caderno baixo parnaíba2

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1 PTDRS do Território Baixo Parnaíba PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL doTERRITÓRIO BAIXO PARNAÍBA São Luís Maranhão 2011

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Page 1: Caderno baixo parnaíba2

1PTDRS do Território Baixo Parnaíba

PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL doTERRITÓRIO

BAIXO PARNAÍBA

São LuísMaranhão

2011

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2PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Presidente da República Federativa do BrasilDilma Rousseff

Ministro de Estado do Desenvolvimento AgrárioAfonso Florence

Secretário de Desenvolvimento TerritorialHumberto Oliveira

Coordenação Geral Carleuza Andrade da Silva Carlos Humberto Osório Castro Delegada Federal do Ministério de Desenvolvimento Agrário no MaranhãoCicília Mirela Durans Costa

Articuladores Estaduais\SDT\MDAMary Alba Santiago FigueiredoWellington Matos

Participação:CODETER - Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Território Baixo Parnaíba

Cooperativa de Serviços, Pesquisa e Assessoria TécnicaHélio Henrique Silva Santos Filho - Diretor Presidente

Coordenação Técnica - COOSPATMaria Suely Dias Cardoso Mestre em Ciências Sociais

ConsultoresEvaristo José de Lima Neto – Doutorando em Sociologia RuralEdmilson Carlos Pereira de Abreu Pinheiro – EngºAgrônomo - Especialista Magistério Superior Itaan de Jesus Pastor Santos – Doutor em Agronomia

Revisão TextualAlessandra Ribamar Costa CardosoMirelle Campos Tavares Nina

Revisão Editorial Maria Suely Dias Cardoso

Fotografia e diagramação gráficaRoberto K-zau

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3PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Lista de FigurasLista de QuadrosLista de Siglas

Apresentação..........................................................................................................08 1. Introdução ...........................................................................................................091.1 Antecedentes......................................................................................................09 1.2 A política de desenvolvimento territorial no Baixo Parnaíba versus Monocultura da soja e eucalipto........................................................................132. Objetivos .............................................................................................................132.1 Objetivo Geral......................................................................................................132.2 Objetivos Específicos...........................................................................................13

3. Metodologia ........................................................................................................14 3.1 Princípios Metodológicos ...................................................................................141.1 Fortalecimento do Colegiado...............................................................................153.1.2 Partindo das definições locais para o planejamento........................................153.1.3 Planejamento territorial articulado com o planejamento central ......................153.1.4 Participação popular no planejamento territorial..............................................163.1.5 Melhorar a capacidade técnica e gerencial do Colegiado................................163.2 As fases do trabalho............................................................................................163.2.2 Leitura compreensiva e crítica do PTDRS elaborado em 2005 ......................173.2.3 Levantamento, atualização e comparação das informações secundárias.......173.2.4 Reuniões mobilizadoras....................................................................................173.2.5 Visitas técnicas ao CODETER e a projetos nos municípios do Território........183.2.6 Realização de oficinas com a plenária do CODETER para discussão das análises realizadas..........................................................................................183.2.7 Redação final do PTDRS qualificado...............................................................19

4. O Diagnóstico como fonte para o Planejamento do Desenvolvimento Sustentável..........................................................................................................204.1 Localização e caracterização espacial do território ............................................214.2. Aspectos geoambientais.....................................................................................244.3 Características socioeconômicas........................................................................344.3.1 Aspectos demográficos.....................................................................................344.3.2 Educação..........................................................................................................374.3.3 Saúde................................................................................................................384.3.4 Economia Territorial..........................................................................................424.3.4.1 Uma Análise do PIB do Maranhão e do Território.........................................423.4.2 PIB per Capita – Território Baixo Parnaíba.......................................................434.4 Estrutura fundiária e utilização de terras............................................................454.5 Estrutura agrícola................................................................................................484.5.1 Padrão de utilização das terras: na área colhida, produção e produtividade das principais lavouras..............................................................484.5.2 Processo histórico do sistema agrário do Território e sua divisão espacial ........54

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4PTDRS do Território Baixo Parnaíba

4.5.3 A produção agropecuária como base para a formação social e econômica do Território.....................................................................................554.5.4 Pesca e aqüicultura...........................................................................................................574.5.5 A ocupação do Baixo Parnaíba por grandes projetos produtivos no final do século XX definindo um novo modelo produtivo............................,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,......584.5.6 Um pouco além do raiar do século XXI: resultados das ações e contradições dos séculos anteriores ou uma estratificação agro-ambiental...............................................584.5.7 Uma nova visão espacial do Baixo Parnaíba com a política territorial do Governo Federal...............................................................................................................604.6 Uma análise organizacional do Território a partir dos atores institucionais e perfil social da região.......................................................................................................614.7 As grandes problemáticas ambientais do Baixo Parnaíba.............................................. 64

5. A Visão de Futuro dos representantes do Território........................................................67

6. O Planejamento Sustentável para o desenvolvimento do Território..............................696.1 Como remodelar o desenvolvimento .................................................................................696.2 Dinâmica de elaboração e cenário para o desenvolvimento sustentável...........................71

7. Dimensão Econômica.........................................................................................................737.1 Programa 1: Produção agropecuária...................................................................................737.1.2. Subrograma 1: Culturas alimentares...............................................................................747.1.3. Subprograma 2: Criação de animais...............................................................................767.1.4. Subprograma 3: Agroextrativismo....................................................................................807.1.5 Subprograma 4: Quintais produtivos................................................................................837.2 Programa 2: Extensão rural.................................................................................................887.3 Programa 3: Agroindústria, comercialização e abastecimento............................................917.4 Programa 4: Turismo............................................................................................................967.5 Programa 5: Pesca e Aqüicultura........................................................................................98

8. Dimensão Ambiental..........................................................................................................1018.1 Programa 1: Sustentabilidade ambiental...........................................................................101

9. Dimensão Social...............................................................................................................1069.1 Programa 1: Promoção do Acesso á Terra........................................................................1069.2 Programa 2: Renovação da educação rural.....................................................................1109.3 Programa 3: Valorização e fortalecimento das riquezas culturais....................................1149.4 Programa 4: Saúde e saneamento....................................................................................1179.5 Programa 5: Consolidação do CODETER........................................................................118

10. Dimensão Infra-Estrutura................................................................................................12210.1 Programa 1: Reengenharia dos assentamentos e comunidades rurais.........................122

Breves Considerações..........................................................................................................129

Bibliografia Referencial .......................................................................................................130

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5PTDRS do Território Baixo Parnaíba

ATER – Assistência Técnica e Extensão RuralATES – Assessoria Técnica, Social e Ambiental em Áreas de Assentamento AGERP - Agência Estadual de Extensão Rural e PesquisaAGED – Agência Estadual de Defesa AgropecuáriaCODETER - Colegiado de Desenvolvimento TerritorialCOOSPAT – Cooperativa de Serviços, Pesquisa e Assessoria TécnicaCFR – Casa Familiar RuralCPNQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoCREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência SocialCMDRS – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural SustentávelCONAB – Companhia Nacional de Abastecimento CEFFA – Centro Familiar de Formação por AlternânciaPRONERA – Programa Nacional de Educação da Reforma AgráriaDFDA-MA – Delegacia Federal de Desenvolvimento Agrário do MaranhãoDATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de SaúdeDATER – Departamento de Assistência Técnica e Extensão RuralEFA - Escola Família AgrícolaEJA – Educação de Jovens e AdultosEP – Estudo PropositivoETHOS - Assessoria, Consultoria e Capacitação em Desenvolvimento Local SustentávelFETAEMA – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do MaranhãoFETRAF - Federação dos Trabalhadores na Agricultura FamiliarIBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis IDH – Índice de Desenvolvimento HumanoITERMA - Instituto de Terras do MaranhãoIFMA – Instituto Federal do MaranhãoEMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaIMESC - Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e CartográficosINCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma AgráriaLABEX \UEMA– Laboratório de Extensão Rural\Universidade Estadual do MaranhãoMDA – Ministério do Desenvolvimento AgrárioMPA – Ministério da Pesca e AqüiculturaNUGEO\LABMET – Núcleo de Geografia\Laboratório de MetereologiaPLANEJA - Consultoria e Assessoria em Desenvolvimento SustentávelPRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura FamiliarPIB – Produto Interno BrutoPRONAT – Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios RuraisPNDRS – Plano Nacional de Desenvolvimento Rural SustentávelPDA – Plano de Desenvolvimento do AssentamentoPNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PTDRS – Plano Territorial de Desenvolvimento Rural SustentávelSDT – Secretaria de Desenvolvimento TerritorialSEDAGRO - Secretaria Estadual do Desenvolvimento AgrárioSMDH – Sociedade Maranhense de Direitos HumanosSIT – Sistema de Informação TerritorialSTTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras RuraisSUS – Sistema Único de Saúde

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6PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Quadro 1 – Comunidades quilombolas existentes no Território do Baixo Parnaíba

Quadro 2 – Assentamentos de reforma agrária existentes no Território do Baixo Parnaíba

Quadro 3 – Variação da população e densidade demográfica por município

Quadro 4 – Taxa de urbanização e taxa média de crescimento anual dos municípios

Quadro 5 – Variação do IDH dos municípios do Território

Quadro 6 – Situação do analfabetismo no Brasil, Nordeste, Maranhão e no Território em 2001

Quadro 7 – Número de matrículas e escolas existentes no Território em 2008

Quadro 8 – Número de estabelecimentos, leitos, médicos e despesas com . . saúde no Território em 2007

Quadro 9 – Número de domicílios com abastecimento de água no Território

Quadro 10 – Número de domicílios com instalações sanitárias no Território

Quadro 11 – Destino do lixo nos municípios do Baixo Parnaíba

Quadro 12 – Produto Interno Bruto a preços correntes (em R$ 1.000,00) nos municípios do Baixo Parnaíba

Quadro 13 – Produto Interno Bruto percapto (em R$) nos municípios do Baixo Parnaíba

Quadro 14 - Índice de Gini de concentração de terras no Maranhão

Quadro 15 – Quantidade de imóveis por municípios do Baixo Parnaíba

Quadro 16 – Condição do produtor por município do Baixo Parnaíba

Quadro 17 – Utilização das terras (quantidade de imóveis) no Território

Quadro 18 – Utilização das terras (área em hectares) no Baixo Parnaíba

Quadro 19 – Produção (em toneladas) das no principais lavouras temporárias no Baixo Parnaíba

Quadro 20 – Estabelecimentos produtores e produção (em ton.) das

principais avouras permanentes no Território

Quadro 21 – Número efetivo do rebanho (em cabeças) no Baixo Parnaíba

Quadro 23 – Produção Total Estimada de Pescado (ton)

Quadro 24 – Espécies e produção anual das fruteiras

Quadro 25 – Espécies e produção das hortaliças

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7PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Figura 1 – Distribuição das chuvas na região Leste do Maranhão

Figura 2 – Distribuição da umidade relativa na região Leste do Maranhão

Mapa I: Território do Baixo Parnaíba

Mapa 1 – Classificação climática do Maranhão

Mapa 2 – Distribuição pluviométrica do Maranhão

Mapa 3 – Média térmica do Maranhão

Mapa 4 – Umidade relativa do ar no Maranhão

Mapa 5 – Bacias hidrográficas do Maranhão

Mapa 6 – Estrutura geológica do Maranhão

Mapa 7 – Estrutura geomorfológica do Maranhão

Mapa 8 – Tipos de solos do Maranhão e do Território do Baixo Parnaíba

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8PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A Coospat, entidade da Rede Nacional de Entidades Parceiras – RNEP no âmbito do Ministério

de Desenvolvimento Agrário – MDA\SDT, disponibili za a qualificação e revisão do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS do Território Baixo Parnaíba, como importante instrumento no processo de consolidação desse Território.

A Qualificação do PTDRS se constitui na continuidade dos estudos já elaborados, a exemplo do Estudo Propositivo e o próprio PTDRS em 2005 para o Território Baixo Parnaíba e compõem as ações

do Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais/PRONAT, tendo como objetivo a construção de processos que possibilitem articulações interinstitucionais com capacidade de gerar um ambiente favorável ao acesso a serviços e recursos que nortearão os rumos do desenvolvimento sustentável deste território.

O PTDRS Qualificado apresenta um diagnóstico atual do território nas diversas dimensões da realidade e permitiu a (re) construção do planejamento de forma participativa com os agentes de apoio ao desenvolvimento territorial, especialmente os membros do Colegiado que fizeram parte desse trabalho.

O processo de qualificação do documento se fez na interação com a realidade vivida no âmbito do território, em constante diálogo com os atores envolvidos e esperamos que o resultado alcançado seja apropriado não somente pelos membros do CODETER, mas por todos aqueles - pessoas, instituições públicas e privadas - que desejam interagir na construção de um desenvolvimento coletivo e sustentável. A intenção é que o PTDRS não seja engavetado nas instituições, mas amplamente acessado por todos e principalmente por aqueles que têm nas mãos a obrigação de executar as políticas públicas e atender as necessidades da população do território.

A COOSPAT, entidade responsável pela elaboração deste documento, tem convicção de que, para atingir o objetivo acima, será necessária a participação de todos e todas no processo de gestão, entendendo que o enfoque territorial deva ser a primazia na execução desse plano.

Por fim, nossos agradecimentos aos consultores, à equipe da SDT; aos articuladores estaduais, à Delegacia Federal de Desenvolvimento Agrário\MA e aos demais que nos apoiaram nesse processo, a Ethos, entidade atuante no Território e principalmente ao CODETER.

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9PTDRS do Território Baixo Parnaíba

1.1 Antecedentes

O presente documento trata da revisão e qualificação do Plano de Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS que compõe às ações do Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais – PRONAT,

executado pelo Ministério do desenvolvimento Agrário - MDA - por meio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT.

A trajetória da política em vigor vem se afirmando quando “a partir de 2003, o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, implementa uma política de promoção do desenvolvimento rural sustentável com um recorte territorial contribuindo, assim, para uma nova visão de desenvolvimento”1.

Para implementação dessa nova Política Governamental, cria-se a SDT: Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT, a qual surge, então, com o objetivo de apoiar a organização e o fortalecimento institucional dos atores sociais locais, na gestão participativa do desenvolvimento sustentável dos territórios rurais, além de promover a implementação e a integração das políticas públicas.

A consolidação na efetivação dessa política pública agrária se inicia com a inclusão das ações no Plano Plurianual 2004/2007, sob a responsabilidade da SDT/MDA, “enquanto estratégia do Governo Federal de intervenção pública, visando o desenvolvimento sustentável sob o foco de territórios rurais”.2

1 Marco Referencial para o Apoio ao Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Série Documentos Institucionais 02-2005. Documento Elaborado pela Equipe Técnica da SDT com consultores.2 Marco Referencial para o Apoio ao Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Série Documentos Institucionais 02- 2005.Documento Elabo-rado pela Equipe Técnica da SDT com consultores.

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10PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Obedecendo ao processo de construção da estratégia de desenvolvimento proposta, foram elaborados os seguintes documentos para o Território Baixo Parnaíba:

Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) - principal instrumento construído de forma participativa pelo colegiado em apoio à gestão social do desenvolvimento territorial. O PTDRS foi o primeiro produto elaborado com a participação de setores da sociedade civil organizada, dando início às ações de desenvolvimento territorial. A responsabilidade técnica na elaboração do Plano foi de uma entidade de assessoria técnica do terceiro setor, denominada Ethos, de forma participativa, contando, especialmente, com a estrutura do colegiado do território.

Estudo Propositivo (EP) – segundo documento elaborado para o Território que segue a linha metodológica definida pela SDT, cujo objetivo consolida-se em aprimorar o diagnóstico do PTDRS com ênfase na dimensão socioeconômica dos territórios rurais. A fase de elaboração do EP ficou sob coordenação do Instituto Potiguar de Desenvolvimento Social - IP, além do apoio de outros atores relacionados com a dinâmica territorial, como o próprio colegiado territorial.

Passados 06 (seis) anos de ações de desenvolvimento territorial junto aos eixos norteadores (Fortalecimento de redes sociais de cooperação, Fortalecimento da gestão social, Articulação das Políticas Públicas e Dinamização das economias territoriais), o MDA propõe a realização de uma revisão, denominada de Qualificação do PTDRS.

O método empregado na elaboração do documento segue as orientações do MDA/SDT a partir da implementação da Política Territorial, iniciada em 2003. Entende-se que, embora denominado de Qualificação do PTDRS, esse documento não deixa de ser um planejamento com a mesma importância que teve o PTDRS original, no momento de sua elaboração.

Entende-se ainda que, por se tratar de um planejamento, o mesmo deve ser elaborado de forma a contemplar os anseios de todos os atores municipais e territoriais.

A COOSPAT entende que para atingir o objetivo acima, seria necessária a participação dos atores envolvidos por meio de oficinas, reuniões e plenárias conforme foram realizadas.

1.2 A política de desenvolvimento territorial no Baixo Parnaíba versus Monocultura da soja e eucalipto O modelo de desenvolvimento adotado na região, desde a última década do século passado, priorizou a produção em grande escala a exportação, sem levar em consideração o meio ambiente e a justiça social. Toda a área de cerrados vem sendo sistematicamente devastada para dar lugar a gigantescas plantações de soja e de eucalipto que podem até viabilizar economicamente as prefeituras locais e o comércio de alguns municípios, mas não reverteram as precárias condições econômicas e sociais da maioria da população desse Território. No entanto, os governos locais incentivam e defendem esses latifúndios, mesmo em detrimento da sustentabilidade ambiental, social e econômica da região.

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11PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Entidades não governamentais exercitaram suas capacidades, promovendo ações com o objetivo de redirecionar o desenvolvimento baseado na monocultura, com alternativas de produção sustentáveis no âmbito da agricultura familiar, bem como apoiando os grupos sociais envolvidos na luta pela terra. Entre as principais entidades, podem ser citados o Fórum Carajás e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos - SMDH os quais, a partir de articulações com organizações locais e comunidades rurais da região, desenvolveram campanhas em defesa do meio ambiente e contra a instalação das fazendas de soja e eucalipto.

Outras ações foram se desenhando ao longo desse período, a maioria de forma pontual. Porém, ações institucionais com propostas para enfrentar esse modelo, a partir do espaço local, foram deflagradas a partir da implantação do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais – PRONAT pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário, através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT, em 2003. Entende-se, portanto, que esta se apresenta como a primeira iniciativa do Governo Federal com uma perspectiva regional.

O PRONAT tem como diretriz apoiar o desenvolvimento rural a partir de uma abordagem territorial e estabeleceu, nessa área do Maranhão, o território do Baixo Parnaíba, tendo em sua primeira formação os municípios de Araioses, Tutóia, Santana do Maranhão e Água Doce do Maranhão.

Logo depois, em 2004, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável - CEDRUS homologou a ampliação dos territórios do Maranhão, onde foram incluídos no território do Baixo Parnaíba os municípios de Santa Quitéria do Maranhão, São Bernardo, Magalhães de Almeida, Anapurus, Mata Roma, Chapadinha, São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos e Belágua, totalizando 13 municípios (PTDRS, 2005). Em 2008, o CEDRUS ampliou ainda mais esse território com a inclusão dos municípios de Brejo, Buriti e Milagres do Maranhão, passando a 16 municípios atualmente.

Antes da entrada desses três últimos municípios no Território, ainda na fase inicial de instalação, foi criada uma Comissão de Instalação das Ações Territoriais – CIAT, em cuja composição constavam lideranças locais, dirigentes de Organizações não Governamentais - ONG’s e gestores municipais. Essa Comissão contribuiu na elaboração do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS realizado na época por duas entidades, a CULTIVAR – Consultoria em Desenvolvimento Sustentável e a ETHOS – Assessoria, Consultoria e Capacitação em Desenvolvimento Local Sustentável.

No decorrer do processo de consolidação da política territorial, a Comissão de Instalação das Ações Territoriais se transformou no atual Colegiado de Desenvolvimento Territorial – CODETER, que passou a ser o responsável pela efetivação das políticas no território do Baixo Parnaíba.

O PTDRS possui uma perspectiva de implementação de 15 anos, devendo ocorrer uma revisão a cada cinco anos. Nos primeiros cinco anos, o objetivo era a construção do PTDRS, a mobilização e a capacitação dos atores sociais, investimento em infra-estrutura, formação de

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12PTDRS do Território Baixo Parnaíba

institucionalidades para a gestão social, formulação de programas adequados às características do território, dinamização da economia, elaboração e implantação de projetos específicos.

Constatou-se que no PTDRS muitas questões apresentadas no diagnóstico não foram inseridas no planejamento. Por outro lado, projetos previstos nos eixos aglutinadores do Plano foram contemplados por meio do Proinf, apesar de não ter sido possível a realização de todas as ações planejadas no decorrer de seis anos.

A ausência de segmentos importantes como representantes dos comércios e indústrias locais, a pouca importância dada ao PTDRS e ao CODETER, demonstrada por instituições federais como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis- IBAMA e órgãos estaduais como a Agência Estadual de Defesa Agropecuária- AGED e a Agência Estadual de Extensão Rural e Pesquisa – AGERP, evidenciam a necessidade de se fortalecer as estratégias da política territorial junto a esses segmentos, para que os resultados previstos se concretizem. E nesse sentido, ações

para o fortalecimento à gestão territorial, sobretudo, nas áreas do planejamento territorial, formação para a gestão e operação do Colegiado estão em processo de construção.

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13PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A final após os primeiros seis anos, o plano necessita ser revisto,

atualizado e qualificado. O processo de qualificação foi estabelecido como uma revisão das informações primárias e secundárias e um re-planejamento. A revisão introduziu uma dinâmica nova no processo de elaboração, incluindo a análise de documentos municipais, como os Planos de Desenvolvimento

dos Assentamentos (PDA) de reforma agrária existentes nos municípios e os planos das secretarias municipais de parte dos municípios que compõem o Território, a exemplo das informações relativas aos municípios Brejo, Buriti e Milagres do Maranhão.

2.1 Objetivo geralQualificar o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, visando fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas como base para uma ação coordenada das diferentes instituições as quais intervêm no Território Baixo Parnaíba, no intuito de fomentar o desenvolvimento sustentável do Território.

2.2 Objetivos específicos

a) Avaliar, revisar e atualizar o diagnóstico territorial elaborado em 2005, considerando as dimensões do desenvolvimento sustentável;

b) Avaliar e atualizar a visão de futuro, objetivos estratégicos, metas, eixos de desenvolvimento e programas;

c) Fortalecer a gestão dos colegiados para a implementação do PTDRS;

d) Caracterizar os entraves técnicos, econômicos, sociais, ambientais e institucionais para o desenvolvimento da região, com vistas à elaboração das propostas de trabalhos institucionais necessários para superação;

e) Definir, em conjunto com os municípios, programas e projetos que permitam um desenvolvimento sustentável, considerando-se as dimensões econômica, social e ambiental, e manejando de forma sistêmica, integral e dinâmica.

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3.1 Os princípios metodológicos

Conforme orientações da SDT/MDA, o PTDRS qualificado “deverá ser a expressão do conhecimento e visão de futuro dos atores locais e sua coesão social no Território, de modo a apontar e alavancar iniciativas locais para o desenvolvimento

sustentável, e criar condições para o acesso às oportunidades (externas) tanto privadas quanto públicas”. Desta forma, entende-se que a metodologia de qualificação deste instrumento de desenvolvimento seja construída de forma a aferir as seguintes hipóteses:

a) A elaboração e implementação do PTDRS dar-se-á em um ambiente que fortaleça a cultura da gestão social e a formação de redes sociais de cooperação;

b) A construção e execução do PTDRS estabeleça um processo de articulação e coesão das diversas políticas públicas federais, estaduais e municipais;

c) A preparação e efetivação do PTDRS constitua uma ação de empoderamento dos atores mais fragilizados do território (agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, pescadores artesanais, extrativistas, mulheres e jovens);

d) A elaboração e aplicação do PTDRS institua um processo de fortalecimento da dinamização econômica dos territórios rurais;

e) Os atores envolvidos tenham sempre presentes as diversas dimensões do desenvolvimento sustentável na perspectiva territorial, quais sejam: desenvolvimento ambiental, socioeconômico, político-institucional e sócio-cultural.

Visando o cumprimento dos objetivos do plano, partiu-se, então, para a definição dos eixos de trabalho e dos passos metodológicos, que inicialmente foram construídos pela equipe de consultores e coordenação técnica da COOSPAT, considerando as orientações da Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT e, posteriormente, amadurecida com o Colegiado, resultando em re-adequações para uma melhor leitura da realidade territorial.

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15PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Desta forma, no decorrer do desenvolvimento do trabalho de qualificação do PTDRS, a equipe procurou atender às recomendações da SDT nos seguintes termos:

3.1.1 Fortalecimento do ColegiadoO Colegiado Territorial é a principal instância de garantia da implantação e efetivação do PTDRS no território e, no entanto, enfrenta dificuldades para a execução dessa política. No processo de qualificação do plano, a perspectiva adotada foi a de fortalecer o Colegiado, garantindo a participação da plenária do Colegiado e do Núcleo Diretivo em todas as discussões dos programas e projetos. Entendemos a necessidade do empoderamento do CODETER, no sentido de que possam deliberar e encaminhar toda e qualquer proposta que venha a ser indicada para o desenvolvimento dos municípios e do Território como um todo.

Portanto, no decorrer das oficinas de qualificação do PTDRS, buscou-se garantir a participação dos representantes do Colegiado, tanto do segmento do poder público, quanto da sociedade civil, numa tentativa de tornar mais visível o PTDRS e de concebê-lo enquanto instrumento conciliador das políticas públicas e que estes, pudessem ter condições de qualificá-lo de forma crítica e criativa, refletindo sobre as ações territoriais e identificando soluções viáveis para este novo momento do PTDRS.

3.1.2 Partindo das definições locais para o planejamentoBuscou-se identificar, por município, estudos, dados, informações, entidades governamentais e não governamentais, bem como técnicos/assessores, com amplo conhecimento local que pudessem contribuir para a construção deste plano, atendendo, desta forma, a diversidade de realidades e as dimensões do desenvolvimento local. Porém, este foi um dos eixos no qual a equipe encontrou dificuldades, pois nem sempre foi possível contar com a disponibilidade dos técnicos e de alguns dados municipais relevantes para uma reflexão mais aprofundada da realidade.

Assim, ainda que o Governo Federal, através dos seus ministérios, o Governo Estadual, através das suas secretarias, e as empresas estatais tenham boa vontade para a promoção do desenvolvimento dos territórios, as prioridades, freqüentemente, são definidas por técnicos que desconhecem a realidade local ou a pouca disponibilidade de recursos, insuficientes para contemplar todas as áreas.

3.1.3 Planejamento territorial articulado com o planejamento centralAo longo do período de elaboração do plano, evidenciou-se um distanciamento entre o que está sendo executado pelas três instâncias de governo e o conhecimento dessas ações pelo Colegiado. Não existe a prática por parte das esferas de governo em consultar o Colegiado ou o PTDRS para o desenvolvimento de projetos e ou programas no Território. Por outro lado, observou-se que o PTDRS foi elaborado, porém não houve compromissos assumidos pelo poder público com os projetos propostos.

Nesse processo de qualificação, procurou-se compreender a lógica de planejamento das esferas dos governos centrais (estadual e federal) para a devida adequação do planejamento territorial, sem perder de vista a necessidade de um planejamento feito localmente.

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16PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A releitura e redefinição do PTDRS vêm no sentido de promover a efetivação e integração das políticas públicas em seus diversos níveis de atuação, visando, desta forma, à melhor aplicabilidade dos recursos públicos a fim de atender às necessidades locais. Mas, o que se observa, ainda, é o descompasso dessas políticas que se reproduzem da mesma forma nos diversos municípios.

E como reflexo, tem-se um PTDRS que ainda não atendeu em sua totalidade, o caráter de instrumento articulador destas políticas, sendo ainda utilizado somente como instrumento de consulta em reuniões do Colegiado para definição de demandas prioritárias para o Proinf – Programa de Infra-estrutura.

A equipe, no decorrer da qualificação do PTDRS, buscou apresentar e discutir com o Colegiado, as políticas públicas em âmbito federal e estadual e como se correlacionam em âmbito local, visando o entendimento do processo e se minimize os descompassos entre estas políticas.

3.1.4 Participação popular no planejamento territorialNo Baixo Parnaíba Maranhense, vem ocorrendo, desde a década passada, um processo de substituição da vegetação original por grandes plantações de soja e eucalipto. Muitas comunidades rurais tiveram suas áreas suprimidas pelo agronegócio, obrigando suas populações a se deslocarem para outras regiões ou para a periferia das cidades, perdendo quase toda a capacidade de reivindicar melhores condições de vida. A busca de qualificação para a participação dessas populações foi fundamental para que possam ter seus interesses atendidos, principalmente, as populações mais marginalizadas, pois só assim terão condições de participar da implantação do Plano.

3.1.5 Melhorar a capacidade técnica e gerencial do ColegiadoEvidenciou-se que o Colegiado Territorial enfrenta dificuldades para implementar ações com caráter territorial. E como se trata de um processo em construção, são necessárias ações visando o seu fortalecimento, a sua capacidade técnica e gerencial, para que seus dirigentes tenham condições de propor, de refletir e de encaminhar soluções em nível territorial, com o propósito de consolidar a política, pois, as soluções têm sido encaminhadas, habitualmente, por município.

3.2 As fases do trabalho

3.2.1 Reuniões Técnicas Para dar início às atividades, a coordenação técnica do projeto realizou diversas reuniões com a equipe de consultores/as com os seguintes objetivos:

a) Dividir os consultores em duas equipes, onde cada uma atuaria na execução da qualificação do PTDRS em dois territórios rurais maranhenses, cuja distribuição se definiu da seguinte forma: Equipe I – Território do Vale do Itapecuru e Cocais; Equipe II – Território dos Lençóis Maranhenses/Munim e Baixo Parnaíba.

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b) Discutir o conceito de “qualificação do PTDRS” e dos seus passos metodológicos: neste momento, pouco se tinha de informações a respeito deste produto. Assim, buscou-se amadurecer estas informações internamente e, através de diálogos com a Delegacia Estadual do MDA. Porém, somente através da realização de uma oficina com um representante da SDT/MDA foi possível o entendimento mais claro e objetivo do conceito e das diretrizes da qualificação do PTDRS.

c) Reuniões com a coordenação técnica para avaliação das atividades realizadas, vislumbrando as dificuldades encontradas nos aspectos metodológicos, na mobilização e sensibilização do CODETER, para sua efetiva participação e re-ordenamento no planejamento, quando necessário.

3.2.2 Leitura compreensiva e crítica do PTDRS elaborado em 2005A primeira atividade foi uma leitura individual e, em seguida, coletiva do PTDRS, elaborado em 2005, de forma a permitir que os consultores pudessem adquirir o domínio das informações contidas naqueles documentos, assim como a metodologia usada para tal elaboração. Com o conhecimento obtido, foi possível caracterizar as referências necessárias para organizar o processo de qualificação. Para que o documento pudesse ser ainda mais compreensivo, a equipe buscou o contato com a ETHOS, que como instituição elaboradora do plano original e atual articuladora do Território, tinha domínio das informações que poderiam contribuir para a qualificação.

3.2.3 Levantamento, atualização e comparação das informações secundárias Após a leitura e avaliação do PTDRS, partiu-se para o levantamento e a atualização de outros dados secundários dos municípios integrantes deste território, junto aos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - STTR´s e órgãos governamentais, como o Sistema de Informações Territoriais - SIT/MDA; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA; Sistema Único de Saúde - SUS e Prefeituras Municipais. De posse destes dados, iniciou-se outra análise referente às modificações ocorridas no período decorrente da elaboração do PTDRS (2005) até os dias atuais (2009/2010). Com estas informações, iniciou-se a escrita preliminar do documento, adotando um estudo comparativo entre os dados do território e do Maranhão.

3.2.4 Reuniões mobilizadoras

Antes de serem iniciados os trabalhos referentes aos dados primários, que incluíam reuniões com o CODETER e visitas aos municípios, foi necessário fazer uma série de reuniões com representantes do Colegiado do Território. Considerou-se reuniões mobilizadoras aquelas realizadas pela direção da COOSPAT e consultores com representantes do Colegiado Territorial. Essas reuniões tiveram o propósito de incentivar os representantes do Colegiado a mobilizarem o maior número de participantes colegiados dos aglomerados e do próprio Colegiado, como um todo, para participarem das atividades e, portanto, para a qualificação do plano. Essas reuniões aconteceram nos períodos que antecediam as oficinas, as visitas e reuniões de

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18PTDRS do Território Baixo Parnaíba

acompanhamento. A partir dessas reuniões, os membros do Colegiado deflagravam todo um processo de divulgação nos municípios e, em especial, no município onde a atividade principal iria ocorrer.

3.2.5 Visitas técnicas ao CODETER e a projetos nos municípios do Território

As visitas e o acompanhamento das reuniões foram fundamentais no processo de busca das informações necessárias para complementar a reconstrução do PTDRS. As visitas foram feitas por município, aos órgãos públicos ou organizações da sociedade civil as quais obtinham informações importantes para o diagnóstico. Individualmente, os consultores visitaram várias secretarias municipais, órgãos do governo estadual e do governo federal e, entre as instituições da sociedade civil, principalmente, os Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e as Colônias de Pescadores. Nessas visitas, aproveitou-se para identificar junto aos diretores do Colegiado, projetos propostos no Plano e a situação relativa à implantação e/ou funcionamento de cada um deles.

O acompanhamento das reuniões aconteceu quando a equipe de consultores, no seu todo ou em parte, participou das atividades do Colegiado Territorial, da DF-MDA ou da Ethos. Desde o início dos trabalhos, a coordenação técnica e os consultores entenderam que havia a necessidade de acompanhamento das ações que aconteciam no Território, pois só assim seria possível compreender a sua lógica de organização e funcionamento. A criação de câmaras técnicas aparentou ser um processo formal e, por isso, seria importante compreender in loco essa forma de organização.

3.2.6 Realização de oficinas com a plenária do CODETER para discussão das análises realizadasAs oficinas foram reuniões de trabalho prolongadas das quais participaram os membros do Colegiado, além de integrantes de órgãos do governo municipal e das organizações da sociedade civil. Em média, o tempo de cada oficina girava em torno de dois dias, suficientes para permitir que os participantes pudessem responder às questões apresentadas, debaterem temas de importância local e regional e apresentarem soluções para os problemas que afligiam os municípios e o território como um todo.

