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Caderno de educação infantil avaliação na educação infantil 03

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Caderno de educação infantil

avaliação na educação infantil03

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃOSECRETÁRIO: José Ramoniele R. dos Santos

DIRETORA DE FORMAÇÃO CONTINUADA: Tereza Cristina de Oliveira

FORMAÇÃO CONTINUADAAline de Oliveira França de SouzaEliana Correia Fogaça OikoEliene de Souza PaulinoMadalena Gomes BarretoTelma de FreitasVânia Conceição Ferreira

DIRETORA DA EDUCAÇÃO INFANTILSony Barbutti de Lima Baker

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOSAlex de Oliveira FernandesCláudia Jacqueline Dourado C. AlvesSheila Mota Brandão

DIRETORA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: Crélia Leite Madureira Ambires

DIRETORIA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: Márcia Martins Ramalho

APOIO ADMINISTRATIVOVera Lúcia MaiaMaria de Fátima Lélis Coelho

ORGANIZADORAS DO MATERIALAline de Oliveira França de SouzaMaria Elizete Campos

ENSINO FUNDAMENTALAnna Carolina Santos de OliveiraDalila de Macêdo MoraisHeranice de Freitas TorquatoLuciana Miranda López FantaguzziMaria da Conceição de OliveiraTatiane Maria Braga Nascimento Teixeira Juliana Oliveira Guilherme D. de Araújo

EDUCAÇÃO INFANTILAline de Oliveira França de SouzaDaisy Mary do Nascimento MarquesHeddy Estanil de Oliveira MarquesMaria Elizete Campos

PREFEITO: Carlos Magno de Moura SoaresVICE-PREFEITO: João Guedes Vieirawww.contagem.mg.gov.br

EDIÇÃO: Vilarejo ComunicaçãoPROJETO GRÁFICO: Marquélia DamacenoCAPA: Marquélia DamacenoFOTOS: Divulgaçãowww.vilarejocomunicacao.com.br

COORDENAÇÃO: Rudá RicciSECRETÁRIA: Juliana Velasco www.institutocultiva.com.br

COORDENADORA DE CONTEÚDO E METODOLOGIA:Franciele Alves da Silva

CONSULTORA PARA METODOLOGIA E CONTEÚDO DE FORMAÇÃO: Michele Castro

CONSULTORA PARA INSTALAÇÃO DAS COMUNIDA-DES EDUCADORAS: Sara AzevedoREVISÃO DE CONTEÚDO E APOIO TÉCNICO: Fabiana A. S. do Amaral

Caderno de educação infantil

avaliação na educação infantil03

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Como professor, devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma correta é um direito que tenho como gente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade. Com a curiosidade domesticada posso alcançar a memorização mecânica do perfi l deste ou daquele objeto, mas não o aprendizado real ou o conhecimento ca-bal do objeto. A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de “tomar distância” do objeto, de observá-lo, de limitá-lo, de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar.

Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, Freire (1996, p.95)

Apresentação

Avaliação é um tema complexo em qualquer etapa de ensino que estejamos discutindo. Gera polêmica porque se apresenta como desafi o. Na Educação Infantil não é diferente, mesmo porque a discussão é muito recente, historicamente somente com a Constituição de 1988 foi garantido a todas as crianças o di-reito a Educação Infantil. Antes o atendimento era realizado em creches coordenadas pelas Secretarias de Assistência Social que privilegiavam as famílias menos favorecidas economicamente, a visão era assisten-cialista, cuidavam das crianças para as mães poderem trabalhar, não tinham foco no pedagógico e muito menos na avaliação. Com a constituição o direito passou a ser garantido à criança e não a família. Os anos passaram. Em 1996 a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, reconheceu a Educa-ção Infantil como a 1ª etapa da Educação Básica, mas é em 2013, com a a Lei nº 12.796 que nossas crianças tiveram o direito realmente garantido quando alterou-se a obrigatoriedade de 4 para 17 anos.

Em todo o Brasil, esse direito começa a se consolidar. Na cidade de Contagem a LEI nº 4737, de 24 de junho de 2015 - Plano Municipal de Educação, determinou:

Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré--escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação in-fantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o fi nal da vigência deste PME.

