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___________________________________ Marco Antonio Monteiro Granzinolli Ecologia Alimentar do gavião-do-rabo-branco Buteo albicaudatus (Falconiformes:Accipitridae) no município de Juiz de Fora, sudeste do estado de Minas Gerais. São Paulo 2003

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Page 1: Buteo albicaudatus (Falconiformes:Accipitridae) no …...Ecologia Alimentar 2. Buteo albicaudatus 3. Falconiformes I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento

___________________________________

Marco Antonio Monteiro Granzinolli

Ecologia Alimentar do gavião-do-rabo-branco

Buteo albicaudatus (Falconiformes:Accipitridae)

no município de Juiz de Fora, sudeste do

estado de Minas Gerais.

São Paulo2003

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ii

Marco Antonio Monteiro Granzinolli

Ecologia Alimentar do gavião-do-rabo-branco Buteo

albicaudatus (Falconiformes: Accipitridae) no

município de Juiz de Fora, sudeste do

estado de Minas Gerais.

Dissertação apresentada ao Institutode Biociências da Universidade deSão Paulo, para obtenção de Títulode Mestre em Ciências, na Área deEcologia.

Orientador: Prof. Dr. José CarlosMotta-Junior.

São Paulo2003

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iii

___________________________________

Comissão Julgadora:

______________________________ ______________________________ Prof. Dr. Márcio R. C. Martins Prof. Dr. Jorge L. B. Albuquerque

______________________________ ______________________________Prof(a). Dr(a) Prof(a). Dr(a)

_______________________________Prof. Dr. José Carlos Motta Junior

Orientador

Granzinolli, Marco Antonio MonteiroEcologia alimentar do gavião-do-rabo-branco

Buteo albicaudatus (Falconiformes: Accipitridae)no município de Juiz de Fora, sudeste do estado deMinas Gerais.

136 páginas

Dissertação (Mestrado) – Instituto deBiociências da Universidade de São Paulo.Departamento de Ecologia.

1. Ecologia Alimentar 2. Buteo albicaudatus3. Falconiformes I. Universidade de São Paulo.Instituto de Biociências. Departamento de Ecologia.

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___________________________________

Dedico esta dissertação aos meus pais,Murilo e Aparecida, e a minha filha,

Laura, por todo amor e apoio.

Page 5: Buteo albicaudatus (Falconiformes:Accipitridae) no …...Ecologia Alimentar 2. Buteo albicaudatus 3. Falconiformes I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento

v

___________________________________

“Nunca ande pelo caminho traçado,

pois ele conduz somente

até aonde outros já foram”

Alexander Graham Bell (1847-1922)

Page 6: Buteo albicaudatus (Falconiformes:Accipitridae) no …...Ecologia Alimentar 2. Buteo albicaudatus 3. Falconiformes I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento

vi

Agradecimentos____________________________________

A realização deste trabalho apenas foi possível devido à colaboração e aos esforços de

muitas de pessoas. Quando elaboramos uma lista (aniversário, casamento, agradecimento...)

corremos o risco de esquecer alguém importante, e com isso, provocar mágoa. Desde já peço

desculpas pelo esquecimento. Sou grato, em especial:

Ao prof. José Carlos Motta Junior pela confiança, incentivo e orientação.

Ao CNPq pela bolsa concedida (processo 130935/00-0), ao Programa de Pós-graduação

em Ecologia pela compra das armadilhas de queda e pelo financiamento de parte das viagens.

A Pró-Reitoria de Pós-graduação e a FAPESP (processo 00/12339-2) pelo financiamento de

algumas viagens.

Ao Celso, pela “super ajuda” em campo do primeiro ao último dia; por ter escutado

minhas “besteiras” e pelo companheirismo. Valeu “irmão”!

Ao Sr. Eustáquio, D. Roseli, Celso, Ramiro e Bianca por terem me acolhido em sua casa

e me tornarem mais um membro da família. Pelos conselhos, apoio, longas conversas e

também por tornarem mais agradáveis minhas coletas.

Ao amigo Marco Antônio Manhães “culpado” de minha vinda para a USP. Pelo

incentivo, pelo “papo furado” e pela ajuda em campo.

À todos os proprietários das fazendas, sítios e chácaras onde foi desenvolvido o estudo,

em especial ao Dr. Lauro Cézar (Faz. Vargem Grande), ao Sr. Onofre (Faz. União), ao Sr. José

Délio Fernandes (Faz. Limeira e Ribeirão), ao Sr. Antonio Caetano (Faz. Palmeira), ao Dr. Luis

Carlos de Assis (Faz. São Geraldo) e em especial ao Sr. Chiquito (Faz. Canudo), por

permitirem o acesso em suas propriedades e pelas informações.

À todos os funcionários das fazendas e sítios, em especial ao Sílvio, Leco-Leco,

Luismar, Bisquim, Luís Policarpo, Hélton, Rubens e Madrugada pela disposição em ajudar,

pelas dicas, pelos “causos” e cafés.

À SEAM (Sociedade de Estudos Ambientais Muriqui) em especial: Alberto, Jozi, Thales,

Celso, Léo, Leandro e Alan, pelo apoio logístico no início do projeto, pelo incentivo e por ter

proporcionado meu primeiro estudo com rapinantes.

Ao pessoal de Juiz de Fora, Almir, Bia, Bianca (prima), Celso, Gilson, Lú, Micheli,

Ramiro, Roberto, Rodrigo Ditz, Rodrigo Famoso e Trankera pela descontração, cerveja e

amizade.

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vii

Ao pessoal da “venda” do Onofre e ao pessoal do “Restaurante do Geraldinho” pela

simpatia, pela boa vontade em ajudar e por dar aquele jeitinho com a comida.

Ao Prof. Craig C. Farquhar do National Wildlife Federation do Texas pelo envio de

diversos artigos não disponíveis no Brasil e pelo incentivo.

À Lígia P. Prado e Mara Kiefer, pósgraduandas da UNICAMP pela identificação dos

répteis e principalmente das escamas.

Ao Sal, Paula, Percequilo e Gilson, da seção de mamíferos do Museu de Zoologia da

USP, pela identificação de alguns roedores.

Ao pessoal do laboratório de Citogenética de Vertebrados do Instituto de Biociências

da USP, em especial, Thaís e Renata pela análise cariotípica dos roedores.

Ao Carlos (Ecologia), Fritz (USP) e Celso (UFJF) pela ajuda na identificação dos

artrópodes.

Ao INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em especial ao Dr. José Carlos

Epiphanio pela imagem de satélite cedida.

Ao amigo Gerardo pela digitalização da imagem de satélite, pelas inúmeras “ajudas

informáticas” e pela amizade.

Ao Prof. Roberto Shimizu do Departamento de Ecologia, pela assistência, críticas e

sugestões.

Aos amigos Adriana, Sidão, Cínthia e Diego pela paciência e sugestões nos capítulos

preliminares e ao Pingo pela revisão dos abstracts.

Aos companheiros que passaram ou ainda estão no laboratório de Ecologia Trófica:

Adriana, Cinara, Diego, Juarez, Karina, Kika, Marcello, Marina, Pedro, Sônia, pelas

discussões, bate-papos, “brigas”, sugestões e convivência.

Aos companheiros de apartamento, Alessandro e Cristiano, pelo convívio e paciência.

Aos companheiros do “Le bandejon”, passados ou atuais: Marcelo Matsumoto,

Gerardo, Diego, Paki, Adriana, Tati, Rubão, William, Tita, Sônia, Marina, Nina, pela conversa

fiada, brincadeiras e “brigas”.

Aos funcionários do Departamento de Ecologia pelo apoio e colaboração e ao

Eduardo da Zoologia pela ajuda no dermestário.

Aos meus amigos brasileiros e de “além da fronteira” Fernando, Carminho, Manhães,

Sidão, Grazi, Diego, Gerardo e Paki pela amizade, apoio e descontração.

À Cínthia pelo apoio, atenção, paciência, carinho e convívio.

À minha Vó Carminha (in memorian), pelas longas “conversas da natureza” e por

todas as lições.

Aos meus pais, Murilo e Aparecida, e aos meus irmãos, Gilmar, Gérson, Gilda e Cássio

pelo carinho, incentivo e apoio em todos os momentos.

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viii

Índice

___________________________________

Capítulo 1. Introdução geral e área de estudo

1 Introdução geral..................................................................1

2 Área de estudo...................................................................11

3 Referências bibliográficas....................................................16

Capítulo 2. Ecologia alimentar do gavião-do-rabo-branco Buteo albicaudatus

(Falconiformes: Accipitridae) no município de Juiz de Fora, sudeste do estado de

Minas Gerais.

Resumo..............................................................................23

Abstract..............................................................................24

1 Introdução............................................................................25

2 Materiais e métodos.........................................

2.1 Coleta e análise das pelotas.......................................31

2.2 Estimativa de biomassa das presas.............................33

2.3 Análise de sazonalidade das presas na dieta................33

2.4 Amplitude de nicho trófico..........................................34

3 Resultados

3.1 Composição da dieta.................................................36

3.2 Sazonalidade na dieta...............................................43

3.3 Amplitude nicho trófico.............................................47

4 Discussão

4.1 Composição da dieta..................................................51

4.2 Sazonalidade na dieta................................................59

4.3 Amplitude nicho trófico..............................................60

5 Referências bibliográficas.....................................................62

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ix

Capítulo 3. Seletividade de presas e respostas numérica e funcional na dieta do

gavião-do-rabo-branco Buteo albicaudatus no município de Juiz de Fora, sudeste de

Minas Gerais.

Resumo ...........................................................................73

Abstract............................................................................74

1 Introdução.......................................................................... 75

Material e métodos...............................................................

2 2.1 Análise da dieta.......................................................... 78

2.2 Abundância do predador............................................. 78

2.3 Abundância das presas............................................... 81

2.4 Resposta funcional e numérica.................................... 86

2.5 Seleção de espécies de presas......................................87

3 Resultados.........................................................................xx

3.1 Avaliação da abundância do predador..........................88

3.2 Avaliação da abundância das presas............................89

3.3 Resposta numérica.....................................................96

3.4 Resposta funcional.....................................................97

3.5 Seleção de espécies de presas...................................108

4 Discussão

4.1 Presas.....................................................................115

4.2 Resposta numérica...................................................116

4.3 Resposta funcional...................................................118

4.4 Seleção de espécies de presas..................................120

5 Referências bibliográficas.....................................................122

Capítulo 4. Considerações Finais...................................................................131

Apêndices....................................................................135-136

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___________________________________

CAPÍTULO 1

Introdução Geral e Área de Estudo

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1

1 – Introdução Geral

A relação taxonômica dos Falconiformes com outras aves ainda não é clara e,

mesmo nesta ordem, não há registros fósseis indicando que as diferentes famílias

originaram-se de um ancestral comum. Os Falconiformes podem ter resultado de uma

convergência evolutiva entre grupos com origem polifilética, fazendo com que não haja uma

relação estrita entre as espécies fósseis e as espécies viventes (Craighead & Craighead,

1956; Brown & Amadon, 1968; Feduccia, 1980; Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994).

De acordo com as mais recentes classificações, baseadas em estudos moleculares

(Sibley & Ahlquist, 1983; Sibley & Monroe, 1990; Sibley et al., 1988; Wink, 2000), os

tradicionais Falconiformes ou rapineiros diurnos, são colocados na infraordem ou subordem

Falconides enquanto os urubus do Novo Mundo são colocados na outra infraordem

(Ciconiidae). No entanto, em algumas classificações estes são colocados em uma mesma

infraordem ou subordem (ver revisões em Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994; Wink,

2000). Considerando a inexistência de consenso entre as distintas classificações, mesmo

quando se utilizam técnicas moleculares, o número de infraordem ou subordem e famílias

podem variar. Tais variações ocorrem principalmente com o grupo dos urubus das Américas

e com o grupo das águias pescadoras (ver Peters, 1931; Craighead & Craighead, 1956;

Brown & Amadon, 1968; Stresemann & Amadon, 1979; Sibley & Ahlquist, 1983, Sibley &

Monroe, 1990; Sibley et al., 1988; Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994; Wink, 2000).

