caderno para professores - terceiro ano
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FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
A POESIA NA ESCOLA
Caderno para professores
Terceiro Ano de Escolaridade
Coimbra, Setembro de 2008
A POESIA NA ESCOLA 1
ÍNDICE
I - Palavra de Abertura ………………………………………………………………………………...……………...… 3
II - Tipos de texto para o 1.º Ano de Escolaridade (segundo o PLP) ………………………….……… 4
III – Proposta de calendarização …………………………………………………………………….……………… 5
IV – Grelha de exploração do texto poético …………………………………………………………………….. 7
V – Textos ………………………………………………………………………………………………….…………………. 9
A POESIA NA ESCOLA 2
I – PALAVRA DE ABERTURA
Senhor(a) professor(a),
1. Este caderno tem como objectivo facultar os instrumentos necessários para o
desenvolvimento e prossecução do programa “A poesia na Escola”, que visa implementar a
poesia na sala de aula, no âmbito da área curricular de Língua Portuguesa.
2. Aqui encontra os seguintes documentos:
- Tipos de texto a trabalhar de acordo com o Programa de Língua Portuguesa;
- Uma proposta de calendarização (semanal) para trabalhar esses textos;
- Uma proposta de grelha para orientar a exploração de cada texto;
- Os textos a “trabalhar” com os alunos;
3. Para que este programa possa ser desenvolvido com sucesso, será necessário:
- o respeito pela regularidade semanal do trabalho com a poesia (ficando ao seu
critério o dia que julgar mais oportuno e conveniente para trabalhar o texto previsto);
- a preparação e concretização semanal de um tempo lectivo para cada texto
previsto;
4. Em caso de dúvida ou dificuldade, pode ligar-me para o telemóvel nº 963937933 ou
contactar-me por correio electrónico para o endereço [email protected].
5. Queria, ainda, manifestar a minha gratidão pela disponibilidade em colaborar na
concretização deste programa. Muito obrigado.
João Manuel Ribeiro
Coimbra, Setembro de 2008.
A POESIA NA ESCOLA 3
II – TIPOS DE TEXTOS PARA O 1.º ANO DE ESCOLARIDADE
Ano de escolaridade Tipo de poesia
1.º ANO
- Adivinhas (5)
- Trava-línguas (5)
- Lengalengas (5)
- Rimas infantis (5)
2.º ANO
- Adivinhas (5)
- Trava-línguas (5)
- Lengalengas (5)
- Rimas infantis (5)
3.º ANO
- Adivinhas (2)
- Trava-línguas (2)
- Lengalengas (4)
- Rimas infantis (4)
- Quadras (4)
- Poemas de extensão e complexidade progressivamente
alargadas (4)
4.º ANO
- Trava-líguas (4)
- Lengalengas (4)
- Rimas infantis (3)
- Quadras (3)
- Poemas de extensão e complexidade progressivamente
alargadas (6)
A POESIA NA ESCOLA 4
III – PROPOSTA DE CALENDARIZAÇÃO
1º Bloco
Outubro e Novembro
Semana Título Autor
1ª Semana: Adivinha 1 Soledade Martinho Costa
2ª Semana: Adivinha 2 Mário Castrim
3ª Semana: Tantarantana José Fanha
4ª Semana: Pardal pardo Popular
5ª Semana: Era uma velha Recolha de José Viale Moutinho
6ª Semana: Eu tenho uma pita pinta Recolha de José Viale Moutinho
7ª Semana: Senhora vizinha Recolha de José Viale Moutinho
8ª Semana: Amanhã é domingo Tiago Salgueiro
2º Bloco
Janeiro, Fevereiro e Março
Semana Título Autor
1ª Semana: Poesia Fernando Pessoa
2ª Semana: Amanhã é domingo Almada Negreiros
3ª Semana: Não sei se isto é um poema Teresa Guedes
4ª Semana: Coisas que não há Manuel António Pina
5ª Semana: Quadras Populares 1 Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria
6ª Semana: Quadras Populares 2 Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria
7ª Semana: Quadras Populares 3 Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria
8ª Semana: Quadras Populares 4 Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria
A POESIA NA ESCOLA 5
3º Bloco
Abril e Maio
Semana Título Autor
1ª Semana: A mãe Luísa Ducla Soares
2ª Semana: Aquela nuvem Eugénio de Andrade
3ª Semana: Brinquedo Miguel Torga
4ª Semana: À noite Álvaro Magalhães
A POESIA NA ESCOLA 6
IV – GRELHA DE EXPLORAÇÃO DO TEXTO POÉTICO
Para a exploração de cada texto poético propomos três estratégias gerais: a leitura, a
análise e interpretação e a escrita.
