c. g. sweeting - o piloto de hitler - a vida e a epoca de hans baur (1)

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Livro sobre a segunda guerra

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  • 11-01383

    O PILOTO DE HITLERA VIDA E A POCA DE HANS BAUR

    Copyright 2011 by Potomac Books, Inc.

    1a edio Maio de 20114a reimpresso Maro de 2012

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesade 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Editor e PublisherLuiz Fernando Emediato

    Diretora EditorialFernanda Emediato

    EditorMarcos Torrigo

    Produtora EditorialRenata da Silva

    Assistente EditorialDiego Perandr

    CapaAlan Maia

    Genildo Santana/Lumiar DesignProjeto Grfico

    Alan MaiaDiagramaoKauan Sales

    TraduoElvira Serapicos

    Preparao de TextoSuiang Guerreiro de Oliveira

    RevisoMarcia BenjamimWilliam Guedes

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Sweeting, C. G.O Piloto de Hitler A vida e a poca de Hans Baur / C. G. Sweeting ;[traduo Elvira Serapicos]. -- So Paulo : Jardim dos Livros, 2011.Ttulo original: Hitlers personal pilot : the life and times of Hans Baur

    ISBN 978-85-63420-04-61. Aviadores militares - Alemanha - Biografia 2. Baur, Hans, 1897-1945 3. Chefes de Estado -

    Alemanha - Biografia 4. Hitler, Adolf, 1889-1945 - Amigos e associados I. Ttulo.CDD: 943.086092

    ndices para catlogo sistemtico1. Alemanha : Aviadores militares : Biografia : 943.086092

    JARDIM DOS LIVROSRua Gomes Freire, 225/229 LapaCEP: 05075-010 So Paulo SP

    Telefax.: +55 11 3256-4444

  • Email: [email protected]

    twitter: @geracaobooks

  • Esquecer Hitler um perigo.Hitler nos mostrou como fina a camada

    de verniz da civilizao.Anthony M. DAgostino

    Time, 24 de janeiro de 2000

  • SUMRIO

    Prefcio

    Introduo

    1 Asas da Guerra: 1915-1921

    2 Asas da Paz: 1922-1931

    3 Asas do Destino: 1932-1933

    4 Asas para o Fhrer: 1933-1934

    5 Asas da Mudana: 1935-1937

    6 Asas do Destino: 1938-1939

    7 Asas da Vitria: 1939-1941

    8 Asas do Desafio: 1941-1942

    9 Asas da Derrota: 1942-1944

    10 Asas do Desastre: 1944

    11 Asas do Armagedom: 1945

    12 Asas Quebradas: 1945-1993

    Eplogo

    Tabela de Equivalncia de Patentes

    ndice Onomstico

    Crditos das Ilustraes

    Sobre o Autor

  • PREFCIO

    O sculo XX assistiu a uma carnificina maior do que qualquer outra na histria, e a 2Guerra Mundial foi o maior banho de sangue de todos. Mais de 50 anos depois do fim dessaguerra, a Era Nazista continua a exercer fascnio. Neste livro, vamos tentar entrar nessecaptulo notvel da histria moderna a partir da experincia de Hans Baur, piloto particular deAdolf Hitler, que estava numa posio nica para observar os acontecimentos importantes queterminaram nas runas do Terceiro Reich.

    Nessa poca de ditadores, novas palavras entraram para o nosso vocabulrio, comoFhrer, pacto, colaboracionista, Wehrmacht, Blitzkrieg, Stalingrado, Panzer,Dia D. Alguns desses termos so usados at hoje, enquanto outros ficaram obsoletos.

    Foram utilizadas muitas fontes na preparao deste livro e muitas delas aparecem nasnotas. Incluem, principalmente, as de origem americanas e alems, mas a histria oral tambmfoi de valiosa informao. Nesse sentido, quero agradecer especialmente Sra. Centa Baur,viva de Hans Baur, que forneceu informaes e fotos e, at mesmo, um exemplar do livro dememrias de Baur. Tambm agradeo a Klaus J. Knepscher, executivo aposentado daLufthansa e historiador da aviao alem, que entrevistou a Sra. Baur em meu lugar. HansBaur no se incomodava em relatar suas experincias para reprteres e historiadores, de formaque a Sra. Baur ouviu as histrias tantas vezes que as conhecia de cor. Knepscher tambmajudou muito com a reviso do livro, alm de contribuir com informaes valiosas e imagens.Knepscher estava particularmente qualificado para isso, pois morou em Berlim e testemunhoumuitos dos dramticos acontecimentos da dcada de 1930. Recrutado durante a guerra comoLuftwaffenhelfer (auxiliar da fora area), serviu num batalho de defesa antiarea antes deentrar para o RAD, o Servio de Emprego do Reich, para realizar trabalho compulsrio.Depois se apresentou como voluntrio na fora area alem, frequentou a escola de aviao eacabou por se formar como piloto, no fim da guerra.

    O Dr. Hardesty, curador da Diviso de Aeronutica do Museu Aeroespacial do InstitutoSmithsoniano, fez sugestes importantes e, gentilmente, concordou em examinar os originais.O Coronel Walter J. Boyne, historiador conhecido, ajudou na preparao do livro. Entre asinmeras pessoas que colaboraram para esta obra est o falecido general Adolf Galland, queserviu durante a guerra como Inspetor Geral das Aeronaves de Caa. Tambm quero agradecerao capito aposentado Christian Cichorius, que pilotou os avies Junkers Ju 52/3m daLufthansa em dois continentes, e tambm uma autoridade em aviao civil e militar. AlexSpencer, do Museu Aeroespacial, ajudou com seus conhecimentos de informtica, enquantoAlbert T. Keeler, Tenente-Coronel, e Richard Morris, Major ambos aposentados da foraarea americana , que pilotaram o B-17 durante a 2 Guerra Mundial, me permitiramaproveitar seus vastos conhecimentos sobre aviao. Como sempre, o Dr. Denys Volanproporcionou estmulo e inspirao. Karl Ries, historiador da fora area alem e autor devrios livros sobre a Luftwaffe, forneceu detalhes importantes e vrias fotos de sua notvel

  • coleo. Bo Widfield, da Sucia, forneceu uma imagem e relatos, assim como o CoronelRaymond Tolliver. Agradeo, tambm, a Andrew Mollo pelo uso de uma fotografia valiosa.Sou muito grato Nation Europa Verlag, sucessora da K. W. Schuetz KG, editora do livro dememrias de Hans Baur, pela autorizao do uso do contedo iconogrfico e informaes. OArquivo Nacional americano foi excelente fonte de fotografias, incluindo algumas raras,pertencentes grande coleo de fotos de Heinrich Hoffmann, recolhidas na Alemanha nofinal da 2a Guerra Mundial e de lbuns pessoais de Eva Braun; como tambm, os arquivos doMuseu Aeroespacial, graas ajuda de Daniel Hagedorn.

    E por ltimo, mas no menos importante, meus agradecimentos sinceros minha esposaJoyce, pela ajuda e pacincia inestimveis.

    GLEN SWEETING

  • INTRODUO

    O avio prateado surgiu do meio das nuvens e circulou lentamente sobre a antiga cidade deNuremberg. A multido festiva que se aglomerava nas ruas reagiu ao barulho dos motores,olhou para cima e gritou: Der Fhrer kommt! Der Fhrer kommt!

    Adolf Hitler, lder do Partido Nacional-Socialista e chanceler do Reich, chegava para acelebrao anual do Dia do Partido. Escolhera esse meio de transporte no apenas pelavelocidade e convenincia da viagem area, mas tambm por seu efeito dramtico. Descendodo cu, como um deus teutnico, Hitler aumentava o suspense e a expectativa criados pelosdesfiles, cerimnias e discursos elaborados que tomavam conta da cidade todos os anos, noms de setembro.

    No comando do Junkers Ju-52/3m estava Hans Baur, piloto pessoal da confiana de Hitler.Baur era aviador experiente, que havia aprendido muito em rotas difceis da DeutscheLufthansa AG, a companhia area alem, nos anos 1920 e incio dos anos 1930.

    O que teria reunido essas duas personalidades to diferentes? Baur, aviador condecoradona 1a Guerra Mundial e piloto experiente da aviao civil, e Hitler, poltico radical,revolucionrio e lder do Partido Nacional-Socialista. A histria de Hans Baur est de talmaneira entrelaada com a de Hitler que impossvel descrever sua notvel vida sem falar davida de Hitler. A histria da ascenso do Fhrer ao poder durante os dias turbulentos daRepblica de Weimar foi contada inmeras vezes. O mesmo ocorreu com os principais lderesalemes existem biografias e estudos aprofundados sobre todas as personalidades polticase militares que estiveram no comando durante os doze anos do Terceiro Reich, mas pouco sefalou de Hans Baur, que foi muito mais do que piloto pessoal de Hitler. Desde o incio dadcada de 1930, at a morte de Hitler na Berlim sitiada em 1945, Baur foi seu companheiro econfidente e era quase to amigo do lder alemo quanto qualquer outra pessoa de seu crculomais prximo.

    Qualquer estudo srio do Terceiro Reich deve se concentrar primeiro em Adolf Hitler,porque o Fhrer controlava quase tudo do Estado Nacional-Socialista. Sua personalidade,talento e estado mental foram estudados, pela primeira vez, no incio dos anos 1930, mas amaior parte desses estudos superficial; muito elogiosos ou muito depreciativos. Um estudopsicanaltico srio sobre Hitler foi elaborado como documento secreto para a U.S. Office ofStrategic Services (OSS) em 1943, pelo Dr. Walter C. Langer e seus colegas. Esse documentofoi publicado em 1972 com o ttulo A Mente de Adolf Hitler. O estudo conclua que Hitler era,entre outras coisas, um psicopata neurtico beirando a esquizofrenia. Desde ento, dezenasde livros e artigos investigaram esse homem extraordinrio, mas h muita coisa inconclusiva.Teria tido uma infncia problemtica, ou teria algum acontecimento drstico ou traumatizantedeflagrado o comportamento demonaco e violentamente antissemita?

    Historiadores respeitados, como o professor Robert G. L. Waite, insistem que Hitler era

  • uma personalidade psicopata de complexidade extraordinria. Alan Bullock, em suaabrangente biografia de Hitler, considera-o cnico, oportunista, desonesto e poltico ardiloso eno louco ou gnio maligno. O eminente historiador britnico Hugh Trevor-Roper, autor deum dos primeiros livros do ps-guerra sobre Hitler e seus ltimos dias, afirma que ele erainescrupuloso, mas sincero. Trevor-Roper afirma que Hitler realmente acreditava que odestino da Alemanha seria o de controlar a Europa e que ele estava destinado a liderar a nao.Ele tambm acreditava que os judeus eram inimigos implacveis dos arianos e que por issodeveriam ser destrudos.

    Hitler reconhecia a importncia da aviao e costumava usar avies nos anos 1930, pocaem que poucas pessoas haviam voado, o que muitos consideravam uma ousadia. Ele foi oprimeiro chefe de Estado a usar um avio, no apenas para transporte, mas para propagandapoltica. Hitler tambm foi o primeiro lder nacional a ter seu prprio avio e pilotos pessoaise, para esse trabalho importante, escolheu Hans Baur, que era considerado o principalcomandante de voo da Lufthansa.

    Baur levou famosos e infames, como chefe do esquadro do transporte governamental.Quando a mar comeou a se voltar contra a Alemanha e as relaes entre Hitler, HermannGoering e o comando da Luftwaffe pioraram, Hitler voltou-se para Baur em busca deconselhos sobre a fora area, a poltica de guerra area e desenvolvimentos tcnicos de modoabsolutamente desproporcional com a posio e conhecimento de Baur. O impacto dainfluncia e dos conselhos de Baur sobre as decises de Hitler ainda precisa ser determinado.