Levando em conta as classificações de Sibley et al. (1988), Sibley & Monroe (1990) e

Wink (2000) a ordem Falconiformes é representada por cinco famílias: Accipitridae (gaviões

e águias), Falconidae (falcões), Pandionidae (águia pescadora), Sagittariidae (secretário) e

Cathartidae (urubus). De acordo com del Hoyo et al. (1994) existem cerca de 307 espécies

desta ordem em todo o mundo, das quais 61 são encontradas no Brasil e 23,8% estão

mundialmente ameaçadas de extinção (IUCN, 2002).

Entre os Falconiformes, Accipitridae é a maior e mais diversa família com 237

espécies (Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994). Seus membros apresentam uma ampla

variedade morfológica e adaptativa. Quanto ao tamanho, por exemplo, há espécies de

pequeno porte, como Accipiter erythropus (75 g), e outras de grande porte, como o gavião-

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real (Harpia harpija) com quase dois metros de envergadura (9.000 g) e Aegyps monachus

com 12.500 g de massa (del Hoyo et al., 1994). Uma das principais características dos

Accipitridae de médio e grande porte são as asas longas e largas (Craighead & Craighead,

1956; Brown & Amadon, 1968; Sick, 1997), que permitem aos indivíduos o uso de correntes

térmicas e de vento, possibilitando vôos do tipo planado, contribuindo assim, para a

redução dos gastos energéticos (Foster, 1955; Tyne & Berger 1976; Ficken 1977; Bernis

1980; Monteiro, 1992).

O tipo de alimento consumido pelos accipitrídeos também é muito diversificado,

variando desde os maiores grupos de vertebrados, como primatas, até diferentes classes de

invertebrados. Essa ampla gama de itens alimentares pode ser reflexo da estrutura e/ou

complexidade do habitat, do tipo de presa, e principalmente das adaptações morfológicas

(Brown & Amadon, 1968; Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994; Newton, 2000). Tais

adaptações morfológicas e/ou comportamentais permitem que determinadas espécies sejam

capazes de predar vários tipos de presas. Geranoaetus melanoleucus, conforme registrado

por Sousa (1999), alimenta-se de anfíbios, répteis, mamíferos e aves - incluindo uma coruja

(Tyto alba). Já a águia-dourada (Aquila chrysaetos) captura mamíferos de pequeno e médio

porte, aves (Passeriformes e não Passeriformes) e répteis (Pedrini & Frabrizio, 2001).

Outras espécies, no entanto, se especializaram em um determinado grupo de presas. O

gavião-belo (Busarelus nigricolis) captura principalmente peixes nas superfícies de rios e

lagos da região Neotropical (Pinto, 1944; Sick, 1997), enquanto Rostramus sociabilis

(gavião-caramujeiro) é especialista em caramujos (Sykes, 1979; Beissinger, 1983).

A necessidade diária de alimento dos Accipitridae varia de acordo com a estação

climática e com o tamanho corpóreo (Calder & King, 1974; Gessamam, 1987). Espécies de

pequeno porte (< 370 g), durante o inverno nas regiões temperadas, necessitam de um

aporte de alimento, em biomassa, que representa cerca de 25% de sua própria massa

corporal. Já os gaviões de tamanho médio/grande (700-1200 g), em regiões semelhantes,

necessitam entre 10–15%, enquanto as grandes águias (> 3000 g) em condições de

cativeiro consomem cerca de 5% de sua massa em presas. A média de consumo no inverno

é de 20–30% maior do que no verão (Gessamam, 1987; del Hoyo et al., 1994). Quando

comparadas espécies de tamanho e dieta similares em regiões temperadas e tropicais,

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aquelas das regiões temperadas necessitam de 50% mais alimento (Gessamam, 1987; del

Hoyo et al., 1994).

A maioria dos Accipitridae utiliza mais de uma estratégia de caça. No entanto, duas

delas são utilizadas mais freqüentemente: a) caça a partir de poleiros, onde os indivíduos

ficam à espreita em um galho ou qualquer outro poleiro, de onde se precipitam sobre a

presa no solo ou na água (Brown & Amadon, 1968; Bildstein, 1987; Sick, 1997); e b) caça

aérea, quando os indivíduos voam constantemente em busca de presas ativas tanto no ar

quanto no solo (Brown & Amadon, 1968; Bildstein, 1987; Sick, 1997). Algumas espécies

apresentam variantes destas estratégias, como Elanus leucurus e Circus spp., que têm o

hábito de “peneirar”, ficando paradas no ar batendo as asas constantemente enquanto

escrutinam a vegetação (Sick, 1997; del Hoyo et al., 1994). Esta parece ser uma adaptação

especial para locais onde poleiros elevados são escassos (Sick, 1997). Buteo albonotatus,

que apresenta plumagem cinza escura–negra, imita os urubus, para capturar aves

menores (Willis, 1963).

A família Accipitridae apresenta 64 gêneros, sendo 36 destes monotípicos. O gênero

Buteo, segundo maior da família dos accipitrídeos, contém 28 espécies, muitas delas

apresentando subespécies. No entanto, diferentes abordagens taxonômicas e filogenéticas

alteram constantemente tanto o número de subespécies quanto de espécies, visto que

muitas delas são elevadas ou rebaixadas entre as categorias taxonômicas (del Hoyo et al.,

1994).

Dentre as espécies brasileiras deste gênero encontra-se o gavião-do-rabo-branco

(Buteo albicaudatus Vieillot, 1816), rapineiro de médio/grande porte (46 – 65 cm, 850 -

1100 g) (Farquhar, 1992; del Hoyo et al., 1994) que ocorre do sul dos Estados Unidos até a

América Central, norte da Colômbia, Venezuela, Guianas, extremo sudeste do Peru, Bolívia

(exceto leste e sul), Paraguai, Uruguai, norte e centro da Argentina, e todo o Brasil, exceto

em parte da região Nordeste (Blake, 1976; Sibley e Monroe, 1990; Johnsgard, 1990; del

Hoyo et al. , 1994) (Figura 1). Sick (1997) ressalta que a espécie ocorre em todo o território

brasileiro, com exceção de regiões densamente florestadas. Os indivíduos adultos possuem

uma característica inconfundível, a qual nomeia a espécie popularmente: a cauda branca

com uma barra preta de aproximadamente 2,5 cm na porção subterminal (Figura 2 A).

Outra característica marcante é a mancha castanha na porção marginal superior das asas

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(escapulares) (Figura 2 A), que se desenvolve completamente depois do segundo ano de

vida (Farquhar, 1992). A parte dorsal do corpo varia do cinza claro até o cinza escuro; o

peito e o abdômen são brancos, porém só obtidos depois do terceiro ano de idade (Blake,

1976, Clark & Wheeler, 1989; Farquhar, 1992). A espécie apresenta uma plumagem

definitiva consistente e característica em toda a sua distribuição, com pequenas variações

de tonalidades. No entanto, uma plumagem cinza com uma mistura de acastanhado pode

ocorrer no peito e abdômen de indivíduos da América do Sul (Hellmayr & Conover, 1949;

Voous, 1968). Raramente, alguns indivíduos apresentam a forma melânica (Figura 2 B),

com a plumagem completamente marrom escura ou negra, com exceção da cauda branca

(Blake, 1976; Farquhar, 1992; Sick, 1997).

Diferentemente da maioria das outras espécies do gênero, as primárias de B.

albicaudatus estendem-se além da cauda (2,5-4,0 cm) após o segundo ano de vida. Outra

característica distinta é o comprimento de suas pernas, consideradas muito grandes para

um Buteo (Farquhar, 1992).

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Figura 1. Distribuição de Buteo albicaudatus de acordo com del Hoyo et al. (1994).

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Figura 2. Gavião-do-rabo-branco, Buteo albicaudatus. (A) Polimórfico de fase branca. (B) Polimórfico de fase preta. Raphael Dutra

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Atualmente, há três subespécies reconhecidas que apresentam variações

morfológicas (Farquhar, 1992; del Hoyo et al., 1994). Porém, Voous (1968) alega que essas

diferenças são provenientes da variação geográfica e seriam melhor explicadas pela regra

de Bergmann – indivíduos tendem a ser menores nos trópicos (ver Hellmayr & Conover,

1949; Fridmann, 1950 e Blake, 1976). A maior subespécie é B. a. hypospodius (950 – 1.100

g), que ocorre do sul do Texas até o México, América Central, norte da Colômbia e noroeste

da Venezuela (Johnsgard, 1990; Farquhar, 1992). Apresenta coloração semelhante a B. a.

colonus, sendo que nos indivíduos jovens o mento e a garganta têm uma tonalidade cinza-

escura, nitidamente demarcada pelo peito branco (Blake, 1976). Buteo a. colunus ocorre no

leste da Colômbia, Venezuela (exceto noroeste, área de Merida e Perijá), leste do Suriname

e norte do Brasil (Farquhar,1992; del Hoyo et al., 1994), apresenta o menor tamanho

dentre as três subespécies (Blake, 1976), podendo possuir fase negra e/ou mento e

garganta escuros. No entanto, difere da forma nominal por ter uma coloração mais pálida

(cinza-neutro). A subespécie B. a. albicaudatus foi originalmente descrita no Rio de Janeiro

por Vieillot (1816), e nomeou a espécie. Sua distribuição estende-se do extremo sudeste do

Peru ao sul do Brasil até o norte e oeste da Bolívia, Paraguai, Uruguai, e norte e centro da

Argentina (del Hoyo et al., 1994). É a subespécie que apresenta a coloração mais escura na

parte dorsal do corpo, sendo que em alguns indivíduos o cinza é tão escuro que se

aproxima do preto (Blake, 1976), com cabeça, garganta e mento variando do cinza-fumaça

ao negro (Farquhar, 1992). De acordo com Farquhar (1992) apresenta tamanho similar a B.

a. hypospodius, no entanto, Blake (1976) e del Hoyo et al. (1994) descrevem um tamanho

um pouco menor (850-884g).

Variação individual e intersexual nas vocalizações de alarme foram registradas para a

subespécie B. a. hypospodius. Esses alarmes, na maioria das vezes, apresentam grande

intensidade; são insistentes e podem servir como advertência para o parceiro e/ou filhote,

principalmente quando o território é invadido por outros potenciais competidores de

alimento, predadores de ninhos ou sofrem algum tipo de interferência humana (Farquhar,

1993). De acordo com este autor, os indivíduos de ambos os sexos vocalizam durante todo

o ano, sendo que fora da estação reprodutiva não foram evidenciadas as vocalizações de

alarme associadas ao comportamento agressivo, sugerindo assim, uma variação sazonal de

alarme (Farquhar, 1993).

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Assim como a maioria dos Falconiformes, o gavião-do-rabo-branco é monogâmico e

não apresenta dimorfismo sexual quanto à coloração. Machos e fêmeas distinguem-se pelo

tamanho, sendo a fêmea freqüentemente maior que o macho (Craighead & Craighead,

1956; Brown & Amadon, 1968; Johnsgard, 1990; Sick, 1997). Em estudo realizado na região

Central do Brasil, Baumgarten (1998) verificou que a reprodução ocorre no final da estação

seca e começo da estação chuvosa, com uma média de dois ovos por ninho. A espécie

constrói seus ninhos em árvores e, estes geralmente apresentam uma forma semi-esférica.

Diferente de muitas outras aves, a incubação é iniciada logo após a postura do primeiro ovo

(Farquhar, 1986; Baumgarten, 1998). A fêmea despende grande parte do dia para a

incubação (40 - 74%), enquanto o macho gasta um tempo muito menor para o mesmo fim

(5 - 8%). Durante a noite a incubação é feita integralmente pela fêmea (Farquhar, 1986).