A leitura é a estratégia pela qual fazemos chegar o aluno ao texto poético; é a porta de
acesso ao poema; esta estratégia pode ser concretizada de variados modos, sem esquecer
as questões textuais e para-textuais da própria leitura.
A interpretação e análise é a estratégia pela qual descobrimos a respiração do texto
poético num dinamismo cognitivo fundamental; esta estratégia deve, obviamente, começar
pela identificação da textura do próprio texto, isto é, pela identificação e reconhecimento
dos recursos fónicos, rítmicos e gramaticais próprios de cada texto passando de seguida à
interpretação do significado dos mesmos. Trabalhados estes, importará questionar e
interpretar a relação, existente ou não no texto, entre conteúdo e forma ou expressão.
Finalmente, será crucial perseguir a conotação geral do texto (o que este texto nos sugere /
nos quer dizer, etc.) e possibilitar a manifestação livre (oral ou escrita) dos conceitos novos
ou sentimentos que o texto suscitou.
A escrita é a estratégia que possibilita ao aluno re-escrever o texto poético. Não se trata de
dar uma resposta ao texto nem de questionar o aluno sobre o texto, mas de possibilitar que
o aluno diga algo ou se diga a partir do texto explorado.
Obviamente que para os alunos do 1.º e 2.º anos de escolaridade, esta estratégia tem de ser
reorientada para outro tipo de actividades que não a escrita em sentido estrito. Todavia, o
objectivo dessas actividade deve ser o mesmo: o entendimento que o aluno teve do texto
poético.
Assim, o itinerário é fazer chegar/ fazer entrar no/ao texto poético (pela leitura), fazer
morar no corpo do texto poético, respirando-o (pela análise e interpretação) e re-
escrever o texto poético, alargando o entendimento do mesmo (pela escrita).
Para uma maior e melhor seguimento deste itinerário pedagógico, oferecemos a grelha que
se segue com a Especificação das Estratégias Fundamentais:
A POESIA NA ESCOLA 7
Especificação das Estratégias Fundamentais
I - LEITURA
1 Concretização 1.1 Lê o professor (e/ou)1 2. Lê um aluno (e/ou)1.3. Lê um pequeno grupo de alunos (e/ou)1.4. Lê toda a turma (e/ou)
2 Textual 2.1. Enfatização 2. 2. Destaque das frases 2.3. Recursos de versificação
3 Para-textual 3.1. Voz 3.2. Expressão facial / corporal
II – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO .
1.Textura 1.1. Recursos fónicos1.2. Recursos ritmicos 1.3. Recursos gramaticais
2. Semântica 2.1. Significado dos recursos fónicos2.2. Significado dos recursos ritmicos2.3. Significado dos recursos gramaticais
3. Técnico-compositivo 3.1. Relação entre conteúdo e expressão
4. Semântico-pragática 4.1.Conotação geral do texto4.2. Manifestação de sentimentos
III – ESCRITA
1. Instruções para escrita 1 1. Aspectos formais1 2. A partir de temas, palavras, expressões ou esquemas
2. O processo de escrita 2 1. Individual2.2. Com a ajuda do professor2.3. Em grupo
3. Partilha textos escritos 3.1. Leitura em voz alta do texto para todos 3.2. Apreciação do texto pelos colegas / pelo próprio (a)3.3. Apreciação do texto pelo professor
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V - TEXTOS
TEXTOS PARA O PROGRAMA
“A POESIA NA ESCOLA”
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Texto 1:
Adivinha 1
Dos anos perde-lhe a conta,Vive duzentos ou mais.Dizem até que remontaAos primeiros animais.
Sua casa não tem porta,De dentro dela não sai;Por isso mesmo a transportaA todo o lado onde vai.
Mal o Inverno pressenteTrata logo de hibernar;Pacata, um pouco indolente,Vive na terra e no mar!
[Tartaruga]
Soledade Martinho Costa (Vamos adivinhar animais II)
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Texto 2:
Adivinha 2
Nasci na China.Agora estouexactamenteonde tens
os olhos.
Não fujas com eles.
(Para adivinharseja o que forolhar bem de frenteé indispensável)
Agora estou aqui.Aqui.Olha bem para mim.
1 – Não tenho ossos.2 – Sou de todas as cores.3 – De muitas coisas feito.4 – Vivo mais que o ferro.5 – Sou uma espécie de pedracom pele de menina.6 – De mim farás barco, tua arma.
Não perguntes por mim às estrelasnem ao tecto da casa, porque eueu estouexactamente
EU ESTOU EXACTAMENTE AQUI
onde tens os olhos
Mário Castrim (Histórias com Juízo)
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Texto 3:
Tantarantana
Tantarantanatantarantelasalta da camavai à janela
Vai à janelap’ra ver quem passapassa uma Belapassa uma Graça.
Passa uma Graçafaz um gracejose ela te abraçapede-lhe um beijo.