    Hans Baur era uma figura paradoxal. No h dvida de que realmente acreditava noNacional-Socialismo e que foi completamente devotado a Hitler at o amargo fim. Continuoufiliado SS, embora fosse uma filiao mais formal, apesar das atividades e atrocidadescometidas por essa organizao. Em sua vida pessoal, no entanto, era um homem corajoso,ntegro, confivel e patritico. A lealdade de Baur a Hitler foi sua falha mais grave, masindicativa da paixo em servir seu pas. Infelizmente, ele, como milhes de outros alemes,no compreendeu que a ascenso de Hitler ao poder seria desastrosa para a Alemanha e para omundo.

    As limitaes de espao no nos permitem fazer uma avaliao completa do TerceiroReich antes e durante a 2a Guerra Mundial. Por isso, este livro no deve ser visto como umahistria abrangente do regime nazista ou da 2a Guerra Mundial na Europa. um relato dosacontecimentos e de personalidades importantes, a partir das observaes de Hans Baur ouprovenientes de vrias fontes. Acrescentou-se um pano de fundo com informaes suficientespara tornar a narrativa coesa e compreensvel.

    Enquanto retomamos os acontecimentos que levaram ao Armagedom alemo, deveramosrefletir sobre as seguintes questes: O que podemos ganhar, na virada do sculo XXI, revendoa trgica histria da 2a Guerra Mundial e os eventos que levaram a ela? O que podemosaprender com a anlise dos homens que conduziram a pior de todas as guerras e quase avenceram para o fascismo? Pode a experincia de Hans Baur fornecer lies que ajudem nacompreenso dessa poca terrvel e orientar nossas aes no futuro?

    Hans Baur viveu uma vida longa e extraordinria, to excitante quanto a imaginao de um

  • escritor de fico poderia conceber. Nas pginas seguintes, examinaremos os acontecimentossignificativos que moldaram a vida de Baur e analisaremos seu papel no destino de AdolfHitler e do Terceiro Reich.

    Hans Baur no uniforme de oficial da SS (Coronel), por volta de 1937.

  • 1ASAS DA GUERRA:1915-1921

    O Major Hans Baur desligou o motor do avio enquanto se aproximava da tenda que faziaas vezes de hangar. Saiu da cabine e, com seu observador, o Tenente von Hengl, e o chefe datripulao, o soldado Neff, examinou o biplano Hannover procura de marcas de balas. Oavio precisava seguir para a manuteno imediatamente na eventualidade de surgir outramisso. Os dois oficiais caminharam at a casa da fazenda perto da pista para apresentar seurelatrio na saleta lotada que servia de escritrio para a unidade. Enquanto tomavam umaxcara de caf artificial, foram informados de que no precisariam mais voar naquela tardedevido aproximao de uma tempestade. Essa era uma boa notcia, porque j haviam sadotrs vezes naquele dia e enfrentado ataques de artilharia, incluindo um logo ao amanhecer, eBaur estava pronto para descansar. Depois de comer alguma coisa, ele foi para sua barraca edeitou. Mas em vez de dormir, ficou olhando para o teto, enquanto sua mente vagava pelosacontecimentos que o haviam trazido at esse campo de pouso atrs do front, na Franadevastada pela guerra.

    Hans Baur sempre fora fascinado por aviao. Quando criana ficara muito impressionadocom os gigantescos dirigveis que sobrevoavam a Bavria ao sarem da fbrica da Zeppelin,em Friedrichshaffen. Ficou ainda mais curioso com os avies que comearam a aparecerdepois, sonhando com o dia em que se tornaria um piloto. Nascido na cidadezinha deAmpfing, em 19 de junho de 1897, ele se mudou com os pais para Munique, capital daBavria, dois anos depois. Aps concluir o ensino secundrio, comeou a trabalhar comoaprendiz de vendedor, carreira que provavelmente seguiria se no fosse um grandeacontecimento que mudaria sua vida, assim como a de milhes de pessoas: a 1a GuerraMundial.1

    Baur tinha apenas dezessete anos em agosto de 1914 e, com milhares de outros jovenspatriotas, quis servir seu pas. As unidades do exrcito bvaro estavam com excesso devoluntrios. Baur foi rejeitado pela infantaria porque era muito pequeno para os padresfsicos da poca. Recomendaram que esperasse um ano e tentasse novamente, quandoestivesse mais alto e mais forte.

    Foi preciso ter muita pacincia para ficar em casa fazendo trabalho rotineiro quando tantosamigos estavam no exrcito vivendo a maior aventura de sua juventude. Baur recebia cartesatravs do Feldpost (correio militar) e tinha inveja daqueles que estavam servindo no front.Muitos esperavam a vitria antes do Natal e Baur acompanhava as notcias das grandesbatalhas com enorme interesse. No lado oeste, o exrcito alemo havia atravessado a fronteira

  • e lutava na Frana e na Blgica. No leste, os exrcitos da Alemanha e da ustria-Hungriaenfrentavam as foras da Rssia imperial. A vitria alem na Batalha de Tannenberg no finalde agosto levou expulso dos invasores russos da Prssia Oriental, mas isso exigiu atransferncia de algumas divises do exrcito alemo que estavam no norte da Frana. Asforas alems, incluindo unidades bvaras, tinham avanado para a Blgica e a Frana,afastando-se do plano de invaso original, elaborado pelo general Alfred von Schlieffen. Aofensiva foi finalmente interrompida no rio Marne, perto de Paris, com os alemes incapazesde avanar, e os franceses e ingleses incapazes de expuls-los. Com a guerra de movimentoestagnada, os dois lados cavaram trincheiras para se proteger do fogo da artilharia. A guerra detrincheiras se desenvolveu com todas as suas frustraes, misria, destruio e morte.Somente nos cus do front ocidental havia liberdade de ao e deslocamento, o que erapercebido pelo pblico como aventura.

    O que Baur realmente queria era tornar-se piloto do exrcito e por isso se esforou muitopara melhorar a condio fsica nos meses seguintes. Em setembro de 1915 foi at a seo derecrutamento, fez o exame e apresentou-se como voluntrio na Koeniglich BayerischenFliegertruppen (Real Fora Area da Bavria).2 Ele teve a ousadia de escrever uma carta aoimperador alemo, Imperador Guilherme, em Berlim, pedindo sua interferncia. Baur acabourecebendo uma resposta do quartel-general em Schleissheim informando que todos os postosestavam ocupados e que seria notificado quando houvesse vaga. Para sua satisfao, emnovembro finalmente recebeu ordem para apresentar-se e, depois de dois meses de extenuantetreinamento militar bsico, foi enviado ao Fliegerabteilung 1B, na Frana, destacamento areodo exrcito bvaro. Depois de uma longa viagem de trem, ele chegou sua unidade edescobriu que iria trabalhar no escritrio. Havia simplesmente trocado sua mesa em Muniquepor outra na aviao. Baur ficou decepcionado, mas seu trabalho no escritrio lhe deu aoportunidade de ver anncios das escolas de pilotagem convocando voluntrios para as aulas.Seu comandante finalmente concordou e enviou o jovem para a banca de examinadores emVerviers com o grupo seguinte de pilotos potenciais.

    Era o dia de sorte de Baur. Ele no s passou nos difceis testes escritos, como foi um dos36 que conseguiram passar nos rigorosos testes fsicos entre 136 candidatos ao treinamento depilotos. Depois de um ms, ele seguiu para a escola na Bavria, primeiro para aulas demecnica e, depois, aulas de pilotagem em velhos avies Albatros B.I, biplanos de doisassentos. Baur revelou-se um piloto nato e terminou o treinamento bsico em tempo recorde executou voo solo e completou os trs exames necessrios para a obteno da licena parapilotar.3 Foi realmente um momento de muito orgulho quando a insgnia prateada foi colocadaem seu uniforme cinza.

    Em 1916, a aviao de guerra ou perseguio estava se tornando uma das principaisatividades dos servios areos militares. Pilotando avies geis, de um nico assento,equipados com metralhadoras sincronizadas para atirar para frente atravs da hlice, os pilotosde caa levavam uma vida excitante, mas perigosa. Tinham que proteger seus avies deobservao e bombardeiros no front, alm de atacar aeronaves inimigas para impedir queexecutassem suas misses. A maioria dos pilotos novos queria ser designada para oJagdstaffel (esquadrilha de caa), onde enfrentariam mais combates do que em outros setoresimportantes, mas menos glamurosos, como os bombardeios, observao e deteco de

  • artilharia. Muitos achavam que era melhor ser o caador do que a presa. Apesar dodesempenho de Baur no treinamento, era preciso atender s necessidades militares e ele foidesignado para a escola de artilharia area de Grafenwoehr, na Alemanha, para seis semanasde treinamento avanado em deteco de artilharia e direcionamento de ataque. Baur pediupermisso para falar com seu comandante e disse que no entendia por que no haviampermitido que fizesse treinamento para piloto de caa. O comandante sorriu e o lembrou deum antigo ditado: Das Denken ueberlassen wir den Pferden die haben einen grosseren Kopfdazu! (Deixe o pensamento para os cavalos eles tm cabea grande para isso). Baurtreinou para piloto de artilharia.

    Esse treinamento era realizado num modelo de avio mais antigo, o biplano A.E.G. C,usando munio de verdade. O piloto voava a baixa altitude, enquanto o observador dirigia ofogo da artilharia. Depois de concluir o curso, Baur conseguiu voltar para sua antiga unidadeno front francs, onde foi bem recebido por seus camaradas e saiu imediatamente com o aviocom que sua unidade havia sido recentemente equipada, o A.E.G. J I.

    Alguns dias de tempo ruim favoreceram o treinamento local com essa aeronave, que haviasido construda pela Allgemeine Elektrizitaets Gesellschaft, ou A.E.G., a companhia deeletricidade alem. O biplano de dois assentos J I foi desenvolvido a partir do velho A.E.G. CIV, e os dois eram muito parecidos. Era equipado com um motor Benz Bz IV de seis cilindros,refrigerado a gua e de 200 HP. O principal armamento era composto por duas metralhadorasMaxim LMG 08/15 7.9 mm instaladas no piso da carlinga traseira e operadas pelo observador,com ngulo de tiro para baixo de at 45. As metralhadoras eram acionadas por controlesduplos perto da mo direita do observador. O observador tambm tinha uma metralhadoraParabellum L.M.G. 14 7.9 mm montada num anel removvel para defesa. Alm disso, o aviolevava granadas, que podiam ser atiradas individualmente ou em grupos de seis. Comvelocidade mxima de apenas 150 km/h, o avio era muito lento e pouco gil, em razo,principalmente, da blindagem de ao para proteo do motor e da carlinga.4 A blindagem de5.1 mm de espessura podia evitar disparos de armas pequenas, o que era importante para asegurana, porque muitos voos eram feitos em baixa altitude sobre as linhas. O teto de umA.E.G. J I era de 4.500 metros e sua autonomia de voo era de duas horas e trinta minutos.

    Nessa poca, Baur, ainda um Gefreiter (soldado raso), foi designado para piloto de umjovem observador bvaro, o Leutnant (Tenente) Georg von Hengl, comandante da aeronave.Juntos, logo veriam mais ao do que jamais haviam imaginado.

    Certa manh, Baur e von Hengl receberam ordem para decolar com cinco outros avies desua unidade, para apoiar uma grande ofensiva alem. Eles deveriam observar e lanarmensagens de um determinado local, durante um assalto terrestre, que seria acompanhado poruma barragem de artilharia. Depois de terem voado para frente e para trs ao longo do frontpor cerca de duas horas, eles puderam ver que o avano alemo ia bem e por isso decidiramdescer e atacar uma coluna de tropas francesas que recuava. De uma altitude deaproximadamente 150 metros, eles metralharam soldados e veculos que se espalhavam pelaestrada de terra, com sucesso devastador. Os franceses abriram fogo contra as asas e afuselagem do avio, mas eles intensificaram o ataque. No fim, a hlice e o motor acabaramatingidos. Com leo quente e vapor atingindo seu rosto, Baur subiu o avio, desligou o motor e

  • voltou, planando em direo ao territrio ocupado pelos alemes. Conseguiu evitar umacolina, uma aldeia e trincheiras, enquanto se dirigia a uma plantao de aveia, mas atingiu umcabo de telgrafo na reta final. Isso fez com que o avio virasse e batesse, mas felizmente nopegou fogo. Baur e von Hengl sobreviveram e conseguiram sair dos destroos sofrendo apenasferimentos leves. Usando mapas e instrumentos, conseguiram chegar a terreno seguro,enquanto balas de rifles zuniam em seus ouvidos.

