caderno novo codigo florestal dez 2012

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NOVO CóDIGO FLORESTAL BRASILEIRO Meio ambiente e biodiversidade brasileira desprotegidos

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Discussão sobre o novo código florestal. Um caderno sobre as alterações e inclusões da nova lei

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  • Novo Cdigo Florestal Brasileiro

    Meio ambiente e biodiversidade brasileira desprotegidos

  • Capa: Imagem de satlite mostra desmatamento no estado do Matogrosso

  • Novo Cdigo Florestal Brasileiro

    Meio ambiente e biodiversidade brasileira desprotegidos

    Publicao do mandato Popular e SocialistaIvan Valente

    Deputado Federal PSOL/SP

    BrasliaDezembro de 2012

  • Esta publicao do mandato Ivan Valente dedicada ao gegrafo e companheiroAziz AbSaber, defensor histrico do meio ambiente, aguerrido lutador pela transformao social e pela construo de uma sociedade em que os interesses econmicos privados no estejam acima das necessidades do povo.

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    Em outubro de 2012, passou a vigorar no pas um novo Cdigo Florestal. Esta publicao do mandato do Deputado Federal Ivan Valente, a segunda elaborada sobre o tema, procura apresentar os principais problemas da nova lei e chamar a populao a manter viva a mobilizao em prol da preservao do meio ambiente.

    Na avaliao do PSOL, o novo Cdigo Florestal representa o maior retrocesso da legislao ambiental de nossa histria, com srias conseqncias no s para o meio ambiente mas para toda a sociedade, que corre srio risco de ver agravadas as condies de vida, produo e ocupao do territrio nacional.

    O texto da nova lei atenta contra as chamadas reas de Preservao Permanente (APPs) e Reservas Legais, fragilizando reas estratgicas para o desenvolvimento nacional e desrespeitando a diversidade e o conjunto dos ecossistemas em nosso pas. O novo Cdigo ainda anistia o desmatamento, perdoando

    IntrODuO

    multas e desobrigando a recuperao de reas de risco e de florestas nativas. Os prejuzos so incalculveis para a nossa rica biodiversidade, a gua e o solo, comprometendo o futuro das prximas geraes. Trata-se, portanto, de uma imensa irresponsabilidade e de uma deciso estrategicamente equivocada.

    Por trs do discurso de apoio ao pequeno agricultor e agricultura familiar, quem saiu ganhando mais uma vez foram os nefastos interesses em prol da explorao acelerada dos recursos naturais. Foi mais uma conseqncia da lgica operada h anos no pas, via incentivos e privilgios governamentais ao agronegcio, com desastrosas conseqncias ambientais nas regies de expanso da fronteira agrcola, sobretudo na Amaznia, que impactam em todo o territrio nacional.

    Esse caderno quer informar e denunciar estas mudanas no Cdigo Florestal. No queremos e no precisamos de reformas que priorizem

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    mais uma vez o grande capital e a monocultura de exportao. No queremos deixar impunes aqueles que se acostumaram a descumprir sistematicamente a lei ambiental e a mud-la quando lhes convm, segundo seus prprios interesses. Tal prtica, alm de tudo, anti-pedaggica, porque privilegia quem desrespeitou a lei e no beneficia quem manteve as florestas em p.

    Mudanas no Cdigo Florestal deveriam caminhar no sentido de moderniz-lo e aperfeio-lo luz dos avanos cientficos acerca da preservao da natureza, da questo climtica e das funes institucionais das APPs e Reservas Legais; de ampliar a educao ambiental dos produtores e da populao em geral. Mas o que foi aprovado pelo Congresso e sancionado pela Presidenta da Repblica um convite impunidade e representa uma drstica flexibilizao da legislao ambiental.

    Infelizmente, os to alardeados vetos e complementos feitos pelo Poder Executivo no alteraram o carter de reduo da preservao ambiental expresso pela nova lei. Por isso, o nico

    caminho restante recorrer Justia para impedir tamanho retrocesso e o desequilbrio ambiental que pode decorrer do novo Cdigo Florestal. O PSOL Partido Socialismo e Liberdade est analisando ento a possibilidade de questionar na Justia os prejuzos trazidos pelas mudanas na legislao.

    No queremos ser um pas a servio dos interesses de uma elite agrria-exportadora. Queremos fazer valer os avanos alcanados por nossa luta democrtica. Nossa prioridade deve ser a vida, e a vida pede a derrubada do novo Cdigo Florestal.

    o que uMa aPP e qual sua FuNo

    Chama-se rea de Preservao Permanente a rea protegida, coberta ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas. Segundo o

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    Conselho Nacional de Meio Ambiente, consideram-se APPs as florestas e demais formas de vegetao natural situadas ao longo dos rios ou de outro qualquer curso dgua; ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua, naturais ou artificiais; no topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas; nas restingas, como fixadoras e dunas ou estabilizadoras de mangues. No caso dos rios com menos de 10 metros de largura, a APP deve ser de 30 metros em cada margem, crescendo de forma proporcional largura do curso dgua. As APPs no so exclusivamente rurais. As reas urbanas tambm devem respeitar,

    As reAs de PreservAo PermAnente (APPs) e as reservAs LegAis (rL) esto no centro das mudanas feitas no Cdigo Florestal. Apesar de ambas se referirem a reas de proteo, no cumprem a mesma funo. Por isso mesmo, a legislao que at este ano estava em vigor autorizava a sobreposio dessas reas somente em situaes em que a soma da APP e da rL ultrapassasse 80% da propriedade na Amaznia Legal, 50% nas demais regies do pas e 25% nas pequenas propriedades rurais. entender a especificidade de cada uma importante para a discusso em torno das alteraes no Cdigo Florestal.

