caderno de sustentabilidade 2ª ediÇÃo cartaescola · por marcos josé pereira da silva,...

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INSCREVA SEU PROJETO: Nesta edição, você encontra o regulamento do prêmio XXXXXXXXXXXXXXX 2008 – R$ 6,90 – EDIÇÃO N O XX 2ª EDIÇÃO Caderno de Sustentabilidade Carta na Escola e a organização não-governamental Ação Educativa lançam prêmio para aproximar a escola de sua comunidade. Participe! Carta na Escola e a organização não-governamental Ação Educativa lançam prêmio para aproximar a escola de sua comunidade. Participe! PRÊMIO MINHA COMUNIDADE SUSTENTÁVEL PRÊMIO MINHA COMUNIDADE SUSTENTÁVEL PATROCÍNIO: PATROCÍNIO: APOIO: APOIO: REALIZAÇÃO: APOIO INSTITUCIONAL: Carta Escola Carta Escola na •CE Susten CapaB 25 27.03.08 12:48 Page 2

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INSCREVA SEU PROJETO: Nesta edição, você encontra o regulamento do prêmio

XXXXXXXXXXXXXXX 2008 – R$ 6,90 – EDIÇÃO NO XX

2ª EDIÇÃOCaderno de Sustentabil idade

CCaarrttaa nnaa EEssccoollaa ee aa oorrggaanniizzaaççããoo nnããoo--ggoovveerrnnaammeennttaall AAççããoo EEdduuccaattiivvaa llaannççaamm pprrêêmmiioo ppaarraa aapprrooxxiimmaarr

aa eessccoollaa ddee ssuuaa ccoommuunniiddaaddee.. PPaarrttiicciippee!!

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aa eessccoollaa ddee ssuuaa ccoommuunniiddaaddee.. PPaarrttiicciippee!!

PRÊMIO MINHACOMUNIDADE SUSTENTÁVEL

PRÊMIO MINHACOMUNIDADE SUSTENTÁVEL

PATROCÍNIO:PATROCÍNIO:

APOIO:APOIO:

REALIZAÇÃO: APOIO INSTITUCIONAL:

CartaEscolaCartaEscolana

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Por Marcos José Pereira da Silva, consultor em planejamento e elaboração de projeto e coordenador administrativo e financeiro da Ação Educativa

1Por que elaborar projetos?

O termo projeto carrega o sentido de organizar idéias,pesquisar, analisar a realidade e desenhar uma propostaarticulada com intencionalidade.

Os projetos sociais seguem essa lógica. São constru-ções feitas por um grupo de pessoas que deseja transfor-mar boas idéias em boas práticas. Tais projetos podem setransformar em ações exemplares que modificarão a rea-lidade local.

Se, além de se constituírem em ações exemplares, osprojetos se integrarem a ações de governo, municipais,estaduais ou da instância federal, poderão se replicar emescala maior, gerando, assim, políticas públicas cujos im-pactos para a coletividade serão maiores do que os proje-tos apenas locais.

Nos programas de governo, muitas vezes expostos emperíodos de eleição, ouvimos candidatos e governantes di-zerem que têm projetos para solucionar o problema do de-semprego, da saúde, da educação etc. Em parte, isso é pos-sível. Havendo um bom projeto, com recursos suficientes,bem monitorado e avaliado, vai se chegar aos objetivospreestabelecidos. Mas é preciso que o projeto seja bem ela-borado, desde seus passos iniciais.

Nessas situações em que desejamos transformar insatis-fação em solução, idéias em ações, boas intenções em pro-postas efetivas, sem desperdício de tem-po e recursos, faz-se necessário elabo-rar um projeto que descreva o caminhoa seguir. Caminho esse que deve ser tri-lhado com lógica e paixão.

2Cuidados e recomendações

Durante o processo de elaboração deprojetos, correm-se dois grandes riscos:o da onipotência e o da impotência.

Um grupo pode sentir-se onipotentequando se considera com possibilidade detransformar, sozinho, os problemas sociais

existentes em um bairro ou cidade. É o perigo do voluntarismo. Seu oposto é a impotência. Sabendo ser difícil ou mesmo

impossível resolver, isoladamente, os problemas encontra-dos, o grupo julga não poder fazer nada e desiste de buscarsoluções criativas.

Esses dois grandes riscos freqüentemente têm comoraiz pelo menos três fatores. O primeiro deles é o diag-nóstico superficial sobre o espaço e o contexto nos quaiso grupo atua. O segundo reside na análise inconsistenteda viabilidade social, política, técnica, financeira, am-biental ou cultural do projeto. O último, a má distribui-ção de papéis e responsabilidades, de modo a centralizaro poder em uma única pessoa ou a diluí-lo, dificultando aconstituição de líderes.

Na prática, existem alguns problemas a ser superadosquando se quer estabelecer resultados concretos e custosefetivos em projetos sociais que lidam com processos de me-lhoria das condições de vida e com a promoção dos direitoshumanos. Para superá-los é necessário construir um cami-nho baseado em resultados ou metas, organizado no tempoplanejado, executado e monitorado. Sobretudo, não se deveparar nas boas intenções, mas transformá-las em obras.

3Sugestões para elaboração de projetos

Criar um projeto supõe dois importantes momentos:

1º Elaboração: O grupo deve realizar um bom diagnósticosobre o contexto e a situação problemática que pretendeenfrentar e analisar o seu potencial para, em seguida, cons-

truir o seu caminho. É preciso que to-das as pessoas envolvidas participem di-retamente na fase de elaboração, bus-cando criar uma visão ampla do proble-ma a ser enfrentado e soluções criativaspara a sua viabilidade.

2º Redação: Este é um momento deexercício de síntese do processo ante-rior. Nele, é melhor contar com poucaspessoas do grupo. Tudo o que foi produ-zido anteriormente será agrupado emum roteiro que demonstre, de modo ob-jetivo, o que será realizado.

Dois riscos.Durante o processo

de elaboração de projetos,

correm-se dois grandes

riscos: o da onipotência

e o da impotência.

Prêmio Minha Comunidade Sustentável

Como elaborar um projetoPLANEJAMENTO Dicas e orientações para transformar boas idéias em boas práticas. E um roteiro detalhado, em oito passos, para seu projeto

•CE Susten como elaborar - 25 27.03.08 12:57 Page 2

1º passo: Definir qual grupo elabora o pro-jeto. Determinado o grupo, se verificarácom quantas pessoas será possível contarefetivamente para realizá-lo, ou seja, qualo poder real ou o “tamanho das pernasque o grupo tem”.