    Depois de alguns dias num hospital de campo, eles retomaram suas atividades e a rotinaextenuante que exigia duas ou trs sadas por dia, de mais duas horas cada uma. A primeiraobrigao da artilharia area era fazer o reconhecimento das posies inimigas e atacar e,nesse velho e lento modelo A.E.G., eles tinham poucas possibilidades de manobra e defesaquando perseguidos. Baur confiava na habilidade de von Hengl para usar a metralhadora, queficava na parte de trs da carlinga, para a defesa. Nos meses que se seguiram, Baur e vonHengl conquistaram reconhecimento como tripulao de destaque nesse trabalho difcil. Entreos dois homens se desenvolveu um forte lao de respeito e confiana, pois sabiam quedependiam um do outro para continuarem vivos.

    1. Homens da infantaria americana perto de Cunel, Frana, examinam os destroos de um avio alemo A.E.G. J I. Esteavio, semelhante ao pilotado por Hans Baur, foi usado para observao e ataque do solo.

    Quando as condies meteorolgicas impediam os voos, Baur pegava sua pistola P.08 9mm, ou uma carabina Mauser 98 de 7.9 mm do arsenal, e atravessava o terreno enlameado aolado dos hangares montados em tendas ao longo da pista para praticar tiro. s vezes, vonHengl juntava-se a ele para praticar tambm com uma metralhadora, em alvos mveis. Nashoras vagas, eles tambm estudavam cuidadosamente os manuais de identificao deaeronaves para reconhecer facilmente os novos avies alemes ou aliados que encontrassem.5

  • 2. Dois pilotos do exrcito da Bavria descansando diante da central de operaes e quartel-general da sua unidadearea, no front ocidental, vero de 1919. Observe a tabela de reconhecimento areo perto da porta.

    A vida de piloto no front durante a Grande Guerra era dura, mas tolervel quandocomparada s dificuldades enfrentadas pela infantaria nas trincheiras das linhas de frente. Ospilotos estavam sempre ocupados com uma rotina exaustiva de voos sobre as linhas inimigas,pontuada por horas de tdio, diante de condies meteorolgicas adversas. Em 1916, as baixasentre pilotos estavam aumentando, pois, ao contrrio dos observadores em bales, astripulaes dos avies no tinham paraquedas. Mas, na primavera de 1918, a fora area doexrcito alemo introduziu o primeiro paraquedas para pilotos e atiradores, o HeineckeFallschirm, projetado por Otto Heinecke, suboficial, que tambm participou dos primeirostestes em Adlershof, perto de Berlim, no incio de maio de 1917. Esse paraquedas podia serusado nas costas ou como assento e era aberto por um cabo ligado ao avio depois que o pilotose atirava. Baur nunca precisou usar um, mas era um equipamento de segurana muito bem-vindo diante da perspectiva de arder num avio em chamas ou saltar para uma morte certa se oavio explodisse no ar.

  • 3. Suboficiais e praas num Fliegerabteilung (Destacamento Areo) da Bavria descansam e bebem no confortvelrefeitrio de um campo na Frana, em 1917. O sargento (terceiro, a partir da esquerda) est tocando ctara para distrair seus

    camaradas.

    Alm do perigo constante representado pelos inimigos no ar, pela artilharia antiarea epela possibilidade de falha estrutural ou do prprio motor, os aviadores estavam sujeitos ulcerao provocada pelo frio quando voavam com a carlinga aberta e a grandes altitudes, oudurante o inverno. Precisavam vestir roupas pesadas e uniformes de l, alm de botas e luvas,como proteo. Capacetes, mscaras e culos eram acessrios necessrios para cobrir toda area exposta. Como Baur normalmente voava a altitudes mais baixas, no precisava usar osaparelhos de oxignio lquido produzidos pela Ahrend und Heylandt, para uso dos pilotosalemes.6

    As unidades areas alems iam mudando seus alojamentos atrs do front em resposta sofensivas de ambos os lados. O pessoal da aviao vivia em barracas prximas s pistas depouso ou, de preferncia, em grandes casas de fazenda, se houvesse alguma por perto. Se area estivesse prxima de uma aldeia, os homens podiam se hospedar em hotis ou residnciasparticulares e isso era um luxo muito bem-vindo, especialmente no inverno. Em cada campoareo era organizado um Kasino (clube de oficiais), onde os oficiais jantavam com o oficialcomandante, segundo os costumes militares. Trofus das aeronaves inimigas derrubadas atrsdas linhas costumavam adornar o lugar, que normalmente era decorado com moblia feita nolocal ou obtida onde fosse possvel. Os suboficiais tambm costumavam montar umrestaurante no mesmo estilo, embora menos formal, onde podiam descansar num ambiente decamaradagem quando no estavam em servio. O refeitrio dos soldados rasos tambm eramobiliado, e era bastante confortvel.

    Apesar de srio e concentrado quando voava, o carismtico Baur era popular e tinha vriosamigos entre os membros de sua unidade. Feriados, aniversrios, promoes e vitrias eramcelebrados no salo com msica, canes e, sempre que possvel, cerveja, vinho e algoespecial para comer. Sempre havia algum para tocar acordeo ou violino. As canes de

  • soldados, de bebidas e de msica folclrica e popular alegravam as longas noites. Os esportestambm eram encorajados para aliviar a tenso. As raes do exrcito frequentemente eramcomplementadas por compras ou trocas com os camponeses franceses da regio. s vezes,eram concedidas licenas para ir em casa, especialmente para aqueles que precisavamdescansar da tenso do combate areo. O oficial comandante informava seus homens sobre osacontecimentos importantes. As notcias chegavam atravs dos jornais do exrcito. s vezeseram realizados debates para ajudar a manter o moral dos homens, como quando os EstadosUnidos entraram na guerra, em 6 de abril de 1917, causando surpresa e confuso, e exigindoexplicao. Alguns dos homens da unidade de Baur tinham parentes nos Estados Unidos eningum considerava a Amrica um inimigo como a Frana.

    Comparada s terrveis condies das trincheiras, a vida nos campos areos militares erageralmente mais segura e mais confortvel. Mas os aviadores tinham sua cota de trabalhopesado, assim como inspees e funes militares rotineiras. Alm disso, o estresse docombate areo e o choque da perda de um amigo em ao frequentemente cobriam de sombrasas atividades de todos os envolvidos. Manter o moral e a eficincia independentes dosacontecimentos era preocupao constante dos comandantes. medida que avanava a guerra,aumentava a ameaa de ataque areo s bases. Trincheiras individuais e metralhadoras dedefesa antiarea foram montadas para proteo em caso de ataque. A confraternizao entre osoficiais e os praas no era autorizada, mas com a presso constante dos combates durantevrios meses, Baur e von Hengl estavam muito menos preocupados com a hierarquia e oprotocolo do que com o xito de sua misso e sua sobrevivncia.

    Baur no sentia prazer em matar, mas a perseguio era excitante e isso era a guerra. Erabasicamente sua Alemanha natal e os dois aliados mais fracos, a ustria-Hungria e o ImprioOtomano dos turcos, contra o resto do mundo. O combate tambm era desgastante para Baur,mas ele tinha nervos fortes, timas condies fsicas, excelente coordenao e viso e, o maisimportante, era motivado pelo patriotismo, pela dedicao a seus camaradas e sua causa. Naverdade, lealdade e devoo ao dever eram fatores que influenciariam toda a sua vida, para obem e para o mal.

    Ao longo da guerra, as grandes potncias fizeram muito progresso na tecnologia demotores e avies. As frgeis gaiolas do incio da guerra, colocadas em servio de aferio eobservao, foram relegadas a escolas de aviao ou descartadas como sucata, sendosubstitudas por avies mais eficientes, especializados, projetados para perseguio,bombardeamento, observao e ataque terrestre.

  • 4. Baur pilotou este Hannover CL IIIa, avio caa escolta, em 1918. Equipado com um motor Mercedes D III de linha,refrigerado a gua, de 160 HP, este Hannover atingia velocidade mxima de 165 km/h e altitude de 7.500 metros. A cauda

    do biplano, nica para um monomotor, proporcionava um campo de fogo maior para o observador na carlinga traseira.

    A unidade de voo de Baur e von Hengl, agora Fliegerabteilung (A) 295, foi reequipadacom uma aeronave nova e melhor, o Hannover CL IIIa. Alm de avio de reconhecimento,observao e artilharia, esse biplano compacto, de dois assentos, podia atuar como caaescolta. Sua fuselagem, coberta de madeira compensada macia, era extremamente forte, capazde resistir bastante. Equipado com um motor Argus As III de seis cilindros de linha,refrigerado a gua, de 160 HP, era capaz de fazer 165 km/h e era muito mais gil do que osA.E.G. Sua autonomia era de trs horas em circunstncias normais. O Hannover tinha umacauda incomum para um biplano, que reduzia bastante o vo elevado, oferecendo campo defogo muito maior para o observador da carlinga traseira. O armamento consistia numametralhadora fixa Maxim 7.9 mm LMG 08/15 para o piloto, sincronizada para atirar para afrente, atravs do arco da hlice, e uma metralhadora Parabellum 7.9 mm modelo 14/17,montada no anel da carlinga traseira e operada manualmente pelo observador.7 As duasmetralhadoras eram, claro, refrigeradas a ar. A Parabellum de von Hengl, como mostra umafotografia da poca da guerra, era equipada com uma grande mira tica, bastante til para ocombate areo e ataque no solo; h muito ele havia mostrado ser perito atirador, alm deexcelente observador.

    Antes, o que se esperava da tripulao dos avies de observao era que se defendessequando atacada, mas o jovem Baur e von Hengl logo comearam a voar ao longo do front paraatacar a artilharia de defesa antiarea francesa depois de completar sua misso de localizao.Um artigo intitulado O piloto areo de Herr Hitler, descrevendo a batalha area mais bem-sucedida de Baur, foi publicado na revista Popular Flying de maro de 1939:

    Em 17 de julho de 1918, Baur e seu observador (von Hengl) receberam instrues para localizar algumasbaterias francesas que vinham perturbando h algum tempo. Eles decolaram s dez da manh e cruzaram aslinhas a cerca de 3.000 metros nas vizinhanas de Epernay, mas foram localizados pelos arqueiros franceses.Baur entrou numa nuvem, mas ao emergir viu seis Spad de caa abaixo dele. Enquanto eles estivessem por perto,von Hengl no poderia localizar nada. Duas mentes com um nico pensamento! Sem serem vistos pelo inimigo,Baur deu a volta e, no mergulho, ficou com o sol atrs dele; ento atacou.

    Uma rajada da metralhadora de von Hengl derrubou um dos Spads. Os outros cinco s perceberam o que

  • estava acontecendo quando viram as asas do avio de seu companheiro despencar ao lado deles. Fazendo umacurva, eles derrubaram outro Spad em chamas, enquanto Baur manobrava no meio deles com tanta destreza queeles no conseguiam apontar suas metralhadoras contra ele, com medo de atingirem uns aos outros. Um Spad fezum giro e quase bateu neles, mas von Hengl focou sua mira nele, e o avio caiu como uma pedra.

    Trs contra um, e os trs estavam comeando a acert-lo. Estilhaos voavam das asas, balas raspavam amadeira da fuselagem; Baur e von Hengl comearam a achar que a qualquer momento seria o fim.

