cabo verde

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ANO LVII – N.º 10 NOVEMBRO 2011 ASSINATURA ANUAL | Nacional 7,00 € l Estrangeiro 9,50 € Cabo Verde exemplo de boa governação Igreja local sujeito primeiro da Missão Prémio Nobel 2011 Três mulheres pela paz Colégio de São Miguel assinala cinquentenário

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Exemplo de boa governação

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ANO

LVII –

N.º

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2011

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l 7,0

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50 €

Cabo Verdeexemplo de boa governação

Igreja local sujeitoprimeiro da Missão

Prémio Nobel 2011Três mulheres pela paz

Colégio de São Miguelassinala cinquentenário

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Apoie a formação de jovens missionáriosFunde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250€ e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar.São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: 8fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; 8participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; 8beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATARua Francisco Marto, 52 – Ap. 5 – 2496-908 FÁTIMA | T. 249 539 430 | [email protected] Rua D.a Maria Faria, 138 – Ap. 2009 – 4429-909 Águas Santas MAI | T. 229 732 047 | [email protected] Quinta do Castelo – 2735-206 CACÉM | T. 214 260 279 | [email protected] Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 – 1800-048 LISBOA | T. 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 – 4700-713 PALMEIRA BRG | T. 253 691 307 | [email protected]

Consolata é cheia de graça, por Deus agraciada para levar ao mundo a consolação de JesusConsolados são os evangelizados, porque amados de DeusConsolar é levar a toda a parte a consolação de Deus salvadorComo Maria tornamo-nos solidários com todos. Solidariedade é o outro nome da consolaçãoComo Ela somos presença consoladora em situações de afliçãoPor seu amor colocamos a nossa vida ao serviço do homem todo e de todos os homensAllamano deu-nos Maria por mãe e modelo. Por isso chamamo-nos Missionários da Consolata

Nossa Senhora da Consolata

Page 3: Cabo Verde

NOVEMBRO 2011 03 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Cruzar a soleirada portada fé Perante 115 movimentos eclesiais do mundo, reunidos em Roma

num encontro sobre Nova Evangelização, Bento XVI anunciou a celebração de um “Ano da Fé”. O evento deverá iniciar a 11 de Outubro de 2012, por ocasião do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e prolongar-se até 24 de Novembro de 2013, festa de Cristo Rei. “Será um momento de graça e de empenho para uma cada vez mais plena conversão a Deus, para reforçar a nossa fé e para anunciá-lO com alegria ao homem do nosso tempo”, explicou o Papa.

“O cristão não pode nunca pensar que crer seja um facto privado”.Com efeito, “a fé implica um testemunho e um compromisso públicos”, escreve Bento XVI na carta apostólica “A porta da Fé”, com a qual cria o “Ano da Fé”. O Papa lembra a responsabilidade social da fé, apontando a Igreja primitiva como modelo: “No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar a própria fé, sem temor, a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso”.

Nos tempos actuais de crise, o mundo tem particular necessidade do “testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim”. Hoje, cada vez mais, “grandes sectores da sociedade” vão perdendo as referências cristãs, “devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas”. O Papa lembra que, “no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”.

Por estas e outras razões, entendeu Bento XVI convocar o “Ano da Fé”,desafiando-nos para a aventura de cruzar a soleira da “porta da fé” e percorrer um “caminho que dura a vida inteira”. O que se pede aos cristãos é de “redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo”. Em jeito de aviso, o Papa lembra: “Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida”, como se lê em São Mateus.

Passados 50 anos, o Concílio Vaticano II mantém a sua actualidade, como recordou João Paulo II, no início do terceiro milénio: Os textos dos padres conciliares “não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos”. E mais adiante: “É uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa”. Bento XVI lembra quanto afirmou no início do seu pontificado: “O Concílio pode tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja”. Esta renovação passa pela alegria e entusiasmo de “homens e mulheres de todas as idades serem cristãos na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados”. É um programa de vida que exige dedicação e entrega. Mas sobretudo implica uma caminhada apoiada numa catequese de adultos sólida, condição fundamental para alcançar os objectivos do “Ano da Fé”.

“O cristão não podenunca pensar que

crer seja umfacto privado”.

Com efeito,“a fé implica umtestemunho e um

compromisso públicos”,

escreve Bento XVI na carta apostólica

“A porta da Fé”,com a qual

cria o “Ano da Fé” EA

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Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 10 Ano LVII – Novembro 2011Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Pro vin cial Norberto Ribeiro LouroRedac ção Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaIm pres são Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 27.900 exemplaresDirector Elísio AssunçãoRedacção Elísio Assun ção, Manuel CarreiraConselho de Re dac ção António Marujo, Elísio Assunção, Manuel CarreiraColabora ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Cristina Santos, Darci Vila ri nho, Leonídio Ferreira, Luís Mau rício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diaman tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Quénia, Álvaro Pa che co – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As sunçãoe ArquivoCapa LUSA Contra-capa Ana PaulaIlustração H. Mourato, Mário José Teixeirae Ri car do NetoCom po sição e Design Ana Pau la RibeiroAd mi nis tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

FÁTIMA MISSIONÁRIA 04 NOVEMBRO 2011

03 EDITORIAL 805 PONTO DE VISTA Evangelizar 806 LEITORES ATENTOS 807 HORIZONTES É sempre tempo de romper o casulo 808 MUNDO MISSIONÁRIO 20 anos a tornar conhecida a missão | ÁFRICA grande epidemia de cólera | BRASIL missionários de 11 países vão à escola | IRÃO ameaças obrigam cristãos à fuga | IÉMEN crianças vítimas da violência | PAQUISTÃO obrigadas a converter-se ao Islão 811 AVENTURAS Pipo em discernimento 812 APÓSTOLOS MODERNOS Por uma cultura diferente 822 GENTE NOVA EM MISSÃO A festa de todos os santos 824 TEMPO JOVEM Rali da Vida 826 SEMENTES DO REINO Com as lâmpadas acesas 828 O QUE SE ESCREVE 830 O QUE SE DIZ 831 VIDA COM VIDA Para tudo e para todos 832 OUTROS SABERES À volta da panela se reúne toda a família 833 A MISSÃO É SIMPÁTICA A beleza está no coração do homem 834 FÁTIMA INFORMA Colégio de São Miguel assinala cinquentenário

Actualizea sua

assinatura

Um cabo-verdianoque dá exemplo a África

Prémio Nobel 2011Três mulheres pela paz

Igreja localsujeitoprimeiroda Missão

Diocese de Inhambane, Moçambique50 anos a crescer firmes na fé

Vista de Cabo Verde

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NOVEMBRO 201105 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto João César das Neves

Não é fácil evangelizar neste tempo de crise de valores. Não é apenas a Igreja que se queixa. Todas as entidades que têm mensagens a comunicar ao público lamentam a relutância dos seus ouvintes e a dificuldade em convencer as pessoas das coisas excelentes que lhes querem apresentar.Os médicos, falando de colesterol ou tensão alta, ansiando por promover uma vida saudável e dieta equilibrada, frequentemente protestam contra este tempo sem valores, contra a atitude irresponsável e ligeira dos seus doentes. O mesmo dizem os ecologistas, sempre prontos para a evangelização ambiental, ou tantas outras organizações, das ONGs aos sindicatos, partidos, galerias de arte, associações educativas, culturais, desportivas e económicas. No mercado das ideias são muitas as entidades que divulgam os seus propósitos e lutam pela atenção da sociedade. E todas garantem que não é nada fácil fazer evangelização nestes tempos desorientados.Vivemos numa época que exalta a liberdade, a afirmação do indivíduo e a realização pessoal. Cada um quer ser senhor de si e ninguém gosta de ser manipulado, convencido, orientado. Acima de tudo as pessoas fazem questão de repudiar tutores, contestar guardas, esquecer mentores, na ânsia de sentirem que controlam a sua vida. Não admira que seja difícil divulgar

qualquer doutrina e arranjar prosélitos para as ideologias.É verdade que a dificuldade aguça o engenho. Face ao cepticismo actual surgiram múltiplas técnicas sofisticadas de convencer, fazendo com que seja aceite aquilo que se pretende. Há métodos claramente abusivos, que impingem ideias sem se perceber que se está a ser apanhado. Mas mesmo as entidades honestas e bem intencionadas têm de ter cuidado com a aparência, atender à imagem, preparar formas de comunicação.A tarefa do apóstolo não tem nada a ver com isto. Porque nós, na verdade, não queremos convencer ninguém do que quer que seja. O cristianismo não é um culto, sistema, filosofia ou doutrina. O cristianismo é uma pessoa,

Jesus Cristo, Alguém que está vivo e quer viver comigo a minha existência. Evangelizar é proporcionar o encontro com essa Pessoa e deixar que Ele crie uma relação com o próximo.A tarefa de evangelizar nunca foi fácil, e é tão difícil hoje como sempre foi, porque nunca foi outra coisa. Não interessa se o tempo tem falta de valores ou excesso deles, se é céptico, pedante ou crédulo. Cada tempo tem as suas dificuldades com a evangelização, porque ela sempre será muito difícil. Tão difícil como uma verdadeira amizade. Porque é precisamente uma verdadeira amizade. Daquelas que mudam para sempre a nossa vida. Aliás é a única que muda verdadeiramente a vida. Para sempre. Para sempre, mesmo.Como é que se divulga uma amizade? Como é que se leva outros a serem amigos íntimos do nosso Amigo mais íntimo? Porque é disso que se trata. Para uma coisa dessas não há técnicas nem truques. Bem, só há duas coisas com que podemos sempre contar para isso. A primeira é a qualidade da nossa amizade por Cristo, a sinceridade do amor verdadeiro por Ele. A segunda é contar com Ele e com a profundidade do Seu amor por aqueles que pretendemos evangelizar. Às vezes, nos tempos sem valores, a evangelização até é mais fácil, como com as prostitutas e os publicanos.

EvangelizarA tarefa de evangelizarnunca foi fácil,e é tão difícilhoje como sempre foi, porque nuncafoi outra coisa

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 06 NOVEMBRO 2011

DIÁLOGO ABERTO

Revista barataCaros amigos missionários,Saudações para todos vós que estais ao serviço da missão. Tem esta carta a finalidade de liquidar um novo ano de assinatura que vem em nome da minha esposa Helena. O pouco que sobra é para as missões. Tenho em conta que a revista é muito barata, em comparação com outros jornais e revistas.Elias

Partilhar a alegriade lerEu saúdo-vos com votos de boa saúde. Quanto a mim, estou presentemente bem, graças a Deus. Peço--vos desculpa da minha parte, pois gostava de vos auxiliar mais na vossa obra missionária, mas a minha situação financeira não permite. Mas continuo com as minhas pobres oblações para a vossa missão. Agradeço-vos por me continuarem a mandar as revistas missionárias, pois elas são sempre bem apreciadas por todos os idosos e doentes que eu visito e que as lêem com agrado. Sempre que eu posso vou visitá-los e levo as simpáticas revistas para eles lerem. E todos agradecem.Filomeno

Assinantes felizEx.mos Senhores,Que Deus vos abençoe. Sou assinante da vossa revista e muito me congratulo por o ser. É uma revista muito boa, que nos põe a par de muita coisa que se passa no mundo, além de nos fazer reflectir sobre a nossa vida. Envio-vos um cheque para o projecto Gurué, ou para o que for mais necessário. Peço orações por mim e pela minha família.José

Mais uma gracinha de AllamanoAgradeço que publiquem na FÁTIMA MSSIONÁRIA, só estas palavras: “Ao Beato José Allamano, agradeço a graça concedida pela cura de um familiar”. Junto envio este donativo para ajudar os mais necessitados. Foi o que prometi ao Beato José Allamano.Isabel

Desculpem o atrasoEx.mos Senhores,Envio o dinheiro da minha assinatura. Desculpem, por favor o atraso. O pouco que sobra é para qualquer obra vossa. Não deixem de me enviar a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA. Gosto muito de a ler.Clarisse

Projecto GuruéJunto envio um cheque no valor de 20,00€, para pagamento da minha assinatura referente ao ano de 2011, o restante será para enviarem, para onde fizer mais falta, talvez para o Gurué, onde eu vivi, ou outro país. Não posso dar mais presentemente, porque este ano já contribuí –e muito – para casas de crianças abandonadas pelas famílias.Belmira

Cada vez mais lindaCom os meus respeitosos cumprimentos envio por esta carta um cheque para pagamento da assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA, que está cada vez mais linda, especialmente o seu conteúdo que nos revela o dom do Espírito Santo nos testemunhos nela contidos.Domingos

Tudo por DeusEx.mos Senhores,Não conheço nada dos missionários da Consolata, mas, por acaso veio-me ter às mãos uma revista chamada FÁTIMA MISSIONÁRIA onde se falava num projecto de Gurué – Moçambique. Mando esta pequena ajuda.Helena

Ex.mo Senhor Director,Já sou vossa assinante há uns anos. Toda a família aprecia imenso a vossa (nossa) revista missionária, pelos assuntos que apresenta e pela comunicação com o mundo missionário. Nas minhas orações tenho sempre presente as vossas inten-ções, os vossos trabalhos, os povos com quem e a quem se dedicam. Este ano, como prémio pela assiduidade, interesse

e tudo o mais que uma minha aluna da catequese (6º ano) demonstrou ao longo dos seis anos de catequese comigo, resol-vi oferecer-lhe um ano da vossa revista.Teresa

ComentárioA carta da senhora Teresa apresenta--nos alguns aspectos interessantes que destaco: É assinante há uns anos e pelo

que diz tem ajudado os seus familiares a ler e a apreciar também a revista. É um modo de fazer «propaganda». Mos-tra ser missionária através da oração e da catequese. Por último, o que eu acho muito interessante, é dar em prémio a revista à sua aluna da catequese mais assídua às lições. Enfim, pequenos ges-tos que marcam a diferença.MC

Renovea sua assinaturaAGRADECEMOS que os nossos es ti­mados assinantes renovem a assina­tura para 2012.

