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–1– Polegar de gigante (tamanho real)

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Polegar de g

igante (tamanho

real)

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(Ele é um gigante, porém pequeno)

Ilustrado por Steve Wells

pequeno

O menor gigante do mundo

Tradução de Rafael Spigel

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Muncle sendo derrubado

de cabeça para baixo.

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– Mã! – berrou Muncle. – Gritt está me colocando de ca-beça para baixo!

Muncle tentou se desvencilhar das garras de seu irmão.– Mã!Ele gritou outra vez, contorcendo-se como um louco.

Se Gritt o mantivesse pendurado de cabeça para baixo pormuito mais tempo, ele ficaria enjoado.

A fogueira de Mã lançou a sombra de um enorme Grittsobre a parede rochosa, com um minúsculo Muncle,indefeso, pendurado na mão do irmão. Aos dezanos, a maioria dos gigantes já estava quase total-mente desenvolvida e conseguia se defender. MasMuncle estava longe disso e, nesse momento, nãoconseguia nem ficar de pé. Gritt o agarrara pelostornozelos com firmeza. Não seria de todo ruimse Gritt fosse seu irmão mais velho, mas ele eramais novo que Muncle – e três anosmais novo!

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Capítuloum

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Ainda bem que Pá não havia chegado em casa até então.Ele sempre tomava partido de Gritt, um filho do qual umgigante pode se orgulhar.

Mã Trogg, uma formosa giganta com um bom número deverrugas peludas, espiou através da nuvem de vapor acimade seu caldeirão.

– Gritt! – ela urrou. – Coloque seu irmão no chão agoramesmo!

– Mas você me disse para brincar com ele até o café damanhã ficar pronto...

– Isso não significa que era para usá-lo como o brinquedo.– Ele gosta disso – retrucou Gritt. – Não é, Muncle?– Eu não gosto! – gritou Muncle.– Ah, está bem. Desculpe, Muncle – falou Gritt, e largou

o irmão com a mesma rapidez com que o pegara.Muncle podia até ser pequeno, mas isso, pelo menos, fazia

dele um ser ágil. Assim que Gritt o soltou, ele deu uma cam-balhota no ar e caiu no chão com o traseiro, em vez de batercom a cabeça.

Mesmo assim doeu.Outros gigantes têm várias camadas de gordura ma cia,

e teriam quicado ao cair no chão, mas Muncle era só pe -le e osso.

Até que ele não era feio. Tinha a pele bonita – cinzenta esalpicada de verrugas peludas –, as sobrancelhas espessas e o

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nariz carnudo de Pá, e os olhos esbugalhados e os dentesamarelos e tortos da Mã.

O único problema de Muncle era seu tamanho. Ele erasimplesmente muito pequeno para ser um gigante.

Ele sempre tentou se encaixar em seu mundo, e agora otempo estava se esgotando. Em dois dias seria realizado o exame final de Gigantia. E então ele teria que encontrarum emprego. Mas que tipo de serviço Muncle poderia fazer?Ele cursava apenas duas disciplinas: Ciência dos Dragões eEstudos dos Pequenotes – as únicas que não tinham comorequisito a força de um gigante –, e sabia que não se sairiabem em nenhuma delas.

– Não podemos esperar mais seu Pá, senão vocês vão che-gar atrasados à escola – disse Mã, pegando com a conchauma substância cinza, grudenta e pegajosa e despejando-aem tigelas de madeira. – Venham comer o mingau de fungos,vocês dois.

Sobre a mesa baixa de pedra, ela colocou com força uma ti-gela grande para Gritt e uma bem menor para Muncle. Mã jáhavia desistido de tentar alimentá-lo com a mesma quantidadeque dava para Gritt. Até o apetite de Muncle era diminuto.

Ela desamarrou das costas o cesto de bebê no qual carre-gava Flubb e a colocou em um banquinho, ao lado da mesa.A bebê agarrou sua mamadeira e sugou-a avidamente. Quasedava para ver Flubb crescendo.

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Muncle suspirou. A vida era muito injusta. Ele escalou aalmofada de samambaia para poder alcançar a mesa, e Mã eGritt sentaram-se no chão rochoso e gasto. Então, Munclecatou os melhores bocados do mingau e os arrumou na mesapara que esfriassem, enquanto Gritt esvaziava o volume fer-vente de sua tigela em um longo gole, como Pá fazia.