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    na formulao de seus Planos Diretores, os limites de proteo definidos pelo Cdigo Florestal.

    o que reserva legal e qual sua FuNo

    Segundo o novo Cdigo Florestal Brasileiro, a Reserva Legal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, (...) com a funo de assegurar o uso econmico de modo sustentvel dos recursos naturais do imvel rural, auxiliar a conservao e a reabilitao dos processos ecolgicos e promover a conservao da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteo de fauna silvestre e da flora nativa. Trata-se, portanto, de uma rea de vegetao nativa dentro de uma propriedade rural que deveria ser preservada, sem desmatamento. De acordo com os parmetros ainda vigentes na legislao, incluindo as resolues do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) implementadas a partir de 2002, a rea correspondente Reserva Legal deve ser de, no mnimo, 80% da propriedade rural situada em

    rea de floresta localizada na Amaznia legal, 35% nas propriedades em rea de cerrado; 20% para propriedades em rea de floresta ou outras formas de vegetao nativa localizada nas demais regies do pas.

    Alm de garantir a biodiversidade, as Reservas Legais tambm contribuem para a manuteno do equilbrio climtico e ecolgico, com o controle natural de pragas, a polinizao, a umidificao, a proteo contra o vento e oferta de abrigo para fauna, possibilitando a realizao dos processos ecolgicos. Tambm evitam o isolamento de fragmentos florestais e a carncia de reserva de madeira manejvel; reduzem o impacto sobre a paisagem; valorizam a propriedade e tem um valor inestimvel para a prpria agricultura.

    Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), a preservao dessas reas como servio ambiental possibilitaria inclusive um aumento na produtividade agrcola. Nas plantaes de soja, por exemplo, a produo poderia ser at 50% maior com a ajuda da polinizao. Nas de caf, 40%; ma, 42%; laranja, 35%.

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    o avaNo da legislao aMBieNtal

    O Cdigo Florestal que acaba de ser substitudo foi criado pela Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965. Seu objetivo era o de aprimorar o Cdigo Florestal at ento existente, de 1934, principalmente no que dizia respeito efetiva implementao da norma em vigor na poca. quele tempo, grupos ligados agricultura e ao comrcio j percebiam que suas atividades econmicas dependiam da conservao das florestas. Mas no era s isso. Tambm j ficava claro que o papel da vegetao como forma de preservao dos recursos hdricos, da estabilidade geolgica e de proteo do solo tambm tinha relao direta com a vida nas cidades e o bem estar das populaes. Assim, o grande objetivo do Cdigo Florestal de 1965 era o de criar um instrumento efetivo de proteo das florestas no territrio nacional.

    Apesar de sua instituio, a busca pelo lucro a qualquer custo levou a inmeras violaes da lei, com o aumento do desflorestamento e

    Como foi o processo de construo e desmonte da legislao de proteo ambiental no Brasil

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    a devastao de vrios biomas nas dcadas que se seguiram. Do bioma Mata Atlntica, por exemplo, restaram apenas 7% de sua cobertura original. Da Amaznia, cerca de 20% do territrio j foi derrubado com a ao de madeireiras e a expanso da fronteira agrcola. Para conter o avano das agresses ao meio ambiente, ao longo dos anos os legisladores brasileiros foram aumentando as restries ambientais na explorao do territrio.

    Uma das medidas que complementou a proteo ambiental prevista pelo Cdigo Florestal de 1965 foi o aumento do tamanho das faixas de terra ao longo dos rios que no deveriam ser ocupadas, determinado pela Lei 7.803 de 1989. Tambm foi ampliada a Reserva Legal na Amaznia de 50% para 80% da rea da propriedade rural, instituda pela Medida Provisria 1.511 de 1996, e foram estabelecidas sanes penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, que passaram a valer a partir da aprovao de Lei de Crimes

    Ambientais (Lei 9605/1998). Foi determinado ainda que a rea de Reserva Legal de cada propriedade deveria ser averbada, ou seja, registrada em cartrio e, a partir de ento, tinha que ser preservada e seu uso no poderia mais ser alterado. Caso esta rea j tivesse sido devastada, caberia ao proprietrio recomp-la, plantando novas rvores na regio.

    O Decreto 6514 de 2008 definiu como prazo para a averbao da Reserva Legal o dia 22 de janeiro de 2009. Os proprietrios que no registrassem a rea de Reserva Legal de suas propriedades at ento estariam sujeitos a multas de R$ 50,00 a R$ 500,00 por hectare. Ou seja, a partir de 2009, a legislao de proteo ambiental estaria regulamentada e dotada de capacidade de multar os proprietrios que no a respeitassem. Este prazo foi prorrogado trs vezes por meio de decreto presidencial, e acabou sendo desconsiderado a partir dos parmetros definidos no novo Cdigo Florestal. A possibilidade de efetivao das

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    multas ambientais foi uma das razes para o acirramento do debate sobre a legislao ambiental a partir de 2009.