SÓ AS ASSINATURAS actualizadas poderão usufruir do pequeno apoio do estado ao porte dos correios.NA FOLHA on de vai escrita a sua direcção, do lado esquerdo, poderá verificar o ano pago e o seu núme­ro de assinante.

O PAGAMENTO da assinatura pode­rá ser feito através dos colaborado­res, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multiban­co, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária:NIB 0033 0000 00101759888 05IMPORTANTE Refira sempre o nú ­me ro ou nome do assinante.

OS DO NA TIVOS para as missões são de dutíveis no IRS.SE DESEJAR RECIBO, deverá enviar­­nos o seu número de contribuinte.

MUITOS LEITORES chamam à FÁTI­MA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim pro­cedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assi­nantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Page 7: Cabo Verde

NOVEMBRO 2011 07 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto TERESA CARVALHO ilustração MIGUEL CARVALHO

– Sabes, Maria, acho que só me admirei a mim e a Deus. Mas, o mais curioso e triste é que não gosto de mim. Não sou feliz!Maria olhava enternecida pa­ra a sua amiga Alice, comovi­da com a sua sinceridade.– Mas tu és tão amiga, tão disponível, ajudaste tantas pessoas…– Não sei quem sou. Tão de­pressa estou bem a ajudar, como de repente insulto e sou agressiva para os mais pe­quenos. O mais caricato é que houve tempos em que até eu pensava que era boa pessoa. Hoje, acho que ser boa pes­soa é mais do que isso. Uma “boa pessoa” não pode andar a magoar os outros, sobretu­do quem não é capaz de se defender. Isso é pobreza!– Como podes dizer isso, se foste a advogada de tantas pessoas sem meios de paga­mento, defendeste as suas causas, lutaste ao lado delas!?– Sim, mas o que eu queria era ganhar. O meu verdadei­ro interesse era “eu”. Acredi­ta que ter consciência disto aos 67 anos é frustrante!Maria sentiu crescer dentro de si a admiração por Ali­ce. Sempre a olhara como exemplo de determinação, de liberdade e generosida­de. Hoje, admira a sua ver­dade e coragem de pôr­se em questão.– Com todas as descobertas de que afinal não és “boa pessoa”, que pretendes fa­zer?, desafiou Maria, rindo e

tentando reduzir a serieda­de daquele encontro de café.– Não sei! Mas apetece­me conhecer­me! Preciso resol­ver as minhas contradições. Sempre fui livre, sempre fiz o que quis, disse o que que­ria dizer e agora vejo­me sozinha, fechada a cuidar da casa e das coisas que fui acumulando. Percebo que fiz tudo errado. Até os livros que guardei, estão lá empilhados. Devia ter­lhes dado outra uti­lidade – sei lá! – partilhado. Afinal nunca fui livre.– Credo, Alice! Estás a exa­gerar. Devias consultar um especialista.– Vou mesmo. Não é por es­

tar deprimida, mas para me entender a mim mesma. Já te disse que não tenho ami­gos. Não confio em ninguém. Fecho­me para me proteger. Pus tantas barreiras à minha volta que, quando dei conta, já estava presa. Estou presa, Maria! E o tempo de amar foi passando. Passou!– Se o teu problema é esse, podes começar já a resolvê­­lo. Não atrases mais “o tem­po”. Pessoas para amar não te faltam. Até podes começar já por mim!– Não digas tolices, Maria! Não precisas de mim: tens tanta gente que te rodeia!– Não me imagino sem ti no

É sempre tempode romper o casulo

meu grupo de amigos. Sa­bes, Alice, o amor é viciante. Quanto mais amor constróis, mais queres construir e mais alargado vai sendo o grupo a que pertences.– Pergunto­me como só aos 67 anos percebi isso. Mas ain­da não o sei viver. Estou mui­to sozinha, tenho muito para treinar! – Só podes ter razão, Alice: é mesmo uma questão de “treino”. Quem como tu usa a liberdade para se perguntar e procurar o amor, talvez já o tenha encontrado. Precisa treinar! E é sempre tempo disso! Só então o “tempo” fica preenchido.

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 08 NOVEMBRO 2011

BRASIL missionários de 11 países vão à escolaCom a idade média de 29 anos, 20 missionários apren-dem a fazer missão no Brasil, num curso de 90 dias. Os alunos são originários de 11 países: Gana, Itália, Nigéria, México, Filipinas, Vietname, Polónia, Honduras, Eslo-váquia, Paraguai e Alemanha. Além da aprendizagem da língua portuguesa, o curso introduz os alunos na cultura e vida da Igreja do Brasil, proporcionando ao missioná-rio estrangeiro “uma correcta experiência de inculturação, como recurso fundamental da pessoa humana”, sublinha o director do curso.

ÁFRICA grande epidemia de cóleraSegundo as Nações Unidas, a taxa de mortalidade ultrapas-sa os 22 por cento, em várias regiões da África Central e Oci-dental, com cerca de 100 mil casos registados. “O número de casos declarados e a sua expressão significa que a região está confrontada com uma das maiores epidemias da sua história”, declarou o porta-voz da UNICEF, organização das Nações Unidas para a infância, Marixie Mercado. Chade, Camarões e República Democrática do Congo são os países mais afecta-dos. Nalgumas regiões, já há anos que não se sentia a presença da cólera, o que torna as populações mais vulneráveis.

Inaugurado a 13 de Outubro de 1991, o Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima, está a celebrar 20 anos. Propriedade dos Missionários da Consolata, o museu é uma obra de grande alcance que pretende dar a conhecer aos peregrinos de Fátima a história da evangelização até à actualidade missionária. Além do valor museológico das colecçõesde arte sacra sobre a infância e a paixão de Cristo, o museu apresenta duas colecções de várias missõesda África e da América Latina,a que se junta uma colecção dos Missionários da Boa Nova, sobre

o Oriente. Através das visitas guiadas, o conjunto museológico revela-se um instrumento válido para divulgar a ideia missionária, qualificando a presença dos Missionários da Consolata em Fátima. As pessoasque visitam a cidade da Virgem, ponto de encontro das mais variadas culturas e povos, descobrirão neste espaço a expressão da catolicidadedo Cristianismo.Interagindo com escolas e grupos paroquiais, ao longo de dois decénios o museu foi palco de imensas iniciativas que envolveu sobretudo jovens e crianças. Proporcionou-lhes

a ocasião de tomar contacto com experiências missionárias actuais, que abrangem as várias dimensões da vida humana e das sociedades hodiernas.A celebração do 20º aniversário foi ocasião para lançar uma obra há muito solicitada: o roteiro do museu, instrumento adequado para acompanhar o visitante tanto durante, como após a visita. Igualmente há muito pensada e preparada, foi apresentada, durante a sessão comemorativa, a Liga dos Amigos do Museu, que espera agora pela chegada de novos amigos.

20 anos a tornar conhecida a missão

Page 9: Cabo Verde

TOBIAS OLIVEIRA,

NAIROBI, Quénia

NOVEMBRO 2011 09 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Sobre Yousef Nadarkhani, pastor cris-tão iraniano, pesa uma iminente con-denação à morte, acusado de aposta-sia. Enquanto esperam a resolução do caso, cristãos do Irão vêem-se obriga-dos a abandonar o país para poderem professar livremente a sua fé, informa a organização «Christian Solidarity Worldwide», que segue a situação dos direitos dos cristãos no mundo. São ameaçados pelos chamados “Soldados Desconhecidos”, acusados de ter liga-ções com os serviços secretos irania-nos. O pastor cristão aguarda a decisão sobre o seu destino, que está nas mãos do líder religioso local, o ayatollah Ghorbani. Os cristãos receiam que se-jam imputadas falsas acusações contra Nadarkhani para justificar a sentença definitiva de morte. Nos últimos 11

Todos os anos, mais de mil jovens per-tencentes a minorias religiosas são rap-tadas, violentadas e convertidas ao Islão, no Paquistão, por muçulmanos radicais. É um balanço negro realizado por diver-sas fontes da sociedade civil e pela Igre-ja católica paquistanesa. Às minorias religiosas “não é garantida a justiça dos tribunais”. As mulheres paquistanesas vivem em situação de inferioridade. Pelo estigma de pertencer a uma minoria religiosa, as mulheres cristãs são ainda mais vulneráveis. Sofrem abusos e de-vem calar-se, sob pena de novas violên-cias contra a própria família.

“Demasiadas crianças vítimas da violência desde o início dos confrontos”, deplo-ra a UNICEF, organização das Nações Unidas para a Infância. Os conflitos no Iémen já mataram 94 crianças e feriram 240. Além disso, verifica-se que 58 por cento das crianças têm atrasos no crescimento. São dramáticos os números da UNICEF, que condena “toda a violência contra crianças” e julga “deplorável que as crianças sejam vítimas de fogo cruzado”. O Iémen está afundar-se numa crise humanitária que afecta sobretudo os mais vulneráveis. Mesmo antes do conflito, eram alarmantes os casos de desnutrição. A situação agrava-se com o aumento dos preços dos bens essenciais e o colapso dos serviços sanitários.

IRÃO ameaças obrigam cristãos à fuga

meses, 137 cristãos foram presos arbi-trariamente e cerca de 40 permanece-ram na cadeia várias semanas.

IÉMEN crianças vítimas da violência

PAQUISTÃO jovens obrigadas a converter-se ao Islão

Escrevi estas linhas durante uma semana de repouso que estive a gozar em Mombaça, junto das tépidas águas do oceano Índico. Acompanhou-me aquela incerteza a que me referi no texto do mês passado, que denunciava em mim uma ponta de pessimismo, ao constatar que para o bom povo do Quénia a pobreza, a carestia e a insegurança são pão de cada dia ou, como eu dizia, chuva no molhado. Nestes dias toca-nos ainda acrescentar as incursões terroristas vindas da Somália com o consequente rapto de pessoas, entre as quais duas doutoras espanholas, cujo paradeiro continua desconhecido.Nestes dias, esse toque de pessimismo levou-me a prestar mais atenção à outra face da moeda, ou seja, às tantas razões que levam ao optimismo. Ajudou-me nisso um livro que já há muito desejava ler e que apresenta a oração como um encontro de dois centros, o humano e o divino. Se, de facto, o nosso Deus é aquele “em quem vivemos, nos movemos e existimos”, como diz São Paulo, não é difícil concluir que os males que nos assolam são bem pouco em comparação com a lista interminável dos bens que, dia após dia, nos visitam. A nova Constituição da República que, lentamente, está a ser implementada, a luta contra a doença “especialmente a mortalidade infantil” que viu crescera população do país de nove para 40 milhões, em menos de 50 anos, assim como as liberdades política, social e religiosa, eis aqui algumas das muitas razões que nos levam a exclamar: “Corações ao alto!”.Valeu-me a pena parar esta semana. Foi uma paragem regeneradora.