Gritt realmente tinha talento. Aos sete anos, já era o me-lhor da escola em Metalurgia. Ele sabia exatamente o quequeria ser quando crescesse: Comandante Armeiro do Arsenal do Rei. Não havia nada que não conhecesse sobrelanças e machados. Pá e Mã o consideravam brilhante.

– Quero mais! – reclamou Gritt.– Não antes de Pá comer – disse Mã, levantando-se e es-

piando dentro do caldeirão. – Talvez não dê para todo mundo.Gritt atirou sua tigela na mesa.– Pá é muito mau por ficar fora de casa a noite toda. Se ele

não chegar logo, vou ter que ir morrendo de fomepara a escola.Muncle e Mã se entreolharam.– Ele está bem, Mã – falou Muncle. – É o melhor caçador

da cidade.Mã mordeu o lábio.– Mas saquear não é a mesma coisa que caçar, é? – comen-

tou ela. – Roubar uma ovelha de uma fazenda de um Peque-note não é como acertar um texugo com a lança. E se eleencontrar um Pequenote com uma vara mágica mortífera?

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Flubb arremessou a mamadeira vazia no chão e deu umberro bem alto. Na mesma hora, ganhou mais comida. Bem,era difícil dizer não a Flubb – ela era tão lindinha quantoum sapo.

– Não é justo – reclamou Gritt. – Por que elapode repetir?– Gritt...Mã começou a repreendê-lo, mas no mesmo instante a

porta da casa subterrânea bateu e Pá pisou na sala com umasacola no ombro. Pedaços de galhos e folhas estavam ema-ranhados em seu cabelo comprido e oleoso, e sua calça es-tava rasgada. Em um dos braços cinzentos e peludos, escorriasangue de um ferimento.

– O que aconteceu com você? – berrou Mã, enfaixando obraço dele depressa com um punhado de teias de aranha em-poeiradas.

– Não se preocupe, mulher. Não é nada. Só um arranhão.Tive que abrir caminho por uma mata fechada, só isso.

Pá atirou a sacola ao lado do fogo. Não havia nada comformato de ovelha dentro dela.

– Você não pegou nem umazinha? – quis saber Mã, an-siosa.

– É claro que peguei. E já levei para o palácio.– O Rei deve achar um tédio receber ovelhas todo ano em

sua Ceia de Aniversário – comentou Gritt. – Você deveriater levado um Pequenote, para variar um pouco.

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– Gritt – repreendeu Pá, rispidamente. – Não tem graçaalguma. – Ele agarrou o caldeirão que estava no fogo e en-tornou-o garganta abaixo.

– Eu queria comer mais! – berrou Gritt.– Azar o seu – rebateu Pá. – Talvez isso sirva de lição para

você não fazer mais piadinhas sem graça.Séculos atrás, os gigantes usavam os Pequenotes como

escravos e às vezes os comiam nas refeições, mas isso foiantes de eles terem inventado as varas mági-cas mortíferas e conseguirem resistir. Agora,os gigantes tinham que viver escondidos, naspro fundezas do Monte das Lamentações.Haviam construído uma cidade nas antigasminas da montanha.

– Não foi uma piada – defendeu-se Gritt. – Eu acho quedeveríamos caçar os Pequenotes.

– Gritt! – berrou Mã.– Nunca deixe ninguém ouvir você falar isso – repreen-

deu Pá, limpando os lábios borrachudos com as costas dobraço e enchendo a boca com chumaços de teia de aranha.– Você seria jogado nos calabouços.

– Eu não quis dizer que deveríamos nos alimentar delesem todas as refeições – justificou Gritt. – Ficaria muito nacara. Pensei em comê-los apenas uma vez por ano, no Ani-versário do Rei.

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Pá tirou alguns pedaços de teia de aranha da barba e oscomeu com os restos de mingau.

– Sequestro virou crime há muito tempo, como você bemsabe, Gritt Trogg. É muito arriscado.

– E você andou se arriscando hoje à noite? – perguntouMã, franzindo a testa. – Foi por isso que teve que abrir ca-minho pela mata fechada?