Pede-lhe um beijodevagarinhodiz-lhe um desejodá-lhe um carinho.
Dá-lhe um carinhoe uma chinelafaz-lhe um miminhoseda amarela.
Seda amarelabela ciganatantarantela tantarantana.
José Fanha (Cantigas e cantigos)
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Texto 4:
Pardal Pardo
Perto daquele ripadoEstá palrando um pardal pardo.- Pardal pardo porque palras?- eu palro e palrarei,Porque sou o pardal pardoPalrador d’el-rei.
Popular
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Texto 5:
Era uma velha
Era uma velhaQue tinha um burroE debaixo da cama o tinha.O burro zurrava,O porco roncava,O galo cantava,O cão ladrava,O gato miavaE a velha dizia:Mal haja o teu zurrar.Mal haja o teu roncar.Mal haja o teu cantar.Mal haja o teu ladrar.Mal haja o teu miar.Que não me deixam dormirNem tão-pouco descansar.
(Recolha de José Viale Moutinho – O livrinho das Lengalengas – Afrontamento)
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Texto 6:
Eu tenho uma pita pinta
Eu tenho uma pita pintaQue põe três ovos ao dia.Se ela me pusesse quatroAinda muito mais valia.Já me davam pelas tripasUma feixada de fitas.Já me davam pelas asasUma aldeia com dez casas.Já me davam pela línguaA cidade de Coimbra.Já me davam pelas pernasUmas meias amarelas.Já me davam pelo corpoToda a cidade do Porto.
Galinha que vale tantoDas pernas até ao ossoNão vai parar ao convento:Vou eu comê-la ao almoço!
(Recolha de José Viale Moutinho – O livrinho das Lengalengas – Afrontamento)
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Texto 7:
Senhora vizinha
Senhora vizinha,Repreenda o seu galoQue a minha galinhaAnda a namorá-lo.
Senhora vizinha,Repreenda o seu frango,Que vem cá para casaBailar o fandango.
Senhora vizinha,O seu gato deuQuatro sapatadasNa cara do meu.
(Recolha de José Viale Moutinho – O livrinho das Lengalengas – Afrontamento)
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Texto 8:
Amanhã é domingo
Amanhã é domingopé de cachimbogalo Monteiropisou na areiaareia é finaque dá no sinoo sino é de ouroque dá no besouro,o besouro é de prataque dá na barataa barata é valenteque dá no tenenteo tenente é mofinoque dá no meninoo menino é danadoque dá no soldadoo soldado é valenteque dá na gente.
Tiago Salgueiro (Lengalengas Coloridas
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Texto 9:
Poesia
Havia um meninoque tinha um chapéup’ra pôr na cabeçapor causa do Sol:em vez de um gatinhotinha um caracoldentro do chapéu.Fazia-lhe cócegas,no alto da cabeça, por isso ele andavadepressa, depressap’ra ver se chegavaa casa e tiravao chapéu, saindode lá e caindoo tal caracol.Mas era, afinal,impossível tal,nem fazia malnem vê-lo, nem tê-lo,porque o caracolera de cabelo!
Fernando Pessoa (Comboio, Saudades, Caracóis)
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Texto 10:
A noite rimada
Pela serra ao luaria um menino sozinhosem sono pra se deitar.
Ia o menino a pensarporque seria ele sósem sono pra se deitar.
Ia o menino a pensarque há tanto por pensare a cidade a descansar
Quem dorme sem ter pensadodeve ter sono emprestadonão é sono bem ganhado.
Ia o menino a pensarcomo poder arranjarmuita força pra pensar.
Ia o menino a arranjarmuita força pra pensaro próprio sonho ganhar.
Almada Negreiros (O Menino com olhos de gigante)
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Texto 11:
Não sei se isto é um poema
Hoje quase ninguém sabe o que são poemasporque estão ocupados com outros temas.Mesmo que este não seja um poemaestá a saber-me bem escrever!Depois de pronto, ele e o entusiasmoaninharam-se no meu bolso e saímos à ruaportáteis, vivos, anónimos e felizes por tereste segredo só nosso para esconder.
Teresa Guedes (Poetas “difíceis”? – Um mito)
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Texto 12:
Coisas que não há
Uma coisa que me põe tristeé que não exista o que não existe.(Se é que não existe, e isto é que existe!)Há tantas coisas bonitas que não há:Coisas que não há, gente que não há,bichos que já houve e já não há, livros por ler, coisas por ver,feitos desfeitos, outros feitos por fazer,pessoas tão boas ainda por nascere outras que morreram há tanto tempo!Tantas lembranças de que não me lembro,sítios que não sei, invenções que não invento,gente de vidro e Porque se o imaginasse já existiaembora num sítio onde só eu ia…de vento, países por achar,Paisagens, plantas, jardins de ar, Tudo o que eu nem posso imaginar
Manuel António Pina (Um Pássaro na cabeça)
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Texto 13:
Quadras populares 1
O coração e os olhosSão dois amantes leais;Se o coração tiver penasLogo os olhos dão sinais.