    Ento se envolveram com um Spad, numa batalha de crculos. As bandeiras indicavam que era o lder daformao. O piloto sabia o que estava fazendo, e os outros ficaram de lado para ver os alemes irem de encontros suas vtimas no solo. Mas muitos pilotos de caa perderam a vida descobrindo que no se podia brincar com atripulao de um avio que sabia se defender. O francs deve ter se descuidado ligeiramente ao ter certeza davitria, e Baur viu ali a oportunidade. Quando as duas aeronaves se cruzaram no cu, von Hengl disparou comtamanha rapidez que por um momento o Spad parecia levitar; ento rodopiou e caiu. Os dois Spads sobreviventesdesapareceram da cena e Baur achou que von Hengl agora poderia realizar seu trabalho. Como o sistema decomunicao sem fio tinha sido destrudo, tiveram que voltar ao mtodo primitivo de lanar mensagens atrs daslinhas inimigas, de onde poderiam ser enviadas por telefone artilharia alem. As duas incmodas bateriasfrancesas foram colocadas fora de ao, e Baur levou o avio danificado, em segurana, at o campo de pouso. Aconfirmao da vitria foi obtida facilmente, e Baur foi recompensado com a Medalha de Valor.8

    admirvel que quatro avies de caa tenham sido derrubados por um avio deobservao de dois lugares, num confronto.

    Baur raramente se queixava das condies difceis, das privaes e problemas da vidamilitar em tempos de guerra. Reconhecia suas responsabilidades e lutava para cumprir seudever da melhor maneira possvel. Sua coragem conquistou o respeito e a admirao de seuscolegas aviadores.

    5. O Segundo Sargento Baur ( direita) e seu observador, o Tenente Georg Ritter von Hengl, diante do Hannover CL IIIadepois de terem derrubado quatro caas Spad franceses em 17 de julho de 1918. No CL IIIa, Baur tinha uma metralhadoraMaxim 7.9 mm 08/15 de tiro dianteiro. Repare na mira tica da metralhadora Parabellum 7.9 mm 14/17 de von Hengl na

    carlinga traseira.

    As sadas aconteciam praticamente todos os dias, dependendo do tempo. Isso inclua voosde reconhecimento noturno para localizar a posio exata da artilharia inimiga pelas luzes dosdisparos. Num desses voos, um biplano surgiu da neblina nas linhas francesas, voando a cercade 400 metros de altura. Baur atacou imediatamente e abriu fogo a curta distncia, derrubandoum dos novos bombardeiros Breguet. Outra vitria em data posterior foi sobre um piloto

  • americano num Nieuport de caa.

    claro que algumas vezes escaparam por pouco, inclusive de um combate com trs caasSpad, tambm descrito no artigo da Popular Flight:

    Com a metralhadora do Tenente von Hengl destruda, eles foram obrigados a fazer uma aterrissagemprecria, perto de uma posio da artilharia alem. Mas sentiram uma espcie de consolo ao verem um de seusadversrios fazer uma aterrissagem forada a apenas alguns quilmetros de distncia. Em outra ocasio, umproblema no motor forou Baur a pousar nas linhas britnicas, onde foram feitos prisioneiros. Mas isso aconteceudurante a ofensiva de Aisne e eles logo foram salvos pelas tropas de um regimento de infantaria de Wuerttembergque invadiu a posio.9

    Em seus muitos voos sobre as linhas de batalha, Baur no tinha ideia de que nas trincheirasenlameadas abaixo dele estava um cabo do 16 Regimento de Infantaria da Reserva doexrcito bvaro que teria influncia profunda sobre seu futuro. Esse homem era Adolf Hitler.

    Com os russos fora da guerra e s voltas com a Revoluo Bolchevique, no final de 1917, aAlemanha pde transferir suas tropas e armas do front oriental ao front ocidental para umagrande ofensiva na primavera de 1918. Esse ltimo grande avano da Alemanha comeou em21 de maro e ficou conhecido como Ofensiva Michael. Os ataques, usando novas tticas eunidades de tropas de assalto, acabaram forando os franceses e ingleses a recuarem at oMarne, a apenas setenta quilmetros de Paris, mas os Aliados conseguiram deter o avanograas, principalmente, s tropas americanas que chegaram Frana em grande nmero. Em18 de julho, os Aliados comearam uma contraofensiva poderosa, que s terminou com oarmistcio de 11 de novembro. Enquanto as defesas alems comeavam a ruir, um brao doExrcito Imperial se manteve eficiente e efetivo at o ltimo dia de batalha, o DeutschenLuftstreitkraefte, a fora area do exrcito alemo, que inclua as unidades bvaras quelutaram bravamente at receber ordem para voltar Alemanha e entregar suas aeronaves aosAliados.

    O Tenente von Hengl foi agraciado com a Ordem Militar de Max Joseph, do exrcitobvaro, em 29 de outubro de 1918. Baur no pde receber essa alta condecorao por bravuraporque era concedida apenas a oficiais. No entanto, em 1918, sua coragem e suas realizaesem voos, bombardeiros, os ataques de solo e as batalhas areas foram reconhecidos e issoresultou em sua promoo na hierarquia a Vizefeldwebel (segundo sargento) recebendo amedalha Cruz do Mrito do exrcito bvaro, a Medalha do Valor de Prata Bvara, Cruz deFerro de Primeira e Segunda Classe Prussiana, e o cobiado Clice de Honra, por vitria emcombate areo. Ele poderia ter solicitado transferncia para um esquadro de caa em 1918,mas decidiu ficar na identificao de artilharia com seu amigo de confiana e companheiro deluta, Georg von Hengl.10 No final da guerra, Baur recebeu crdito por nove vitrias emcombate areo. Isso foi considerado um recorde para um piloto de infantaria e artilhariapilotando um avio de observao de dois lugares. Baur recebeu a recomendao parapromoo a Tenente da reserva, mas o armistcio de 11 de novembro de 1918 cortou apossibilidade de ascenso. No entanto, embora a maioria dos soldados estivesse sendodispensada pela grande desmobilizao, Baur teve permisso para permanecer no servio ativodo exrcito depois de voltar para a Alemanha.

  • 6. O segundo sargento Baur, 21 anos, no final de 1918. Ele est usando a Cruz de Ferro de Primeira Classe e o Distintivode Piloto do exrcito bvaro no bolso esquerdo de seu uniforme de campanha. A fita da Cruz de Ferro de Segunda Classe

    est na dobra do casaco e uma pequena barra de fitas referentes a outras condecoraes est acima do bolso.

    A maior guerra da histria finalmente havia acabado. No oriente e no ocidente, as tropasalems iniciaram a longa viagem de volta para casa, deixando para trs cidades e vidasdestrudas. Depois de quatro longos anos de terrveis batalhas, poucos ainda se lembravam dosmotivos da guerra. Os veteranos exaustos estavam irritados e se sentiam trados. Osimperadores arrogantes haviam envolvido suas naes no conflito com discursos pomposos e,agora, a maioria dos soldados sentia que havia lutado por nada.

    A paz acabou com o derramamento de sangue no front, mas trouxe pouca alegria ao povoalemo. O bloqueio aliado ainda estava em p, mantendo a escassez de alimentos e outrasmercadorias. O governo imperial havia renunciado, e o Kaiser e todas as famlias reais detodos os estados alemes, incluindo a Bavria, tinham abdicado, deixando inicialmente umgrande vcuo. As provncias alems do oriente e do ocidente estavam perdidas, junto com suascolnias, graas ao odiado Tratado de Versalhes. Enquanto os comunistas e extremistas detodas as ideologias polticas tentavam assumir o controle do inexperiente governorepublicano, o desemprego, as greves, a inflao, a pobreza e o trabalho de reconstruoarrasavam a classe mdia, criando terreno favorvel para a agitao e a revoluo. Esse era ofuturo desolador que aguardava Hans Baur e milhes de veteranos alemes da 1a GuerraMundial.

    Os ex-soldados empobrecidos guardavam lembranas amargas da guerra. Tinham dadotudo de si, mas agora parecia ter sido em vo sacrifcios, dor, sofrimento. A brutalidade dastrincheiras foi trazida para as ruas de Berlim e de outras cidades, e centenas morriam na luta

  • entre os revolucionrios de esquerda e membros do direitista Freikorps (Corpo deVoluntrios), organizado por ex-soldados desempregados para esmagar a revoluo. Foi umapoca de decadncia, fome e desesperana, em que a Alemanha e boa parte da Europa do ps-guerra permaneceram mergulhadas em conflito. A criao da Liga das Naes pouco fez paraajudar a Alemanha em relao democracia.

    No sul, um ex-sargento do exrcito, Benito Mussolini, havia fundado um novo movimentoe lutava para varrer a velha ordem da poltica italiana e estabelecer um sistema de governoautoritrio radical chamado fascismo, do qual seria o lder. Os radicais direitistas alemesiriam se inspirar nos mtodos bem-sucedidos de Mussolini, que o levaram ao poder em 1922.Mas nas ruas da Alemanha, o que havia era confuso, frustrao e preocupao com o futurotanto entre os que haviam servido como entre os civis.

    A reduo drstica do tamanho do exrcito alemo, de acordo com as determinaes doarmistcio e do Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1919, segurou Baur apenastemporariamente. A aviao militar logo seria proibida na Alemanha pelo Tratado deVersalhes, mas um pequeno nmero de avies havia recebido autorizao para uso comercial.Em 15 de janeiro de 1919, foi estabelecido o primeiro servio postal areo militar, e Baur foium dos seis, entre quinhentos pilotos do exrcito bvaro, selecionados para voar nessas rotas.Alguns avies de caa Fokker DVII foram desmilitarizados para serem usados em rotaspostais, mas acabaram confiscados pela Comisso Area Interaliada, e Baur e os outros pilotostiveram que pilotar os obsoletos biplanos Rumpler C I. Essa ao no tinha objetivo definido eestava entre as muitas exigncias impostas pela Comisso de Controle Interaliada quecausaram dificuldades e ressentimentos nos anos do ps-guerra.

    7. Baur com o Fokker D-VII que pilotou na rota postal de Fuerth a Weimar, na Alemanha, em 1919-20. O D-VII haviasido o avio de combate mais importante da Alemanha no ltimo ano da 1a Guerra Mundial. Para uso civil, foram retiradasas metralhadoras Maxim 7.9 mm 08/15, a mira e os compartimentos para munio. A correspondncia era transportada em

  • sacos dentro da fuselagem.

    Depois de alguns meses fazendo as rotas postais para Weimar, onde havia sido sediada anova Repblica Alem, Baur se viu no meio de uma tentativa de revoluo perpetrada peloscomunistas e soldados insatisfeitos em Fuerth, perto de Nuremberg. Os insurgentesvermelhos tinham capturado os avies do correio, com inteno de bombardear asautoridades brancas de Nuremberg. Baur, com a ajuda do mecnicochefe da sua unidadearea na poca da guerra, conseguiu desativar os avies, escapar voando e ajudar a frustrar arevolta. Usando a mesma aeronave, Baur depois se uniu ao general Franz Ritter von Epp, doCorpo de Voluntrios, para acabar com a insurreio comunista em Munique. Essa foi aprimeira experincia de Baur com a poltica do ps-guerra e serviu para afirmar suasprofundas convices anticomunistas. Entre os informantes pagos por von Epp, em Muniquenessa poca catica, estava um homem chamado Adolf Hitler, que havia chamado a ateno docapito Ernst Roehm, assistente de campo de von Epp. Von Epp e Roehm ajudaram a financiaro pequeno Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemes, o NSDAP, desde o seusurgimento.11

    A dissoluo final das ltimas unidades da fora area do exrcito alemo foirelutantemente concluda de acordo com o Tratado de Versalhes, apresentando a Baur umdilema. Ele poderia continuar a servir como sargento numa unidade de terra do exrcito decem mil homens do ps-guerra, ou ser dispensado e procurar trabalho na aviao civil. Voarera a grande paixo de Baur, por isso a deciso no foi difcil.