    Aqueles que queriam mudanas no Cdigo Florestal alegaram que, com a entrada em vigor desta regra, a imensa maioria dos pequenos produtores ficaria na ilegalidade. No entanto, uma pesquisa da Escola de Engenharia de So Carlos (EESC/USP) mostrou que 80% da rea que deveria ter sido averbada no estado de So Paulo - e que seria considerada ilegal at a mudana do Cdigo Florestal - encontravam-se em mdias e grandes propriedades.

    Ou seja, foram os grandes proprietrios de terra que trataram de fugir da obrigao legal de registrar e preservar a Reserva Legal. Veio da a pressa em se votar um novo Cdigo Florestal, que legalizou os desmatamentos j ocorridos em Reservas Legais e reas de Preservao Permanente. E, ao contrrio do que se esperava daqueles que deveriam defender o interesse pblico, nem a Cmara nem o Senado nem o Executivo caminharam no sentido de reverter

    a ilegalidade. A maioria do Congresso decidiu reforar e legitimar prticas predatrias e anistiar aqueles que at hoje vinham ignorando o Cdigo Florestal de 1965.

    o desMoNte da legislao aMBieNtal

    A reao ruralista no mbito legislativo comeou em 1999, com a tramitao no Congresso de um projeto para criar uma nova lei florestal e liberar o desmatamento em todos os biomas brasileiros. O texto foi apresentado pelo ento deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), em parceria com a Confederao Nacional da Agricultura (CNA).

    As principais polmicas em relao ao contedo do Cdigo Florestal j apareciam desde aquele momento. As comisses por onde o projeto passou e os adendos feitos a ele na Cmara dos Deputados j debatiam a autorizao da continuidade de atividades agropecurias em reas de Preservao, sem prejuzo ao

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    proprietrio do imvel o que na prtica significa anistiar aqueles que descumpriram a Lei e a estadualizao das definies das reas a serem preservadas no entorno dos rios, o que abriria uma verdadeira guerra ambiental entre os estados. Para atrair produtores e investimentos, eles estariam autorizados a reduzir a preservao ambiental.

    O relator final do projeto na Cmara, o deputado Aldo Rebelo, conseguiu lev-lo para votao em plenrio em maio de 2011, tendo sido vitoriosa a verso de maior flexibilizao da legislao e possibilidade de expanso do desmatamento.

    Entre as mudanas aprovadas na Cmara estavam a diminuio dos critrios de definio de uma APP e a reduo da necessidade de sua recomposio em caso de desmatamento irregular; a eliminao da exigncia de recomposio das Reservas Legais em propriedades de at 4 mdulos fiscais; a flexibilizao dos critrios de compensao de reas desmatadas; a considerao integral de uma APP para o cmputo da Reserva Legal; e a

    anistia queles que haviam descumprido a lei at 2008.

    No seNado

    Diante da forte repercusso negativa gerada pelo projeto aprovado na Cmara junto aos ambientalistas e opinio pblica, o governo entrou em cena. Afirmou que o Senado trataria de elaborar um texto mais equilibrado, no qual a preservao ambiental fosse mantida sem prejuzo aos produtores rurais. O texto, votado em dezembro de 2011, teria sido acordado pelo governo com ambientalistas e ruralistas.

    A nova proposta separou o texto em proposies permanentes e transitrias, numa tentativa de anistiar os desmatadores e, ao mesmo tempo, deixar uma aparncia de que a preservao ambiental no seria permanentemente flexibilizada. Dessa maneira, os critrios gerais de definio das APPs e Reservas Legais reduziam menos a proteo do que o texto na Cmara.

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    No entanto, a existncia de disposies transitrias permitia a iseno de recomposio de grandes reas ou seja, legalizava as derrubadas feitas fora da lei em vigor e mantinha a anistia das multas.

    Assim, do ponto de vista dos ambientalistas, a proposta do Senado continuou expressando uma viso de mundo e um esquema de ordenamento territorial e gesto ambiental claramente subordinados aos interesses do agronegcio. Diversas organizaes e movimentos scio-ambientais iniciaram imediatamente uma campanha pelo veto integral da Presidenta Dilma ao novo texto, cobrando o cumprimento de sua promessa de campanha de no anistiar ou permitir a expanso do desmatamento no Brasil.

    Do outro lado, a manuteno pelo Senado da maior parte das flexibilizaes e redues da proteo ambiental aprovadas na Cmara tambm no foi suficiente para que o agronegcio predatrio se sentisse confortvel e legalmente contemplado com o novo Cdigo Florestal. A bancada ruralista queria mais.