2º passo: Montar duas listas paralelas.Uma deve listar os problemas que o gru-po pretende superar e outra apontar so-luções. É imprescindível que os proble-mas sejam concretos e observáveis. Elesdevem ser formulados com clareza. Porexemplo, na lista dos problemas deveconstar: “Poucas alternativas de cultu-ra e lazer para jovens da Vila Nova Ca-choeirinha”. Na lista das soluções: “Al-ternativas de cultura e lazer acessíveispara jovens da Vila Nova Cachoeirinha”.

3º passo: Escolher o problema princi-pal. Dentre todos os listados, o grupodeve saber por onde começar, esco-lhendo o problema principal a partir devários critérios. Um deles é o impactonegativo que o problema causa para acomunidade ou escola. Outro critérioé a capacidade do grupo para resolvero problema. Neste caso, pode ser que ogrupo resolva iniciar o projeto justa-mente por aquele cuja solução sejamais fácil e rápida.

4º passo: Montar uma árvore com o pro-blema escolhido, suas causas e conse-qüências. As causas do problema estãono que o origina e o mantém, ou seja, es-tão em sua raiz. As conseqüências são osdanos provocados. Perceber a diferençaentre causas e efeitos ajuda o grupo a nãogastar recursos financeiros e a não des-perdiçar tempo apenas com as conse-qüências.

5º passo: Definir objetivos gerais e espe-cíficos. Os resultados previstos devemconter indicadores, fatores de risco e umplano de ação, como mostram as descri-ções seguir:

1. Os objetivos específicosSão eles que representam a finalidade doprojeto em questão. São degraus para che-gar ao topo da escada, ao objetivo geral.Eles indicam o caminho a ser percorrido.

2. Resultados ou metasSão tangíveis e correspondem aos produ-tos finais de um conjunto de atividades emum certo período. Quantificam as ativida-des que serão desenvolvidas, bem comosua intensidade. Qualificam o jeito quepelo qual o projeto será realizado, os valo-res que o grupo quer imprimir. Exemplo:dez atividades (quantificar as atividades)de manejo sustentável (qualificar o tipode manejo).

3. Indicadores para o monitoramento dos re-sultadosSão os sinais de que o grupo está perse-guindo os resultados a que se propôs.

4. Fatores de riscoSão obstáculos com os quais o grupo de-verá conviver, sejam eles políticos (umgrupo poderoso pode estar contra o proje-

to), culturais (mentalidade de desperdí-cio de recursos, preconceitos etc.) quefogem ao controle do grupo, mas po-dem dificultar a realização do projeto.Desenhar ações para minimizar essesfatores de risco.

5. Plano de açãoDescreve o que precisa ser feito para sechegar aos resultados pretendidos. En-volve o conjunto de ações, com os res-

pectivos prazos, as pessoas responsáveis eos recursos necessários.

6º passo: Análise de viabilidade do proje-to. Antes de colocar um projeto em práti-

ca, é preciso verificar se o grupo pode fa-zer o que propõe. Para isso é impor-tante levar em consideração seis as-pectos: a viabilidade econômica, so-

cial, política, técnica, ambiental, degênero e étnico-cultural.

Oito passos para elaborar um projeto

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Viabilidade econômicaConsidere o custo total do projeto. Ve-rifique se a soma dos recursos de quedispõe mais o que poderá captar cobreos custos do projeto.

Viabilidade socialAnalise os atores sociais envolvidos,indivíduos ou organizações que terãoseus interesses afetados positiva ounegativamente pelo projeto.

Viabilidade políticaCertifique-se de quais são as pessoas,os grupos e as instituições queapóiam o projeto. Se houver obstá-culos políticos ou legais, prevejaações para superá-los.

Viabilidade técnicaExplicite as técnicas que serão utili-zadas e considere se o grupo dispõedessas tecnologias.

Viabilidade ambiental Analise se o projeto agride o meio am-biente.

Viabilidade de gênero, étnica e culturalAnalise se há algum padrão culturalque pode dificultar a realização doprojeto, seja ele na relação homemcom mulher, relações étnico-raciaisou culturais.

7º passo: Cronograma de trabalho. Pla-neje uma data de início e término doprojeto. Defina os meses em que acon-tecerão as atividades preparatórias, deexecução, atividades de monitora-mento e de avaliação.

8º passo: Orçamento detalhado dasdespesas. Calcule o custo da equipede trabalho, a infra-estrutura e o ma-terial necessário. É sempre bom re-servar recursos para gastos com des-pesas imprevistas.

Como fazer a redação do projetoO projeto poderá ser sintetizado emcinco grandes itens:

1) AberturaNesta página devem constar o título do pro-jeto (que expressa sua idéia central), onome e a sigla da instituição proponente,a data e o endereço. E um resumo sobre:objetivo geral, objetivos específicos, resul-

tados previstos, atividades, indicadores, be-neficiários e custos.

2) JustificativaRessaltará a importância do projeto. Infor-mará os problemas que o projeto resolveráno contexto em que está situado. Relaciona-rá o problema aos âmbitos nacional, estaduale local. Demonstrará como as políticas pú-blicas tratam esse problema. Caracterizaráos beneficiários diretos e indiretos e gruposque têm interesses em relação ao projeto.

3) Metodologia e lógica da intervençãoDetalhará o objetivo geral, objetivo especí-fico, resultados esperado, indicadores e oplano de ação. Também inclui a descriçãodas iniciativas que serão tomadas para mo-nitorar e minimizar os fatores que podempôr o projeto em risco.

4) Orçamento

5) AnexosPodem ser considerados textos anexos odiagnóstico, as informações relevantes so-bre o contexto em que se realizará o proje-to e as informações adicionais sobre os pro-ponentes do projeto.

Prêmio Minha Comunidade Sustentável

SAIBA MAIS■ Livro

ARMANI, Domingos. Como Elaborar Projetos?

Guia para Elaboração e Gestão de Projetos

Sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001

(Coleção Amencar)

■ Internet

“Elaboração participativa de projetos: um guia

para jovens”

www.acaoeducativa.org.br

“Onze passos do planejamento estratégico

participativo”

www.cdhep.org.br

•CE Susten como elaborar - 25 27.03.08 12:57 Page 4

Por Artur Guimarães

Obarulho das crianças, omuro e o grosso portão deferro fechado com cadea-

do são os mesmos de qualquer uni-dade de ensino público do municí-pio de São Paulo. Já quem entra naEscola Municipal DesembargadorAmorim Lima, no Butantã, zonaoeste da capital, tem a sensação deque alguma coisa bem diferenteacontece naquele prédio.