Usualmente, os indivíduos começam a se reproduzir no terceiro ano de vida (Farquhar,

1986), no entanto, Kopeny (1988) observou um macho com plumagem sub-adulta

acasalando com uma fêmea adulta. Os ninhos, na maioria dos casos, são reutilizados

anualmente (Stevenson & Meitzen, 1946; Kopeny, 1988), mas também pode ocorrer o

abandono após uma estação reprodutiva (Farquhar, 1986). Os poucos estudos sugerem que

os adultos permanecem no território durante todo o ano (Farquhar, 1986; Kopeny, 1988).

De acordo com Farquhar (1992) e Stotz et al. (1996) B. albicaudatus ocupa áreas

abertas e semi-abertas com elevações abaixo de 1660 m, tais como terras baixas

sazonalmente úmidas, campos áridos, savanas e pradarias. No Brasil é observado em

regiões campestres, campos de altitude, buritizais e também sobrevoando ambientes

urbanos, sendo mais freqüente na porção leste (Sick, 1997).

Freqüentemente esta espécie é considerada não migratória (Farquhar, 1992). No

entanto, relatos de supostas migrações, não convincentes, foram publicados por Hudson

(1920), Wetmore (1943), Friedmam (1950) e Tinsman & Zelanek (1991). De acordo com

Dickey & van Rossem (1938), o gavião-do-rabo-branco pode realizar deslocamentos

regionais temporários, possivelmente em busca de alimento, o que poderia ser confundido

com reais migrações (Stevenson & Meitzen, 1946; Farquhar, 1993).

Falconiformes são muitas vezes predadores de topo de cadeia e a predação é uma

das interações ecológicas mais importantes para o funcionamento de uma comunidade,

podendo influenciar no sucesso reprodutivo, na seleção de habitat, na dinâmica de

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populações, na história de vida e na demografia das espécies que a compõem (Taylor,

1984; Krebs & Davies, 1987; Terborgh, 1992; Jaksic, 2002). Neste sentido, predadores

podem exercer uma influência estabilizadora nos ecossistemas onde vivem (Greene, 1988;

Terborgh, 1992). Sendo assim, o estudo e o conhecimento dos rapineiros torna-se um fator

essencial no entendimento das relações ecológicas dentro das comunidades (Baumgarten,

1998). Segundo Thiollay (1989), as aves de rapina podem ter um papel chave na

organização da comunidade, mesmo tendo populações pequenas.

Estudos envolvendo espécies pertencentes ao gênero Buteo têm sido amplamente

realizados abordando diferentes aspectos, como por exemplo: novo método de captura de

Buteonines (Plumpton et al., 1995); mimetismo de Buteo albonotatus em relação a

Cathartes aura para captura de presas (Willis, 1963; 1966), utilização de recursos (Restani,

1991; Penteriani & Faivre, 1997), migração (Gerstell & Trost, 1995), reprodução (Smith &

Murphy, 1978; Griffin et al., 1998), comportamento de esconder alimento (Lyons & Mosher,

1982), dados de dieta (Blumstein, 1989; Howell & Chapman, 1998; Karpanty & Lagrand,

1996; Lee & Kuo, 2001), sistemática (Farquhar, 1988a), análises moleculares de cinco

espécies de Buteo (Schumutz et al., 1993) ou de todo o gênero (Riesing et al., 2003). Mais

especificamente, no âmbito da ecologia alimentar, estes estudos representam um papel

fundamental no entendimento da relação predador/presa (Steenhof & Kochert, 1988;

Simonetti, 1989; Preston, 1990; Restani et al. , 2000; Poulin et al., 2001) e no estudo do uso

de recursos entre espécies simpátricas (Jaksic & Braker, 1983; Simonetti, 1989;

Bildstein,1987; Hiraldo et al., 1991; Gerstell & Bednarz, 1999; Krüger, 2002).

Mesmo que já tenham sido desenvolvidos vários trabalhos com espécies do gênero

Buteo, alguns representantes foram pouco estudados, e dados sobre sua biologia e/ou

ecologia são poucos conhecidos. Este é o caso do gavião-do-rabo-branco, para o qual os

trabalhos mais completos são escassos e estão restritos à América do Norte, com destaque

para Stevenson & Meitzen (1946) e Farquhar (1992). Os outros trabalhos que envolvem a

espécie são registros de primeira ocorrência geográfica, como por exemplo, no Arizona

(Breninger, 1889) e no Uruguai (Cuello, 1966) e eventos de predação isolada e/ou consumo

de itens alimentares, conforme registrado por Cottam & Knoppen (1939), Haucke (1971),

Tewes (1984), Palmer (1990) e Brasileiro et al., (2003). Também foram desenvolvidos

estudos sobre características da reprodução (Ditto, 1983; Farquhar, 1988b), variação

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individual e intersexual nas vocalizações de alarme (Farquhar, 1993) e análise cariotípica

(Delucca, 1985). Compilações sobre a biologia geral da espécie foram feitas nos últimos 100

anos, merecendo menção Burrows (1917), Pinto (1944), Belton (1984), Farquhar (1992),

del Hoyo et al. (1994) e Sick (1997).

No Brasil, trabalhos complexos e duradouros sobre ecologia alimentar de

accipitrídeos são inexistentes, e mesmo quando se faz uma revisão geral de trabalhos que

envolvem Falconiformes, verificamos que estes são escassos. Analisando todas as aves de

rapina, percebemos que o número de estudos é muito inferior quando comparado a outras

regiões do Mundo, como Europa, Estados Unidos e até mesmo América Latina (Chile e

Argentina).

Diante deste contexto de escassez de estudos é de extrema necessidade o

entendimento do papel deste predador nas comunidades naturais. Assim, o presente

trabalho tem como objetivos:

a) Descrever quantitativamente a dieta de B. a. albicaudatus, incluindo padrões de

sazonalidade, em uma localidade do sudeste brasileiro.

b) Avaliar as possíveis respostas numérica e funcional frente à variação da

disponibilidade de recursos alimentares ao longo de um ciclo anual.

c) Verificar se ocorre seletividade de presas quanto a espécies de pequenosmamíferos.

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2 - Área de estudo

O estudo foi realizado em propriedades rurais particulares (abrangendo cerca de

17.537 ha), localizadas na região norte do município de Juiz de Fora, sudeste de Minas

Gerais, (21° 41' S, 43° 27' W, Figuras 3 e 4). A região localiza-se na bacia do Médio

Paraibuna, pertencente à bacia do Rio Paraíba do Sul. Quanto a geomorfologia, a área está

localizada na Unidade Serrana da Zona da Mata, pertencente à região Mantiqueira

Setentrional. O relevo dessa região é montanhoso, com altitudes próximas a 1000 m nos

pontos mais elevados, 670 a 750 m no vale do Rio Paraibuna e níveis médios em torno de

800 m (Juiz de Fora, 1996).

De acordo com a classificação de Köeppen, a região possui um clima do tipo Cwa

(mesotérmico com verões quentes) com estação chuvosa no verão. Este clima pode

também ser definido, genericamente, como Tropical de Altitude, influenciado por fatores

altimétricos, que contribuem para a amenização das suas temperaturas (Juiz de Fora,

1996). Os índices pluviométricos anuais, obtidos pela Estação Climatológica Principal da

Universidade Federal de Juiz de Fora (5° DISME / NÚMERO 83692) nas últimas três décadas

(70, 80, 90) mostraram médias anuais de 1.536 mm com os maiores índices mensais no

mês de janeiro (cerca de 298mm). A temperatura média anual, segundo a mesma fonte,

variou de 21,7° C no mês mais quente (fevereiro) a 16,1° C no mês mais frio (julho). Assim,

duas estações podem ser definidas: uma chuvosa (de outubro a abril) com temperaturas

elevadas (média de 20,2 °C) e maiores índices de pluviosidade (média de 192 mm), e outra

seca (de maio a setembro), com temperaturas mais baixas (média de 16,8°C) e baixos

índices pluviométricos (média de 37 mm) (Figura 5).

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Figura 3. Localização do município de Juiz de Fora – MG (quadrado negro), com detalhe da

área de estudo. Escala mapa do Brasil 1: 3200000. Escala área de estudo 1:360000.

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Figura 4. Imagem de satélite da área de estudo (LANDSAT 27/06/2000).

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0 1,9 3,9 5,8 7,8 km1,9

Escala 1:97 000

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C)

média da precipitação entre os anos de 1975-99 precipitação registrada no período de estudo

média da temperatura média entre os anos de 1975 -99 temperatura média registrada no período de estudo

Figura 5. Precipitação e temperatura do município de Juiz de Fora – MG, dados da médiahistórica (1975-99) e do período de realização do estudo (setembro 2000 – setembro de2001). Fonte: 5° DISME, IPLAN.

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A vegetação original do município é classificada como Floresta Estacional

Semidecidual (Veloso & Goes, 1982; Brasil, 1983) ou Floresta Tropical Sub-perenifólia

(Golfari, 1975), típicas de clima com duas estações bem definidas. Estas florestas possuem,

no conjunto, um percentual de espécies caducifólias que oscila entre 20% e 50%. O

aspecto geral dessas florestas é de árvores de 25 a 30 m de altura, eretas e de fustes altos,

com abundante vegetação de cipós e epífitas. Esta vegetação originalmente coexistia com

campos naturais que apresentavam algumas plantas lenhosas arbóreas, de pequeno a

médio porte, intercaladas (Veloso & Goes, 1982; Brasil, 1983; Juiz de Fora, 1996). Os vários

ciclos de desmatamentos, destinados à pecuária e a implantação de diferentes culturas,

principalmente o café, destruíram grande parte da vegetação nativa (Juiz de Fora, 1996).

A paisagem atualmente se apresenta em forma de mosaico, intercalando porções maiores

de áreas abertas (fruto do desmatamento) com fragmentos de pequeno e médio porte,

situados principalmente nos topos de morros e nas áreas de relevo muito acidentado. A

vegetação da região hoje é representada principalmente por pastagens, capoeiras em início

de regeneração, áreas destinadas às atividades agrícolas, fragmentos florestais e

reflorestamento com espécies exóticas de Eucaliptus sp e Pinus sp (Juiz de Fora, 1996).

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CAPÍTULO 2

Ecologia alimentar do gavião-do-rabo-branco

Buteo albicaudatus (Falconiformes: Accipitridae)

no município de Juiz de Fora, sudeste do

Estado de Minas Gerais.