Pá deu de ombros.– Não foi pior que o ataque no Aniversário do ano pas-

sado. Um cachorro latiu, mas bem distante dali.– Então você voltou pelo brejo para não deixar rastros que

o cachorro pudesse seguir?– É o que sempre faço – respondeu Pá, tirando as botas e

esvaziando-as dentro do caldeirão de Mã.Gritt espiou dentro da sacola de Pá. – Pombos outra vez – constatou, com desgosto. – São só

petiscos.Para Muncle, porém, um pombo era uma refeição. Até o

café da manhã era mais farto do que desejava.– Ei, Gritt – disse ele –, pode comer o resto do meu mingau.– Isso mal dá para encher a boca – desdenhou o irmão.

– De qualquer jeito, não dá tempo. Preciso ver o Titã antesda aula.

– O Titã Inchado é da turma do Muncle – falou Mã. –Por que você vai encontrá-lo? – perguntou ela, passando uma

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das mãos pelos cabelos e espalhando para todosos lados seus grampos feitos de galhos.

Flubb pegou um e o mastigou.– Gritt quer entrar para a gangue de Titã, Mã –

explicou Muncle.Os Marginais Trovejantes eram a gangue mais

durona no Monte das Lamentações, e os testes parafazer parte dela eram os mais desafiadores. O Espan-cador Molenga havia passado porque bateu no gongoda cidade no meio da madrugada e acordou a FamíliaReal. Havia também rumores de que alguém tinha lutadocom um dragão, e de que outro integrante tentara roubar acoroa do Rei Thortless.

– São apenas jovens se divertindo – Pá disse a Mã, queparecia um pouco preocupada. – Afinal, Titã Inchadomanda em todos os garotos. Os amigos dele não devem sertão maus assim.

– Bem... – começou Muncle, mas depois pensou me-lhor. Titã Inchado era o gigante mais brigão da escola efazia da vida dele um inferno, mas Muncle não queria

Monte das Lamentações

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perturbar Mã. – Eu nem me preocu-paria, pois Gritt não vai entrar para a

gangue.– Eu vou entrar sim – teimou o outro,com o olhar furioso, antes de sair pisandofirme em direção à porta.– Espere por mim! – gritou Muncle, e

pegou um dos pães de bolota que Mã prepa-rava para seu jantar enquanto corria atrás do irmão. Se caminhasse até a escola com Gritt, havia uma

chance de não ser atormentado, pelo menos até en-trar na sala de aula.– Tome cuidado! – gritou Mã.

– Pode deixar! – Muncle berrou de volta por cima doombro, mas como poderia se cuidar se era tão menor queos outros?

Não parecia justo que Mã ainda tivesse que se preo-cupar com ele tendo dois filhos mais novos para criar.

– Você não deveria ter falado para Mã sobre osMarginais – disse Gritt enquanto passava pelos

estábulos protegidos por dragões e caminhavaem direção ao túnel iluminado por tochas.

Cheio de GIGANTES!

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Muncle caminhava a passos largos a seu lado.– Alguns meninos da minha classe se deram muito mal

naquela gangue – avisou ele. – Fortão Estúpido passou ummês nos calabouços depois que o Titã o desafiou a lançaruma flecha em chamas em uma janela do palácio.

– Bem, eu não vou acabar nos calabouços – afirmou Gritt.– Não sou burro. Vamos, Muncle, não consegue andar maisrápido?

Muncle pôs-se a correr e logo eles saíram das sombras paraa turva luz matinal da Cratera.

A Cratera era um enorme buraco ao ar livre no centro doMonte das Lamentações – o único lugar da cidade que fi-cava a céu aberto. Ali estavam a área de recreação, o centrocomercial, o parque e o teatro dos gigantes. Todas as ruas-tú-neis principais levavam até esse local, e as construções maisimportantes estavam incrustadas naquelas paredes. Ali fica-vam as lojas, as tabernas, a escola e o palácio do Rei. A fu-maça das casas e das fábricas escapava pelas fendas na parededa Cratera e se misturava à nuvem no topo da montanha,escondendo os gigantes e os dragões-vigia, que os protegiamdos Pequenotes que habitavam a cidade lá embaixo.

Muncle sentiu duas mãos enormes agarrarem seus ombrose o suspenderem no ar.

– Peguei você!Era o Titã. Ele estava à espera dos dois.