Em espaços que comportariamtrês, quatro classes, não há paredesnem divisórias. Apenas um enor-me salão, com o fim a se perder devista, recebe estudantes sentadossempre em grupos – não neces-sariamente da mesma série. Maiscurioso ainda é que não é só um professor que dá aula ali. Naverdade, podem ser até três dos 50 que atuam no colégio.

Mas a figura do docente também deve ser subvertida, para seentender o modelo pedagógico que guia o trabalho da Amorim,que recebe alunos do 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

As aulas expositivas tradicionais foram riscadas do currí-culo. São as próprias 780 crianças que escolhem a ordemdos conteúdos que vão estudar. E são elas mesmas que de-vem ir atrás de se informar sobre os assuntos, seja alugandolivros por conta própria na biblioteca, seja questionando etirando dúvidas com seus mestres, que são cada dia mais po-livalentes e, dentro desse sistema, conseguem orientar atémesmo quem não está com problemas em sua disciplina.

Na prática, eliminando qualquer hierarquia, educador e edu-cando constroem juntos a aprendizagem. Até asregras de convivência são selecionadas conjunta-mente. Sim, existem aulas normais ao longo dasemana, como Matemática e Ciências, por exem-plo. Mas a grade é composta por vários momen-tos coletivos, em que os estudantes têm de seguirsozinhos cerca de 20 roteiros de estudos anuais,cada um focado em determinado assunto e comcerca de 20 objetivos que devem ser cumpridos,com orientação indireta dos docentes.

Essa carta de navegação, que deve ser seguida ao longo doano letivo, vai sendo avaliada de várias formas. Primeiro, com osprofessores tutores, que são designados para, individualmente,uma vez a cada sete dias, verificar a produção de cada criança.“Se, por acaso, percebermos uma dificuldade com freqüênciaem certo tema, podemos criar uma oficina específica de reforçopontual”, explica Ana Elisa Siqueira, diretora da escola.

Quando um roteiro chega ao fim – e quem decide isso é opróprio estudante – há outras formas de testar o que foiaprendido, como a elaboração do portfólio, espécie de resu-mo do que foi lido e pesquisado. Esse documento, em formade texto, é analisado para, só mais tarde, ser feita a ficha deauto-avaliação, uma espécie de prova feita com base na pro-dução do aluno. “Como fui eu mesma que levantei todos os

dados, nessa hora a gente percebe rapidinho oque sabe e o que ainda falta ir atrás”, explicaGisele Rodrigues, 14 anos, que está no 9° ano(antiga 8ª série).

Toda a adaptação do currículo foi feita em2004 por um voluntário, Geraldo Tadeu deSouza, doutor em Lingüística pela Universida-de de São Paulo (USP), que tem uma filha eum filho matriculados. “Buscava um objetopara meu pós-doutorado e encontrei nessa

Essa escola é minhaInovação Uma escola pública que derrubou as próprias paredes e trouxeos pais de alunos para perto quer agora espalhar árvores pelo bairro

Paredes caídas.Eliminando qualquer

hierarquia, educador

e educando

constroem juntos

a aprendizagem

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ESPAÇO DE APRENDER. Umaescola gratuita que se preocupaem ser bonita também

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reorganização um ótimo campo. Meu esforço era transfor-mar os livros didáticos em roteiros de pesquisa”, conta.

GESTÃO DEMOCRÁTICATodo o jeito de educar da Amorim Lima, único na rede pau-listana de ensino público, é baseado no trabalho da Escolada Ponte, em Portugal (ver quadro). Apesar da madrinha con-ceitual famosa no mundo acadêmico, o caminho trilhadoaqui em São Paulo foi bastante penoso.

Tudo começou, aliás, com questões bem comuns nas uni-dades de ensino brasileiras. A principal era a distorção nas ati-vidades do conselho esco-lar. “Quando cheguei aqui,há 12 anos, a função do co-legiado era mais burocráti-ca. Ficava muito ligado aospontos administrativos daescola, não tinha relaçãonenhuma como o pedagó-gico”, lembra a diretora.

Após uma consulta como próprio conselho delibe-rativo, ficou decidido queas mães passariam a ter li-berdade para, caso quises-sem, entrar para assistirao recreio com as crian-ças. E isso começou a serfeito, apesar de nem todos irem até lá – pormotivos profissionais ou até por falta de von-tade. No início, quem topava a idéia tomavaconta dos seus próprios filhos. Mas, com qua-se 400 alunos brincando para lá e para cá, fi-cou evidente que o projeto deveria crescer eenglobar a todos.

PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS PAISDesde essa época, a vizinhança com a USP jácomeçava a ser frutífera para a escola. Muitos responsáveis er-am professores ou estudantes da instituição. Moravam no bair-ro e tinham presença constante dentro dos muros da unidade.Foi assim que uma mestranda em Cultura Popular na Escolade Comunicações e Artes (ECA), que já tinha colaborado paradar nova cara à festa junina, ajudou a escola a introduzir brin-cadeiras tradicionais com os estudantes. “As mães se uniram.Tomaram gosto pela escola”, explica Ana Elisa.

A proximidade com a comunidade trouxe vários benefí-cios para o funcionamento da Amorim Lima, mas tambémdesencadeou processos nem tão agradáveis. Ao acompanhartodo o funcionamento da unidade, os pais entravam em con-tato direto com os professores, funcionários e sabiam exata-mente o que funcionava e o que deixava a desejar.

Alguns pontos foram levados para as reuniões do conse-lho de escola. Mas, nesse momento, as críticas já não eramgenéricas. “Não era aquela coisa de quem vê de fora do por-tão. Eles sabiam de tudo”, diz a diretora. As reclamações iamda falta de limpeza nos banheiros, que eles viam de perto, aoaltíssimo número de faltas dos educadores e funcionários.

Colocado contra a parede, o comando da escola foi obri-gado a discutir esses problemas. As leis que regem a educa-ção foram todas levadas para debate no colegiado. Nessa ho-ra, encontraram-se inúmeras discrepâncias entre o teórico eo prático. “Todos foram percebendo que as premissas da le-

gislação, que assegurava aautonomia e outros valo-res, não estavam sendocumpridas. Até a questãodos ciclos entrou. Oficial-mente, deveríamos estaradotando a progressãocontinuada na época, masisso estava só no papel. Asfamílias foram cobrando”,relata Ana Elisa.

As deficiências eram tãograndes, ela lembra, quehouve um consenso de quesomente uma mudança pro-funda alteraria o quadro.Poderia ser uma conclusão

desoladora para uma unidade dentro de umarede pública, com seus regimentos e condu-tas pasteurizadas. A sorte foi que, pelo seuespírito empreendedor, a escola sempre tevevários parceiros ao seu lado, como fundações,acadêmicos e organizações não-governamen-tais. Foram eles que, em oficinas de capacita-ção, levaram vídeos que narravam a experiên-cia da Escola da Ponte, em Portugal.

