às reflexões deFontanille,nadinâmicacarne-corpo,noestudode textossincréticosaudiovisuaiscinematográficos.AcomunicaçãoresultadadissertaçãorealizadanaFaculdadedeCiênciaseLetrasdeAraraquara(FCL/Ar-UNESP)edefendidaemabrildesteano(2017),"OEstiloDisneydecantarhistórias",comopartedostrabalhosdoGrupode Pesquisa em Semiótica da UNESP (GPS-UNESP). Dentre as obras abordadas,destacam-se as de Tatit: "Musicando a semiótica" e "Semiótica da canção", e, deFontanille, "Corpo e sentido", "Práticas semióticas: imanência e pertinência,eficiênciaeotimização"e"Unesémiotiqueduson?Remarquessurlaconstituitiond’unpland’immanence".

MariaVitóriaLaurindoSIVIEROBreve análise semiótica do processo de figurativização da banda BlackSabbathO presente trabalho tem por objetivo analisar, a partir de uma abordagemsemióticadetradiçãosaussuriana,arelaçãoentreaestéticadocinemadehorrorea expressão da banda de heavy-metal britânica Black Sabbath. Busca-sedemonstrar que inúmeros elementos do referido gênero cinematográfico, taiscomo o uso de tomadas em primeira pessoa - com o objetivo de inserir oespectadornacena-,doimaginárioocultista,detemascomumenteassociadosaoterrorpsicológicodoultrarromantismoedapoesiagótica,foramempregadospelabandademaneiraintegralemseuprocessodefigurativização.Naexecuçãodestapesquisa,buscou-seanalisarnãosomenteaspectosisoladosreferentesàproduçãodabanda,taiscomoletrasdesuascançõesouperformancedepalco,masverificara influência do cinemade horror em toda suamanifestação, incluindo, alémdoselementos já citados anteriormente, a comunicação visual da banda, capas deálbunseatémesmosuarelaçãocomopúblicoforadoespaçohabitualdoconcertode rock. Além da análise do caso em tela, o trabalho também tem por objetivoverificar,emtermosmaisabstratoseafastandopreconceitosacadêmicosacercadoobjetodeestudo,oconstanteeimutáveljogodeemulaçãoeapropriaçãosemióticaqueseapresentanãoapenasnocinema,napoesiaounamúsicapop,masemtodasasmodalidadesdearte.

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AlexandreFelipedeSOUSAAmanutençãodo“individualismo”ea“mãoinvisível”:uma abordagem semiótica nas relações entre destinador edestinatário/sujeitonaobradeAdamSmith.Apesquisaemsemióticafrancesasemostracadavezmaisprofícuaeeficientenaanálise de outros textos que saem domeio ficcional “verbal-escrito” (literatura,conto,poesia,etc.)paraseexpandiremàsdemaisáreasdoconhecimentocomoasciências naturais e seus discursos, e os gêneros com plano de expressão maiscomplexos,comoocinema,históriaemquadrinhos,alémdeoutros.Diantedisso,apresente pesquisa tem por objetivo aplicar essametodologia de análise sobre aobradeteoriaeconômicaARiquezadasNações,deAdamSmith,comopropósitodeexaminaro “individualismo”dentrodasrelaçõesactanciaisepassionaisentredestinador e destinatário/sujeito, bem como visualizar mais precisamente amaneiradiscursivacomoqueambossãodesenvolvidospeloautornosprocessoshistóricoscontidosnasuperfícietextualdaobra.Tenciona-seinvestigartambémoníveldepertinênciaadequadoparaaseleçãodosobjetosdeanálisecondizentesàproposta da pesquisa, lançando mão da proposta de Fontanille para o corpuspretendido: todo o Livro Primeiro, “As causas do aprimoramento das forçasprodutivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmentedistribuídaentreasdiversascategoriasdopovo”,eno livroQuarto, “Sistemasdeeconomia política”, o capítulo II, “Restrições à importação de mercadoriasestrangeirasquepodemserproduzidasnoprópriopaís”.