Concomitante a essa trajetória de mudanças de leis, as universidades brasileiras iniciaram estudos e produ-ções de conhecimentos sobre os diversos fazeres da Educação Infantil, inclusive sobre avaliação.

Outro desafi o que surgiu e ainda persiste, refere-se à formação das profi ssionais que atuam nessa etapa. Muitas nem sempre possuem a habilitação mínima exigida pela legislação. As que possuem habilitação em Pedagogia, nem todas tiveram disciplinas na graduação que contemplassem a educação infantil, porque essa exigência só foi regulamentada em 15 de maio de 2006 com a Resolução CNE/CP 01.

Discutir sobre Avaliação pode ser o primeiro passo para vencer os desafi os presentes na Educação Infantil.

Falar em avaliação na Educação Infantil signifi ca falar sobre a criança, o(a) profi ssional e a instituição, porque diz da refl exão das práticas pedagógicas desenvolvidas, das concepções de criança, infância, aprendizagem e do desenvolvimento das crianças pequenas, diz da capacidade de observar as crianças e suas interações no coletivo, registrar, planejar, executar, refl etir sobre a ação educativa e propor mudan-ças com o intuito de ajustar essas ações às demandas de cada criança, isso implica diretamente os demais atores deste cenário: coordenadores, gestores, famílias, já que o objetivo das refl exões, replanejamentos, registros e observações é melhorar a qualidade do que está sendo ofertado para as crianças e isso cabe a todos, envolvidos nesse processo.

A esse modelo chamamos de AVALIAÇÃO FORMATIVA, pois exige uma ação reflexiva diária sobre a prática da docente de forma processual e contínua ao invés de simplesmente predefinir critérios aos quais as crianças devam se encaixar.

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Muitas práticas educativas e avaliativas de outros países vêm sendo estudadas e até colocadas em uso no Brasil. Podemos citar como exemplo as práticas de instituições da cidade de Reggio Emilia, localizada na Itália, que muito nos encantam, por se tratar de um projeto baseado na integração entre escola, família e sociedade. Nelas, as crianças são as protagonistas do processo educativo. Existe uma preocupação com a estética, com os espaços que são amplos, aconchegantes e previamente preparados por profi ssionais que organizam toda a materialidade, sempre colocando a criança na centralidade do processo. A criança tem total autonomia para utilizarem esse ambiente, organizam as mesas para o almoço, contribuem na preparação dos alimentos. A turma interage em pequenos grupos, média de 5 a 6 crianças, com uma ate-lierista. As outras crianças são acompanhadas por outra profi ssional nos demais ambientes. Com relação ao registro temos a documentação pedagógica que fi ca afi xada nas paredes da instituição o que permite às famílias acompanharem e participam ativamente do trabalho realizado nas instituições. Com relação ao trabalho pedagógico não existe pressa em cumprir um currículo, as crianças é que ditam o ritmo. A rela-ção estabelecida com o tempo tem papel fundamental nos processos realizados pela criança - não existe pressa. Por exemplo, ao realizar uma atividade com argila, o processo se dá ao longo de vários dias, o que permite a criança criar, voltar e ver, rever, refazer a mesma atividade, criar hipóteses, experimentar, viven-ciar. O ponto central é viver uma experiência com diversas possibilidades.

Figura 1Recreation of the experimental educational centre in Reggio Em

ilia – by Carlos Mazón

Saiba mais

Assista o vídeo: http://migre.me/u76j3Conheça experiências brasileiras inspiradas em Reggio Emilia: http://migre.me/u76mm

O propósito deste caderno é dialogar sobre a Avaliação na Educação Infantil.

Qual a concepção e o direcionamento sobre avaliação que melhor se encaixa em nossa realidade?

A Rede Municipal de Contagem já consolidou a utilização de vários instrumentos avaliativos na Educação Infantil. Quais são estes instrumentos? Eles ainda são utilizados? Para quê e por quê?

Essas são algumas das questões que também serão pauta deste caderno que, começará revisitando a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) e Diretrizes Curriculares Nacionais da Educa-ção Infantil (DCNEI’s).

Bons estudos.