O modelo encantou docentes, alunos, fa-miliares e funcionários. Mas era preciso ter uma autoriza-ção para que a idéia fosse adiante e que um novo projeto po-lítico pedagógico fosse aprovado.

Como alguns canais diretos de comunicação com a pre-feitura não deram resultado, os pais resolveram procurar aentão secretária Municipal de Educação, Maria AparecidaPerez. Em 2003, eles foram atrás da titular da pasta na inau-guração do Centro Educacional Unificado (CEU) Butantãpara conseguir esse objetivo. “Até o presidente do conselho,que era cadeirante, foi atrás dela, buscando uma assessoriatécnica para nos ajudar”, conta Ana. A secretária ficou en-cantada, principalmente porque a proposta não vinha doseducadores, mas da comunidade. E foi assim que o modelocomeçou a ser adotado.

Articuladores.A diretora Ana Elisa

inspirou-se na Escola

da Ponte. Geraldo

Souza quer viabilizar

o Corredor Verde

Prêmio Minha Comunidade Sustentável

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CONHECENDO O ENTORNODa mesma forma que os pais dos estudantes foraminseridos no convívio escolar, os alunos tambémfazem o caminho inverso. Além das oficinas tradi-cionais – que incluem até capoeira e cultura gua-rani –, há várias atividades na Amorim Lima emque as crianças saem pelo portão e vão conhecer obairro em que vivem.

A primeira, por exemplo, chama-se Estação Bu-tantã. É ministrada com ajuda de Florência Cha-puis, arquiteta formada pela Universidade Presbi-teriana Mackenzie, e por Nuno de Azevedo Fonse-ca, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo(FAU) da USP, ambos voluntários e casados – pais de umafilha matriculada na escola.

A idéia do projeto é levar principalmente os estudantesda 1ª série para conhecer a região. “Queremos que elesaprendam o que é a cidade, começando por onde eles vi-vem”, diz Florência. Em grupos e sob supervisão, as criançasvão visitar as principais praças e espaços dos entornos da es-cola. Aprendem o que são quarteirões, ruas e avenidas.

“Ao mesmo tempo que conhecem a identidade da vizi-nhança, passam a saber melhor quem são seus colegas, jáque esse tipo de passeio, fora das regras da escola, é muitointeressante para estreitar as relações”, ressalta Florência.

O tour inclui passagem pela USP, por seus museus e atépelo Instituto Butantã, próximos à escola. Na ida, seguempelo acesso para pedestre, e voltam de ônibus.

CORREDOR VERDE À VISTAOutro projeto pensado também por voluntários, acadêmi-cos e pais de alunos, e que está em fase de desenvolvimentoé o Corredor Verde. O projeto, que aguarda a aprovação daFundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fa-pesp), pretende inicialmente levar os estudantes a identifi-car a flora arbórea nativa da região do Butantã.

Depois, com ajuda de mapas e documentos oficiais, as tur-

mas vão analisar quais são os pontos em que ainda podemser encontradas essas espécies.

Internamente, no amplo espaço de lazer da unidade de en-sino, será montado um centro de criação de mudas. Nessafase, também serão localizadas as casas dos educadores e alu-nos. E, finalmente, as árvores serão plantadas por toda a re-gião. “Queremos montar corredores verdes que venham atéa Amorim Lima”, explica Geraldo Souza, que, além de asses-sor curricular, também é pesquisador adjunto da atividade.

A última etapa será o acompanhamento do trabalho, com aelaboração de diários de bordo nos quais serão descritos os mo-tivos que levaram ao sucesso ou ao fracasso da idéia. “É uma for-ma de fazer um trabalho participativo e crítico sobre as políticasde arborização e urbanização. E, principalmente, um jeito deensinar os assuntos das disciplinas tradicionais, em planos depesquisa, mesclados aos conceitos ecológicos”, garante Souza.

Até 1976, a Escola da Ponte, em Vila das Aves, a 30 quilômetros

da cidade do Porto, em Portugal, funcionava nos mesmos

padrões das demais escolas do país. Havia um professor

por sala de aula, profissional que colocava em prática seu método

particular de ensino e dificilmente se comunicava com os demais.

Os alunos também raramente interagiam. “O trabalho escolar

era baseado na repetição de lições, na passividade”, costuma

dizer José Pacheco, principal responsável pelo projeto de

transformação da unidade e mestre em Ciências da Educação

pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

Universidade do Porto. Depois da mudança em seu projeto

pedagógico, o colégio passou a adotar novas regras de gestão.

Tudo passou a ser baseado em projetos de pesquisa, que são

desenvolvidos pelos estudantes de acordo com seu interesse.

Não há séries ou ciclos e os docentes tendem a ser polivalentes,

ajudando e orientando os estudantes em seus trabalhos.

Também não há inicialmente divisão por idade. Cada aluno

se agrega aos grupos que, por seu gosto, são mais convidativos.

E passa a ir atrás das informações de que precisa para avançar.

Os docentes só dão explicações quando são questionados

pelos alunos. Já as normas de convivência são decididas

em assembléias coletivas. A experiência da Escola da Ponte

foi contada pelo educador Rubem Alves no livro A Escola

Com Que Sempre Sonhei, Sem Imaginar Que Pudesse Existir.

Uma experiência inovadora

SAIBA MAIS■ ALVES, Rubem. A Escola Com Que Sempre Sonhei, Sem Imaginar

Que Pudesse Existir. Papirus: Campinas, 2005.

■ Site da E.M.E.F. Desembargador Amorim Lima:

www.amorimlima.com.br

SALÃO DE AULA.Você já viu umasala de aula assim?

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Por Nina Lopes

Garrafas e sacolas plásticas, pneus, restos de alimentos,pedaços de madeira, entulhos, latas, vidros e embalagensdas mais variadas marcas, formas e tamanhos. No Rio

das Bicas encontra-se de tudo um pouco. Recebendo lixo e es-goto sem tratamento diariamente, suas águas vêm perdendobastante volume. Mas basta chover mais forte para que a popu-lação que habita suas margens sofra com seu transbordamento.

No Coroadinho, um dos 25 bairros da cidade de São Luís(MA) cortados pelo rio, são recorrentes os casos de residên-cias invadidas pelas águas contaminadas das enchentes emoradores infectados por doenças como malária, dengue eleishmaniose. O rio está claramente pedindo socorro e trêsmoradoras do bairro entenderam o recado.