LaisAkemiMunhozdeSOUZAAquebradelimitesentreopictóricoeopoéticoAsemióticacomoteoriadesignificaçãotemdesdeasuacriaçãocontribuídoparaaanálisedoplanode conteúdodediversas linguagens, sendo abrangente e dandoconta do maior número de elementos possíveis. Quanto ao plano de expressão,porém, ainda não há uma teoria formada e disseminada nosmesmosmoldes dateoria de Greimas e seus seguidores. Com isto em mente, buscar-se-á tratarbrevementedaanálisedoplanodeexpressãoemalgumasobras.A literaturaeapintura são linguagens há muito tratadas pela teoria semiótica, inclusive porgrandesnomesdestacorrenteteórica,comoGreimaseFloch.Atualmente,porém,vêm surgindo cada vezmais obras que se encontram emumespaço fluido, comelementostantopictóricoscomopoéticos.Aestalinguagemdeu-seacategorizaçãode poesia visual, ou pintura conceitual. As particularidades destas obras, comelementosqueremetemtantoapoesiacomoapintura,eporvezescomelementosprópriosdestetipodeprodução,exigemadaptaçõesdateoriadebase,edomodocomoelaseaplicanaslinguagenstradicionais.Destemodo,aotratardoplanodeexpressãodoencontrodapoesiacomapinturaserápossívelnãosomenteabarcaros métodos de análise destas linguagens já bem tratadas (será feito umlevantamento geral sobre o plano de expressão da poesia e da pinturaseparadamenteparaserutilizadocomoreferênciaebase),comoadaptarateoriapara uma linguagem atual e diversa, abarcando elementos pouco estudados atéentão.

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PaulaMartinsdeSOUZAParaoestudodoacontecimentosintagmáticoEm semiótica tensiva, o acontecimento caracteriza-se pelo modo de junçãoconcessiva(Zilberberg,2007,p.13).Eleocorre,pois,quandoarelaçãode junçãoentresujeitoeobjetovaideencontroàsexpectativasdosujeito,criandoafórmula“emborax,y”.Eleé sentidopelosujeitocomoumeventodealto impacto,poisasurpresa que implica a quebra de expectativas invade seu eixo sensível,dominando-o, enquanto sua inteligibilidade fica extremamente prejudicada,impossibilitandouma intelecçãodesacelerada,daordemdocausal.Parecehaver,entretanto, dois tipos diferentes de acontecimento que precisariam sercontemplados quando da análise. O primeiro é paradigmaticamente constituídoenquantotal:ossuicídios,homenagens,acidentes,fruiçõesartísticasecatástrofesnaturais são constitutivamente acontecimentos, pois é de sua natureza aparecersem que os sujeitos estejam esperando (Souza, 2016, p. 253). O segundo tipo émaissutilesópodeserobtidosintagmaticamentepois,nãosendoacontecimentosemsi,dependemdarelaçãoentreossujeitosdaenunciaçãoedoenunciadoparaseremconstituídosenquantotais.Atítulodeexemplo,asconfiguraçõessubjetivasparticulares do narrador de Cem anos de solidão ([1967] 2009) e do ator “JoséArcadio Buendía”, relacionadas entre si, são capazes de produzir um efeito deacontecimentoquandooatordizque“Aterraéredondacomoumalaranja”(p.10),ainda que sua afirmação seja uma verdade gnômica para os enunciatários. Estacomunicaçãobaseia-senahipótesedequeoacontecimentosintagmáticonãoédenaturezameramente axiológica, uma vez quemuda de sujeito para sujeito. Essetipo de acontecimento, com isso, reivindica o entendimentomais detalhado dasrelações intersubjetivas do texto, que se dão entre sujeitos da enunciação e doenunciado. Ao longo da comunicação, serão apresentados alguns elementosmetodológicosqueparecemfacilitaroexamedetaisrelações.

ErnaniTERRAAenunciaçãoemDevaneioseembriaguezdeumarapariga,deClariceLispectorDevaneiosdeembriaguezdeumarapariga,daobraLaçosdeFamília,éumcontosingularnaobradeClariceLispector,jáqueéseuúnicotextoescritonavariedadeeuropeia do português, o que produz de imediato um efeito de sentido deestranhamentonoenunciatárioleitor,especialmentenaquelejáfamiliarizadocomaproduçãoliteráriadessaautora.Pretende-semostrarcomoeporqueumsujeitoda enunciação, falante da variedade brasileira do português, desdobra-se numenunciadorqueproduzumdiscursoemquesecorporificacomofalantenativodoportuguês europeu. Nos discursos em que um falante do português brasileiroprocura reproduzir a variedade europeia do português, o procedimento énormalmente estereotipado: na linguagem oral centra-se na tentativa dereproduzir os aspectos prosódicos; na escrita, o procedimento recaiprincipalmente na utilização de um léxico e de uma sintaxe que atestam asdiferenças entre as duas variedades. Não é o que ocorre nesse conto de ClariceLispector,umavezquepeloditoepelomododedizerconstrói-seumethosdeum