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– Tire o barbante do meu bolso, Gritt – ordenou ele. Gritt hesitou por um instante.Titã ergueu as sobrancelhas enormes e espessas. – Você quer se juntar aos Marginais Trovejantes ou não?– Mas ele é meu irm...– Você é um fracote, Gritt Trogg! – caçoou Titã.Isso foi demais para Muncle. Atormentá-lo era uma coisa,

mas insultar seu irmão mais novo era outra bem diferente,ainda que o Titã fosse o dobro de seu tamanho. Ele reuniutodas as suas forças e bateu com a mochila no rosto do líderda gangue. Foi um golpe perfeito. Uma enorme espinha naponta do nariz do Titã explodiu. Sangue e pus esguicharamnum espetáculo fascinante.

– Aaaai! – gritou Titã. – Você vai pagar caro por isso, seutampinha. Eu estava deixando essa espinha crescer para aapresentação do Maior Furúnculo da festa de Aniversáriodo Rei. Pegue o barbante, Gritt. AGORA!

– Hum... bem... – gaguejou Gritt.Titã jogou Muncle no chão, imobilizando-o com seu

imensurável pé, e pegou o barbante que parecia uma corda.

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Depois enfiou uma ponta por dentro do cinto de Muncle,deu um nó e começou a girá-lo no ar.

Muncle fechou os olhos e esperou o arremesso, mas, antesque fosse lançado para o outro lado da Cratera, ouviu-se umestrondo ensurdecedor. Titã parou abruptamente, e Mun-cle deslizou na poeira do chão.

Fora salvo pelo gongo da escola.– Tenho que ir – disse Gritt. – Se eu me atrasar para a aula

de Ciência dos Dragões outra vez, vou me encrencar com oSr. Paulada.

Ele lançou um olhar de arrependimento para Muncle esaiu às pressas da Cratera.

Antes de seguir Gritt, Titã deu um último soco nas costelasde Muncle, deixando-o ofegante e amarrado como um texugorefogado. Titã também tinha pressa, e Muncle sabia o motivo.

Em geral, garotos como Titã não se preocupavam comatrasos. E, normalmente, Muncle preferia ficar brincandoem seu cantinho na floresta, do lado de fora do Monte dasLamentações, a ir à escola. Mas aquele não era um dia nor-mal. Aquele era o dia da Excursão dos Formandos, e faziasemanas que toda a classe esperava ansiosamente por isso.Muncle mais do que qualquer um.

Eles iriam visitar o mundo dos Pequenotes!

HUM! É uma minhoca.

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Quando Muncle conseguiu, enfim, desvencilhar-se do cor-dão e chegar à escola, já era tarde e a porta estava fechada.Enquanto pensava em um modo de alcançar a maçaneta,alguém a abriu pelo lado de dentro.

A Srta. Bumfit, que lecionava Estudos dos Pequenotes,olhou para baixo de cara feia, com seu nariz curvo na di-reção dele.

– E quem seria você? – ela quis saber.Muncle sentiu o rosto corar. Seus colegas de classe se

amontoaram ao redor da Srta. Bumfit, dando risadinhas.– Sou eu, professora. Muncle Trogg.– Ora, então é você. Sabe, faz tanto tempo que não vem

à aula que eu tinha até me esquecido de como você era.As crianças riram contidamente. Elas sempre se divertiam

quando os professores caçoavam de Muncle, e isso aconteciasempre que ele ia para a escola. Era por essa razão que a Srta.Bumfit não o via com frequência.

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Capítulodois

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O resto da classe mal podia esperar para sair logo. Elesiam chegando para a frente, empurrando a professora.

Muncle foi nocauteado pela mochila de Titã. As gê-meas Colossa e Valquíria tropeçaram nele, e o Espanca-dor Molenga pisou na pobre criatura. Quando Muncleconseguiu se levantar os outros já estavam bem adiante,ele teve que correr para alcançá-los – e, então, continuarcorrendo, só para acompanhar o ritmo dos outros.Nunca vou conseguir, pensou. Vou ficar esgotado antes de

chegarmos lá. Pá havia dito que era uma longa caminhadapela floresta até alcançar o topo do despenhadeiro, de on -de dava para avistar a cidade dos Pequenotes a uma dis tân-cia segura.