    Com o incio dos servios de aviao civil na Alemanha, em 1922, Baur deixou o exrcitoe comeou um novo captulo em sua vida uma carreira de piloto da aviao comercial.

  • 2ASAS DA PAZ:1922-1931

    Diante do fim iminente da aviao militar alem, Baur teve a prudncia de entrar emcontato com o diretor da Bayerischer Luft-Lloyd, companhia area que estava surgindo emBerlim. Com seu excelente histrico na guerra, numerosas recomendaes e a ajuda do diretorda Luft-Lloyd, Baur obteve a licena de piloto civil, nmero 454, do Ministrio do TransporteNacional, em outubro de 1921.

    Ao deixar o exrcito, em abril de 1922, comeou a trabalhar imediatamente como piloto daLuft-Lloyd e se juntou a outros veteranos da guerra nos voos entre Munique e Constana, pertoda fronteira sua. Isso significava voar por uma regio montanhosa e pelo Bodensee, tambmconhecido como Lago de Constana, sob qualquer condio meteorolgica e sem instrumentosde navegao. As primeiras aeronaves eram velhos biplanos militares Rumpler C I e AlbatrosB II, modificados para o transporte de pequenas cargas e um ou dois passageiros. Essas gaiolasde madeira, que partiam de pistas gramadas, eram lentas, tinham autonomia limitada e eramdesconfortveis, pois tinham as carlingas abertas, tanto para os pilotos quanto para ospassageiros. Por serem velhos, eram tambm difceis de pilotar e controlar.

    Um novo avio surgiu no final daquele ano e foi um grande progresso. Era o Junkers F 13,primeira aeronave alem projetada especificamente para uso na aviao civil. Foi construdana cidade livre de Dantzig porque a produo de avies ainda era proibida na Alemanha. O F13 era surpreendentemente moderno. Com asas baixas de monoplano, foi o primeiro aviototalmente metlico.

    Foi o primeiro avio comercial com uma cabine fechada e viabilizou o transporte depassageiros. Tinha lugar para quatro passageiros e dois para a tripulao, ou cinco passageiros,se fosse preciso apenas um piloto. Equipado com um motor BMW IV de 180 HP, era lento,mas robusto e fcil de manter. Batizado oficialmente como Die Nachtigall (O Rouxinol), o F13 era chamado de Der Blechesel (O Asno de Lata) at a instalao de um motor mais potente,de 310 HP. Sua carreira foi longa e chegou 2 a Guerra Mundial.12 Esse avio tambm recebeuo primeiro registro numrico nacional: D-1.

    Em 1923, a companhia bvara Luft-Lloyd foi incorporada a Junkers Luftverkehr,companhia de aviao da Junkers Flugzeugbau AG, que era a empresa fabricante do avio.Essa companhia, maior e mais prspera, expandiu o negcio, permitindo a construo deaeroportos melhores e o estabelecimento de novas rotas, na Alemanha e em vrios pases. Oprogresso ocorreu apesar das limitaes impostas pelo Tratado de Versalhes aviaocomercial e fabricao de motores e aeronaves alems.13

  • Novas rotas areas para Viena, na ustria, e Zurique, na Sua, foram abertas na primaverade 1923. Baur fazia as duas rotas alternadamente, usando uma bssola e pontos de refernciaem terra para a navegao, sempre atento aos campos que poderiam ser usados para um pousode emergncia em caso de falha do motor. O tempo ruim podia impedir ou interromper umvoo, porque no havia instrumentos na poca.

    A vida de piloto exigia longas horas de trabalho e muitos dias em lugares distantes. Noentanto, Baur encontrou tempo para casar e estabelecer residncia em Munique, onde suaesposa, Elfriede, permaneceu pacientemente enquanto ele construa sua carreira na aviao.Nesses dias difceis, a Sra. Baur se sentia feliz pelo fato de seu marido ter um trabalho fixo ebom, que ele adorava. Em 1924 nasceu sua filha Ingeborg. Apesar da sua ausncia frequente, avida familiar de Baur era feliz.

    8. Baur, na asa de um Junkers F 13, depois de levar Eugenio Pacelli (quarto a partir da direita) de Munique aOberammergau, na Alemanha, no final de 1922. Os outros so desconhecidos. Pacelli foi o nncio papal da Baviera de

    1917 a 1929, e tornou-se o Papa Pio XII, em 1939. O moderno F 13 foi o primeiro avio alemo de passageiros construdoaps a 1a Guerra Mundial. Todo feito em metal tinha carlinga aberta, mas oferecia uma cabine fechada para quatro

    passageiros.

    Baur estava firmando sua reputao como piloto seguro e pontual. Em pouco tempo surgiua oportunidade de transportar seu primeiro passageiro clebre, o nncio Pacelli, depois PapaPio XII, num voo de ida e volta, Munique-Oberammergau, onde Sua Reverncia acompanhouuma apresentao de A Paixo de Cristo. Ao voltar no fim da tarde, Baur fez um voo tursticoe mostrou ao seu distinto passageiro o espetculo composto pelo Zugspitze, montanha maisalta da Alemanha, e os Alpes cobertos de neve na bela paisagem da Bavria. Outro passageirofamoso foi o futuro rei Boris, da Bulgria, primeiro passageiro real de Baur, que foi deZurique a Munique e depois a Viena.

    O ano de 1923 foi um pesadelo para quase todos os alemes. Em janeiro, tropas francesasocuparam a rea industrial do Ruhr para forar a Alemanha a pagar a dvida de 132 bilhes demarcos, deixada pela guerra. A Alemanha tambm foi obrigada a abrir mo de metade da

  • regio industrial da Alta Silsia, para a Polnia. A inflao ficou completamente fora decontrole e s em novembro o governo conseguiu estabilizar o sistema monetrio. Foramemitidos novos Rentenmarks, um para cada trilho de marcos, e isso interrompeu a inflaomais extrema da histria. Mas era tarde para salvar grande parte da classe mdia da runafinanceira: muitos precisaram vender moblia e roupas para comprar comida. O caos, amisria e a humilhao abriram espao para as promessas dos nacional-socialistas, comunistase outros radicais. Muitos alemes comearam a expressar a ideia de que era preciso encontrarum salvador que tirasse a nao do caos do ps-guerra.

    Munique, como quase toda a Alemanha no incio da dcada de 1920, estava tomada portumultos. Uma tentativa de golpe dos comunistas havia sido derrotada pelo corpo devoluntrios, com a ajuda de Baur, mas radicais direitistas de todos os tipos tambmameaavam a estabilidade do governo cambaleante. O Partido Nacional-Socialista dosTrabalhadores Alemes, ou NSDAP, chefiado pelo ex-cabo Adolf Hitler, sentia-se forte obastante em novembro de 1923 para tentar assumir o controle do governo da Bavria. O golpetentado por Hitler e seus correligionrios ficou conhecido como Marsch auf dieFeldherrenhalle na Alemanha, e como Putsch da Cervejaria no exterior. A tentativa de 9 denovembro foi frustrada pela polcia e Hitler foi preso, julgado por traio e sentenciado acinco anos na priso de Landsberg, na Bavria. Aps o malsucedido Putsch, o NSDAP foiproibido de funcionar, de 23 de novembro de 1923 a 27 de fevereiro de 1925, quando foirefundado e viveu um surto de novas atividades sob a liderana enrgica de Hitler, que haviasido libertado em dezembro de 1924, nove meses apenas depois de ter sido confinado.

    Baur no se envolveu com esse golpe ambicioso, mas ficou bastante impressionado com apropaganda nacional-socialista, amplamente divulgada durante o julgamento dosconspiradores. Nessa poca difcil, ele estava bastante ocupado, fazendo rotas que haviam sidoestendidas at Genebra, na Sua, Budapeste, na Hungria, e mais alm. Isso exigia aeronavesmaiores, com mais autonomia, e em 1925 trs novos modelos do Junkers foram produzidospela Junkers Luftverkehr.

    O Junkers G 24 era um monoplano de trs motores feito de alumnio, parecido com ofuturo Ju 52/3m. Inicialmente, os motores eram Junkers L2a de 230 HP cada um, o quepermitia velocidade de aproximadamente 160 km/h. Por causa da baixa potncia dos motores,eram necessrios trs motores para um avio do tamanho do G 24 e do Ju 52/3m. O G 24 eraequipado com rdio, mas no tinha freios. Na poca, isso no era to importante porque oavio tinha uma cauda que o segurava e quase todos os campos de pouso eram de grama outerra. Com dois ou trs tripulantes, tinha assentos confortveis para nove passageiros nacabine fechada, e era o avio comercial mais moderno da poca. Como nos outros avies, acarlinga da tripulao era aberta e exposta s condies do tempo. Em 1925, as restries emrelao fabricao de avies na Alemanha foram relaxadas pelos Aliados, que permitiram aconstruo de pequenos avies civis para atividades comerciais ou esportivas. Mas os grandesG 24 tiveram que continuar a ser fabricados pela subsidiria da Junkers, a A-B Flygindustri,em Limhamn-Malmoe, na Sucia.14

    Para dominar a complexidade do G 24, Baur visitou a fbrica da Junkers em Dassau. Ostcnicos lhe mostraram toda a fbrica e ele presenciou os preparativos para a construo de

  • aeronaves muito maiores, inteiramente de metal. Ali ele recebeu informao sobre a operaoe a manuteno do novo avio.

    9. Baur na frente do Junkers G 24, da Lufthansa, por volta de 1926. Ele est com o uniforme completo de invernoporque esse tipo de avio ainda tinha a carlinga aberta. Observe a hlice de madeira com duas lminas no centro do motor

    Junkers L2a, e a hlice com quatro lminas do motor lateral.

    O treinamento de voo foi feito com vrios pilotos de testes da empresa e Baur realizoumuitos voos, pousos e decolagens em condies variadas. S depois recebeu o certificado queo qualificava a pilotar os grandes G 24.

    A Junkers Luftverkehr, uma das companhias areas mais bem-sucedidas da poca, sabiaque para ser um empreendimento vivel, a companhia precisava oferecer avies eficientes,com facilidades para compra e manuteno, que fossem economicamente duradouros egrandes o bastante para transportar passageiros ou carga que tornassem a operao lucrativa.Tambm era preciso ter boa infraestrutura area, pessoal competente e tima administrao. AAlemanha havia comeado muito bem em 1910, quando os grandes dirigveis Zeppelin daDELAG (Deutsche Luftschiffahrts-Aktiengesellschaft) comearam a transportar passageiros ea fazer o servio de correio em segurana por todo o pas. Isso, claro, terminou com o incioda 1a Guerra Mundial, em agosto de 1914. A primeira empresa area a usar avies foi aDeutsche Luft-Reederei, que inaugurou seus servios em 5 de fevereiro de 1919. Foiverdadeiramente a primeira companhia area do mundo.

    Enquanto a Alemanha superava a crise inflacionria e conseguia melhorar a economia, emmeados da dcada de 1920, crescia a concorrncia entre as companhias europeias e alems. NaAlemanha, havia cerca de trinta companhias areas, a maioria delas pequenas e ineficientes.Boa parte se fundiu com outras ou desapareceu, restando apenas duas grandes: a JunkersLuftverkehr AG e a Deutscher Aero Lloyd AG. No final de 1925, o governo alemo cortoudrasticamente os subsdios, forando a fuso que resultou na Deutsche Luft Hansa AG. A

  • partir de 1 de janeiro de 1934 as duas palavras se juntaram para formar Lufthansa. Usaremosapenas essa forma neste livro, para facilitar.