Descansarajuda a discernir

Page 10: Cabo Verde

FÁTIMA MISSIONÁRIA 10 NOVEMBRO 2011

omo pode a Igre­ja local ser real­mente missio ná ­ria? Sem esquecer a importância,

a oportunidade e a conve­niência dos aspectos mais teóricos, limitar­me­ei a apresentar algumas linhas operativas muito práticas para uma pastoral missioná­ria das nossas dioceses. 1. Despertar e alimentar a consciência de missãoConvém que nas nossas dio­ceses se invente, recupere e apure a consciência de que somos enviados por Deus à sociedade actual para a evan­gelizarmos. E é preciso fazê­­lo com a alegria de um dever e o júbilo de um dom. As dio­ceses deveriam fazer um es­

plano e desígnio missionário.2. Desenvolver uma pas-toral mais diversificadaNormalmente oferece­se a todos o mesmo e de maneira indistinta. Uma diocese para ser missionária tem de:Oferecer possibilidades ca­tequéticas distintas;Adaptar as celebrações ao nível da fé dos participantes;Sair ao encontro dos que es­tão adormecidos para a fé ou a perderam;Não deixar de fora algum extracto da população nem nenhuma faixa etária;Fazer uma opção séria pelos mais desfavorecidos ou desa­fortunados;Continuar a ocupar­se da ética, mas preocupar­se tam­bém com a estética;

Igreja localsujeitoprimeiroda Missão

forço urgente para desenvol­ver o dinamismo apostólico, despertando a consciência de missão nas pessoas, nas paró­quias, nos grupos, nas estru­turas. Para isto é preciso:Despertar e fortalecer a vo­cação missionária ou apos­tólica dos leigos em todos os processos catequéticos, for­mativos e celebrativos;Impulsionar o anúncio e a irradiação pessoal da fé; Promover o valor do tes­temunho da vida pessoal, grupal e comunitário;Elaborar e desenvolver, pou co a pouco, um projecto missionário que ajude a su­perar planificações de carác­ter puramente sacramenta­lista ou catequético e nos faça caminhar em direcção a um

Não ter medo do mundo, não desconfiar da ciência, procurar, encontrar e amar as pessoas deste tempo como elas são e não como gostaría­mos que fossem.3. Desenvolver uma cate-quese missionáriaImpõe­se inventar formas novas de catequese missio­nária que leve todos a sair de dentro para fora, ao jeito de espiral. Existe, actualmente, na maior parte das dioceses, uma excelente pastoral sa­cramental. O que falta é uma sólida catequese missioná­ria que leve a uma arejada e apaixonada consciência mis­sionária e a uma profícua e efectiva prática.Para uma catequese mis-sionária são necessárias:

À luz do recente documento dos bispos portugueses sobre a evangelização, o pároco de Ramalde, Porto, aponta pistas para que a Igreja local viva a sua dimensão missionária. Almiro Mendes, em 2005, partiu em missão para a Guiné-Bissau, durante um ano. Além de padre, “fui mecânico, enfermeiro, barbeiro e tudo o mais que faz falta num país, onde o povo vive com falta de tudo”

texto ALMIRO MENDES foto JOÃO CLÁUDIO Almiro Mendes, pároco de Ramalde, Porto

Page 11: Cabo Verde

NOVEMBRO 2011 11 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto CARREIRA JÚNIOR ilustração H. MOURATO

– Pipo, tenho estado a reparar em ti e vejo que estás crescido; deste um bom pulo nas férias grandes. Nos estudos já sei que te correu tudo bem. E como se projecta o teu futuro?– Quanto ao meu futuro, tenho andado em discernimento. Discernimento é uma palavra carae eu nunca tinha ouvido falar nela. Mas, desde que andoa pensar no seminário e nas missões, oiço-a muitas vezes.Dizem os professores que para darmos um passo que dure para toda a vida, é preciso pensarmos bem, para podermos tomar uma decisão correcta.Temos de avaliar os prós e os contras, para depois não termos de nos arrepender. Por isso não se admirem se eu por vezes ando a modos que pensativo. Por enquanto não tenho dúvidas sobre a minha vontade de ser missionário. Mas ainda sou muito novo. Nem sequer sou adolescente. Mas, também não quero que me chamem um simples garoto; tenho as minhas ideias e só peço a Deus e aos professores que me ajudem no tal discernimento, para eu ver claro e saber o que Deus quer de mim.

Pipo em discernimentoNo “Ide” final da Eucaristia, temos de perceber a actualização permanente do mandato de Cristo: “Ide pelo mundoe anunciai o Evangelho”Acções de primeiro anúncio;Desenvolver uma pastoral pré-catecumenal de carácter evangelizador;Promover catecumenatos para pessoas afastadas;Possibilitar nas paróquias uma catequese de adultos de cariz missionário.4. Celebrar a Eucaristia com intenção missionáriaA Eucaristia é fonte e, ao mes-mo tempo, vértice de toda a evangelização. Constitui o meio por excelência para relançar, de modo audaz, a missão «ad Gentes». Nela havemos de encontrar o im-pulso dinamizador da acção evangelizadora da Igreja. No “Ide” final da Eucaristia, te-mos de perceber a actualiza-ção permanente do mandato de Cristo: “Ide pelo mundo e anunciai o Evangelho”.Para isto é preciso:Promover a participação plena, activa e consciente dos fiéis;Preparar bem as celebra-ções;Ser mestre na arte de bem acolher quem chega pela pri-meira ou milésima vez;Promover a qualidade;Tirar partido da estética;Valorizar a força expressiva dos sinais e gestos;Cuidar da linguagem;Ter em conta a sensibili-dade, as preocupações e as inquietações das pessoas deste tempo.5. Ousar ir mais longeElenco, aqui, de forma ale-atória e sem uma ordem valorativa, alguns aspec-tos que poderão contribuir

também para que a Igreja local seja mais missionária:Criação de institutos mis-sionários de cariz diocesano;Maior mobilidade do clero e, quanto possível, dispensar temporariamente sacerdotes diocesanos para a Missão «ad Gentes»;Consciencialização e for-mação missionária nos semi-nários diocesanos;Convidar missionários para os conselhos presbiterais e para os conselhos de pastoralEm parceria com os insti-tutos missionários, organizar e subsidiar o voluntariado lai-cal «ad Gentes»;Intercâmbios e gemina-ções, sobretudo com África;Potenciar o Dia Mundial das Missões e criar o Dia Dio-cesano das Missões;Desenvolver uma pasto-ral dos enfermos com sen-tido missionário. A causa missionária teria muito a ganhar com as orações e a dor de tantos;Criar nos fiéis leigos a cons-ciência de que ser missioná-rio poderá implicar percorrer milhares de quilómetros ou apenas percorrer meia dúzia de metros, atravessar a rua e ir ao encontro do outro levan-do-lhe a Boa Nova ao jeito de Jesus Cristo.Que o Espírito Santo nos presenteie com a lucidez necessária e as forças que são precisas para fazermos das nossas Igrejas locais su-jeitos primeiros da Missão e verdadeiras instâncias do amor de Cristo, o missioná-rio do Pai.

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texto CONCEIÇÃO MARQUES foto E. ASSUNÇÃO

uis Deus que eu vivesse num contexto que me foi desper-tando, progres-sivamente, para

novas realidades, levando-me a procurar respostas credíveis para responder às situações actuais da nova evangeliza-ção. Até a África enfrenta a imposição de uma cultura sem Deus ou habitada por deuses estranhos. Permeada de hedonismo e consumis-mo, ela oferece uma mensa-gem cativante para os tempos de hoje. A preocupação de compreender o nosso tempo levou-me, durante as minhas férias, a frequentar um curso sobre diálogo inter-religioso, em Roma, na Universidade Pontifícia Gregoriana. Nos últimos dez anos, trabalhei na Universidade Católica de Mo-çambique, uma escola aberta a todas as crenças. Cada um na sua realidade, os estudantes revelam um grande desejo de saber mais e querem confrontar-se com a doutrina católica. São re-ceptivos e, ao mesmo tempo, contestadores e participati-vos nos debates. Admiram e apreciam a doutrina social da Igreja católica. Dizia-me um estudante, de formação pro-testante, quando soube da minha partida: “Agora, que

Em 10 anos de serviço à Universidade Católica de Moçambique, Conceição Marques descobre os enormes desafios da erapós-moderna. A missionária da Consolata de Santa Catarinada Serra, Leiria, cruza-se com uma variedade de culturas,“onde as pessoas, na maior parte dos casos, não convivem,não se conhecem, nem se sentem irmãos”

Por uma cultura diferente

pode ficar à espera que o povo venha à Igreja para lhe fazer as suas catequeses. Serão sempre menos os que vêm ter connosco e cada vez mais os que se aproximam da realida-de humana para lhe oferecer outras mensagens.

A maioria das pessoas é analfabeta de Deus. Terá uma imagem de Deus vaga e,

Conceição Marques em diálogo com alunos do pólo de Nampula da Universidade Católica de Moçambique

a irmã vai deixar a univer-sidade, já pensou em quem vai ocupar o seu lugar?”.

Como evangelizadora, devo ser capaz de estar inte-grada com o povo, saber es-cutá-lo, dialogar e estar pre-parada para iluminar as suas preocupações e anseios com a proposta libertadora de Je-sus Cristo. O missionário não

por vezes, distorcida. Mui-tas pessoas têm alguma in-formação sobre as mais va-riadas propostas religiosas, mas sentem-se confusas e sem certezas. Assim a situa-ção religiosa actual constitui um desafio para o missioná-rio quanto ao vocabulário a usar, à metodologia a seguir ou ao modo de estar. Trata--se de testemunhar através da vida, com um coração de discípulo que experimenta a necessidade do encontro com Deus para se fortificar. O discípulo procura o que fazer – quando e como – tal como um bom samaritano que se aproxima da reali-dade e dá o seu contributo para poder amar e consolar nas situações mais impen-sáveis. Com a sabedoria divino-humana procura ser oportuno e eficaz, munido da paciência do Deus-Amor.

Urge uma nova cultura que seja fruto de um trabalho desenvolvido e participado pelas diferentes culturas, re-sultante do melhor que cada uma pode oferecer para o bem comum. Uma cultura que leve cada um a sentir-se em casa, porque aceite e res-peitado nas suas diferenças, com a consciência de que todos somos irmãos e irmãs, porque filhos do mesmo Pai.

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o distinguir a presi-dente da Libéria, El-len Jonson-Sirleaf, a sua compatriota e ac-tivista, Leymah Gbo-wee, e a jornalista ie-

menita, Tawakkul Karman, a academia sueca parece ter pretendido destacar a importância das mulheres africanas e árabes no desenvolvimento e na pro-moção da paz, em sociedades onde o seu papel e o seu estatuto é frequente-mente secundarizado.Ellen Jonson-Sirleaf, 72 anos, a primeira mulher a assumir a presidência de um país africano, em 2005, enfrenta agora a prova da sua primeira reeleição, numa Libéria profundamente marcada por 14 anos de guerra civil (1989-2003). O conflito causou mais de 250 mil mortos, numa população total de três milhões de habitantes, dezenas de milhares de estropiados, e milhares de crianças--soldados e crianças vítimas a precisarem

Prémio Nobel 2011

Três mulheres pela paz

texto CARLOS CAMPONEZ fotos LUSA

A academia sueca responsável pela atribuição dos Prémios Nobel causou surpresa ao nomear, este ano, três mulheres – duas africanas e uma iemenita – para, no próximo dia 10 de Dezembro, receberem, em Oslo,a maior distinção pela causa da paz

de uma ressocialização que apague as marcas da violência e do ódio deixadas pela guerra civil. A política de Ellen Jon-son-Sirleaf tem sido considerada funda-mental para a pacificação do país, apesar dos desafios que terá ainda de enfrentar.

A força das ideiasA sua compatriota, Leymah Gbowee, 39 anos, é a expressão de que o sonho pode mudar o mundo. Tudo terá co-meçado com a ideia de mobilizar, em 2000, as mulheres liberianas em tor-no de uma ideia simples: uni-las em oração pela paz, fossem elas cristãs, fossem elas muçulmanas. A partir daí, surgiram outras campanhas em torno do movimento das mulheres liberianas unidas pela reconciliação e a democra-cia que criou uma forte pressão social para que os políticos se sentassem à mesa das negociações e daí não saíssem enquanto não chegassem a um acordo.Já o nome de Tawakkul Karman acabou

por ser uma meia surpresa. Esperava-se que o nomeado para o Prémio Nobel da Paz deste ano fosse alguém associado à Primavera Árabe. A jornalista iemenita, de 32 anos, corresponde a esse perfil e vive num dos países onde – como na Arábia Saudita e no Bahrein – os direi-tos e a protecção das mulheres são me-nos reconhecidos. Tawakkul Karman é considerada uma das responsáveis pela mobilização da Primavera iemenita e fundou, em 2005, o movimento Mulhe-res Jornalistas Sem Algemas. Tem luta-do pela defesa da liberdade de expressão e libertação de vários jornalistas presos, e feito da intervenção pacífica uma das principais armas contra o regime.