No entanto, a Srta. Bumfit fez uma pausa com a turmaantes mesmo de deixarem a Cratera. Eles pararam na parteexterna de uma construção que ficava ao lado do pa lácio doRei. Na verdade, era difícil dizer onde o palácio terminavae onde a construção começava, motivo pelo qual Muncleprovavelmente não notara o local antes. A Srta. Bumfitsubiu os degraus que levavam a uma velha porta de madeirae bateu nela com sua vareta de professor.

– Agora, prestem atenção, formandos – chamou ela,virando-se para encará-los. – Antes de entrarmos, vocêsprecisam se lembrar de duas coisas. Em primeiro lugar, oobjetivo desse passeio não é diversão. Uma parte do

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exame final de Gigantia será sobre coisas que vocês verãohoje, então prestem atenção.

Na mesma hora começou um burburinho entre os alu-nos, imediatamente silenciado pelo balanço ameaçador davareta da Srta. Bumfit.

– Em segundo lugar – continuou –, lembrem-se de quetudo o que encontrarem aqui pertence ao Rei, e todo olocal deve ser tratado com O Maior Respeito. O que issoquer dizer, Titã?

– Que temos que tomar cuidado com tudo, professora.– Sim, exatamente, Titã. E o que acontece com quem

não trata a propriedade do Rei com O Maior Respeito?– É levado para os calabouços, professora.– Correto. Agora, se estivermos todos prontos...A Srta. Bumfit bateu mais uma vez à porta. Agora, fer-

rolhos chacoalharam, trancas tiniram e a porta rangeu aoser lentamente aberta. Do lado de dentro, havia um gi-gante velho e enrugado. Sua pele pendia em dobras mur-chas e as costas eram tão curvadas que sua barba tocava ochão. Com uma das mãos ele se apoiava pesadamente emuma bengala e com a outra segurava uma corneta acústicana altura da orelha.

– Este é Sua Sabedoria, o Senhor Biblos – anunciou aSrta. Bumfit –, a pessoa mais importante no Monte dasLamentações depois da Família Real. Ele é o Sábio Ho -

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mem do Conselho, Mestre do Museu Real e Guardiãodo Livro.

– O Sábio Homem é o principal conselheiro do Rei –explicou ele. E afastou a barba para o lado para mostrar suacorrente dourada de funcionário. – Quando o Rei precisade uma boa ideia, é minha função dar-lhe uma. Outra deminhas funções é cuidar deste maravilhoso Museu doMundo dos Pequenotes.

– Por que ele é tão enrugado? – sussurrou Valquíria.– É isso que acontece quando você pensa demais – res-

pondeu Espancador.As crianças apressaram-se em subir os degraus. Todas,

exceto Muncle, cuja decepção era tão grande que ele sen-tia como se tivesse sido golpeado na cabeça pela vareta daSrta. Bumfit.

Eles não iriam ver o mundo dos Pequenotes de fato.Iriam apenas dar uma olhada em um museu velho e entu-lhado. Muncle não tinha ido à aula em que os alunos foraminformados sobre a excursão, e deve ter entendido erradoquando as outras crianças falaram do evento. No fim dascontas, não tinha valido a pena ir à escola.

Muncle ficou pensando se alguém notaria caso ele saíssesorrateiramente, mas logo se lembrou do exame de Gigantia.Aquela visita poderia compensar todas as aulas de Estudosdos Pequenotes que ele perdera. Era melhor ir em frente.

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Muncle suspirou e arrastou-se degraus acima para se jun-tar aos outros.

O Sábio Homem caminhava pelo museu, apontando ob-jetos roubados dos Pequenotes na época em que eles eramsequestrados, mas Muncle não conseguia ver nada, pois es-tava no fundo, atrás das crianças de tamanho normal.

– E agora – disse o Senhor Biblos – chegamos aoitem que mostra claramente como os minús-culos Pequenotes são de verdade.

Muncle ouviu o rangido de uma porta seabrindo. Todos se amontoaram à frente.

– Então – disse o Senhor Biblos –, o queacham que são estas coisas?

– Roupas de bebê? – sugeriu Valquíria.

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Mobília de gi

gante

(muito grande p

ara Muncle)

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– Não – respondeu o velho. – Estas são as roupas de umPequenote adulto, o último que foi sequestrado.