Os olhos do meu amorSão duas azeitoninhas;Fechados são dois botões,Abertos, duas rosinhas.
Tenho dentro do meu peitoUm relógio a trabalhar:Dá horas e meias horasSem ninguém corda lhe dar.
Eu não sei como te chamas,Nem que nome te hei-de pôr;Cravo não que tu és rosa,Rosa não, que tu és flor.
Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria (A Lira do Povo. Quinhentas Quadras Populares)
A POESIA NA ESCOLA 22
Texto 14:
Quadras populares 2
Rouxinol de bico pretoDeixa a baga do loureiro;Deixa dormir o meninoQue está no sono primeiro.
Ninguém diga duma fonte:Nunca aqui hei-de beber;Se um dia a sede apertar,Que remédio é que há-de ter?
Não há sol como o de Maio,Nem luar como em Janeiro,Nem cravo como o regado,Nem amor como o primeiro.
Quem tem olivais tem vinho.Quem tem vinha tem azeite.Quem tem cabras tem presunto,E quem tem porcos tem leite.
Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria (A Lira do Povo. Quinhentas Quadras Populares)
A POESIA NA ESCOLA 23
Texto 15:
Quadras populares 3
Eu escrevi num tronco velhoAlgum dia o nome teu.O teu nome era tão lindoQue o tronco reverdeceu.
Dentro do meu peito tenho,Chegadinho ao coração,Umas letrinhas que dizem:Amar sim, deixar-te não.
Eu fui ao fundo do marBuscar uma douradinha,Só p’ra dourar os cabelosÀ minha rapariguinha.
Tenho sede, tenho fome,Não de carne nem de vinho;Tenho fome de um abraço,Tenho sede de um beijinho.
Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria (A Lira do Povo. Quinhentas Quadras Populares)
A POESIA NA ESCOLA 24
Texto 16:
Quadras populares 4
Que passarinho é aqueleQue no ar faz ameaços?Com o bico pede beijos,Com as asas pede abraços.
Toda a vida fui pastor,Toda a vida guardei gado.Trago uma nódoa no peitoDe me agarrar ao cajado.
Todo o saber popularSe resume em verso curto.De grão se faz a searaComo da semente o fruto.
As quadras que o povo cantaNem sempre lhe dão alento;A umas leva-as a chuva,As outras vão com o vento.
Selecção e Organização deJosé Fanha e José Jorge Letria (A Lira do Povo. Quinhentas Quadras Populares)
A POESIA NA ESCOLA 25
Texto 17:
A Mãe
A mãeé uma árvoree eu uma flor.
A mãe tem olhos altos como estrelas.Os seus cabelos brilhamcomo o sol.
A mãetem mais força que o vento:carrega sacos e sacosdo supermercadoe ainda me carrega a mim.
A mãeconhece o bem e o mal.Diz que é bem partir pinhõese partir copos é mal.Eu acho tudo igual.
A mãetem na barriga um ninho.É lá que guardao meu irmãozinho.
A mãequando cantatem um pássaro na garganta.
Luísa Ducla Soares
A POESIA NA ESCOLA 26
Texto 18:
Aquela nuvem
- É tão bom ser nuvem,ter um corpo leve,e passar, passar.
- Leva-me contigo.Quero ver Granada.Quero ver o mar.
- Granada é longe,o mar é distante,não podes voar.
- Para que serveser nuvem, se nãome podes levar?
- Serve para te ver.E passar, passar.
Eugénio de Andrade (Aquela nuvem e outras)
A POESIA NA ESCOLA 27
Texto 19:
Brinquedo
Foi um sonho que eu tive:era uma grande estrela de papel,um cordele um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrelacom ar de quem semeia uma ilusão;e a estrela ia subindo, azul e amarela,presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiuque deixou de ser estrela de papel,e o menino, ao vê-la assim, sorriue cortou-lhe o cordel.
Miguel Torga (Diário, 1941)
A POESIA NA ESCOLA 28
Texto 20:
À noite
Quando o Sol se vai e é chegada a Luao pai corre fechos, persianas,vai trancar o portão que dá para a rua.Depois adormeço, mas os meus sonhosnão cabem na casa e eu saiopara riscar a noite com um fio de luz,cavalgar mistérios até de manhã.
À noite, uma simples brisaescancara portas e janelase não há chave, fecho ou trancaque encerre a porta larga dos meus sonhos.
Álvaro Magalhães (O brincador)
A POESIA NA ESCOLA 29
A POESIA NA ESCOLA 30