As oficinas para a qualificação do PTDRS foram realizadas em três momentos diferentes com três objetivos distintos: 1) avaliação do PTDRS elaborado em 2005, permitindo à equipe de consultores uma análise apurada do Plano no presente momento, considerando o que foi e o que não foi implantado; 2) levantamento dos dados qualitativos para o processo de qualificação do PTDRS; 3) planificação, que significa a reconstrução dos programas propostos quando da elaboração do Plano. A última oficina foi transformada em uma assembléia territorial para a apresentação e homologação do Plano Qualificado.

3.2.7 Redação final do PTDRS qualificadoA penúltima fase do trabalho caracterizou-se pelo acréscimo e sistematização de novas

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informações levantadas na oficina de planificação e homologação, além das contribuições do Colegiado e das análises realizadas pela equipe de consultores no decorrer das oficinas e visitas de acompanhamento do Colegiado.

A última fase tratou-se da revisão final do documento, formatação, diagramação e capa, dando corpo ao Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Baixo Parnaíba

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20PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Um diagnóstico é composto por um conjunto de informações que caracterizam o cenário no qual atores atuam e resultam em dinâmicas econômicas e sociais. Essas dinâmicas podem ser avaliadas tanto de forma vertical (análise

histórica) quanto de forma horizontal (análise da realidade atual do ponto de vista da organização, da infra-estrutura, das condições ambientais e da economia).

Para este trabalho, utilizou-se como referência a lógica de um trabalho científico que estabelece uma estrutura dividida em dois momentos. O primeiro incluiu uma revisão das informações secundárias disponíveis em diversos documentos produzidos por instituições de pesquisa e órgãos que trabalham com estatísticas, além de planos, programas e projetos elaborados por secretarias e por órgãos de governo e organizações da sociedade civil atuantes na região.

O segundo momento exigiu o levantamento de informações atualizadas, tanto de forma quantitativa quanto qualitativa, com maior ênfase nesta última, considerando que o objetivo está está mais relacionado ao planejamento do que à obtenção de resultados específicos.

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4.1 Localização e caracterização espacial do territórioO Território do Baixo Parnaíba está inserido, em sua maior parte, na Mesorregião Leste Maranhense, ficando apenas o município de Tutóia na Mesorregião Norte Maranhense. As microrregiões compreendem o Baixo Parnaíba Maranhense, Chapadinha e Lençóis Maranhenses. O Território tem seu limite ao norte com o oceano Atlântico e a Mesorregião Norte Maranhense, ao sul Mesorregião Leste Maranhense, a oeste com a Mesorregião Norte Maranhense e a Leste com o estado do Piauí. Abrange uma área de 19.178,80 Km² e é composto por 16 municípios: Água Doce do Maranhão, Anapurus, Araioses, Belágua, Brejo, Buriti, Chapadinha, Magalhães de Almeida, Mata Roma, Milagres do Maranhão, Santana do Maranhão, Santa Quitéria do Maranhão, São Benedito do Rio Preto, São Bernardo, Tutóia e Urbano Santos (Mapa I). A população total do território é de 376.126 habitantes, dos quais 210.621 vivem na área rural, o que corresponde a 56,00% do total. Possui 30.020 agricultores familiares. Seu IDH médio é 0,55.

Mapa I: Território do Baixo Parnaíba

Fonte: Sistema de Informações Territoriais (http://sit.mda.gov.br)

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Segundo o Centro de Cultura Negra do Maranhão, existem 527 comunidades quilombolas no Estado do Maranhão, distribuídas em 134 municípios, sendo que 15 delas encontram-se no território do Baixo Parnaíba conforme apresentado no Quadro a seguir.

Quadro 1 – Comunidades quilombolas existentes no Território

Município ComunidadeBrejo Alto Bonito, Árvores Verdes, Boa Esperança, Boa Vista,

Boca da Mata, Bom Princípio, Criulis, Data Arraial, Faveira, Saco das Almas, Santa Alice.

Buriti Pitombeira, Santa Cruz, São José.Chapadinha Curralinho, Centro dos Pretos, Lagoa AmarelaMata Roma Boa Razão, Bom Sucesso dos Negros, Caridade, Guada-

lupe, Mata do Brigadeiro, Olho D’água, Primeiros Campos, Três Mulheres.

Santa Quitéria Rio Preto dos Lopes, Santo Antonio, São Benedito.Fonte: ACONERUQ/2005; INCRA (2009)

As comunidades quilombolas localizam-se, principalmente, no eixo que vai de Chapadinha até Santa Quitéria do Maranhão, concentrando-se no município de Mata Roma, coincidindo com o mesmo eixo onde se implanta o corredor da soja-eucalipto, o que permite afirmar que esse grupo de comunidades vem sofrendo pressão para deixar suas terras, conforme pode-se acompanhar por noticiários locais e informações dos fóruns de defesa dos direitos humanos e outras organizações não governamentais atuantes no território, a exemplo do Fórum Carajás, SMDH e Fórum de Defesa do Baixo Parnaíba.

Os assentamentos de reforma agrária existentes no Território são de diversos tipos: federais, sob a responsabilidade do INCRA; estaduais, sob a responsabilidade do ITERMA; e do Crédito Fundiário, coordenado pelo Núcleo de Projetos Especiais da Secretaria de Desenvolvimento Agrário em parceria com a FETAEMA. No Quadro 2, estão apresentados os 44 assentamentos reconhecidos pelo INCRA nos diversos municípios do território, à exceção de Mata Roma que ainda não possui nenhum projeto de assentame

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Quadro 2 – Assentamentos de reforma agrária existentes no Território

Município Assentamento Área Nº famíliasÁgua Doce do Maranhão PE Curvinha 5.762,4500 235

PE Curva Grande 6.523,7050 134Anapurus PA Morada Nova 1.219,0000 39

Araioses PA Água Fria 3.232,1520 115PA Rancharia 582,2500 17

Belágua PCA Trizidela 70,0000 30PCA Conceição 70,0000 30PCA Santa Clara 70,0000 30

Brejo PA Árvores Verdes 2.555,6480 133PA Santa Alice 1.490,0000 55PE Boca da Mata 927,7780 32PA Santa Tereza I 454,1690 35

Buriti PE Belém 2.723,0000 41PA Fazenda Santa Cruz 2.342,7360 92PA Pé da Ladeira / Urucuzeiro 1.479,0000 53

Chapadinha PA Barroca da Vaca 2.721,6570 126PA Canto do Ferreira 4.448,3100 152PA Arrodeio/Cercadinho 2.235,0000 94Pa Paiol 3.091,3000 105PA Laranjeira 1.345,1050 47PA Nossa Senhora Aparecida I 1.046,0280 43

PA Vila dos Borges 2.212,8580 67PA Reserva Extrativista Chapada Limpa 11.971,2400 122

Magalhães de Almeida PA Santo Agostinho 2.704,0000 174PA Canaã I 2.157,2000 98

Milagres do Maranhão PA Olho de Folha 1.295,4600 53Santa Quitéria PE Buriti Seco 760,1460 82

PE Roça Velha 1.521,7590 53Santana do Maranhão PE Santo Antonio I 901,2730 19

PE Cabeceira do Magu 1.856,6790 32São Benedito do Rio Preto PE Lagoa da Bananeira 1.080,0000 35

PE Boião 180,9600 16São Bernardo PE Entroncamento 495,8300 37

PA Marmorana I e II 1.614,4030 74Tutóia PA Barro Duro 6.847,0000 266

PE Belágua 45.000,0000 1450PE Murici 2.507,9430 67PE Curvinha 2.733,9330 250PE São Benedito 38.220,0000 840PE Santa Clara/Comum 30.769,1850 1.120PA Ilha Grande do Paulino 3.598,2870 42

Urbano Santos PE Mangueira 1.000,0000 56PA Mangueira/Mangabeira 2.437,9460 121PA Estiva 925,6700 48

Fonte: SIPRA/INCRA (2010)

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A área total dos assentamentos equivale a 207.181,06 hectares, o que representa em torno de 10,8% da área total do território. O número de famílias assentadas é de 6.903, signifi-cando que cada família possui, aproximadamente, 30 hectares. Considerando as condições ambientais e agronômicas da região, as culturas produzidas e a baixa qualificação técnica dos produtores, é uma área que produz estritamente o necessário para as famílias se man-terem na terra.

4.2. Aspectos geoambientaisO Maranhão, por sua grande dimensão, possui uma diversificação climática bem ampla, influenciada pela sua configuração geográfica, sua significativa extensão costeira, além de seu relevo e da dinâmica das massas de ar sobre seu território. O Baixo Parnaíba tem dois tipos de clima (Mapa1) de acordo com a classificação de Thornthwaite (1948). Essa caracterização, feita pelo NUGEO/LABMET (2002), identifica os climas: Sub-Úmido do tipo (C²) e Sub-Úmido Seco do tipo (C1).

Mapa 1 – Classificação climática do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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O primeiro tipo apresenta-se com moderada deficiência de água no inverno, entre os meses de junho a setembro, megatérmico (A’), ou seja, temperatura média mensal sempre superior a 18ºC, sendo que a soma evapotranspiração potencial nos três meses mais quentes do ano é inferior a 48% em relação à evapotranspiração potencial anual (a’). O segundo tipo tem pouco ou nenhum excesso de água, megatérmico (A’), ou seja, temperatura média mensal sempre superior a 18ºC, sendo que a soma evapotranspiração nos três meses mais quentes do ano é inferior a 48%, em relação à evapotranspiração anual (a’).

Figura 1 – Distribuição das chuvas na região Leste do Maranhão

As precipitações anuais e a distribuição pluviométrica (médias mensais) são as características mais importantes do clima por apresentarem maior variabilidade quando comparadas às outras características, como temperaturas médias mensais, umidade relativa do ar, nebulosidade e velocidade do vento. A distribuição pluviométrica é de fundamental importância para a definição dos tipos de vegetação e para a produção agrícola, sendo considerado o fator que mais interfere na produção. De acordo com o NUGEO/LABMET (2002), a região do Baixo Parnaíba tem precipitações pluviométricas anuais de dois níveis: entre 1.200 e 1.600 mm anuais (municípios de Araioses, Água Doce do Maranhão, Tutóia, Santana do Maranhão, Magalhães de Almeida e São Bernardo), permanecendo os outros municípios em uma faixa que varia entre 1.600 e 2.000 mm anuais, de acordo com o Mapa 2. Essa distribuição demonstra que há a necessidade de que seja adaptado o tipo de agricultura às condições de chuva que ocorrem ali.

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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26PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Entretanto, quando é observada a distribuição média mensal (Figura 1), vê-se que há uma escassez de chuvas nos meses que concernem de junho até novembro, condição que obriga os pequenos agricultores a estabelecerem um calendário cultural dependente das chuvas. A modificação dessa dinâmica sujeitaria à instalação de sistemas de irrigação, condição improvável para os camponeses. Mesmo entre os produtores de soja, a distribuição de chuvas obriga a definição de um calendário onde a produção se estabelece seguindo essa lógica.

Mapa 2 – Distribuição pluviométrica do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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27PTDRS do Território Baixo Parnaíba

O regime térmico se caracteriza pela pequena variação sazonal. Todos os meses são razoavelmente quentes, com média térmica variando de 260 C, no período das chuvas (dezembro a maio), chegando a 34,4º C, entre os meses de julho a outubro (Mapa 3). A variação interna é muito pequena, permanecendo com maior temperatura os municípios que estão mais próximos do semi-árido, ou seja, aqueles que se aproximam mais da parte centro-leste do Estado

.Mapa 3 – Média térmica do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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Teoricamente, estas médias seriam suficientes para o desenvolvimento de uma agricultura dependente de chuvas. Considerando o regime pluviométrico apresentado anteriormente, deve-se considerar a tipologia de solos apresentada nos mapas posteriores e as diversas políticas voltadas para o apoio da agricultura familiar no Estado. A essas condições, soma-se a umidade relativa do ar, com médias anuais entre 76 e 79%, chegando a menos de 58% no mês de setembro e a 84% no mês de março, com faixas de variação ao longo do Território conforme apresentado no Mapa 4 e na Figura 2.

Mapa 4 – Umidade relativa do ar no Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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A região pertence a duas bacias hidrográficas, sendo a bacia do rio Parnaíba, a mais importante, representando 21,2% de toda a extensão hidrográfica do Maranhão sendo também a segunda mais importante do Nordeste. Além da importância hidrográfica, a foz desse rio forma o Delta das Américas. De enorme potencial turístico, o Delta das Américas compreende, aproximadamente, dois terços de sua área no município de Araioses. A segunda bacia é a do rio Munim que possui 4,8% da extensão hidrográfica do Estado e atinge mais da metade da área do território pesquisado, conforme se pode identificar no Mapa 5. A importância dessas bacias hidrográficas é entendida tanto pelo seu uso para o abastecimento das cidades que se localizam nas margens dos rios maiores, quanto para o aproveitamento na irrigação.

A supressão da vegetação original dos cerrados para o plantio de soja e eucalipto se configura na principal problemática desse Território e passa a ser um grande problema social e ambiental, pois todos os cursos d’água que cortam esse espaço geográfico estão sendo atingidos por adubos químicos e agrotóxicos utilizados de forma excessiva, sendo prováveis poluidores da água, visto que, nos municípios, são utilizados para uso humano e animal.

Figura 2 – Distribuição da umidade relativa na região Leste do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

A situação geológica da região (Mapa 6) indica a presença de depósitos aluvionares fluviais, marinhos e flúvio-marinhos em quase toda a extensão, permeadas por dunas que afloram no litoral. Mais para o interior predominam as formações Codó e Itapecuru. A estrutura geomorfológica demonstrada no Mapa 7, é representada por áreas aplainadas e testemunhos tubulares identificados como “Superfície Maranhense com Testemunhos”, além de uma grande faixa litorânea e sublitorânea constituída por restingas, campos de deflação e dunas chamadas de Lençóis Maranhenses.

Informações obtidas no Atlas do Maranhão (NUGEO/LABGEO, 1999) e no Mapa de Solos (EMBRAPA, 1986) indicam que os solos predominantes da região são compreendidos por areias quartzosas, areias quartzosas marinhas e dunas, além de solos indiscriminados de mangue. Solos aluviais ocorrem nos municípios mais próximos dos grandes cursos de água doce,

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30PTDRS do Território Baixo Parnaíba

especialmente do rio Parnaíba. Nos municípios mais distantes do litoral, ocorrem latossolos e solos podzólicos. Em menor quantidade, ainda aparecem solos litólicos e gleissolos. O Mapa 8, define claramente a situação. Os solos que predominam são destinados à preservação com pouca condição de uso agrícola. Onde ocorrem gleissolos, solos aluviais e solos litólicos, pode ocorrer o aproveitamento, em pouca quantidade, para a agricultura familiar, dependente de chuvas, e a criação de animais de forma semi-intensiva. Os latossolos e os podzólicos têm boa fertilidade agrícola, podendo ser aproveitados para a produção de várias culturas de grãos ou frutíferas. Os solos de melhor qualidade estão sendo aproveitados por grandes empresas produtoras de soja e eucalipto do chamado agronegócio, de forma que, para a agricultura familiar, restam os solos de pior qualidade. Futuramente, o camponês estará sujeito a ter problemas de produtividade nas culturas.

Mapa 5 – Bacias hidrográficas do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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31PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A vegetação presente nesse território está muito bem relacionada com as condições climáticas e com os solos. Na parte litorânea, predominam os manguezais e as restingas e, no interior, ocorrem os cerrados com pastagem natural e os cerrados, além da caatinga em menor quantidade. O mais comum, atualmente, é um mosaico de pastagens que incluem florestas abertas, vegetação degradada e babaçuais e, recentemente, monoculturas de soja e eucalipto.

Mapa 6 – Estrutura geológica do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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32PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A vegetação original vem sendo devastada por empresas do agronegócio para a implantação das monoculturas citadas, tornando-se uma preocupação para toda a população tradicional dessa região, de forma que os municípios, compreendidos na área onde há predomínio dos cerrados, estão mais sujeitos à transformação de sua paisagem em grandes monocultoras. Esse processo, amplamente questionado por organizações ligadas aos agricultores tradicionais, tende a aumentar, principalmente em decorrência dos incentivos do governo local.

Mapa 7 – Estrutura geomorfológica do Maranhão

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

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33PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Mapa 8 – Tipos de solos do Maranhão e do território do Baixo Parnaíba

Fonte: NUGEO/LABMET (2002)

As características biofísicas dessa região são muito especiais e devem merecer um cuida-do especial dos órgãos responsáveis pelo meio ambiente. Inversamente ao que se almeja, percebe-se a ausência de tal atenção, o que proporciona a intromissão de grandes empre-sas do agronegócio de soja e eucalipto às quais vem deixando a área sem cobertura vegetal original e criando grandes problemas para o solo e para os recursos hídricos, conseqüente-mente para as pessoas.

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34PTDRS do Território Baixo Parnaíba

4.3 Características socioeconômicas

4.3.1 Aspectos demográficosOs dados demográficos apresentados no Plano original (PTDRS, 2005), usando como base os dados do IBGE de 2000, mostravam uma população de 279.871 habitantes, equivalente a 4,95% da população total do Estado. Desse total, 57,01% eram moradores da zona rural, o que demonstra a importância da agricultura e da pesca artesanal predominantes em toda a área rural desse Território. A densidade demográfica era de 17,63 hab/km2, superior à do próprio Estado que era de 17,03 hab/km2, mas, com uma variação muito grande, pois, enquanto Santana do Maranhão tinha apenas 7,9 hab/km2, em Tutóia a densidade já alcançava 26,7 hab/km2 (Quadro 3).

Quadro 3 – Variação da população e densidade demográfica por município

Município Área

(Km²)

População total Densidade demográfica2000 2007 2000 2007

Água Doce do Maranhão 429,60 9.703 11.811 22,59 27,49Anapurus 606,20 10.280 12.552 16,96 20,71Araioses 1.577,10 34.906 37.616 22,13 23,85Belágua 612,20 5.253 5.710 8,58 9,32Brejo 1.060,10 27.513 31.001 25,95 29,24Buriti 1.409,10 24.526 25.223 17,41 17,90Chapadinha 3.240,30 61.322 67.566 18,92 20,85Magalhães de Almeida 567,80 13.021 14.173 22,93 24,96Mata Roma 566,90 11.799 13.796 20,81 24,34Milagres do Maranhão 641,60 5.149 7.607 8,03 11,86Santana do Maranhão 1.402,50 10.944 10.439 7,80 7,44Santa Quitéria do Maranhão 1.833,30 28.150 28.271 15,35 15,42São Benedito do Rio Preto 1.130,00 16.442 17.171 14,55 15,20São Bernardo 1.228,30 22.720 25.372 18,50 20,66Tutóia 1.429,80 37.728 46.132 26,39 32,26Urbano Santos 1.330,40 17.603 21.686 13,23 16,30Território 15.876,9 336.659 376.126 23,08 27,00

Fonte: PTDRS, 2004; SIT/MDA, 2010 (www.mda.gov.br), a partir dos dados do IBGE, 2007

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35PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A população do Território teve um aumento de quase 12%, apesar da grande diferença ente os municípios. Enquanto Milagres do Maranhão aumentou sua população em quase 48%, Santana teve queda de quase 5%, o que mostra a grande variedade de oportunidades nesses municípios. Questões relacionadas às poucas oportunidades de negócios, a falta de atividades econômicas, incluindo a agropecuária e a pouca responsabilidade dos governantes locais, foram citadas nas reuniões, oficinas e visitas e podem explicar essa diferença na variação populacional. Embora não seja tão populoso, o território apresenta uma densidade demográfica maior que o Maranhão nos dois períodos pesquisados.

Quadro 4 – Taxa de urbanização e taxa média de crescimento anual dos municípios

Município

Taxa de urbanização Taxa média de crescimento anual

2000 2007 2000/2007Água Doce do Maranhão 28,31 25,28 21,73Anapurus 44,76 48,56 22,10Araioses 26,17 26,61 7,76Belágua 34,82 44,01 8,70Brejo 38,73 37,04 12,68Buriti 29,82 32,07 4,55Chapadinha 60,71 66,22 10,18Magalhães de Almeida 48,22 51,43 8,85Mata Roma 44,37 45,62 16,93Milagres do Maranhão 27,17 21,91 47,74Santana do Maranhão 12,24 46,57 - 4,61Santa Quitéria do Maranhão 40,85 16,93 0,43São Benedito do Rio Preto 55,79 60,47 4,43São Bernardo 38,57 43,84 11,67Tutóia 30,72 29,29 22,28Urbano Santos 61,96 66,24 23,19Total 38,95 41,38 11,72

Fonte: Perfil da região do Baixo Parnaíba (SEPLAN/IMESC, 2009)

Todos os municípios apresentam alta taxa de urbanização que vem crescendo de forma sistêmica. A exceção, no período pesquisado, foram os municípios de Água Doce do Maranhão, Brejo, Milagres do Maranhão, Santa Quitéria do Maranhão e Tutóia. Em Santa Quitéria do Maranhão, a desurbanização foi substancial, tendo, inclusive, a menor taxa de crescimento entre todos, à exceção de Santana do Maranhão, que apresentou uma taxa de crescimento negativo aliada à maior taxa de urbanização no Território. Interessante que os municípios que tiveram as maiores taxas de urbanização são municípios novos, com pouco mais de dez anos de existência.

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36PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Do ponto de vista da lógica do desenvolvimento, esse dado remete a uma mudança na dinâmica do setor primário para a região, pois a urbanização significa que o setor terciário (comércio e serviços) passa a ter uma importância maior que a agricultura, mas também pode significar que esteja havendo um êxodo rural, podendo estar relacionado à presença das grandes fazendas de soja e eucalipto predominantes na região. Para municípios com menores taxas populacionais e escassos recursos, isso significa que, apesar da maior necessidade de investimento em políticas públicas urbanas (educação, saúde, residência, transporte, etc.), é possível que a urbanização desordenada promova a marginalização da população, deixando-a à mercê da violência, das drogas e da prostituição, entre outro males da urbanização sem planejamento.

Quadro 5 – Variação do IDH dos municípios do Território

Município IDH 1991 IDH 2000 Ranking Maranhão 2000

Água Doce do Maranhão 0,414 0,529 189Anapurus 0.47 0.592 83Araioses 0,406 0,486 214Belágua 0,414 0,495 209Brejo 0.474 0.552 157Buriti 0.454 0.552 158Chapadinha 0.517 0.588 93Magalhães de Almeida 0.458 0.547 165Mata Roma 0.468 0.567 129Milagres do Maranhão 0.429 0.563 137Santana do Maranhão 0,375 0,488 213Santa Quitéria do Maranhão 0.457 0.561 140São Benedito do Rio Preto 0.479 0.543 170São Bernardo 0.449 0.538 178Tutóia 0.445 0.538 179Urbano Santos 0.475 0.556 153

Fonte: Índice de Desenvolvimento Humano (PNUD, 1991/2000)

De acordo com o PNUD, os municípios do Baixo Parnaíba apresentam uma baixa classificação no ranking do IDH, conforme pode se perceber no Quadro 5. O município melhor classificado é Anapurus, que está na 83º classificação entre os 217 municípios do Estado. Por outro lado, o município de Araioses está no 214º lugar. É importante se perceber que, no período estudado, houve um avanço do índice em todos os municípios, no entanto, não foi suficiente para alcançar posições melhores no ranking. No caso de Araioses, o IDH renda permaneceu exatamente o mesmo nesses dez anos, contrariamente ao município de Anapurus que, nesse período, passou seu IDH renda de 0,416 a 0,538.

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37PTDRS do Território Baixo Parnaíba

4.3.2 EducaçãoEm todos os municípios dessa região, é elevado o índice de analfabetismo, como pode ser visto no Quadro 6. Em nenhum dos municípios, o analfabetismo funcional é menor que 55%, chegando a quase 80% em Santana do Maranhão. Nos municípios de Água Doce, Araioses e Belágua, esse número é maior que 70%. O menor índice fica com Chapadinha, embora seja esse um número expressivo, pois é maior que 56%.

Quadro 6 – Situação do analfabetismo no Brasil, Nordeste, Maranhão e no Território em 2001

População

(15 anos ou mais)

Analfabetos

(15 anos ou mais)

Analfabetos funcionais

(15 anos ou mais)

Taxa (%) analfabe-tos funcionais

Brasil 121.011.000 14.954.000 33.067.000 27,3Nordeste 32.767.000 7.946.000 14.032.000 42,8

Maranhão 3.655.000 855.000 1.637.000 44,8Água Doce 5.873 2.419 4.253 72,4Anapurus 6.168 2.430 3.793 61,5Araioses 21.181 10.230 15.523 73,3Belágua 2.651 1.400 1.966 74,2Brejo 17.214 6.765 9.731 56,5Buriti 13.972 5.561 8.793 62,9Chapadinha 37.432 13.737 21.059 56,3Magalhães de Almeida 8.036 3.247 4.711 58,6Mata Roma 7.057 2.703 4.251 60,2Milagres do Maranhão 3.009 1.263 2.077 69,0Santana do Maranhão 6.228 3.164 4.878 78,2Santa Quitéria 16.228 6.394 10.225 63,0São Benedito do Rio Preto 9.292 3.735 5.375 57,8São Bernardo 13.570 5.224 7.694 56,7Tutóia 21.519 8.500 13.722 63,8Urbano Santos 9.944 3.749 5.683 57,2

Fonte: Mapa do analfabetismo do Brasil (INEP, 2002)

Esse é um dado de extrema importância, considerando, especialmente, que é na área rural onde, normalmente, se concentram os maiores índices e para onde deve ser direcionada a implantação dos programas desse Plano. Esse dado é bastante esclarecedor acerca da marginalização dos contingentes humanos desses municípios, tornando claro que, nos municípios de menor contingente, há maior concentração de analfabetos, à exceção de Araioses que tem a terceira maior população do Território e, por coincidência, também tem o terceiro maior contingente de analfabetos funcionais.

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38PTDRS do Território Baixo Parnaíba

O número de escolas e de matrículas nos três níveis de ensino (pré-escolar, fundamental e médio), apresentados no Quadro 7, contrastam com os dados relativos ao analfabetismo. Entende-se que os dados apresentados anteriormente no Quadro 6 estão relacionados às pessoas com 15 anos ou mais, enquanto os do Quadro 7 são relativos às pessoas com idade inferior, à exceção dos dois últimos anos do ensino médio. Usando os dados do município Água Doce do Maranhão como referência, percebe-se que cerca de 50% da população com 15 anos ou acima é a população que já foi alfabetizada ou está fora da escola. Os números também são importantes para identificar a relação aluno matriculado / escola. Ainda usando Água Doce como exemplo, percebe-se uma baixa relação: são apenas, em média, 36 alunos por escola de ensino fundamental; 90 alunos por escola de ensino fundamental e 136 alunos por escola de ensino médio.

Quadro 7 – Número de matrículas e escolas existentes no Território em 2008

MunicípioNúmero matrículas Número escolas

EPE¹ EF² EM³ EPE¹ EF² EM³Água Doce 821 2.521 546 23 28 4Anapurus 938 3.124 1.068 40 28 5Araioses 2.335 10.870 2.118 59 78 8Belágua 432 2.115 404 43 47 3Brejo 1.907 6.760 1.636 38 59 4Buriti 1.824 6.880 1.275 64 66 6Chapadinha 2.920 15.916 3.811 154 170 11Magalhães de Almeida 1.054 4.245 630 24 30 6Mata Roma 944 3.750 1.147 19 19 4Milagres do Maranhão 470 1.201 155 22 26 1Santa Quitéria 2.043 6.695 1.156 71 74 2Santana do Maranhão 486 2.378 371 18 21 2São Benedito do Rio Preto 599 5.039 911 11 60 2São Bernardo 1.501 6.273 1.446 54 60 9Tutóia 2.870 14.401 3.309 61 73 18Urbano Santos 1.109 7.491 1.832 27 75 8

Fonte: IBGE (www.ibge.gov.br) a partir dos dados do Censo Escolar (INEP, 2008) (1) = ensino pré-escolar; (2) ensino fundamental; (3) ensino médio

4.3.3 SaúdeOs dados apresentados no documento original (PTDRS, 2005), apesar de terem ocorrido algumas modificações, não sofreram mudanças em sua maioria. O texto anterior fazia as considerações: “o sistema de saúde do Território é incompatível com as demandas da população, tendo sua atuação voltada, quase que exclusivamente para medidas curativas, em detrimento das preventivas”. Essa condição não pode ser modificada, pois o modelo proposto para a região não é diferente do que estabelecido para o Estado e para o país. Com algumas exceções, os municípios limitam-se a implantar e/ou desenvolver programas propostos pelo Ministério da Saúde.

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39PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Há, no território, segundo dados do DATASUS (2007), 200 estabelecimentos de saúde e 868 leitos hospitalares para atender a uma população de 376.126 habitantes, ou seja, 2,31 leitos/1000 habitantes. Esses dados estão bem acima dos dados apresentados no documento original, mas ainda insuficientes pelas normas da OMS, que estabelece um mínimo de 4,5 leitos/1000 habitantes.

Em nenhum município, o número de leitos atinge o indicado pela OMS, sendo que, Chapadinha e Brejo são os municípios que mais se aproximam desses números, com 4,3 e 4,0, respectivamente. O número de estabelecimentos que atendem à população é menor, assim como sua população, sendo que os municípios criados mais recentemente são aqueles que possuem os índices mais baixos. A exceção é o município de Urbano Santos que, apesar de possuir a oitava maior população da região, tem o terceiro menor número de estabelecimentos. O número de profissionais médicos tem uma razoável variação que está distante de atingir o que preconiza a OMS (4,5 médicos/1.000 habitantes). Observa-se aqui o município em melhor situação: Chapadinha, com 01 médico/1.000 habitantes e o município de Milagres do Maranhão com a pior situação do território. Da mesma forma, Brejo surpreende por investir apenas R$ 119,08/habitantes anualmente, sendo o município em pior situação, investindo menos da metade do que Chapadinha (R$ 244,63).

Quadro 8 – Número de estabelecimentos, leitos, médicos e despesas com saúde no Território em 2007

Município Estabeleci-

mentos

Nº leitos

internação

Leitos p/ 1000 hab.

Médicos Médicos p/ 1000

hab.

Despesa saúde p/

hab.Água Doce 5 -- -- 6 0,6 143,71Anapurus 10 16 1,6 9 0,9 177,69Araioses 19 104 2,9 29 0,8 173,03Belágua 5 -- -- 4 0,7 206,44Brejo 19 121 4,0 14 0,5 119,08Buriti 14 86 3,4 16 0,6 153,00Chapadinha 49 285 4,3 73 1,0 244,63Magalhães de Al-meida 6 16 1,1 10 0,7 169,52

Mata Roma 16 23 1,8 9 0,7 159,50Milagres do Mara-nhão 3 9 1,2 3 0,4 198,35

Santa Quitéria 11 42 1,2 12 0,4 170,49Santana do Mara-nhão 3 -- -- 5 0,4 192,70

São Benedito do Rio Preto 10 24 1,4 9 0,5 167,96

São Bernardo 9 47 1,7 16 0,6 160,09Tutóia 17 49 1,0 19 0,4 126,12Urbano Santos 4 46 2,7 10 0,6 126,20

Fonte: DATASUS, 2007 (www.datasus.gov.br)

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40PTDRS do Território Baixo Parnaíba

O fornecimento de água nos domicílios da região ainda é muito precário, a utilização de poço ou nascente é a forma mais comum de acesso à água e não disponibiliza qualquer tipo de tratamento. Como tem sido apresentado, em relação aos diversos outros itens, os municípios menores e mais novos são aqueles que possuem menor quantidade de ligações à rede geral – no caso de Belágua, essa quantidade não chega a 2%. Em Milagres e em Santana, esse tipo é praticamente inexistente. Por outro lado, é importante considerar que um município de pequeno porte, como Magalhães de Almeida, já possui mais de 50% da água disponibilizada por rede geral.

Quadro 9 – Número de domicílios com abastecimento de água no Território

Município Rede geral Poço ou nascente Outras formas1991 2000 1991 2000 1991 2000

Água Doce -- 16,3 -- 54,5 -- 29,2Anapurus 21,2 40,8 29,6 53,7 49,2 5,5Araioses 11,0 20,9 66,9 52,2 22,1 26,9Belágua -- 1,2 -- 49,3 -- 49,5Brejo 9,5 33,6 57,7 40,6 32,8 25,8Buriti 13,6 19,3 19,0 72,2 67,4 8,5Chapadinha 38,5 37,1 6,6 41,8 54,9 21,1Magalhães de Almeida 27,8 51,9 10,4 16,0 61,8 32,1Mata Roma 24,9 49,2 27,9 42,8 47,3 8,0Milagres do Maranhão -- 0,1 -- 71,4 -- 28,4Santa Quitéria 18,0 32,9 29,8 46,8 52,2 20,2Santana do Maranhão -- 0,2 -- 76,3 -- 23,4São Benedito do Rio Preto 12,5 32,4 23,4 53,9 64,1 13,6São Bernardo 14,4 41,2 14,0 31,3 71,6 27,5Tutóia 11,9 27,5 31,7 48,8 56,4 23,7Urbano Santos 10,2 24,4 27,9 55,8 61,9 19,8

Fonte: DATASUS, 2007 (www.datasus.gov.br

No Quadro 10, é possível identificar a quantidade de residências com instalações sanitárias no Território. Percebe-se que não há rede de esgotos nos municípios, pois os números citados estão relacionados a poucas residências que ligam uma rede de esgoto residencial diretamente nos cursos d’água mais próximos. Mesmo as fossas sépticas são disponibilizadas num número muito pequeno de residências – a maior taxa é a de Brejo, com de 17%. O maior percentual está relacionado à ausência dessas instalações, visto que nos municípios de Buriti, Milagres e Santana, essa condição ultrapassa os 90% das residências.