    Sediada em Berlim, a Lufthansa foi fundada em 6 de janeiro de 1926 e passou a operar notransporte de passageiros, carga e correio, no dia 6 de abril. A nova companhia expandiusistematicamente seus servios nacionais e internacionais, incluindo melhoria nos aeroportosde vrias cidades, com a colaborao de autoridades locais. Desde o incio, pioneira nos voosnoturnos e sob mau tempo, as operaes da Lufthansa foram um laboratrio para a melhoriapermanente dos voos sem visibilidade e tambm para a navegao, a tecnologia deinstrumentos e o controle do trfego areo.15

    Como resultado da fuso, a Lufthansa iniciou suas operaes equipada com nada menos doque dezenove tipos de aeronaves, totalizando 165 avies, com motores de dezessete tiposdiferentes. Pilotos como Hans Baur e vrias equipes de voo e de terra adquiriram vastaexperincia operacional, concentrando-se no domnio de um tipo de aeronave. Muitosaviadores, tcnicos e lderes da nova fora area alem, a Luftwaffe, comearam oudesenvolveram suas carreiras voando para a Lufthansa.

    10. Baur posa com o Rohrbach Ro VIII Roland I, chamado Hohentwiel. Ele comeou a pilotar esse avio em 1928, anoem que a Lufthansa o promoveu a Flugkapitn (capito de voo). Equipado com trs motores BMW Va, atingia 180 km/h,

    oferecia aquecimento para dez passageiros e era equipado com um lavatrio. Havia oxignio extra, disponvel para ospassageiros somente nos voos sobre os Alpes. Baur continuou a voar em carlinga aberta at que Kurt Tank, ento

    trabalhando para a Rohrbach Company, criou uma cabine para proteger a tripulao do vento congelante.

    Baur comeou a trabalhar na Lufthansa na poca da fuso e, no vero de 1926, j tinhavoado mais de 300 mil quilmetros como piloto comercial.16 Esse feito foi noticiado emvrios jornais da Alemanha e da ustria. A publicidade em torno desse fato foi ainda maiordevido a seus inmeros passageiros famosos, como o Dr. Hainisch, presidente da ustria, eFridtjof Nansen, explorador do rtico. Baur tambm chamou a ateno do novo diretor daLufthansa, Erhard Milch, por causa de uma bem-sucedida aterrissagem de emergncia. Milch,que depois se tornaria marechal de campo da Luftwaffe e secretrio de Estado no Ministrioda Aviao do Reich, elogiou Baur pela grande habilidade demonstrada na aterrissagem segura

  • do avio num campo aberto sem ferir os passageiros.

    De vez em quando, os pilotos eram contratados por companhias de cinema para filmarcenas do ar. Durante o Rally Areo Transalemo, para avies esportivos, Baur pilotou o aviocom a cmera que filmou os avies contornando o Zugspitze. Nessa poca, ele conheceuRudolf Hess, que se tornaria adjunto de Hitler e, mais tarde, ministro do Reich e seu Fhrersubstituto, antes de fazer um voo misterioso em misso de paz at a Inglaterra em 1941. Hessera piloto amador e foi o primeiro a voar sobre o Zugspitze numa competio de aviesesportivos patrocinada pelo jornal do Partido Nacional-Socialista, o Voelkischer Beobachter .O filme foi amplamente exibido em cinemas alemes, com objetivos propagandsticos. Talvezpor ter conhecido Hess e outros lderes do partido, ou por uma combinao de motivos, HansBaur decidiu filiar-se ao Partido Nacional-Socialista por volta de 1926, com o nmero deinscrio 48.113.17

    Visando padronizar sua frota com novos equipamentos para melhorar a eficincia, aLufthansa havia comprado alguns Junkers G 24. Nesse perodo a Alemanha finalmenterecebeu permisso para fabricar motores e aeronaves de grande porte para uso comercial. Oprimeiro avio Rohrbach, o Ro VIII Roland I, foi adquirido pela Lufthansa em 1927. Eraoutro avio, totalmente de metal, equipado com trs motores BMW IV. 18 Apesar de ter ummodelo pouco elegante, o Roland representava um avano em relao ao Junkers G 24. Tinhamelhor razo de subida e atingia 180 km/h, levando nove ou dez passageiros. Alm do rdio, oRoland I tambm tinha aquecimento na cabine e lavatrio. Sua asa era alta, permitindo que ospassageiros tivessem uma viso melhor do solo, o que agradava principalmente aos que nuncatinham tido o prazer de ver a paisagem do ar. Um modelo ligeiramente aperfeioado desseavio, o Roland II, apareceria nas viagens da campanha poltica de Hitler, em 1932, com Baurpilotando. A Lufthansa usou nove avies Roland II, modelo que tambm foi testado comobombardeiro no teste secreto da Reichwehr (Defesa do Imprio), hoje em Lipetsk, na UnioSovitica. No foi considerado satisfatrio como o avio de guerra na ainda clandestinaLuftwaffe, e em seu lugar foi escolhido o Dornier Do 11.

    Em setembro de 1927, a Lufthansa concedeu a Baur seu primeiro pin (alfinete de lapela)Golden Honor por ter voado 400 mil quilmetros em voos comerciais. Ele continuou a fazer asrotas para Berlim, Munique e Zurique, em todas as estaes e em todos os tipos de situao,mesmo para Viena, durante a greve geral e a sangrenta tentativa de golpe. Essa situao haviaimpossibilitado a circulao de trens e nibus, e a nica maneira de entrar e sair da cidade erapelo ar.

    O ano seguinte trouxe novo desafio para Baur: pilotar numa rota pioneira atravs dosAlpes at a Itlia. Essa nova rota era particularmente difcil por causa da altitude exigida paraficar acima dos picos, da falta de instrumentos de navegao e das condies meteorolgicassempre ruins, que incluam ventos fortes e variveis. Tambm havia limitaes frustrantesimpostas pelos governantes italianos, que suspeitavam espionagem da parte dos alemes. Arota ligava Munique a Milo, passando pela passagem de Brenner, onde mais tarde ocorreriaum encontro importante entre Adolf Hitler e o ditador italiano Benito Mussolini. Baur foiescolhido para fazer essa rota perigosa em razo de sua grande experincia e de seu excelentehistrico em questo de segurana. Tambm deve ter ocorrido a algumas pessoas que ele era

  • um homem que gozava de muita sorte. De qualquer forma, as realizaes de Baur seriamreconhecidas em 20 de julho de 1928, quando a Lufthansa o promoveu de piloto de primeiraclasse a capito aviador. Na poca, poucos pilotos conquistavam essa posio e a empresa fezgrande publicidade do fato na ocasio, enfatizando a questo da segurana. No outono, Baurobteve outra conquista, ao completar 500 mil quilmetros no servio comercial areo.

    Durante os primeiros trs meses, a rota experimental sobre os Alpes levava apenas carga ecorrespondncia, mas o servio de passageiros se iniciou em 1929. Com tempo bom, essa rotaera certamente uma das mais belas do mundo. No entanto, a maioria dos passageiros tinhadificuldade para respirar, quando o avio subia a mais de quatro mil metros. Decidiu-se que ospassageiros deveriam receber um suprimento extra de oxignio, mas os membros da tripulaodeveriam estar acostumados a voar a grande altitude. Os tubos de oxignio instalados nosavies Rohrbach Roland I ficavam presos ao brao de cada assento e o oxignio chegava aopassageiro atravs de um tubo flexvel. Cada pessoa recebia um bocal descartvel, deborracha, e podia girar a vlvula e usar o oxignio conforme a necessidade. Crianas tambmrecebiam equipamentos apropriados e todo o processo era supervisionado pelo operador derdio.

    Outra inovao importante para o piloto foi o instrumento com o horizonte artificial, em1930, seguido pelo novo indicador de curva e inclinao. Esses dois instrumentos, quandousados em conjunto, permitiam que o piloto voasse em segurana, por longas distncias,baseando-se nos instrumentos noite, sob neblina ou em condies climticas adversas. Gelotambm representava grande perigo e a inveno de equipamentos como as deicing boots,instaladas nas asas, proporcionaram grande avano para a segurana do voo. Os relatrios deBaur sobre o uso desses novos equipamentos foram de grande interesse para os altosfuncionrios da Lufthansa.

    Todas essas melhorias permitiram a ampliao das rotas areas, incluindo um novo trecho,de Milo a Roma. Baur foi escolhido para o voo inaugural, que levou altos executivos daLufthansa e do governo alemo, alm de reprteres. Em Roma, os festejos e o jantar formalforam comandados por talo Balbo, ministro da aviao italiana, e contaram com a presenado embaixador alemo von Schubert. Voo semelhante foi realizado no mesmo dia, de Roma aBerlim, onde Itlia e Alemanha assinaram o acordo areo, numa cerimnia especial. Depoisdisso, Baur passou a fazer a rota de oitocentos quilmetros entre Munique e Roma comfrequncia, fazendo o voo de volta no dia seguinte.

    A aviao aos poucos se tornava mais conhecida e apreciada pelo grande pblico. Aocompletar cem voos pelo Alpes, em 1931, Baur recebeu um trofu especial da Lufthansa, umaguia de prata. Nessa ocasio, concedeu entrevista a uma rdio de Munique para falar de suaexperincia nos voos alpinos e das melhorias feitas no Rohrbach Roland, ento usado pelaLufthansa.

    Enquanto isso, a poltica alem esquentava. Como resultado da grande depresso, comgrandes ndices de desemprego, pobreza e misria, os partidos polticos grandes e pequenosficaram cada vez mais estridentes em seus esforos para influenciar os eleitores alemes. Ogoverno democrtico parecia indeciso e incapaz de controlar a violncia crescente nas ruas,especialmente entre nacional-socialistas e comunistas, ou de enfrentar a situao econmica

  • cada vez pior. Baur estava ocupado demais para se envolver na poltica partidria, mas ficavaimaginando qual seria o impacto da turbulncia governamental, poltica e comercial sobre aindstria aeronutica.

    Apesar das dificuldades crescentes tanto na Alemanha quanto no exterior, Baur continuoucumprindo sua intensa escala de voos. Ele obteve sua premiao civil de maior prestgio noincio de maro de 1932, ao receber o Prmio Lewald pela atuao de destaque na aviao. Oprmio levava o nome do Dr. Lewald, secretrio de Estado alemo, e foi concedido a Baur e aoutros dois homenageados com longa e brilhante carreira como pilotos comerciais.

    Nessa poca, Baur j tinha voado mais de 900 mil quilmetros em voos comerciais diurnose noturnos. A rota alpina era considerada a mais difcil da Europa, e ele j a havia feito cento ecinquenta vezes, com 96% de regularidade.19

    O Prmio Lewald representou um momento de orgulho para o capito aviador Hans Baur,porm mal sabia ele que em poucos dias sua vida mudaria drasticamente.

    11. Este o trofu especial concedido a Baur pela Lufthansa em 1931, para celebrar seu centsimo voo pelos Alpes,entre Alemanha e Itlia.

  • 3ASAS DO DESTINO:1932-1933

    O capito aviador Hans Baur saiu do Rohrbach, sorriu e ajudou o passageiro especial asair. Adolf Hitler, lder do Partido Nacional-Socialista e candidato a presidente do Reich naseleies nacionais de 1932, saiu da cabine, apertou a mo de Baur e disse: Excelente, HerrBaur. No se pode negar a experincia de um velho combatente de guerra. Baur respondeu:Isso tambm vale para o senhor, o Inntaler (originrio do Vale do Rio Inn) duro, Herr Hitler.Eu moro a menos de uma hora do lugar onde o senhor nasceu.

    Essa conversa foi retirada literalmente de um artigo sobre Hans Baur, publicado na revistada fora area alem, Der Adler, em 17 de dezembro de 1940.20 Teria ocorrido logo depois doprimeiro voo de Hitler com Baur e seria apenas uma das muitas que viriam nos mesesseguintes, de intensa campanha poltica, quando Hitler visitou cidades, grandes e pequenas,em toda a Alemanha, tornando-se depois o chanceler da nao.