Mulheres: um papel secundarizadoAo escolher três mulheres para o Nobel de Paz, a academia sueca salientou tam-bém o papel das mulheres nas socieda-des contemporâneas, sistematicamente secundarizado. Aliás, se nos ativéssemos ao perfil das 840 pessoas galardoadas com os diversos Prémio Nobel, diríamos que eles são homens, normalmente nas-cidos ou residentes nos Estados Unidos. Na história dos Prémio Nobel, apenas 44 mulheres receberam o galardão atribuí-do pela academia sueca, a primeira das quais foi, em 1903, a investigadora fran-cesa Marie Curie, a quem foi atribuído o Nobel da Física.

Tawakkul Karman, do Iémen, Ellen Jonson-Sirleaf e Leymah Gbowee da Libéria, distinguidas pela academia sueca

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dos seus antepassados na fé e a entregá-lo aceso às no-vas gerações, para aquecer e iluminar os corações dos ho-mens e mulheres do futuro, à imagem do coração de Cristo.

Raízes do futuroA Igreja de Inhambane afunda as suas raízes na fé em Jesus Cristo, anunciada há 450 anos. Os primeiros missionários, os jesuítas Gon çalo da Silveira, André Fernandes e André da Costa, vindos de Goa, Índia, desembarcaram na baía de Inhambane. Seguindo as margens do rio Mutamba, viajaram até Mocumbi, em Tongue, capital do reino de Gamba, onde chegaram a 10 de Abril de 1560. Depois de sete semanas de catequese, baptizaram solenemente o rei Gamba e a rainha, com mais 400 pessoas. Intrigas palacianas conspiraram con-tra a vida de Gonçalo da Silveira, acabando por lhe roubar a vida, o que ditou a retirada dos jesuítas.

Crescimento da árvoreA Igreja católica regressou à região, após um interregno de cerca de 200 anos. Em 1728, os portugueses estabeleceram uma feitoria e uma praça, em Inhambane. Em 1761 deu-se a elevação à categoria de vila, sendo então criada a paróquia de Nossa Senhora da Concei-ção e, em 1854, iniciou-se a construção da igreja matriz.Depois de um período de presença efectiva e de acti-vidade missionária sistemá-tica, os jesuítas criaram, em 1890, a missão de Môngué. Os Franciscanos deram novo impulso com a criação das missões de Mocumbi (1909), Homoíne (1910), Mocodoe-ne (1936) e Mavila (1939). O campo cresceu, mas os

inquenta anos de existência repre-sentam um lon-go caminho rico de riscos, ale-

grias, dificuldades, compro-missos, satisfações e graças. O jubileu é uma ocasião para recordar, agradecer e reafir-mar uma evangelização difí-cil, mas rica em frutos. É uma

oportunidade para evocar os inícios, recuperar a inspira-ção e renovar o compromisso missionário e cristão. Para a Igreja de Inhambane representa o desafio de con-tinuar o serviço de evange-lização com a formação dos catecúmenos e de intensifi-car a formação dos leigos. A diocese não poderá esquecer

a dimensão missionária, para que os católicos se sintam cada vez mais responsáveis em comunicar a fé aos seus irmãos. Na recordação do seu passa-do, os católicos de Inhamba-ne põem os olhos no futuro. Ao celebrar o 50º aniversário da criação da diocese, estão dispostos a receber o fogo

50 anos a crescerfirmes na féA 8 de Dezembro de 2012 completam-se 50 anos da diocese de Inhambane, Moçambique. Meio século de vida, de história que a diocese irá recordar, dar a conhecer e partilhar, a partir da próxima solenidade da Imaculada Conceição, padroeira da diocese, que marca a abertura oficial do jubileu

texto DIAMANTINO ANTUNES fotos ANA PAULA e MARGARIDA RIBEIRO ROSA

Diocese de Inhambane, Moçambique

Catequistas provenientes de várias dioceses em formação no Centro Catequético do Guiúa

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trabalhadores eram poucos.O cardeal Teodósio Clemen-te de Gouveia, arcebispo de Lourenço Marques, convi-dou então os Missionários da Consolata, presentes no norte de Moçambique desde 1926, a evangelizar a zona norte da actual diocese de Inhambane, desprovida de missionários.O primeiro gru po chegou em 1946 e fundou as missões de Massinga e de Nova Mam-bone. Em 1947, foi a vez das missões de Mapinhane e de Maimelane. Entre 1950 e 1962 houve um grande de-senvolvimento da actividade de evangelização do vasto território de Inhambane. Foram fundadas novas mis-sões no litoral e no interior: Panda, Jangamo, Morrum-bene, Quissico, Inharrime, Maxixe e Muvamba.

Nasce a dioceseConsiderando a vastidão do território e o aumento signi-ficativo do número de católi-cos e de missões, o Papa João XXIII criou, a 3 de Agosto de 1962, a diocese de Inhamba-ne. Contava então 17 paró-quias e 135.030 cristãos, 23 por cento da população calcu-lada em 583.772 habitantes.

O primeiro bispo, Ernesto Gonçalves Costa, missioná-rio franciscano, orientou a jovem diocese de modo inte-ligente e eficaz. Criou novas missões e dotou-a de infra--estruturas relevantes, como a escola de magistério, o se-cretariado de acção pastoral, o centro catequético do Gui úa e a nova catedral.

Resiste ao cicloneGuiada por um novo pastor, o moçambicano Alberto Se-tele, a diocese enfrenta o ci-clone da revolução socialista e ateia, depois da indepen-dência do país. Foi o tempo do sofrimento e da prova: a nacionalização das principais estruturas pastorais e sociais da diocese; o abandono for-çado das missões por parte dos missionários e a redução do seu número; e as fortes li-mitações à acção pastoral. No auge da tempestade, houve fiéis e catequistas que aban-donaram a Igreja, mas nu-merosas comunidades cris-tãs e leigos permaneceram fiéis, assegurando a continui-dade de uma Igreja ferida e estigmatizada. Seguiu-se a guerra civil, que assolou a província de

Inhambane a partir de 1982. A Igreja soube manter-se ao lado do povo. Comunidades, cristãos e missionários, sofre-ram juntos na carne e na pele as consequências da luta fra-tricida. No vértice da violên-cia, 23 catequistas e seus fa-miliares foram chacinados no Centro Catequético do Guiúa, em 22 de Março de 1992.

Brotam novos ramosCom o Acordo Geral de Paz, de 4 de Outubro de 1992, che-gou a paz tão desejada. A dio-cese passou a contar com mis-sionários e missionárias de

novas congregações recém--chegadas a Moçambique. Com a devolução das missões pelo governo, recuperam-se edifícios e abrem-se novas perspectivas para activida-des educativas, de promoção humana e sócio-económicas. Os cristãos recobram a es-perança e assumem a res-ponsabilidade pela vida das comunidades. Os jovens vão despertando lentamente para a vocação consagrada, no sa-cerdócio e na vida religiosa.Adriano Langa, actual bis-po de Inhambane sucede a Alberto Setele, falecido em 2006. Conhecedor da situa-ção da diocese, tem sido sua preocupação a animação dos agentes pastorais para uma evangelização aprofundada.Os actuais 250.000 católicos da diocese são o fruto de 22 paróquias e 635 comunida-des cristãs da bonita e ro-busta árvore diocesana plan-tada nesta terra. A Igreja de Inhambane está viva e activa. São inúmeras as iniciativas que, a um ritmo constante, se realizam a nível paroquial e diocesano. A prioridade é a evangelização, tendo a edu-cação como meio privilegiado de promoção humana.

Nova catedral de Inhambane substituiu a antiga (à direita), dedicada a Nossa Senhora da Conceição e começada a construir em 1854

A Igreja de Inhambane está viva e activa. São inúmeras as iniciativasque, a umritmo constante,se realizam a nível paroquiale diocesano

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Pedro Pires foi o vencedor, este ano, do Prémio de Boa Governação em África. Éo segundo líder lusófono distinguido depoisdo moçambicano Joaquim Chissano em 2007. Antigo guerrilheiro nas matas da Guiné-Bissau, Pedro Pires foi primeiro--ministro e depois presidente de Cabo Verde, ajudando a consolidar a democracia num arquipélago árido mas respeitado por todos pelo apego ao desenvolvimentotexto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA

Um cab o-verdianoque dá exemploa África

uando chegou ao ginásio na Cidade da Praia, Pedro Pires já sabia ter conquis-tado o Prémio de Boa Governação em África. Mas nem a notícia de ir receber

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Um cab o-verdianoque dá exemploa África

Existente desde 2007, o Prémio de Boa Governação em África foi atribuído a título especial ao sul--africano Nelson Mandela, ao moçambicano Joaquim Chissano e ao botsuanês Festus Mogae

cinco milhões de dólares (3,7 milhões de euros) ao longo de uma década e depois mais 200 mil dólares anuais de pensão vitalícia fez com que o ex--presidente cabo-verdiano alterasse a sua rotina, o que coincide com a sua aura de humildade. E, assim, foi de calças de fato-de-treino, pólo e ténis que os jornalistas o entrevistaram mal souberam da sua distinção com o mais valioso prémio mundial.

Oferecido pela Fundação Mo Ibrahim, criada por um magnata suda-nês das telecomunicações, o Prémio de Boa Governação em África distingue os líderes subsarianos que deixam o poder por vontade própria, confirman-do um legado democrático associado à sua figura. É o caso de Pedro Pires, que depois de ser primeiro-ministro entre 1975 e 1991, nos tempos de par-tido único, fez-se eleger em 2001 para presidente, foi reeleito em 2006 e opôs-se a qualquer tentativa de revisão

constitucional para candidatar-se ao terceiro mandato de chefe de Estado.

Nesse dia 10 de Outubro, Pedro Pires confessava ainda “não saber” o que irá fazer com o dinheiro do pré-mio. Mas acrescentou que “ajudar as duas filhas” será uma prioridade. Ou-tro destino possível de parte da ver-ba é uma fundação, velho projecto de homem de 77 anos, nascido em São Filipe, na ilha do Fogo, e que abando-nou os estudos em Portugal para se dedicar à luta pela independência. Nas matas da Guiné-Bissau chegou a ser um dos cinco comandantes principais da guerrilha do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC). Fundado por Amílcar Cabral, de origem cabo-verdiana, o PAIGC combatia pela libertação dessas duas colónias portuguesas, mas se a li-derança era sobretudo do arquipélago, já os combatentes eram na sua maioria

guineenses. Pedro Pires era aliás o úni-co cabo-verdiano entre os cinco chefes militares mais importantes, outro de-les Nino Vieira, que chegou a ser duas

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vezes presidente da Guiné-Bissau e foi assassinado por militares em 2009.

Dedicando o seu prémio a “todos os combatentes pela independência”, Pedro Pires reforçou a sua determina-ção de escrever umas memórias que permitam dar a conhecer melhor o que foi a luta contra o colonialismo por-tuguês, justificando a sua alcunha de “presidente-historiador”, mesmo que desde Setembro tenha cedido o cargo máximo a Jorge Carlos Fonseca. Além de chefe guerrilheiro, Pedro Pires foi também o representante de Cabo Ver-de nas negociações com Portugal que levaram em 1975 à proclamação da in-

Pedro Pires recebe o prémio a título individual, mas também como representante de um país de escassos recursos que faz figura de excepção em África pela sua tradição democrática e apego ao desenvolvimento humano

dependência do arquipélago. E as suas qualidades de diplomata vieram depois ao de cima ao ser chamado como me-diador em conflitos na Guiné-Bissau e na Costa do Marfim. Dono de várias condecorações e títulos honorários, o ex-presidente cabo-verdiano foi no ano passado feito ‘Doutor Honoris Causa” pelo Instituto Superior de Ciências So-ciais e Políticas da Universidade Técni-ca de Lisboa.

Com fama de incorruptível, Pedro Pires recebe o prémio a título individual, mas também como representante de um país de escassos recursos que faz figura de excepção em África pela sua tradição

democrática e apego ao desenvolvimen-to humano. Descobertas por navegado-res portugueses no século XV, as dez ilhas de Cabo Verde eram tão áridas que não havia lá qualquer população. Ser-viram depois de entreposto comercial, como base para a venda de escravos negros para a Europa e as Américas. Da miscigenação de africanos e europeus nasceu a sociedade mestiça cabo-ver-diana, que sempre teve uma atenção especial da metrópole, pois foi nas ilhas que primeiro se criou um liceu em Áfri-ca, gerando uma elite intelectual.