Considerando a degradação do Rio das Bicas como o maiorproblema enfrentado pela comunidade do Coroadinho, as ado-lescentes Ana Lúcia Farias das Neves, Dayane dos Santos Xime-

nes e Willicléia Pereira de Oliveira resolveram tomar para si ainiciativa de transformar essa realidade. E, em maio do ano pas-sado, colocaram em prática o Projeto Nosso Rio, que tem comoobjetivo despoluir o Rio das Bicas e reflorestar suas margens.

Para realizar tal tarefa, as alunas do 2º ano do Ensino Mé-dio da Escola de Educação Básica e Profissional da FundaçãoBradesco de São Luís contam com a orientação do professorde Química Raimundo João Fróz Campos e da professora deGeografia Adelina da Silva Alves. Juntos, alunas e professoresquerem mudar a realidade do rio, que corta o terreno da es-cola. E antes de colocar a mão na massa foram estudar. “Pes-quisamos sobre a sub-bacia do Rio das Bicas e a análise deamostras da sua água, buscando sempre incentivar a autono-mia e a iniciativa das alunas, principalmente na busca por so-luções para o problema colocado”, conta Campos.

E as alunas de 16 anos, que trabalham durante o dia e fre-qüentam a escola à noite, mostraram que, além de energia,têm autonomia e iniciativa de sobra: partiram para o levanta-

mento de dados emcampo, visitando e foto-grafando diversos pon-tos do rio, além de en-trevistar os moradoresda comunidade. “Du-rante a pesquisa, umade nossas maiores difi-culdades foi encontrarinformações sobre co-mo o rio era antes, mas,conversando com mo-radores mais antigos,conseguimos alguns da-dos. Descobrimos queo nosso bairro foi ocu-pado desordenadamen-te e muitas áreas demangue à margem dorio foram desmatdas eaterradas para a cons-trução de casas. Sem a

A outra margem do rioCIDADANIA Em São Luís, alunas convocam comunidade e prefeitura para reflorestar e despoluir o rio que corta a escola

SEMEAR. Alunos

da Fundação Bradesco

querem devolver a vida

ao Rio das Bicas

Prêmio Minha Comunidade Sustentável

•CE Sustent Maranhão - 25 27.03.08 13:16 Page 1

mata ciliar o rio foi assoreado, daí o motivo das en-chentes”, relata Ana Lúcia.

Munidas de informações sobre o rio e o problema aser enfrentado, as estudantes iniciaram um trabalho deconscientização da população, batendo de porta em por-ta e explicando para os moradores da comunidade a im-portância da preservação do rio. “A comunidade foi mui-to receptiva e se interessou bastante pelas informaçõesque demos a respeito da poluição do rio. Muitos mora-dores admitiram jogar seu lixo no rio”, conta Ana Lúcia.

Uma das visitas mais importantes foi à nascentedo Rio das Bicas, que, apesar de se encontrar dentroda Reserva Estadual do Batatã, área sob proteção am-biental, possui casas bem próximas à beira do rio,contribuindo para a contaminação da água diretamente emsua fonte. “A nascente é uma peça fundamental na recupe-ração do rio e merece cuidados redobrados, porque, se elamorrer, o rio morre”, explica Ana Lúcia.

RÁDIO COMUNITÁRIA COMO PARCEIRAO trabalho de conscientização é um processo lento e neces-sita de tempo para apresentar resultados, já que envolve amudança de hábitos cultivados há longa data. “Somente aeducação ambiental da população, aliada à realização efeti-va de saneamento básico, garante o sucesso do processo derecomposição do sistema de drenagem natural do rio”, ga-rante o professor Raimundo.

Nesse sentido, o projeto contou com uma aliada: a rádio co-munitária do bairro. Partilhando da preocupaçãocom a preservação do rio, a Rádio Conquista vemdivulgando em sua programação dados sobre orio e os cuidados a serem adotados pelos mora-dores. Uma parceria que está dando certo. “Omais importante é informar as pessoas que esseproblema tem solução, mas para isso acontecer agente tem de se mexer e mudar de atitude em re-lação ao rio, parando de poluí-lo e tentando recu-perar o que foi destruído”, diz Dayane.

Outra ação realizada pelas alunas foi o envio de cartas paraa prefeitura de São Luís, cobrando a atuação do poder públicolocal na recuperação do Rio das Bicas. Como resposta, a pre-feitura declarou a intenção de retomar o projeto de urbaniza-ção planejada da margem do rio próxima à escola, pretenden-do criar um espaço para práticas esportivas e lazer da comu-nidade nessa área. “Nós realmente esperamos que essa pro-posta se realize, pois o que buscamos, desde o início do proje-to, é a melhoria da qualidade de vida no nosso bairro e essa o-bra significaria muito nesse sentido”, ressalta Ana Lúcia.

Tanto empenho e dedicação renderam reconhecimentoàs alunas. O projeto, que já havia sido apresentado na Feirade Ciências da escola para pais, alunos e moradores da co-munidade em setembro do ano passado, este ano veio seapresentar em São Paulo, na Feira Brasileira de Ciências e

Engenharia (Febrace), realizada pela USP (entrevista com acoordenadora da Febrace nesta edição).

O projeto de recuperação das margens do Rio das Bicas, re-sultado da observação de um problema que afeta todos, comu-nidade e escola, e da busca de soluções, já rendeu frutos: emfevereiro último, um trecho de 200 metros quadrados da mar-gem do rio recebeu 50 mudas de ipês-roxos, acácias, leucenase palmeiras juçara, espécies típicas da mata ciliar original doRio das Bicas. A ação de reflorestamento envolveu toda a co-munidade escolar e as adolescentes contaram com a ajuda deoutros alunos da escola para realizar o plantio das mudas – to-dos orientados pelos professores e por um técnico agropecuá-rio. “O reflorestamento foi a parte mais bonita e gratificantedo projeto. Ver as plantas se adaptando tão bem, fazendo parte

daquela paisagem como devia ter sido sempre,fez valer a pena o trabalho”, diz Willicléia.

Este mês, a escola ofereceu à comunidade,pais e alunos uma palestra sobre preservaçãoambiental e possíveis ações para revitalizar oRio das Bicas, contando com a participação deum representante do Batalhão Ambiental daPolícia Militar do Estado do Maranhão e da co-munidade do Coroadinho.

Mas o trio de estudantes inquietas não pára.Elas ainda pretendem promover ao longo do ano outras pales-tras sobre educação ambiental para a comunidade e realizar oreflorestamento de outras áreas da margem do Rio das Bicas.“Existem muitos projetos de recuperação dos rios aqui em SãoLuís, mas a maioria não consegue os resultados desejados ousão abandonados. Nosso maior desafio foi propor ações que fun-cionassem, solucionando os problemas de verdade. Agora queencontramos o caminho, não vamos parar enquanto não atin-girmos os objetivos do nosso projeto”, garante Dayane. Plantadaa muda do conhecimento e da cidadania, elas estão no cami-nho certo. As árvores brotaram nas margens do Rio das Bicas.