    A situao na Alemanha naquela poca era turbulenta. A frgil economia havia sofrido asconsequncias da Grande Depresso e a estabilidade poltica e econmica surgida no final dosanos 1920 tinha terminado. Os vrios partidos polticos lutavam por votos e manobravam nosbastidores, enquanto a populao enfrentava desemprego crescente, intranquilidade edesesperana. Os nacional-socialistas e os comunistas prometiam solues polticas eeconmicas, e fanticos de ambos os lados sempre se enfrentavam nas ruas e em encontros.Muitos alemes, pouco habituados autodeterminao, temiam um sistema democrtico queconferisse responsabilidade ao cidado. O fim da democracia e da Repblica de Weimar eraiminente.

    Adolf Hitler, o homem que logo se tornaria chanceler do Reich, e posteriormente ditadorda Alemanha, nasceu no dia 20 de abril de 1889, em Braunau, na ustria, no vale do Inn dao Inntaler perto da fronteira com a Alemanha. Depois da infncia problemtica, foi paraViena, onde tentou sem sucesso entrar para a Academia de Belas Artes. Viveu muitos anos napobreza, tentando viver como artista. Esses foram seus anos de formao, quando aprendeu aodiar marxistas, judeus, intelectuais e, eventualmente, a democracia.

    Em 1913, Hitler se mudou para Munique, ento capital do Reino da Bavria, e quandoestourou a guerra, em agosto de 1914, conseguiu se alistar no 16 Regimento de Infantaria daReserva do exrcito bvaro (List Regiment). Aps semanas de treinamento militar, foi enviadoao front francs, onde demonstrou ser um soldado capaz e corajoso, cumprindo a perigosafuno de Meldegaenger (mensageiro), levando relatrios e ordens de um posto de comando aoutro, sob fogo inimigo.

  • Hitler recebeu a Cruz de Ferro de Segunda Classe, em 1914, e a Cruz de Ferro de PrimeiraClasse, em 4 de agosto de 1918, condecorao raramente concedida a um soldado comum noExrcito Imperial Alemo. Esta ltima medalha foi concedida pela captura de um oficialinimigo e mais quinze homens. No entanto, Hitler jamais foi promovido alm de Gefreiter(subcabo). Foi ferido duas vezes: em 17 de outubro de 1916, na perna e em outubro de 1918,ficou gravemente enfermo por inalao de um gs venenoso, e ficou internado trs meses,sofrendo num hospital militar perto de Berlim. Ele recebeu, ento, a Verbunsdetenabzeichen(condecorao por ferimentos de guerra) que, com a Cruz de Ferro de Primeira Classe e odistintivo dourado do NSDAP, eram as nicas condecoraes que ele usava regularmente emseu uniforme do partido.

    12. Baur cumprimenta Adolf Hitler ( direita) no dia 3 de maro de 1932, antes da decolagem do primeiro voo de suacampanha eleitoral pela Alemanha. O avio, emprestado pela Lufthansa e pilotado por Baur, era o Rohrbach Ro VIII

    Roland II, D-1720, batizado de Niederwald. Hitler ficou to impressionado com a habilidade de Baur que jamais voariacom outro piloto.

    A guerra influenciou profundamente a vida de Hitler porque lhe deu o objetivo que tantodesejara. Ele descobriu a organizao e a violncia, e como poderiam ser usadas. Quandovoltou a Munique, depois do armistcio, comeou a participar das reunies de um pequenogrupo nacionalista que se encontrava semanalmente na cervejaria Sterneckerbraeu. Ele seintegrou oficialmente ao novo partido poltico no dia 1 de janeiro de 1920, como membronmero sete. Com esse incio modesto surgiu o Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei(Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemes), tambm chamado NSDAP, ouPartido Nazista, que teria milhes de membros.

    Dispensado do exrcito, Hitler se concentrou na poltica, onde encontrou o canal perfeitopara sua habilidade na organizao e agitao. Nessa poca de vacas magras, ele dedicou todoseu tempo e energia ao partido e encontrou aos poucos uma plataforma poltica. Hitler sentiu anecessidade de um smbolo caracterstico para o novo movimento e adotou a sustica, smbolo

  • antigo, como emblema oficial do NSDAP. O programa do partido atraiu pessoas de formaesdiversas, a maioria infeliz com o resultado da guerra e com a pobreza, e a instabilidade quecaracterizavam a vida da Alemanha ps-guerra. Entre os primeiros membros contribuintes dopartido estavam Julius Streicher, o raivoso editor antissemita; Josef Goebbles, doutor emfilologia com dom para relaes pblicas; Hermann Goering, s oportunista da 1 GuerraMundial; e Rudolf Hess, camarada de Hitler da poca da guerra. A organizao do partidoseguia a linha militar, o que atraa muitos ex-combatentes.

    As cavernosas cervejarias de Munique serviam de palco para discursos polticosemocionados e para demagogia. Hitler e outros oradores nacional-socialistas eram protegidospor homens dures, vestidos com camisas marrons, das Sturmabteilung (Diviso de Assalto) edepois pela SS (Schutzstaffeln), fora de elite criada pelo prprio Hitler. Os Saalschutz(Defesa do Salo) empregados pelas cervejarias, normalmente no conseguiam manter aordem. A pesada caneca de um litro, a Bierkrug ou Masskrug, como a chamavam, tornava-seuma arma perigosa, e quando os comunistas e outros opositores foravam a entrada nasreunies, canecas comeavam a voar e, em seguida, travavam uma luta corporal sangrenta.

    Foi uma poca de atividade constante e de tumultos exacerbados pelos comunistas,nacional-socialistas e outros grupos radicais. Hitler no lutava apenas contra democratas,socialistas e comunistas, mas contra membros ambiciosos de seu prprio partido, a fim degarantir sua posio de lder e de implementar sua verso do programa partidrio. bemprovvel que as crenas polticas de Hitler, sua Weltanschauung (viso de mundo) e suafilosofia de vida, tenham se fortalecido durante esse perodo turbulento em Munique, muitomais do que durante os anos que antecederam a guerra, ainda em Viena. No h dvida de queo talento notvel de Hitler para oratria dramtica, aliado sua performance, atraa novosmembros e o empurravam para a liderana do movimento de ultradireita e a estrada pedregosaque levaria ao malsucedido Putsch da Cervejaria.

    Apesar de ter visto a tentativa dos comunistas ser reprimida, Hitler acreditava que naquelemomento o NSDAP estava forte o suficiente para enfrentar a oposio. Na noite de 8 denovembro de 1923, ele entrou na Buergerbraeu Keller, em Munique, atirou para o alto eaudaciosamente declarou para a multido que a revoluo tinha comeado.

    A tentativa repentina e improvisada de derrubar o governo bvaro durante a noite tropeoudiante de resistncia determinada. s onze da manh do dia 9, Hitler, o general ErichLudendorff, o famoso lder da 1 Guerra Mundial; Goering, Streicher e cerca de dois milmembros das tropas de assalto, alm de partidrios carregando estandartes com a susticamarcharam em direo ao centro da cidade. A coluna foi parada pela polcia armada perto doFeldherrnhalle, monumento no centro de Munique, e Hitler exigiu que a polcia se rendesse.Eles responderam com fogo, ferindo Goering e deixando vrios nacional-socialistas mortos noasfalto. Trs policiais tambm morreram durante o confronto, mas a tentativa de golpe foireprimida a bala. Goering fugiu para a Sucia e Hitler acabou preso.

    Em fevereiro de 1924, Hitler foi julgado por alta traio e sentenciado a cinco anos depriso na fortaleza de Landsberg. Apesar do insucesso, o putsch e a grande publicidade emtorno do julgamento levaram Hitler e seu insignificante movimento s manchetes de toda aAlemanha e do mundo.21

  • Na priso, Hitler ditou o primeiro volume de Mein Kampf ao seu devotado secretrio,Rudolf Hess, e o livro se tornaria a bblia poltica do movimento nacional-socialista. Foramimpressos milhes de exemplares, proporcionando ao seu autor uma renda considervel.Durante o Terceiro Reich, o livro era presenteado at a recm-casados, embora pouca gente olesse. Isso lamentvel, porque cada detalhe de seus planos sinistros podem ser encontradosali. Ao sair de Landsberg, em dezembro de 1924, depois de apenas nove meses de priso,Hitler comeou a trabalhar arduamente para reconstruir o partido desorganizado. Suacampanha incansvel recebeu grande ajuda de um quadro de seguidores leais.

    Hitler percebeu a grande importncia da propaganda desde o incio e, sempre que possvel,fazia exibies dramticas, enfatizando a msica patritica, bandeiras e uniformes.Acreditava-se que o alemo mdio respeitava a autoridade representada pelo uniforme e osbraos armados do Partido Nacional-Socialista vestiam roupas bastante distintas, comelaborado sistema de hierarquia e insgnias. Os membros comuns do partido no usavamuniforme. Mas deve-se observar que os membros dos quadros uniformizados, como as Tropasde Assalto, ou SA (Sturmabteilung), deveriam comprar seus uniformes e suas insgnias.Vendidos apenas em pontos de venda autorizados, os itens oficiais do NSDAP tinham a marcaRZM, indicando que haviam sido confeccionados de acordo com as especificaes doReichszeugmeisterei der NSDAP, escritrio oficial do partido. Desnecessrio dizer, oscontratos para a confeco das roupas e acessrios eram celebrados apenas com empresas queapoiavam a causa nacional-socialista. Nos primeiros anos do partido, o barulho e avisibilidade das Tropas de Assalto tendiam a exagerar o tamanho e a popularidade domovimento.

    claro que Hitler foi habilmente assessorado, durante o que ele chamou de Kampfzeit(tempo de luta), por inmeros partidrios, zelosos e ardilosos. Os camaradas dos primeirosdias do partido, chamados de Alte Kaempfer (velhos lutadores), foram autorizados a usar umemblema na parte superior da manga direita do uniforme do partido, a partir de 1933. HansBaur usou essa insgnia em seu uniforme da SS depois de ter sido aceito como membro daSchutzstaffel, em 14 de outubro de 1933. O Dr. Josef Goebbels, que se tornou um dosconselheiros mais influentes de Hitler, entrou para o partido em 1922. Esse intelectual depequena estatura, transbordando de dio, acabou por tornar-se Gauleiter (lder distrital) deBerlim e, a partir de 1929, chefe de propaganda do NSDAP. Redator talentoso e esplndidoorador, foi um dos mais prximos de Hitler e exerceu grande influncia em todos os aspectosda vida cultural da nao.

    Hitler e o NSDAP conquistaram o apoio nacional gradualmente e muitos nacional-socialistas e simpatizantes foram eleitos para cargos da esfera local e estadual, por meioslegais. Em 1930, as tticas e a notvel habilidade retrica de Adolf Hitler atraram a atenodo eleitorado alemo. O incio da Grande Depresso, com desemprego crescente, acabou como lento desenvolvimento da economia alem. Isso proporcionou a Hitler nova oportunidadepara enfatizar as falhas do governo democrtico da Repblica de Weimar e para oferecer suassolues radicais aos problemas da nao. Os nacional-socialistas se tornaram, enfim, osegundo maior partido poltico do pas, com 107 delegados eleitos para o Reichstag(Parlamento) em Berlim. Os comunistas tambm obtiveram vitrias, e o nmero de seusrepresentantes subiu para setenta e sete. Entretanto, forjara-se um vnculo entre um messias

  • militante e seu povo.

    Hitler finalmente adquiriu a cidadania alem atravs do estado de Braunschweig, no dia 25de fevereiro de 1932, e com isso conquistou oficialmente o direito de concorrer a um cargopblico. Decidiu testar a fora de seu partido imediatamente, concorrendo presidncia daAlemanha contra o envelhecido ocupante do cargo, Paul von Hindenburg. Hitler sabia que vonHindenburg era um homem honrado e respeitado pelo povo, mas acreditava que sua imagemestava ligada s malsucedidas tentativas do governo de resolver a grave crise econmica e osproblemas polticos que assolavam o pas. Hitler pretendia lanar uma campanha eleitoralenrgica para espalhar sua mensagem e isso exigia que visitasse rapidamente muitas cidadesdo pas. Para isso, precisava voar.