    No retorno do projeto modificado para a Cmara, Paulo Piau (PMDB/MG), deputado da base do governo e membro da Frente Parlamentar da Agropecuria, incumbiu-se da elaborao de um texto que permitisse a volta de medidas predatrias ao novo Cdigo Florestal, que tinham sido amenizadas no Senado. Este foi o projeto que seguiu para sano da Presidenta e que recebeu alguns vetos pontuais.

    os vetos PresideNCiais

    No momento de sancionar a lei, o Executivo decidiu vetar alguns pontos do texto que, anteriormente aprovados no Senado, haviam sido modificados em sua ltima passagem pela Cmara. E, para complementar os trechos vetados por Dilma, o governo federal emitiu uma Medida Provisria, recuperando parte da redao que havia sido dada pelos senadores. Esta MP tambm teve que passar pelo Congresso, e ali foi modificada e novamente

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    movimentos populares mas em acordos dentro do Congresso, o governo federal tem se curvado e cedido a presses do poder econmico, particularmente do agronegcio. Neste contexto, a bancada ruralista tem conseguido o desmonte da legislao ambiental. O Cdigo Florestal foi apenas uma das peas mexidas neste tabuleiro.

    parcialmente vetada pelo Executivo. No entanto, mesmo com os vetos da

    Presidenta Dilma e com a reformulao de alguns artigos por meio de Medidas Provisrias, o sentido do novo Cdigo Florestal Brasileiro , infelizmente, o de reduo da proteo ambiental e de regularizao de infraes j cometidas contra a lei que at ento estava em vigor. Infelizmente, o perodo final de aprovao do projeto no foi marcado pelo resgate do carter de preservao ambiental que deveria ser o eixo de sustentao do Cdigo Florestal, mas por uma tentativa tmida de conter o avano desmedido das propostas da bancada ruralista.

    Trata-se de uma fora suprapartidria dentro do Congresso Nacional que, alm das presses, chantageia o Ministrio do Meio Ambiente e o governo federal como um todo, aproveitando-se do discurso de que o agronegcio responsvel por 40% da balana comercial brasileira. Como busca uma governabilidade baseada no na mobilizao da sociedade civil e dos

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    Apesar de levantar argumentos pretensamente em favor dos pequenos proprietrios e do desenvolvimento nacional, o que motivou as mudanas do novo Cdigo Florestal Brasileiro, como dito, nada mais foi do que a subordinao da legislao ambiental aos interesses do agronegcio. Destacamos aqui algumas das principais medidas aprovadas no texto final e suas conseqncias para a preservao do meio ambiente.

    1. reduo das reas de Preservao PerMaNeNte (aPP)

    1.1. restrio das reas definidas como aPPsO texto do novo Cdigo alterou a referncia

    sobre a qual eram estabelecidas as faixas de APP ao longo do curso dos rios. No antigo Cdigo Florestal, o clculo das APPs era feito a partir do nvel mais alto dos rios. A preservao da cobertura vegetal existente em cada margem era considerada numa faixa que variava de 30 a 500 metros, contados a partir do limite do rio no perodo de cheias. No novo texto, o clculo feito a partir da borda da calha do leito regular, sendo

    os riscos do novo Cdigo Florestal para a sociedade brasileira

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    esta definido como a calha por onde correm regularmente as guas do curso dgua durante o ano. Alm da proposta deixar grande margem a interpretaes, ela reduz significativamente as reas consideradas para o clculo da APP. A largura do rio Amazonas, por exemplo, aumenta mais de 5 vezes entre o perodo regular e o de cheias. Com o novo Cdigo, a rea inundada que esteja alm dos limites estabelecidos a partir do leito regular do rio no considerada APP, podendo ser desmatada livremente.

    1.2. reduo da necessidade de recomposio de aPPsSegundo o novo Cdigo Florestal, aqueles

    proprietrios que at 22 de julho de 2008 (data do Decreto que regulamentou a Lei de Crimes Ambientais) descumpriram a lei e desenvolveram atividades agropecurias em APPs ficaram liberados de grande parte da recomposio das reas desmatadas. O novo Cdigo reduziu, por exemplo, a necessidade de recomposio no entorno dos rios.

    Segundo a Agncia Nacional de guas (ANA), 30 metros a mnima proteo necessria para

    reduzir o assoreamento nos rios e reservatrios, diminuir o impacto de fertilizantes e agrotxicos e melhorar a quantidade e a qualidade das guas. O Programa Produtor de gua, da ANA, paga ao agricultor cerca de R$150 por hectare/ano por servios ambientais de manuteno das APPs hdricas. Um hectare de APP hdrica equivale a 167 metros de margens de rio protegidas plenamente, com 30 metros de cada lado. O valor definido como o custo de oportunidade caso a rea estivesse desmatada e sendo utilizada como pastagem.

    O novo cdigo estabeleceu como limites mnimos de recuperao apenas 20 metros de cada lado, e como mximo, 100 metros.

    O texto tambm deixou para um acordo entre estados e produtores a definio exata da extenso necessria de recomposio para imveis rurais com rea superior a 4 mdulos fiscais. Estima-se que, com essa medida, pelo menos 55 milhes de hectares de APP invadidos ilegalmente por atividades agropecurias deixaro de ter recuperada a cobertura vegetal necessria ao cumprimento de sua funo de proteo ambiental.