Existente desde 2007, o Prémio de Boa Governação em África foi atri-buído a título especial ao sul-africano Nelson Mandela, ao moçambicano Joa quim Chissano e ao botsuanês Fes-tus Mogae. Houve dois anos mesmo em que não foi atribuído, por falta de líderes premiáveis. Mas ter sido já en-tregue a dois lusófonos é curioso. O próprio Mo Ibrahim, que vive na Grã--Bretanha e olha com tristeza para o seu país natal, disse com alguma ironia ser uma pena que o Sudão não tenha sido uma colónia portuguesa.

*jornalista do DN

Populares revelam sede de leitura na Feira do Livro, na Biblioteca Nacional da cidade da Praia, Cabo Verde

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“Eu, quando decidi integrar o Movimento de Libertação de Cabo Verde, estava aqui em Lisboa. Nesse momento tinha muitos amigos, pessoas com quem trocava impressões. Portanto, cresci politicamente aqui e foi aqui que tomeia decisão”

“Spínola construiu e trabalhou a sua imagem de grande militar. Mas, e este é um ponto de vista pessoal, Spínola foi

completamente derrotado na Guiné. É desta forma que ele sai da Guiné, é desta forma que alguns dos seus colaboradores próximos também saem da Guiné. Eles foram militarmente derrotados. Se nós tínhamos respeito por ele? Claro, tem-se respeito por qualquer chefe militar, sobretudo aquele que temos à nossa frente”

“O mal da Guiné foi o seguinte: não se soube gerir a transição de um movimento de libertação para partido político e também não se conseguiu gerir convenientemente a transformação de um movimento de libertação, de uma guerrilha, num exército regular. Até hoje, a Guinésofre disso. Para resumir,diria que na Guiné o erroestá em que não souberam civilizar o regime”

“Lutei com sinceridade, com lealdade e com empenho para que o meu país fosse independente, trabalhei da mesma forma para que ele avançasse e se construísse

População 512 000 (mais vivem no estrangeiro)Área 4033 quilómetros quadradosDez ilhas (nove habitadas) e cinco ilhéusLínguas português (oficial) e criouloEsperança média de vida homens 70 anos, mulheres 75Moeda escudo cabo-verdianoPrincipais exportações sapatos, vestuário, peixe,

bananas, curtumes e pozolana (cinza vulcânica usadapara fazer cimento).PIB per capita 3010 dólaresTaxa de desemprego 21 por centoPopulação abaixo do nível de pobreza 30 por centoPortugal é o principal fornecedor (41,6 por cento), masEspanha é o principal destino das exportações

Um arquipélago promissor

o Estado soberano, para se lançarem as bases do desenvolvimento do país. Chegámos depois à conclusão de que era necessário liberalizar a economia e também politicamente o país.E assim foi”

“A realidade cabo-verdiana já sabemos que é uma sociedade mestiça, que a sua integração, a sua fusão já se deu. Agora poderá melhorar, mas já se deu”

“Leio livros e vejo a televisão portuguesa”

“Não gosto de ler romances, prefiro contos, ensaios. Nesse aspecto, há vários autores que aprecio. De toda a maneira, gosto do Saramago, na medida em que a leitura dos livros dele é um autêntico exercício de conhecimento da língua, é muito complicado, a meu ver, mas é um exercício interessante para ver se a gente conhece e domina a língua”

(Excertos de uma entrevista a Leonídio Paulo Ferreira publicada no DN a 26/05/2010)

Pedro Piresna primeirapessoa

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Joaquim Chissano: Presidente de Moçambique entre 1986, quando su­cedeu a Samora Machel, e 2005, Joa­quim Chissano foi o primeiro vence­dor do prémio Mo Ibrahim, em 2007. Depois dos estudos em Medicina em Lisboa, deixa Portugal com um grupo de outros estudantes das colónias para se juntar ao movimento de resistência. Um dos fundadores da Frelimo, foi ele quem anos mais tarde assinaria a paz com a Renamo que pôs fim à guerra civil em Moçambique. Tido como res­ponsável pela pacificação e desenvolvi­mento do país no pós­guerra, Chissano deixou o poder de forma voluntária ao fim de dois mandatos já em democra­cia, favorecendo a estabilidade política.

Festus Mogae: Formado em Eco­nomia no Reino Unido, Festus Mogae foi funcionário do Fundo Monetário Internacional antes de regressar ao Botswana, onde presidiu ao Banco Central. Eleito presidente em 1999, o economista prometeu fazer da luta contra a pobreza e contra o desem­prego a sua prioridade, isto sem es­quecer o combate à sida, que prome­teu erradicar em 2016. Reeleito em 2004, quatro anos depois decidiu não se recandidatar à presidência daquele que foi um dos mais pobres países de África, à época da sua independência. Hoje é um dos mais prósperos, o que lhe valeu o prémio Mo Ibrahim para a boa governação em África em 2008.

Nelson Mandela: Considerado como o maior líder mundial ainda vivo, Nel­son Mandela, hoje com 93 anos, re­cebeu em 2007 das mãos do próprio Mo Ibrahim um prémio honorário da fundação criada pelo magnata das te­lecomunicações sudanês. Depois de 27 anos preso, Madiba, como é cari­nhosamente tratado na África do Sul, tornou­se em 1994 o primeiro presi­dente do país pós­apartheid. Nobel da Paz em 1993, Mandela decidiu retirar­­se ao fim de um mandato, mas ficará para sempre como o homem cujo bom senso conseguiu promover o entendi­mento e evitar a vingança dos negros sobre os brancos depois de décadas de um regime racista.

A tendência geral em África é de dese­quilíbrio. Esta é a principal conclusão do quinto índice Ibrahim de Governação Africana. Criado em 2007, no mesmo ano que o prémio Mo Ibrahim, o índice é este ano liderado pelas Maurícias, segui­das de Cabo Verde, Botswana, Seicheles

Radiografia do continentee África do Sul. Países que se destacaram nas categorias em análise: Segurança e Estado de direito, Participação e Direitos Humanos, Oportunidades Económicas e Desenvolvimento Humano. E se a Libé­ria e a Serra Leoa – ambas saídas de lon­gas e mortíferas guerras civis – foram os

países que mais progressos registaram nos últimos cinco anos, Madagáscar, a ilha onde se registou uma forte agitação social, foi o que mais retrocedeu. Para Mo Ibrahim: “Os resultados do índice são o eco dessas reivindicações [dos jo­vens africanos] – realizações na gestão

Os anteriores vencedoresdo prémio

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Mo Ibrahim gosta de dizer de si pró-prio que é apenas um engenheiro que trabalhou muito, esteve no sítio certo à hora certa e tem senso comum. Mas a verdade é que o magnata das tele-comunicações, nascido no Sudão em 1946, é muito mais do que isso. Pouco conhecido a nível internacional, o pres-tígio que ganhou graças ao sucesso da sua operadora africana, a Celtel, con-seguiu convencer figuras tão impor-tantes como o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ou a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, a integra-rem o júri que anualmente escolhe o vencedor do prémio da Fundação Mo Ibrahim. Criado em 2007 – ano em que foi ganho pelo ex-presidente mo-

çambicano Joaquim Chissano – este visa recompensar chefes de estado ou de governo da África subsariana que tenham saído do poder de livre vonta-de. Com um valor de cinco milhões de dólares, entregue em fatias de 500 mil dólares anuais, mais 200 mil dólares anuais até à morte do vencedor e ain-da dez vezes 200 mil para projectos de desenvolvimento, este é o maior pré-mio do mundo, mais do que o milhão do Nobel. Uma generosidade só possí-vel graças à fortuna que Mo Ibrahim acumulou com a venda das empresas que fundou. Depois dos estudos na es-cola núbia de Alexandria, formou-se em Engenharia no Reino Unido, para onde foi viver com a mulher, Hania,

em 1974. Depois de uma bem sucedida carreira na British Telecom, em finais dos anos 1980, criou a MSI, que dese-nhava especificações técnicas para as operadoras de telemóveis. Vendeu-a em 2000 por 916 milhões. Dois anos antes criara a Celtel, a primeira ope-radora centrada exclusivamente em África. E, muito graças ao seu traba-lho, entre 1999 e 2004, o número de africanos que usam telemóvel passou de 7,5 milhões para 76,8 milhões. De-pois de vender a Celtel por 3,4 mil mi-lhões, Mo Ibrahim decidiu dedicar-se à sua fundação, criada pela sua filha Hadeel com um objectivo claro: me-lhorar a imagem de África. O seu outro filho, Hosh, é actor.

económica e no desenvolvimento hu-mano, embora notáveis, não serão con-cretizadas se persistir um défice demo-crático”. O sudanês acrescentou ainda: “As histórias de sucesso de África estão a distribuir o conjunto global de bens e serviços a que os cidadãos têm direito e

estão a construir um caminho que espe-ramos venha a ser seguido mais tarde”. Angola e Togo também apresentaram alguns progressos, enquanto Egipto, Tu-nísia e Líbia, que na altura da elaboração do índice ainda não viviam a Primavera Árabe, revelavam entre o fraco desempe-

nho na segurança, participação e direitos humanos, em contraste com o bom de-sempenho na área económica. No fim da tabela, os últimos lugares são ocupados pela República Centro-Africana, pela República Democrática do Congo, Zim-babwe, Chade, Somália.

Milionário que quer mudara imagem de África

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 22 NOVEMBRO 2011

A festa de todos os santosOlá, pequenos missionários! Novembro está aí e, logo no primeiro dia, a Igreja celebra a festa de Todos os Santos. Perguntam vocês que festa é esta? Pois bem! É uma festa muito importante que nos diz que todos nós podemos e devemos ser santos… Santos vivos! Por isso, neste mês tão bonito, vamos sugerir como actividade missionária a substituição da festa horrível do Halloween por esta festa maravilhosa, onde nos podemos divertir ainda mais. Que vos parece? Bora lá?

texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

O HalloweenÉ uma festa de origem pagã, impossível de se misturar com a festa de Todos os Santos. Celebra as superstições sobre a morte e sobre os defuntos e evoca as pessoas más, como as bruxas, os vampiros

e os monstros, ao mesmo tempo que se pregam partidas que não têm piada nenhuma. É muito popular nos Estados Unidos, mas em Portugal já se começa a celebrar nas creches e escolas,

infelizmente, pois não passa de um negócio para fazer dinheiro.

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NOVEMBRO 2011 23 FÁTIMA MISSIONÁRIA

O meu momentode oraçãoAmigo Jesus, eu quero, do fundo do meu coração, seguir o teu caminho. O meu sonho não é ser um vampiro, nem uma bruxa, nem uma pessoa que pratica o mal. O meu sonho é ser um santo da tua equipa e juntos transformarmos este mundo em luz, alegria e paz. É na tua equipa que eu encontro a minha felicidade, sendo bom para a minha família, sendo amigo dos meus amigos, rezando todos os dias e estando presente na catequese e na Eucaristia. Perdoa-me se às vezes não consigo. Mas Tu conheces-me, por isso chama-me sempre e não desistas de mim. É à tua maneira que eu quero crescer.Pai Nosso

Vamos festejar de maneira diferenteConvidamos todos a fazerem festa, neste ano de 2011, de maneira diferente, na noite de 31 de Outubro. Podemos avisar com antecedência os nossos amiguinhos e preparar na catequese, com a ajuda do catequista, os vários momentos da festa. Todos disfarçados de anjos, com doces numa bolsa e cartões com dicas úteis para se ser santo nos dias de hoje, podemos ir pelas portas da vizinhança e explicar o que estão a fazer: no dia seguinte é uma festa muito importante para a Igreja. Também podem fazer uma festa grande em casa ou na catequese e, disfarçados de anjos, divertirem-se. Os santos são pessoas felizes e divertidas, uma vez que ser cristão é a melhor coisa do mundo.

Jesus chama-te para O seguiresNa Igreja católica, o dia de “Todos os Santos” é celebrado no dia 1 de Novembro. É a festa dos Santos que já conhecemos, de quem sabemos o nome. Mas é também dos santos anónimos, que andam entre nós e que não conhecemos.A Igreja celebra e relembra o chamamento de Cristo a cada um de nós para O seguir e ser santo. Isto é, para sermos como Deus, para imitarmos a sua bondade. Foi assim que fomos criados e é como devemos caminhar em amor. Por isso, o dia de Todos os Santos é dia de ir com a nossa família à Eucaristia.

Sabias queO Papa João Paulo II era um grande fã desta festa. Está aqui um grande exemplo, que vocês podem estudar, para vos ajudar a seguir o caminho da santidade.