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RESUMO

Este estudo apresenta dados sobre a ecologia alimentar do gavião-do-rabo-branco

(Buteo albicaudatus albicaudatus) no município de Juiz de Fora, sudeste do estado de

Minas Gerais. Os objetivos específicos foram: a) estudar quantitativamente a dieta do

gavião-do-rabo-branco, incluindo número de presas e biomassa consumida; b) analisar

possíveis padrões de sazonalidade na dieta; c) determinar a amplitude de nicho trófico do

gavião-do-rabo-branco. O material para estudo da dieta consistiu de pelotas de

regurgitação coletadas sob ninhos e poleiros, entre setembro de 2000 e setembro de

2001. As 259 amostras analisadas revelaram 31 espécies/morfoespécies e uma biomassa

total estimada de 7196,5 g. Cinco ordens de insetos (Hymenoptera, Heteroptera,

Odonata, Isoptera e Lepidoptera) e uma de vertebrado (Chiroptera) são descritas pela

primeira vez como integrantes da dieta de B. albicaudatus. Numericamente, os

invertebrados representaram 88% da dieta, sendo Acrididae responsável por 63% da dieta

total. Dentre os vertebrados, os roedores foram o grupo mais consumido (73% da classe e

8% da dieta total). Analisando-se as presas em relação à biomassa, verificou-se uma

brusca inversão na maioria das espécies/morfoespécies. Nesta abordagem, os vertebrados

corresponderam a 77% da dieta. Os grupos mais representativos são: roedores (50%),

ortópteros (21%), aves (11%), lagartos (7%) e serpentes (5%). A análise de sazonalidade

na dieta mostrou uma evidente dependência de consumo quanto à estação climática, em

mais da metade das categorias. Na estação seca verifica-se um maior consumo de

Araneomorphae, outros artrópodes e mamíferos, enquanto na estação chuvosa, o maior

consumo foi registrado para Acrididae e Coleoptera. Aves e répteis, apesar de não

apresentarem uma dependência significativa em relação à sazonalidade, parecem ser

utilizados como complemento ao consumo de mamíferos na estação chuvosa, no que

tange a biomassa ingerida. Buteo albicaudatus pode ser classificado troficamente como

insetívoro, em termos de número, ou como carnívoro, em termos de biomassa ingerida. A

amplitude trófica da dieta mostrou-se de intermediária para baixa, variando de acordo

com a abordagem adotada. Em termos gerais, quanto ao número e a biomassa, a dieta

total mostrou que o gavião-do-rabo-branco é especialista. No entanto, a análise da

biomassa referente a cada estação climática revelou que na estação chuvosa, a dieta é

intermediária entre generalista e especialista (Bp itens=0,292; Bp grupos=0,485). Esses dados

indicaram que tanto o consumo de determinados itens alimentares quanto a amplitude de

nicho trófico pode variar de acordo com a estação climática, indicando uma certa

flexibilidade em sua dieta.

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ABSTRACT

The feeding ecology of the White-tailed Hawk (Buteo albicaudatus albicaudatus)

was studied in Juiz de Fora municipality, southeast Minas Gerais State. The aims of this

study were: a) to quantify the diet of the White-tailed Hawk, including number of prey

species consumed and their biomass; b) to investigate the influence of seasonality in diet

patterns; and c) to describe the food niche breath of this raptor. Pellets found near the

White-tailed Hawk’s nests and roosting sites were collected from September 2000 to

September 2001. The analysis of 259 pellets revealed 31 prey species/morphospecies and

7,196.5 g of total consumed biomass. Five insect orders (Hymenoptera, Heteroptera,

Odonata, Isoptera and Lepidoptera) and one vertebrate (Chiroptera) were reported for the

first time in the diet of this hawk. By number, invertebrates were found in 88% of the

pellets, 63% of which belonged to a single family of Orthoptera, Acrididae. Among

vertebrates, rodents were the most consumed group and found in 8% of the pellets,

which represent 73% of all vertebrate species found. However, in terms of biomass,

vertebrates represented 77% of the total items consumed. The most representative

groups were rodents (50%), orthopterans (grasshoppers) (21%), birds (11%), lizards

(7%) and snakes (5%). Buteo albicaudatus could be classified as insectivorous in terms of

number of prey, but carnivorous concerning biomass ingestion. Analysis revealed that

consumption was dependent on the season of the year, at least for some groups of food

items. Acrididae and Coleoptera were more frequently ingested in the wet season, while

other Arthropods and mammals were more consumed in the dry season. Even though

birds and reptiles were not consumed differentially according to the seasons, they seemed

to be more preyed on in the wet period perhaps as a compensation for the decrease in

mammal biomass consumption. Depending on the approach, the food niche breath were

medium (Bp items =0.292, if biomass consumption was considered) to low (Bp groups= 0.485,

if frequency of prey occurrence was considered). In general, the White-tailed hawk could

be considered specialist both by number and by consumed biomass. However, in terms of

biomass, this raptor showed a less specialist diet in the wet season. So, the consumption

of some food items and the food niche breath may vary with the season, suggesting diet

flexibility by the White-tailed Hawk.

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1 - INTRODUÇÃO

A busca por regras que governam a estrutura e funcionamento de uma

comunidade conduz os ecólogos a vários caminhos (Drake, 1990). No entanto, muitos

acreditam que a estrutura e dinâmica da comunidade é resultado da interação entre as

espécies, especialmente a competição (MacArthur, 1958; Pianka, 1981; Roughgarden,

1984; Mittelbach & Osenberg, 1994) e a predação (Glasser, 1979; Sih et al., 1985;

Wilbur & Fauth, 1990; Wootton, 1992). O alimento é um recurso crucial para todos os

animais, e parece razoável assumir que a estrutura da comunidade baseia-se, em grande

parte, na forma como o alimento é compartilhado entre as espécies coexistentes,

particularmente se o recurso é limitado (Wiens, 1989; Andrew & Christensen, 2001).

Quantificar a dieta continuamente em um determinado tempo é um dos primeiros passos

no estudo da ecologia básica (Andrew & Christensen, 2001). O tipo de alimento que uma

espécie consome, como e onde é obtido pode mostrar, por exemplo, respostas

evolutivas, ecológicas e comportamentais, tais como: hábitos generalistas ou

especialistas, influências sazonais na utilização de recursos (Ewer, 1973; Dietz, 1987;

Johnson et al., 1996) e a compreensão de interações inter e intra-específicas (Law &

Blackford, 1992).

Muitas das aves de rapina estão localizadas no final da série de transformação

de energia ao longo da cadeia alimentar, que se inicia com produtores primários e passa

por vários organismos que predam um ao outro. Ser um predador de topo não é

garantia de uma existência fácil. A probabilidade das aves de rapina se tornarem presas

de outros predadores é muito baixa, mas suas presas não são fáceis de capturar

(Craighead & Craighead, 1956; Jaksic et al., 2002). As presas que são facilmente

capturadas podem estar debilitadas por parasitas, doenças e toxinas que podem diminuir

a aptidão dos rapineiros - que é computada pelo sucesso reprodutivo (Newton, 1979;

Jaksic et al., 2002). Dessa forma, a escolha do recurso a ser consumido, bem como a

sua quantidade, podem influenciar diretamente a aptidão dos rapineiros e

conseqüentemente, interferir no tamanho de suas populações.

A maioria das espécies de Accipitridae é exclusivamente predadora, no entanto,

espécies como o gavião-rabo-de-tessoura (Elanoides forficatus), ocasionalmente comem

frutos e isso pode ser mais freqüente nas florestas tropicais que os escassos registros

sugerem (del Hoyo et al., 1994). Invertebrados são o alimento mais consumido pelos

membros desta família, pois são freqüentemente abundantes e mais fáceis de serem

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capturados (Cramps & Simmons, 1994; del Hoyo et al., 1994). Das 239 espécies de

Accipitridae em todo o mundo, 12 são exclusivamente dependentes de insetos, 44 são

largamente insetívoras e, pelo menos fora da estação reprodutiva, possivelmente ao

redor de 100 espécies se alimentam de insetos ocasionalmente (del Hoyo et al., 1994).

Por outro lado, um grande número de espécies consome amplamente pequenos

mamíferos – principalmente roedores (Johnsgard, 1990; del Hoyo et al., 1994). Autores

como Craighead & Craighead (1956), Cramps & Simmons (1980) e Jaksic (2002),

salientam que este grupo também é relativamente fácil de ser capturado, normalmente

aparecendo em alta abundância. Além disso, proporciona um alto ganho energético

quando comparado aos invertebrados. Segundo Schubart et al. (1965) e Sick (1997), em

geral, as espécies brasileiras desta família mostram um maior consumo de artrópodes,

predando também roedores, répteis e anfíbios. Contudo, os dados para a maioria das

espécies originaram-se de poucos conteúdos estomacais ou observações.

Dados sobre dieta de Accipitridae no Brasil são provenientes de cerca de 25

estudos (ver abaixo) e das compilações de Pinto (1944), Belton (1984, 1994) e Sick

(1997). No entanto, sete destes trabalhos reportam a predação e/ou consumo de apenas

uma presa (ver Olmos, 1990a; Peres, 1990; Oniki, 1995; Gilbert, 2000; Marques, 2000;

Miguel et al., 2001; Brasileiro et al., 2003). O estudo mais complexo foi feito por

Schubart et al. (1965), examinando cerca de 100 estômagos de 20 espécies, inclusive

dois de B. albicaudatus. Entretanto, o número de estômagos analisado por espécie foi

pequeno. Estudos com esta metodologia foram feitos também com Geranospiza

cearulescens (gavião-mateiro) (Bookermann, 1978), e com Rupornis magnirostris

(gavião-carijó) (Pomalis, 1987). Porém, analisando um único conteúdo estomacal.

Remanescentes de presas em ninhos foram obtidos, durante uma estação reprodutiva,

para Morphnus guianessis (uairuçu-falso) (Bierregard, 1984), para Spizaetus ornatus

(gavião-de-penacho) (Klein et al., 1988) e para Harpia harpyja (gavião-real) (Galleti &

Carvalho, 2000) na Amazônia; para Geranoaetus melanoleucus (águia-chilena) na região

da caatinga (Souza, 1999) e para Elanoides forficautus (gavião-tesoura) em Santa

Catarina (Azevedo et al., 2000). Magalhães (1990a e 1990b) realizou observações sobre

a atividade de caça e analisou os restos de presas de Bussarelus nigricolis (gavião-belo)

durante dois dias e Rostramus sociabilis (gavião-caramujeiro) durante cinco dias, ambos

na região do Pantanal. Estudos enfocando determinados comportamentos de caça foram

feitos por Oliveira (1982), registrando o ataque de Buteogallus meriodinalis (gavião-

caboclo) sobre Guira guira; por Willis (1988), em observação de Spizastur melanoleucus

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(gavião-pato); por Olmos (1990b), que registrou casualmente o comportamento de

Geranospiza cearulencens (gavião-mateiro); por Martuschelli (1996), acompanhando

Leucopternis polionota (gavião-pomba-grande) e L. lacernulata (gavião-pombo). O

forageamento associado entre gaviões e primatas foi evidenciado em dois estudos. No

sudeste brasileiro, Ferrari (1990) registrou a associação entre Leptodon cayanensis

(gavião-de-cabeça-cinza), Ictinia plumbea (gavião-sauveiro) e Callithrix flaviceps (sagui-

da-serra). Na Amazônia, Egler (1991) constatou que Harpagus bidentatus (ripina) seguia

os grupos de Saguinus bicolor (sauim-de-coleira). E por último, Scheibler et al. (2001)

avaliaram por meio de pelotas a importância de Mus musculus (rato-doméstico) na dieta

de Elaunus leucurus (gavião-peneira) em um agrossistema do sul do país.

Os estudos sobre os hábitos alimentares de B. albicaudatus são poucos e foram

efetuados com um número pequeno de material o que resultou em distintas

classificações tróficas. Oberholser (1974), por exemplo, considerou-o especialista em

serpentes, enquanto Hudson (1920) e Snyder & Wiley (1976) sugeriram uma dieta

estritamente insetívora. Compilações mais recentes como a de Farquhar (1992), Dito

(1993), del Hoyo et al. (1994) e Sick (1997) consideram que a espécie possui uma dieta

bastante variada, consumindo artrópodes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

O gavião-do-rabo-branco captura suas presas a partir de poleiros e também por

meio de vôos constantes (Farquhar, 1986), conforme ocorre com a maioria dos

Accipitridae (Cramp & Simmons, 1994; del Hoyo et al., 1994; Sick, 1997). No entanto,

uma terceira estratégia, a de ficar parado no ar com as asas abertas contra o vento

forte, é exclusiva desta espécie (Farquhar 1986; Sick, 1997). Essa técnica é

freqüentemente intercalada com o vôo planado, que é realizado graças ao uso das

correntes térmicas, entre 50 e 100 m de altura (Farquhar, 1992) e pode ser uma

adaptação para a procura de presas. A caça utilizando poleiro começa uma hora após o

sol nascer e se estende até o pôr-do-sol, enquanto a caça aérea é normalmente

efetuada no período da tarde (Farquhar, 1992), quando os insetos são apanhados em

pleno vôo (Zimmerman & Harry, 1951). Os pés são usados para capturar a presa, que

na maioria das vezes, começa a ser consumida pela região da cabeça e ocasionalmente,

chega ao ninho sem a parte superior do corpo (Farquhar, 1992).