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41PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Quadro 10 – Número de domicílios com instalações sanitárias no Território

MunicípioRede geral Fossa séptica Fossa rudimentar Outros Não tem

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000Água Doce -- 0,1 -- 7,1 -- 26,3 -- 0,5 -- 66,0Anapurus -- -- 4,0 13,8 18,0 26,2 0,2 -- 77,8 60,0Araioses -- 0,2 5,1 4,4 17,4 15,0 1,1 6,1 76,3 74,3Belágua -- -- -- 1,8 -- 38,7 -- 0,3 -- 59,2Brejo -- 0,2 7,7 17,2 5,0 16,4 0,9 0,9 86,5 75,3Buriti -- -- 1,7 3,1 3,1 5,3 0,1 0,3 95,1 91,3Chapadinha -- -- 13,5 16,4 26,0 42,7 -- 1,7 60,5 39,1Magalhães de Almeida -- 0,2 10,7 0,2 8,8 26,7 0,2 3,2 80,4 69,7Mata Roma -- -- 6,3 11,2 22,5 34,1 0,3 0,2 70,9 54,6Milagres do Maranhão -- 0,1 -- -- -- 3,9 -- 2,0 -- 94,00Santa Quitéria -- -- 7,1 8,9 16,7 14,0 0,2 0,3 76,1 76,8Santana do Maranhão -- -- -- 1,4 -- 4,4 -- 1,2 -- 93,0São Benedito do Rio Preto -- -- 4,2 11,2 32,8 33,9 -- 0,4 63,0 54,5

São Bernardo -- -- 5,1 9,7 4,1 14,0 2,2 0,5 88,6 75,8Tutóia -- -- 6,9 0,7 16,6 25,8 2,5 2,2 74,1 71,3Urbano Santos -- 0,1 3,0 11,0 22,1 36,8 0,3 0,5 74,6 71,5

Fonte: DATASUS, 2007 (www.datasus.gov.br)

As condições de saúde de uma população passam, obrigatoriamente, pelo destino do lixo produzido localmente. No Quadro 11, percebe-se que a maior parte do lixo produzido em todo o território ainda é depositado aleatoriamente em qualquer lugar, imaginando-se que, nesses casos, muitas vezes, o destino final são os cursos d’água que acabam poluídos. Lembrando-se que uma parte substancial da água disponibilizada para uso humano e animal vem de poços ou nascentes – incluem-se aqui os cursos d’água – pode-se imaginar o perigo ao qual estão sujeitas essas populações. O maior índice de coleta de lixo é Chapadinha que consegue recolher 14,5% do total produzido e depositar em um lixão, na área rural da cidade. Os municípios mais novos (Água Doce e Santana) são os que menos coletam como pode se perceber no Quadro 11.

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42PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Quadro 11 – Destino do lixo nos municípios do Baixo Parnaíba

MunicípioColetado Queimado Enterrado Jogado Outro destino

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000Água Doce -- 0,1 -- 45,0 -- 7,5 -- 39,8 -- 7,6Anapurus 0,3 1,1 15,7 48,4 2,3 4,1 22,5 45,7 59,3 0,7Araioses -- 9,7 27,5 43,7 6,2 9,3 64,7 37,1 1,5 0,2Belágua -- 0,2 -- 43,8 -- 5,5 -- 46,7 -- 3,8Brejo 1,0 2,9 7,7 39,0 0,8 3,4 31,0 53,7 59,5 1,0Buriti 0,2 3,5 15,6 28,8 0,8 0,8 35,4 66,7 48,0 0,2Chapadinha 6,6 14,5 6,6 38,0 2,4 3,0 18,6 43,9 65,8 0,5Magalhães de Almeida -- 14,2 16,1 23,6 0,6 4,1 75,1 57,4 8,2 0,7Mata Roma 4,7 8,9 18,1 42,8 1,9 2,3 29,3 45,7 46,0 0,4Milagres do Maranhão -- 3,5 -- 19,4 -- 4,2 -- 70,9 -- 2,0Santa Quitéria 5,4 3,5 18,1 34,0 2,4 4,6 41,0 57,4 33,1 0,4Santana do Maranhão -- 0,5 -- 39,5 -- 5,4 -- 52,6 -- 1,9São Benedito do Rio Preto 0,1 1,8 12,1 55,4 2,4 7,3 79,7 32,0 5,6 3,4

São Bernardo -- 12,5 3,5 42,3 0,1 2,3 79,5 34,9 16,9 8,0Tutóia 0,2 6,5 21,2 52,7 8,8 13,7 57,9 26,9 11,9 0,2Urbano Santos -- 3,7 9,5 56,1 3,0 8,1 64,5 29,8 23,0 2,3

Fonte: DATASUS, 2007 (www.datasus.gov.br)

4.3.4 Economia Territorial

4.3.4.1 Uma Análise do PIB do Maranhão e do TerritórioPara melhor entendimento dos leitores, antes de aprofundar-se diretamente na análise dos dados da economia territorial utilizando como referência o PIB, apresentar-se-ão algumas definições e explicações consideradas suficientes para uma melhor compreensão:1) PIB (PRODUTO INTERNO BRUTO), é a soma de todos os bens e serviços produzidos em uma determinada região, durante um período de tempo (para este caso, de 2002 a 2005). Na contagem do PIB, seguindo a metodologia oficial, não se consideram os bens de consumo intermediários, apenas bens e serviços finais.

2) PIB NOMINAL , é quando efetuamos os cálculos tendo por base os preços correntes, ou seja, o preço no ano em que o produto foi produzido, comercializado;

3) PIB REAL, é quando efetuamos os cálculos a preços constantes, eliminando os efeitos da inflação;

4) PIB PER CAPITA, é quando dividimos os indicadores econômicos agregados (produto, renda, despesas), pela população da região, estado, município em que estamos trabalhando.

5) VARIAÇÃO NOMINAL DO PIB, é apenas a variação ocorrida entre o valor do PIB de um ano para outro, sem considerar a inflação no período. Portanto, é apenas a diferença entre um período e outro, para mais ou para menos.

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43PTDRS do Território Baixo Parnaíba

6) VALOR ADICIONADO (VA), valor que a atividade agrega aos bens e serviços consumidos no processo produtivo. É a contribuição, por exemplo, da atividade Agrícola, Industrial e de Serviços no valor do PIB. É obtido pela diferença entre o valor da produção e o consumo intermediário absorvido por essas atividades.

4.3.4.2 PIB per Capita – Território Baixo Parnaíba

A economia do Território será avaliada aqui a partir de uma análise do Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios entre os anos 2002 e 2005, apresentado nos Quadros 12 e 13. O Quadro 12 demonstra a variação do PIB a partir dos preços correntes em R$ 1.000,00. Nesse caso, os municípios menores são aqueles que apresentam menores PIB’s.

Nesse período, há um aumento do PIB em todos os municípios que nem sempre é seguido pelo PIB per capita, como está demonstrado no Quadro 12. A única modificação ocorreu no município de Anapurus que teve uma pequena queda entre os anos 2004 e 2005, o que pode ser considerado estranho, pois, nesse município, concentra-se grande parte dos investimentos do complexo soja-eucalipto e, mesmo assim, esse município é o que mais teve crescimento no período: o PIB teve um aumento substancial, chegou ao dobro. Comparado com o PIB do município de Chapadinha, o maior do território, há uma grande diferença, pois, enquanto Chapadinha cresceu 62,53%, Anapurus cresceu mais de 100%.

Quadro 12 – Produto Interno Bruto a preços correntes (em R$ 1.000,00) nos municípios do Baixo Parnaíba

Municípios 2002 2003 2004 2005Água Doce 12.675 15.463 16.620 17.505Anapurus 18.469 25.057 37.842 36.992Araioses 49.064 57.582 68.114 74.539Belágua 9.601 11.288 16.359 16.585Brejo 46.940 66.103 72.899 70.915Buriti 41.879 45.566 64.124 63.131Chapadinha 117.307 142.085 157.490 190.661Magalhães de Almeida 17.745 20.507 25.314 26.539Mata Roma 18.574 29.196 32.509 30.866Milagres do Maranhão 12.107 14.209 18.872 17.525Santa Quitéria 26.667 32.090 37.727 40.873Santana do Maranhão 12.620 14.886 17.113 18.149São Benedito do Rio Preto 21.874 24.893 31.604 32.358São Bernardo 30.265 33.578 41.087 45.258Tutóia 49.076 62.860 75.045 82.311Urbano Santos 28.383 30.883 39.706 41.175

Fonte: IBGE, 2007 (www.ibge.gov.br)

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44PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Por outro lado, o PIB per capita mostra que, no período estudado, o município considerado em piores condições era Santa Quitéria, cuja renda permitia apenas R$ 957,00 anual, representando 4,785 salários mínimos (R$ 79,75/mês) e só conseguiu aumentar em 38,45%, ao longo de 4, passando para R$ 1.325,00 Na época, significava apenas R$ 4,42 salários mínimos (R$ 110,42/mês), demonstrando, inclusive, uma queda desse PIB se for acompanhada a evolução do salário mínimo no Brasil.

Em 2002, Chapadinha, o maior município da região, possuía também o maior PIB per capita, mas, em 2003, foi ultrapassado por Anapurus que, nesse período, cresceu 35% e por Mata Roma que cresceu 55% contra 20% de Chapadinha. Em 2004, Chapadinha foi ultrapassada por Anapurus, Belágua, Brejo, Buriti, Mata Roma e Milagres do Maranhão. Anapurus deu um salto de mais de 50% nesse ano, enquanto Chapadinha cresceu menos de 10%. No último período (2004 -2005), apesar do decréscimo de Anapurus (-2%) e do crescimento de mais de 20% de Chapadinha, aquele município continuou com o maior PIB per capita da região, seguido por Belágua em segundo lugar, ficando Chapadinha apenas com o terceiro PIB per capita da região.

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45PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Quadro 13 – Produto Interno Bruto percapto (em R$) nos municípios do Baixo Parnaíba

Municípios 2002 2003 2004 2005Água Doce 1.299 1.585 1.705 1.800Anapurus 1 795 2 435 3 675 3 592Araioses 1 443 1 707 1 978 2 165Belágua 1 807 2 115 3 052 3 080Brejo 1 680 2 314 2 517 2 453Buriti 1 710 1 850 2 588 2 533Chapadinha 1 874 2 252 2 476 2 974Magalhães de Almeida 1 334 1 518 1 848 1 923Mata Roma 1 530 2 378 2 619 2 460Milagres do Maranhão 1 604 1 885 2 509 2 336Santa Quitéria 957 1 114 1 255 1 325Santana do Maranhão 1 338 1 497 1 640 1 656São Benedito do Rio Preto 1 299 1 465 1 842 1 869São Bernardo 1 313 1 448 1 740 1 981Tutóia 1 155 1 454 1 706 1 840Urbano Santos 1 632 1 785 2 306 2 403

Fonte: IBGE, 2007 (www.ibge.gov.br)

4.4 Estrutura fundiária e utilização de terrasA situação da terra, nesse Território, tem gerado uma grande preocupação para todos os moradores dos municípios em função da ocupação por parte de empresas produtoras de soja e eucalipto. Essas empresas têm concentrado um número cada vez maior de terras, causando pressão sobre as comunidades tradicionais. Quadro 14 - Índice de Gini de concentração de terras no Maranhão

Origem dos dados 1985 1992 1995 1998 2003 2006

IBGE 0,923 0,903 0,864INCRA (cadastro) 0,740 0,759 0,719

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1985/2006; cadastro do INCRA, 1992/2003, adaptado por Eduardo Paulon Girardi

Para a identificação da estrutura fundiária, apresentam-se vários quadros da situação dos municípios. O índice de Gini de concentração fundiária do Maranhão aponta uma queda nos três períodos estudados, tanto relacionados aos dados do IBGE quanto aos dados do cadastro do INCRA. Pelos dados do IBGE, o Maranhão era o Estado com maior concentração de terras nos anos 1985 e 1995 e o segundo, seguido de Alagoas em 2006. Já pelos dados do INCRA, o Maranhão é um dos estados com menor concentração fundiária do Brasil. Mas, como pode se perceber no Quadro 14, o índice é muito diferente entre si, em função da forma como é obtido, o que explica a classificação.

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46PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Quadro 15 – Quantidade de imóveis por municípios do Baixo Parnaíba

MunicípioMicro

(1 a < 10)

Pequena

(10 a < 100)

Média (100 a < 500)

Grande

(> 500)Água Doce1 -- -- -- --Anapurus 1.169

(82,21%)

196

(13,78%)

52

(3,66%)

5

(0,35%)Araioses 6.427

(95,21%)

248

(3,67%)

51

(0,76%)

24

(0,36%)Belágua² -- -- -- --Brejo 2.704

(89,12%)

213

(7,02%)

89

(2,93%)

28

(0,93%)Buriti 2.857

(85,03%)

392

(11,67%)

87

(2,59%)

24

(0,71%)Chapadinha 5.749

(89,42%)

407

(6,33%)

204

(3,18%)

69

(1,07%)Magalhães de Almeida 1.880

(97,21%)

31

(1,60%)

12

(0,62%)

11

(0,57%)Mata Roma 1.056

(88,67%)

104

(8,73%)

29

(2,43%)

2

(0,17%)Milagres do Maranhão³ -- -- -- --Santa Quitéria 2.626

(89,38%)

243

(8,27%)

55

(1,87%)

14

(0,48%)Santana do Maranhão4 -- -- -- --São Benedito do Rio Preto 1.325

(95,94%)

17

(1,23%)

21

(1,52%)

18

(1,31%)São Bernardo 4.089

(91,31%)

299

(6,68%)

77

(1,72%)

13

(0,29%)Tutóia 5.057

(98,75%)

57

(1,13%)

6

(0,12%)

1

(0,02%)Urbano Santos 3.525

(94,08%)

137

(3,66%)

65

(1,73%)

20

(0,53%)Total 38.464 2.344 748 229

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995-96

¹Desmembrado de Araioses, foi instalado em 1997; 2 desmembrado de Urbano Santos, foi instalado em 1997; ³ desmembrado de Santa Quitéria e Brejo, foi instalado em 1997; 4 desmembrado de São Bernardo

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47PTDRS do Território Baixo Parnaíba

Para a análise fundiária da região, foi adotada uma classificação comum em diversos trabalhos. Considerando que a área média dos assentamentos de reforma agrária é de 30 hectares, e que as áreas dos agricultores familiares estão nessa média, então se optou por dividir os imóveis em quatro categorias: micro (menos de 10 hectares), pequenas (10 a menos de 100 hectares), médias (100 a menos de 500 hectares) e grandes (> 500 hectares).

Quadro 16 – Condição do produtor por município do Baixo Parnaíba

MunicípiosProprietário Arrendatário Parceiro Ocupante

Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. ÁreaÁgua Doce -- -- -- -- -- -- -- --Anapurus 476 20.763 304 409 199 134 443 648Araioses 1.463 52.787 1.550 3.225 1.554 2.086 2.187 4.815Belágua -- -- -- -- -- -- -- --Brejo 828 49.865 332 384 1.347 1.005 545 1.382Buriti 893 61.383 1.297 1.258 98 91 1.547 1.105Chapadinha 3.749 364.653 8.027 13.519 1.736 1.449 7.812 14.487Magalhães de Almeida 154 12.993 38 37 1.289 1.982 456 1.623Mata Roma 235 18.313 428 389 1 2 541 782Milagres do Maranhão -- -- -- -- -- -- -- --Santa Quitéria 668 70.958 359 325 1.116 986 804 2.326Santana do Maranhão -- -- -- -- -- -- -- --São Benedito do Rio Preto 66 42.423 824 1.133 2 3 489 2.881

São Bernardo 1.038 40.861 108 132 1.415 3.434 1.917 3.286Tutóia 1.375 4.851 64 88 9 13 3.675 5.118Urbano Santos 461 41.884 920 1.181 62 46 2.310 2.805Total 11.406 781.734 14.251 22.080 8.828 11.231 22.726 41.258

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995/1996

O número de imóveis no território do Baixo Parnaíba, de acordo com o Censo Agropecuário de 1996, alcançou a quantidade de 41.785, sendo que, desses, 38.464 (92,05%) são considerados micro propriedades, pois possuem áreas variando entre 01 a menos de 10 hectares. A quantidade desses imóveis nessa faixa nos municípios varia entre 82,21% em Anapurus até 98,75% em Tutóia. O menor percentual em Anapurus demonstra a atual situação desse município, que no período da coleta desses dados (1993/1994) iniciava uma mudança na dinâmica do uso da terra, substituindo as micros e pequenas propriedades voltadas para a agricultura familiar, por propriedades grandes e médias para o plantio de soja, principalmente. Esse processo estava ocorrendo em Urbano Santos com monocultivo de eucalipto e, ainda na década de 1990, estendeu-se por todos os municípios da microrregião de Chapadinha. Esses dados, no entanto, devem ser melhor demonstrados com os resultados completos do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2006). Mesmo assim, os imóveis considerados grandes não representam mais do que 1,30% em São Benedito do Rio Preto, que é o município com maior percentual de grandes imóveis. Esses percentuais, no entanto, tornam-se importantes quando comparados com os dados do Quadro 16.

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48PTDRS do Território Baixo Parnaíba

O Quadro 16 mostra que a maior quantidade de área existente no território está sendo utilizada pelos próprios proprietários. Estes, no entanto, representam menos de 25% de todos os moradores que dependem da agropecuária para produzir e viver, considerando que em cada imóvel resida apenas uma família. Os números de famílias sem terra são expressivos – cerca de 48.208 famílias, sendo 17.575 apenas em Chapadinha – corroborando os dados apresentados no Quadro 14 os quais apontam um grande índice de concentração de terras no Estado.

Apesar da média de 68,54 hectares por propriedade na região, a quantidade disponível para as famílias sem terra, em qualquer uma das categorias, está abaixo de 02 hectares, ou seja, há uma evidente falta de terras para produtores que, em virtude dessa situação, são pressionados a buscar alternativas fora da área rural e seguir para as áreas urbanas. Assim, observa-se a causa do impacto nas políticas sociais, como já acontece em municípios como Urbano Santos e São Benedito do Rio Preto. Nesse município, a média de área dos proprietários alcança o número impressionante de 642,77 hectares em apenas 66 propriedades.

A quantidade de famílias sem terras apresentada sob a forma de arrendatários, parceiros e ocupantes, identifica a necessidade de um processo de redefinição do uso e da apropriação das terras do território, invertendo a dinâmica atual que está promovendo uma concentração de terras com a compra de grandes áreas por empresas plantadoras de soja e eucalipto e a conseqüente redução do número de proprietários, além do aumento da quantidade de famílias sem terras.

4.5 Estrutura agrícola

4.5.1 Padrão de utilização das terras: na área colhida, produção e produtividade das principais lavourasOs dados apresentados nos Quadros 17 e 18 mostram, ainda, situações típicas sobre a quantidade de imóveis e sobre a quantidade de área ocupada por esses imóveis. No que se refere às lavouras permanentes, é interessante perceber que o município com maior quantidade de unidades é São Bernardo que, no entanto, não apresenta maior área com plantações de eucalipto. Entretanto, a área média de plantação é de 6,3 hectares. Os imóveis com lavouras temporárias são em menor quantidade que aqueles com pastagem plantada, no entanto, são números muito próximos, demonstrando que são as mesmas propriedades somadas com algumas outras lavouras permanentes.

Os municípios com menor quantidade de imóveis com lavouras temporárias são: Anapurus e Mata Roma, os quais possuem grandes áreas com plantação de soja. Imóveis com pastagem natural estão em maior quantidade em Araioses e Chapadinha, municípios possuidores de grandes áreas territoriais. São poucos os imóveis com matas e florestas, assim como os que estão com áreas degradadas e inaproveitáveis.

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Quadro 17 – Utilização das terras (quantidade de imóveis) no Território

Município Lavoura permanente

Lavoura temporária

Pastagem plantada

Pastagem natural

Matas e florestas

Terras degra-dadas e ina-proveitáveis

Água Doce 283 1.153 1.263 4 1 13Anapurus 62 730 732 33 50 7Araioses 402 2.879 2.887 312 255 52Belágua 43 345 345 13 14 10Brejo 394 1.024 1.038 139 189 41Buriti 187 1.654 1.655 38 167 37

Chapadinha 516 2.348 2.357 244 722 268

Magalhães de Almeida

54 1.840 1.856 76 32 17

Mata Roma 110 707 708 125 131 7Milagres do Ma-ranhão

57 233 236 61 139 60

Santa Quitéria 67 2.089 2.091 68 79 35Santana do Ma-ranhão

237 813 813 37 94 10

São Benedito do Rio Preto

24 944 957 16 32 28

São Bernardo 944 1.901 1.909 118 306 42Tutóia 382 1.862 1.870 26 36 26Urbano Santos 99 1.975 1.979 30 79 24Total 3.861 22.497 22.696 1.340 2.326 677

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

Os 3.861 estabelecimentos, com lavoura permanente, atingem uma área de 33.340 hectares, resultando em uma média de 8,64 hectares por estabelecimento. Não foi possível obter informações acerca da área plantada com eucalipto, se está entre essas ou não, no entanto, é provável que não esteja.

Por outro lado, as áreas com lavouras temporárias chegam a 252.576 hectares, o que configura mais de sete vezes a área com lavouras permanentes. Considerando a quantidade de imóveis de 22.497, chega-se a uma área média por imóvel de 11,23 hectares, resultando num dado acima da média encontrada nos dados primários obtidos nas diversas entrevistas realizadas com agricultores familiares da região.

Também não foi possível saber se nessas culturas temporárias estão inclusas as áreas com soja, o que é improvável, considerando que municípios como Anapurus e Mata Roma, em que há grande concentração de soja, a média de área plantada com lavoura temporária é de 5,28 e 7,85, respectivamente.

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A área com pastagem é inexpressiva no Território - apenas 3.859 hectares –, apesar dos 22.696 imóveis que cultivam gramíneas, provavelmente para alimentar caprinos, espécie mais comum no território que os bovinos. Inversamente, a área com pastagem natural (43.998) é bem maior que os 1.340 imóveis em cujo tipo de pastagem ocorre. No primeiro caso, a média é de apenas 0,17 hectares por imóvel, enquanto no segundo caso, essa média aumenta para 32,83 hectares, demonstrando que ainda há uma grande quantidade desse tipo de pastagem nos imóveis da região.

O número de áreas com matas e florestas já não é tão grande (166.994 hectares), com uma média de 71,79 hectares por estabelecimento, apesar de ser bem maior que a média das áreas dos imóveis com agricultura familiar. Já a quantidade de terras degradadas e inaproveitáveis é quase a mesma, ocupada com lavouras permanentes, e representa quase 6% de todas as terras produtivas do território.

Quadro 18 – Utilização das terras (área em hectares) no Baixo Parnaíba

Município Lavoura perma-nente

Lavoura temporária

Pastagem plantada

Pastagem natural

Matas e florestas

Terras de-gradadas e inaproveitá-

veisÁgua Doce 4.640 27.092 240 30 -- 723Anapurus 188 3.857 69 1.958 10.920 234Araioses 4.047 31.780 1.348 9.813 15.066 5.912Belágua 120 480 3 653 656 83Brejo 1.982 13.150 225 3.154 9.215 603Buriti 432 16.421 37 459 11.681 625Chapadinha 6.425 20.978 465 11.837 54.199 4.577Magalhães de Almeida 309 17.497 219 2.172 14.046 2.874Mata Roma 1.845 5.551 22 1.028 6.951 56Milagres do Maranhão 409 1.546 98 2.844 7.728 1.036Santa Quitéria 730 16.239 74 2.800 9.154 9.992Santana do Maranhão 190 3.359 9 123 3.640 5São Benedito do Rio Preto

1.174 2.209 305 1.814 3.591 3.443

São Bernardo 6.040 76.512 446 3.097 14.248 730Tutóia 989 13.299 270 2.052 1.261 22Urbano Santos 3.820 2.606 29 164 4.638 702Total 33.340 252.576 3.859 43.998 166.994 31.617

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

No Quadro 19, apresenta-se a produção das lavouras temporárias do território. Os dados do IBGE, retirados do Censo Agropecuário de 2006, não identificam a quantidade de área colhida, o que inviabiliza um comparativo entre os municípios e impede a definição da produtividade.

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Em virtude disso, só é possível apresentar a produção. O IBGE deixou de lado os dados do arroz, considerado uma das principais culturas temporárias do Maranhão e substituiu pela soja, de modo que, na primeira coluna, vários municípios apresentam o espaço não preenchido, pois não são produtores dessa cultura ou não obtiveram informações a respeito. De qualquer forma, o principal município produtor de soja da região é Brejo, como demonstram os dados do Quadro.

São evidenciados também no quadro os municípios da microrregião do Baixo Parnaíba, situados mais ao leste, que não são plantadores dessa cultura. Mesmo com uma produção de soja razoável, em números absolutos, a cultura de maior importância é a da mandioca e aqui se percebe a grande importância da caracterização da área, pois a produtividade por área dessas culturas é muito diferente, assim como se torna difícil determinar qualquer tipo de comparação.

Os municípios que se destacam na produção do milho são: Araioses, Chapadinha e São Bernardo, considerados municípios de populações acima da média regional e com razoável quantidade de comunidades rurais. São Bernardo é o grande produtor de feijão da região, que, por sua vez, tem os municípios de Mata Roma e São Benedito do Rio Preto, porém não registrou a produção no período da pesquisa. Em relação à mandioca, São Bernardo é o grande produtor regional, superando Chapadinha, o segundo colocado, em mais de 900%. Vale observar que o município de São Bernardo ainda está entre aqueles que não produzem soja e eucalipto, de forma que ainda dispõe de área para produção de culturas temporárias.

Quadro 19 – Produção (em toneladas) das principais lavouras temporárias no Baixo Parnaíba

Município Soja Milho Feijão MandiocaÁgua Doce -- 407 530 3.127Anapurus 6.136 881 13 1.628Araioses -- 11.628 960 11.364Belágua -- 82 3 1.927Brejo 15.831 1.221 247 4.058Buriti 1.848 593 57 1.516Chapadinha -- 8.967 168 23.719Magalhães de Almeida -- 803 228 558

Mata Roma -- 551 -- 484Milagres do Maranhão -- 227 107 472Santa Quitéria -- 572 50 932Santana do Maranhão -- 167 84 7.283São Benedito do Rio Preto -- 184 -- 3.782São Bernardo -- 9.199 4.464 188.185Tutóia 175 91 8.901Urbano Santos -- 146 60 3.871Total 23.815 35.803 7.062 261.807

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

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52PTDRS do Território Baixo Parnaíba

A produção de culturas permanentes no território é irrisória, quando se analisam apenas os dados publicados pelo IBGE, no Censo Agropecuário de 2006. Aparecem apenas quatro produtos (Quadro 20), sendo que o café não é uma cultura comum em nenhum local dessa região. Alguns municípios são produtores de cana-de-açúcar (São Bernardo, Brejo, Araioses, Milagres) que não é considerada uma cultura com características da forma de produção familiar. Apenas duas culturas são produzidas pelos pequenos produtores, caso da banana e da laranja, mas sempre em quantidades muito pequenas, tendo alguns municípios que não produzem qualquer tipo de cultura permanente, caso de Água Doce e Tutóia. Alguns dados estão indisponíveis e não aparecem nos Quadros 19 e 20, sendo o melhor exemplo o município de Chapadinha que não apresenta os dados sobre soja e sobre a cana-de-açúcar.

Quadro 20 – Estabelecimentos produtores e produção (em ton.) das principais lavouras permanentes no Território

Município Banana Cana-de-açúcar Café LaranjaÁgua Doce -- -- -- --Anapurus 120 -- -- 2Araioses 1.284 2.278 -- --Belágua 2 -- -- 2Brejo 98 16.421 -- 1Buriti 42 292 -- --Chapadinha 36 -- -- --Magalhães de Almeida 42 -- -- 28Mata Roma 59 31 -- 6Milagres do Maranhão 23 1.904 -- 4Santa Quitéria 31 141 -- --Santana do Maranhão 2 -- -- 2São Benedito do Rio Preto -- -- -- --São Bernardo 32 25.584 -- --Tutóia -- -- -- --Urbano Santos 3 -- -- 3Total 1.774 46.651 -- 48

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

Apesar da moderna produção de soja e eucalipto, essa região destaca-se por possuir o maior rebanho de caprinos e ovinos do Estado. Chapadinha e Brejo, na microrregião de Chapadinha, e Araioses, na microrregião do Baixo Parnaíba, destacam-se como os maiores produtores do Território. Mesmo com expressivo rebanho, a bovinocultura tem grande importância em função das fazendas pecuárias, mas também em função da significativa quantidade de animais criados nas pequenas propriedades. Outro destaque é o significativo número de suínos criados nas pequenas propriedades e nas comunidades rurais.

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53PTDRS do Território Baixo Parnaíba

O Quadro 21 mostra as principais criações adotadas nos municípios dessa região. Independente da importância da criação há uma relação direta entre a área do município e a quantidade de animais criados, como se pode observar, fazendo um comparativo entre Belágua e Araioses que se localizam em microrregiões diferentes e apresentam cenários produtivos diferenciados entre si: Araioses, com uma grande quantidade de animais das diversas espécies, e Belágua, com uma quantidade pequena, inclusive, com ausência de ovinos.

O município de Chapadinha destaca-se como o maior produtor da região, com expressivo rebanho de caprinos, suínos, aves e equídeos. Araioses tem o maior rebanho de bovinos e de ovinos. Belágua, por sua vez, tem o menor rebanho de bovinos, caprinos e ovinos, estando em Magalhães de Almeida os menores rebanhos de suínos e, em Mata Roma, o menor rebanho de eqüídeos.

Quadro 21 – Número efetivo do rebanho (em cabeças) no Baixo Parnaíba

Município Bovinos Caprinos Suínos Aves Equídeos OvinosÁgua Doce 2.842 610 1.184 3.988 1.273 195Anapurus 1.754 2.103 2.988 4.563 210 280Araioses 14.810 3.759 7.446 45.452 2.222 5.419Belágua 203 264 1.085 4.044 481 --Brejo 7.458 10.380 14.055 38.826 725 2.598Buriti 5.841 6.422 18.420 39.977 623 600Chapadinha 13.169 11.465 28.680 97.746 2.509 2.182Magalhães de Almeida 8.309 2.063 630 2.706 301 1.034Mata Roma 1.159 1.992 5.799 24.319 192 8Milagres do Maranhão 4.492 2.724 3.674 8.346 230 76Santa Quitéria 4.464 3.035 6.940 16.308 873 147Santana do Maranhão 1.408 692 1.525 16.100 627 11São Benedito do Rio Preto 1.323 1.536 7.030 18.045 478 148São Bernardo 8.383 5.211 6.980 44.634 1.284 976Tutóia 3.644 441 1.350 27.008 1.833 414Urbano Santos 1.344 616 4.909 15.741 1.061 60Total 80.603 53.313 112.695 407.803 14.922 14.148

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

Embora não tenha se registrado no PTDRS original, a criação de bovinos tem grande impor-tância no território, como são observados os dados apresentados no Quadro 21, pois, mes-mo tendo uma quantidade menor que os suínos, por exemplo, é a carne mais consumida na região, ainda que a criação mais citada seja sempre a de caprinos. Nas oficinas territoriais, os representantes do Colegiado foram quase unânimes na afirmação da importância dessa criação e da necessidade de se definir no programa de criação de animais um subprograma de bovinocultura.

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A produção de leite e ovos não reflete com exatidão a quantidade de bovinos e aves que se distribui pelo território. Se a quantidade de leite é pequena, deve-se considerar que a criação tem um objetivo fundamental: garantir carne para a alimentação das próprias famílias no território. O Quadro 22 indica que apenas o município de Araioses consegue uma produção de leite significativa, considerando o tamanho do rebanho e o número de imóveis. A média de 209 litros/imóvel é bastante satisfatória comparada com os outros municípios. Por outro lado, a produção de ovos reflete a pouca importância das aves e, muito provavelmente, indica que o rebanho está voltado para a produção de carne e não para ovos, pois nenhum município tem uma produção que tenha algum tipo de representatividade.

Quadro 22 – Produção de leite e ovos no Território do Baixo Parnaíba

Município Leite (1.000 litros) Ovos (1.000 dúzias)Água DoceAnapurus 33 --Araioses 1.411 15Belágua 11 --Brejo 124 9Buriti -- 7Chapadinha 165 32Magalhães de Almeida 139 --Mata Roma 25 2Milagres do Maranhão -- --Santa Quitéria 195 3Santana do Maranhão 21 7São Benedito do Rio Preto -- 1São Bernardo 160 16Tutóia 14 13Urbano Santos 16 4Total 2.314 109

Fonte: Censo Agropecuário. IBGE, 2006

4.5.2 Processo histórico do sistema agrário do Território e sua divisão espacial O Território do Baixo Parnaíba tem três zonas distintas: litoral - onde estão os municípios de Araioses, Tutóia e Água Doce; ribeirinha - ao longo do rio Parnaíba, onde se localizam os municípios de Magalhães de Almeida, São Bernardo, Santa Quitéria, Milagres, Brejo e Buriti; e a zona do interior - com os municípios de Urbano Santos, São Benedito do Rio Preto, Belágua, Chapadinha, Mata Roma, Anapurus e Santana. Essa caracterização é importante para que se possa melhor entender a diferenciação histórica do desenvolvimento da região desde a época da colonização.

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O processo de ocupação do litoral oriental, incluindo o Baixo Parnaíba Maranhense, tem dois caminhos que se cruzam inversamente. Por um lado, insere-se na exploração da costa nordestina a partir do litoral e, por outro, segue a corrente do litoral a partir de São Luís (Feitosa e Trovão, 2006). Os municípios do extremo litoral oriental tiveram, ainda, o reforço das correntes migratórias nordestinas em função das secas que acometeram essa região desde o início do século passado.

Já a ocupação do interior seguiu um modelo típico do Estado, a partir de duas correntes migratórias. A primeira, no sentido Norte – Sul/Sudeste, partindo de São Luís para a instalação de fazendas de cana-de-açúcar, arroz e algodão, dependendo do período produtivo. A segunda corrente chega ao Maranhão, vinda da Bahia e passando pelo Piauí, era comandada pelos criadores de gado que ocuparam os cerrados em várias direções.

4.5.3 A produção agropecuária como base para a formação social e econômica do Território A dinâmica produtiva que se estabeleceu na zona do interior, seja com a criação de gado, seja com produção de cana-de-açúcar, exigia a formação de grandes fazendas produtoras. A possibilidade de acesso à terra e de trabalhar nas fazendas trouxe para a região grande quantidade de trabalhadores rurais em vários períodos da história do Maranhão, desde o século XVII até a segunda metade do século XX. Se nos primeiros momentos o deslocamento desses trabalhadores tinha como motivo a possibilidade de trabalho, nos séculos seguintes os motivos foram se modificando, passando por fuga das grandes secas do Nordeste até estímulo por parte do governo central.Os trabalhadores do primeiro período não possuíam o título da terra e se tornaram os posseiros dos períodos seguintes, que acabaram por se transformar em sem terras, após terem suas áreas griladas em detrimento de grandes projetos agropecuários e de especulação imobiliária. Junto com esses agricultores, localizaram-se em áreas conhecidas como quilombos, os negros escravos fugidos, no período de escravidão e descendentes destes, no período pós-escravidão. O modelo de ocupação, no entanto, sempre mantinha uma baixa densidade demográfica, já que a produção estabelecida exigia poucos trabalhadores (Velho, 1972) e isso vai ser percebido nos períodos seguintes, inclusive na atualidade.