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    Alm da reduo direta da exigncia de recomposio, o novo Cdigo criou um outro mecanismo de iseno para aqueles que desmataram reas de preservao: a chamada rea consolidada, que permite a continuidade da atividade agropecuria ainda que ela esta esteja localizada em uma rea que deveria ser de preservao ambiental. A lei bastante abrangente com relao ao conceito dessas reas consolidadas.

    1.3. Fragilizao da proteo aos manguezaisAinda que os manguezais sejam considerados

    como APPs em toda a sua extenso, o novo Cdigo Florestal criou um grave risco para o equilbrio desse ecossistema, to importante para a biodiversidade, ao regularizar a prtica de carcinicultura (criao de camares) nas reas localizadas margem dos manguezais, chamadas de apicuns e salgados. A deciso deixa de lado os avisos da comunidade cientfica de que a carcinicultura seria responsvel por inmeros impactos ambientais sobre os manguezais, causando desmatamento e bloqueio dos fluxos das guas para essa zona, alm da contaminao

    do lenol fretico, matando peixes e caranguejos e inutilizando a gua para o consumo humano.

    2. diMiNuio da reserva legal

    2.1 iseno de recomposio para propriedades com menos de 4 mdulos fiscais

    Com o novo Cdigo, essas propriedades no precisaro mais recompor reas de Reserva Legal desmatadas ilegalmente at 22 de julho de 2008. Em regies como a Amaznia, 4 mdulos fiscais podem passar de 400 hectares. Tal iseno dispensa da recomposio de Reserva Legal cerca de 90% de todas as propriedades rurais, com impacto sobre mais de 70 milhes de hectares. A medida tambm abre uma brecha para que propriedades maiores sejam artificialmente divididas e, assim, fiquem desobrigadas de proteger a Reserva Legal. Na poca de tramitao da nova lei, a simples aprovao do ento relatrio Aldo Rebelo na Comisso Especial do Cdigo Florestal na Cmara j levou a uma corrida dos proprietrios aos cartrios para alterar o tamanho legal de suas propriedades.

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    A justificativa para a iseno da recomposio nessas propriedades foi a de que a medida ajudaria o pequeno produtor, que no teria condies de arcar com os custos da recomposio. Mas a mudana beneficiou toda e qualquer propriedade de 4 mdulos, independentemente da condio econmica e social do proprietrio.

    O Cdigo Florestal de 1965 definia como pequena propriedade aquela que era explorada pelo trabalho pessoal do proprietrio e de sua famlia, admitida a ajuda eventual de um terceiro, e cuja renda bruta fosse proveniente, no mnimo em 80%, de atividade agroflorestal ou do extrativismo. Esse conceito de propriedade tinha um sentido social, com uma forma de trabalhar a natureza baseada na reproduo social da famlia e no desenvolvimento regional sustentvel, no devendo seu tamanho ultrapassar 150 hectares em regies como a Amaznia. Com base nesse conceito, a especificidade no tratamento da pequena propriedade rural voltada agricultura familiar ganhava respaldo na funo social que elas cumprem.

    Mas o novo Cdigo Florestal no fala de agricultura familiar. O conceito de pequena propriedade tambm no se d conforme as

    caractersticas especficas da atividade, mas atravs da unidade mdulo rural ou mdulo fiscal que, como visto, pode chegar a at 400 hectares. Assim, no se trata de defender de fato a agricultura familiar, que desaparece como sujeito na nova lei, e sim de encontrar uma justificativa nobre para reduzir a necessidade de recomposio de reas desmatadas ilegalmente.

    2.2 ampliao das regras de compensao e recomposio de reas desmatadasComo mencionado anteriormente, os objetivos

    originais da Reserva Legal so o uso sustentvel dos recursos naturais, a conservao e realizao dos processos ecolgicos e a preservao da biodiversidade. A exigncia de compensao ou recomposio de reas de Reserva Legal j desmatadas deveria levar em considerao esses princpios. Por isso, segundo o Cdigo de 1965, a compensao das Reservas Legais desmatadas deveria ser feita no mesmo ecossistema e na mesma micro-bacia hidrogrfica da rea original. A compensao em outras condies s era autorizada nos casos em que, comprovadamente, no era mais possvel delimitar a Reserva Legal

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    original de uma determinada propriedade. Mas o novo Cdigo Florestal flexibiliza, em diversos pontos, essas condies de recomposio.

    Entre os mecanismos previstos para a compensao est a aquisio de Cotas de Reserva Ambiental (CRA), emitidas para as propriedades que dispem de reas de proteo voluntria que excedem os mnimos exigidos para as Reservas Legais. O problema que as propriedades com at 4 mdulos fiscais podem emitir CRAs correspondentes sua rea de Reserva Legal. Como a maioria dos imveis rurais enquadra-se na categoria de at 4 mdulos, o resultado final a reduo absoluta das reas de Reserva Legal, j que os imveis menores podero emitir ttulos que sero comprados por outros, em condies irregulares, que deixam assim de recompor suas prprias reas desmatadas, ainda que nenhuma rea nova tenha sido recuperada. Alm disso, os ttulos podem ser utilizados em reas (pertencentes ao mesmo bioma) em qualquer estado da federao. A medida, assim, altera o princpio de equivalncia ecolgica e atenta contra o pacto federativo.

