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Impactos socioeconômicos do Código Florestal Brasileiro: uma discussão à luz de um modelo computável de equilíbrio geral Tiago Barbosa Diniz Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Revista da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER), v. 53, p. 229-250, 2015. Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Cátedra Escolhas. 2018.

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Impactos socioeconômicos do Código Florestal Brasileiro: uma discussão à luz

de um modelo computável de equilíbrio geral

Tiago Barbosa DinizJoaquim Bento de Souza Ferreira Filho

Revista da Sociedade Brasileira de Economia e

Sociologia Rural (SOBER), v. 53, p. 229-250, 2015.

Universidade de São PauloEscola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Cátedra Escolhas. 2018.

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O antigo Código Florestal (Lei 4.771/65) não era efetivamente cumprido:

• Bacha (2005) indica que, no ano de 1998, apenas 7,04% dos imóveisrurais do país registravam a presença de Reserva Legal.

• Sparovek et. al. (2011) sinaliza déficit de 43 milhões de hectares(Mha) para a APP e de 42 Mha para a RL no Brasil.

Decreto 6.514/08, que instaura a Leis de Crimes Ambientais, determinouo prazo de 180 dias para que as propriedades rurais tivessem a sua ReservaLegal averbada.

Pressão no Congresso Nacional para a reforma na legislação ambiental epara a suspensão das multas decorrentes do decreto.

Emerge a Lei 12.651/12, buscando um Código preservacionista, mas aomesmo tempo exequível.

CONTEXTO

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CONTEXTO

Código Florestal antigo(Lei 4.771 de 1965)

“Novo” Código Florestal(Lei 12.651 de 2012)

No cálculo das áreas a serem mantidascomo Reserva Legal eram excluídasaquelas destinadas às APPs. Asobreposição é permitida somente emcasos particulares, regidos peloparágrafo 6º do art.16.

Admite-se que as Áreas de PreservaçãoPermanente sejam abatidas no cálculodo percentual da Reserva Legal doimóvel, desde que isso não implique emconversão de novas áreas para o usoalternativo do solo.

O referencial para cômputo das APPsripárias era o nível mais alto dos cursosd’agua.

O referencial passa a ser a borda dacalha do leito regular.

Estabelece delimitações rígidas para asÁreas de Preservação Permanente e nãopermite flexibilização no caso deregularização.

Mantém parte das delimitações dalegislação atual, mas, para efeito deregularização ambiental, as APPs nasmargens dos cursos d’agua e no entornode nascentes, olhos d’água, lagos elagoas naturais são reduzidas de acordocom o tamanho da propriedade.

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CONTEXTO

Código Florestal antigo(Lei 4.771 de 1965)

“Novo” Código Florestal(Lei 12.651 de 2012)

Não há imóveis rurais dispensados decumprir as exigências da Reserva Legal

Para os imóveis rurais com até 4módulos fiscais, a Reserva Legal seráconstituída com a vegetação naturalexistente até 22 de julho de 2008,mesmo que esta área corresponda a umpercentual inferior àquele determinadoem Lei. Para propriedades maiores, sãoexcluídos os 4 módulos fiscais da basede cálculo da RL.

Para fins de recomposição, permitecompensar a reserva legal por outra áreaequivalente em importância ecológica eextensão, desde que pertença ao mesmoecossistema e esteja localizada namesma microbacia.

Permite compensar a Reserva Legalinclusive em outros Estados, desde quea área seja equivalente em extensão àárea da Reserva Legal a sercompensada e esteja localizada nomesmo bioma.

Fonte: Lei 4.771/1965. Lei 12.651/2012. Elaboração própria do autor.Cátedra Escolhas. 2018.

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Objetivos Analisar os impactos econômicos que a efetiva aplicação do

Código Florestal traria ao Brasil e a suas regiões, tanto naversão atual da lei quanto na anterior.

INTRODUÇÃO

Problema Trade-off entre os quesitos econômicos e ambientais, uma vez

que o cumprimento efetivo da legislação implica na reversão deáreas plantadas em vegetação nativa.

Trabalhos já realizados Miranda et. al. (2008), Sparovek et. al. (2010), Sparovek et. al.

(2011), Padilha Júnior (2004), Rigonatto (2009) e IPEA(2011) .Cátedra Escolhas. 2018.

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METODOLOGIA

Modelo Computável de Equilíbrio Geral (TERM-BR),calibrado para o ano de 2005.

Características Gerais:

Modelo estático, inter-regional, “bottom-up”;

21 atividades produtivas (15 atividades agropecuárias);

21 produtos (15 produtos agropecuários);

10 categorias de trabalho (classes de salário);

27 regiões dentro do Brasil;

10 tipos de famílias, agrupadas por classe de renda;

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METODOLOGIA

Estrutura de produção do TERM-BR.

Insumos ou Produtos

Forma Funcional

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METODOLOGIA

Setores agregados para este trabalho.

Forma FuncionalAgropecuária Indústria Serviços

ArrozCasca AlgodHerb ExtMineral ComercioMilhoGrao FrutasCitric AgroInd Transporte

TrigoOutCere CafeGrao Indústria ServiçosCanaDeAcucar ExplFlorSilv

SojaGrao BovOutrAnimOutPrServLav LeitVacOuAni

Mandioca OutPecAcqFumoFolha

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BASE DE DADOS

Dados utilizados no trabalho e na calibragem do modelo:

Matriz de Insumo-Produto 2005;

Pesquisa Agrícola Municipal;

PNAD 2005;

POF 2003;

Censo Agropecuário 2006;

Elasticidades Tourinho (2010) e GTAP (2008).