A associação de uma ave de rapina com outra, ou mesmo de uma ave de rapina

com outro predador terrestre, para a obtenção de alimento, são comportamentos

ocasionais. No entanto, relatos de associação já foram registrados (ver Greenlay, 1967;

Fontaine, 1980; Boinski & Scott, 1988; Ferrari, 1990; Silveira et al., 1997). Para B.

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albicaudatus esse comportamento foi registrado juntamente com Parabuteo unicinctus

sobre um filhote de pavão (Meleagris gallopavo intermedia), com seis dias de vida

(Haucke, 1971). Um outro comportamento relacionado à obtenção de alimento, o

cleptoparasitismo (roubo de presa), também foi registrado para B. albicaudatus. Palmer

(1990) constatou que adultos do gavião-do-rabo-branco pirateiam as presas de B.

swainsoni (gavião-papa-gafanhoto), del Hoyo et al. (1994) salientam a pirataria de B.

albicaudatus sobre Elanus leucurus (gavião-peneira) e Farquhar (1986) relata que

indivíduos imaturos podem roubar as presas dos adultos. Incêndios em áreas naturais

atraem várias espécies de Falconiformes (Stevenson & Meitzen, 1946), no entanto, o

gavião-do-rabo-branco é uma das espécies que se agrega mais rapidamente e em maior

número (normalmente de três a 20 indivíduos) no entorno dos incêndios (Tewes, 1984;

Palmer, 1988). Segundo Sick (1997), essa aglomeração nos locais de queimadas seria

uma estratégia para capturar, no solo ou no ar, animais intoxicados ou espantados pela

fumaça. Os indivíduos imaturos correspondem a 80 – 90% da concentração de B.

albicaudatus nesses incêndios, devido provavelmente à menor habilidade exigida para a

captura de presas nessas condições quando comparado aos métodos tradicionais de

caça (Lasley & Sexton, 1987).

Nos últimos tempos, várias técnicas têm sido empregadas para avaliar e

quantificar a dieta de aves de rapina (Errington, 1930, 1932; Gladin et al., 1943;

Craighead & Craighead, 1956; Marti, 1987; Redpath et al., 2001). Um dos primeiros

métodos utilizava conteúdos estomacais (Fisher 1893, McAtee 1935 apud Bond, 1936).

Esta técnica vem sendo menos utilizada nos estudos recentes e não é recomendada,

exceto quando o indivíduo é encontrado morto, pois requer a morte da ave. O abate de

um rapineiro para a obtenção de um estômago, que pode estar vazio, não é suficiente

para caracterizar a dieta e é altamente indesejável, uma vez que a maioria das

populações de aves de rapina é pequena (Marti, 1987). Um outro possível método de

avaliar a dieta é a instalação de câmera fotográfica próxima ao ninho para registrar

imagens das presas trazidas para os filhotes (Enderson et al., 1972, Marti, 1987). Neste

caso, a câmera pode ser disparada por um observador (por meio de controle remoto),

ser programada para registrar fotografias em períodos determinados (time lapse), ou

ainda estar acoplada a um sensor que dispare cada vez que um indivíduo pousar.

Algumas restrições devem ser consideradas para este método: problemas mecânicos,

baixa resolução da imagem para a identificação da presa, perda e/ou roubo, custo,

utilização em um período determinado (Marti, 1987).

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A avaliação da dieta por meio da observação direta requer muito tempo e uma

grande experiência do pesquisador. No entanto, oferece algumas vantagens sobre os

outros métodos, devido a proximidade do ninho e a possibilidade de observação durante

todo o dia (ou noite) (Marti, 1987). Essa técnica é mais utilizada para observações de

ninhos com a ajuda, principalmente, de estruturas camufladas (Southern, 1969;

Schipper, 1973; Mader 1976; Snyder & Wiley 1976; Sitter, 1983; Monteiro, 1992).

A análise da dieta de rapineiros por meio de pelotas de regurgitação vem sendo

utilizada por mais de um século (ver Fisher, 1893 e Errington, 1930, 1932) e oferece

maiores vantagens sobre os outros métodos. Primeiro, uma quantidade maior de

amostras pode ser obtida sem causar grandes perturbações aos indivíduos. Segundo,

permite que possam ser feitas avaliações de sazonalidade, visto que o material pode ser

obtido durante todo o ciclo anual. Em geral, este método é mais confiável para corujas

(Errington, 1932; Glading et al., 1943). Alguns fatores podem restringir o uso integral

desse método em Falconiformes, pois de acordo com Craighead & Craighead (1956)

algumas espécies desmembram a presa na hora da predação e/ou ingestão, resultando

assim, no consumo de apenas parte da mesma. Também, Falconiformes possuem maior

capacidade de digerir ossos (Schipper, 1973; Duke et al., 1975; Cummings et al., 1976;

Sick, 1997). E mais especificamente, pequenos rapineiros insetívoros, mesmo ingerindo

a presa inteira, podem fragmentá-la em partes pequenas de difícil identificação.

Todas as aves de rapina realizam a egestão de pelotas que consistem de restos

alimentares não digeridos que são compactados pelo estômago e regurgitados (Fisher,

1893; Errington, 1930, 1932). As espécies pequenas podem produzir 1-2 pelotas

diariamente, enquanto as espécies maiores podem produzir menos que uma pelota por

dia (Marti, 1987). Nessas pelotas podem ser encontrados pêlos, ossos, exoesqueletos e

outras partes específicas de presas (Monteiro, 1992). Estas podem ser agrupadas em

categorias de tamanho, sexo, etc (Dickman et al., 1991; Motta-Junior, 1996),

possibilitando assim, a quantificação e o conhecimento mais completo da dieta.

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Considerando a existência de apenas um estudo sobre alimentação de

accipitrídeos realizado no Brasil por meio da análise de pelotas (Scheibler et al. 2001)

(porém, sem a quantificação de todos os itens), a inexistência de estudos de maior

extensão enfocando a dieta de B. albicaudatus e, principalmente, a escassez de

informações sobre a alimentação desta espécie na região Neotropical, é que o presente

trabalho tem como objetivos:

a) estudar quantitativamente a dieta do gavião-do-rabo-branco, incluindo

número de presas e biomassa consumida.

b) verificar se ocorrem padrões de sazonalidade na dieta do gavião-do-rabo-

branco

c) determinar a amplitude de nicho trófico do gavião-do-rabo-branco, tanto por

estação climática como no total do período de amostragem.

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2 – MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 – Coleta e análise das pelotas

As pelotas foram coletadas próximo aos ninhos e poleiros, localizados

previamente no projeto “Comportamento Reprodutivo e Alimentar de Falconiformes”.

Este foi desenvolvido entre 1998 e 1999 pela Sociedade de Estudos Ambientais Muriqui

(SEAM) em parceria com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). Ninhos e poleiros

adicionais localizados durante a fase de desenvolvimento deste projeto também foram

incluídos. Em ambos os casos, a localização se deu por meio de procuras a pé e pontos

de observações (Pettingil, 1956; Monteiro, 1992). Nos anos de 2000 e 2001, os locais de

procura foram basicamente indicados pelo censo realizado com veículo, que tinha como

finalidade determinar a abundância do gavião-do-rabo-branco na área de estudo (ver

cap. 3). Poleiros que foram utilizados por outra espécie de Accipitridae tiveram suas

pelotas não consideradas para este estudo, evitando assim, uma possível análise

errônea.

Após a localização e mapeamento dos ninhos e pousadeiros, mensalmente

realizava-se a coleta de pelotas, principalmente durante a fase de inventário das presas,

que era efetuada nos últimos dias de cada excursão a campo. Uma vez encontrada a

pelota, esta era armazenada individualmente em tubos de filmes fotográficos ou

saquinhos plásticos com as seguintes informações: local do ninho ou poleiro (identificado

por uma característica própria do local e pelo sistema de Global Position System - GPS

Garmim 12) e a data da coleta.

No laboratório, as pelotas foram colocadas para secar em estufa com

temperaturas entre 50 e 60 °C durante 24 –36 horas. Depois desse período, foi efetuada

uma triagem do material para separação de amostras de penas, pêlos e escamas, restos

que são dissolvidos pelo processo químico adotado na maioria dos estudos com pelotas

(ver Marti, 1987; Motta-Junior, 1996). O material proveniente da separação era

colocado em eppendorf, sendo etiquetado com a mesma informação da coleta, para uma

posterior análise junto do material a ser tratado. Após este processo, o restante da

pelota foi tratado com uma solução de NaOH a 10%, durante 4-6 h para separação das

partes identificáveis e contáveis das presas (Marti 1987; Motta-Junior 1996). Após a

dissolução de partes orgânicas indesejáveis, o material restante foi mergulhado por 10-

15 min em uma solução de H2O2 10 vol. para clareamento e desinfecção. O

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procedimento de separação de penas e pêlos se tornou necessário devido ao fato do

material ósseo de mais fácil identificação e contagem (mandíbulas principalmente) não

estar presente em várias amostras. Provavelmente esse material foi digerido pelo

estômago do gavião. Todas as amostras foram analisadas a olho nu e com o auxílio de

um microscópio estereoscópico com magnificação entre 6x e 40x. Cada amostra

analisada foi anotada em uma ficha individual contendo os dados de campo e a

contagem dos itens alimentares identificados.

O material resultante foi identificado até o nível mais refinado possível,

utilizando-se coleções de referências do Laboratório de Ecologia Trófica do

Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo, das coleções do Museu de

Zoologia da mesma universidade e por meio de consulta a especialistas. Para pequenos

mamíferos, mandíbulas, dentes e pêlos foram os restos considerados para a identificação

e a contagem. Quando as mandíbulas se encontravam em bom estado foi possível

determinar a espécie e sua quantidade. Nos casos em que as mandíbulas estavam

deterioradas ou ausentes, os dentes foram usados para a determinação da espécie ou

grupo, sendo a contagem feita por meio dos dentes incisivos. Vale ressaltar, que os

incisivos eram uma das partes ósseas mais encontradas nas amostras, provavelmente as

mais resistentes. E por último, quando a amostra só apresentava como item identificável

o pêlo, separado na primeira triagem, foi possível chegar somente até a categoria

“Muridae não identificado” e apenas um indivíduo era considerado para efeito de

contagem. Para as aves foram considerados penas e bicos, tanto para efeito de

identificação quanto para contagem, seguindo modo similar ao usado para roedores. Os

anuros foram identificados e contados pelas cinturas pélvicas. Já os répteis foram

identificados por meio de escamas, pois estruturas ósseas eram bastante danificadas, e

apenas um indivíduo foi considerado por amostra. A maioria dos invertebrados foi

identificada e contada por meio de suas mandíbulas, com exceção de três grupos: a)

Coleoptera que teve sua identificação e contagem obtidas por meio de pronotos; b)

Araneomorphae por meio de quelíceras; c) Hymenoptera por intermédio das cabeças.

Para avaliar se a maioria das presas potenciais foram registradas nas pelotas foi

feita uma curva média de acumulação de presas com o programa EstimateS 5.2 (Colwell,

1997), com 1.000 aleatorizações. Cada pelota foi considerada uma amostra. O programa

gera 1.000 curvas de acumulação dos itens aleatorizando a ordem das amostras; assim,

cada ponto da curva corresponde à média deste nas 1.000 curvas e está associado a um

desvio-padrão.