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enunciador que encarna umamulher portuguesa, resultando numa identificaçãoentreatordaenunciaçãoeatordoenunciado,umaportuguesaquevivenoBrasil.Com fundamentação teórica e metodológica na semiótica de linha francesa,tambémdita greimasiana, particularmentenoque se refere à sintaxediscursiva,objetiva-se mostrar como se dá a aproximação e a identificação do ator daenunciaçãocomoatordoenunciado.

MaisaTUASCACartaz para recrutamento militar soviético: um estudo semiótico sobre arepresentaçãofemininanoperíododaSegundaGuerraMundial.Opropósitodoensaioemquestãoconsisteemanalisarocartazpararecrutamentomilitar russo produzido em (1941), na antiga (URSS) União das RepúblicasSocialistasSoviéticas.Diantedessapremissa,serãoabordadososestudossobrearepresentaçãofemininanestaproduçãotextualelaboradanoperíododaSegundaGuerraMundial.Comobaseteórica,utilizou-seametodologiadaanálisenarrativagreimasiana, para compreender a produção de sentidos do respectivo textosincréticoapartirdoplanodeconteúdoeexpressão,ouseja,mapearopercursogerativosentidoemseustrêsníveis:fundamental,narrativoediscursivo,expondoasquestões sobreapercepção, significaçãoe sentidono texto. Emsuaprimeiraparte, será proposto um estudo sobre a realidade social da (URSS) e arepresentação feminina no período em que o cartaz foi produzido; já em suasegunda parte, o trabalho propõe a interpretação dos três níveis do percursogerativoesuasrespectivassignificações,propiciandosua interpretaçãoalémdoslimites da linguagem verbal, ou seja, a definição de texto em sua amplitude pormeiodacomunicaçãovisual.Ademais,aoexplorarosdiversosrecursoslinguísticosutilizados na composição do cartaz, observou-se a importância da teoriagreimasianaparaanálisedaconstruçãodotextosincrético,daíajustificativaparaotítulodoensaio:Cartazpararecrutamentomilitarsoviético:umestudosemióticosobrearepresentaçãofemininanoperíododaSegundaGuerraMundial.

FernandoCrespimdaSilvaZORRERApoesiadePauloLeminski:ícones,índicesesímbolosO poeta Paulo Leminski trabalhou de diversas formas no âmbito literário: fezpoesias, traduziu, fez crítica literária, compôs biografias e outras produções nocampo artístico.Manteve contato commuitos poetas e como grupoNoigrandes,formadoporAugustodeCampos,HaroldodeCamposeDécioPignatari.Napoesia,escreveu poesia com verso livre, haicais, além de poesia concreta. Neste caso, opoetapossuiumlivrodepoesiasespecíficocompoesiasconcretasqueseintitulaSol-te, a respeito do qual desejamos apresentar uma análise semiótica. A ideia éavaliar essa obra, como, por exemplo, em umpoema, sem título, no qual afirma‘Solte o sol / Solte todo sol toda sorte / pode que volte’. Mais do que nunca, apalavracentralnãoseconstituiem‘solte’masem‘sol’,nãoéumverbomassimumsubstantivo. Já o símbolo representado pela letra ‘o’ é, no poema,proporcionalmentemaiorqueasoutrasletras,istoé,osímbolosetransformaem

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umícone,domesmoquemodoquealetra‘q’,cujapartecirculardaletraétambémenfaticamenterepresentadoemumtamanhomaior.Aideiaéreforçaraimagemdo‘sol’, comoanossamaior estrela, destacando-opormeiodesse recurso gráfico etambémaprópria imagemdarodaqueencontraecono finaldopoema, istoé,aletra final do poema, ‘e’, é colocada emposição invertida, salientando a ideia deretornoque é expressadapelo significadodapalavra ‘volte’.Desta forma, esse eoutros poemas serão apresentados e analisados mediante conceitos centrais daobradeCharlesSandersPeirce,comoícone,índiceesímbolos.