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 24 NOVEMBRO 2011

texto LUÍS MAURÍCIOfoto LUSA

Prova de estrada de velocidade média,

o rali desenvolve-se parcialmente em

estradas abertas ao tráfego normal e em itinerário único, que

deve ser seguido por todos os

veículos, ou em vias que conduzem

a um ponto de concentração

pré-determinado, podendo ou não

seguir umcaminho comum

Rali da Vi daOlhando para a vida, vejo o ser humano a enfrentar o de-safio de abrir caminho atra-vés de diferentes itinerários. Por vezes, “acompanhado” na aventura de construir um mesmo sonho; outras “sozi-nho”, embarcado no único projecto, onde o “sim” pes-soal se torna vital e determi-nante para alcançar a vitória.Como num rali, percorre-mos o mundo a uma ve-locidade média, marcada pelo cronómetro da idade,

condicionados pelos altos e baixos do terreno, com avanços e recuos nas nos-sas incontáveis experiên-cias. Tanto no mundo do rali, assim como na nossa vida interior, chamamos-lhe “etapas”. São momentos im-portantes que nos marcam profundamente e que, no confronto com a “realida-de”, acabam por nos revelar a nossa verdadeira identi-dade. É na relação com a rea lidade que o homem des-

cobre as suas potencialida-des, necessidades e as pos-sibilidades de nela intervir. No rali da vida, o anseio de felicidade torna-se o com-bustível que move o coração humano, chamado a abrir--se à transcendência. O ho-mem que procura sentido não se contenta em perma-necer fechado em si mesmo, reconhece que lhe toca viver profundamente um ideal e lutar por uma finalidade última. Aqui, faço minhas

Eis o grande desafio da nossa existência: envolver-se com o mundo, na medida em que crescemos no conhecimento de nós própriose dos outros

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NOVEMBRO 2011 25 FÁTIMA MISSIONÁRIA

Rali da Vi da

Bomou mau piloto?Pistas para saber pilotara sério no rali da vida

O piloto maduro distingue-se pelas seguintes características:Controla adequadamente a sua vida emocional, o que lhe permite resolver os problemas, agora com maior serenidade e segurança do que nas etapas iniciais da vida – infância e adolescência.

Adapta-se inteiramente à vida social e cultural. Sente a necessidade de formar a sua própria família ou de identificar-se com um estilo de vida que lhe garanta autonomia e desenvolvimento pessoal.

É capaz de reconhecer e valorizar as suas possibilidades e limitações, sentindo-se aptoa realizar umas acções e incapaz de outras. É a condição básica para o comportamento eficaz de uma pessoa equilibrada.

Em geral, tem uma percepção correcta da realidade (objectividade), que lhe permite actuar de forma mais segura e responsável.

O piloto imaturo tem características completamente opostas:

Tem um comportamento contraditório e muito inconsistente. Geralmente, não controla as suas reacções emocionais, sinal evidente de pessoa imatura.

Tem grande dificuldade em perceber a realidade como ela é e a sua visão torna-se demasiado subjectiva (falta de objectividade).É menos consciente, pouco responsável e intolerante na sua acção e nas suas relações.

as palavras profundas do célebre psicólogo Viktor Frankl: “Ser homem implica necessariamente uma ul-trapassagem. Transcender--se a si próprio é a essência mesma do existir humano”. Vencer é crescerVêm-me à mente as palavras de um piloto que descrevia a preparação do rali: “Vencer o «Dakar» é impossí vel sem cuidados extremos na pre-paração das máquinas”. É impossível atravessar o itine-rário da vida sem a consciên-cia de que para alcançar a fe-licidade verdadeira é preciso preparar-se cuidadosamente.Uma tal preparação implica apren der com os erros para não os repetir tontamente, deixar o que impede de avan-çar, potenciar e fortalecer os

valores que nos libertam e abrem à verdade absoluta. Em poucas palavras, vencer o rali da vida significa “cres-cer” para nos tornarmos o que somos chamados a ser.Deixo-vos uma frase, plena de conteú do, de um grande filósofo e poeta católico ale-mão, Josef Peiper: “Huma-no significa conhecer para além das estrelas que estão por cima do tecto que nos cobre, isto é, além de toda a adaptação necessária ao concreto de todos os dias, estar consciente da totali-dade das coisas, superar o ‘meio’ e avançar pelo mun-do adentro”. Eis o grande desafio da nossa existência: envolver-se com o mundo, na medida em que cresce-mos no conhecimento de nós próprios e dos outros.

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 26 NOVEMBRO 2011

texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA

“Como são ditosos, como são felizes aqueles servos que o Senhor quando voltar encontrar vigilantes! Ditosa vi-gília em que se espera o próprio Deus, criador do universo, que tudo abrange e tudo transcende! Quem dera que também a mim, seu ser-vo, embora tão indigno, se dignasse des-pertar-me do sono da inércia e inflamar--me no fogo do amor divino, de modo que a chama da sua caridade me iluminasse com o seu esplendor muito mais reful-gente que as estrelas, acendesse em mim

Com as lâmpadas acesas

o desejo ardente de o amar cada vez mais e melhor e nunca mais se extinguisse na minha alma este fogo do amor divino. (…) Que a minha lâmpada esteja sempre acesa e nunca se apague; arda para mim e brilhe para os outros”.

É salutar apropriar-nos destas pa-lavras de um monge irlandês do sécu-lo VII, São Columbano. Ajudar-nos-ão certamente a viver estas últimas sema-nas do ano litúrgico, marcadas por um sério convite à vigilância. Numa das

suas parábolas, São Mateus pede-nos que nos preparemos para o encontro com o Senhor das nossas vidas manten-do sempre as nossas lâmpadas acesas, isto é, vivendo com intensidade o mo-mento presente. A imagem da lâmpada foi muito usada por Jesus para exprimir a necessidade de nunca deixarmos apa-gar dentro de nós a luz da fé. Mandou que a alimentássemos diariamente com o azeite das boas obras, porque só elas falarão. “Brilhe assim a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”. E São João acres-centará: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade”.

Arder para nós e brilhar para os outros. Se Jesus é a luz do mundo, o discípulo é uma lâmpada portadora dessa luz para iluminar todos os ho-mens até aos confins da terra. Uma luz, que foi recebida no nosso baptismo e que não se pode ocultar. Ninguém se pode eximir dessa grande responsabi-lidade diante do mundo. Se o mundo não acredita é também porque a lâm-pada da minha fé não ilumina suficien-temente. Falta-lhe o azeite da oração, as obras do amor e o fogo da missão. Só uma Igreja que for lâmpada acesa na luz de Cristo ressuscitado poderá ilumi-nar o nosso mundo. A lâmpada não se preocupa de iluminar. Simplesmente arde, e ardendo ilumina e ajuda as pes-soas a verem o que nas suas vidas está desarrumado. Com a luz, desfazem-se as trevas em que tanta gente vive.

Que a minha lâmpada não seapa gue. Que a minha vida espiritual se reavive e a minha fé seja capaz de ilumi-nar. “Vela com o coração, diz-nos Santo Agostinho, vela com a fé, com a carida-de, com as obras; prepara as lâmpadas, cuida de que não se apaguem, alimenta--as com o azeite interior de uma recta consciência; permanece unido ao Espo-so pelo Amor, para que Ele te introduza na sala do banquete, onde a tua lâmpada nunca se extinguirá”. Ele é na verdade a Luz perene, que nunca se apaga. Que ela já hoje se manifeste em mim e afugente as trevas que porventura nos dominem.

Que a minha lâmpada não se apague. Que a minha vida espiritual se reavive e a minha fé seja capaz de iluminar

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A palavra faz-se missão

MC

EM NOVEMBRO

DV

Festa de Todos os SantosAp 7, 2-14; 1Jo 3, 1-3;Mt 5, 1-12

O SEGREDO DA FELICIDADECada um de nós nasce para realizar um sonho de Deus. O santo é aquele que descobriu e realizou esse sonho. Celebremo-los e invoquemo-los a todos – conhecidos ou desconhecidos – para que nos ajudem a descobrir o segredo da felicidade. Não se fecharam em si mesmos, mas irradiaram alegria, entu-siasmo e solidariedade por toda a parte.“Quem poderá subir a montanha do Senhor e habitar no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração limpo”.

32º Domingo ComumSab 6, 12-16; 1Tes 4, 13-18; Mt 25, 1-13

LÂMPADAS SEM AZEITECada um de nós, tal como essas dez don-zelas do Evangelho, é convidado para a festa das bodas, onde o esposo é o pró-prio Jesus. Temos uma vida inteira para preparar as lâmpadas para a viagem. O azeite é ele mesmo que no-lo dá durante a nossa existência. Trata-se de caminhar na fé e na caridade, iluminados e nutri-dos pela sua palavra. Tenho azeite que baste para chegar a essa festa? É tempo de espera e de preparação. Não durmas!“Eu sou a luz do mundo: quem me se-gue terá a luz da vida”.

33º Domingo ComumProv 31, 10-31; 1Tes 5, 1.6;Mt 25, 14-30

QUE É DOS TEUS TALENTOS?No fim dos tempos, Deus não medirá as nossas conquistas ou realizações. Não nos perguntará se fizemos proezas admiráveis. Contará somente a nossa fidelidade, assiduidade e caridade com

que cumprimos os nossos deveres, por mais humildes ou pequenos que pare-çam. Não enterres os teus dons. O que Deus te confiou é suficiente para seres feliz e fazer felizes os outros. Ajuda-me, Senhor, a desfrutar todas as minhas capacidades humanas e es-pirituais para o serviço da minha co-munidade de vida.

Festa de Cristo ReiEz 34, 11-17; 1Cor 15,

20-28; Mt 25, 31-46A CHAVE DO REINOTemos nas nossas mãos a chave para abrir a porta do reino. A realeza de Cristo manifesta-se hoje nos nossos gestos. Não poderemos reconhecê-lo no Céu, se não o tivermos visto, amado, vestido e socor-rido aqui na terra em cada rosto que traz a sua marca. Abre a tua porta a cada pró-ximo para que Jesus não te feche a sua. Não procures outras chaves, porque só esta te abre a porta da eternidade.“Eis que estou à porta e bato: se al-guém me abrir, entrarei e cearei com ele e ele comigo”.

1º Domingo de Advento (Ano B) Is 63, 16-19; 64, 1-7;

1Cor 1, 3-9; Mc 13, 33-37 COMO BARRO EM SUAS MÃOSGuiados pelo evangelista São Marcos, iniciamos mais um ano litúrgico. Jesus, por meio da sua Igreja, irá colocar as palavras certas no nosso coração. Dispo-nhamo-nos, desde já, a acolhê-las para que não caiam em vão. Deixemo-nos moldar pelas suas mãos de Pai amoroso, que quer fazer de nós uma obra-prima do seu amor. Com a liturgia, rezemos:“Tu, Senhor, és o nosso Pai; nós somos a argila e Tu quem lhe dá forma, porque todos somos obra das tuas mãos”.

ReconciliaçãoA intenção missionária de Novembro propõe-nos o exercício de uma virtude chamada reconciliação. A reconciliação exige muita força de vontade e uma santidade a toda a prova. Reconciliar-se com alguém é muito mais do que perdoar-lhe uma ofensa. Perdoar é dizer: não te aflijas, não te preocupes, vai em paz. Mas reconciliar-se é restabelecer totalmente o elo quebrado e recomeçar tudo de princípio, como se nada tivesse acontecido antes. Nada que se pareça com “olho por olho, dente por dente”. Ou “perdoo, mas não esqueço”; ou ainda “quem mas faz, mas paga”. A própria Bíblia antiga fala mais de vingança do que perdão e, menos ainda, de reconciliação. O Evangelho, quando fala de 70 vezes sete que se deve perdoar, é sinal que nunca antes houve autêntica reconciliação. A intenção proposta pelo Papa fala de nações inteiras que se guerreiam e matam e, a um sinal de paz, a um tratado entre as duas partes bélicas, baixam as armas e dizem cada pessoa uma à outra: “Perdoo-te”. Mais do que isso é preciso dar o abraço da paz e reconciliar-se. É preciso varrer toda a sombra que possa escurecero campo que separa as duas pessoas ou entidades desavindas.

Para que os povos africanos encontrem em Cristo a força para percorrer o caminho da reconciliação e da justiça, indicado pelo Sínodo Episcopalpara a África

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 28 NOVEMBRO 2011

Ao lermos este título e ao sabermos que o livro foi escrito, vivido e meditado por um padre, ficamos de boca aberta. O próprio autor confessa isso mesmo, dizendo que teve grande relutância em publicar estes textos em livro. Mas vale a pena tê-los publicado e vale a pena lê-los e rezá-los. Acompanham os textos uns graciosos desenhos, riscos apenas que ajudam a concentrar-nos.Autor: José Tolentino Mendonça128 páginas | preço: 10,00€Editorial A. O.