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2.2 - Estimativa de biomassa das presas

A estimativa de biomassa das espécies de pequenos mamíferos foi obtida pela

média da massa corporal de cada uma delas, usando todos os indivíduos capturados na

área de estudo (Apêndice 1). A categoria Muridae não identificado teve sua biomassa

estimada referente à média encontrada para essa família em campo (Apêndice 1). Para

as aves foram realizadas quatro classificações de classes de biomassa, médio-grande

representada por indivíduos de peso corporal semelhante a um Turdus sp, médio-médio

representada por indivíduos de biomassa correspondente a uma Columbina talpacoti,

pequeno-médio representado pelo grupo de indivíduos de biomassa similar a uma

Tangara sp e finalmente pequeno-pequeno, indivíduos correlatos a uma Volatinia

jacarina (Apêndice 1). A massa corporal das espécies de aves supracitadas foi retirada

de Sick (1997) e Marini et al. (1997). Para obter a estimativa da classe de biomassa em

que a presa se enquadrava foram considerados bico, ossos de outras partes do corpo e

penas.

As serpentes, representadas exclusivamente pelos Colubridae, tiveram sua

biomassa estimada em consulta a especialistas – levando-se em consideração as

espécies que ocorrem na região, enquanto a família de lagarto Anguidae teve a

estimativa obtida por meio do peso médio de indivíduos depositados no Museu de

Zoologia da Universidade de Campinas (Apêndice 1).

A grande maioria das morfoespécies de invertebrados tiveram sua biomassa

estimada por meio do peso médio de seus indivíduos coletados na área de estudo

(Apêndice 1), sendo que Acrididae foi dividida em três categorias, de acordo com o

tamanho da mandíbula, pequena (1,0-2,0 mm); média (2,1-3,0 mm) e grande (> 3,1

mm), sendo atribuída a cada uma delas uma massa corporal média.

2.3 – Análise de sazonalidade das presas na dieta

Com o intuito de verificar uma possível sazonalidade na dieta do gavião-do-

rabo-branco, as freqüências do número de presas identificadas foram divididas em duas

estações. Estas foram definidas de acordo com os dados climáticos da área em questão:

seca de maio a setembro e chuvosa de outubro a abril. Como não foi realizada coleta no

mês de novembro de 2000, devido a problemas técnicos, e o mês de setembro ter sido

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34

amostrado tanto em 2000 quanto em 2001, cada estação contou com seis meses nessa

abordagem. Apesar de ter sido registrado um índice pluviométrico de 152,7 mm em

setembro de 2000 (fato anormal na média histórica, ver Figura 1 cap. 1), este mês foi

considerado seco em nossa abordagem, pois examinando os dados meteorológicos do 5°

DISME, constatou-se que esta precipitação elevada ocorreu apenas nos quatro últimos

dias do mês, após o período de amostragem.

Em uma primeira análise, as freqüências absolutas do número de presas

observadas nas pelotas em cada estação foram comparadas pelo teste G de

independência (Ayres et al., 2000), a fim de verificar se a captura das presas dependeu

ou não da estação climática. Posteriormente, caso o teste de independência tivesse

resultado significativo, por meio do teste G de aderência, para cada categoria de presa,

foi feita a comparação entre as freqüências absolutas observadas nas estações contra as

esperadas, originadas das proporções relativa dos subtotais de presas em cada estação

(eg. Bellocq, 1983; Motta-Junior & Taddei, 1992; Motta-Junior, 1996). Nesse sentido, foi

possível testar duas hipóteses: (H0) de nulidade, onde as freqüências de esperado e

observado não diferem (P > 0,05); e (H1) a alternativa, onde ocorre diferença nas

freqüências, resultando em predação diferencial de um determinado item em relação as

estações (P < 0,05). Para a análise de sazonalidade, os procedimentos e cálculos

seguiram o programa estatístico BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000).

2.4 – Amplitude de nicho trófico

Para esta análise foi utilizado o índice de amplitude de nicho de Levins (B), que

permite medir a amplitude ou diversidade da dieta levando em conta, principalmente, a

distribuição quantitativa de cada presa (Krebs, 1999). Este índice apresenta valores que

variam de 1 (especialista) até n (generalista). Se apenas um ou poucos itens apresentam

alta proporção na dieta, o índice tende a ser menor. Por outro lado, quando os vários

itens aparecem com proporções similares na dieta o valor tende a ser maior. Para uma

melhor interpretação e compreensão dos dados foi calculado também o índice de Levins

padronizado, segundo Hurlbert (1978), com valores variando de 0 (especialista) a 1

(generalista). A vantagem desta padronização é a não influência do número total dos

diferetes tipos de presas no índice final, o qual pode estar relacionado com o tamanho

da amostra. Os cálculos foram efetuados de acordo com Krebs (1999).

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35

B = 1/∑∑ p j 2

Que pode ser padronizado como:

Bp = ( B – 1)/(n – 1)

onde,

B = amplitude de nicho de Levins

Bp = amplitude de nicho de Levins padronizada

pj = proporção do item alimentar j encontrado na dieta (∑∑ pj = 1)

n = número total de categorias ou itens usados

Para averiguar uma possível diferença significativa da amplitude entre as duas

estações, calculou-se o índice mensalmente. Logo em seguida, foi feito o agrupamento

na referida estação climática e aplicado o teste não paramétrico U de Mann-Whitney de

acordo com Siegel & Castellan (1988). Além de calcular a amplitude com o modo

tradicional utilizando o número de indivíduos, efetuou-se também uma análise com a

biomassa bruta estimada.

Adicionalmente, realizou-se o cálculo da amplitude de nicho sobre sete

categorias de presas que apresentam hábitos ou comportamentos semelhantes:

Araneomorphae, Orthoptera (agruparam-se Acrididae, Tettigoniidae, Gryllacrididae,

Orthoptera n. id.), Coleoptera (Scarabeidae, Carabidae, Passalidae, Coleoptera n. id.),

outros Insecta (Blatodea, Mantodea, Hymenoptera, Heteroptera, Odonata, Termitidae,

Lepidoptera), Herpetofauna (Colubridae, Anguidae, Hylidae), Vertebrados voadores

(aves e um morcego) e pequenos mamíferos (Gracilinanus spp, Calomys tener,

Oligoryzomys nigripes, Oxymycterus sp, Akodon spp, Muridae n. id.). Esse agrupamento

em categorias funcionais maiores permite uma melhor compreensão da predação sobre

a comunidade de presas, já que a predação sobre cada grupo funcional requer um tipo

de habilidade e/ou comportamento, o que parece demonstrar melhor uma amplitude de

nicho funcional, conforme discutido por Greene & Jaksic (1983) e White et al. (1996).

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36

3 – RESULTADOS

3.1 – Composição da dieta

Foram coletadas e analisadas 259 pelotas no período compreendido entre

setembro de 2000 e setembro de 2001. A análise desse material resultou em um total de

3.296 presas individuais, divididas em 31 espécies/morfoespécies. A biomassa total

estimada foi de 7.196,54 g. Este montante de pelotas analisado parece ser suficiente

para amostrar quase todos os itens alimentares consumidos pelo gavião-do-rabo-branco

na área em questão. Depois da amostra 182 (de acordo com a ordem cronológica de

coleta) não foi encontrada nenhuma nova espécie/morfoespécie, alcançando assim,

100% de todos os itens identificados. Por outro lado, quando é feita a curva média de

acumulação de espécies/morfoespécies de presas com aleatorização, não há uma

estabilização da curva do coletor, mas clara tendência nesse sentido (Figura 1).

O número de pelotas coletadas variou dentro dos 12 períodos de amostragem,

desde um mínimo de 13, no mês de dezembro de 2000, a um máximo de 39, em agosto

de 2001 (Figura 2). A média do número de presas registradas por pelota coletada foi de

12,7 indivíduos, o maior número foi 121 (120 Vespoidea e 1 Muridae n. id.) e o menor 1

(Chiroptera, Hylidae, Ave, Colubridae, Muridae n. id.). O número de

espécies/morfoespécies por pelota variou de um (observado em 14 pelotas) a oito

(encontrado em apenas uma pelota). No entanto, as classes representadas por duas e

quatro espécies/morfoespécies de presas foram as mais freqüentes, ocorrendo em 71 e

63 amostras respectivamente. A distribuição do número de espécies/morfoespécies

encontrado por amostra pode ser observada na Figura 3.

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Figura 1. Curva média de acumulação de presas (padrão em azul) a partir de 1.000aleatorizações na ordem com que as amostras das pelotas foram coletadas (n = 259) nomunicípio de Juiz de Fora – MG. As curvas em cinza correspondem ao desvio padrãoassociado a cada ponto da curva.

Figura 2. Distribuição do número de pelotas de B. albicaudatus coletadas mensalmenteno município de Juiz de Fora – MG, entre setembro de 2000 e setembro de 2001.

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Figura 3. Distribuição do número de espécie/morfoespécie por pelota de B. albicaudatusno município de Juiz de Fora – MG.

Numericamente, os invertebrados representaram a grande maioria dos

indivíduos consumidos (Tabela 1), sendo Acrididae os mais consumidos, seguidos de

Vespoidea (Apêndice 2). Numa análise mais geral, os ortópteros representaram 82,2%,

refletindo uma grande importância em número de indivíduos predados. Vertebrados

foram responsáveis por 12,0% do número de presas na dieta, com o item Muridae não

identificado sendo o mais consumido, seguido de perto pelo roedor Calomys tener

(Apêndice 2). Assim, os roedores representaram a maioria dos indivíduos predados,

seguidos por aves, lagartos, serpentes, marsupiais, anfíbios e morcego (Tabela 1). A

identificação e contagem detalhada das 31 espécies/morfoespécies encontradas na dieta

está apresentada no Apêndice 2.

Quando analisamos as presas em relação à biomassa, verificamos uma brusca

inversão da importância da maioria das espécies/morfoespécies (Tabela 1, Figura 4).

Nesta análise, os vertebrados têm maior representatividade na dieta (Tabela 1, Figura

4). As aves, por exemplo, que representavam numericamente o 13° item consumido

ocupam o terceiro lugar em termos de biomassa. Os mamíferos passam a constituir o

grupo de maior importância em relação à biomassa consumida. Os lagartos,

representados exclusivamente pela família Anguidae, representam o quarto posto,

seguidos por serpentes (Tabela 1). Por outro lado, Vespoidea que era a segunda

0

10

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30

40

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70

80

1 2 3 4 5 6 7 8Número de espécie/morfoespécie por pelota

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categoria, em termos de número, ocupa a 20° posição, com menos de 0,5% da

biomassa total consumida (Apêndice 2).

É interessante destacar que determinados itens como Chiroptera, Oxymyterus

sp e Hylidae, que apresentam um número muito pequeno de indivíduos predados,

passam a ter um certo destaque em termos de biomassa consumida quando

comparados, por exemplo, a Isopoda e Hymenoptera (Tabela 1).

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Tabela 1. Dieta de Buteo albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, segundo onúmero de presas e a biomassa consumida, com suas respectivas porcentagens. Totalde pelotas analisadas foi n= 259. Dados coletados entre setembro de 2000 e setembro2001.