    Do ponto de vista da compensao de reas desmatadas, o novo texto tambm fere os princpios

    geradores da rea de Reserva Legal. Em sua nova verso, o Cdigo Florestal passa a aceitar que a recomposio seja feita com espcies exticas em at 50% da rea desmatada de Reserva Legal. Isso significa que a perda da vegetao nativa passa a ser compensada com o plantio, por exemplo, de eucaliptos, num claro prejuzo para o equilbrio ambiental e a manuteno da biodiversidade.

    2.3 sobreposio de aPPs e reservas legaisPor possurem funes diferentes, as reas de

    Preservao Permanente e as Reservas Legais so contabilizadas separadamente em cada propriedade. Como dito anteriormente, a legislao que foi substituda previa apenas excees autorizando o computo conjunto (APPs + Reservas Legais). Era o caso dos imveis rurais com at 150 hectares, cuja somatria mxima de APPs e RLs fosse de 25% da rea da propriedade. O novo Cdigo, no entanto, libera a sobreposio das reas para o conjunto das propriedades rurais, abrindo caminho para a legalizao da ocupao irresponsvel de amplas reas de vegetao nativa. O prejuzo ecolgico

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    manuteno das Reservas Legais como depende delas para a sua manuteno e equilbrio do modo de vida. A medida prevista no novo cdigo Florestal, ao reduzir as Reservas Legais para 50% da rea dos imveis, inicia um processo de ampliao do desmatamento nessas reas.

    3. desCeNtralizao adMiNistrativa aMBieNtal

    Um dos principais artifcios que a reforma do Cdigo Florestal vinha tentando implementar desde a sua primeira verso, elaborada na Cmara pelo ento deputado Aldo Rebelo, era a estadualizao dos parmetros de preservao ambiental. Isto , buscava-se reduzir as prerrogativas federais, numa clara inteno de se aproveitar da correlao de foras nos poderes locais para reduzir os parmetros necessrios de proteo do meio ambiente a partir de decises estaduais. No novo Cdigo, esse objetivo foi alcanado.

    Uma das mudanas aprovadas d autonomia aos Estados e Municpios para que eles prprios decidam sobre novas solicitaes de supresso

    a mdio e longo prazo enorme. Infelizmente, o governo federal, submetido s presses do agronegcio, cedeu neste ponto e autorizou mudanas no computo das reas de preservao.

    2.4 Flexibilizao da reserva legal para unidades de Conservao da Natureza e terras indgenas homologadasAs Unidades de Conservao e os Territrios de

    Ocupao Tradicional so reas protegidas agrupadas pelo Plano Estratgico Nacional de reas Protegidas (PNAP) em 2006, com o objetivo de garantir o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil no mbito Conferncia da Diversidade Biolgica. Seu esprito, portanto, de ampliao da proteo e da diversidade biolgica. Segundo o novo Cdigo Florestal, a Reserva Legal em reas de florestas da Amaznia Legal, que deveria corresponder a 80% do imvel rural, reduzida a apenas 50% quando o Estado tiver mais de 65% do seu territrio ocupado por Unidades de Conservao da Natureza de domnio pblico e terras indgenas homologadas. importante afirmar, no entanto, que a existncia dessas unidades no apenas no contradiz a necessidade de

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    de vegetao nas Reservas Legais e a aprovao dos Planos Florestais de Manejo Sustentvel da vegetao dessas reas. Assim, o detalhamento objetivo dos parmetros de proteo e precauo ambiental fica sujeito a determinaes estaduais. A medida gera distores significativas no conjunto da legislao ambiental nacional, construda principalmente a partir dos biomas ambientais, e no das fronteiras administrativas entre os estados.

    Na prtica, a mudana tambm pode levar a uma corrida fiscal ambiental, onde Estados ofeream melhores condies de desmatamento com o objetivo de atrair empresas para suas regies. Uma legislao de mbito estadual tambm est mais suscetvel a presses polticas e econmicas de segmentos locais (fazendeiros e especulao imobiliria).

    4. aNistia aos desMatadores

    O novo Cdigo Florestal cria o Programa de Regularizao Ambiental (PRA), anistiando os imveis que tiveram reas desmatadas antes de 22 de julho de 2008. A data se refere publicao do Decreto 6514/08, que regulamentou a Lei de

    Crimes Ambientais de 1998. Qualquer derrubada antes desta data ser perdoada, bastando para isso que o proprietrio do imvel assine um Termo de Compromisso se comprometendo a participar do PRA. Tambm ficam suspensas as cobranas de multas decorrentes de infraes cometidas at julho de 2008 e assegurada a manuteno das atividades agropecurias estabelecidas at esta data em reas de APPs e Reservas Legais.

    A concesso de anistia queles que descumpriram a legislao ambiental uma medida antipedaggica, que isenta de aes criminais, cveis e administrativas os responsveis pela degradao ambiental, antes e depois de aprovada a Lei de Crimes Ambientais. Desde que a possibilidade de anistia foi anunciada, o desmatamento j aumentou e polticas pblicas de fomento, crdito, assistncia tcnica e comercializao, antes construdas em dilogo com o governo, foram paralisadas.