Desde os primeiros momentos, os trabalhadores – posseiros – tinham o papel de produzir os alimentos que nutriam toda a população. Esse papel determinou a importância dos posseiros e agricultores em geral, no abastecimento interno, enquanto os proprietários exportavam seus produtos para outros estados ou para a Europa, de acordo com o preço e a qualidade do produto. Na atualidade, esta situação continua a se reproduzir. A pecuária bovina, só aparece na região a partir do século XVIII, com a rota do gado, vinda da Bahia pelo sul do Maranhão. A pouca presença de fazendas de produção agrícola caracterizam a região com uma produção baseada em gado e roças, feitas por pequenos produtores.

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Na primeira metade do século XIX, o gado continua avançando pelo Baixo Parnaíba, em função de encontrar áreas com vegetação de pequeno e médio porte, características dos cerrados, visto que “seu isolamento e sua baixa produtividade não permitiam investimentos maiores, de forma que a mata acabava por se transformar num obstáculo praticamente intransponível” (Velho, 1972). Na metade desse século, a população regional já tinha sido delineada com os poucos produtores de culturas de exportação, de um lado, e pescadores artesanais e agricultores familiares, que eram a grande maioria.

O fim da escravidão obriga a um remodelamento da estrutura agrária, pois os grandes produtores abandonam as fazendas, cuja produção é substituída pelo gado extensivo. Os ex-escravos aproveitam para criar juntamente com os ex-trabalhadores das fazendas, um campesinato, cuja dinâmica era baseada no extrativismo animal e vegetal, e na agricultura de corte e queima com a criação de pequenos animais (Gayoso, 1970).

Os ciclos de seca que assolaram o Nordeste no século XIX trouxeram ao Maranhão levas de nordestinos que ocuparam, principalmente o leste e o centro do Estado, localizando-se em pequenas e médias cidades, principalmente na zona rural, onde passaram a reforçar o exército de pequenos agricultores que ocupavam as terras devolutas e inexploradas dessas regiões. Nessas áreas, tornam-se frequentes as relações de parceria e de arrendamento para o cultivo da terra, que se constituem, juntamente com a exploração comercial dos produtos agrícolas, nas principais formas de acumulação de capital (Porro, 2004).

Dessa forma, até 1930, a organização do espaço agrário era o reflexo da economia predominantemente agrícola (Lima Junior, 1987) que dominou o estado, ao longo de toda a história. Na segunda metade do século XX, ocorreu o início do processo de grilagem das terras ocupadas por famílias de agricultores tradicionais. Especialmente os criadores de gado ou comerciantes locais foram os primeiros responsáveis por tomar as terras dos primeiros ocupantes e registrar em seus nomes ou em nome de parentes, sempre com anuência de donos de cartório, câmara de vereadores, juízes, prefeitos... No geral, os lavradores eram obrigados a se retirar sem qualquer indenização pelas benfeitorias (Santos, 2010).

Naquele período, ficava evidente que a forma de ocupação das terras pelos pequenos agricultores, ocorrida em períodos anteriores, onde apenas a presença da família garantia a posse, não havendo registro cartorial, foi crucial para que se desse todo o processo de grilagem por parte das empresas e latifundiários. Em 1969, o governo estadual editou a “Lei Estadual de Terras”3 cujo objetivo central era a regularização de todas as terras sob seu domínio. Essa lei acabou por se tornar um fator estimulante para a especulação, tornando-se, de certa forma, coadjuvante na concentração fundiária que ocorreu nos anos seguintes, acompanhada por uma grande concentração de renda ao que se seguiu uma onda de violência contra os trabalhadores rurais familiares, incluindo expropriação de povoados para transformação de áreas de matas e capoeiras em pastagens para gado bovino (Porro, 2004).

3 A lei nº 2.979, foi editada em 17 de julho de 1969 e dispunha sobre as terras do domínio do Estado e dava outras providências.

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Essa lei serviu de base para a compra e grilagem das terras do Baixo Parnaíba que iniciou no final do século XX e se estende por toda a primeira década do século XXI.

4.5.4 Pesca e Aqüicultura

A produção do pescado brasileiro provém em sua quase totalidade da pesca extrativa marinha, em média com participação de 80% a 90% nos anos noventa até o início deste século, conforme o quadro A partir do ano 2001 se observa um crescimento da aqüicultura brasileira, notadamente da aqüicultura continental, em que a participação da atividade gera algo em torno de um terço da produção brasileira. A aqüicultura nordestina se caracteriza por ser, na grande maioria das explorações, a maricultura ou aqüicultura marinha.

No Estado do Maranhão, a pesca se caracteriza por ser uma pesca extrativa marinha, predominantemente artesanal. A pesca extrativa continental (peixe de água doce) apesar de apresentar uma participação mediana, a produção dos rios e lagos maranhenses não possui peixes considerados nobres ou seja, aquelas espécies de maior valor comercial. Algumas espécies (Mandubé, Dourado, etc.) praticamente estão desaparecendo dos rios Itapecuru, Munim, Preguiças e outros. A atividade aquícola é bastante incipiente com uma produção média, que não atinge 1,5 toneladas por ano.

Quadro 23 – Produção Total Estimada de Pescado (ton)

Fonte: IBAMA/DBFLO/CGFAP Segundo o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística do Meio-Norte – PDSRT, o Maranhão possui 273 comunidades pesqueiras, 9.149 embarcações e produz 39.652 toneladas ano gerando divisas na ordem de R$ 151,5 milhões. O mesmo documento diz que especificamente nos municípios que compõem o PDSRT do Meio-Norte, em que o Baixo Parnaíba está incluído, a pesca artesanal apresenta grande relevância em sua captura multiespecífica e fornece a maior base de auto-sustento e mesmo de geração de empregos para uma grande gama de municípios ribeirinhos e especialmente costeiros.O Baixo Parnaíba também se caracteriza como um território onde as atividades da pesca e aqüicultura compõem a economia dos municípios, assim como fazem parte da renda familiar das comunidades rurais, ribeirinhas ou litorâneas. Tanto os municípios costeiros quanto os que estão às margens dos rios praticam as atividades pesqueiras.

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Consta no PDSRT que a economia pesqueira é fundamental para o “cômputo da gestão de tais municípios, devendo fazer parte do cálculo das esferas governamentais, empresariais e setoriais, a fim de que a extração, o acondicionamento, o beneficiamento e o escoamento do pescado possa ser qualificado e que a atividade e sua cadeia produtiva se tornem sustentáveis, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população local. Um dos focos de atenção primários é a montagem de estratégias conjuntas para o adequado gerenciamento costeiro e de bacias, de modo a se realizar a gestão sustentável participativa dos recursos pesqueiros e o ordenamento das atividades incidentes.” Trecho transcrito do documento citado.

4.5.5 A ocupação do Baixo Parnaíba por grandes projetos produtivos no final do século XX definindo um novo modelo produtivoNo período de 1970 a 1985, quando ocorreu o início da modernização da pecuária maranhense, esse processo foi fecundo apenas para os grandes e médios produtores, pois a pequena produção foi absolutamente preterida, mantendo o modelo agrícola vigente completamente inalterado entre os agricultores familiares, situação que só se modificou quando foi efetivado o Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar (PRONAF) em 1996.

Na década de 80, instalaram-se na região, inicialmente as chamadas “empresas reflorestadoras” Marflora, Margusa e o Grupo Industrial João Santos que, adquirindo e grilando as terras dos povos do cerrado, destruíram os babaçuais, as florestas nativas e as chapadas para o plantio de eucaliptos. Os empreendimentos de soja iniciam-se na década de 90, e os primeiros plantios localizaram-se nos municípios de Anapurus, Chapadinha, Buriti e Brejo.

As mudanças ocorridas na estrutura agrária e na estrutura produtiva da região têm características de uma crise social e ambiental, cujo principal motor é o confronto entre dois modelos de desenvolvimento. O primeiro é um “modo de vida” que tem buscado, historicamente, combinar o exercício de atividades econômicas complementares entre si, como a produção de culturas alimentares, o extrativismo, a caça e a pequena criação de animais. O outro, representado pelo “moderno” modelo da monocultura (cultivo da soja e do eucalipto), leva a extração das espécies florestais nativas para atividades de carvoarias que alimentam a produção do ferro-gusa.

O século XX se encerra com uma clara crise no campo. O crescimento do agronegócio (soja, eucalipto), na região, tem se confrontado violentamente com as formas de ocupação e de exploração da terra, dos recursos hídricos e florestais praticados pelos pequenos agricultores. Desse confronto, tem resultado, além do aumento da concentração da terra e da renda, aumento dos crimes ambientais e, logicamente, aumento da desigualdade social em todas as suas nuances.

4.5.6 Um pouco além do raiar do século XXI: resultados das ações e contradições dos séculos anteriores ou uma estratificação agro-ambientalNo início do século XXI, este Território encontra-se imerso num cenário no qual a idéia desenvolvimentista domina o Brasil. O avanço do desmatamento dos cerrados serve para implantar imensos projetos de produção de soja e de eucalipto, considerando que há estímulos dos governos nos três níveis.

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O eucalipto serve para produzir carvão e a soja se torna produto de exportação sob a forma de óleo ou, principalmente, de torta, que vai alimentar os animais de produção na Europa, Estados Unidos, Japão etc.

Mas, o grande crescimento dessas atividades vai ocorrer na segunda metade da década de 2000, em decorrência de alguns fatores, como a redução de áreas disponíveis no sul do Estado e as vantagens comparativas para o escoamento da produção relacionadas à proximidade com São Luís.

Se na área de cerrados a situação cruza impactos ambientais e sociais sem melhorar a qualidade de vida dos moradores, no Litoral e na área do Baixo Parnaíba propriamente dita, os problemas que se avolumam estão relacionados com o turismo impactante – mas dito ecológico – que perturba a área dos Lençóis Maranhenses em Araioses, Tutóia e Água Doce.

A baixa produção e produtividade das culturas e criações que mantinham a economia do Território não alavancam o desenvolvimento regional. O turismo na área dos Lençóis Maranhenses e no delta do Paranaíba, por um lado, e a grande produção de soja e eucalipto não estão sendo capazes de promover a melhoria de vida das populações da região. Contrariamente, está havendo êxodo rural e conseqüente aumento da urbanidade, exigindo das prefeituras a melhoraria das condições sociais dessa população, situação que tem sido dificultada pela incapacidade de governar dos diversos prefeitos da região.

A divisão municipal que criou quatro novos municípios na região, não fomentou melhoria de qualidade de vida para essas populações. Os dados apresentados anteriormente, nesse documento, identificam que, em quase todos os índices, esses municípios estão nas últimas colocações. A BR-222, que atravessa todo o território, permite a ligação de todos os municípios, mas não criou alternativas para diversificar a produção dos pequenos agricultores, nem vem fomentando a busca de alternativas para melhorar as condições das sedes municipais, que continuam dependentes dos serviços públicos e dos pequenos comércios de gêneros importados.

Considera-se que essa região sempre esteve à margem do governo estadual e não há apoio à produção agropecuária e à pesca artesanal, assim como à rica cultura local, de modo que, mesmo com boas condições biofísicas, a produtividade das culturas e criações típicas se mantém praticamente estagnada. A ausência de agroindústrias não favorece o beneficiamento dos produtos agroextrativistas, além de a falta de estruturas de comercialização obrigar a permanência de toda a produção local no município.

Sem o apoio do governo estadual, as populações de todos os municípios do território iniciam o século XXI na dependência das transferências federais limitadas às áreas de saúde e educação. Os governos municipais, que pouco arrecadam, não fazem investimentos capazes de mudar a estratégia de desenvolvimento local e territorial, muito pelo contrário, mostram-se descomprometidos e permitem a estagnação de todos os índices de desenvolvimento que dependam de ações locais.

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As mudanças no espaço agrário, com o aumento da quantidade de latifúndio por extensão e o deslocamento de famílias do campo para a cidade, tem causado grandes problemas. Diversas comunidades rurais de diferentes municípios (Chapadinha, Brejo, Anapurus, Mata Roma), inclusive remanescentes de quilombos (Bebida Nova, Matinha, Valença, Belém, São João dos Pilões, Centro dos Teixeiras, Centro da Cruz, Saco das Almas), vêm sofrendo as conseqüências do processo de desmatamento e da rápida expansão do agronegócio na região. Em cada uma dessas comunidades, são dezenas de famílias que denunciam a crescente dificuldade no acesso à água, às fontes tradicionais extrativistas e à terra para produção de alimentos, tudo isto associado ao desmatamento, à contaminação das fontes de água por agroquímicos, ao aumento de mortalidade dos animais e ao progressivo processo de intimidação e discriminação a que vêm sendo submetidas pelos representantes do agronegócio e até por autoridades públicas.

4.5.7 Uma nova visão espacial do Baixo Parnaíba com a política territorial do Governo FederalA divisão oficial das microrregiões feitas pelo IBGE define duas microrregiões para o espaço geográfico estudado nesse documento: Chapadinha, que inclui São Benedito do Rio Preto, Belágua, Urbano Santos, Chapadinha, Buriti, Mata Roma, Anapurus, Brejo e Milagres do Maranhão; e Baixo Parnaíba Maranhense, com os municípios Santa Quitéria, São Bernardo, Magalhães de Almeida, Santana, Água Doce e Araioses. A criação do programa Territórios Rurais estabelece esse território que inclui essas duas microrregiões, além do município de Tutóia, situado na microrregião dos Lençóis Maranhenses.A microrregião de Chapadinha corresponde à área típica de cerrados que, na atualidade, vem sendo ocupada sistematicamente por dois produtos do agronegócio: soja e eucalipto, de modo que o fluxo econômico tem sido modificado, de produtos da agricultura familiar para os produtos citados anteriormente. De qualquer forma, culturas como: mandioca, arroz, milho e feijão; e criações de bovinos, suínos e caprinos se destacam.

A microrregião do Baixo Parnaíba constitui um espaço territorial que acompanha a parte do rio Parnaíba até sua foz, com reflexos nos municípios litorâneos. Corresponde a um litoral retilíneo, arenoso e recoberto por um ecossistema de dunas, que segue em direção à foz do rio Parnaíba. Os solos são de baixa a média fertilidade, que sustentam uma agricultura familiar tradicional de produção de alimentos básicos, com ênfase na produção de mandioca e no extrativismo de frutas nativas e artesanato. As atividades pesqueiras são praticadas em todos os municípios, tanto os litorâneos quanto os que ficam nas margens dos rios.

A proposta de redimensionamento do Território ainda não pode ser avaliada em função do pouco tempo de implantação dessa política. Déficits de terra para assentar as famílias que perdem suas áreas são somados a pouca capacidade dos órgãos da reforma agrária em regularizar áreas históricas de famílias de pequenos agricultores e de populações tradicionais, como quilombolas.

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Essa situação promove uma redefinição do espaço agrário, considerando o avanço das empresas agrícolas sobre essas terras, seja através de compras ou mesmo de grilagem ou, mais comumente, pela compra de uma área seguida de grilagem de outras circunvizinhas. A dinâmica de redefinição da política territorial ainda não permitiu que questões, como a concentração fundiária, sejam resolvidas.

4.6 Uma análise organizacional do Território a partir dos atores institucionais e perfil social da regiãoA organização social no Território do Baixo Parnaíba é diversificada tanto no que diz respeito às esferas de atuação, interesses e necessidades de sua população, quanto na forma jurídica que assumem4. Neste sentido, encontram-se grupos informais e formais desempenhando os papéis de representação e/ou assessoria que se expressam por meios de associações, cooperativas, sindicatos, ONGs, movimentos de igreja, partidos políticos.A criação dessas organizações apresenta motivações variadas: produtiva, econômica, ambiental, política, capacitação, representação, etc. Pensadas como forma de organização, expressão e reivindicação de categorias, grupos e/ou setores específicos da sociedade, surgiram da necessidade de promover a organização interna dos grupos, a mediação com o poder público e a sociedade, o acesso a políticas públicas variadas (crédito, assistência técnica, infra-estrutura), a participação nos espaços de consulta e decisão (conselhos, fóruns, comitês).

A participação nestas organizações, independente de sua área de atuação ou forma jurídica, tem se convertido em importante processo de aprendizagem que permite a seus integrantes a possibilidade de obtenção de instrumentos de compreensão, intervenção e controle das dinâmicas sociais, econômicas e políticas que os afetam.

Contudo, apesar da diversidade e dos processos de aprendizagem e ação possibilitados, observa-se uma fragilidade da organização social do território nos seguintes aspectos: dificuldade de produzir, sistematizar e repassar informações para a coletividade; dificuldade para organizar e aperfeiçoar as agendas de trabalho conjunto; baixa capacidade de pressão aos governos municipal, estadual, federal.

Em termos ocupacionais, percebe-se uma combinação de atividades de pesca, agricultura e extrativismo, porém, havendo, em algumas localidades, a auto-identificação dos grupos relacionada às suas atividades consideradas principais como pescadores, agricultores, agroextrativistas ou criadores.

No aspecto étnico, evidenciam-se as comunidades remanescentes de quilombos nas quais se estabeleceu um regime de propriedade ou posse coletiva das terras e o cultivo de tradições culturais de origem africana, como a religião, folguedos, práticas de cura, manejo dos recursos naturais e outros costumes.

4 Foram identificados nos municípios que compõe o território os seguintes tipos de organizações e espaços de participação: Sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais (CONTAG e FETRAF), sindicatos e colônias de pescadores, associações de assentamento, associ-ações de produtores, associações de moradores, associações quilombolas, associações e clubes de mães, associações e cooperativas de artesãs, associações de pais de casas familiares rurais, agrícola, grupos de jovens, associações e grupos de defesa do meio ambiente, pastorais (criança, terra, família), delegacia dos agentes comunitários, Articulação do semi árido - ASA.

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No entanto, historicamente, os locais de moradia, trabalho e circulação desses grupos têm sido negligenciados no que diz respeito ao oferecimento de serviços e infra-estrutura básica, colocando-os, durante muito tempo, em uma situação de marginalização social e econômica, observados pelo baixo nível de IDH e demais indicadores de renda e qualidade de vida do território, fatores que repercutem em sobremaneira para a superação das dificuldades.

Na tentativa de superar as condições de exclusão e marginalização, a configuração assumida pelas organizações sociais varia em relação a seus atores e instituições. Estas se diferenciam segundo sua esfera de atuação (estado, sociedade civil), interesses e necessidades de seus membros e na forma jurídica que assumem. Neste sentido, encontram-se os órgãos estatais municipais, estaduais e federais e grupos da sociedade civil atuando em diversos setores.

No âmbito da sociedade civil, a configuração dos grupos pode apresentar um caráter informal e formal, desempenhando papeis de representação e/ou assessoria que se expressam por meios de associações, cooperativas, sindicatos, ONGs, movimentos de igreja, partidos políticos, etc. No âmbito estatal, foram identificados nos municípios que compõe o território, instituições das esferas municipal, estadual e federal com presença e formas de atuação também diversificadas.

A situação das administrações municipais varia em função do tamanho das populações, áreas territoriais, antiguidade, dotação de recursos financeiros, das demandas e necessidade da população organizada e do projeto político das administrações eleitas. Observam-se, num extremo, municípios com poucas secretarias, atuando apenas em setores considerados básicos, como: administração, saúde, educação e agricultura. No outro extremo, encontram-se municípios com uma segmentação maior, que, além das secretarias básicas, contam ainda com outras secretarias atuantes nos setores de meio ambiente, cultura, assuntos institucionais, turismo, esportes, pesca, etc.

Ocorre, em muitos casos, a existência formal destas secretarias, mas não contam com a infra-estrutura mínima necessária (corpo técnico, instalações físicas, veículos, garantia de orçamento) para um funcionamento efetivo, o que, em última instância, não contribui para o enfrentamento dos problemas ou o investimento na melhoria da qualidade de vida da população. De um modo geral, as administrações municipais do território necessitam de recursos humanos e financeiros próprios. Suas ações, em grande medida, dependem de repasses e programas dos governos estadual e federal. Todavia, vale-se da ressalva que são as instâncias públicas municipais as quais participam e, por vezes, são consideradas como a única presença estatal nos conselhos existentes, em especial o CODETER.

O governo estadual atua no território a partir dos seguintes órgãos: Universidade Estadual do Maranhão e CAEMA, além das secretarias estaduais que atuam através das gerências regionais e de alguns órgãos subsidiários, como o ITERMA, a AGED e a AGERP.

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Da esfera federal, atuam as instituições financeiras: Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal, além do INCRA e do IBAMA. No entanto, os órgãos federais têm ações completamente apartadas em relação aos espaços de consulta e deliberação, incluindo o CODETER. Não há registro da participação de nenhum desses órgãos nas reuniões de planejamento do PTDRS.

Foi possível identificar os seguintes programas mantidos pelo Governo Federal através de algum dos ministérios: Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural, através do qual foram realizados dois mutirões; Programa Bolsa Família, pelo qual foram atendidas 33.805 famílias, tendo alocado acima de 43 milhões de reais; Benefício de Prestação Continuada-BPC da pessoa idosa com 2.418 atendidos: com aplicação de aproximadamente 15 milhões de reais em assistência à pessoa idosa; Beneficio de Prestação Continuada - BPC da pessoa com deficiência com 1.939 atendidos e recursos aplicados na ordem de 11 milhões de reais; Crédito Pronaf, com 2 milhões de reais para financiamento da produção agrícola familiar, com 1.044 projetos aprovados; Programa Saúde da Família, com 98 equipes implantadas a partir de investimentos na ordem de 12 milhões de reais; Programa luz para todos, com 2.910 novas ligações a rede elétrica, com recurso em torno de 15 milhões de reais.

No âmbito dos espaços para a interlocução e diálogo entre governo e sociedade civil, encontra-se, no território, a existência de vários Conselhos Municipais (saúde, educação, segurança alimentar, cultura, etc.), Consórcio Intermunicipal e, atualmente, o próprio Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER). Estes são espaços privilegiados no que diz respeito à mobilização e articulação das organizações e instituições do território, no sentido de propor investimentos e de superar problemas locais. Contudo, assim como as ações executadas isoladamente pelas organizações da sociedade civil, os conselhos têm apresentado resultados muitas vezes aquém do tamanho dos problemas e questões que procuram enfrentar.

Os fatos citados no item 4.7, a seguir, desencadearam uma série de conflitos socioambientais, provocando um processo de reação coletiva que pode ser representado pela constituição do Fórum em Defesa da Vida, no Baixo Parnaíba (FDVBP5), um espaço de articulação política e social sem vinculações confessionais (religiosas), governamentais ou partidárias. O Fórum foi formado por uma rede de entidades e articulações da sociedade civil da região do Baixo Parnaíba e de outras entidades estaduais ligadas à defesa dos direitos humanos políticos, civis, sociais, culturais e ambientais, empenhadas na defesa incondicional desses direitos e na afirmação do direito à vida da população urbana e rural da região.

O FDVBP procura se articular, de forma autônoma, independente e transparente, com o legislativo, executivo, judiciário e ministério público, em todos os seus níveis, buscando ampliar o debate e as ações necessárias a fim de serem efetivadas as políticas públicas indispensáveis para garantir o desenvolvimento sustentável regional.

5 O Fórum é composto pelos municípios Chapadinha, Mata Roma, Anapurus, Buriti, Duque Bacelar, Coelho Neto, Afonso Cunha, Milagres, Brejo, Santa Quitéria, Santana, São Bernardo, Araioses, Água Doce, Magalhães de Almeida, Barreirinhas, Paulino Neves, Tutóia, São Benedito do Rio Preto, Belágua, Urbano Santos.

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Com o intuito de englobar os interesses e direitos da população urbana e rural da região, também se visa à preservação de sua cultura, superando as relações de exploração, submissão e autoritarismo, suas relações sócio-econômicas e o meio ambiente.

Neste sentido o FDVBP, procura fortalecer, criar e motivar novas articulações municipais e regionais entre entidades e movimentos da sociedade, de forma a expandir, tanto na esfera da vida pública como da vida privada, a capacidade de resistência social às investidas de grupos de agronegócio e grandes projetos públicos e privados. Espera-se que tais articulações atinjam diretamente os direitos constitucionalmente garantidos da população rural e urbana do Baixo Parnaíba Maranhense, lutando pelo fortalecimento da agricultura familiar, de todas as políticas públicas, da efetivação dos direitos humanos na sua integralidade e da indivisibilidade e interdependência.

4.7 As grandes problemáticas ambientais do Baixo Parnaíba A situação ambiental do Baixo Parnaíba se cruza com o que vem acontecendo no restante do Estado. Os principais problemas estão relacionados com: a substituição das áreas dos cerrados para a plantação de soja e eucalipto, na região que vai de São Benedito do Rio Preto até São Bernardo; o turismo mal dimensionado do Delta do Parnaíba e dos Lençóis Maranhenses; a criação de búfalos nas ilhas do Delta.

Sem dúvida, a principal problemática está relacionada com a substituição dos cerrados e das produções históricas dos pequenos agricultores por soja e eucalipto. O desmatamento tem outra causa, além dos projetos da sojicultura e eucaliptocultura: as carvoarias ou as “Unidades de Carbonização de Resíduos Florestais”, como preferem classificar os fazendeiros da região. Após o desmatamento da área, ocorre um processo de terceirização da produção de carvão a qual será destinada para as guserias, neste caso para a empresa Maranhão Gusa S/A (MARGUSA), produtora de ferrogusa. O que chamam de resíduos são, na realidade, as florestas de cerrado e as chapadas, impiedosamente dizimadas para a produção de carvão.

Atualmente, a Suzano Papel e Celulose retoma o projeto de “reflorestamento” e pretende implantar a monocultura do eucalipto em oito municípios do Território (Anapurus, Brejo, Mata Roma, Milagres do Maranhão, Santa Quitéria, São Benedito do Rio Preto, São Bernardo e Urbano Santos).

O desmatamento de áreas de forma acelerada, com a utilização de métodos predatórios como o “correntão”6, já levou ao desmatamento intensivo de mais de 50 mil hectares, tendo sido destruído, de forma irresponsável, o bioma de transição onde incluem formas de vegetação do cerrado, caatinga e mata dos cocais, características da região.

Esse modelo de retirada da vegetação vem devastando espécies vegetais e mananciais de rios legalmente protegidos, com alto risco de ampliação do processo de desertificação do Estado.

6 O método do “correntão”, consiste na fixação de uma larga corrente em dois tratores que arrastam todas as árvores que estão em seu caminho. É uma técnica é extremamente nociva para as árvores frutíferas da região, como o Pequi e o Bacuri que, além de serem impor-tantes para os hábitos culturais da população representam fonte de renda para inúmeras famílias de trabalhadores rurais.

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Sem nenhuma preocupação, os empresários da soja e do eucalipto desrespeitam a propriedade das terras e o modo de vida das comunidades tradicionais que vivem em harmonia com o meio ambiente há gerações e criam situações que geram graves riscos à preservação da integridade das bacias hidrográficas da região, entre elas a do rio Munim, Parnaíba e Preguiças.

As famílias de trabalhadores e trabalhadores rurais que tradicionalmente ocupam as terras do Baixo Parnaíba há várias gerações, vêm sofrendo diferentes formas de ameaças a suas vidas pela intimidação, o que coloca em risco sua integridade física, seja pela perda de terras que retira delas a possibilidade de sobrevivência (pressão fundiária e degradação ambiental, incluindo mortes de animais, aspersão de agrotóxicos, utilização do “correntão” no desmatamento, entre outras) por parte de produtores rurais que, supostamente, compraram grandes extensões de terra para expulsar essas famílias do campo, a fim de permitir a instalação de projetos de agronegócio.

É notória a exploração ilegal dos recursos naturais; o desmatamento, a destruição do cerrado e das cabeceiras de rios; a eliminação indiscriminada de espécies nativas protegidas por legislação ambiental em carvão para fins comerciais e a utilização ilegal de agrotóxicos, contaminando os rios e as plantações das comunidades locais, inclusive com o uso de aviões para pulverizar “venenos’ em comunidades, escolas, poços, núcleos populacionais que ficam nas proximidades dos campos de soja.

Nos municípios costeiros do Território, Araioses, Tutóia e Água Doce, a questão ambiental passa por vários conflitos de uso. No que se refere ao turismo, embora de forma predatória, “engatinha” em busca de um turismo com bases ecológicas, de modo a contribuir na sustentabilidade das comunidades extrativistas (pesca e artesanato), além de promover a possibilidade de inclusão das comunidades pesqueiras e ribeirinhas para não haver modificação no ambiente e em seus modos de vida.

Neste contexto, a generalidade encontra-se na especulação imobiliária, nas áreas costeiras, a pesca predatória de pescados sem qualquer respeito ao período de defesa (época de reprodução) e/ou utilização de apetrechos de pesca proibidos por lei, para várias espécies e locais de pescas, pressão sobre as áreas de pesca por embarcações de outros estados sem registro ou autorização para tal finalidade. O povoado de Carnaubeiras, em Araioses, abriga a maior comunidade de catadores de caranguejo do país e a produção é exportada principalmente para Fortaleza. Ali, milhares de caranguejos são perdidos (mortos) a cada período de extração. É necessário um trabalho direcionado aos catadores em relação à questão do período de catação e ao transporte, para diminuir a pressão cada vez maior sobre a espécie no período de reprodução.

Boa parte das áreas do Território é classificada como de extrema importância biológica e de alta criticidade quanto à perda de biodiversidade, conforme o Documento do Ministério do Meio Ambiente (MMA), intitulado “Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA Nº. 09, de

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23 de janeiro de 2007”, considerando que essa região está localizada em uma faixa de transição e contato entre os cerrados maranhenses e as matas dos cocais. Ainda encontra-se grande diversidade de ecossistemas regionais representativos os quais funcionam como habitat de espécies nativas e migratórias, bem como refúgios de vida silvestre provenientes de áreas já devastadas pelas atividades humanas.

Um desses ecossistemas característicos permitiu a criação da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, no município de Buriti. A Reserva Extrativista Chapada Limpa, localizada no Município de Chapadinha, com área de 11.971, cujo objetivo se define em proteger os meios de vida e garantir a utilização e a conservação dos recursos naturais renováveis, tradicionalmente utilizados pela população extrativista residente na área de sua abrangência.

A Área de Proteção Ambiental denominada Delta do Parnaíba, a qual abrange os municípios de Araioses e Tutóia no Território e a APA Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiça, que abrange os municípios Santa Quitéria do Maranhão, São Benedito do Rio Preto, São Bernardo, Tutóia e Urbano Santos. Estas APA´s estão cada vez mais pressionadas por empreendimentos e/ou pela exploração dos seus recursos naturais, ainda de forma desordenada, sem considerar a importância destas áreas para a população do território no fornecimento de água e no suprimento de recursos naturais para as mais diversas utilidades (alimento, atividades artesanais, turismo ecológico, criação pequenos animais, extrativismo,...) essenciais para a garantia de reprodução das famílias.

Outra preocupação ambiental é a verificação de áreas suscetíveis à desertificação ocasionada pela degradação ambiental. Estudos do Ministério do Meio Ambiente apontam que no Território há vários municípios os quais já apresentam sinais de desertificação, exigindo a implantação de um programa de prevenção e mitigação dos efeitos da desertificação, inserido no Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca.

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Avisão de futuro, proposta no PTDRS original, se repete em parte nessa revisão, considerando que o futuro apontado, naquele momento, ainda não foi alcançado quando das oficinas de qualificação.

Dimensão econômica: Que no Território a agricultura familiar, o extrativismo e a pesca, sejam garantidos por meio da regularização fundiária, na qual todos os agricultores familiares disponham de terra para trabalhar, de infra-estrutura de apoio à produção, ao beneficiamento e à comercialização, como eletrificação, água, agroindústrias e estradas, além de crédito rural facilitado, assistência técnica e capacitação efetiva, possibilitando o uso dos recursos naturais de forma racional, por meio de práticas agroecológicas, garantindo, com isto, a sustentabilidade das famílias rurais de hoje e das gerações futuras.

Que nossos sistemas produtivos sejam diversificados e baseados nas potencialidades existentes, gerando excedentes para a comercialização, que deverá ser realizada de forma organizada, por meio de cooperativas e proporcionando segurança alimentar às famílias.

Dimensão Sociocultural: Tenhamos acesso à saúde preventiva e curativa, com postos de saúde estruturados e com equipe médica para atender à população. A nossa educação esteja pautada nas diversidades existentes, considerando as questões de gênero, geração e etnia, incentivando o desenvolvimento das comunidades e dos grupos e valorizando suas raízes.

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As escolas sejam equipadas e funcionem em ambiente propício ao ensino-aprendizagem, com professores capacitados e material didático pedagógico de qualidade. A merenda escolar seja feita com produtos provenientes da agricultura familiar, com qualidade e em quantidade suficiente.

Dimensão Político Institucional: Boas relações institucionais com entidades não governamentais e com o poder público, que as prefeituras disponham de secretarias atuantes e pessoas preparadas, favorecendo a formação de parcerias na implementação das ações demandadas pela população.

Que haja maior integração entre o poder executivo e legislativo, e com a sociedade civil organizada, constituição de parcerias e arranjos institucionais desenvolvendo espaços de gestão participativa, fortalecendo as capacidades político institucionais para resolução dos problemas e soluções comuns aos municípios e território, superando a visão individual dos grupos políticos e avançando para interesses coletivos.

Dimensão Ambiental: Que o patrimônio natural do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses seja protegido; turistas sensibilizados pratiquem o turismo ecológico e a população em geral sensibilizada sobre a questão ambiental, quanto ao modo de produzir, respeito aos rios, preservação das áreas verdes, fauna e flora e que cada município tenha implantado uma política de proteção e educação ambiental.

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6.1 Como remodelar o desenvolvimento O Território do Baixo Parnaíba possui caracteristicamente, três divisões. A primeira, geográfica, baseada em características socioeconômicas e que o distingue em microrregiões: Baixo Parnaíba Maranhense, mais ao leste, e Chapadinha, mais ao centro.

A segunda é também geográfica, mas tem um viés produtivo em função da definição econômica que a população se insere e que não tem referência em nenhum trabalho científico, apesar de ser percebida no zoneamento ecológico e econômico do Estado: Litoral e Interior. Na zona do Litoral, o principal produto é o pescado, cuja cadeia produtiva está sendo estudada a partir de uma demanda do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA). Na zona do Interior, a economia se baseia na agricultura familiar, fomentada por produtos como mandioca e milho e, atualmente, na produção da soja cujos resultados econômicos são mínimos para o total produzido. A terceira, feita pelo Colegiado Territorial, dividiu o território em quatro aglomerados que se reúnem de forma adinamizar o funcionamento do próprio Colegiado e facilitar a liberação dos projetos propostos.