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Para começo de conversa, é necessário perceber a criança em toda a sua integralidade, as especificidades do desenvolvimento nessa fase devem ser consideradas tais como: plasticidade cerebral, desenvolvi-mento físico e motor, desenvolvimento do pensamento verbal, desenvolvimento da função simbólica, desenvolvimento de funções psicológicas superiores como percepção, atenção, memória, imaginação, apropriação gradual das múltiplas linguagens, estabelecimento de laços afetivos e sociais entre outros. Sendo assim, a avaliação deverá ter como foco a formação humana, conforme garante a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 29:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvi-mento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Grifo nosso)

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI) de 2009, trazem orientações para elabora-ção de propostas pedagógicas e curriculares. Em seu artigo 8º define que:

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garan-tir a criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liber-dade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira à convivência e a interação com outras crianças. (Grifo nosso)

Analisando as leis citadas acima identificamos a finalidade e os objetivos que as instituições de educação infantil deverão garantir às crianças.

Estas mesmas legislações também nos orientam quanto a avaliação.

O artigo 31, incisos I e V, da LDB, define a organização, especialmente no que tange à avaliação:

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian-ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; ...V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvi-mento e aprendizagem da criança. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)

As DCNEIs, evidenciam, com mais clareza como deve ser o processo de avaliação na Educação Infantil:

Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acom-panhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo:( Grifo nosso)I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estraté-gias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transi-ção casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, tran-sição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental);IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da ins-tituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil;V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.

O QUE NOS DIZEM A LDB E AS DCNEI?

MAS COMO IREMOS AVALIAR?

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Ao explicitarem que a avaliação deve ser sem objetivo de seleção, promoção, retenção ou classificação das crianças, tanto a LDB quanto às DCNEIs deixam claro que a lógica dessa ação na Educação Infantil é diferen-ciada. Podemos entendê-la, então, como AVALIAÇÃO FORMATIVA, pois o foco é o trabalho pedagógico e o desenvolvimento das crianças.

As discussões e a publicação do Caderno da Educação Infantil: construindo o Projeto Político-Pedagógico, lançado em 2007, trouxe elementos orientadores para a construção do PPP das instituições de educação infantil. No PPP da instituição, está registrada a identidade do coletivo, as concepções, inclusive concepção de avaliação.

Temos como finalidade a formação humana de cada criança que se dá à medida que ela vai se apropriando dos conhecimentos produzidos pela humanidade e os reinventa e os reconstrói, dando-lhes novos signi-ficados. Para isso necessita de um ambiente acolhedor, que inspire confiança, respeito, dignidade. Para discutir avaliação na Educação Infantil, o(a) profissional precisa saber quem são essas crianças com as quais irá trabalhar.

É no Projeto Político Pedagógico que buscamos embasamentos para iniciarmos nossas ações: quais con-cepções sobre criança, infâncias, infância, desenvolvimento e aprendizagem nossa instituição acredita? Quais objetivos e finalidades selecionamos como prioridade? Como é a comunidade e as famílias que aten-deremos? Qual currículo e a proposta curricular selecionarei para a faixa etária que irei trabalhar? Como utilizarei os tempos e os espaços, o que é avaliação para esse coletivo? Esses são alguns dados utilizados para construir o cotidiano pedagógico: planejamento, execução, avaliação, observação, registro e reflexão como formas de acompanhar o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, também irá replanejar, reavaliar, propor novas vivências e novas experiências significativas que permitirão a constru-ção de conhecimentos pelas crianças.

Alguns instrumentos avaliativos utilizados na rede como planejamento, avaliação, observação e regis-tro foram referendados pelo Caderno da Educação Infantil: construindo o Projeto Político-Pedagógi-co, denominado por muitos de “Caderno Verde” da Educação Infantil.

QUAL É O HISTÓRICO DO PROCESSO AVALIATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM CONTAGEM?

Se não há o propósito de promoção, o que deve ser avaliado? Por que devemos avaliar? E para quê fazer a avaliação das crianças pequenas?

Quais saberes e conhecimentos construíram? Qual é o contexto em que estão inseridas? Quais informações a família poderá fornecer? Quais são as especificidades desse coletivo?

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Avaliamos, planejamos e selecionamos o currículo com todo cuidado. O intuito é garantir que as crianças viven-ciem múltiplas experiências, construam novos saberes e conhecimentos e sejam protagonistas de suas próprias vidas. A coleção “Currículo da Educação Infantil de Con-tagem: experiências, saberes e conhecimentos”, traz o conceito de currículo, as concepções que norteiam o trabalho no município de Contagem e os campos de ex-periências que que irão contribuir para que as crianças tenham uma formação mais rica e plural.