Parceria.Rádio ajudou alunas

a conscientizar

a comunidade sobre

os problemas do rio

EM CAMPO. Registrode trechos poluídosdo rio e entrevistacom moradores

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SAIBA MAIS■ Fundação Bradesco de São Luís: www.fb.org.br ou 98-3243-5642

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Por Maria Lidia Bueno Fernandes, professora e assessora deGeografia da Escola Cidade Jardim, com especialização emetnologia pela Ludwig-Maximilim-Universität, de Munique,na Alemanha. É doutoranda em Geografia na USP

Ao lançar o Prêmio Minha Comunidade Sustentável, arevista Carta na Escola permite que se discuta o con-ceito de sustentabilidade, inserindo-o no contexto

escolar. É uma boa oportunidade para compreender, na prá-tica, o que é uma comunidade sustentável. E, para isso, pre-cisamos necessariamente pensar em uma forma de atuaçãoque tenha caráter sistêmico, que envolva, em conjunto, asvariáveis ambiental, social e econômica.

A noção de sustentabilidade traz uma concepção integrado-ra em que a abordagem particularista dá lugar a uma perspecti-va mais ampla, que contempla também um compromisso coma construção do futuro. Assim, podemos pensar em projetosrealizados a partir de uma escola que desencadeiem transfor-mações e levem a uma espiral crescente de compromissos, preo-cupações e reflexões com o ambiente, o social e o econômico.

Tal forma de pensar e agir permite que outras ações emudanças significativas sejam empreendidas para melho-rar a qualidade de vida de uma determinada comunidade.Essa atuação contribui ainda para uma aprendizagem signi-ficativa no âmbito escolar.

A noção de sustentabilidade, nos dias atuais, tem umcaráter multidimensional e deve incluir a redução da po-breza e das desigualdades sociais e o direito a uma vidadigna, a promoção de justiça, o respeito à alteridade e aossímbolos e valores dos diversos povos do planeta, o acessoà educação e à saúde de qualidade para todos, segurançaambiental, respeito à natureza e democratização das esfe-ras de tomadas de decisão.

Essa discussão é preponderante em um mundo marcadopor conflitos, guerras e problemas ambientais. Está coloca-do o desafio da construção de um mundo plural, mais eqüi-tativo e ambientalmente mais saudável.

Conforme o sociólogo e economista Henrique Rattner, umdos grandes pensadores do tema desenvolvimento sustentá-vel no Brasil: “Os impactos dramáticos do desenvolvimento

TransformaçõessustentáveisTransformaçõessustentáveisAÇÕES Como buscar soluções que melhorem a vida da comunidade em que suaescola está inserida, sem deixar de se preocupar com o futuro do planetaAÇÕES Como buscar soluções que melhorem a vida da comunidade em que suaescola está inserida, sem deixar de se preocupar com o futuro do planeta

RECICLAGEM. O lixotorna-se renda e o meio ambienteagradece

Prêmio Minha Comunidade Sustentável

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desigual, aumentando o fosso entre ricos e pobres, ajuda-ram a lançar a reivindicação central de nosso tempo – di-reitos humanos – não como uma visão utópica ou idealista,mas como condição básica para a sobrevivência da socieda-de e a sustentabilidade de suas instituições. Esse é o cernede uma ética universal que transcenda todos os outros sis-temas de crenças e valores, como síntese da consciência hu-mana, ciente da preciosidade de todas as formas de vida eda necessidade de cooperação, solidariedade e interdepen-dência. Essa ética é fundamentada em valores de alcanceuniversal – a conquista do bem-estar e da felicidade, atra-vés da liberdade. Ela se refere a um devir, uma visão do fu-turo da humanidade”.

Falando em termos práticos, o que poderia vir a ser umprojeto escolar que contribua para a construção de uma co-munidade sustentável?

Podemos citar alguns exemplos, mas todos consistem ne-cessariamente em romper com os muros que distanciam avida escolar da vida da comunidade. Implica a construçãode um olhar qualificado para a realidade que o circunda embusca de soluções, e de uma intervenção quemovimente a vida da comunidade em que a es-cola está inserida.

Exemplos de comunidades sustentáveis: Um projeto que envolveria a escola, estabe-

lecimentos comerciais do bairro e uma coope-rativa de costureiras. Na escola os alunos estu-dam a questão do lixo e do tempo que os pro-dutos feitos de plástico necessitam para seremdecompostos, o que pode envolver os cursosde Geografia e Ciências. Podem-se estudar asexperiências concretas de diferentes materiaisenterrados e os alunos observariam o processode decomposição de cada um deles.

Com isso, perceberiam o impacto que o plástico causa aoambiente e discutiriam o excesso de resíduos que nossa so-ciedade produz. Isso permite introduzir o debate sobre alógica da sociedade de consumo e suas conseqüências paraa vida social e para o ambiente. Pode-se propor uma inter-venção na comunidade buscando diminuir o consumo desaquinhos de supermercado.

Por meio de cartazes, os alunos desenvolveriam umacampanha para sensibilizar os consumidores sobre os pro-blemas do consumo excessivo desses saquinhos. Ao mesmotempo, os estudantes entrariam em contato com uma coo-perativa de costureiras para se desenvolver conjuntamentemodelos diversos de sacolas de pano com o intuito de subs-tituir os sacos plásticos no mercado local.

No projeto que envolve a escola, os comerciantes e a coo-perativa, dá para prever a crescente substituição dos saqui-nhos plásticos pelas sacolas de pano, envolvendo consciên-cia ambiental e mudança de atitude quanto à utilização de

um produto descartável. Assim como geração de renda parapessoas da comunidade e uma postura pró-ativa, cidadã,dos alunos da escola.

Esse projeto, se bem embasado, levaria a reflexões sobreo uso de descartáveis, o elevado consumo de plástico, a sa-turação dos aterros sanitários, e abriria caminho para umolhar em que as perspectivas social, ambiental e econômicaestejam presentes.

Um outro projeto relevante pode ser o de reaproveita-mento do óleo de cozinha, normalmente utilizado em fri-turas e despejado nos ralos, comprometendo a qualidadedas águas e aumentando em muito o custo de tratamento.Novamente é possível pensar em um projeto que nasce naescola e chega à comunidade na forma de material de di-vulgação que chame a atenção da população para os proble-mas dessa prática. Além de oferecer a possibilidade de cole-ta desse óleo e geração de renda para alguns integrantes dacomunidade que produzirão sabão em pedra, sabão líquido,entre outros produtos.