    Quando Hans Baur pousou o avio em Munique, no dia 1 de maro de 1932, o gerentelocal da Lufthansa lhe disse que Herr Hitler estava interessado em fretar um avio e queriafalar pessoalmente com Baur, assim que fosse possvel. Baur entrou imediatamente em seuFord e foi at a Braunes Haus (Casa Marrom), quartel-general do NSDAP, que ficava nocentro. Hitler recebeu-o educadamente em seu escritrio particular e explicou os planos, queincluam voar de uma cidade para outra durante a campanha eleitoral, parando em pelo menoscinco cidades, entre a tarde e a noite. Afirmou que o chanceler Heinrich Bruening controlava ardio estatal, e que ele no conseguiria superar essa vantagem visitando uma ou duas cidadespor noite, de carro ou trem. Precisaria voar pelo pas e Baur havia sido recomendado comopiloto de inmeros recursos.22 O fato de Hans Baur ser antigo membro do NSDAP foi, semdvida, um fator de peso na sua escolha como piloto de Hitler durante essa eleio duramentedisputada.

    13. Hitler e membros de sua equipe preparam-se para embarcar no Roland II e iniciar a viagem da campanha eleitoral,em 3 de maro de 1932. Da esquerda para a direita: o Dr. Putzi Hanfstaengl, Hitler, um Major da SS, General Julius

    Schaub, Heinrich Hoffmann, o fotgrafo de Hitler, Baur e o Tenente-General da AS Wilhelm Brueckner.

  • Muitos dos discursos duravam apenas 15 minutos e precisavam ser feitos no fim do dia.Isso exigia que se fizessem trs longas viagens de campanha noite, que durariam entre duas etrs semanas cada uma. Hitler estava bastante impressionado com Baur e seu histrico e lhedisse que ele seria o piloto de toda a campanha. Encaminhou Baur ao seu ajudante pessoal, oSA-Gruppenfhrer (cargo da Tropa de Assalto equivalente a General de Diviso) WilhelmBrueckner, para os detalhes. Brueckner mostrou a Baur um plano para visitar at sessenta ecinco cidades em cada uma das trs viagens de campanha. Baur assinalou as cidades que notinham campos de pouso; o plano foi finalizado com o acrscimo de datas e Baur, ento, saiupara cuidar dos preparativos necessrios para o fretamento, e o preparo da aeronave para oprimeiro voo, programado para 3 de maro de 1932.23 Baur seria auxiliado por sua tripulaohabitual: Max Zintl, mecnico de voo, e Paul Lecy Leciejewski, operador de rdio enavegador.

    A primeira viagem de campanha comeou pontualmente ao meiodia de 3 de maro de1932, com um voo de Munique a Dresden num Rohrbach Ro VIII Roland II, nmero detrabalho 46, nmero de registro D-1720, chamado Niederwald. Era equipado com trs motoresBMW Va e, velocidade de 195 km/h, sua performance era um pouco melhor que a do RolandI. O tempo estava bom; Hitler e sua equipe no tiveram problemas e usaram o tempo a bordopara trabalhar detalhes de ltima hora. Depois do discurso e de uma pequena cerimnia, ogrupo voou para Leipzig para outra fala rpida, depois para Chemnitz e, finalmente, Plauen,aonde chegaram bem depois do anoitecer. Depois de falar em Plauen, Hitler foi de carro at acidade de Zwickau, para outro comcio eleitoral. Na manh seguinte voaram para Berlim, ondeuma multido entusiasmada recebeu Hitler no aeroporto de Tempelhof. Naquela noite foirealizado um grande comcio no Lustgarten (Jardim das Delcias) de Berlim, onde Hitler falounovamente, sem aparentar o cansao motivado pelo ritmo extenuante, exultante pelos relatosde sucesso de sua campanha.

    A campanha enrgica de Hitler garantiu-lhe mxima exposio alcanada pelos voos atantos lugares. Nas eleies de 13 de maro, ele conseguiu mais de 30% dos votos e tirou dofavorito, Paul von Hindenburg, a maioria absoluta, exigindo um segundo turno eleitoral.

    Era bvio que o ritmo acelerado exigia preciso e planejamento cuidadoso, alm dacoordenao de cada detalhe, em cada pouso. Era importante que a aeronave estivesse sempreem ordem e que oferecesse condies de pontualidade. Uma equipe avanada cuidava de todosos detalhes de ltima hora para questes de propaganda e transporte. Para isso, um pequenoJunkers F 13 da Lufthansa foi fretado para levar o velho camarada de Hitler, Joseph SeppDietrich, um ajudante, e alguns reprteres. Dietrich e membros do NSDAP local esperavampor Hitler em cada parada e o colocavam a par da situao. Ento, Dietrich voava para oprximo destino, para garantir que tudo estivesse em ordem. Embora alguns voos tivessemque ser feitos sob tempo ruim, Hitler parecia gostar disso e ficava impressionado com apaisagem. A primeira fase da campanha terminou no aeroporto Oberwiesenfeld, em Munique,no dia 10 de abril, onde havia uma multido que recebeu Hitler gritando Heil!.24

    No segundo turno das eleies, em 10 de abril, von Hindenburg, a popular figura paterna evelho heri de guerra, foi reconduzido presidncia com 53% dos votos, ou 19.359.650; Hitlerteve 13.418.011 e Ernst Thaelmann, o candidato comunista, 3.706.655.

  • O ltimo estgio da viagem de campanha pela Alemanha comeou no dia 18 de abril eterminou no dia 24 de abril, depois de pousos em inmeras cidades. Entre abril e incio dejulho, Baur voltou a fazer voos regulares da Lufthansa para Berlim, Veneza e Roma.

    A segunda viagem de campanha foi de 15 a 30 de julho, com Baur assumindo novamenteos controles do Rohrbach D-1720. O itinerrio inclua voos para dezenas de cidades de todo opas, com muitos pousos noturnos em campos mal iluminados. Como aconteceu na primeirarodada da campanha, eles enfrentaram algumas complicaes devido a chuvas fortes, vento eneblina intensa, mas Baur completou os voos sem incidentes. Em cada comcio poltico, umabanda da SA local tocava msicas marciais e patriticas, as Tropas de Assalto marchavamempunhando bandeiras, e Hitler animava a multido com sua notvel retrica.

    Foram feitos discursos at em cidades reconhecidas como redutos comunistas. Certa vez,quando se deslocavam, em caravana, do aeroporto at o centro da cidade de Freiburg, Hitlerfoi atingido na cabea por uma pedra atirada do meio da multido. Nada interrompeu o ritmoda viagem, e os voos continuaram, rendendo publicidade aviao e Lufthansa. Durante boaparte desse perodo, Hitler e seus partidrios vestiam roupas civis, porque o governo haviaproibido o uso de uniformes durante a campanha eleitoral. Nas eleies de julho de 1932, oNSDAP conquistou 230 cadeiras no Reichstag e se tornou o maior partido poltico daAlemanha.

    Baur ficou bastante familiarizado com Hitler e outros lderes do nacional-socialismodurante as muitas horas que passaram juntos. Hitler fez perguntas a Baur sobre sua experinciade voo na guerra e na aviao comercial. Tiveram tempo para conversar no apenas durante asviagens, mas quando Hitler passou a convid-lo para almoar ou jantar, nas paradas paradescanso. Seu apreo por Baur e a confiana em sua percia como piloto cresciam a cada dia.Baur, por sua vez, achava Hitler um indivduo fascinante e se sentia lisonjeado por receberateno de um homem to famoso.

    Nessa poca a Lufthansa recebeu novo avio, que se tornaria a espinha dorsal do transporteareo comercial, na Alemanha e em muitos outros pases na dcada de 1930. Logo ganhariaimportncia tambm por equipar a Luftwaffe, a nova fora area alem. A aeronave notvelera o Junkers 52/3m de trs motores, carinhosamente chamado de Tante Ju (Tia Ju) pelopessoal civil e militar. De uma linhagem que remontava ao Junkers F 13, de 1919, foiconcebido originalmente como monomotor para o transporte de carga.

    Projetado pelo Diplom Ingenieur (engenheiro certificado) Ernst Zindel e equipe, o novoavio foi fabricado pela Junkers Flugzeug und Motorenwerke AG em Dessau, comeando como prottipo, matrcula 4007, em abril de 1931. Como os Junkers anteriores G 24, G 31, W33 e W 34 , era um monoplano robusto, de asa baixa, com fuselagem revestida de chapas deduralumnio ondulado. A carlinga do trimotor Ju 52/3m era fechada e os primeiros modelosforam equipados com trs motores Pratt & Whitney Hornet 525/600 HP de nove cilindrosrefrigerados a ar, depois fabricados sob licena na Alemanha pela BMW, a BayrischeMotoren-Werke. Os Ju 52/3m tambm tinham freios a ar, equipamento de rdio, cabineisolada e aquecida, alm de assentos confortveis, ajustveis. A Lufthansa depois passou aoferecer oxignio aos passageiros, nos voos a grandes altitudes. Outra inovao introduzidaposteriormente foi a comunicao entre os passageiros e o solo. Radiogramas puderam ser

  • enviados atravs de cdigo Morse, enquanto a aeronave voava.

    O primeiro novo Junkers foi registrado como Ju 52/3mce, matrcula nmero 4013, registronacional D-2201 (depois D-ADOM). Registrado em maio de 1932, foi prontamente entregue Lufthansa. O D-2201 era equipado com trs motores P&W Hornet americanos sem coberturado motor. Mais tarde seriam instalados caps do tipo NACA. Quando equipado com coberturanas rodas, foi chamado de Ju 52/3mfe. Sua velocidade mxima atingia 290 km/h e suavelocidade de cruzeiro era de 255 km/h. O primeiro modelo levava tripulao de dois pilotos eum operador de rdio e acomodava quinze passageiros. Uma de suas caractersticasimportantes era a Hilfsfluegel, ou asa auxiliar, que inclua flaps e ailerons nos bordos de fugadas asas. Quando os flaps eram baixados, os ailerons desciam automaticamente.25 A Lufthansacomeou a dar nomes aos avies logo depois de sua fundao, em 1926. O primeiro Ju52/3mce, D-2201, recebeu o nome de Boelcke, pintado no nariz, em homenagem ao famoso sda 1a Guerra Mundial, o piloto de combate capito Oswald Boelcke, morto em acidente areono front francs, em 1916.

    Baur pilotou um dos novos Junkers e constatou que era muito melhor que os anteriores.Um segundo Ju 52/3mce, semelhante ao primeiro, foi entregue a Lufthansa em setembro. Seunmero de matrcula era 4015, nmero de registro D-2202, e foi chamado de Richthofen, emhomenagem ao s dos ases da 1a Guerra Mundial, Manfred Freiherr (baro) von Richthofen,morto em ao em 1918.26

    Hermann Goering, ento presidente do Reichstag, decidiu que os Junkers novinhosdeveriam ser colocados disposio do NSDAP, que queria fret-los para o transporte deHitler em sua ltima viagem de campanha, que comearia em 13 de outubro de 1932. Goeringusou sua influncia e, provavelmente com a ajuda de Erhard Milch, conseguiu que o D-2202 eHans Baur fossem colocados disposio de Hitler nessa ltima etapa da campanha, quevisava a beneficiar os candidatos do nacional-socialismo em todo o pas.

    A nova srie de voos cobria cerca de sessenta cidades e, apesar de terem enfrentado vriastempestades, Baur chegou a todas as paradas programadas sem atraso at o final da viagem,em 5 de novembro. Baur conseguiu contornar vrias complicaes e dificuldades de ltimahora, causadas por mudanas nos planos, tempo ruim e outros fatores, demonstrandoflexibilidade, imaginao e engenhosidade. A vida de Hitler estava literalm