Em 2012, após estudos e discussões realizadas pela rede, foi produzido um texto-orientador chamado “Avaliação diagnóstica para a produção do per-fil da criança e da turma” que trouxe mais instrumentos para auxiliar as profissionais na condução do processo avaliativo.

MUDANÇAS DE PARADIGMASA concepção de avaliação que os RCNEI ( Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil) afir-ma:

“...um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de apren-dizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. É um elemento indissociável do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crian-ças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo” (pág. 59).

De acordo com o Dicionário Aurélio “Determinar o valor de. Compreender. Apreciar, prezar. Reputar-se. Conhecer o seu valor.

o processo de desenvolvimento e aprendiza-gem das crianças, também irá replanejar, re-avaliar, propor novas vivências

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Para fazermos uma avaliação e determinarmos um valor, usamos nossa subjetividade, ou seja, as vivên-cias, as experiências e os conhecimentos que construímos no decorrer de nossa vida atrelados ao contex-to em que estamos inseridos, por exemplo: alguns anos atrás se a criança que não aprendesse ler na 1ª série, era reprovada e repetia todos os conteúdos novamente. Atualmente temos o 1º ciclo, definido como o Ciclo da Alfabetização, que garante a criança três anos para ser alfabetizada. No passado a criança retida poderia ser avaliada como “fraca” por não ter alcançado o objetivo estabelecido: aprender a ler e escre-ver e o contexto reafirmava essa avaliação.

Essas avaliações focavam somente o desenvolvimento e aprendizagem das crianças - “ótimo”, “bom”, “regular” ou “fraca”- notas ou conceitos, somente a criança era responsável pelo valor dado pelo(a) pro-fessor(a). Não havia interesse em avaliar as práticas pedagógicas dos(as) profissionais, os recursos mate-riais, humanos entre outros.

A avaliação na Educação Infantil não era necessária, as legislações sequer as mencionava. Atualmente vi-vemos mudanças de modelos. Algumas práticas do ensino fundamental, consideradas corretas no passa-do, e que também eram utilizadas com as crianças pequenas hoje já não são mais aceitas. Os(as) profissio-nais da Educação Infantil percebem que os modelos antigos não atendem as novas realidades, portanto, é necessário desconstruir esses velhos modelos e reinventar novos fazeres pedagógicos que contemple as necessidades da criança .

Hoje podemos entender que avaliação é:

OBSERVAR REFLETIR

PLANEJAR AVALIAR

REGISTRAR

EXECUTAR

Planejar, observar, registrar, executar, mediar também é avaliar, é refletir sobre as nos-sas ações e o impacto delas na produção de conhecimento pela(s) criança(s) e no nosso próprio aprendizado. Quando os(as) profissionais avaliam, refletem sobre a própria práti-ca, sobre as observações, os registros, as falas das crianças também estão aprendendo, conhecendo melhor as crianças, seus interesses, suas potencialidades e necessidades.

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Assim como discutir avaliação é um desafi o, a mudança da prática pedagógica também não é uma missão fácil, pois exige muito trabalho e questionamentos:

Avaliamos, refl etimos e replanejamentos para garantir melhor quali-dade a nossas crianças, que é o objetivo do nosso trabalho. Mas como atingir essa melhor qualidade? Percebemos que a subjetividade e o contexto tem papel fundamental quando falamos em qualidade na Educação Infantil.

Em 2009 o Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Básica, lançou o instrumento - Indicadores da Qualidade na Educação Infantil – e afi rmam:

“Não existem respostas únicas para essas questões. As defi nições de qualidade dependem de muitos fatores: os valores nos quais as pessoas acreditam; as tradições de uma determinada cultura; os conhecimentos científi cos sobre como as crianças aprendem e se desenvolvem; o con-texto histórico, social e econômico no qual a escola se insere. No caso específi co da educação infantil, a forma como a sociedade defi ne os di-reitos da mulher e a responsabilidade coletiva pela educação das crian-ças pequenas também são fatores relevantes. ”

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil - 2009 p. 11.

precisamos nos perguntar

• Convivo no meu dia a dia com o modelo ideal de criança que trago no meu imaginário?