    Vale ressaltar que o Cdigo Florestal de 1965 previa um processo gradual para a adequao das propriedades aos parmetros de preservao estabelecidos. O proprietrio de imvel rural com rea de floresta nativa, natural ou primitiva

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    com extenso inferior ao estabelecido no Cdigo tinha diferentes alternativas para recompor a rea devastada. J era possvel:

    i - recompor a Reserva Legal mediante o plantio, a cada trs anos, de no mnimo 1/10 da rea total necessria sua complementao;

    ii - conduzir a regenerao natural da Reserva Legal; e

    iii - compensar a Reserva Legal por outra rea equivalente em importncia ecolgica e extenso, desde que pertencesse ao mesmo ecossistema e estivesse localizada na mesma microbacia.

    Ou seja, o Cdigo Florestal no era intransigente. Mas a bancada ruralista inverteu a lgica do princpio da funo social da propriedade e da reparao do dano ambiental causado. E, em vez de estimular a recomposio das reas devastadas, anistiou os desmatadores e consolidou reas ocupadas irregularmente. Prevaleceu, assim muitas vezes com a contribuio da grande mdia , uma viso de propriedade que ignora o interesse coletivo, como se o desmatamento afetasse exclusivamente

    aquela propriedade e no o meio ambiente em sua totalidade. Justamente em funo deste impacto mais amplo, comprovado cientificamente, que a legislao historicamente previu regras ambientais s quais toda propriedade privada deve estar sujeita. Mas, uma vez mais, o direito sagrado da propriedade privada se sobreps e prevaleceu a idia de que, dentro das suas terras, o proprietrio faz o que bem entende.

    Alm das isenes e anistias, o novo Cdigo Florestal tambm garante outros benefcios aos produtores que infringiram a lei, ampliando as possibilidades de apoio governamental para seus processos de reconverso. O novo Cdigo permite que os benefcios governamentais sejam concedidos inclusive a imveis onde tenha ocorrido supresso vegetal depois de julho de 2008.

    O novo Cdigo ainda prev que o poder pblico instituir medidas indutoras para a preservao voluntria de vegetao nativa, recuperao de APPs, Reservas Legais e reas degradadas; e manter programas de pagamento por servios ambientais em razo da captura e reteno de carbono, proteo da biodiversidade, proteo hdrica, beleza cnica, etc. Desta forma, o que era obrigao do proprietrio passa a ser obrigao apenas do Estado.

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    o governo federal e o pretenso combate aos desmatadores

    Depois de o Cdigo Florestal ser aprovado na Cmara, ir para o Senado, voltar para a Cmara e ganhar uma verso pretensamente final, surgiu um conflito entre o governo e a bancada ruralista. A expectativa do governo era a de que, em sua segunda anlise sobre o texto, a Cmara votasse a verso aprovada no Senado na ntegra, sem retrocessos do ponto de vista ambiental e, especialmente, sem incluir mecanismos de anistia ao texto. O novo relator na Cmara, no entanto, rejeitou alguns artigos do Senado. Por exemplo, deixou a cargo dos estados a definio das reas de APP para as quais a recomposio seria obrigatria. Na leitura do governo, isso seria uma anistia.

    Por esse e outros aspectos, quando recebeu o texto para sano, a Presidenta Dilma optou pelo veto parcial do novo Cdigo. E decretou uma Medida Provisria que estipulava as reas mnimas de recuperao de acordo com o tamanho das propriedades. O mecanismo ficou conhecido como escadinha.

    Apesar de a escadinha estipular de fato uma rea mnima de recuperao das APPs, o governo no mencionou que a anistia sempre

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    esteve na estrutura do novo Cdigo. Ela j vinha da verso do Senado e no se restringia aos artigos vetados por Dilma. Ao perdoar as multas, eliminar a recomposio de Reserva Legal para propriedades de at 4 mdulos e criar conceitos vagos e amplos de reas consolidadas, o texto do Senado j anistiava os desmatadores. Este, alis, era o principal objetivo dos ruralistas ao mudar a lei. Vale lembrar que um levantamento feito pela imprensa revelou que 15 deputados e 3 senadores tem multas aplicadas pelo IBAMA e sero beneficirios pela anistia aprovada no novo Cdigo.

    A preocupao maior da gesto Dilma, portanto, no foi a de garantir a preservao ambiental e eliminar a anistia do texto, mas sim criar um discurso que ajudasse a evitar mais desgastes internacionais s vsperas da Rio+20, que aconteceu em junho de 2012. Eliminar a possibilidade de anistia exigiria o veto integral de Dilma ao novo Cdigo Florestal. Mas no foi isso o que ocorreu. Assim, o veto parcial serviu apenas para criar uma cortina de fumaa e uma aparncia de equilbrio e amenizao dos danos criados pela nova lei.

    e agora, o que o Brasil teM a dizer soBre deseNvolviMeNto susteNtvel?