A escola, com o envolvimento dos professores e alunos,poderia desenvolver uma campanha de divul-gação do projeto, cadastramento dos interes-sados em participar de oficinas, monitorias edivulgação do produto. Uma vez implementa-do, isso se reverteria em fonte de renda para acomunidade, aprendizado para os alunos e me-lhoria na qualidade das águas sem o despejocotidiano de óleo nos ralos.

Outro exemplo seria a proposta de trabalhoconjunto com cooperativas de catadores de pa-pel e oficinas de produção de papel reciclado,posteriormente vendido em estabelecimentoscomerciais ou utilizado pela própria escola.

Hortas comunitárias que contribuam paramelhorar a qualidade de alimentação de alguns membrosda comunidade e que culminem com a formação profis-sional de jardineiros e horticultores também são umexemplo de uma comunidade sustentável desenvolvidaem parceria com a escola. Idem para um trabalho de for-mação de membros da comunidade em agentes ambientaisou mesmo agentes de saúde da família, com a preocupaçãode melhorar a qualidade de vida da comunidade.

Citamos alguns, entre tantos exemplos que poderiamser dados. Sabemos que neste imenso País já existem mui-tas iniciativas criativas, arrojadas e inovadoras. Gostaría-mos de salientar que, para a realização desses projetos, abusca de parcerias entre a escola, o poder público, a ini-ciativa privada, os movimentos sociais, as organizaçõesnão-governamentais, entre outros, é desejável e pode tra-zer muitos benefícios.

Está dado o pontapé inicial para ajudar a transformar es-ses projetos numa prática que reforça o nosso compromissocom o futuro.

Alvo. Projetos

sustentáveis geram

ações que mudam

os aspectos sociais,

ambientais

e econômicos

da vida de uma

comunidade

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Prêmio Minha Comunidade Sustentável

Apresentação

OPrêmio Minha Comunidade Sustentável é uma iniciativada Editora Basset, designada neste Regulamento Organiza-dora, a ser realizado por meio da revista Carta na Escola e

apoiado pela organização não-governamental Ação Educativa. Tem por objetivo estimular e apoiar a criação e execução de projetos es-

colares inovadores que busquem soluções de sustentabilidade da vida no pla-neta, incluindo-se aí as dimensões social, ambiental e econômica.

No contexto do Prêmio, um projeto para uma comunidade susten-tável deve implicar a mobilização e a aprendizagem do grupo escolarparticipante.

Sustentabilidade deve ser entendida como um conceito sistêmico,que integra as dimensões acima citadas. Mais ainda, implica certo equi-líbrio, em contraposição a uma noção de desenvolvimento econômicoilimitado, dada a finitude dos recursos do planeta. Assim, não se po-dem criar soluções de geração de renda para uma comunidade que viveos efeitos da miséria produzindo ações negativas para o meio ambien-te. Ao mesmo tempo, não devemos conservar o meio ambiente em de-trimento dos seres humanos que vivem em uma comunidade.

Regulamento

1ParticipantesPodem se candidatar ao Prêmio unidades executoras vinculadas a uma

escola, que tenham como finalidade a gestão de recursos financeirostransferidos para a manutenção e desenvolvimento do ensino. Enten-de-se por unidade executora, nos termos da legislação vigente, as asso-ciações de pais e mestres (APM), as caixas escolares, os círculos depais, associações de pais e professores (APP), associações de pais, alu-nos e mestres (Apam) e outras denominações com o mesmo fim.

Os projetos devem estar vinculados ao Ensino Fundamental (1º ao9º ano), ao Ensino Médio (1ª à 3ª série), ao EJA – Ensino Fundamen-tal ou ao EJA – Ensino Médio da rede pública ou particular de ensino.E podem ser realizados exclusivamente pela unidade escolar ou emparceria com organizações não-governamentais (ONGs), associaçõesde bairro ou instituição que ofereçam apoio técnico.

O projeto proposto deve ser original e desenvolvido como um tra-balho de professores e alunos ao longo de um período escolar e nãoprecisa se limitar ao espaço da escola, podendo trazer soluções e ino-vações para a comunidade do entorno.

2InscriçõesAs inscrições serão aceitas de 12 de maio a 29 de agosto de 2008 e

poderão ser feitas da seguinte forma:2.1)Pela internet, por meio dos sites www.cartanaescola.com.br ewww.acaoeducativa.org. Deverá ser preenchida a ficha de inscrição eo formulário de descrição do projeto (encontrados no site www.car-tanaescola e nas edições de maio, junho e agosto de 2008 da revistaCarta na Escola) . As inscrições serão validadas após a análise do cumpri-mento dos critérios de participação. A confirmação de recebimento da

inscrição será enviada pelos organizadores por e-mail.2.2) Nos casos em que não for possível fazer a inscrição por meio eletrôni-co, esta poderá ser feita pelo Correio, com o envio da ficha de inscrição e doformulário de descrição do projeto para rua General Jardim, 660, São Paulo(SP), CEP 01223-010, em envelope identificado como Prêmio Minha Co-munidade Sustentável. Serão aceitas as inscrições postadas até o dia 29 deagosto de 2008. Nesses casos a confirmação de recebimento da inscriçãoserá por fax.2.3) No ato da inscrição deverá ser informado o nome de um Gestordo projeto. Este deverá ser membro do corpo docente da escola e oresponsável pelo trabalho e pela gestão dos recursos recebidos.2.4) O material enviado para a inscrição não será devolvido e os avalia-dores podem solicitar informações e documentação complementares.2.5) A inscrição será gratuita.2.6) Cada unidade escolar poderá apresentar mais de um projeto. 2.7) Não poderão participar do concurso pessoas que possuam algumgrau de parentesco com os funcionários e/ou contratados da Organi-zadora e da ONG Ação Educativa.

3Critérios de avaliação dos projetosOs projetos inscritos serão analisados por um comitê técnico formado

pelos organizadores e avaliados em três etapas: a) validação da inscrição con-forme os critérios deste regulamento; b) análise e seleção de 30 projetos porum comitê técnico, formado por pessoas externas à Ação Educativa e à Orga-nizadora; c) seleção dos 10 melhores projetos por uma comissão julgadora.3.1) Divulgação dos resultadosEm 27 de outubro de 2008 serão divulgados os resultados por meiodos sites www.cartanaescola.com.br e www.acaoeducativa.org e en-viados telegramas às equipes responsáveis pelos projetos selecionados.