Essa caracterização do Território, apesar de ser clara, não apareceu no documento original do PTDRS. A dinâmica territorial, ainda encontra dificuldades na sua implementação, de modo que no planejamento sustentável do território predominam questões municipais e específicas, sem agregar questões de ordem macro que garantam maior valor ao desenvolvimento territorial. 6

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Percebe-se que os fatores numerados no diagnóstico têm sido tratados de alguma forma, isoladamente ou em conjunto, pelas diversas instituições que atuam na região. De modo que, para se alcançar os objetivos propostos nesse plano, há que se adotarem estratégias territoriais.

Em termos práticos, cita-se: há clareza por parte dos técnicos e coordenadores das Secretarias de Educação do Território que a educação rural, apesar de todos os esforços, ainda não foi realizada a partir de um investimento adequado para que atinja boa qualidade, pois, ao receber um tratamento semelhante ao que é dado à área urbana, criou vínculos diretos entre os moradores da área rural com as aparentes melhores condições de vida existentes na área urbana, fomentando o êxodo e reduzindo a importância da agricultura. O exemplo mostra que, para se alcançar os objetivos propostos nesse plano, as instituições proponentes devem se esforçar para redesenhar a atual conjuntura.

A remodelação do desenvolvimento regional exige mudanças, que incluem entre os principais pontos:

1) mudança estratégica na condução política dos municípios, incluindo as relações microrregionais entre os prefeitos e entre as câmaras legislativas, o que levará, obrigatoriamente, a um redirecionamento das ações públicas;

2) uma nova ordem econômica regional, definida sob três aspectos principais: a) redução da concentração de renda, definida pela redução da concentração da terra, b) inserção da agricultura familiar no mercado, e c) maior participação dos empresários e dos representantes da classe média e alta urbana na vida dos municípios;

3) melhor articulação da sociedade civil, o que permitiria maior participação de todos os atores sociais na vida dos municípios, produzindo maior pressão pela redução das desigualdades municipais e regionais.

Do ponto de vista do programa Territórios da Cidadania para remodelar o desenvolvimento dessa região, deve haver um avanço para além da liberação de recursos de infra-estrutura. Para o MDA, que é o responsável principal pela implantação desse Plano, é necessário que seja assumida uma postura de articulador do poder público regional que não tem sido mobilizado devidamente, de modo a ser referência para a discussão e o encaminhamento das mudanças regionais. Afinal de contas, está entendido que sem mudanças a nível estrutural, o desenvolvimento não promoverá a redução das desigualdades sociais tão fortemente demonstradas no diagnóstico. O fundamental é a sustentabilidade que esse desenvolvimento deve proporcionar.

O plano qualificado aponta caminhos de modificação nesse quadro, não só no sentido da apresentação de propostas, mas, especialmente, de que essas propostas sejam, perfeitamente, exeqüíveis. Para isso, propõe-se suplantar a condição de planejamento e execução de forma isolada, que é de praxe na região, para ações coletivas em todas as áreas. A interinstitucionalidade

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é uma das principais características a ser fomentada em todas as instâncias, complementada pela regionalização das ações, significando que tudo o que for implantado deve aproveitar as condições biofísicas e humanas regionais para um desenvolvimento integral, no intuito de romper definitivamente com a pequenez das fronteiras geográficas municipais e a política partidária.

Outra característica importante é a multidisciplinaridade, definida como um pacto entre secretarias municipais de todos os setores as quais têm o dever de disponibilizar seus técnicos capacitados, de modo a compor com representantes dos órgãos das três esferas e de organizações não governamentais e as câmaras setoriais já existentes. No entanto, essas ainda não funcionam a contento, mas estão relacionadas aos diversos temas trabalhados no plano, no sentido de propor e encaminhar às Câmaras de Vereadores, Secretarias Estaduais e Ministérios Federais, propostas para as políticas públicas que garantam a efetivação dos programas.

O plano deve integrar todas essas ações. Em relação à questão produtiva, a idéia principal é criar quatro centros de comercialização e abastecimentos, sendo um por cada aglomerado. A eles se conectariam agroindústrias de pequeno e médio porte, entre as existentes e aquelas a serem criadas. Essas agroindústrias receberiam diretamente dos produtores e dos centros de comercialização os produtos que não fossem comercializados in natura, para um processo de beneficiamento. Os produtos beneficiados seriam transportados aos centros para comercialização regional ou aos mercados municipais.

Ligados aos centros e às agroindústrias, estarão todas as propriedades rurais cadastradas e todos os pescadores da região, que teriam seus produtos garantidos para a comercialização, seja de forma in natura, seja beneficiado. Para garantir o funcionamento dessa proposta, devem ser construídas estruturas de armazenamento, além de ser realizados melhoramento e manutenção das estradas já existentes e a construção de outras que permitam o escoamento da produção.

6.2 Dinâmica de elaboração e cenário para o desenvolvimento sustentávelA definição dos programas propostos para este plano seguiu dois caminhos, paralelos e, ao mesmo tempo, conseqüentes. O primeiro caminho está referenciado pelo Plano original, elaborado em 2004, de onde se aproveitou grande parte das propostas, considerando que muito do que está ali, não tendo sido posto em prática, continua valendo para os próximos cinco ou dez anos. O segundo caminho seguiu as propostas definidas nas oficinas pelos representantes do Colegiado Territorial.O cenário para a implantação desse Plano apresenta poucas mudanças em relação ao cenário anterior. Uma mudança negativa do ponto de vista ambiental e social está relacionada com o aumento da área plantada com soja e eucalipto na região mais central do território.

Como atividade que causa grandes impactos ambientais e sociais, responsável por inúmeros problemas, deveria merecer por parte dos governos estadual e municipal, uma grande atenção

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de forma a minimizar os efeitos desses impactos.

Por outro lado, as políticas territoriais, que têm sido implementadas pelo atual Governo Federal, criam expectativas favoráveis em função da participação de um número maior de representantes da sociedade civil, assim como exige maior responsabilidade do poder público local.

A seguir apresentamos as propostas de programas e projetos a partir das dimensões econômica, social e ambiental.

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7.1. Programa 1: Produção agropecuária

7.1.1. Análise situacional

A produção agropecuária no Baixo Parnaíba tem se baseado, historicamente, em produtos da agricultura familiar: mandioca, milho, feijão, arroz e frutos extrativos. Essas culturas sempre tiveram sua produção voltada para a

subsistência da família, juntamente com a criação de pequenos, médios animais e até bovinos, que funcionam como poupança para os momentos difíceis da família. Essas atividades são produzidas em propriedades rurais de pequeno e médio porte – quase sempre abaixo de 200 ha. A quantidade de famílias que trabalham em imóveis muito pequenos, no entanto, é expressiva e, para esses que não são proprietários, a produção depende apenas de culturas de ciclo curto, na maioria das vezes.Essas pequenas propriedades têm ainda contra si, além da pouca área disponível, extrema dificuldade de comercialização em função da deficiência de infra-estrutura e de serviços públicos - falta de estruturas de armazenamento, precariedade das estradas e meios de transporte, carência de energia elétrica e de abastecimento d’água e saneamento básico. Além de tudo isso, ainda há problemas relacionados ao mau uso do crédito, pouca qualificação e falta de assistência técnica.

Deve-se levar em conta que essas propriedades são de agricultores familiares que vivem em áreas nas quais durante muito tempo, ficaram no esquecimento ou, quando lembradas, receberam programas que tiveram pouco impacto em termos de mudança da realidade, em função da desarticulação das instâncias governamentais.

As pesquisas e as tecnologias existentes para esse modelo de produção não atingiram esses trabalhadores rurais, já que o baixo índice de escolaridade está sempre aliado ao pouco acesso aos centros de produção do conhecimento. Dessa forma, a agricultura praticada na região tende a se manter na condição de agricultura de subsistência.

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Mudar essa situação exige, antes de tudo, o estabelecimento de um modelo adequado de produção baseado na integração de ações por parte do serviço público, nos três níveis. Esse modelo deve aliar o crédito através de projetos bem elaborados, à capacitação e à assistência técnica em uma ponta; a infra-estrutura e os serviços públicos em outra; e, no meio, um sistema de produção bem planejado que contemple a produção para subsistência da família, aliada a culturas e criações fáceis de serem beneficiadas, para agregação de valor e com comércio garantido.

Esse programa só tem sentido se vinculado a todos os outros programas desse Plano, pois desse, especialmente, depende toda a alimentação e grande parte da renda das famílias que vivem na zona do Interior. O programa será dividido nos seguintes subprogramas: culturas alimentares, criação de médios e grandes animais, fruticultura e quintais produtivos.

7.1.2. Subrograma 1: Culturas alimentares

7.1.2.1. JustificativaDo ponto de vista da conjuntura histórica dos sistemas produtivos7 tradicionais utilizados no Território, todas as análises feitas pela equipe elaboradora do PTDRS apontam para o esgotamento do modelo, em função da pouca quantidade de terras disponíveis e das condições biofísicas dos solos, que obriga a pouco tempo de pouso e, por consequência, promove um processo de esgotamento dos solos. Diante desta situação, os agricultores vêm sendo obrigados a promover mudanças no modo de produzir, mudanças essas que implicam em adoção de práticas não convencionais baseadas em pacotes tecnológicos que não levam em consideração as questões ambientais e os saberes locais.De qualquer forma, não é preciso renegar a agricultura tradicional praticada por esses assentados, mas capacitá-los a adotar estratégias sustentáveis para o sistema de produção vigente, estratégias essas que busquem mudar a forma de exploração da matriz de produção. A construção desse novo paradigma deve estar sedimentada na participação dos agricultores, na discussão e na resolução dos problemas, na transição para a agroecologia, mas também na efetiva participação do poder público, através dos órgãos diretamente envolvidos com a produção agropecuária.

Conforme mostra o diagnóstico, a produção das culturas alimentares não tem sido capaz de garantir a segurança alimentar das famílias produtoras, obrigando à busca de rendas extras obtidas de diversas atividades fora das comunidades e assentamentos. Em parte, porque a área plantada é insuficiente para garantir uma produção dentro do que necessitam as famílias, além de a produção e da produtividade estarem bem abaixo do que seria possível alcançar com a implantação ou implementação de técnicas mais adequadas aos cultivos locais.

7 Os sistemas produtivos usados no Território Baixo Parnaíba que estamos denominando de culturas alimentares são baseados nas culturas da mandioca, milho e feijão, principalmente, mas também, o arroz e outras culturas de menor importância.

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7.1.2.2. Objetivos do subprograma

7.1.2.2.1. Objetivo geral

Estabelecer, com as famílias locais, um modelo de produção sustentável que lhes garanta a segurança alimentar, através de um conjunto de ações que visem a melhoria da capacidade produtiva das culturas alimentares, levando em consideração o conhecimento dos produtores e a sua condição econômica.

7.1.2.2.2. Objetivos específicosConstruir, com o agricultor, o calendário para as atividades e o planejamento das atividades

produtivas, conforme exigência de cada cultura a ser implantada;Definir com as famílias que não estejam produzindo uma área mínima onde sejam

implantadas as culturas alimentares;

Estabelecer o aumento das áreas com cultivos alimentares, assim como a produção e a produtividade dessas culturas;

Incentivar e fortalecer o uso do consorciamento das culturas utilizadas;

Controle do uso do fogo e conscientização dos produtores da importância de substituir gradativamente esta prática por outras como roço seletivo, adubação verde e rotação de culturas;

Utilizar técnicas de melhoramento de capoeira, com introdução de leguminosas como guandu, leucena e sabiá, entre outras;

Implantar técnicas de melhoramento da cultura de mandioca;

Criação de bancos de sementes com espécies locais, visando disponibilizar aos agricultores sementes adaptadas e de boa qualidade.

7.1.2.3. Metas e resultados esperadosAs metas e os resultados esperados estão vinculados aos objetivos esperados. Nos próximos cinco anos (2011 a 2015), pretende-se alcançar o seguinte:Construção de um calendário específico para cada comunidade e assentamento, e capacitação dos produtores nas diversas atividades que serão necessárias para o estabelecimento e a implementação do plano. Como resultado ter-se-ão calendários adequados a cada comunidade/assentamento, cujas famílias estarão capacitadas para iniciar a implantação do plano;

Implementação de, pelo menos, cinco tecnologias agroecológicas relacionadas ao preparo do solo, plantios consorciados, tratos culturais e colheita, buscando garantir a segurança alimentar e preservação dos recursos naturais;

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Área plantada total com culturas alimentares aumentada a uma média de 30% a 35% e aumento de, pelo menos, 0,5 ha dos roçados;Aumento da produtividade de todas as culturas, girando em torno de 30%.

7.1.5.4. Metodologia e estratégiaPara grande parte das famílias da região, a possibilidade de aumentar a produção e a produtividade das culturas, a área plantada ou mesmo a implantação de novas tecnologias adaptadas, exige uma capacitação permanente, aliada a uma assistência técnica também permanente, desburocratizada e descentralizada, que deve ser garantida, não somente, pelo órgão estadual, mas, principalmente, pelos governos municipais, através das secretarias municipais de agricultura.A estratégia inicial inclui a definição de calendários específicos para as famílias que participarem desse programa, pois, nesses casos, a programação incluiria atividades dos outros subprogramas.

Do ponto de vista da lógica programática, o referencial é a elaboração dos projetos de investimento e custeio feitos pelas equipes dessas secretarias, com a participação efetiva das famílias beneficiadas em todas as etapas até a implantação e o monitoramento. As reuniões deverão ocorrer tanto com as famílias, quanto com os grupos (associações), em momentos distintos, para facilitar a dinâmica da metodologia participativa de construção das propostas.

A produção deverá ser baseada na dinâmica do cultivo tradicional sob a forma do roçado. Utilizando os princípios básicos, propostos pela EMBRAPA, para o Território. O principal referencial para o aumento da produtividade estará baseado na mudança do espaçamento entre linhas e entre plantas no sistema produtivo. Experimentos feitos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária na região apontam que a simples redução do espaçamento permitiu aumentos variáveis não menores que 30% dentro do proposto nesse subprograma. Concomitantemente a essas mudanças técnicas, outras tecnologias deverão ser implementadas para fomentar o aumento da produção e da produtividade, tais como cobertura do solo, uso de leguminosas, uso de sementes adaptadas melhoradas, redução do uso do fogo etc.

7.1.3. Subprograma 2: Criação de animais

7.1.3.1. JustificativaNo território, são criadas várias espécies de animais, onde se destacam os pequenos ruminantes (caprinos e ovinos) e bovinos. Os pequenos ruminantes são explorados, tanto extensivamente, como na forma semi-intensiva; nessa forma, estão em condições bastante aceitáveis de instalações, em apriscos ripados e suspensos ou em piso de chão batido. Os bovinos são criados em pequenas quantidades, tendo níveis de manejo semelhantes aos das cabras.

O subprograma se justifica pela importância desses animais, mas sendo necessária a adoção de medidas urgentes para melhorar a qualidade dessas criações, com mudanças que propiciem uma produção de boa qualidade e um aumento na renda das famílias.

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A opção para resolver esse problema passa por uma mudança no modelo de criação para um sistema mais adequado às condições biofísicas da região, mantendo ou melhorando os níveis de produção e produtividade.

7.1.3.2. Objetivos do subprograma

7.1.3.2.1. Objetivo geralAperfeiçoar o sistema de criação dos caprinos e ovinos e dos bovinos, de forma a torná-los mais capazes de gerar maior produção e mais renda para as famílias do Território.

7.1.3.2.2. Objetivos específicosIncentivar a criação de pequenos ruminantes, se possível como substitutos à bovinocultura;Definir um modelo de criação de bovinos que esteja mais adequado às condições

agroecológicas da região;

Estabilizar o tamanho do rebanho de acordo com as áreas de pasto existentes em cada comunidade/assentamento, adequando-se ao modelo de agricultura familiar;

Recuperar as áreas de pasto que estão degradadas;

Aperfeiçoar as instalações e o manejo (reprodutivo, sanitário, e alimentar) das criações de modo a aumentar a produção e a produtividade;

Fomentação de suporte forrageiro (gramíneas e leguminosas);

Racionalizar a produção e dar opções de comercialização dos produtos e subprodutos;

Aumentar a renda familiar.

7.1.3.3. Metas e resultados esperadosConsiderando o tempo do Plano, nessa segunda etapa de cinco anos (2011 - 2015), as metas estarão sendo desenvolvidas dentro desse prazo, levando em conta os objetivos específicos.Implantação de 20 pólos comunitários (1 macho e 10 fêmeas) e de 1000 unidades de

produção familiar (5 fêmeas) de caprinos;

Produção de 30 caprinos adultos anualmente por cada pólo de produção;

Produção anual de 15 animais adultos por cada unidade de produção familiar;

Instalação de um pólo de produção comunitário e redesenho de 32 unidades familiares de criação de bovinos.

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7.1.3.4. Proposta técnica

7.1.3.4.1. Para os caprinos e ovinosOs caprinos e ovinos são criados num sistema extensivo, mas que, em alguns momentos, tende à criação semi-intensiva8. De forma que, para a reestruturação do sistema, os animais devem passar a viver totalmente no sistema semi-intensivo.Aqui, o fundamental será a estabilização do rebanho. Para isso, dentro do sistema silvipastoril proposto, serão construídas cercas para limitar a presença dos animais em alguns espaços e apriscos, com divisões adequadas, além do estabelecimento de piquetes nas pastagens, para melhor aproveitamento das forragens e controle das verminoses e implantação de forrageiras. Para concluir a implantação do sistema, serão adquiridos animais da raça anglonubiana e/ou animais mestiços com genética de raças leiteiras. As famílias que já possuírem rebanhos implantados deverão fazer a troca dos animais por esses indicados no plano.

Para as famílias que já possuem esses animais será importante a estabilização e a melhoria de qualidade do rebanho já no primeiro ano de implantação do subprograma, com a comercialização sistemática e planejada de todos os animais que possuam mais de um ano, até que a área destinada à criação alcance a capacidade de suporte real de 10 animais/ha. Essa quantidade de animais será mantida até que o pasto possua condições de aumentar sua capacidade de suporte.

Para esses últimos, devem ser incentivadas as melhorias da criação, principalmente em relação às instalações, enfatizando a construção de aprisco suspensos, os quais facilitam o manejo e previnem contra problemas de sanidade. Para quem for introduzido nos novos projetos, será feito um conjunto de capacitações que possibilitarão o conhecimento de técnicas de tal atividade.

7.1.3.4.2. Para os bovinosPara se conseguir a estabilização de animais de acordo com a área de pastagem, será utilizada a medida Unidade Animal (UA) por hectare de pasto, diminuindo o pisoteio de animais na pastagem de forma a não sobrecarregar o solo. Para as condições ambientais da nossa região, uma UA corresponde a 450 kg de peso vivo. Nessa região, a média de peso de bovinos varia de 250 a 280 kg, portanto, para efeito de compreensão, trabalha-se com a UA correspondendo a um valor entre 1,38 a 1,45, ou seja, em cada hectare, caberiam, no mínimo 1,38 e, no máximo 1,45 animais.

Com a implantação do sistema silvipastoril e descarte de animais acima de 36 meses que apresentem baixo desempenho produtivo, haverá mais opções de alimento para o gado, resultando em ganho de peso fazendo com que uma cabeça aumente sua massa para uma média de 350 kg o qual será o peso trabalhado nesse subprograma. Desta forma a proposta é passar de 1,38 a 1,45 UA/ha para uma média de 1,33 UA/ha.

8 A criação extensiva consiste na criação a pasto, com baixa lotação, onde a alimentação é obtida exclusivamente no pastoreio direto; os animais ficam expostos ao tempo, às vezes sem abrigo para se protegerem; a alimentação depende dos efeitos do clima na produção de forra-gens, variando em qualidade e quantidade conforme as estações do ano. Já no sistema semi-intensivo, os animais obtêm parte da alimentação no pastoreio direto e o restante em cochos; passam o período da noite e parte do dia em instalações onde recebem alimentação suplementar, fazendo com que fiquem menos sujeitos as influências do clima (Souza, 2005).

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Por exemplo: em uma área com 16 ha de pasto que hoje possui uma média de 32,3 cabeças de bovinos, a partir do terceiro ano da implantação do projeto (permanecendo bovinos mais produtivos e descartando bovinos menos produtivos), suportará apenas 21,28 animais sem sobrecarregar os solos.No entanto, é importante considerar que, nas condições ambientais atuais, a equipe técnica infere que essa capacidade de suporte está reduzida a, no máximo, 60% da sua capacidade original. Ou seja, na prática, em cada área, 1 ha deveria estar suportando apenas 270 kg de peso vivo, que corresponderia nas condições atuais a 0,92 a 1,037 UA. Assim, quando o produtor põe 30 animais em 16 ha, ele está sobrepondo nessa área uma quantidade de animais que representa quase 90% a mais do que o pasto suporta. É essa a situação atual que o programa pretende corrigir com o intuito de alcançar as condições necessárias para o equilíbrio ambiental local. Para tanto, faz-se necessário trabalhar em duas frentes: a primeira, que corresponde à estabilização e melhoria da qualidade do rebanho, e a segunda, que remete à recuperação dos solos e das pastagens.

A estabilização e a melhoria de qualidade do rebanho serão feitas a partir do primeiro ano de implantação do programa, com a comercialização sistemática e planejada de todos os animais que possuam mais de 36 meses, até que o lote alcance a capacidade de suporte real de 0,92 a 1,037 UA/ha. Nessa direção, no caso das famílias que possuam reprodutores, estas deverão trocar esses animais por outros de melhor capacidade genética. Essa quantidade de animais será mantida até que o pasto possua condições de aumentar sua capacidade de suporte.

Na segunda etapa, cada área produtiva será dividida em três unidades (piquetes) de acordo com a área, de forma que os bovinos não sejam prejudicados com a falta de alimento no período de escassez. Para isso, será necessário que se faça uma complementação nutricional com alimentos volumosos encontrados no lote, qual sejam a mandioca e o milho. Os produtores que não fazem suplementação mineral devem passar a fazer a partir do momento que assumirem a entrada no programa, sendo esses suplementos enriquecidos com micro e macro minerais e vitaminas que previnam deficiências de prenhez e dificuldades de parto, assim como ataques de sarnas e carrapatos. Assim, serão reduzidos os custos com vermífugos e carrapaticidas. Um dos piquetes será isolado e nele serão plantadas leguminosas, como leucena e guandu, com objetivo de recuperação inicial dos solos e outras árvores que possam ser fontes de alimentação animal, além de garantir sombras para os animais nos períodos de maior intensidade solar.

Os outros dois piquetes entrarão em um processo de rodízio, de forma que, quando um estiver sendo utilizado, o outro estará em descanso por um período de 21 dias, o suficiente para impedir a evolução de eventuais larvas de moscas, carrapatos e helmintos que são despejadas no solo juntamente com as fezes dos bovinos. Com essa ação, será implementado o sistema silvipastoril.

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A partir da instalação do subprograma, dar-se-á atenção especial aos bovinos de melhor desempenho. No que se refere à alimentação hídrica, a solução é criar pontos estratégicos para a construção de bebedouros coletivos (açudes, tanques, poços), para que as áreas mais distantes também possam ser contempladas com água para os animais.

Será necessária a prevenção às doenças infecto-contagiosas, obedecendo ao calendário oficial do serviço oficial de defesa agropecuária, através das vacinações contra febre aftosa e brucelose, incluindo também botulismo, carbúnculo sintomático (manqueira) e raiva. A vacinação será feita utilizando o curral coletivo, na agrovila. Pode-se solicitar o acompanhamento de técnicos da AGED e da ATES na execução destas atividades. No manejo reprodutivo, deve ser definida uma relação macho/fêmea e que seja observada a apresentação de cio pelas fêmeas, momento em que o reprodutor será introduzido para que ocorra uma monta controlada. Em longo prazo, reduz-se a quantidade de machos no rebanho para priorizar a produção leiteira com um plantel previamente selecionado, no intuito de facilitar a transição de bovinos de corte para bovinos de leite.

7.1.4. Subprograma 3: Agroextrativismo

7.1.4.1. JustificativaUm dos potenciais econômicos pouco utilizados na região é o extrativismo, nas suas várias formas de manifestação, pois existe uma vasta diversidade de produtos da natureza acessíveis, alguns já fartamente utilizados na alimentação das famílias e comercializados na época de safra.A equipe técnica, quando do levantamento de informações para formatação desse plano, detectou, a partir de relatos de moradores e de documentos produzidos anteriormente, um grande potencial das atividades extrativistas, incluindo as condições das vias de acesso, a paisagem existente, trilhas, fontes de água, produtos extraídos etc., assim, como os problemas já apresentados em função da invasão da soja e do eucalipto.

Percebeu-se que existe um claro processo de transformação do ambiente local, com o desmatamento de áreas para o plantio de culturas, como a soja e o eucalipto. Uma parte desses recursos naturais, que constitui a base do extrativismo no meio rural, encontra-se, portanto, fortemente ameaçado.

Nesse sentido, um subprograma de extrativismo deve ser implantado com duas justificativas básicas que se entremeiam permanentemente: 1) garantia de manutenção do ambiente local, com manejo adequado; 2) renda para as famílias a partir dos produtos extraídos da natureza.

7.1.4.2. Objetivos do subprograma

7.1.4.2.1. Objetivo geralConsolidar um modelo extrativista de desenvolvimento socioeconômico sustentável e solidário, centrado no fortalecimento da agricultura familiar, com base no uso racional dos recursos naturais existentes nos biomas do Território.

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7.1.4.2.2. Objetivos específicosElaboração de estudos e pesquisas que caracterizem as potencialidades atuais dos

produtos agroextrativistas do Território;Capacitar famílias em temas socioambientais, produção e comercialização de produtos

agroextrativistas;

Implantação de unidades demonstrativas agroflorestais integradas com a criação de pequenos animais e meliponas melíferas nas unidades familiares de produção;

Fortalecimento dessas unidades familiares de produção, dentro de uma perspectiva de troca de experiências entre as famílias envolvidas no programa.

7.1.4.3. Metas e resultados esperadosa) Realização de um diagnóstico agroextrativista do Território ate 2012;b) Ministrar três capacitações anuais dos produtores nas diversas atividades que serão necessárias para o estabelecimento e implementação do subprograma;

c) Introdução de pequenos animais e de meliponas em 24 áreas de manejo agroextrativista no Território;

d) Instalação de quatro viveiros de mudas de plantas agroextrativistas nos aglomerados;

e) Criar 60 unidades de manejo agroextrativista de frutos nativos até 2015.

7.1.4.4. Proposta técnica As secretarias de agricultura dos municípios, apoiadas por outras organizações, iniciarão as atividades desse subprograma com um estudo do potencial dos municípios, identificando as espécies de potencial agroextrativista existentes e o seu calendário, ou seja, sua disponibilidade na natureza e a renda gerada. Com base nessas informações, será feito um replanejamento municipal dentro de uma proposta agroecológica que inclua o aproveitamento integral de todos os produtos existentes na área e, dependendo do interesse das famílias, será integrada a criação de aves, caprinos/ovinos, e de meliponas, entre outros. Assim, será construído um sistema agrosilvopastoril, utilizando, como referência, as áreas de vegetação originais, compreendidas como avanço necessário para o equilíbrio ambiental, buscando uma produtividade crescente e auto-sustentada do sistema produtivo.

Ainda na fase de planejamento, serão definidas as capacitações a serem feitas pelas equipes técnicas e as atividades coletivas de troca de informações, como oficinas e seminários, contemplando teoria e prática, necessárias para que as famílias tenham condições de efetivar o que foi estabelecido no planejamento. Entre as capacitações, podem ser adiantadas algumas já estabelecidas nesse plano, como caprinovinocultura, apimeliponicultura, avicultura, manejo de sistemas agroflorestais.

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Para a introdução da criação de pequenos ruminantes, devem ser construídas instalações com o objetivo de abrigar os animais durante alguns horários do dia. É recomendável uma instalação com piso ripado, elevado do solo (permite que as fezes caiam e não fiquem próximas dos animais), que pode ser dividida em baias para facilitar o manejo. As medidas do piso ripado são as seguintes: ripas com largura de 5 cm x 3 cm de espessura, distância entre ripas de 1,5 a 2 cm e distância do piso ripado ao chão de 1,5 m (para facilitar a limpeza). Os animais não devem ter acesso à parte de baixo do piso ripado, onde se localizam as fezes, que serão destinadas à adubação das culturas agrícolas. Por isso, esse local deve ser cercado. O tamanho do aprisco vai depender do número de animais da criação e sua localização deve ser bem escolhida para facilitar o acesso das pessoas e dos animais. Dentro do aprisco, caprinos e ovinos devem ter acesso a cochos, bebedouros e saleiros. O material a ser utilizado na construção do aprisco será rústico, coletado na própria área, tendo-se em mente que o aprisco deve oferecer conforto aos animais.

A pastagem é essencial na caprino/ovinocultura. O ovino apresenta um hábito de pastejo rente ao solo e, por isso, são mais indicadas pastagens baixas, mas pode ter um manejo alimentar parecido com o dos caprinos. A lotação de pastagens depende diretamente da qualidade do pasto. Em média, a lotação de animais por hectare varia de 4 a 8 cabeças. Por terem o hábito de caminhar muito, esses animais precisam de cercas para delimitação de espaço e para controle do rebanho.

A meliponicultura, ou seja, criação de meliponas indígenas sem ferrão será feita em caixas rústicas, produzidas no próprio assentamento. Como as meliponas indígenas são bastante dóceis e de fácil manejo, dispensam o uso de roupas e equipamentos de proteção, reduzindo os custos de sua criação e permitindo que as colméias sejam mantidas perto de residências e/ou de criações de animais domésticos. Além disso, por não exigir força física e/ou prolongada dedicação ao seu manejo, a criação de meliponas sem ferrão pode ser facilmente executada por jovens e idosos. Para a formação do meliponário (local em que são criadas as meliponas), serão aproveitados materiais do próprio lote (madeiras e palhas), com tamanho a ser definido de acordo com o número de colméias (colônias) a ser trabalhada. Com as caixas e prontas e o meliponário demarcado, será iniciada a formação do plantel com a devida autorização do IBAMA. As colônias serão capturadas na natureza e transferidas para as caixas somente para formar o plantel inicial, pois, uma vez formado esse plantel, serão utilizadas técnicas de divisão de colônias que permitirão o crescimento do plantel até o limite necessário.

Em alguns casos, pode ser possível a criação de abelhas com ferrão. Nesse caso, diferentemente das meliponas indígenas, será necessária a aquisição de equipamentos de proteção, tais como macacão, luvas, máscaras e fumegadores, além de colméias (caixas). O apiário deve ficar em local onde haja bastante pasto apícola (flores com pólen e néctar) e distante de pessoas e animais. Em cada apiário, devem ser instaladas 10 colméias, quantidade suficiente que uma família é capaz de manejar sem suprimir mão-de-obra das outras atividades agropecuárias.

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Essas colméias são compradas em casas que comercializam produtos apícolas, assim como todo o equipamento de proteção. As colônias serão capturadas na natureza ou através de armadilhas no próprio apiário.

Após a montagem do sistema serão trabalhadas formas de comercialização e agregação de valor aos produtos apresentados neste subprograma.

7.1.5 Subprograma 4: Quintais produtivos

7.1.5.1. JustificativaO quintal produtivo consiste em uma área de produção localizada próximo das residências, onde são cultivadas várias espécies agrícolas, juntamente com a criação de pequenos animais, como aves e suínos, de modo que um olhar mais perceptivo verá um sistema agropecuário integrado, permitindo uma complementação alimentar, além do auxílio na subsistência da família e no incremento de renda.Tradicionalmente, as atividades de criação de pequenos animais (aves caipiras e suínos), de horticultura, fruticultura e cultivo de plantas medicinais, praticadas nesses quintais produtivos, refletem o nível tecnológico dos agricultores familiares – instalações inadequadas, poucas práticas de manejo com os animais, pouco manejo de solo e alguns tratos culturais – que mantém essas atividades, razão pela qual a produtividade e a qualidade da sua exploração econômica ficam comprometidas. As pessoas que normalmente são responsáveis por cuidar e manter o agroquintal estruturado são as mulheres e crianças.

Deve-se considerar que nem todas as famílias possuem um quintal produtivo em condições de lhes garantir alimentação aos seus membros e gerar um excedente de produtos para comercialização. Os que possuem, cultivam frutíferas e hortícolas; e criam animais como galinha caipira, suínos. Algumas famílias fazem o cultivo de plantas medicinais as quais utilizam no tratamento de doenças tratáveis com fitoterápicos.

Todas as análises feitas, quando do diagnóstico, apontam para uma grande potencialidade dos quintais, se houver um manejo adequado. Nesse caso, pode-se perceber que a dinamização desses quintais é de relevante importância para a segurança alimentar, além de ser importante gerador de renda para as famílias desse assentamento.

7.1.5.2. Objetivos do subprograma

7.1.5.2.1. Objetivo geralMelhorar a qualidade de vida das famílias pelo aumento da oferta de alimentos e geração de renda pela comercialização do excedente.

7.1.5.2.2. Objetivos específicos

a) Reengenharia dos quintais produtivos existentes a partir de um planejamento adequado para cada família;b) Sensibilizar as famílias que não tenham quintais produtivos implantados para a importância desse sistema;

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c) Ampliar a biodiversidade e a potencialização da produção e da produtividade dos cultivos e criações existentes nos quintais;

d) Garantir a segurança alimentar e incorporar proteínas, vitaminas e sais minerais na alimentação das famílias e, conseqüentemente, a melhoria da renda familiar.

7.1.5.3. Metas e resultados esperados a curto e médio prazoEm curto prazo (2011), ministrar quatro capacitações por município sobre condução de sistemas em pequenas áreas (quintais produtivos);a) Implantar pelo menos 20 quintais produtivos em caráter experimental nos 16 municípios do território;

b) Planejar cada agroquintal existente, utilizando-se parâmetros agroecológicos nos primeiros seis meses de implantação do plano, de modo que cada família participante do projeto tenha condições de possuir um agroquintal produitivo;

c) Elaborar 3000 folhetos e fazer três palestras sobre a importância dos quintais durante os seis primeiros meses de implantação do plano, a ponto de permitir que as famílias que ainda não estejam com quintais produtivos instalados passem a tê-los;

d) Implantar cinco tecnologias agroecológicas adaptadas às condições de solo, de recursos hídricos e de força de trabalho nos quintais replanejados, de forma a permitir aumentos substanciais na produção e produtividade de todas as culturas e criações até 2013;

e) Assegurar que, pelo menos, 20% da alimentação das famílias que adiram ao subprograma sejam obtidas a partir dos quintais produtivos ao final de 2013;

f) Aumentar a renda familiar em, pelo menos, 20%, ao fim do terceiro ano de implantação do subprograma.