    Desde a COP15, ocorrida em Copenhague no final de 2009, o Brasil vinha assumindo a dianteira pblica entre os pases defensores de um novo paradigma para o crescimento econmico com sustentabilidade scio-ambiental. Naquela ocasio, o pas assumiu espontaneamente a meta de reduo das emisses de gases do efeito estufa em 38% at 2020. Mas foi justamente aps o encontro em Copenhague que comeou o processo de reformulao da nossa poltica florestal, com os debates de um novo Cdigo Florestal no Congresso Nacional.

    Infelizmente, frente ao aumento do desmatamento ilegal e ao contnuo descumprimento da legislao florestal at ento vigente, o governo federal preferiu, em lugar de desenvolver um amplo programa de adequao ambiental e estmulo de novas prticas agrcolas para os pequenos e mdios produtores, anistiar os desmatadores e reduzir a necessidade de preservao da mata nativa. Nasceu o novo Cdigo Florestal.

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    A verdade que, quando a realidade chamou o pas a se posicionar em favor do desenvolvimento sustentvel, falaram mais alto os interesses do agronegcio exportador nacional, que afirma necessitar de novas reas agriculturveis para expandir sua produo. Assim, a despeito do discurso e dos compromissos voluntrios assumidos, o resultado objetivo da poltica ambiental brasileira ser o aumento do desmatamento, que j comeou. Entre setembro de 2010 e setembro de 2011, o nmero de derrubadas cresceu 33% na Amaznia Legal. Com elas aumentaram tambm as emisses de CO2, que cresceram 10% em relao ao perodo anterior.

    Com o novo Cdigo Florestal, somente a dispensa da recomposio de reas de Reserva Legal desmatadas em propriedades de at 4 mdulos fiscais liberar 70 milhes de hectares para o desmatamento. Segundo a Embrapa, isso significa que 12,8 bilhes de toneladas de CO2, estocadas na Floresta Amaznica, sero jogadas na atmosfera, aumentando significativamente a emisso de gases responsveis pelo efeito estufa e o aquecimento global.

    O que o governo federal e os parlamentares da base governista tem a dizer sobre isso?

    Para o PSOL, o Brasil precisa de um novo modelo de desenvolvimento sustentvel. Comprometer-se com o ruralismo e colocar os interesses do agronegcio acima da preservao ambiental significa permitir a atividade monocultora de grande escala, a expanso indiscriminada da fronteira agrcola, o uso abusivo de agrotxicos, a pecuria extensiva, as grandes obras rodovirias para o escoamento da produo rumo aos portos.

    Uma outra opo de desenvolvimento, em que o centro seja a produo de alimentos e de tecnologia por meio do aproveitamento da biodiversidade, depende de um compromisso com o pequeno produtor, com a reforma agrria, com a diversificao de cultivos, com a agroecologia e com uma mudana de cultura em relao ao campo e ao meio ambiente. Este modelo de desenvolvimento assume um compromisso com a manuteno da vida, com o futuro das futuras geraes, proibindo e penalizado o desmatamento ilegal. Essa a nossa opo.

    Os ataques da bancada ruralista, com a conivncia de parte da base governista no Congresso, exigem o aprofundamento da luta dos movimentos ambientalistas e sociais, que

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    resulte num forte movimento da sociedade civil organizada como um todo em prol da biodiversidade brasileira. Por isso nosso mandato tem apoiado a iniciativa de inmeras organizaes para coletar assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular pelo desmatamento zero. Mais de 600 mil assinaturas j foram colhidas. Acesse www.ligadasflorestas.org.br e participe conosco desta luta!

    Pela mesma razo, o PSOL est analisando a possibilidade de questionar na Justia os prejuzos trazidos pela nova lei preservao ambiental, que um direito de cada cidado e cidad.

    Seguiremos firmes em defesa da proteo das nossas florestas e da nossa biodiversidade, lutando nas ruas e apostando na mobilizao popular contra este modelo agroexportador e predatrio do agronegcio, sempre em defesa da vida!

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  • Escritrio em So Paulo: Rua dos Heliotrpios, 58 Praa da rvore SP CEP 04049-000(11) 5539-6204 / [email protected]

    Em outubro de 2012, passou a vigorar no pas um novo Cdigo Florestal. Esta publicao do nosso mandato, a segunda elaborada sobre o tema, procura apresentar os principais problemas da nova lei e chamar a populao a manter viva a mobilizao em prol da preservao do meio ambiente. Na avaliao do PSOL, o novo Cdigo Florestal representa o maior retrocesso da legislao ambiental de nossa histria, com srias conseqncias no s para o meio ambiente mas para toda a sociedade, que corre srio risco de ver agravadas as condies de vida, produo e ocupao do territrio

    nacional. O Brasil precisa de um novo modelo de desenvolvimento sustentvel. Por isso, seguiremos firmes em defesa da proteo das nossas florestas e da nossa biodiversidade, contra o modelo agroexportador e predatrio do agronegcio, em defesa da vida!

    Ivan Valente Deputado Federal PSOL/SP

    dez / 2012

    Gabinete em Braslia: Gabinete 716 Anexo IV(61) 3215-3716 / [email protected]

    Site: www. ivanvalente.com.br Twitter: @dep_ IvanValente Facebook: /IvanValente