4Premiação Haverá um evento de premiação em novembro de 2008 e os dez

grupos selecionados deverão enviar o Gestor do projeto e designar um

Critérios de avaliação que nortearão as etapas acima descritas:I. Inserção do projeto nos termos da definição de sustentabilidade expressa na apresentação do Prêmio.II. Viabilidade técnica e jurídica para a implementação do projeto.III. Adequação dos recursos disponibilizados aos fins declarados no projeto.IV. Cronograma factível e compatível com os objetivos a serem alcançados peloprojeto.V. Ser concebido e executado por professores e alunos de uma unidade escolarcom apoio ou não de organizações não-governamentais (ONGs), associações debairro ou instituição que ofereça apoio técnico.VI. O projeto deve ser original e desenvolvido ao longo de um período de 6 me-ses do calendário escolar (fevereiro a julho de 2009).VII. A elaboração e realização do projeto devem implicar ação de caráter trans-formador na comunidade-escola ou na comunidade de maneira mais ampla (oentorno, a rua, o bairro, a cidade).VIII. Será considerado o critério de proporcionalidade entre o número de proje-tos inscritos e premiados conforme as regiões do país.

Regulamento

•CE Susten RegulamentoC 25 27.03.08 12:45 Page 1

dos alunos participantes. Os grupos serão hospedados na cidade de SãoPaulo, em local a ser oportunamente definido pela Organizadora, res-ponsável pelo transporte dos grupos de ida e volta a sua cidade, transla-do em São Paulo, alimentação e hospedagem durante o período de per-manência do grupo.

5Prêmio As escolas que tiverem seus projetos escolhidos pela comissão jul-

gadora receberão como prêmio:

• Certificado de participação.

•Um computador para cada escola envolvida nos projetos selecionados.

• Uma assinatura da revista Carta na Escola válida por 1 ano.

• As unidades executoras serão depositárias do prêmio em dinheiro quetem a finalidade de viabilizar a implantação dos projetos, sendo estes:1 prêmio de até 30 mil reais;2 prêmios de até 15 mil reais;5 prêmios de até 10 mil reais;2 prêmios de até 5 mil reais.

O valor do prêmio será depositado em uma conta corrente exclusivapara esse fim em nome da unidade executora. O prêmio será pago em trêsparcelas, sendo a primeira referente a 50% do total, depositada em 30 dejaneiro de 2009. A segunda parcela, referente a 40% do valor total da pre-miação, será depositada após 60 dias e a terceira, referente aos 10% res-tantes, após 120 dias a contar do recebimento da primeira parcela.5.1) Gestão dos recursos A implantação do projeto e a utilização dos recursos financeiros disponi-bilizados pelo Prêmio Minha Comunidade Sustentável serão de responsa-bilidade do Gestor indicado na ficha de inscrição pela unidade executora.

A implantação do projeto será monitorada por um responsável de-signado pela Organizadora e pela ONG Ação Educativa e deverá acon-tecer até o final de julho de 2009.

O Gestor do projeto será responsável pela prestação de contas comnotas fiscais, recibos e relatório de utilização dos recursos para seremenviados à Comissão Organizadora do Prêmio até 10 dias antes da da-ta de depósito da parcela seguinte.

O modelo de relatório será enviado por e-mail ao Gestor do projetoimediatamente após o pagamento da primeira parcela.

Os relatórios e as comprovações de gastos devem ser enviados para a AçãoEducativa, rua General Jardim, 660, São Paulo, CEP 01223-010, em envelo-pe identificado como Prêmio Minha Comunidade Sustentável – Relatório.

Os recursos devem ser gastos entre fevereiro e julho de 2009, nãosendo possível estender esse prazo.

Os recursos recebidos não poderão ser gastos com remuneração depessoal, despesas com alimentação, transporte e estadia. A compra deequipamentos e insumos deve estar diretamente relacionada às neces-sidades do projeto.

A liberação das parcelas estará condicionada ao envio e à aprovaçãodos relatórios. Caso o relatório não seja aprovado, será devolvido com asrecomendações para ser refeito e reenviado. A não aprovação da prestaçãode contas implica desclassificação do projeto e a devolução dos valores járecebidos em até cinco dias úteis após a comunicação por carta.

Cada projeto poderá receber uma visita técnica com a finalidade deacompanhar a sua implementação.

6Cessão de Direitos – Autorizações 6.1) O Prêmio tem caráter exclusivamente cultural, sem nenhu-

ma modalidade de sorteio ou pagamentos pelos concorrentes nem évinculado à aquisição de qualquer bem, direito ou serviço.6.2) Fica desde já estipulado que a inscrição da unidade executora no Prê-mio Minha Comunidade Sustentável autoriza que a Organizadora possa,sem ônus, por qualquer meio ou forma, parcial ou totalmente, expor e di-vulgar publicamente o Projeto, sua abrangência, o nome dos participantes,de terceiros que nele estejam envolvidos a qualquer título, o apoio a ele con-ferido, bem como o material descritivo correspondente ao Projeto. 6.3) A autorização é outorgada em caráter de exclusividade, de forma de-finitiva, total, irrevogável e irretratável, sendo válida no Brasil e em todosos demais países, sem restrição de espaço, tempo, idioma e quantidade deexemplares, e permitirá à Organizadora a utilização por meio de: impres-sos em geral, mídia, material publicitário, sites, CD-ROM, disquete, DVD,revistas eletrônicas e digitais, conferências, palestras, relatórios, convites,folders, folhetos, livros, compilações, fotografias, slides, outdoors, catálo-gos, cartazes, calendários, enciclopédias, produtos culturais, exposiçõesitinerantes ou não, em qualquer local, mostras nacionais ou internacio-nais, outros materiais institucionais, promocionais ou publicitários.6.4) Os integrantes dos grupos cedem, a título gratuito, à Organiza-dora o direito de uso de seus nomes, imagens e depoimentos, para finsde divulgação do II Prêmio Minha Comunidade Sustentável.

7Disposições GeraisO não cumprimento pelos grupos inscritos das disposições deste

Regulamento e das demais instruções fornecidas durante o processa-mento do concurso implicará sua desclassificação.

As decisões da Comissão Julgadora serão soberanas e irrecorríveis,não cabendo recursos aos concorrentes qualquer contestação de taisdecisões, bem como dos seus resultados. Os casos não previstos poreste regulamento serão discutidos e acordados pela Comissão Organi-zadora do Prêmio Minha Comunidade Sustentável.

As despesas referentes à elaboração e ao envio dos projetos e quais-quer outras necessárias para a participação no concurso correrão porconta dos próprios inscritos.

Comissão Organizadora do Prêmio Minha Comunidade Sustentável

REALIZAÇÃO: PATROCÍNIO:APOIO:

APOIO INSTITUCIONAL:

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