Indivíduos BiomassaItens alimentares

número % gramas %

Araneomorphae 184 5,58 88,32 1,23

Orthoptera - Acrididae 2076 62,99 1285,06 17,85

Orthoptera - Outros 317 9,62 249,43 3,47

Blatodea 3 0,09 5,88 0,08

Coleoptera 39 1,18 30,21 0,42

Hymenoptera 205 6,22 4,14 0,06

Odonata 13 0,39 3,64 0,05

Mantodea 2 0,06 1,30 0,02

Heteroptera 4 0,12 0,68 0,01

Isopoda 43 1,30 2,58 0,04

Lepidoptera (larva) 14 0,42 14,00 0,19

Subtotal invertebrados 2900 87,99 1685,24 23,42

Anura - Hylidae 4 0,12 32,00 0,44

Serpentes 24 0,73 384,00 5,34

Sauria - Anguidae 31 0,94 517,40 7,19

Aves - Passeriformes 36 1,09 470,00 6,53

Aves – não passeriformes 7 0,21 330,00 4,59

Roedores 288 8,74 3617,90 50,27

Marsupiais 5 0,15 100,00 1,39

Chiroptera 1 0,03 60,00 0,83

Subtotal vertebrados 396 12,01 5511,30 76,58

Totais (indivíduos – gramas) 3296 100 7196,54 100

Presas/pelota - gramas/pelota 12,72 - 27,78 -

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Figura 4. Comparação do número de indivíduos (3296 presas) e da biomassa (7196,54g), em porcentagem das grandes categorias de itens alimentares encontrados na dietade B. albicaudatus no município de Juiz de Fora, MG.

Dividindo as presas em classes de peso, observamos que a maioria é de pequeno

porte, particularmente Acrididae e Tettigoniidae (Figura 5 A). Quando analisamos as

classes de peso em função de sua biomassa, novamente notamos uma inversão quase

simétrica, sendo a quarta classe – representada exclusivamente pelos vertebrados -

responsável pela maior porção da dieta total (Figura 5 B).

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Figura 5. Distribuição das proporções do número de indivíduos (A) (3296 presas) e dabiomassa (B) (7196,54 g) consumida pelo gavião-do-rabo-branco em função das classesde peso (escala log10) no município de Juiz de Fora – MG.

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Classes de peso das presas (g)

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B

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3.2 – Sazonalidade na dieta

Para a avaliação da sazonalidade na dieta, as pelotas foram agrupadas em

estação chuvosa (n=94) e estação seca (n=165). O número de presas capturadas

durante a seca representa 72,1% da dieta total, enquanto a porcentagem na estação

chuvosa fica em torno de 27,8% (Tabela 2, Figura 6 A). Invertebrados constituem a

grande maioria do número de presas consumidas tanto na estação chuvosa quanto na

estação seca (Tabela 2, Figura 6 A). Cabendo destaque para a família Acrididae que

responde pela maior porção da dieta em ambas as estações (Tabela 2, Figura 6 A).

Enquanto dentre os vertebrados o grupo com maior representatividade é o dos

mamíferos, com 6,2% da dieta na estação chuvosa e 9,9% na seca (Tabela 2).

Quando procedemos à análise em termos de biomassa estimada consumida o

quadro se reverte, vertebrados passam a representar a maior parte da dieta na estação

seca e também na estação chuvosa (Tabela 2, Figura 6 B). Os mamíferos representam

37,4% na estação seca e 58,8% na chuvosa. Répteis e aves passam a ter significativa

presença na estação chuvosa (Tabela 2, Figura 6 B). Acrididae, o item de maior

representatividade numérica, também constitui um importante componente da dieta em

termos de biomassa ingerida em ambas as estações (Tabela 2, Figura 6 B).

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Figura 6. Porcentagem do número de presas (A) (n=3296) e da biomassa (B) (7.196,54g) das grandes categorias de itens alimentares de acordo com cada estação climática,registrados na dieta de B. albicaudatus no município de Juiz de Fora, MG.

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Tabela 2. Número de indivíduos e biomassa das 31 espécie/morfoespécie de presasidentificadas na dieta de B. albicaudatus de acordo com a estação climática no municípiode Juiz de Fora – MG. Dados coletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001.

Itens alimentares Estação chuvosa Estação seca

Número Biomassa Número Biomassa

Araneomorphae 26 (2,83) 12,48 (0,59) 158 (6,64) 76,00 (1,49)

Acrididae 628 (68,41) 417,30 (19,67) 1448 (60,89) 867,76 (17,10)

Tettigonidae 61 (6,64) 46,97 (2,21) 127 (5,34) 97,79 (1,93)

Gryllacrididae 08 (0,87) 29,93 (0,30) 06 (0,25) 4,74 (0,09)

Gryllidae 27 (2,94) 22,41 (1,06) 80 (3,36) 66,40 (1,31)

Orthoptera n. id. 02 (0,22) 1,20 (0,06) 06 (0,25) 3,60 (0,07)

Mantodea - - 02 (0,08) 1,30 (0,03)

Blatodea 02 (0,22) 3,92 (0,18) 01 (0,04) 1,96 (0,04)

Scarabeidae 15 (1,63) 12,45 (0,59) 12 (0,50) 9,96 (0,20)

Carabidae 01 (0,11) 0,65 (0,03) - -

Passalidae - - 01 (0,04) 0,65 (0,01)

Coleoptera n. id. 09 (0,98) 5,85 (0,28) 01 (0,04) 0,65 (0,01)

Vespoidea 03 (0,33) 0,04 (0,00) 193 (8,12) 2,90 (0,06)

Formicidae 01 (0,11) 0,20 (0,01) 02 (0,08) 0,40 (0,01)

Hymenoptera n. id. 03 (0,33) 0,30 (0,01) 03 (0,13) 0,30 (0,01)

Heteroptera 04 (0,44) 0,68 (0,03) - -

Aeshinidae 04 (0,44) 1,12 (0,05) 09 (0,38) 2,52 (0,05)

Termitidae 25 (2,72) 1,50 (0,07) 18 (0,76) 1,08 (0,02)

Lepidoptera (larva) - - 14 (0,59) 14,00 (0,28)

Total invertebrados 793 (86,38) 520,92 (25,14) 1923 (80,86 1076,00(21,20)

Hylidae 02 (0,22) 16,00 (0,96) 02 (0,08) 16,00 (0,29)

Colubridae 08 (0,87) 128,00 (6,03) 16 (0,67) 256,00 (5,04)

Anguidae 14 (1,53) 254,80 (12,01) 17 (0,71) 262,60 (5,17)

Passeriformes 13 (1,42) 180,00 (8,49) 23 (0,97) 290,00 (5,72)

Aves n. id. 05 (0,54) 215,00 (10,14) 02 (0,08) 115,00 (2,27)

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Continuação da Tabela 2.

Gracilinanus sp 01 (0,11) 20,00 (0,94) 04 (0,17) 80,00 (1,58)

Calomys tener 18 (1,96) 215,10 (10,14) 95 (3,99) 1135,2 (22,37)

Akodon sp 06 (0,65) 79,50 (3,75) 11 (0,46) 145,75 (2,87)

Oligoryzomys sp 14 (1,53) 154,70 (7,29) 24 (1,01) 265,20 (5,23)

Oxymycterus sp 01 (0,11) 72,80 (3,43) 02 (0,44) 145,60 (2,87)

Muridae n. id. 16 (1,74) 192,00 (9,05) 101 (4,25) 1212,00(23,88)

Chiroptera 01 (0,11) 60,00 (2,83) - -

Total Vertebrados 99 ( 10,78 ) 1587,90(75,06) 297 (12,49) 3923,40 (77,28)

Total Presas 918 (100) 2121,30 (100) 2378 (100) 5075,25 (100,00)

A análise da sazonalidade mostrou uma evidente dependência na freqüência

absoluta de capturas pelo gavião em relação à estação climática (G=94,336; g.l.= 8; p

<0,001). Quando analisamos separadamente as categorias verificamos que mais da

metade delas, cinco de nove, apresentam dependência de consumo quanto à estação do

ano (ver tabela 3). Na estação seca verificamos um maior consumo de Araneomorphae,

outros artrópodes e mamíferos, enquanto que na estação chuvosa o maior consumo foi

reportado para Acrididae e Coleoptera. Por outro lado, Tettigoniidae, outros ortópteros,

répteis e aves tiveram seu consumo bem próximo do esperado. Todos os valores podem

ser observados na Tabela 3.

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Tabela 3. Análise da sazonalidade da dieta de Buteo albicaudatus no município de Juizde Fora, MG. Os valores são as freqüências observadas e esperadas (em itálico). Emtodos os testes G de aderência, g. l. = 1. As probabilidades significativas estão emnegrito.

Itens alimentares Estação chuvosa Estação seca

Obs Esp Obs Esp G P

Araneomorphae 26 51,25 158 132,75 17,351 < 0,01

Acrididae 628 578,21 1448 1497,79 12,655 < 0,01

Tettigoniidae 61 52,36 127 135,64 0,470 > 0,05

Outros Ortoptera 37 35,93 92 93,07 0,035 > 0,05

Coleoptera 25 10,86 14 28,14 63,910 < 0,01

Outros artrópodes 42 79,10 242 204,90 18,668 < 0,01

Répteis 24 16,43 35 42,57 0,167 > 0,05

Aves 18 11,98 25 31,02 0,750 > 0,05

Mamíferos 57 81,88 237 212,15 21,078 < 0,01

Total 918 918,00 2451 2451,00

3.3 – Amplitude de nicho trófico

Os resultados obtidos a partir do cálculo de número de presas consumidas

levando-se em conta todos os itens indicam que B. albicaudatus apresenta uma dieta

com forte tendência a especialização (Bp=0,0366). Quando a análise é efetuada sobre a

quantidade de biomassa ingerida, esse índice passa a ser seis vezes maior que o do

primeiro cálculo (Bp=0,2315). Mesmo assim, este revela uma certa tendência a

especialidade no consumo de presas por parte do predador. Confrontando os dados do

índice de Levins padronizado em relação a sazonalidade - derivados do número de

presas por espécie/morfoespécie e com valores calculados a partir dos totais de cada

estação – verificou-se que a estação chuvosa apresenta nicho alimentar um pouco mais

estreito que a estação seca (Tabela 4). Ao se proceder ao mesmo tipo de análise,

porém, utilizando os dados de biomassa observa-se uma inversão. A estação chuvosa

passa a ter uma amplitude de nicho trófico um pouco maior que a estação seca (Tabela

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4). No entanto, quando se procede ao teste de Mann-Whitney, calculado com as médias

do índice de Levins padronizado referente a cada estação, verifica-se que não existe

diferença significativa na amplitude de nicho tanto em termos de número (U =18,00;

p=1,00) quanto em termos de biomassa (U =18,00; p=1,00) entre as estações.

Tabela 4. Medidas de amplitude de nicho (Levins’ e Levins’ padronizado) em termos denúmero e biomassa para todos os 31 itens, registradas na dieta de B. albicaudatus nomunicípio de Juiz de Fora – MG.

Levins Levins padronizado

Número Biomassa Número Biomassa

Setembro 1,859 2,416 0,029 0,047

Outubro 5,786 6,310 0,160 0,177

Dezembro 1,468 6,395 0,016 0,180

Janeiro 1,854 4,181 0,029 0,106

Fevereiro 1,485 5,673 0,016 0,156

Março 2,769 5,907 0,059 0,164

Abril 2,385 6,700 0,046 0,190

Maio 1,371 6,280 0,012 0,176

Junho 2,240 7,126 0,041 0,204

Julho 1,628 4,683 0,021 0,129

Agosto 3,630 5,842 0,088 0,164

Setembro 3,380 8,236 0,079 0,241

Est. chuvosa 2,097(±1,631) 9,773 (±0,900) 0,037(±0,054) 0,293(±0,030)

Est. seca 2,567(±0,941) 6,635(±2,030) 0,052(±0,031) 0,188(±0,067)

Total 2,434(±1,277) 7,945(±1,498) 0,048(±0,042) 0,232(±0,175)

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Os resultados da amplitude de nicho sobre as sete categorias de presas

seguiram a mesma ordem, no que diz respeito à análise da sazonalidade sobre todas as

espécies/morfoespécies. Porém, seus valores apresentaram uma menor tendência à

especialização (Tabela 5). Em termos de número, por exemplo, essa variação foi três

vezes maior tanto na análise total da dieta quanto na análise das estações chuvosa e

seca, quando comparado aos valores de todas as espécies/morfoespécies (Tabela 5). Em

termos de biomassa, a estação chuvosa apresentou o maior valor, indicando um

intermediário entre generalista e especialista, enquanto o valor total e o valor da estação

seca mostraram uma certa tendência a especialidade (Tabela 5). Quando agrupamos os

valores mensais do índice de Levins padronizado em sua respectiva estação climática e

procedemos ao teste de Mann-Whitney, verificamos que em termos de número não há

diferença significativa entre as estações (U =14; p=0,52). No entanto, a análise

considerando a biomassa revela que há uma diferença significativa (U =4,0; p=0,04) na

amplitude de nicho trófico entre a estação seca e a estação chuvosa.