7.1.5.4. Metodologia e estratégia de implantaçãoPara que haja uma modificação na lógica dos quintais, os produtores devem ser capacitados, inicialmente, em planejamento e gestão de pequenas áreas. A estratégia da equipe deve estar relacionada com um diagnóstico individual de cada quintal e respectivo planejamento a ser feito juntamente com todas as pessoas moradoras da residência.A partir dessa capacitação, então, será feito o replanejamento dos quintais a ser realizado pela equipe das Secretarias Municipais de Agricultura, com a participação efetiva das famílias envolvidas em todas as etapas até a implantação e o monitoramento.

7.1.5.5. Proposta técnicaA equipe técnica das Secretarias Municipais de Agricultura iniciará as atividades desse subprograma com um diagnóstico rápido de cada quintal das famílias que tiverem interesse, identificando os tipos de cultura e criações existentes, as dinâmicas produtivas, o itinerário técnico, o calendário de trabalho e a renda gerada. Com base nessas informações, será feito

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um replanejamento do sistema produtivo dentro de uma proposta agroecológica que inclua o aproveitamento integral de todos os produtos existentes na área, dependendo do interesse das famílias, com dois subsistemas de criação animal (aves e suínos), um subsistema de horticultura, um subsistema de fruticultura e um subsistema de plantas medicinais,entre outros.O centro do sistema de produção de cada agroquintal pode ser modificado em função da determinação de cada família e das possibilidades de comercialização, mas o referencial deve ser sempre a criação de animais: galinhas caipiras ou suínos. A esse centro produtivo devem se associar os outros subsistemas definidos de modo com que haja uma inter-relação estabelecida e uma dinâmica de fluxos fundamental para o funcionamento do conjunto.

Quando o centro do sistema for a criação de galinha caipira, basear-se-á o planejamento do quintal a partir dessa criação. O referencial será a instalação de um galinheiro feito com recursos naturais disponíveis nos lotes ou nos próprios quintais, tais como restos de madeira, estacas, ripas, palha de babaçu etc. Tal instalação deverá ter uma área útil de, aproximadamente, 120 m², dimensionadas para proporcionar boa ventilação, luminosidade, drenagem, facilidade de acesso e disponibilidade de água e ainda terá duas divisões internas, uma destinada à fase de reprodução e outra para a terminação. O piso deve ser revestido com uma camada de palha (cama) de 5 a 8 cm de espessura, distribuída de forma homogênea, podendo-se utilizar vários materiais, como casca ou sabugo de milho triturado ou casca de arroz. Essa cama deverá ser substituída periodicamente e será utilizada como adubação orgânica para os plantios. Um espaço no entorno da construção será cercado para funcionar como área desestressante e de pastejo. Ali, serão plantadas gramíneas e leguminosas que servirão como alimento primordial. Essa área deve ser cercada com material semelhante ao utilizado no galinheiro, mas que seja capaz de evitar a entrada de predadores. O galinheiro deve ter passagens de acesso para a área de pastejo a qual deverá ficar aberta durante todo o dia para que as aves possam pastar à vontade.

A seleção das matrizes pode ser feita com base no plantel, já existente, do qual são aproveitadas fêmeas em fase de pré-postura, filhas de matrizes de conhecido desempenho produtivo. Já os reprodutores deverão ser provenientes de outros plantéis, que apresentem boa capacidade reprodutiva, adaptabilidade ao ambiente e ao sistema de manejo empregado, além de um porte compatível com o das matrizes, possibilitando o estabelecimento de um plantel não consanguíneo e capaz de atingir altos índices de produtividade.

A alimentação proposta prevê a integração com os outros subsistemas com o objetivo de serem aproveitados todos os resíduos oriundos da atividade agrícola como frutas, casca de mandioca, milho entre outros.

Se o centro do sistema for a suinocultura, a criação deve ser instalada com duas matrizes, independentemente do tamanho do quintal. Como a relação matriz – reprodutor gira em torno de 10:1, o reprodutor deve ser coletivizado entre cinco famílias. Nesse caso, as instalações devem ser construídas com duas áreas: uma pocilga e uma área desestressante. A pocilga

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deve ser instalada com quatro baias, sendo três para os animais adultos – mesmo sendo o reprodutor coletivizado, cada produtor deve ter, na sua pocilga, uma baia para quando estiver cuidando desse animal – e uma para os animais em fase de crescimento. As baias para as matrizes e o reprodutor devem ter 6 m² cada, suficientes para funcionar como maternidade e creche. Após serem desmamados, aos 45 dias, os animais jovens serão transferidos para a baia de crescimento que deve possuir 12 m² e comportar até 9 animais. A área desestressante deve ter 144 m², ser construída nos espaços onde já esteja instalado o pomar, ser plantada com gramíneas e leguminosas e possuir pequenos tanques de cimento, para que os animais possam se banhar durante o dia. A construção deve ser feita com a utilização de materiais existentes na área, sendo adquirido apenas o indispensável. As instalações devem ser mantidas higienizadas, sendo as fezes recolhidas diariamente, indo para a compostagem, para o viveiro, pomar, horta ou horto medicinal. A água dos tanques deve ser mantida limpa e em quantidade suficiente para todos os animais. Todos os bácoros devem receber ferro nos primeiros dias, após o nascimento.

A área destinada ao pastejo das aves e dos suínos será, inicialmente, preparada a partir da introdução de mudas de frutíferas e de espécies de leguminosas produzidas no viveiro, seguidas de gramíneas que servirão de alimentação para os animais. Para as frutíferas, serão preparadas as covas com dimensões 30 x 30 x 30 cm (solos leves) ou 40 x 40 x 40 cm (solos pesados), sendo realizada a adubação orgânica com a utilização de esterco de curral curtido. O espaçamento utilizado para o plantio será de 3 x 3 m até 8 x 8 m, dependendo da espécie. As plantas cultivadas nessas áreas são: goiaba (1 planta) e acerola (1 planta).

Na área especialmente destinada ao cultivo de fruteiras, serão plantadas as seguintes espécies: cupuaçu (1 planta), limão (1 planta), ata (2 plantas) e banana (2 touceiras) que ocuparão 200 m². Os tratos culturais que devem ser utilizados são a capina manual, no período da implantação, e, após esta fase, a poda, que é realizada para uma melhor recepção dos raios solares. E, caso necessário, também será realizado o controle de pragas e doenças à base de produtos naturais. Após a implantação e estabelecimento do pomar, observar-se-á a formação de um microclima. A produção dessas espécies é apresentada no Quadro 24.

Quadro 24 – Espécies e produção anual das fruteiras

Espécie Nº de plantas Produção/ano Início da produçãoLimão 1 300 frutos 2 anosCupuaçu 1 40 frutos 3 anosGoiaba 1 80 frutos 1,2 anosAcerola 1 100 kg 2 a 3 anosAta 2 40 kg 2 anosBanana 4 12 cachos 1 ano

Fonte: Dados da presente pesquisa

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Com a produção, iniciar-se-á o aproveitamento integral de todos os frutos, seja na alimentação humana, animal, na comercialização in natura, no beneficiamento com a produção de doces e compotas para o consumo familiar ou comercialização. No processo de aproveitamento in natura ou quando do beneficiamento, as cascas servirão de alimento para os animais. Nesse período, a coordenação de produção, juntamente com a equipe técnica, estará promovendo capacitações sobre beneficiamento de frutas às famílias integrantes desse subprograma.

O local para a instalação dos canteiros deve ser ensolarado, próximo de fonte de água, em terreno plano de fácil e bem drenado. Devem ser evitados os ventos fortes com a implantação de cercas vivas ou quebra-ventos com plantas de crescimento rápido. Cada família deve escolher o sistema de produção que quer utilizar, podendo ser semeadura em canteiros, quando as culturas são plantadas e colhidas no mesmo local e/ou semeaduras em sementeiras, com o uso de copinhos feitos de papel, para posterior plantio, e as mudas serão produzidas no viveiro.

Após a escolha do local, serão preparados os cinco canteiros, utilizando piquetes e barbantes para marcação, com dimensões de 1,00 m de largura por 6,00 m de comprimento, deixando 0,50 m entre os canteiros para facilitar o manuseio. No preparo do solo, deve se cavar até a profundidade de 20 cm, para a área ficar fofa e arejada e facilitar a drenagem. As paredes do canteiro devem ser feitas puxando a terra das laterais e, em seguida, bater a terra com a enxada para dar maior firmeza. A adubação será orgânica com material proveniente do galinheiro e/ou da pocilga, sendo utilizados 20 litros/m² a ser incorporado à terra do canteiro. O espaçamento a ser utilizado depende da forma de plantio. No caso das hortaliças de plantio direto, segue-se: coentro: 20 cm entre sulcos; já nas hortaliças de transplantio, deve ser: alface: 30 x 20 cm, cebolinha: 20 x 15 cm, couve: 80 x 40 cm, tomate: 1 X 0,70 m, pimentão: 1 x 0,50 m.

A horta deverá ser irrigada duas vezes por dia, de manhã e à tarde. As capinas devem ser feitas sempre que aparecerem plantas estranhas. A adubação de cobertura deve ser feita com a utilização de esterco animal distribuído sobre o solo ou misturado na água. Na semeadura direta, deve ser realizado também o raleamento, ou seja, a eliminação das plantas menos desenvolvidas. No controle de pragas e doenças, deve-se queimar ou enterrar os restos de culturas contaminadas e usar produtos naturais.

Também deve ser realizada a rotação de culturas com o plantio de outra espécie de outra família, após a colheita de uma cultura, para diminuir a retirada dos mesmos nutrientes e reduzir o ataque de pragas e doenças.

Quadro 25 – Espécies e produção das hortaliças

Espécie Nº de plantas Produção Inicio da produçãoCebolinha 260 -- 60 diasCoentro 132 -- 30 diasTomate 8 48 kg 85 diasPimentão 12 60 kg 50 a 80 diasAlface 66 -- 50 a 80 dias

Fonte: Dados da presente pesquisa

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Também será construído um horto medicinal com um canteiro de 1 m x 6 m, as plantas serão utilizadas conforme a necessidade da família e as suas propriedades fitoterápicas. Os plantios podem ser realizados por sementeira, propagação vegetativa ou semeadura direta. No sistema de semeadura direta, o solo dos canteiros deverá ser bem removido para que haja aeração adequada. O leito do canteiro será constituído de duas partes de terra preta para uma de esterco proveniente da cama do galinheiro ou da pocilga. Deverá ser bem irrigado e mantido em repouso até o dia seguinte. Depois do plantio, o solo deverá ser coberto com uma camada de capim seco, para assegurar a umidade. O trato cultural está relacionado à capina manual, sempre que houver necessidade. Os canteiros deverão ser irrigados através de regadores manuais, duas vezes por dia pela manhã e pela tarde. Em relação ao controle de pragas e doenças, deverá ser feito o controle biológico, principalmente, através da alternância e do espaçamento das plantas nos canteiros.

7.1.5.6. Modelo de gestãoO programa produtivo será administrado pela Câmara Temática de Produção que atuará nos subprogramas acima descritos. O trabalho dessa Câmara terá o apoio técnico das equipes das secretarias de agricultura que fará o acompanhamento dos projetos desde a fase inicial de implantação. A organização interna dos produtores será feita em parceria com a Associação de Moradores.

7.2 Programa 2: Extensão rural

7.2.1 Análise situacionalO diagnóstico apresentado na primeira parte deste documento demonstra a inexistência de um programa de extensão rural na região. A desconexão entre as ações relacionadas com a agricultura e a pesca/aquicultura e aquelas relacionadas com a educação, cultura, esporte, lazer, saúde, meio ambiente e ação social é clara e inequívoca. Como há municípios do território que, apesar de possuírem secretaria de agricultura, não tem funcionalidade, a agropecuária e a pesca ficam desassistidas de ações governamentais.

No território, onde foram implantados mais de cem projetos de assentamentos, a única ação de assistência técnica está relacionada com o Projeto ATES o qual atende oito assentamentos através de organizações não governamentais. No restante, o que se percebe são ações isoladas e desintegradas por parte de instituições que atuam junto aos segmentos dos agricultores familiares e pescadores, fazendo elaboração de projetos, capacitação e assistência técnica.

Também é perceptível que a insuficiente presença das secretarias de agricultura municipais age pontualmente no atendimento às pequenas propriedades, fazendo com que as ações institucionais acabem se individualizando. Isso fica claro ao se comparar os assentamentos com as comunidades rurais. Enquanto os assentamentos atendidos pela ATES têm acesso ao crédito oficial e ao acompanhamento sistemático, os agricultores familiares não assentados ficam limitados às ações das secretarias, quase sempre pontualmente.Essas dificuldades impedem que a agricultura familiar, praticada na região, possa sair da produção básica de subsistência para uma dinâmica de integração ao mercado, assim como agroindústrias.

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De qualquer forma há, na região, ações isoladas ou organizadas que permitem a estruturação de um bom programa de extensão rural. Podem ser citados, entre outros: a criação do Colegiado Territorial, os conselhos municipais de desenvolvimento rural sustentável; a presença do INCRA, ITERMA, Banco do Nordeste e SEBRAE; o acompanhamento das ações locais pelos STTR’s e pelas Colônias de Pescadores; as agências da Secretaria de Agricultura do Estado (AGERP e AGED); a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário.

Vincular as ações dessas diversas instituições e integrar os diversos planos, existentes na região, para que não haja perda de energia e de recursos é a grande questão desse programa. Sua base e princípios estão estabelecidos na proposta de ATER, definida pelo DATER/MDA. A ideia é de trabalhar a elaboração de projetos técnicos junto com a capacitação e a assistência técnica, para que o acompanhamento das famílias seja feito de forma integral em todos os aspectos de suas relações com o meio local, seja rural ou urbano.

7.2.2. Objetivos do programa

7.2.2.1. Objetivo geralDisponibilização de serviços de elaboração de projetos, capacitação e assistência técnica, capazes de contribuir para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, concretizando as potencialidades sociais, econômicas e ambientais dos agricultores familiares e pescadores do território do Baixo Parnaíba.

7.2.2.2. Objetivos específicos

a) Estabelecer, a partir do CODETER, uma rede solidária de cooperação técnica para apoiar agricultores e pescadores, suas famílias, comunidades e assentamentos, assim como suas organizações;

b) Disponibilização de todas as informações atuais sobre agricultura e pesca em todas as instituições da rede solidária;

c) Promover a capacitação dos técnicos de todas as instituições ligadas à rede, a fim que sejam capazes de elaborar os projetos técnicos de agricultores familiares e pescadores da região;

d) Capacitar técnicos, professores, agentes de saúde, lideranças dos agricultores e pescadores em temáticas relacionadas com o Território para que todos passem a ser considerados agentes de desenvolvimento rural e sejam capazes de mobilizar e capacitar agricultores familiares e pescadores;

e) Estabelecer programas de formação dos agricultores familiares e pescadores da região, com métodos e estratégias capazes de colocá-los na condição de agentes das relações econômicas e sociais a que estão inseridos;

f) Garantir apoio técnico a todos os agricultores familiares e pescadores da região.

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7.2.3. Metas e resultados esperadosAs metas estão relacionadas aos objetivos e o cumprimento de todas deve ocorrer no período da segunda etapa do Plano, entre 2011 e 2015.a) Estabelecimento de uma rede solidária composta por todas as instituições que atuam na região, coordenada pelo CODETER, tendo como participantes as secretarias municipais de agricultura, STTR’s, Colônias de Pescadores, ONG’s, INCRA, ITERMA, AGED, AGERP, UFMA e SEDAGRO;

b) Criação de um banco de dados que será instalado no Campi da UFMA –Chapadinha, em cooperação com o CODETER, disponível para todas as organizações da rede, de modo a ser facilmente disponibilizado a todos os agricultores e pescadores;

c) Implantar uma equipe técnica em cada seagri municipal, com agrônomos, veterinários, técnicos em agropecuário etc;

d) Organizar e ministrar seis cursos anuais sobre elaboração de projetos para capacitação das equipes técnicas;

e) Elaboração de proposta metodológica para capacitação de agricultores e pescadores/aqüicultores da região;

f) Organizar e ministrar 16 cursos anuais de capacitação para agricultores e pescadores, em temas a ser definido pela Câmara Temática de Produção, com o intuito de capacitar 240 trabalhadores;

g) Elaborar e distribuir 12.000 cartilhas nos cursos que serão ministrados no programa;

h) Elaboração dos projetos de crédito que garantam viabilidade técnica e econômica às propriedades rurais e pescadores.

7.2.4. Metodologia e estratégia de implantação A efetivação desse programa exige uma redefinição do papel de todas as organizações as quais atuam direta ou indiretamente com os agricultores familiares e pescadores na região. O mais importante é que cada instituição mantenha sua missão, mas que estejam articuladas entre si, de forma que seja evitada a superposição de ações. A Câmara Temática de Produção coordena as diversas atividades, funcionando como uma rede solidária, onde se encontrarão todas as instituições. Nas reuniões da Câmara, todas as instituições apresentam seus planejamentos, de modo que, enxugando os excessos de cada um, se consiga um planejamento comum.A CT será a principal referência para a implantação desse programa, pois será a organizadora do planejamento central, permitindo que cada instituição tenha aumentada a produtividade das suas ações.

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A Câmara articulará treinamento conjunto para os técnicos da Rede, em várias temáticas, sempre levando especialistas para essas capacitações, seja das instituições financiadoras, das universidades ou das empresas de pesquisa. No treinamento, serão fornecidas informações sobre questões específicas, mas sempre relacionadas com as diretrizes metodológicas do plano.

A equipe de técnicos dessa Rede será a responsável pela capacitação de outros técnicos da região que atuam junto aos agricultores familiares e/ou pescadores, professores, agentes de saúde e lideranças dos agricultores e pescadores. A capacitação desse grupo objetivará transformá-los em agentes de desenvolvimento local para atuar junto às famílias agricultoras e pescadoras. No processo de capacitação. Será trabalhada uma ampla quantidade de temas relacionados com o desenvolvimento sustentável do Baixo Parnaíba, desde reforma agrária e estrutura fundiária até as questões de política agrícola local, regional, estadual e nacional. Capacitados, tais agentes devem passar a atuar como intermediários entre os técnicos da extensão rural e agricultores e pescadores, pois, morando ou vivendo na comunidade, esses profissionais têm mais facilidades de repassar informações aos seus vizinhos e, muito especialmente, aos jovens, facilitando a viabilização das propostas contidas no PTDRS.

Capacitados, técnicos da Rede e agentes de desenvolvimento local, passam a acompanhar agricultores e pescadores. Esses, no entanto, receberão dos técnicos um conjunto de capacitações sempre relacionadas com os projetos elaborados a partir das propostas instituídas no PTDRS.

7.2.5 Modelo de gestão A coordenação geral desse programa será do CODETER. A coordenação técnica será feita pela Câmara Temática de Produção, apoiada pelas Secretarias Municipais de Agricultura. No plano local, as secretarias terão responsabilidades de elaborar os projetos, acompanhar a liberação do crédito e fiscalização do uso dos recursos, junto com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável.

7.3 Programa 3: Agroindústria, comercialização e abastecimento

7.3.1 Análise situacionalUm dos principais problemas em que se pauta o desenvolvimento é o equilíbrio entre os setores primário, secundário e terciário. No Baixo Parnaíba, de acordo com a distribuição do PIB, o setor secundário relacionado à indústria é a pouca presença de indústrias. A discussão do desenvolvimento também aponta a presença de pequenas indústrias como a melhor forma de distribuir renda e minorar os impactos ambientais e sociais. Essa ausência impede, por um lado, a agregação de valor aos produtos agropecuários e da pesca, deixando os produtores com pequenas margens de lucro nos seus negócios, quando esse lucro não é totalmente ausente. Por outro lado, a venda de produtos in natura obriga esses mesmos produtores a comercializar com bastante rapidez, de forma a evitar perdas dos produtos, considerando que grande parte do que aqui é produzido tem um prazo de validade bastante curto.

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Há que se considerar, no entanto, que essa ausência de empresas de beneficiamento de produtos induz o comércio local, os hotéis e pousadas a comprarem produtos agropecuários fora da região. De certa forma, essa é uma situação paradoxal, pois a região produz uma boa quantidade de produtos agrícolas, além de ser um grande celeiro de peixes marinhos.

O PTDRS estimula, com este programa, a implantação de um sistema de beneficiamento de produtos da agropecuária e da pesca extrativa, visando criar alternativas para os agricultores e pescadores, por um lado, as empresas do setor terciário, de outro, e a população em geral que consome os produtos, incluem-se aí os turistas que já fazem parte do cenário local. Esse programa, no entanto, deve estar intimamente ligado aos programas produtivos.

A ausência de empresas relacionadas ao setor das agroindústrias permite a insuficiência de uma cultura empreendedora nas comunidades rurais e urbanas, onde se concentram os pequenos agricultores e pescadores extrativistas. Essa ausência deixa esses grupos sempre dependentes do comércio in natura dos seus produtos. Um pólo agroindustrial, além de promover a agregação de valor aos produtos existentes, estimula a criação de novos produtos pela demanda do comércio e do turismo, gera novos empregos e renda entre os grupos citados, o que fomenta a fixação do homem no campo, reduz o êxodo rural e a violência que tende a crescer com a falta de oportunidade de trabalho.

Por outro lado, o diagnóstico aponta a comercialização como um dos principais problemas enfrentados pelos agricultores familiares e pescadores artesanais, sendo este responsável por parte da desvalorização dos produtos da agricultura familiar. Entre as principais causas para esses problemas estão: poucas informações sobre o mercado; desregulação da produção, incluindo quantidade e qualidade dos produtos e regularidade da produção.

Há ainda uma grande preocupação das associações dos agricultores e dos pescadores pela forma como esse processo de comercialização está tirando das famílias a relação histórica de troca de bens e serviços a qual, na atualidade, vem sido chamada de economia solidária.

Uma proposta, neste sentido, está sendo analisada dentro da Câmara Temática de Produção, para que uma retomada de ações nesse sentido aconteça de forma sistêmica no território.

Convém considerar que os pequenos agricultores, assim como os pescadores artesanais, são os elos que menos ganham ao longo da cadeia produtiva, em função do grande número de intermediários existentes. No entanto, num olhar para essas cadeias produtivas, percebe-se a grande potencialidade da agricultura familiar e da pesca artesanal, o suficiente para sustentar todas as famílias envolvidas com sobras para abastecer o mercado interno e ainda possibilitar a exportação.

Mas, para que esses produtores e pescadores se adéqüem à realidade desse momento, há a necessidade de que todos estejam capacitados para gerenciar bem seus empreendimentos, passando de simples produtores a empreendedores; isso inclui entender o funcionamento do

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mercado, para que sejam feitas avaliações antes da escolha das atividades implementadas na cadeia, tanto no que se refere à agroindústria quanto à comercialização. Além disso, esses produtores devem ser beneficiados pela assistência técnica e buscarem novas tecnologias que permitam dar produtos mais adequados às necessidades dos consumidores.

Mesmo com todas essas ações, há a necessidade de que esse programa exerça uma ação direta sobre o abastecimento local em cada município, pois este problema atinge, fundamentalmente, a segurança alimentar das classes mais frágeis. Em grande parte desses municípios, os produtos da cesta básica são adquiridos pelo comércio em outras regiões, o que eleva os preços e dificulta o acesso. As feiras são limitadas a apenas um dia em cada semana e os mercados, quando existem, são inadequados às necessidades. Repensar a estratégia atual da comercialização e do abastecimento, é a justificativa da existência desse programa.

7.3.2. Objetivos do programa

7.3.2.1. Objetivo geralImplantar na região um pólo agroindustrial que promova agregação do valor dos produtos extrativos, da agropecuária e da pesca/aqüicultura, com o intuito de beneficiar todos os agricultores familiares rurais e pescadores artesanais da região e promover a inserção competitiva desses produtores no mercado, ao mesmo tempo em que se possa garantir maior disponibilidade de alimentos para as famílias rurais e peri-urbanas de toda a região. Concomitantemente, busca-se fortalecer as relações de economia solidária no território.

7.3.2.2. Objetivos específicos

a) Instalação de agroindústrias de produtos da agropecuária e da pesca;

b) Garantir a articulação direta entre agroindústrias e produtores e entre agroindústrias e os centros de comercialização e abastecimento municipais e regionais;

c) Implantação de centros de comercialização e abastecimento regionais;

d) Mapeamento das cadeias produtivas dos produtos do extrativismo, da agricultura familiar, da pesca artesanal e da aqüicultura;

e) Articulação de demandas de pesquisa e tecnologias de beneficiamento relacionadas aos produtos do extrativismo, da agricultura familiar, da pesca extrativista e da aqüicultura da região;

f) Identificação de parcerias estratégicas para a comercialização dos produtos da agricultura familiar e da pesca da região;

g) Reorganização das feiras e mercados locais de forma a atender a realidade regional;

h) Apoiar a implantação do sistema estadual de comercialização da economia familiar;

i) Implementação e manutenção das feiras de economia solidaria do território;

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j) Fazer interlocução entre as políticas voltadas para a economia solidária no território;

k) Estimular/apoiar as prefeituras na implantação de serviços de inspeção municipal.

7.3.3. Metas e resultados esperadosAs metas estão apresentadas de acordo com os objetivos e serão trabalhadas no período de 2011 a 2015.

a) Elaboração e realização do programa de capacitação para gerentes das agroindústrias, até junho 2011;

b) Realização de quatro capacitações gerenciais básicas para gerentes das agroindústrias, até dezembro de 2011;

c) Construção e implantação de 15 agroindústrias de mandioca e 16 de beneficiamento de polpa frutas regionais;

d) Implantação de 240 unidades agroindustriais familiares de frutas extrativas;

e) Construção de sete unidades de beneficiamento de frutos do mar, sendo 03 de camarão, 03 de pescado e 02 de caranguejo, até 2012;

f) Construção de seis casas de mel e um entreposto de beneficiamento de produtos meliponas;

g) Construção de estruturas de armazenamento ligadas às agroindústrias;

h) Estabelecimento de um programa de qualidade agroindustrial que inclua padronização dos produtos e melhoria da qualidade;

i) Criar um padrão dos produtos com o desenho de um selo e definição de embalagens, em vários tamanhos;

j) Garantir a compra dos produtos da agricultura familiar, do extrativismo, da pesca artesanal e da aqüicultura da região pelas agroindústrias implantadas;

k) Estruturar os quatro centros de comercialização e abastecimento com auditório para reuniões e capacitação para agricultores e pescadores, além de internet para contatos virtuais com outros centros de comercialização;

l) Mapear ou atualizar as cadeias produtivas da fruticultura extrativa, mariscos, pescado, caju, artesanato, caprinos e ovinos, aves, melipona e mandioca;

m) Gestar e implementar um sistema de comercialização on line;

n) Implantar feiras semestrais de economia solidária em cada aglomerado do Território.

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7.3.4. Metodologia e estratégia de implementaçãoA definição das agroindústrias propostas no item sobre as metas desse e dos outros programas inclui: um centro de produção de artesanato; uma beneficiadora de pescados; fábricas de polpa de frutas; indústrias de beneficiamento de mandioca e usinas de reciclagem de lixo. Todas essas empresas serão formadas a partir de cooperativas de produtores que contarão com o apoio das secretarias de agricultura dos municípios. A decisão pela criação de cada cooperativa deve partir dos produtores em conjunto com os técnicos que estão acompanhando esses grupos. Sendo criada uma cooperativa, será criada a agroindústria que terá o apoio da Câmara Temática de Produção e da Câmara Técnica de Desenvolvimento Social, para iniciar o seu funcionamento. Os primeiros momentos dessas agroindústrias dependerão ser de treinamento gerencial e técnico específico para cada caso, além de espaço para funcionamento. Como todas serão atuantes nas suas respectivas cadeias produtivas, as suas unidades de produção serão instaladas nas proximidades da estrutura de gerenciamento, de forma a facilitar o transporte e reduzir custos. Nessa etapa, com apoio das Câmaras Temáticas, serão elaborados os planos de negócios, e os programas de capacitação e comercialização, desenvolvimento de produtos e investimentos e captação de recursos.

Funcionando as agroindústrias, assim como os centros de comercialização e abastecimento, a relação entre essas instituições se dará de forma natural, onde as unidades produtivas entregarão às empresas os produtos in natura os quais serão processados por essas para depois serem enviados aos centros de comercialização, para sua distribuição ao varejo e às pousadas e hotéis da região.

No caso da comercialização, o programa aponta três ações principais. A primeira relacionada com a instalação dos dois centros de comercialização e abastecimento. Esses centros serão instalados estrategicamente nos municípios a definir, de forma a atingir os outros municípios do Território. Nesses centros, ocorrerão as transações comerciais do território, tanto dos produtos in natura quanto na forma beneficiada, pois esses centros estabelecerão relações comerciais com todas as unidades produtivas e com todas as agroindústrias instaladas no seu entorno. Com grande capacidade de armazenamento, esses centros de comercialização serão responsáveis por comercializar os produtos locais para atacadistas e varejistas locais e de fora da região, reduzindo o número de intermediários existentes nas cadeias produtivas. Nesses centros, também ocorrerá o abastecimento local com todas as casas comerciais, incluindo supermercados, mercearias, bares, restaurantes, pousadas e hotéis, comprando ali.

A administração desses centros será de responsabilidade da Câmara Temática de Produção que trabalhará em parceria com as secretarias municipais de agricultura. Logo após a instalação de cada um dos centros, será estabelecido um sistema de informações e monitoramento da produção familiar de toda a região que permita a criação de novas oportunidades de negócios. Esse sistema deve incluir modelos virtuais que permitam trabalhar pela internet todas as atividades dos centros, principalmente a comercialização. Nessa condição, serão feitas todas as capacitações exigidas pelo PTDRS que envolva as cadeias produtivas citadas nesse

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programa. Esses centros também serão responsáveis, a partir dos estudos e monitoramentos, pela experimentação a serem feitas pelos parceiros especializados, buscando encontrar os melhores produtos procurados pelos compradores.

A segunda ação será de responsabilidade das secretarias de agricultura dos municípios. Dessa forma, essas secretarias terão várias atribuições nesse programa. A primeira dessas atividades será a elaboração ou complementação das cadeias produtivas dos produtos mais importantes da região; o trabalho com as cadeias produtivas envolve a reestruturação de algumas delas. A segunda dessas ações será o apoio dado às organizações dos produtores para que possam se estruturar para criar e administrar as agroindústrias que se fixem como elos das cadeias produtivas.

A terceira ação visa reforçar as relações solidárias que existiam historicamente entre os produtores e pescadores no território. Essa ação, baseada na proposta de economia solidária, passa pela implementação de feiras de trocas e de economia solidária já implantadas, seguindo a proposta do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.

A administração dos centros de comercialização procurará aproximar o máximo de instituições que trabalhem com esse tema para contribuir com a Câmara Temática na implementação desse programa; essas instituições podem facilitar a aproximação de empresas comerciais que possam firmar contratos com os produtores, agroindústrias e os próprios centros de comercialização e abastecimento.

7.3.5. Modelo de gestãoAs atividades desse programa serão coordenadas pela Câmara Temática de Produção com apoio decisivo da Câmara Temática de Comercialização que terão como parceiros principais as Secretarias de Agricultura dos Municípios que serão as administradoras dos centros de abastecimento e comercialização em cada município e responsáveis pela elaboração e monitoramento das cadeias produtivas. Todas as atividades deverão ser monitoradas diretamente pelo Núcleo Diretivo do CODETER.

7.4 Programa 4: Turismo

7.4.1 Análise situacionalTorna-se evidente que as características naturais do Território ressaltam o seu potencial turístico. Essa perspectiva enseja um planejamento específico que promova o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável, valorizando e conservando o potencial natural e cultural e gerando benefícios para as populações locais. A atividade turística não deve ser vista, entretanto, como a única a ser fomentada no Território, mas sim como âncora da economia local, estimulando o desenvolvimento de outros setores econômicos. Tais ações devem ter como pilar principal uma destacada presença do Estado, focado notadamente em investimentos na infraestrutura econômica e em mecanismos de fomento da atividade produtiva.

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7.4.2. Objetivos do programa

7.4.2.1. Objetivo geral Promover um conjunto de ações, de forma integrada, voltadas para a dinamização das potencialidades apresentadas para o eixo turismo.

7.4.2.2. Objetivos específicos

a) Implantar, manter e ampliar a infraestrutura de transportes (rodovias, ferrovias, hidrovias e terminais modais);

b) Promover o desenvolvimento do turismo de forma planejada, integrada e sustentável fortalecendo a produção local;

c) Promover o fortalecimento, a qualificação e a articulação institucional, em todos os níveis.

7.4.2.3. Metas e resultados esperados Neste item a estrutura do Documento sofre alterações, pois a planificação está baseada no Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística do Meio-Norte pelo intermédio do Ministério da Integração Nacional. Porém o CODETER não chegou a definir metas e resultados esperados.

Os Projetos estão relacionados aos objetivos, sendo que o cumprimento de todas deve ocorrer na segunda etapa do Plano, entre 2011 e 2015.

a) Integração dos sistemas de transporte federal, estadual e municipal;

b) Garantir a segurança, o conforto, a flexibilidade, a acessibilidade e o custo para os passageiros;

c) Garantir o acesso aos serviços de comunicações tais como: telefonia fixa, móvel e radiocomunicação; banda larga (acesso à internet); serviços postais; telecentros comunitários;

d) Fortalecer a gestão do turismo nas instâncias de governança territorial, estadual e local;

e) Fomentar investimentos em infraestrutura para o turismo;

f) Capacitar recursos humanos para o turismo;

g) Estimular a produção, comercialização e valorização do artesanato regional;

h) Sensibilizar e estimular a cadeia produtiva do turismo para a melhoria dos serviços;

i) Desenvolver o turismo de modo a valorizar as atividades produtivas locais;

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j) Conciliar o uso turístico dos atrativos com as políticas de conservação ambiental e valorização do patrimônio cultural;

l) Apoiar as iniciativas comunitárias locais do desenvolvimento do turismo;

m) Valorizar os atrativos turísticos e incentivar a criação de novos produtos e destinos turísticos;

n) Elaborar plano de marketing turístico para o Território que valorize a cultura, o meio ambiente, a família, os esportes e a alimentação saudável;

o) Combater a exploração sexual das crianças e dos adolescentes nas atividades turísticas;

p) Promover a inclusão das pessoas com deficiência.