Santa Beatriz da SilvaPor muitas razões e muitas a propósito se escreve este livro no actual período em que se comemora um jubileu muito importante para o conhecimento desta santa portuguesa, os

500 anos da bula do Papa que aprova o regulamento da ordem religiosa. Sem vaidade, mas com sinceridade, andamos precisados de ver os nossos santos e santas evidenciarem-se pela vida que levaram e pelas obras que realizaram. Santa Beatriz é uma delas. O livro tem quatro capítulos de texto e três apêndices.Autor: Senra Coelho112 páginas | preço: 9,00€Paulus Editora

Orar 15 dias com São DomingosÉ este santo, fundador da Ordem dos irmãos Pregadores, os dominicanos, que vai guiar a nossa oração durante 15 dias, adoptando as suas nove maneiras de rezar. Qualquer

cristão, depois de orar estes 15 dias, voltará a sentir vontade de recomeçar. É esta a sugestão que dá o autor.Autor: Alain Quilici112 páginas | preço: 10,00€Paulus Editora

Estranha noiva de guerra É um romance daqueles que podemos, com razão, chamar um romance de guerra ou, como diz um comentador, João de Mancelos, umempolgante

thriller bélico. É narrado com desenvoltura num estilo tão laborioso quanto intenso. Admira-nos o facto de em tão poucos dias de guerra o autorter conseguido arranjar matériapara escrever este romance com tantas nuances: o companheiro morto que ele transporta às costas,os abutres, o régulo, os terroristas,os amores que ele vai cultivandopelo caminho. Uma verdadeira liçãosobre a guerra da Guiné. Quemnão viu, aprenda!Autor: Armor Pires Mota 144 páginas | preço: 16,00€Editora Âncora

O vagabundo da caridadeNem mais nem menos do que a vida do célebre Raul Follereau em banda desenhada. O livro, de tamanho A4, com desenhosa cores,destina-se, a

adolescentes que gostem deste género literário. A 2ª edição portuguesa tem a data de 2005, mas por descrever a vida de um homem tão importante e as obras tão grandiosas que ele realizou, vale a pena gastar os 5,00€e ficar a saber os passos que ele deudurante os 74 anos da sua existência.Realização: René Berthier32 páginas | preço: 5,00€Edições Aparf

As memórias de RasidUm livro lindo, próprio para pequenos e grandes. É uma história em que se descrevem algumas cenas da vida da Sagrada Família de Nazaré, Jesus, José e

Maria, contadas por um cão chamado Rasid. Trata-se de uma fábula, onde se evocam vários animais a falar não com palavras, mas com gestos: patas, olhos, rabo, língua e outros. Todas as cenas são ilustradas com desenhos simples e expressivos, a condizer. O resto só lendo e vendo.Autor: Tomás Trigo160 páginas | preço: 15,00€Editora Diel

As três palavras perdidasO livro é mesmo próprio só para crianças e das mais pequeninas. São frases curtas – tudo ilustrado – com

que os adultos, os pais, os educadores tentarão fazer passar grandes mensagens aos mais pequeninos.Autora: Rita Vilela 16 páginas | preço: 4,99€Paulus Editora

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NOVEMBRO 2011 29 FÁTIMA MISSIONÁRIA

As minhas primeiras orações Pequeno volume de capa dura, com pouco texto e muitos desenhos apropriados para ajudar os mais pequeninos a aprenderem a rezar.

Têm aqui uma acção muito importante os pais, catequistas e outros educadores para descodificar as palavras e as gravuras. Boa prenda de Natal!Autora: Thereza Ameal 50 páginas | preço: 8,90€Paulus Editora

De mão para mão“No passado, os(as) missionários(as) apareciam para informar, formar e solicitar ajuda para as «missões». A motivação era contribuir para a «formação» da Igreja local em terras de missão. Nos nossos dias, cresce a consciência de que a missão já não é geográfica. Os países da Europa, incluindo Portugal, tornaram-se terras de missão: os campanários já não marcam o ritmo das pessoas e o Evangelho é cada vez mais desconhecido em vastas regiõesda Europa”.António FariaVida Consagrada | Outubro 2011

Caminhos novos“Não se faz acção pastoral com nostalgias, nem copiando o quese realiza em paróquias diferentes. Também não se faz, por certo, minimizando ou abandonando o campo onde permanecem pessoas, que aí vivem e lutam. A hora não é de afirmações teóricas, mas de procura de caminhos novos, experimentados aí onde se vivee trabalha”.António MarcelinoNotícias de Beja | 13 Outubro

Missão universal“A Igreja existe para evangelizar. A Missão renova nos cristãos o entusiasmo e a alegria de ser discípulo missionário. O Evangelhonão é um bem somente para quem o conhece, mas uma boa-notícia a ser comunicada para toda a humanidade. O Mês Missionário surgiu com a finalidade de ajudar os baptizados a tomarem consciência da Missão universalda Igreja”.Jaime Carlos PatiasMissões | Outubro 2011

Informação e não só“É do conhecimento de todos, pela larga informação que se tem feito na comunicação social, de que há milhares de pessoas que morrem em cada dia por falta de alimentos, com fome; milhares de crianças desnutridas; doentes que não se curam porque não têm meios para se tratarem; de tudo vamos dando conta nos projectos da APARF. Sabemo-lo, mas nem sempre agimos, não nos despegamosdo supérfluo para lhes acudir”.Rosa Celeste FerreiraO Amigo dos Leprosos | Set./Out. 2011

Passagem de testemunho“A história dos institutos missionários é exemplo vivo de uma dedicação total à missão. São páginas extraordinárias de vigor missionário, envolvendo num mesmo movimento tantos jovens e colaboradores. Ontem, os institutos missionários eram os «profissionais» da missão; a eles foi confiada a missão que, por natureza, pertencia a toda a Igreja e a cada baptizado. Hoje, num processo de rápidas mudanças, as Igrejas locais assumem-se como «sujeito primeiro da missão»”.Alberto Oliveira SilvaAlém-Mar | Outubro 2011

Padre para os outros“Ora, a questão é que ninguém tem direito a ser padre! Eu não tenho direito a ser padre: a Igreja é que tem direito a que eu seja padre, a que haja alguém que, enviado por Deus, lhe administre os sacramentos e alimente com a Palavra de Deus. Porque ser padre é uma questão de os cristãos terem acesso aos sacramentos, e não de poder”.Orlando HenriquesCorreio de Coimbra | 13/10/2011

Evangelho e promoção social“A evangelização favorece sempre o desenvolvimento dos povos. É uma perspectiva que não deve ser subestimada: o anúncio do Evangelho leva e gera solidariedade. Por isso, mesmo se a evangelização é o nosso primeiro objectivo, propomo-nos sempre promover a solidariedade em relação a quantos vivem nos territórios de missão partilhando e compreendendo as suas necessidades humanas, sociais e materiais”.Mario Ponzi | O. R. | 8 Outubro 2011

Cantarei depois da morteSão textos poéticos, são frases aguçadas como flechas atiradas ao coração e à sensibilidade de homens e mulheres, crentes e não crentes.

Fazem doer, fazem pensar. São orações, reflexões, coisas que apelam à mudança de vida. O autor, o patrono dos leprosos, não se compadece com a mediocridade, com a mezinha; quer sempre mais e melhor. Vai ao fundo. Livro interpelativo, útil para todos.Autor: Raoul Follereau 68 páginas | preço: 2,50€Editorial Aparf

BioéticaEste livro – diz-se na apresentação – é uma proposta para estudantes e para aqueles que participam na formação de jovens, de casais e de

famílias. Pretende ser um instrumento útil e essencial para estimular o confronto e a interiorização dos valores essenciais da vida. Não se trata propriamente de um livro de leitura: faz parte de um curso. Mas lê-se tão bem e tem tantas curiosidades que apetece mesmo lê-lo aos bocadinhos.Autor: Giovanni Russo160 páginas | preço: 16,30€Paulus Editora

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 30 NOVEMBRO 2011

8 Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] 8 Rua D.a Maria Faria, 138 Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] 8 Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM Telefone 214 260 279 | [email protected] 8 Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected]

Donativos de apoio aoCentro de Acolhimento

Gurué, Moçambique

Solidariedade vários projectos

Gurué

tijolo 1 euro

porta 25 euros

Acolhimento a doentes e acompanhantesParóquia do Gurué, MoçambiqueImagine-se doente, a dormir ao relento, ou ter um filho hospitalizadoe não poder estar perto dele. Isso acontece na diocese de Gurué,que tem dois milhões de habitantes e apenas um hospital.O bispo da diocese, Francisco Lerma, missionário da Consolata,pretende construir um centro de acolhimento paradoentes e acompanhantes.

pregos 5 euros

sacos de cimento15 euros

telhas 10 euros

Projecto 2011

viga de madeira20 euros

BOLSAS DE ESTUDO Anónimo (Fiães) – 250,00€; Anónimo – 250,00€; Ludovina e Ana Isabel Garrido – 350,00€; Raquel Oliveira – 250,00€. BAIRRO DEEP SEA – NAIROBI – QUÉNIA Josefa Dinis – 6,20€. PADRE TOBIAS OLIVEIRA (QUÉNIA) Anónimo (Fiães) – 50,00€. OFERTAS VÁRIAS Ramiro Pinto – 100,00€; Agostinho Gameiro – 40,00€; Anónimo –

3.000,00€; Fernanda e Orlando Dionísio – 50,00€; José Lourenço – 25,00€; Anónimo – 72,00€; Conceição Policarpo – 100,00€; Ausenda Carvalho – 30,00€; António Ribeiro – 25,00€; Casimira Vieira – 26,00€; Alfredo Santos – 36,00€; Virgínia Ferreira – 25,00€; Maria Sousa – 30,00€; Diamantina Couto – 43,00€; Isabel Pacheco – 25,00€; Simão Gordo – 33,00€; Lucília Martins – 53,00€.

Anónimo (Fiães) – 50,00€; Anónimo (Fiães) – 50,00€; Anónimo (Fiães) – 125,00€; Maria Dias – 3,00€; José Dias – 11,00€; Fátima Matias – 10,00€; Rosália – 5,00€; Anónimo – 50,00€; Anónimo – 80,00€; Anónimo – 500,00€; Emília Ponte – 20,00€; Dolores Rosa – 45,00€; Guilhermina Pereira – 10,00€; Anónimo – 50,00€; Lucinda Branco – 25,00€; Maria Rosário Almeida – 4,00€; Alexandra Pedrosa – 10,00€; Anónimo (Fiães) – 20,00€; Maria Carmo Craveiro – 5,00€; Helena Gomes – 50,00€; António Lopes – 25,00€; Clara Mcbrinn – 10,00€; Sónia Silva – 10,00€; Anónimo – 40,00€; Anónimo – 21,11€; Anónimo – 10,00€. Total geral = 38.020,08€

Todos os mesespensamos em si!

Renovea assinaturapara 2012

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NOVEMBRO 2011 31 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

eregrino», assim o bap ti ­zou o seu confrade e co­lega de missão, padre An­tónio Bazzaco, devido às voltas que o padre Guido

deu para ajudar os missionários em seus trabalhos apostólicos na diocese de Iringa – Tanzânia.Começou pela missão de Malangali, onde apanhou a primeira dose de fe­bre africana. Em 1936 ajudou o padre Tonelli a fundar a missão de Kanigom­be. Seguiu depois para Mdabulo onde trabalhou com o padre Becchio, até que passou à missão central de Tosama­ganga como assistente espiritual dos estudantes da «Central School» daque­la localidade. Mas a sua peregrinação ainda ia a meio. De Tosamaganga onde celebrava a missa e dava aulas, desceu para terreno mais chão, e assumiu a

responsabilidade dos trabalhadores que cultivavam tabaco nos terrenos da missão. Ainda lhe faltava mais uma etapa para a peregrinação ser comple­ta. Deram­lhe o encargo de decorar a catedral de Tosamaganga com pintu­ras apropriadas. O dom da pintura, foi aquele que o fez sobressair a todos os seus colegas. Dessa forma da quinta do tabaco onde sujava as botas com os tra­balhadores, ele subiu em altos andai­mes até ao tecto da majestosa catedral diocesana e ali deixou as marcas do seu talento de pintor.Em 1950, o padre Guido Borello re­gressou à Itália para um período de repouso. Mas a África não lhe saía do pensamento e do coração. Poucos me­ses depois, voltou às missões. Os su­periores, porém, em vez de o manda­rem de novo para a Tanzânia, encur­

taram­lhe o caminho e apontaram­lhe o Quénia, concretamente a diocese de Meru. Ali continuou a ser peregrino e “servo dos servos de Deus”, como, em jeito de brincadeira, o apodavam os seus colegas de missão.Num dado momento entregaram­lhe uma moto – imagino que fosse velha e estragada – e ele percorreu longos e mal trilhados caminhos à procura de escolas e capelas onde houvesse crianças e outra gente para evangeli­zar. De tantos balanços que dava na moto, chegava à noite todo partido. Atirava­se então para cima de uma esteira e dormia, à espera do amanhã em que outra viagem o aguardava. Em 1954 teve de regressar à Itália e «adeus África!». Faleceu no dia 13 de Maio de 1958, chamado ao céu – dizia­se – por Nossa Senhora de Fátima.