Informações geográficas do projeto AgLue;

• Déficit de APP e RL na agricultura e na pecuária

• Nível microrregional

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INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS DO AGLUE

Fonte: Sparovek et. al. (2010)Cátedra Escolhas. 2018.

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COMPATIBILIZAÇÃO DE DADOS

O AgLue e o Censo Agropecuário

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Arquivos para simulação

• Termbr.tab

• CFatualTT2.cmf

• CFPlen1TT2.cmf

• CFPlen2TT2.cmf

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ESTRATÉGIA DE SIMULAÇÃO

A ligação entre o Código Florestal e o modelo econômico se dápor meio de restrições ao uso do fator terra por parte do setoragropecuário.

Informações

geográficas AgLue

Compatibilização com

os dados do Censo

Agropecuário

Agregação aos setores

do modelo e por UF

Matriz de redução de

área por cultura e por

UF para adequação a

legislação ambiental

Choque no TERM-

BR

Impactos Econômicos

por UF

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ESTRATÉGIA DE SIMULAÇÃO

A ligação entre o Código Florestal e o modelo econômico se dápor meio de restrições ao uso do fator terra por parte do setoragropecuário.

Redução (%) do uso deste fator para adequação à legislação

ambiental, por setor e por UFCátedra Escolhas. 2018.

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RESOLUÇÃO DO MODELO EGC

Fechamento de longo prazo.

O modelo possui cerca de 1 milhão de equações não-lineares.

O modelo é linearizado para sua solução.

A solução é obtida através do software GEMPACK(Harrison and Pearson, 1996).

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RESULTADOS: Cenários 1 e 2

Impactos econômicos (∆%) do antigo e do novo CódigoFlorestal sob variáveis selecionadas, Brasil.

VariáveisCF antigo “Novo” CF

Total APP RL Total APP RLConsumo das Famílias

-1,04 -0,70 -0,33 -0,54 -0,37 -0,17

Investimentos -0,56 -0,33 -0,23 -0,28 -0,16 -0,12Exportações (volume)

3,05 2,22 0,83 1,59 1,16 0,42

PIB real -0,37 -0,22 -0,15 -0,19 -0,11 -0,08Emprego 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Salário Real -1,01 -0,65 -0,35 -0,52 -0,34 -0,18

Estoque de Capital -0,60 -0,36 -0,25 -0,30 -0,18 -0,13

O instrumento da APP foi o maior responsável pelas variações no PIB em ambos os cenários.

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MODELAGEM: Cenário 3

Aplica as restrições do Cenário 2, mas com o déficit de RLpodendo ser compensado em outra UF, desde que no mesmo bioma.

Considera o sistema de compensação do déficit em outra UF paraapenas dois biomas: Cerrado e Mata Atlântica.

• Cerrado: o déficit do estado de São Paulo é compensado no Maranhãoe no Piauí.

• Mata Atlântica: déficit de São Paulo e do Paraná são compensados emMG e na BA. Modelagem norteada pela disponibilidade de terra evariação no preço da terra decorrente da APP.

Mudança nos impactos restrita aos estados de origem do déficit.Para os estados receptores não há efeitos econômicos, uma vez queáreas não produtivas é que são utilizadas.

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RESULTADOS: Cenários 3

Impactos econômicos (∆%) do novo Código Florestal sobvariáveis selecionadas com o mecanismo de compensação deRL, Brasil.

VariáveisCenário 3

Total APP RL

Consumo das Famílias -0,50 -0,36 -0,13

Investimentos -0,25 -0,16 -0,09

Exportações (volume) 1,50 1,16 0,35

PIB real -0,17 -0,11 -0,06Emprego 0,00 0,00 0,00

Salário Real -0,47 -0,34 -0,13

Estoque de Capital -0,27 -0,18 -0,09

No PIB nacional as diferenças não são significativas. Variação apenas 0,02 p.p. abaixo da do cenário 2 (-0,19%)

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RESULTADOS: Comparativo PIB

PIB – Comparativo dos impactos econômicos (%) entre oscenários, por regiões

Regiões Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Brasil -0,37 -0,19 -0,17

Norte -0,88 -0,16 -0,22

Nordeste -0,76 -0,03 -0,33

São Paulo -0,14 -0,09 -0,02

Restante do Sudeste -0,38 -0,22 -0,23

Sul -0,51 -0,33 -0,27

Centro-oeste -0,16 -0,06 -0,13

As restrições mais brandas dos cenários 2 e 3 são refletidos em menores impactos setoriais.

O mecanismo de compensação tem reflexos regionais importantes.Cátedra Escolhas. 2018.

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RESULTADOS: Produção setorial

∆% da produção setorial no país.

Setores Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3Agricultura -1,22 -0,78 -0,73Pecuária -1,37 -0,68 -0,57Extrativa Mineral 0,74 0,39 0,37AgroIndústria -1,10 -0,57 -0,45Indústria 0,27 0,15 0,15Comércio -0,14 -0,07 -0,05Transporte -0,21 -0,09 -0,08Serviços -0,67 -0,34 -0,31

Setorialmente, são observados os efeitos encadeadores dos segmentos agropecuários sobre a produção de outras

atividades econômicas.Cátedra Escolhas. 2018.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação da legislação florestal não implica grandes perdassocioeconômicas ao país, em termos de PIB, produção e emprego.

As restrições mais brandas da nova legislação foram refletidas emmenores impactos econômicos.

Setorialmente, a pecuária sofreu retrações na produção maiselevadas do que a agricultura. A cadeia do agronegócio tambémfoi afetada e registrou quedas na produção.

O mecanismo de compensação de RL tem reflexos regionais esetoriais importantes.

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