7.4.2.4. Metodologia e estratégiaEsse programa seguirá o modelo de gestão do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística do Meio-Norte – PDSRT, que aponta a gestão do plano por meio de um conselho a ser instituído por decreto presidencial, com representação paritária entre a sociedade civil e as representações governamentais. O modelo eleito durante as consultas públicas para realizar esta gestão contará com a participação de 36 membros, sendo 18 na esfera governamental e 18 representantes da Sociedade Civil. Na esfera governamental, a distribuição será feita de forma que cada nível de governo contenha seis representantes.As atribuições do Conselho serão realizar o planejamento integrado entre as esferas de Governo e as esferas setoriais; realizar articulação política viabilizando as ações previstas; definição das ações prioritárias no território e o monitoramento da execução das ações previstas.

O Conselho poderá prever estruturas auxiliares de coordenação regional e instâncias regionais de discussão da implementação do Plano, além da instituição de Câmaras Técnicas para promoção de coordenação e debates em políticas setoriais.

7.5 Programa 5: Pesca e AqüiculturaAs propostas estratégicas vislumbram o atendimento numa visão sistêmica, cujo foco é o meio pesqueiro como modo de vida de uma população, e o meio aquícola como um modo de produção. Desta forma, as propostas procuram traduzir essa visão sistêmica do processo, ou seja, desde as unidades de produção até os processos de consumo. Isto implica na necessidade de investimentos humanos, materiais, financeiros e ações no processo das cadeias produtivas, que resultará em impactos reais nas dinâmicas econômicas do setor.

7.5.1 JustificativaAs estratégias de implantação do Programa estão em consonância com a necessidade de que seja criada uma maior dinâmica das atividades de pesca e aqüicultura no Território, em bases sustentáveis, objetivando elevar os níveis de produtividade marginal da mão de obra, da renda e da competitividade das cadeias produtivas.

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Dessa maneira cabe ao Estado induzir o crescimento econômico, particularmente no que se refere aos investimentos de infraestrutura econômica e social e a respectiva consolidação dos empreendimentos motrizes (CIPAR,TPP,etc.), atuação mais destacada da Secretaria de Agricultura e Pesca do Estado do Maranhão- SAGRIMA, conjuntamente com o Ministério da Pesca e da Aqüicultura - MPA, e uma maior atuação dos Bancos Federais, fornecendo créditos e financiamentos compatíveis com a atividade.

7.5.2 Objetivos do programa

7.5.2.1 Objetivo geralEstabelecer com as famílias pescadoras um modelo de produção sustentável, através de um conjunto de ações que visem o aumento da produção e da produtividade da pesca e aqüicultura.

7.5.2.2 Objetivos específicosRevitalizar a Pesca; Fortalecer as atividades da Aqüicultura ( Maricultura e Psicultura);

Consolidar a cadeia produtiva do caranguejo nos municípios litorâneos;

Fortalecimento das estruturas de mercado no setor pesqueiro;

Conservar e monitorar o controle de recursos naturais;

Fortalecer as ações voltadas para a educação e capacitação.

7.5. 2.3 ProjetosNeste item a estrutura do PTDRS sofre alterações, pois o programa proposto está relacionado às ações do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística do Meio-Norte- Maranhão Piauí e Ceará - elaborado pelo Ministério da Integração Nacional, que prevê ações para os municípios litorâneos do Baixo Parnaíba. Também a Ethos, atual entidade de assessoria do Território, vem desenvolvendo ações pontuais relativas à produção do caranguejo em parceria com o Ministério da Pesca. Baseado nessas informações coube ao CODETER apenas definir os projetos, não sendo possível determinar as metas e resultados esperados.Sendo assim, os Projetos a seguir estão relacionados aos objetivos, e o cumprimento de todos eles deve ocorrer a partir da segunda etapa do Plano, entre 2011 e 2015.

Revitalização da Pesca

1. Projeto de aquisição/construção embarcações de médio porte para pesca artesanal/industrial;

2. Projeto padronização de materiais e artefatos de pesca artesanal;3. Projeto consolidação da cadeia produtiva da pesca;4. Projeto de fomento a empreendimentos coletivos (associativismo e cooperativismo).

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Fortalecimento da Aqüicultura ( Maricultura e Psicultura) 1. Projeto de implantação de tanques redes em comunidades pesqueiras;2. Consolidação da cadeia produtiva sustentável do caranguejo (caranguejo verde).

Fortalecimento das estruturas de mercado no setor pesqueiro

1. Projeto de construção de entreposto de pesca;2. Projeto “coma mais peixe e viva melhor”;3. Projeto mercado livre.

Ampliação das programa de infraestrutura produtiva

1. Projeto beneficiamento e industrialização de mariscos;2. Projeto de implantação da indústria do pescado;4. Projeto fábrica de artefatos de pesca e aqüicultura;5. Projeto instalação de fábricas de gelo.

Conservação monitoramento e controle de recursos naturais 1. Projeto de proteção a nascente dos rios do Território;2. Projeto controle de extração de areia dos leitos e margens dos rios do Território;3. Projeto reflorestamento das matas ciliares;4. Projeto de combate a pesca predatória;5. Projeto educação ambiental permanente.

7.5. 2.4 Metodologia e estratégiaDeve ser priorizada e a estruturação das cadeias produtivas, como a do caranguejo, considerando-se investimentos já realizados no Território. Na área ambiental, as estratégias devem ser voltadas para o ordenamento pesqueiro, combate á pesca predatória e a agressão continuada que sofrem os leitos e margens do rios da bacia hidrográfica do território. As estratégias de inclusão social devem contemplar principalmente inclusão social e a cidadania, assim como a melhoria da infraestrutura social (abastecimento de água, saneamento básico, tratamento de resíduos sólidos) devem ser priorizados. Na saúde, as prioridades envolvem a implantação de postos de saúde nas comunidades pesqueiras e facilidade de tratamento nos hospitais na área urbana. Investimentos em energia devem observar o grande potencial eólico e solar do Território.A gestão será feita por um Conselho de Desenvolvimento Territorial- CODETER e pela respectiva Câmara de Pesca e Aqüicultura.

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8.1 Programa 1: Sustentabilidade ambiental

8.1.1 Análise situacional

Atualmente, em função de alguns programas de desenvolvimento propostos pelos governos estadual e municipal da região do Baixo Parnaíba, tem-se assistido a degradação das matas, chapadas, campos naturais, do Parque

Nacional dos Lençóis Maranhenses e da bacia dos rios principais da região, pondo em risco os recursos naturais e a biodiversidade, intrinsecamente dependentes do bom uso, conservação e preservação desses recursos. O Ministério do Meio Ambiente, para equacionar problemas como esse, da degradação dos recursos naturais, preconiza a intensificação do controle ambiental por meio do fortalecimento da fiscalização, estímulos à legalização das atividades florestais e adoção de tecnologias sustentáveis.

Na maioria das vezes, a exploração dos recursos naturais ocorre sem planejamento e nem visa a produção sustentada. Geralmente, ocorre uma ruptura total dos ecossistemas locais com a substituição, por completo, da vegetação nativa para o uso alternativo do solo. Uma combinação de fatores econômicos e sociais condiciona esse processo de exploração do meio ambiente que resulta na sobreutilização e predação dos recursos hídricos e florestais.

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Os problemas mais graves em relação às bacias desses rios decorrem, em ordem variável de importância, segundo às diferentes situações que vão desde o desmatamento das suas margens, da erosão dos solos nas proximidades dos rios secundários, da adoção de práticas agrícolas não apropriadas, da contaminação da água, das construções nas proximidades das margens, da retirada de areia dos leitos e de argila das proximidades, até a localização das unidades industriais e controle de efluentes e esgotos domésticos inadequados, enfim, devido à falta de uma gestão adequada dos recursos hídricos.

Por outro lado, o uso sustentável e a valorização dos recursos florestais como geradoras de emprego e renda, produtoras de bens e de serviços ambientais, constituem a forma mais apropriada de se promover a proteção do patrimônio florestal e da beleza cênica.

O desmatamento, autorizado ou não, promove a retirada das frutíferas nativas da região que possuem, além de grande importância ambiental, um referencial alimentar e econômico, pois parte dessas frutas são utilizadas na alimentação dos membros das famílias rurais e Peri-urbanas, além de serem comercializadas para ajudar na composição da renda familiar.

Um dos desafios para o desenvolvimento sustentável dos municípios do Baixo Parnaíba é o de dinamizar as atividades agropecuárias, comércio, serviços, industriais e o turismo, com vista a extrapolar as funções administrativas dos municípios, muito dependentes do governo central e do governo estadual. É preciso planejar e manejar, de forma integrada, os recursos naturais, a ocupação do solo e uso de recursos hídricos, considerando-se o aprimoramento dos sistemas produtivos e as peculiaridades geoambientais. É, também, fundamental a educação ambiental para a conscientização, organização e fortalecimento dos atores da sociedade, com vistas à gestão descentralizada e participativa. É por esses motivos que o PTDRS está propondo um programa de sustentabilidade ambiental.

8.1.2 Objetivos do programa

8.1.2.1 Objetivo geral Integrar desenvolvimento socioeconômico e produtivo do Baixo Parnaíba com a conservação dos recursos naturais, promovendo a recuperação das áreas degradadas e buscando desenvolvimento sustentável norteado pelos princípios da agroecologia.

8.1.2.2 Objetivos específicosElaborar um diagnóstico dos ecossistemas da região, identificando o patrimônio natural

e as situações de degradação;Estabelecer planos de manejo para as áreas de preservação existentes, incluindo novas

áreas propostas no plano;

Sensibilizar os moradores da região por meio da educação ambiental, quanto à necessidade de respeitar as áreas de preservação, de acordo com a legislação vigente;

Promover a recuperação de áreas degradadas, particularmente aquelas próximas dos cursos d’água;

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Estimular e fomentar a rearborização das áreas urbanas e peri-urbanas;

Adotar técnicas para a destinação adequada dos resíduos sólidos: coleta seletiva, reutilização e reciclagem;

Implantar roças anuais, com técnicas agroecológicas relacionadas ao controle do fogo e técnicas de recuperação e conservação dos solos, com o uso de leguminosas (cobertura verde e morta) e adubação orgânica;

Mitigar e eliminar os impactos negativos das atividades agropecuárias (das quais promovem a degradação ambiental) por meio de estímulos às cadeias produtivas, baseadas em sistema de produção agrosilvipastoris orgânicos;

Apoiar as iniciativas econômicas e sociais das populações rurais mediante o uso racional e sustentável de espécies florestais, especialmente do bacuri, pequi, buriti e da carnaúba, contemplando a formalização das atividades para o desenvolvimento das cadeias produtivas;

Prevenir e reprimir a extração predatória dos recursos florestais com o apoio das populações extrativistas e dos órgãos ambientais competentes;

Ampliar a base florestal mediante manejo, enriquecimento das matas e plantios nas comunidades

Incluir na grade curricular das escolas de ensino fundamental a disciplina da educação ambiental fomentando, também, a capacitação dos professores, com ações na área durante o ano todo;

Revitalização das bacias hidrográficas do Território.

8.1.3 Metas e resultados esperadosAs metas desse programa estão estabelecidas dentro de um período variável, no prazo de implantação desta segunda fase do Plano, ou seja, 2011 a 2015. São elas:Promover quatro cursos de educação ambiental a cada semestre, envolvendo as

crianças, jovens e adultos e realizar oficinas práticas de conservação dos recursos naturais integrados aos cursos de educação ambiental. Como resultado, ter-se-ão famílias capacitadas, sensibilizadas com a questão ambiental e utilizando de forma racional os recursos naturais;

Adequação do viveiro proposto no Programa de Produção Agropecuária para produção de 3.000 mudas de espécies nativas (fruteiras e madeiras) anuais para viabilizar o reflorestamento das florestas nativas, matas ciliares, áreas de reserva legal, encostas, para controlar a erosão e áreas de manejo de frutas nativas;

Implantação de seis áreas de cultivos agroecológicas, até dezembro de 2011, em

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municípios diferentes que sirvam como modelos para implantação de uma proposta de transição agroecológica na região;

Implantação de um projeto agrossilvopastoril na região, até 2012;

Plantar 2.000 mudas anuais de plantas frutíferas e melíferas, de valor comercial, nas áreas de preservação permanente e nas áreas degradadas;

Monitorar a cobertura vegetal dos municípios durante os dois primeiros anos de implantação do Plano;

Analisar as políticas públicas municipais relacionadas à questão ambiental e propor alterações, se necessárias, às peculiaridades municipais e regionais, até dezembro de 2011;

Implantar 24 áreas de manejo extrativista do bacuri, pequi, buriti e da carnaúba, em conformidade com a legislação ambiental, para uso das folhas para artesanato;

Construção de uma usina de reciclagem/compostagem de lixo em cada município do Território.

8.1.4 Estratégia de implementaçãoA estratégia de implementação deste programa segue uma dinâmica própria. Na primeira etapa, será feito um diagnóstico do patrimônio natural da região, usando as informações já existentes nas secretarias de meio ambiente dos municípios, contando ainda, com dados do Laboratório de Geoprocessamento da UEMA e do IMESC. Com esse diagnóstico, será possível estabelecer um plano de manejo de todas as unidades de conservação existentes e propor outras unidades no Território, aproveitando-se da legislação estadual e municipal.Para que a população esteja acompanhando a execução do programa, será ministrado um conjunto de capacitações em educação ambiental a cada semestre, especialmente voltado para crianças, jovens e educadores os quais serão potenciais replicadores das propostas do programa.

As Secretarias de Agricultura de cada município serão responsáveis pelo estabelecimento de uma metodologia para implantação de atividades agrosilvipastoris nas áreas produtivas, o que inclui as áreas de cultivo (roças) agroecológicas e a reafirmação do viveiro de mudas. Com a identificação das áreas onde será possível a instalação de projetos extrativistas, as equipes poderão definir o tamanho de cada uma dessas áreas, dependendo da quantidade de frutos e palhas e do número de famílias que deverão trabalhar nessas áreas. Todos os projetos serão monitorados permanentemente para que seja possível administrar o uso e os impactos que o manejo dessas culturas pode causar.

Ao considerar o lixo, especificamente os resíduos sólidos, como um problema crucial para que esse programa tenha relevante êxito, passa a ser fundamental que cada município instale uma

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usina de reciclagem e compostagem, como forma de aproveitar o lixo que poderia estar sendo posto em lixões ou outros locais, levando à contaminação do solo e dos lençóis freáticos.

8.1.5 Modelo de gestãoEsse programa será coordenado pelo CODETER, através do seu Núcleo Diretivo com apoio técnico da Câmara Temática do Meio Ambiente. No entanto, a responsabilidade pelas ações municipais caberá às Secretarias de Meio Ambiente. Se necessário, devem ser contratados consultores especialistas em recursos hídricos, manejo de florestas e resíduos sólidos. A Câmara Temática será responsável por definir as atividades técnicas e os projetos necessários para o bom andamento do programa.

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9.1 Programa 1: Promoção do Acesso á Terra

9.1.1 Análise situacional

O diagnóstico apresentado na primeira parte desse trabalho é claro na demonstração da falta de terras aos moradores da zona rural, em todos os municípios desse Território. Desde o século XVI, as ações governamentais

não estiveram relacionadas à regularização das muitas posses de moradores históricos da região. Ao longo desses cinco séculos, o que se viu foi um aumento sistemático da quantidade de trabalhadores sem terras. A ausência de qualquer tipo de ação dos governos, nas suas três instâncias, retira dessas famílias o primeiro item de qualidade de vida: o acesso à terra.Dessa forma, criou-se uma estrutura social caracteristicamente formada por pequenos produtores e pescadores artesanais, descendentes dos negros escravos, índios e trabalhadores históricos da cana-de-açúcar, do arroz e do gado que, mesmo tendo acesso à terra, não possuem títulos para lhes garantir acesso ao crédito rural de maior porte e a outras políticas sociais.

Na década anterior, a cobrança dos trabalhadores, através dos STTR’s / Pólo Sindical / FETAEMA, fez com que os órgãos responsáveis pela reforma agrária assumissem a responsabilidade de desapropriar terras (INCRA), mas, principalmente, de regularizar terras. Mesmo sem políticas que garantam o crédito, a assistência técnica foi um primeiro passoi dado, como se percebe no Quadro 2.

Mesmo com essa quantidade de projetos de assentamentos apresentado no quadro 2, ainda há um grande número de famílias sem terra que moram na periferia das áreas urbanas, continuam vivendo em terras sem título ou são parceiros ou arrendatários

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em terras de outras comunidades ou mesmo na própria comunidade onde moram.

Muitas dessas famílias lutam há bastante tempo para obter a titulação das suas terras ou cobram dos órgãos da reforma agrária terras em que possam morar e trabalhar – o número de famílias sem terra é de mais de 45.000 (IBGE, 2008), em todos os municípios do território.

Acrescenta-se, nesse quadro, a necessidade de regularização fundiária das comunidades quilombolas, pois a grande maioria não tem seu reconhecimento garantido pela Fundação Palmares e nem o processo de regularização de responsabilidade do INCRA.

Ressalta-se ainda que a regularização fundiária realizada pelo ITERMA e a distribuição de terras feita pelo INCRA na região, apesar do impacto positivo na desconcentração fundiária, reduzindo a relação existente até a década de 1980, não fomentaram mudanças efetivas nas condições socioeconômicas das famílias moradoras e, tampouco, na economia dos municípios.

Para facilitar o entendimento deste quadro, a região apresenta uma baixa densidade demográfica, como já foi apresentado anteriormente, onde se cruzam a área dos municípios com a população residente. À exceção de Tutóia, todos os municípios possuem uma densidade abaixo de 30 pessoas por hectare, sendo os mais próximos os municípios de Brejo (29,24 hab/km²) e Água Doce (27,49 hab/km²). Mas, por outro lado, os municípios de Santana (7,44 hab/km²), Belágua (9,32 hab/km²) e Milagres (11,86 hab/km²) possuem uma densidade demográfica abaixo ou próximo de 10 hab/km².

Como essa região tem um relativo equilíbrio entre a população urbana e rural, percebe-se que a densidade demográfica não é um complicador para a execução de um programa de reforma agrária, pois isso reflete a grande possibilidade da obtenção de terras – é importante relacionar que o estado do Maranhão tem uma baixa densidade demográfica e essa região é uma das menores. O impedimento é a insuficiência de terras para assentar as famílias hoje consideradas arrendatárias, parceiras ou posseiras, condição que deve ser bem analisada pelo CODETER e pelos órgãos da reforma agrária. Não se pode deixar de ressaltar que há algumas áreas de preservação permanente cuja presença no programa de arrecadação de terras deve ser vetada, apenas no processo de regularização fundiária.

9.1.2 Objetivos do programa

9.1.2.1 Objetivo geral Garantir o acesso à terra a todas as famílias de agricultores sem terra moradoras do Território do Baixo Parnaíba Maranhense.

9.1.2.2 Objetivos específicosa) Reduzir a concentração fundiária da região;b) Garantir maior quantidade de área aos agricultores cujas propriedades são minifúndios e não conseguem ter área em condições de produzir com efetividade;

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c) Permitir que agricultores sem terra tenham acesso à terra de forma coletiva, para plantar, de forma temporária, até que consigam a posse definitiva;

e) Organizar um banco de dados na sede do Colegiado Territorial, com cópias em todas as secretarias de agricultura dos municípios, com o cadastro de todas as propriedades rurais da região, incluindo as parcelas dos projetos de assentamento;

f) Contribuir com o programa nacional de reforma agrária através da redução do número de famílias sem terras;

g) Garantir a titulação das terras quilombolas;

h) Reduzir o êxodo rural na região.

9.1.3 Metas e resultados esperadosa) Criar, com o INCRA, 16 projetos de assentamento na área dos municípios do Baixo Parnaíba, até dezembro de 2015, que permitam assentar até 1.600 famílias;

b) Regularizar, com o ITERMA, a posse de 80 comunidades na área do Território para assentar 1.800 famílias até 2015;

c) Regularizar, através do ITERMA e do INCRA, todas as comunidades quilombolas até 2020;

d) Beneficiar 50 famílias anualmente, com aumento de suas propriedades, com arrecadação de terras ou através de regularização fundiária;

e) Por meio da Câmara Temática Territorial, organizar um banco de terras até dezembro/ 2015;

f) Cadastrar todas as propriedades rurais da região até dezembro/2013.

9.1.4 Estratégia de implementaçãoConsiderando que todo este trabalho tem um caráter territorial, as ações relativas a esse programa deverão ser executadas paralelamente em todo o território estudado. Dessa forma, sob a coordenação do Colegiado Territorial, e com efetivo apoio da instituição responsável pelo acompanhamento do Plano, e ainda, da Delegacia Regional do MDA, as atividades serão implantadas pelas instituições parceiras que estejam trabalhando diretamente com a temática. A principal detentora de experiência nessa área é o INCRA, mas também o ITERMA; aproveitando a experiência adquirida das secretarias municipais de agricultura e da AGERP, pode fazer o acompanhamento das famílias nas primeiras etapas da instalação dos projetos de assentamento. Deve- se considerar também a histórica experiência dos movimentos sociais ligados aos agricultores, especialmente os STTR’s e o Pólo Sindical da FETAEMA.A primeira etapa a ser desenvolvida será o cadastramento de todos os agricultores sem terra desses municípios, incluindo as famílias que moram nas cidades, mas trabalham na área rural. Esse trabalho pode ser feito pelas secretarias municipais de agricultura, apoiadas pelo ITERMA e pelos STTR’s e SINTRAFs.

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É importante lembrar que o INCRA já possui um cadastro das famílias inscritas no programa nacional de reforma agrária.

Com um cadastro único ficará mais fácil controlar quem, efetivamente, está na condição de sem terra. A esse cadastro seria acrescentada a lista de todos os proprietários rurais que possuírem áreas menores que um módulo rural e que precisam de maior quantidade de área para produzir, mediante as difíceis condições biofísicas da região.

Na medida em que esse cadastro for sendo elaborado, um banco de dados será construído com a caracterização de todas as propriedades rurais da região, por município. Esse cadastro permitirá que as secretarias de agricultura possam acompanhar a evolução mensal de cada propriedade, incluindo a previsão de safra, mas, principalmente, a área ocupada, de modo a permitir o acompanhamento da área plantada, em descanso, ou improdutiva. Esse acompanhamento é fundamental para a intervenção do Colegiado Territorial, do ITERMA, INCRA e de cada secretaria municipal de agricultura, no sentido de apoiar os agricultores, buscando garantir a permanência na terra de cada uma dessas famílias, reduzindo o êxodo rural e criando condições para a melhoria da qualidade de vida.

Em paralelo, deverá haver uma pressão sobre os órgãos da reforma agrária para que encaminhem ou agilizem o processo de regularização das comunidades quilombolas, considerando a lentidão que caminham esses órgãos que deixam alguns processos parados por longos períodos. O Colegiado Territorial deverá criar uma forma de estar mais presente nesses órgãos para evitar que a lentidão em que trabalham seja reduzida ao máximo.

Às famílias que não possuem nenhum tipo de terra, as secretarias municipais farão a cessão temporária de terras públicas ou privadas – conseguidas junto aos governos (municipal, estadual ou federal), empresas privadas, ou a qualquer outra instituição que possa contribuir com esse tipo de programa – para que esses trabalhadores possam plantar algum tipo de cultura de ciclo curto, de forma a produzir alimentos às famílias e alguma renda, enquanto aguardam o processo de assentamento. Para isso, a secretaria, junto com as instituições parceiras, deve garantir, além da terra, os equipamentos e insumos necessários ao plantio e tratos culturais, além de garantir a compra de todo o excedente para os programas sociais das prefeituras.

Enquanto os sem terra não obtêm a posse definitiva de alguma parcela, o Colegiado Territorial se esforçará para listar as terras disponíveis da região de forma a compor um banco de terras, que poderá ser a referência para assentar muitas das famílias naquelas condições. Para isso, será fundamental a articulação do Colegiado Territorial com as instituições parceiras – especialmente os STTR’s e SINTRAFs – e proprietários da região. A disponibilidade das terras, através deste banco, não significa retirar a responsabilidade dos órgãos responsáveis, mas sim apoiá-los, de forma a aumentar a quantidade de famílias assentadas, contribuindo, decisivamente, com o programa nacional da reforma agrária.

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Apesar do objetivo principal do plano ser o fortalecimento das propriedades rurais existentes, incluindo os projetos de assentamento, cabe perfeitamente o acréscimo de mais assentamentos na região, considerando que em alguns desses municípios não há nenhum projeto e a quantidade de famílias cadastradas não possuidoras de terra ainda é muito grande, cabendo pelo menos doze assentamentos a serem implantados pelo INCRA. Esses assentamentos deverão ser instalados a partir de definições conjuntas com prefeituras e movimentos sociais para evitar atropelos que causaram os problemas dos assentamentos já implantados. Para isso, devem ser organizados grupos de cadastrados, se possível, juntando-se famílias que possuam afinidades entre si, sejam oriundas da agricultura familiar e estejam dispostas a assumirem as propostas técnicas consideradas no programa de reengenharia dos assentamentos e das comunidades tradicionais. Devem estar dispostas a passarem por um conjunto de capacitações de forma a estarem aptas a executarem as atividades relacionadas com todo o processo de produção agrícola – do preparo do solo até a comercialização, mas também, com organização e gestão de associação.

9.1.5 Modelo de gestão Esse programa do PTDRS será administrado pelo Colegiado Territorial em parceria com os órgãos responsáveis pela reforma agrária (ITERMA e INCRA). Para a sua implementação, há a necessidade da participação de todas as secretarias municipais de agricultura dos municípios. O cadastramento das famílias será feito pelas secretarias de agricultura que repassarão as informações ao INCRA, ao ITERMA e ao Colegiado Territorial. Nesse último, será montado o banco de dados. A obtenção de imóveis será feita pelo INCRA.

9.2 Programa 2: Renovação da educação rural

9.2.1 Análise situacionalOs municípios estudados nesse trabalho possuem, de acordo com o IBGE (2009), uma população de 376.126 habitantes, com uma taxa de urbanização de pouco mais de 44%. Apesar da quantidade de moradores da área urbana ser menor, os serviços públicos chegam a esses moradores de forma diferenciada. Como a zona urbana aglomera as famílias de maneira mais densa, há, por esse motivo, maior disponibilidade de ações por parte dos governos, relegando à área rural poucos recursos. Em relação à educação, isso se apresenta, na prática, com escolas mais aparelhadas e professores mais qualificados na zona urbana, considerando-se uma relação custo-benefício. Mesmo identificando marcantes diferenças entre as duas áreas, o modelo proposto é o mesmo, incluindo currículo e calendário. É fundamental lembrar que no Maranhão a assistência técnica oficial é praticamente inexistente, de modo que a capacitação técnica de jovens e adultos, quando ocorre, é feita em desacordo com as necessidades e capacidades dos agricultores e pescadores.Assim, pode-se fazer pelo menos quatro afirmações sobre a educação que é dada para os moradores da área rural desse Território. Primeiro: os investimentos municipais feitos na educação rural não apresentam foco; segundo: como está posto no documento do Plano

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Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (PNDRS), as principais políticas estabelecidas para este setor - flexibilização da legislação, descentralização dos recursos, formação dos professores, definição de parâmetros curriculares – pouco alcançam os municípios menores desse Território; terceiro: as ações fundamentais, que deveriam conter o analfabetismo, têm tido pouco efeito, tanto que o percentual de 59.81% insiste em se manter em pleno século XXI; quarto: a capacitação dos trabalhadores rurais e pescadores têm sido feita a partir de ofertas das instituições capacitadoras e não da demanda efetiva gerada por estes.

Ressalta-se que as políticas de educação estabelecidas, a partir do governo federal, não foram seguidas por políticas municipais ou estaduais, sendo assim o calendário estabelecido para as escolas da “área rural”, o mesmo da “área urbana”, bem como o currículo proposto. Entende-se que esses dois fatores são geradores do principal problema apresentado pelas escolas da zona do interior: o abandono, tanto por parte do jovem que está situado na segunda fase do ensino fundamental (5a a 9a ano) quanto daqueles jovens e adultos que freqüentam as turmas de educação de jovens e adultos (EJA). Informações de técnicos ligados às secretarias de educação dos municípios apontam a necessidade de trabalhar na roça ou na pesca e a falta de estímulos como sendo os motivadores do problema citado.

Os debates com representantes das secretarias de educação dos municípios apontam poucas saídas de curto prazo. Em princípio, a falta de estrutura nessas secretarias aliada a pouca qualificação dos recursos humanos disponíveis inviabilizam a promoção de mudanças de grande porte. Deve ser levado em conta, ainda, que as políticas nem sempre encontram nos municípios as condições ideais para serem postas em prática em função também da infra-estrutura existente.

Nessa situação, sente-se uma premente necessidade de renovação da educação rural. Isso implica mudar o modelo existente para romper com os problemas citados. Claro está que isso não pode ser feito apenas pelas secretarias de educação dos municípios com a pequena estrutura que dispõem. Há a necessidade de se formar um amplo leque de parcerias, incluindo-se instituições que possuam experiências acumuladas em educação rural e desenvolvimento. O PNDRS aponta para um modelo que possa aliar as ações das experiências pedagógicas de alternância com metodologias que trabalhem conhecimento-análise-transformação. As discussões com o Colegiado Territorial apontam na direção das escolas da região que utilizam a pedagogia de alternância como sendo o referencial para o desenvolvimento desse programa.

A pedagogia da alternância consiste em proporcionar aos alunos, principalmente os jovens, um tipo de escola onde ele passe apenas um período alternado com outro período na propriedade dos seus pais. Assim, o calendário é adaptado às necessidades da região de acordo com o tipo de cultura e criação mais utilizada. O currículo é trabalhado em função da realidade local. Há uma completa integração entre o ensino básico e a formação profissional. No fundo, a missão desse tipo de escola promove uma dupla valorização: das pessoas a partir de sua situação de vida e dos recursos de um território, com um diagnóstico proveniente de pesquisa participativa.

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As metodologias que associam o conhecimento-análise-transformação promovem o envolvimento dos pais e comunidade com a escola, fortalecendo a cultura e os valores locais e criando atitudes de transformação e mudanças para garantir o reforço ao rural à agricultura e à pesca e a importância que já não possuem na vida dos jovens.

Esse programa deve ser amplo bastante para atingir todo o meio rural, mas ser ampliado para setores da faixa litorânea onde estão encravadas as moradias dos pescadores. Porém, não deve ficar restrito aos jovens, mas alcançar as crianças, desde a mais tenra idade, e os adultos que não tiveram a oportunidade de estudar. Em qualquer caso, devem vincular as pessoas ao meio onde vivem, fortalecer os laços com o meio ambiente e reforçar a cultura local.

9.2.2 Objetivos do programa

9.2.2.1 Objetivo geral Estabelecer um novo modelo de educação rural que reverta o quadro de analfabetismo vigente e da baixa qualificação de jovens e adultos, fortalecendo a auto-estima da população e a identidade local.

9.2.2.2 Objetivos específicos

a) Estabelecer parcerias entre escolas/secretarias de educação com organizações não governamentais para ampliação da rede de ensino;b) Valorizar os processos educativos populares com base nos conhecimentos e valores das populações, tendo a pedagogia de alternância como referência;

c) Promover a universalização do ensino fundamental a partir de uma proposta curricular contextualizada;

d) Melhorar a qualidade do ensino médio;

e) Instituir o ensino profissionalizante associado à educação formal e popular para ampliação da educação escolar das famílias agricultoras e pescadoras;

g) Ter uma proposta pedagógica local, caracterizando as especificidades do território;

h) Implementar a profissionalização e a requalificação de jovens e adultos através do PRONERA, Projovem Rural, Saberes da Terra e Brasil Alfabetizado;

i) Estabelecer escolas de ensino fundamental e médio de pedagogia de alternância nos municípios do Território.

9.2.3 Metas e resultados esperadosAté 2015, esse programa pretende alcançar as seguintes metas:

a) 50% das escolas dos municípios do Território deverão estar reclassificadas territorialmente, sendo contextualizadas para esse novo modelo de educação, o que inclui a elaboração de planos pedagógicos específicos;

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b) Instalação de oito Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA), nos municípios do Território;

c) Instalação de um CEFFAs do Mar;

d) Inclusão da disciplina “meio ambiente e agroecologia” nas escolas inseridas nas comunidades, onde predomine a produção/extrativismo agrícola e a disciplina “pesca e aqüicultura” nas escolas onde predominar a produção/extrativismo do pescado e mariscos;

e) Implantação de um Centro Familiar de Formação por Alternância de nível médio em cada aglomerado do território, com cursos voltados para a agropecuária, agroecologia, pesca e turismo;

f) Elaboração de uma proposta pedagógica específica para as escolas rurais já instituídas do território;

g) Instalação de um campus universitário da UEMA, com cursos que forme monitores em pedagogia de alternância e profissionais relacionados à agropecuária, pesca/aqüicultura e turismo.

9.2.4 Estratégia de implementaçãoA Câmara Temática de Educação, com os dados das Secretarias Municipais de Educação e o apoio da Célula de Acompanhamento e Informação, farão o levantamento de todas as escolas da região, analisando as condições ambientais, econômicas e sociais dos locais onde cada uma esteja implantada, formulando um mapa regional que permita classificá-las. Em seguida, sem fugir às determinações das leis federais e estaduais, devem ser elaborados planos pedagógicos adequados às condições de cada escola.Em paralelo, a Câmara Temática trabalhará para atrair para a região organizações não governamentais que, tendo experiência com educação alternativa popular, possa implantar na região algum tipo de metodologia que associa o conhecimento-análise-transformação, apoiando as escolas de referência, as quais serão instaladas em comunidades tradicionais/assentamentos, com localização mais estratégica. Ao mesmo tempo, com apoio das Prefeituras Municipais, da Secretaria de Estado de Educação e do MDA, serão instalados 08 CEFFA’s de nível fundamental, seguindo uma sequência determinada pelo Colegiado Territorial. Antes da implantação do primeiro desses novos CEFFA’s, será feita uma profunda avaliação dos CEFFA’s já existentes, inclusive com apoio externo. Nos mesmos moldes, será instalado o CEFFA de nível médio.

O campus universitário virá como complemento das ações a serem desenvolvidas pelo Colegiado Territorial que, para isso, fará negociações com a UEMA até que haja um bom acordo.

Ficará a cargo das Secretarias de Educação dos municípios, apoiadas pelos Conselhos Municipais de Educação e pela Câmara Temática de Educação, a definição de quais cursos profissionalizantes devem ser implantados nos programas de educação para jovens e adultos.

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Com apoio das organizações com experiência no assunto, esses programas serão implantados paulatinamente com a efetiva participação das associações de moradores das comunidades tradicionais/assentamentos de reforma agrária.