Para tudo e para todosO padre Guido Borello

nasceu em Chiusa de São Miguel – Itália, no dia 29

de Dezembro de 1901. Entrou na Consolata

em 1922 e em 1933 foi ordenado sacerdote e, no ano seguinte, foi enviado

para a missão de Iringa – Tanzânia, onde trabalhou

16 anos. Em 1950 foi destinado ao Quénia e

exerceu o seu apostoladona diocese de Meru.

Faleceu na Itália em 1958

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 32 NOVEMBRO 2011

texto MANUEL CARREIRA foto ANA PAULA

A presença físicareforça a amizadeApoio à compreensão A verdadeira amizade não se alimenta só com palavras, com escritos ou outras men-sagens. É indispensável a presença física da pessoa. Já Cristo no Evangelho dizia (Mat 25, 36): “Estive doente e foste ao hospital visitar-me; estive na cadeia e foste lá ver--me...”. Claro, nem sempre este desiderato se pode cum-prir à letra, mas a presença pessoal de um amigo, sobre-tudo em certas ocasiões difí-ceis da vida, vale milhões. São Paulo, escrevendo a Timóteo, queixou-se dos falsos amigos dizendo: “No meu julgamen-to todos me abandonaram; só Lucas permaneceu comigo”.Ásia

Quando um caçador tem só uma flecha não a atira logo às primeiras: pensa bem antes de a usarApoio à compreensão No entender daqueles povos a seta única representa o filho único que é preciso educar bem, para os pais o não per-derem; doutra forma fica-riam sem nada. Todos os fi-

Os povos, a quem, indevidamente, chamamos primitivos, cultivam com amor os valores da família. Nesse e noutros aspectos dão-nos exemplos admiráveis. Os missionários que têm ou tiveram a sorte de viver junto deles ficam impressionados com os sacrifícios que eles são capazes de fazer para não faltarem a um compromisso exigido pela etiqueta familiar: um casamento, uma festa de iniciação, um funeral, enfim uma circunstância qualquer que apele à união da família

À volta da panelase reúne toda a família

Festa da Família Missionária da Consolata na Matola, nos arredores de Maputo, Moçambique

lhos são uma bênção de Deus para os pais em qualquer cultura onde vivam. Devem ser protegidos, ensinados, em todas as virtudes familiares e sociais. São os filhos que, de-pois, darão apoio aos pais já idosos ou necessitados. Ter só um filho exige um cuida-do ainda maior, pois se este falha, a que porta irão bater?África Ocidental

A casota é a riqueza dos cachorrinhosApoio à compreensão Os cachorros, enquanto são pe-quenos, não andam a vadiar

por longe; contentam-se com o aconchego da sua casota e ali vivem felizes como se não houvesse mais nada no mun-do. Ali têm segurança, têm o carinho da mãe e a alimenta-ção assegurada. A moral des-ta história é que a criança me-rece todo o carinho possível e vai crescendo devagar. Só de-pois ganha confiança. Além disso a história ensina-nos o valor da família e o aconche-go do lar. Pode não ser rico, mas ali existe afecto, partilha e alegria. A família é o melhor que existe no mundo.Camarões

Uma panela de massa, abundante e bemcozinhada, alegraa família todaApoio à compreensão Quer se queira, quer não, é à volta da mesa, durante as re-feições, que se resolvem gran-des problemas, se tomam sábias decisões e até se recon-ciliam pessoas desavindas. Jesus falou, várias vezes, de banquetes em que ele próprio participou ou referiu-se a eles por meio de parábolas. Veja--se, por exemplo: nas bodas de Ca ná, Jesus fez um milagre pa ra resolver um pro blema aflitivo dos noivos. “À mesa de Mateus, o publicano, Cris-to fez com que ele se conver-tesse e se reconciliasse com os ofendidos. Mas, sobretudo, foi à mesa da última ceia com os seus discípulos que Jesus instituiu a Eucaristia.Samburu — Quénia

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NOVEMBRO 2011 33 FÁTIMA MISSIONÁRIA

texto NORBERTO LOURO ilustração MÁRIO JOSÉ TEIXEIRA

Recebi, por estes dias, uma carta com que, sinceramente, não con-tava. Surpreendeu-me pela dis-tância no tempo do conteúdo – de há quase 40 anos – e pela carga emotiva que continha e que, ine-vitavelmente, me contagiou. “O povo não se esqueceu de si” – dizia o remetente. “São filhos dos doen-tes de lepra da gafaria de Mpapa, Mandimba, Moçambique. Eu sou o jovem que o acompanhou nas visitas para o registo dos doentes e na distribuição misericordiosa de medicamentos. Tenho agora 55 anos, sacramentos completos, pai de nove filhos, desligado do servi-ço de professor por ter completado os anos de trabalho […]. É com o maior prazer e emoção que lhe es-crevo. Mande-nos a sua bênção e uma fotografia”.Pareceu-me acordar de um sonho! Voltei a percorrer carreiros impra-ticáveis para visitar leprosos nos seus tugúrios com o Hermínio, cujo nome e feições me afloraram à mente. Recordei cada leproso, não já pelas feições, algumas delas deformadas pela doença, mas pelo estado deplorável das suas feridas e pela visão de alguns membros decepados pela escandalosa doen-ça tão erroneamente considera-da de alto contágio e tão fácil de curar. Foram centenas e centenas de fichas, milhares e milhares de comprimidos de sulfona distribuí-dos, cujo efeito e resultado não tive tempo de constatar. É que a doen-ça cura-se, embora exija tempo, com fidelidade à medicação conse-guida e à regularidade das visitas. Duas condições difíceis de manter, dadas as situações deploráveis de abandono em que os doentes de lepra então viviam. O fim da gafa-

ria e os cumprimentos dos filhos dos leprosos, de que fala a carta do Hermínio, são para mim uma con-solação compensadora do trabalho desenvolvido.Falei desta carta numa escola do concelho de Mafra, para a qual fui convidado, apadrinhado por uma estudante minha conhecida e pa-rente. Optimamente acolhido pela professora e pelos alunos, fui des-bobinando o tema e reparei que o conhecimento dos meus ouvintes sobre a lepra era muito diversifi-cado. Apresentei algumas noções e experimentei corrigir diversas deturpações. Tentei amenizar impressões negativas como, por exemplo, porque é que se olha para um leproso com repugnância e medo se a sua doença é menos con-tagiosa do que a gripe, a tubercu-lose ou outras; porque é que ainda se não acabou com a lepra, sendo uma doença curável com poucas centenas de euros. Gerou-se um diálogo com muitas perguntas e a conclusão final foi que é preciso acabar com todo o tipo de discri-minação e conceito de fatalismo. Serão a justiça e a solidariedade universal a acabar com as situa-ções de extrema miséria, onde essa e outras doenças se desenvolvem.Mostrei aos alunos fotografias de doentes de lepra que deixaram de o ser. Admiraram-se de eu ter convi-vido com eles e não ter tido medo. Mais se admiraram por ter dito e demonstrado que são pessoas normais e simpáticas. Contei-lhes a história daquela criança que, de-pois de me abraçar e beijar, arrega-lou os olhos e me disse: – Como é que tu és tão feio e tão simpático?É que a beleza está no coração de todo o homem.

A beleza está no coração do homem

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FÁTIMA MISSIONÁRIA 34 NOVEMBRO 2011

Novembro em agenda

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA

Chamam-lhe o “homem do leme” e, des-de a fundação do colégio, por desejo do então bispo de Leiria, João Pereira Ve-nâncio, com “alma de gigante”, o padre Joaquim Ventura tem procurado “mais e melhor” pela educação. Rasgar cami-nhos e abrir portas tem sido a orientação do director do Colégio de São Miguel, instituição de ensino de Fátima, que está a viver o ano jubilar. São 50 anos ao ser-viço da educação assentes em três pila-res: amizade, verdade e exigência.Um marco para “evocar o passado, que nos dá gosto; celebrar o presente em

que estamos a apostar fortemente”; e “preparar o futuro”, explica o sacerdote. Dez momentos altos de comemoração, com iniciativas várias, desde exposições a conferências, celebrações religiosas, culminam com o jantar comemorativo de encerramento, em Outubro de 2012. «Asas prontas a voar» é o tema que con-grega os mais de 1.100 alunos, durante este ano lectivo. O Colégio de São Miguel foi o grande pioneiro na “defesa e igual-dade para as famílias escolherem o pro-jecto” educativo para os filhos, salienta Joaquim Ventura. A “luta” – defende o

sacerdote – deve seguir pela defesa do princípio de cada família pagar segundo as suas possibilidades económicas. Aos 50 depois da fundação do Colégio, tal como aos 25 anos, o tema da escola não estatal continua actual e motiva o debate.No final do ano lectivo, o homem que completa 50 anos à frente do Colégio de São Miguel e 60 de sacerdócio afastar--se-á. Mas há outro projecto, a aldeia intergeracional, que começa a ganhar forma e que precisa de asas para voar.Leia a entrevista com o padre Joaquim Ventura em www.fatimamissionaria.pt

Passeio culturalA Liga de Amigos do Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima, apresentada ao público a 13 de Outubro, por ocasião dos 20 anos do Museu, promove a primeira iniciativa a 12 de Novem-bro. Trata-se de um passeio cultural de visita a quatro museus da região e termina com uma passagem pela fei-ra da Golegã. Informações e inscrições através do bloguehttp://masefatima.blogspot.com ou pelo telefone 249 539 470.

Colégio de São Miguelassinala cinquentenário

01 Exposição tem porá ria no Museu da Con solata, até 31 de Dezembro

04-06 Assembleia do re novamento carismático 07-11 Retiro do Clero 1 21-25 Retiro do Clero 2 25-27 Semana de estudos de espiritualidade inaciana 26 Encontro para formadores das equipas de Nossa Senhora

São Miguel, um estabelecimento de ensino de portas e janelas abertas para o exterior, como o gabinete do padre Joaquim Ventura

Ciclo de invernoA primeira do ciclo de confe-rências de Inverno, promovi-do pelo Santuário de Fátima, decorrerá a 13 de Novembro, às 16h, na basílica. Será ora-dora a religiosa do Sagrado Coração de Maria, irmã Luí-sa Almendra, que tratará a temática do anúncio a Maria. Depois da conferência ha-verá um concerto de órgão.

Ano pastoralO Santuário de Fátima dará início ao novo ano pastoral

a 1 de Dezembro, apresen-tando o programa do se-gundo ano de preparação do centenário das Apari-ções, subordinado ao tema

«Quereis oferecer-vos a Deus?». O acontecimento de referência será a apari-ção de Maio de Nossa Se-nhora aos três pastorinhos.

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Apenas 7 euros por anoMISSIONÁRIOS DA CONSOLATA | Rua Francisco Marto, 52 | Ap. 5 | 2496-908 FÁTIMATelefone 249 539 430 | 249 539 460 | [email protected] | www.fatimamissionaria.pt

un’altra visione del mondo mwingine mtazamo wa dunia another view of the world otra visión del mundo inny pogląd na świat une autre vision du monde wona wunyowani wa elapo eine andere sicht der welt djôbe mundu di oto manêra

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Nasci no chão moreno dum paísna hora em que a manhã era alvorada.Aos poucos fui crescendo, e fui raiz,e tronco na planura da chapada.

Na árvore que fui e em que me fiz,fui flor, e fui rebento, e fui ramada;e fruta que afundou sua matrizna Vida onde fui Tudo, onde fui Nada.

Fui verde como a esp’rança deste mundo;Fui sombra neste chão onde me afundo;Fui lenha que acendeu tanta fogueira.

E agora, ao arrebol da tarde finda,no ciclo terminal falta-me, ainda,ser folha que apodrece na poeira…

João Baptista Coelho | «Poetas e Trovadores»

Eu, árvore