– Oooh! – exclamou a classe.– Oooh mesmo – concordou Biblos. – É difícil imaginar

alguém minúsculo o bastante para vestir essas roupas, não é?– Muncle Trogg caberia nelas e ainda ficariam largas –

caçoou Titã.– Muncle Trogg? – perguntou o Senhor Biblos. – Quem

é Muncle Trogg?– Onde está Muncle? – quis saber a Srta. Bumfit. – Fal-

tou outra vez?Geralmente, Muncle achava mais seguro ficar em silên-

cio, mas agora estava curioso para ver o que todos olhavam.– Estou aqui! – exclamou o mais alto que conseguiu.As outras crianças viraram-se em sua direção. De repente,

mãos esticaram-se e o agarraram, erguendo-o sobre as cabe-ças. Era um modo nada delicado de se locomover, mas nãotão brusco quanto ser feito de brinquedo, além de não de-morar muito. Ele foi passado rapidamente para a frente eatirado diante do Senhor Biblos.

– Um calouro? – exclamou o velho homem. – Mas estavisita é unicamente para formandos, Srta. Bumfit.

– Muncle Trogg é um formando – respondeu a profes-sora. – Ele frequenta a escola há cinco anos inteiros. E temum irmão mais novo perfeitamente normal.

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– Minha nossa! – surpreendeu-se o Senhor Biblos,olhando para baixo na direção dele. – Pobre garoto.

Ele puxou um pequeno banco de apoio para pés e sen-tou-se nele para analisar Muncle mais de perto.

– Seu amigo tem razão – afirmou. – Acho que essas rou-pas podem servir em você. Prove-as. Todos nós teremosuma noção melhor de como é um Pequenote se virmos al-guém vestido com elas.

Muncle tirou sua jaqueta surrada no mesmo instante.Ele adorava fingir ser um Pequenote! Geralmente, quan -do o atormentavam, ele fantasiava que não pertencia mes -mo ao Monte das Lamentações e que era, na verdade, umPequenote, que as fadas haviam trocado pelo verdadeirofilho de Mã e Pá. Esse era o tipo de coisa que as fadas fa-ziam. (Porém, elas não eram mais encontradas. Tinhamdesaparecido havia muitos anos, assim como os anões eos gnomos.)

A camisa que o Senhor Biblos deu a Muncle era tão finaque parecia transparente. Ela a vestiu pela cabeça, com cui-dado, receoso de que pudesse rasgar, mas o tecido era maisresistente do que aparentava.

Enquanto puxava a camisa para baixo, até o bermudão,Muncle de repente imaginou a última pessoa que a teria ves-tido. Um Pequenote fora capturado por um gigante, usavaaquelas roupas e podia até ter morrido de forma terrível.

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Ele examinou a camisa à procura de manchas de sangue e sesentiu aliviado por não encontrar nada. Os gigantes eramcriados para venerar a violência, mas Muncle passara muitotempo levando surras para apreciar esse tipo de coisa.

– Agora, estas.As macias calças de lã tinham praticamente o compri-

mento de seu bermudão, mas eram abotoadas abaixo dojoelho em vez de soltas. Eram muito mais gostosas deusar do que as peças ásperas e desconfortáveis que os gi-gantes vestiam.

Em seguida, o Senhor Biblos lhe entregou dois tubos tri-cotados. Sem entender, Muncle enfiou o braço em um deles.

– Não, não, Muncle. São para os pés. Chamam-se “meias”.Coloque isso por cima delas.

– Botas!Muncle estava emocionado. As botas eram pesadas, mas

fizeram com que ele se sentisse igualzinho a Pá. Caçadores eapanhadores eram os únicos gigantes que usavam botas, poiscom elas era mais difícil os cães rastrearem seu cheiro.

– Enfie a camisa dentro das calças, Muncle, e estará pron -to para vestir o colete.

O colete parecia uma jaqueta, mas com botões minús-culos. Muncle levou um século para abotoá-los.

– Extraordinário! – declarou o Senhor Biblos enquantoamarrava um lenço vermelho de tecido fino em volta do

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pescoço de Muncle para completar o traje. – Estupendo!Nunca imaginei que veria um Pequenote voltar à vidadiante de meus próprios olhos.

– Isso não é um Pequenote – zombou Titã. – É só oMuncle Trogg com roupas idiotas. Que coisa chata! Quan -do vamos ver o Livro?

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Não passe meleca

na parede.

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