• Utilizo o modelo de avaliação classificatória e excludente que aprendi em minha trajetória ou reinventei novos modelos a partir das minhas reflexões?

• Faço apenas julgamento sem considerar o tempo de aprendizagem de cada criança?

• Preocupo-me em qualificar o meu fazer cotidiano? • Acredito que estou a serviço das crianças, de seus saberes e dos conhecimentos

que trazem consigo?• Conheço as legislações vigentes e sei o que trabalhar com minhas crianças ou

antecipo conteúdo do Ensino Fundamental?• Coloco-me como investigadora, pesquisadora nos momentos em que observo,

planejo, registro, avalio?

CONTRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

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Com o objetivo de contribuir com a formação dos profissionais da Educação dos municípios, em 2012 foi instituído o grupo “Formação da Rede em Educação Infantil - Avaliação de Contexto”, com representantes das Universidades Federais do Paraná, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e de Santa Catarina. Participa-ram também duas consultoras da Universitá degli Studi di Pavia, da Itália e representantes da Coordenação Geral da Educação Infantil - COEDI. Essa rede de pesquisadores teve com foco a Avaliação de Contexto com objetivos de trocarem experiências entre as universidades e com a universidade italiana, produzir conhe-cimentos acadêmicos e subsídios para construção de políticas públicas na Educação Infantil. Durante dois anos através de estudos, levantamento bibliográfico, seminários, pesquisas realizadas em instituições de educação infantil, produção de livros, os representantes elencaram critérios e instrumentos para avaliarem o atendimento oferecido e a qualidade das experiências vividas nas instituições.

O objetivo não é julgar a criança e professores, mas também con-siderar as relações que se dão no interior da instituição. Os partici-pantes deste grupo entendem que qualidade está diretamente liga-da a bases democráticas, participativas e formativas. E isto ocorre através do diálogo, reflexão e da transformação tendo como foco o desenvolvimento e aprendizagem das crianças e não somente re-sultados numéricos.

Entendendo que novos paradigmas estão surgindo, advindos de re-flexões coletivas com a finalidade de garantir a qualidade tão dese-jada para as nossas crianças.

“A documentação pedagógica é o processo para registrar a aprendizagem – a aprendiza-gem das crianças, mas também a aprendizagem dos profissionais e dos próprios pais. ” “...documentar permite descrever, interpretar, narrar a experiência, significá-la e (re)significá--la.” (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2013, p. 211)

Conforme citamos anteriormente o texto Avaliação diagnóstica para a produção do perfil da criança e da turma traz alguns instrumentos e orientações que auxiliam a profissional no preenchimento do Diário de Classe, e é um documento utilizado em todas as instituições da Rede Municipal de Contagem. Abaixo cita-remos esses instrumentos:

ROTEIROS PARA A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA – Utilizado para diagnosticar o saber da criança, o que conhece ou já sabe fazer e em que momento do processo de desenvolvimento se encontram.

Roteiro1. Para levantamento e análise do contexto,2. Para conversa com as famílias,3. Para levantamento e análise de dados sobre a criança em anos anteriores,4. Para planejamento do processo de observação inicial das crianças

DIÁRIO DE CLASSE – As observações abaixo constam no diário de classe de Contagem.

Perfil inicial da turma - registrar informações iniciais sobre a turma para o planejamento da proposta a ser desenvolvida com as crianças, considerando as dimensões da formação humana.

Objetivos Gerais - explicitam uma direção a ser seguida, aquilo que se pretende fazer para que a integridade da criança seja, de fato, considerada e trabalhada, devendo estar coerente com a finalidade da instituição.

QUE RECURSOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO E REFLEXÃO PODEMOS UTILIZAR EM NOSSA PRÁTICA?

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Objetivos Específicos da Turma - registrar a proposta de trabalho que corresponda às necessida-des apontadas no perfil inicial da turma. A Coleção Currículo da Educação Infantil: experiências, saberes e conhecimentos servem como referência.