9.2.5 Modelo de gestãoA responsabilidade pela execução desse programa ficará com a Câmara Temática de Educação. A coordenação geral, feita pelo CODETER, inclui a definição das linhas gerais e a articulação com instituições parceiras e com prováveis novas participantes do programa. Quando houver necessidade, a Câmara Temática contratará profissionais especializados que, através de consultorias, exercerão funções que não possam ser executadas por profissionais do CODETER. À Câmara Temática cabe a elaboração de projetos e propostas pedagógicas, a preparação do material didático necessário aos projetos e toda a coordenação técnica e implantação dos projetos.

Nos municípios, a coordenação será feita pelas Secretarias Municipais de Educação que deverão ter o apoio de outras secretarias e/ou instituições locais, sempre que houver necessidade, sendo que a fiscalização e o acompanhamento dos projetos devem ser feitos pelo Conselho Municipal de Educação.

9.3 Programa 3: Valorização e fortalecimento das riquezas culturais

9.3.1 Análise situacionalA região do Baixo Parnaíba tem uma dinâmica polivalente no que se refere ao tipo de exploração do seu território baseada, principalmente, na agricultura familiar e na pesca extrativista. Nos últimos anos, contando a partir da década de 1990, a porção litorânea do território passou a receber um grande contingente de turistas interessados em aproveitar as belezas naturais do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, aproveitando, também, das condições do terreno para a prática de esportes radicais. Essa diversificação da economia estimulou muitos trabalhadores a desenvolverem atividades pouco representativas até pouco tempo, como é o caso do artesanato feito com produtos locais. A quantidade de manifestações culturais desenvolvidas nas comunidades tradicionais, que incluem danças típicas e festas comunitárias, em períodos específicos, favoreceu a existência de uma culinária e um artesanato próprio da região, mesmo sem o apoio do poder público, à exceção dos festejos tradicionais do São João e do carnaval.

É com a finalidade de intensificar e ampliar a diversificação das economias da região, ou seja, dos assentamentos da reforma agrária, das comunidades rurais e dos aglomerados urbanos onde vivem os pescadores extrativistas dos municípios da região, são considerados como fator de dinamismo e desenvolvimento para a região o qual este programa deve compreender.

As atividades aqui propostas englobam o ecoturismo, já praticado nos Lençóis, o turismo rural já executado em vários municípios, além do fortalecimento do artesanato e a valorização das manifestações culturais será fundamental à própria dinâmica do desenvolvimento regional.

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Para isso, será necessário que as manifestações culturais sejam vistas com uma perspectiva de riqueza regional, pois só assim elas podem ser apresentadas de forma sistêmica, dentro e fora do território, e não só em períodos especiais, mas durante todo o ano. Dessa forma, a riqueza cultural que vem sendo deixada de lado pela juventude, pode se tornar uma atividade econômica e cuja manutenção pode ser realizada por parte dos mais jovens. Propostas inovadoras como as contidas nesse programa deverão estar articuladas com outras que estão sendo ou serão desenvolvidas nos outros programas apresentados nesse plano. Assim, o ecoturismo, o turismo rural, o centro de produção de artesanato são atividades que exploram o patrimônio natural e cultural da região, exigem uma articulação com a produção agropecuária feita de forma sustentável, o que de certa forma tangencia todos os programas. A grande vantagem do Território para a implantação de um programa como esse está na existência de várias atividades, já em andamento em todos os municípios.

9.3.2 Objetivos do programa

9.3.2.1 Objetivo geral Valorizar as manifestações culturais da região e fomentar as atividades que permitem a diversificação das economias rurais como forma de fortalecer a cultura regional e incrementar renda às populações locais.

9.3.2.2 Objetivos específicos a) Criar, na área rural dos municípios, infra-estrutura básica que permita a instalação de pequenos negócios familiares relacionados ao turismo, à gastronomia e ao artesanato local;b) Elaborar um diagnóstico das manifestações culturais, identificando todo o patrimônio material e imaterial do território;

c) Fomentar o turismo rural e o ecoturismo como atividades econômicas das comunidades tradicionais, onde houver condições naturais;

d) Garantir a preservação dos recursos naturais utilizados nas atividades culturais e lazer;

e) Estimular a produção artesanal na região;

f) Garantir nos municípios com características turísticas condições para apresentação permanente dos produtos da cultura regional.

9.3.3 Metas e resultados esperadosComo nos programas anteriores, neste também, as metas estarão relacionadas ao período de referência da implementação deste Plano que vai de 2011 até 2015.a) Levantamento, até dezembro/2011, das áreas específicas para implantação de projetos de turismo rural e ecoturismo;

b) Promoção de uma capacitação em empreendedorismo rural em cada município do território, até dezembro/2012;

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c) Instalação de quatro centros de comercialização de artesanato;

d) Instalação de 16 centros culturais nos municípios da região;

e) Promoção de uma capacitação sobre valorização das manifestações culturais locais em cada município do território;

f) Instalação de casas do artesão com respectivos espaços de comercialização, em cada um dos 16 municípios do território.

g) Implementação de um circuito cultural com as festas históricas existentes na grade cultural da região.

9.3.4 Estratégia de implementaçãoA lógica deste programa é relacionar as atividades culturais históricas existentes na região como atividades econômicas, pois dessa forma será possível estimular a valorização, relacionando com outras atividades que permitam a diversificação das economias rurais. Para isso, o CODETER, com apoio das secretarias de cultura e de turismo dos municípios e efetiva participação da Célula de Acompanhamento e Informação, fará o levantamento das áreas onde possam ser desenvolvidos projetos relacionados a esse programa.Concomitantemente, as secretarias de cultura municipais e a equipe técnica da Célula de Acompanhamento e Informação farão o levantamento das manifestações culturais dos municípios, identificando a condição atual de cada uma e a potencialidade para participar do programa. Esse diagnóstico procurará identificar, também, as comidas típicas da região que poderão estar disponíveis num cardápio a ser apresentado durante as programações culturais a serem implantadas num circuito regional.

Usando esse documento como referência a Câmara Temática do Turismo e Cultura juntamente com as Secretarias Municipais de Agricultura e de Infra-estrutura, estabelecer-se-á um cronograma para a definição de projetos de infra-estrutura básicos necessários nos locais onde serão implantadas as atividades desse programa.

Com isso definido, será preciso caracterizar a responsabilidade pela execução dessas ações a nível local, devendo ser feitas reuniões com associações de moradores para que, nas áreas rurais (comunidades tradicionais ou assentamentos de reforma agrária) ou urbanas,onde possam ser instalados esses projetos, sejam constituídas cooperativas que administrem as atividades. Essas cooperativas, depois de criadas, deverão ter seus diretores e demais membros cooperados capacitados para o desenvolvimento das suas atividades.

9.3.5 Modelo de gestãoEsse programa será coordenado pelo CODETER, a nível territorial, e, no plano local, pelas Secretarias de Cultura e de Turismo que trabalharão com as associações e cooperativas locais. A Câmara Temática de Agricultura e de Turismo será responsável por definir as atividades mais técnicas e os projetos necessários para o bom andamento do programa.

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9.4 Programa 4: Saúde e saneamento

9.4.1 Análise institucionalAs questões da saúde na região, apresentadas no diagnóstico, apontam problemas que necessitam ser resolvidos urgentemente, a começar pela infra-estrutura que é mínima na área rural, seja em relação à água potável, instalações sanitárias ou à coleta de lixo, sempre com baixa disponibilidade nas residências da região. Os gastos com saúde pública ainda são insuficientes e impedem que haja uma cobertura total das famílias, essas desassistidas por políticas públicas de saúde básica e preventiva.

Essa deficiência de infra-estruturas de saneamento e a pouca qualidade da saúde preventiva aliada a pouca quantidade de estruturas relacionadas à saúde curativa exigem que o PTDRS tenha um programa de saúde e saneamento.

9.4.2 Objetivos do programa

9.4.2.1 Objetivo geral Proporcionar condições para que o desenvolvimento proposto neste Plano aconteça de forma a manter e melhorar a saúde das populações do Território do Baixo Parnaíba.

9.4.2.2 Objetivos específicos

a) Melhorar as condições de funcionamento dos estabelecimentos de saúde da região;b) Estender o acesso à saúde a todos os habitantes da área rural do Território;

c) Recolher e tratar o lixo das áreas urbanas;

d) Garantir água potável às famílias do Território;

e) Fomentar o uso de instalações sanitárias em todo o Território.

9.4.3 Metas e resultados esperadosAs metas estão diretamente relacionadas com os objetivos propostos, como pode ser percebido nos itens a seguir, sempre considerando o período de 2011 a 2015:a) Instalação de dois hospitais de média e alta complexidade no Território;

b) Instalação de um hospital materno-infantil no Território;

c) Instalação de estações de tratamento de esgoto nas sedes dos dezesseis municípios do Território;

f) Garantir a presença de instalações sanitárias em 50% das residências do Território;

g) Implantar sistemas de abastecimento de água, com estruturas de tratamento em 50% das comunidades tradicionais/assentamentos de reforma agrária da região.

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9.4.4 Estratégia de implementaçãoO programa de saúde e saneamento está estruturado em duas dinâmicas diferentes, no entanto, serão tratadas de forma paralela. A primeira, apresentada nas metas e objetivos desse Programa, está relacionada diretamente com a infra-estrutura necessária para que as ações possam ser postas em prática. Para isso, será necessário que a Câmara Temática de Desenvolvimento Social possua uma equipe técnica capaz de elaborar os projetos necessários para que os municípios consigam acessar essas estruturas. Ao mesmo tempo, o Núcleo Diretivo deve estar articulando com as Prefeituras Municipais para que possam estar preparadas para receber e instalar esses projetos. No caso dos hospitais e aterros sanitários que terão perspectivas regionais, há a necessidade de que as prefeituras estejam devidamente articuladas para conseguir a execução desses projetos ou mesmo que haja uma decisão do governo estadual.A segunda dinâmica está contida nos outros programas deste Plano, pois a produção, a agroindústria, as ações ambientais criam possibilidades positivas ou negativas de promoção da saúde. Sendo assim, todas as atividades propostas nos outros programas devem estar permanentemente monitoradas para que os resultados não criem impactos negativos sobre a saúde da população da região. Essa Câmara Temática deverá, então, estar em permanente sintonia com as outras Câmaras e secretarias municipais, para avaliar cada projeto em execução.

9.4.5 Modelo de gestãoEsse programa será coordenado pela Câmara Temática de Desenvolvimento Social a qual será responsável pela elaboração dos projetos. Nos municípios, essa Câmara será apoiada pelas Secretarias de Municipais de Saúde e Conselhos Municipais de Saúde. As ações de articulação serão feitas pelo Núcleo Diretivo. A responsabilidade pela implantação dos projetos será das Prefeituras Municipais.

9.5 Programa 5: Consolidação do CODETER

9.5.1 Análise situacionalO histórico desse Território indica que, na maioria das vezes, as intervenções do Governo Federal e do Governo Estadual ocorreram sem que as populações locais fossem consultadas para opinar sobre forma e conteúdo dessas políticas. No entanto, a partir de 1989, com o processo de municipalização, estabelecido pela Constituição aprovada no ano anterior, o governo federal repassa para os municípios um conjunto de atribuições até então assumidas no nível federal e estadual. Foram municipalizados os serviços de saúde, o ensino fundamental e a assistência técnica. Como os municípios não conseguiam promover aumento da arrecadação para assumir as novas funções, o governo federal criou um conjunto de fundos e programas de apoio, mas que, de acordo, com as prefeituras, não são suficientes para que esses serviços cheguem a todos os moradores das zonas rural e urbana. Ressalta-se que os recursos priorizaram algumas secretarias municipais em detrimento de outras, incentivando a desarticulação já existente entre elas.Seguindo esse processo, nos últimos anos, o Congresso Nacional, criou um conjunto de leis que tratam do repasse dos recursos para a execução dos programas estabelecidos. Entretanto, os municípios não conseguem cumprir estas determinações, por inadimplência, dificultando

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a execução dos programas disponibilizados pelo Governo Federal. Soma-se a isso, a escassez de recursos humanos capacitados para a implantação e/ou execução desses programas e de programas definidos pelos próprios municípios. Assim, na medida em que há maior quantidade de ações a serem desenvolvidas, aumenta a necessidade de mão-de-obra capacitada, o que exige melhores salários, e os municípios não conseguem arcar com os salários exigidos por profissionais melhores e mais qualificados.

Dessa forma, os programas ficam sob a orientação de técnicos não preparados, com pouca experiência e não conseguem usar os recursos disponíveis na região para criar melhores condições para que os moradores deixem ser beneficiários e se transformem em protagonistas.

Com a chegada ao poder central do atual governo, surge uma proposta de criar espaços geográficos onde se concentram os municípios com menor nível de desenvolvimento, apoiando-os para que a desigualdade seja reduzida em relação aos municípios em que as condições sociais são melhores. Esse programa, conhecido como Território da Cidadania, estabeleceu oito territórios no Maranhão, sendo um deles o território do Baixo Parnaíba sobre o qual este Plano está sendo apresentado.

A dinâmica de funcionamento do Território passa por uma estrutura de coordenação que inclui um Colegiado Territorial, no qual estão representados os dezesseis municípios, sendo que cada município possui oito representantes neste Colegiado – quatro representando o poder público e quatro representando a sociedade civil. Desde a sua criação, no entanto, esse Colegiado tem tido dificuldades para desenvolver suas funções, considerando a falta de recursos físicos-financeiros que permitam a dinamização de todas as suas funções.É no sentido de consolidar o Colegiado Territorial e todas as suas instâncias que esse programa está sendo proposto.

9.5.2 Objetivos do programa

9.5.2.1 Objetivo geralO principal objetivo deste programa é consolidar o Colegiado Territorial visando permitir uma atuação mais segura em relação à aplicação de políticas setoriais de origem pública (federais, estaduais e municipais), privadas e não governamentais, com o intuito de promover a elas um sentido integral (econômico, social, e ambiental), além de fomentar a melhoria de qualidade de vida às populações do território.

9.5.2.2 Objetivos específicosa) Assegurar as condições necessárias para a implementação da segunda etapa do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Baixo Parnaíba;b) Garantir os recursos (humanos, financeiros, físicos) necessários para o bom

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funcionamento do Colegiado Territorial em todas as suas instâncias;c) Assegurar o funcionamento do Núcleo Diretivo e das Câmaras Temáticas.

9.5.3 Metas e resultados esperadosPara a consolidação definitiva do Colegiado Territorial, faz-se necessário três tipos de metas. O primeiro está relacionado com a implementação do PTDRS, na sua segunda etapa (2011 – 2015). O segundo vincula-se à captação de recursos para a execução do plano e assegurar o funcionamento do Núcleo Diretivo e das Câmaras Temáticas e o terceiro relaciona-se à instalação do escritório do Colegiado Territorial. As metas estão apresentadas a seguir:a) Homologar a segunda etapa do PTDRS, até dezembro de 2010;

b) Implementar os doze programas propostos no PTDRS, até dezembro de 2015, sob a responsabilidade das Câmaras Temáticas;

c) Capacitar, até dezembro de 2011, os técnicos das secretarias municipais que terão a responsabilidade de executar os programas em cada município;

d) Estabelecer, pelo menos, dois convênios de cooperação técnica que possam ajudar a viabilizar os diversos programas propostos;

e) Instalação do escritório do Colegiado Territorial, até dezembro de 2011.

9.5.4 Estratégia de implementaçãoO referencial para a atuação do Colegiado Territorial será a sua condição de planejador e articulador das políticas territoriais. Para isso, é necessário que os governos municipais, o governo estadual, os órgãos estatais e as empresas que atuam na região o reconheçam como tal. E, para que isso aconteça, o primeiro passo nessa etapa é que ocorra a estruturação física do escritório, com a disponibilização de recursos humanos necessários, e a instalação de móveis e equipamentos que promovam condições de trabalho ao Núcleo Diretivo.Concomitantemente, o Núcleo Diretivo trabalhará pela efetivação dos diversos programas, que deverá acontecer na medida em que houver disponibilidade de recursos humanos e financeiros.

Enquanto o escritório sede do CODETER não estiver estruturado, o Núcleo Diretivo deverá contar com o apoio do escritório da Célula de acompanhamento e Informação, com função específica de executar um projeto de assessoria ao CODETER. Os projetos necessários à execução dos programas devem ser elaborados em parceria com as prefeituras municipais, através das suas várias secretarias. Havendo necessidade, o CODETER apoiará os municípios individualmente na capacitação dos seus técnicos.

Em paralelo, as atividades que estão em andamento por conta da primeira fase do PTDRS continuarão acontecendo. As reuniões das câmaras temáticas propiciarão a base técnica para que o Núcleo Diretivo planeje a elaboração dos projetos de investimento ou faça a correção de rumos, para permitir sempre um bom andamento daqueles que já estão em execução.

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Periodicamente, a plenária do CODETER continuará acontecendo para deliberar sobre as atividades do próprio Colegiado e do Território, como um todo.

Sistematicamente, o Núcleo Diretivo estará se articulando com as diversas secretarias estaduais, com a Delegacia do MDA, com órgãos estatais, empresas, ONGs e movimentos sociais, com o objetivo de garantir as boas relações no Território e, como forma de monitorar projetos, que essas instituições estejam desenvolvendo ou desejam desenvolver.

9.5.5 Modelo de gestãoA coordenação executiva do programa será feita pelo Núcleo Diretivo do CODETER o qual estará em constante contato com todas as organizações governamentais e não governamentais que compõem o CODETER para prestar contas de todas as atividades.

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10. D

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10.1 Programa 1: Reengenharia dos assentamentos e comunidades rurais

10.1.1 Análise situacional

Historicamente, as comunidades rurais do Baixo Parnaíba foram estabelecidas seguindo uma lógica identificada por todos os historiadores como sendo satélite das fazendas que produziam cana-de-açúcar, arroz e gado, como

ocorreu em todo o estado do Maranhão e no Nordeste. Um aglomerado de casas com uma rua principal e algumas infra-estruturas coletivas, onde se destacava a igreja. Modernamente, com apoio governamental, essas comunidades ganharam energia elétrica, escola, estrada de ligação à sede do município, campo de futebol e até praça. No entanto, essas infra-estruturas nem sempre são comuns a todas as comunidades, havendo aquelas em que essas estruturas estão em maior quanto outras em menor quantidade, além de outras em que as estruturas não existem.A inexistência de estruturas culturais e de comunicação incomoda a população, ficando atrás somente das estruturas de saúde e de saneamento e, em especial, dos sistemas de abastecimento de água. Essas deficiências de infra-estrutura fomentam a busca das famílias por locais onde possam encontrá-la com mais facilidade, pois em casos de necessidade, obriga-os a deslocamentos em grandes distâncias: ainda é comum, mesmo nos municípios de maior expressão, encontrar mulheres carregando latas d’água na cabeça por vários quilômetros.

Por outro lado a transformação desse tipo de comunidade em assentamento de reforma agrária, pelo órgão de terras do Estado, ou mesmo a criação de novos assentamentos a partir da arrecadação de terras feita pelo INCRA, estabeleceu uma nova forma de relacionamento com os órgãos do Estado e mesmo com a sociedade

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civil, sem que, na prática, tenham ocorrido mudanças estratégicas nas condições de vida dessas famílias, à exceção, sem generalizações, do acesso a determinados tipos de créditos – habitação e produtivos, principalmente. Em alguns casos, o PDA,9 principal instrumento para efetivação das ações, não foi elaborado até a presente data. Apenas nos casos onde há o serviço de ATES os PDA’s, foram ou estão sendo elaborados.

O modelo de assentamento, utilizado tanto pelo INCRA quanto pelo ITERMA, segue uma regra geral que inclui a substituição das residências originais por outras estabelecidas dentro de um programa habitacional rural, além da liberação dos créditos iniciais, a medição para distribuição dos lotes e o estímulo à elaboração dos créditos produtivos. Sem a elaboração de um plano de desenvolvimento bem equacionado, a transformação das comunidades rurais tradicionais, em assentamentos de reforma agrária, reduz a concentração fundiária, mas não melhora as condições de vida das famílias. E, sem um apoio técnico necessário, as condições produtivas continuam não avançando em termos da qualidade e do aumento da produção.

Esse quadro deixa o agricultor, seja o das comunidades tradicionais, seja o novo assentado, à mercê das intempéries climáticas, das decisões dos órgãos públicos e das várias instâncias de poder que atuam na área rural dessa região. Apesar da disponibilidade do crédito, o acesso a essa política apresenta algumas dificuldades, a exemplo da burocracia dos bancos. Desse ponto de vista, o agricultor não consegue atingir uma produção adequada que lhe permita aumentar sua renda para garantir a reprodução familiar.

Depois de todos esses anos, na área rural do Território, ainda há um grande déficit de infra-estrutura básica e produtiva como energia elétrica, sistema de abastecimento de água, estradas, escolas, postos de saúde, armazéns etc. A isso, soma-se a pouca qualidade das intervenções das associações as quais ainda não conseguem atuar de forma autônoma. Nas comunidades onde os moradores são também pescadores, a situação não é melhor que nas outras.

Toda essa problemática exige uma reengenharia nas comunidades tradicionais e nos assentamentos de reforma agrária da região, de forma a aumentar sua eficiência e promover a melhoria da qualidade de vida dos seus moradores.

10.1.2 Objetivos do programa

10.1.2.1 Objetivo geral Reestruturar, territorialmente, as comunidades tradicionais/projetos de assentamento de reforma agrária existentes nos municípios do território do Baixo Parnaíba, a fim de lhes garantir sustentabilidade ambiental, econômica e social.

10.1.2.2 Objetivos específicos a) Ordenar o território das comunidades tradicionais e dos assentamentos de reforma agrária, criando espaços de esporte, culturais e de lazer;

9 De acordo com a Norma de Execução Nº 2 de 28 de março de 2001, o INCRA estabeleceu que o Plano de Desenvolvimento do Assentamento deve ser elaborado na fase de implantação dos assentamentos, antes, inclusive da alocação das famílias e de iniciar o processo produtivo.

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b) Incentivar a implantação e implementação de quintais produtivos nas comunidades tradicionais e nos assentamentos de reforma agrária;

c) Redimensionar a arquitetura das residências existentes nas comunidades tradicionais e nos assentamentos de reforma agrária de modo a torná-las adaptadas ao meio ambiente local;

d) Estimular a funcionalidade das organizações existentes no Território;

e) Fomentar a criação de cooperativas no Território;

f) Instalar energia elétrica, sistemas de abastecimento de água, telefonia rural nas comunidades e ou assentamentos;

g) Construção, melhoramento e manutenção das estradas que fazem a ligação às comunidades ou aos assentamentos;

h) Incentivar a presença de atividades rurais não agrícolas como forma de aumentar a renda das famílias;

i) Fortalecer o vínculo rural-urbano.

10.1.3 Metas e resultados esperadosa) Elaborar os PDA’s dos assentamentos que ainda não possuam e rever os já elaborados até 2015, com base na proposta global do PTDRS e, especialmente, desse subprograma. Tendo como resultado um referencial de planejamento elaborado e disponível para implantação;b) Elaborar, até dezembro de 2011, um projeto arquitetônico de residência adaptado às condições locais, que possa ser implantado nas comunidades tradicionais e nos assentamentos de reforma agrária, usando material típico da região que garanta baixo custo. Dessa forma, ter-se-á um projeto de referência para todas as famílias moradoras da área rural do Território;

c) Reorganizar o funcionamento de 50% das associações, reestruturando estatutos, capacitando os associados e suas diretorias de forma a torná-las autônomas e garantir efetivos benefícios às comunidades tradicionais e assentamentos de reforma agrária até dezembro de 2011;

d) Elaborar um plano de organização espacial básico de referência para uma comunidade tradicional, preservando os espaços adequados para todas as infra-estruturas básicas (lazer, esporte, cultura, religião, educação, saúde e associativas) e produtivas (armazenamento, produção em pequenas áreas, irrigação), de acordo com a decisão dos moradores. O plano implantado permitirá que outras comunidades e assentamentos estabeleçam dinâmicas arquitetônicas mais adequadas às condições ambientais e culturais locais;

e) Garantir a implantação do sistema de energia elétrica em todas as comunidades tradicionais e assentamentos de reforma agrária até dezembro de 2011. Com isso, será possível que todas as famílias tenham acesso a bens de consumo e estruturas produtivas que dependam da energia elétrica;

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f) Implantar sistemas de abastecimento de água em 50% das comunidades rurais e assentamentos de reforma agrária até dezembro de 2015. Assim, as famílias desses locais passarão a ter acesso aos benefícios da água para consumo humano e animal diretamente nas residências;

g) Garantir que 50% de todas as comunidades rurais possuam sistemas de telefonia rural até dezembro de 2015. Como resultado, as famílias poderão se comunicar com mais facilidade com moradores distantes;

h) Construção/manutenção/melhoramento de 60% das estradas de acesso das comunidades tradicionais e assentamentos de reforma agrária da região até dezembro de 2015. Isso facilitará o transporte de bens e produtos produzidos localmente, além de permitir o acesso a bens de consumo.

10.1.4 Estratégia de implementaçãoO ponto de partida para a execução desse programa será a elaboração ou revisão do PDA de cada assentamento. Cada um dos programas existentes nesses PDA’s deve contemplar as necessidades de reengenharia, para permitir que sejam atingidas as metas propostas. Por exemplo: o programa territorial deve compreender as necessidades relativas à parte sócio-cultural, o que inclui a religiosidade (igrejas, festas religiosas), o lazer (campo de futebol, quadra de esportes), a educação (escolas), a cultura (centros culturais), a saúde (posto), a organização (sede da associação), além de estruturas relacionadas com a indústria (agroindústrias) e o comércio (armazéns, mercearias, feiras, mercado) e, também, de infra-estrutura básica como estradas, energia elétrica, abastecimento d’água, saneamento e telefonia.Levando em conta que as comunidades tradicionais não têm recursos para prover a elaboração de planos de desenvolvimento locais, buscar-se-á, junto aos órgãos competentes, tal realização. Em alguns casos, será possível a elaboração de um plano quando alguma organização local ou regional estiver trabalhando naquele local.

Considerando que os PDA’s são elaborados com o conteúdo dividido em programas, deve-se partir do princípio de que as instituições que farão a execução de cada programa – secretaria municipal de agricultura, ONG’s, SEDAGRO, ITERMA, INCRA – deverão dispor de todas as informações necessárias para essa reestruturação, pois, obrigatoriamente, terão que fazer um amplo debate com cada associação e movimento social relacionado em cada assentamento ou comunidade tradicional, além de outras organizações que atuam localmente.

A implantação dos projetos propostos em cada Plano será iniciada pela instalação de lotes experimentais – em número de doze – a serem feitos pelas secretarias de agricultura dos municípios. Esse projeto vai incluir a pesquisa – com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) –, a sustentabilidade ambiental – com apoio do IBAMA –, a organização social – com apoio das secretarias de ação social – e a produção – com apoio do INCRA, da EMBRAPA, UFMA, as Casas Familiares Rurais/Escolas Famílias Agrícolas.

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Em paralelo, com a participação de arquitetos e engenheiros das secretarias de infra-estrutura das prefeituras, dos técnicos do INCRA e de professores do curso de arquitetura da UEMA, será redesenhada uma área de algum assentamento e de uma comunidade tradicional, de modo a considerar a evolução demográfica específica, incluindo a proposta de residência ecológica.

A implantação dos projetos que permitam a reforma dos assentamentos e comunidades tradicionais dependerá da decisão dos moradores, entendido de forma coletiva. Isso quer dizer que a associação de moradores deve ter uma ativa participação em todas as etapas do programa. Obrigatoriamente, para que isso aconteça, há a necessidade de uma completa reestruturação nessas instituições, inclusive com reformas estatutárias. As secretarias de agricultura dos municípios, com apoio das secretarias de ação social, promoverão capacitações sistemáticas sobre gestão e associativismo, para diretores e membros das associações. Com técnicos das secretarias de ação social dos diversos municípios, será trabalhado um novo modelo de organização das associações que facilitem o funcionamento, de acordo com cada situação.

O CODETER fará pressão junto à Secretaria Estadual de Infra-Estrutura para que seja instalado o sistema de energia elétrica em todos os assentamentos e comunidades da região. A responsabilidade por esta ação é dos municípios através das secretarias municipais de infra-estrutura. Esse caso é o mesmo para o sistema de abastecimento de água e para a instalação do sistema de telefonia. A instalação desses sistemas de água, energia elétrica e telefonia serão acompanhadas pelo Sistema de Gestão Estratégica, que é um projeto do CNPQ/MDA, em fase de implantação na região por parte da Universidade Federal do Maranhão (UFMA/Campus Chapadinha).

Em todas as etapas desse programa, haverá, para qualquer atividade, permanente capacitação dos agricultores para que todos estejam preparados para essa nova dinâmica proposta no plano. As capacitações serão efetivadas, também, pelas secretarias de agricultura municipais e acompanhadas pelo Colegiado Territorial.

10.1.5 Atividades a serem executadasAs atividades a serem executadas seguem a proposta colocada na estratégia de implementação, e incluem:a) Elaboração dos planos de desenvolvimento locais;

b) Elaboração dos projetos;

c) Implantação dos lotes experimentais;

d) Elaboração do plano de organização espacial dos assentamentos;

e) Elaboração do projeto arquitetônico das residências;

f) Acompanhamento permanente das associações;

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g) Capacitação dos diretores e membros das associações;

h) Implantação dos sistemas de energia elétrica;

i) Implantação dos sistemas de abastecimento de água;

j) Implantação dos sistemas de telefonia pública.

10.1.6 Modelo de gestãoEsse programa será administrado pela Câmara Temática de Produção e executado pelas secretarias de agricultura dos municípios. Em cada município, haverá a participação das secretarias de ação social e de infra-estrutura. O acompanhamento direto será feito pelo INCRA, pelo ITERMA e pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) e pelo Campus UFMA / Chapadinha.

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11. B

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O termo processo tem muitas utilidades - no latim procedere indica a ação de avançar, ir para frente (pro+cedere)). É uma seqüência de ações que objetivam atingir uma meta. É usado para criar, projetar, transformar, produzir algo.

Pois bem, a qualificação do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável é parte de um processo iniciado no ano de 2003 com o governo democrático e popular. E como todo processo, avança!

A partir desse período, as políticas sociais no Brasil foram retomadas de forma expressiva e programas como Luz para Todos; Bolsa Família; investimentos na agricultura familiar (PRONAF) e o Programa de Desenvolvimento Territorial resultaram em melhorias para as populações, especialmente no meio rural. ECHEVERRI, ao fazer uma análise dessa nova abordagem territorial rural assim expressa:

“A política de desenvolvimento rural e de apoio à agricultura familiar do Brasil apresentou uma mudança significativa a partir do ano de 2003, devido ao seu caráter explicitamente territorial, com adoção de uma estratégia que implicou na criação de uma estrutura institucional e de um conjunto de processos de gestão da política pública que marcou um novo rumo às políticas de desenvolvimento agrário...A ascensão de uma visão política, que privilegia os direitos e a gestão participativa, se encontrou com processos sociais de enorme significado e força política para dar como resultado a elaboração de uma política que significa um passo importante na construção de novos caminhos de institucionalidade pública.” (ECHEVERRI, p.82, 2010).

A experiência do desenvolvimento territorial rural trouxe consigo a possibilidade de re-planejar, re-avaliar e re-construir sonhos futuros e se constituiu num ir para frente na construção do desenvolvimento que se pretende sustentável, participativo. E nesse caminhar o PTDRS é um instrumento valioso a ser explorado. Contudo, um processo é sempre algo inacabado, principalmente, quando tratamos de um processo social, em que um conjunto de variáveis está em jogo – poder, política, organização, grupos políticos, capital econômico, capital social, enfim. E no caso do PTDRS, sem dúvida está incompleto, pois é impossível apreendermos tamanha complexidade de uma realidade social e histórica de uma só empreitada.

Porém, está implícito aqui o avanço dessa política de desenvolvimento territorial que apresenta alguns elementos importantes desde a sua constituição, apontados por ECHEVERRI (2010) como, a adoção de um novo enfoque de caráter territorial,

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integral e multisetorial; a criação de uma pasta destinada à formulação e execução da política de desenvolvimento territorial, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT; a adoção de diretrizes e critérios da estratégia territorial; a definição de áreas de resultado como orientadoras da gestão da política; a delimitação dos territórios, do conceito à ação; a criação dos colegiados territoriais e a gestão social como elemento fundamental da política, em que se estabelecem as competências dos níveis territoriais, se destacando aqui o papel dos planos territoriais.

Portanto, esse documento trata do momento presente e é resultado do contexto histórico e atual do Território, com seus avanços, suas fragilidades, suas descontinuidades e, sobretudo a luta de atores sociais que acreditam na mudança na transformação social, a exemplo dos integrantes ativos do Colegiado Territorial.

Finalmente, esperamos que o resultado aqui apresentado siga o seu processo!

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130PTDRS do Território Baixo Parnaíba

FAVARETO, Arilson. Políticas de desenvolvimento territorial rural no Brasil: avanços e desafios\Arilson Favareto...[et.al]. Brasília:IICA, 2010.(Série Desenvolvimento Rural Sustentável; v.12).

FEITOSA, Antonio Cordeiro e TROVÃO, José Ribamar. Atlas escolar do Maranhão: espaço geo-histórico-cultural. João Pessoa: Ed. Grafset, 2006.

GAYOSO, Raimundo de S. Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura no aranhão. Rio de Janeiro: Livraria do Mundo Inteiro. 1970.A JUNIOR, Heitor M. Colonização de Fronteira Agrícola: Um Modelo de Desenvolvimento Rural. São Luís: Editora UFMA. 1987. 222 p.

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VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de Expansão e Estrutura Agrária. Rio de Janeiro. Zahar Editores. 1972. 178 p.

Outras fontes:

Marco Referencial para o Apoio ao Desenvolvimento dos Territórios Rurais – Série Documentos Institucionais 02-2005. Documento Elaborado pela Equipe Técnica da SDT com consultores.

Consulta no site www.ibge.gov.br/.../agropecuaria/censoagro/2006/agropecuario

Consulta no site www.ibama.gov.br

Estudo Propositivo para Dinamização Econômica do Território Baixo Parnaíba – EP, elaborado por Instituto Potiguar de Desenvolvimento Social – IP, São Luís\MA, 2005.

PTDRS – PlanoTerritorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Território Baixo Parnaíba, elaborado por ETHOS – Assessoria, Consultoria e Capacitação em Desenvolvimento Local sustentável e CULTIVAR - Consultoria em Desenvolvimento Sustentável. São Luís\MA, maio 2005.

PDSRT- Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Turística do Meio-Norte. Grupo de Trabalho Interministerial. Ministério da Integração Nacional. Brasília, outubro, 2009.

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