Relato do trabalho desenvolvido com as crianças - o profissional deverá considerar o perfil da turma, os objetivos e suas anotações no diário de bordo e construir uma narrativa que aponte os projetos desenvolvidos, as experiências possibilitadas às crianças e a articulação destas com os saberes e conhecimentos. Poderá utilizar fotos, amostras da produção das crianças, exemplos de situações vividas entre outros. No relato do segundo semestre, o profissional deverá utilizar como referência o relato do semestre anterior, a proposta de trabalho para o semestre e as anotações do diário de bordo.

Perfil final da turma - registrar o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças du-rante o ano, de forma sintética, apontando o que foi desenvolvido e quais são as indicações para a continuidade do trabalho com a turma.

Instrumento de acompanhamento pedagógico - deverá orientar os(as) profissionais na análise dos campos de experiências que estão sendo vivenciados pelas crianças na instituição. Trata-se de um novo recurso de avaliação institucional da Rede municipal de Contagem que começou a ser utilizado em março 2016.

Relatório individual das crianças - relatar o desenvolvimento de cada criança, discorrendo so-bre as experiências vivenciadas, bem como as intervenções feitas durante o processo de ensino--aprendizagem.

Além do Diário de Classe a Instituição de Educação Infantil utiliza outros instrumentos para avaliar e acompanhar as práticas pedagógicas e os melhores caminhos para orientar as famílias quanto ao desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Abaixo, encontram–se relacionados alguns recursos e instrumentos mais utilizados pelas instituições de Contagem.

• LIVRO DA VIDA/DA TURMA• PORTFÓLIOS • RELATÓRIOS INDIVIDUAIS• MURAIS E CARTAZES• PASTAS DE OBSERVAÇÃO• REGISTROS DE IMAGENS, FOTOS E GRAVAÇÕES• REGISTRO - possibilita a reflexão sobre a prática, construção de memória

e história.

1 - DIÁRIO DE BORDO

2 - FICHA INDIVIDUAL PARA O PERÍODO DE ADAPTAÇÃO

3 - PAUTAS DE OBSERVAÇÃO

4 - FORMULÁRIOS DE PLANEJAMENTO

5 - CADERNOS DE ANOTAÇÕES

6 - DESENHOS E ESCRITAS DAS CRIANÇAS

OBSERVAÇÃO – Permite a profissional pesquisar de forma direta ou com pauta definida. Para isso, é necessário ter um foco, objetivos e período definidos.

PLANEJAMENTO - Permite a profissional refletir sobre sua ação e transformá-la para melhor qua-lificar o trabalho.

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um pouco mais

Escrita profi ssional: a importância dos registros feitos pelos professoreshttp://migre.me/u7LiC

Portfólio na Educação Infantil: Desvelando possibilidades para a Avaliação formativahttp://migre.me/u7LkC

Educação Públicahttp://migre.me/u7Lmd

EDUCAÇÃO INFANTIL: Subsídios para construção de uma sistemática de avaliaçãohttp://migre.me/u7Lnv

Perfi l do autor: Gontijo, Flávia Lamounierhttp://migre.me/u7Loe

Avaliação na Educação Infantil – a constituição da documentação pedagógica como prática avaliativa em turmas de berçáriohttp://migre.me/u7Lqc

Cassiana Magalhãeshttp://migre.me/u7Ls0

CONCLUSÃO

E AGORA PROFESSOR(A)?A ideia principal desta formação é revermos a temática AVALIAÇÃO. Não temos a in-tencionalidade de darmos as respostas.

Almejamos suscitar em cada um(a) de vocês o desejo de pesquisar, estudar, produzir conhecimentos coletivamente. Fazemos parte de uma história muito recente que inclu-sive estamos ajudando a construir.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:ANDRADE, Luiza. Escrita profissional: a importância dos registros feitos pelos professores: In Revista Nova Escola. Disponível em: < http://revistaescola.abril.com.br/formhttps://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10985/1/tese.pdfacao/escrita-profissional-427279.shtml> Acesso em 23 dez. 2015.

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Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil /Ministério da Edcuação e do Desporto:-Secretaria da Educação Fundamental - Brasília MEC/SEF: 1998.

Volume 1 Introdução; Volume 2 : Formação pessoal e social; Volume 3 Conhecimento de mundo.

O Trabalho de Projeto na Pedagogia-em-Participação. Porto: Porto Editora. ISBN Oliveira -For-mosinho.

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