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Tabela 5. Medidas de amplitude de nicho (Levins e Levins padronizado) em termos denúmero e biomassa para os sete agrupamentos de presas, registradas na dieta de B.albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG.

Levins’ Levins’ padronizado

Número Biomassa Número Biomassa

Setembro 1,775 1,047 0,129 0,008

Outubro 2,860 3,223 0,310 0,371

Dezembro 1,396 3,268 0,066 0,378

Janeiro 1,626 3,149 0,104 0,358

Fevereiro 1,278 3,695 0,046 0,449

Março 1,58 3,855 0,100 0,476

Abril 1,563 3,172 0,094 0,362

Maio 1,193 3,821 0,032 0,470

Junho 1,672 2,510 0,112 0,252

Julho 1,438 2,607 0,073 0,268

Agosto 2,287 2,114 0,215 0,186

Setembro 1,896 3,040 0,149 0,340

Estação chuvosa 1,578 (± 0,574) 3,914 (± 0,302) 0,096 (± 0,095) 0,486 (± 0,050)

Estação seca 1,936 (± 0,378) 2,467 (± 0,927) 0,156 (± 0,063) 0,245 (± 0,154)

Total 1,831 (± 0,482) 2,910 (± 0,799) 0,139 (± 0,080) 0,318 (± 0,135)

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51

4 - DISCUSSÃO

4.1 - Composição da dieta

A grande maioria dos trabalhos que analisa a dieta de Falconiformes é realizada

somente na estação reprodutiva (eg. Smith & Murphy, 1978; Simonetti & Otaiza, 1982;

Blumstein, 1989; Restani, 1991; Andersen, 1995; Bó et al., 1996; Estrela & Rodriguez,

1997; Howell & Chapman, 1998; Kaltenecker et al., 1998; Sergio & Boto, 1999; Grubb &

Lopez, 2000; Thorstrom & la Marca, 2000; Parejo & Aviles, 2001; Pedrini & Sergio,

2001). Com exceção da análise das pelotas, os outros métodos mais utilizados para

caracterizar a dieta de Falconiformes só podem ser utilizados no período reprodutivo (eg.

remanescentes de presas, observação de presas levadas ao ninho, câmeras

fotográficas). Tal fato pode ser explicado por dois principais motivos. Primeiro, várias

espécies de rapineiros diurnos são migratórias, dessa forma não fornecem material para

a análise durante todo o ano. Segundo, há uma enorme dificuldade de encontrar pelotas

fora da estação reprodutiva. Neste período os indivíduos obrigatoriamente fixam-se em

um território e utilizam-se de ninho(s) e pousadeiros durante toda essa fase (Newton,

1979). Fato que não ocorre fora dessa época. Além do mais, na estação chuvosa as

pelotas se desintegram facilmente em conseqüência das fortes chuvas e do aumento da

atividade dos artrópodes. Em várias ocasiões desse estudo, foram observadas formigas e

besouros fragmentando as pelotas. Esta observação está de acordo com Philips & Dindal

(1979) e Scheibler (2001), que relatam a umidade, os invertebrados e os fungos como

fatores de fragmentação e decomposição das pelotas que ficam expostas. Entretanto, o

maior número de pelotas encontradas na estação seca coincide com a reprodução de B.

albicaudatus (Baumgarten, 1998; Granzinolli et al., dados não publicados).

O montante de pelotas analisado parece incluir todos os itens alimentares

consumidos pelo gavião na área em questão. Após a amostra 182 (de acordo com a

ordem cronológica de coleta) não foi encontrada nenhuma nova ocorrência de

espécie/morfoespécie. O fato de não ter havido uma estabilização completa na curva de

acumulação com aleatorização pode ser explicado pela ocorrência de apenas um

indivíduo em determinados itens da dieta. Essa curva média de acumulação de presas,

na análise em questão, é uma curva resultante de 1.000 curvas aleatorizadas em cada

amostra e o desvio padrão reflete a variação que pode ocorrer nas 1.000 curvas. Nesse

sentido, morfoespécies representadas por um único indivíduo, no nosso caso Passalidae,

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Scarabaeidae e Chiroptera, refletem possibilidades na aleatorização de uma nova

ocorrência de espécies/morfoespécies com um único indivíduo, o que faz com que o

desvio padrão nunca seja zero.

O número de pelotas analisadas aqui é alto quando comparado a outros estudos

com membros da família Accipitridae, como por exemplo, Jaramillo (1993) - B. swansoni

(n=40); Figueroa & Corales (1999) – Circus cinereus (n=68); Blumstein (1989) – B.

jamaicenses (n=90). A obtenção de pelotas durante todo um ciclo anual, fato inédito

pelo menos para o gênero, se deveu principalmente ao conhecimento prévio da área,

dos locais de nidificação e do comportamento não migratório do gavião-do-rabo-branco.

Errington (1930) e Stevenson & Meitzen (1946) reportam que encontrar pelotas de

espécies do gênero Buteo é quase impossível e consideram impraticável a análise de

pelotas de Buteonines, o que explicaria o baixo conhecimento da dieta de B.

albicaudatus

O alto número de vertebrados, mais especificamente roedores não identificados

até o nível específico, está relacionado com a alta capacidade de digestão de ossos por

Falconiformes, conforme discutido por Schipper (1973), Duke et al. (1975), Cummings et

al. (1976), Duke (1987) e Sick (1997). A secreção gástrica das aves de rapina é mais

ácida e contém mais pepsina quando comparada com a mesma secreção de aves

onívoras e granívoras. A média ponderal do pH do suco gástrico de gaviões (1,7) é mais

baixa que a das corujas (2,4) (Duke, 1975, 1987). Em várias amostras, a parte que

determinava o nível específico da presa (mandíbulas principalmente) estava muito

fragmentada ou ausente. Consequentemente, a contagem e a identificação das

espécies/morfoespécies tiveram que ser realizadas por meio de incisivos e pêlos,

gerando assim, identificações em níveis mais acima. A contagem por meio de pêlos,

pode ter subestimado a porcentagem de pequenos mamíferos na dieta, pois quando as

partes ósseas contáveis encontravam-se ausentes, apenas um indivíduo foi considerado,

ao contrário do que sugere Marti (1987). Segundo este autor, o que poderia acontecer

em análises de pelotas é a superestimação de presas. Tal evento aconteceria com as

espécies de grande porte que abatessem uma presa de tamanho grande (ex. coelho

abatido por águia). Nesse caso, o predador iria ingerir apenas uma parte da presa e a

análise da pelota revelaria o consumo total. Alternativamente, a ave poderia ainda voltar

e consumir o restante da presa, comportamento registrado para algumas espécies de

rapinantes por Bowles (1916) e Brow & Amadon (1968). Tal fato, poderia então, causar

a contagem de outros remanescentes da presa em uma pelota diferente, havendo

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portanto superestimação. Acreditamos que tais superestimativas não ocorreram no

presente estudo, devido a alguns fatores, como: primeiro, B. albicaudatus é um espécie

que não apresenta adaptações para capturas de presas de grande tamanho (Johnsgard,

1990); segundo, a maioria das espécies de presas consideradas no nosso estudo é de

tamanho pequeno (roedores, segundo análise dos dados coletados em campo, menores

que 20 g – ver cap. 3; 98,6% dos mamíferos identificados na dieta são das espécies

que tiverem sua biomassa estimada em menos de 13,25 g) quando comparadas ao

tamanho do predador (46-65 cm; 850-1,100 g). Possivelmente um único indivíduo não

supriria a necessidade diária de consumo de biomassa; terceiro, conforme o próprio

Marti (1987) discute, esse fator teria maior relevância em análises em que apenas

poucas pelotas fossem analisadas e não em estudos como o nosso, no qual um número

considerável de amostras foi examinado.

Com exceção de Farquhar (1988b), que analisou remanescentes de presas e

pelotas de seis ninhos durante uma estação reprodutiva, os dados da dieta deste

predador normalmente são obtidos por meio da análise de pequenas amostras: seis

estômagos no Hemisfério Norte (Cottam & Knappen, 1939; Stevenson & Meitzen, 1946),

dois estômagos no Hemisfério Sul (Schubart, 1965), além de eventos isolados de

predação, como o relatado por Brasileiro et al. (2003). Também há estudos baseados

em poucos remanescentes de presas encontrados nos ninhos (Stevenson & Meitzen,

1946; Oberholser,1974). Aliados a alguma observação pessoal de cada autor, estes

dados deram origem a compilações (Oberholser, 1974; Dito, 1983; Belton, 1984;

Kopeny,1988; Johnsgard, 1990; Farquhar, 1992; del Hoyo et al., 1994 e Sick,1997). O

sumário de Kopeny (1988a) foi baseado em presas consumidas pelo gavião-do-rabo-

branco na América do Norte (B. a. hypospodius) e é um dos mais completos. Nele

constata-se o consumo de coelhos jovens, roedores de pequeno e médio porte, aves,

serpentes, lagartos, anfíbios e insetos, concordando com o amplo espectro alimentar de

B. albicaudatus registrado em nosso estudo. Esta polifagia do gavião-do-rabo-branco no

presente estudo - consumo de 12 ordens de animais (cinco vertebrados e sete

invertebrados) - concorda com os relatos de Lack (1946), o qual postula que a maioria

dos Accipitridae é polifaga. Essa afirmação também é corroborada pelos estudos de

Smith & Murphy (1978), Beltzer (1990), Restani (1991), Andersen (1995) e Araújo

(1996), com espécies do gênero Buteo. Nesses estudos constatou-se que vários itens

alimentares diferentes são consumidos por tais espécies.

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Das cinco ordens identificadas de vertebrados (Anura, Squamata,

Passeriformes, Rodentia, Chiroptera) integrantes da dieta deste predador, apenas

Chiroptera não é citada em pelo menos uma das compilações. Registros de predação de

morcegos são mais freqüentes em aves de rapina noturnas (Gillette & Kimbroug, 1970;

Ruprecht, 1979; Motta-Junior & Taddei, 1992; Vargas et al., 2002). No entanto, quando

recorremos a literatura, verificamos que pelo menos 31 espécies de aves de rapina

diurnas foram observadas predando morcegos (Gillette & Kimbroug, 1970; Sherrod,

1978; Cade, 1982; Byre, 1990; Johnsgard, 1990; Lee & Kuo, 2001). Exceto para o

gavião-morcego (Macheiramphus alcinus) do velho mundo que caça morcegos

freqüentemente, a porção deste grupo na dieta de aves de rapina diurnas é

normalmente muito baixa (Gillette & Kimbroug, 1970). A pequena porção de morcegos

na dieta de B. albicaudatus (0,03% do número e 0,83% da biomassa), confirma os

relatos de Gillette & Kimbroug (1970) e também reforça a idéia de Lee & Kuo (2001).

Estes salientam que a maioria das predações ocorre ocasionalmente e presumivelmente

durante o período crepuscular. A predação de morcegos pelo gênero Buteo não é um

fato inédito, Lee & Kuo (2001) registraram a predação de 96 morcegos por indivíduos de

Buteo jamaicenses nos Estados Unidos.

Dentre as ordens de insetos encontradas nas pelotas do presente estudo

(Orthoptera, Coleoptera, Hymenoptera, Heteroptera, Odonata, Isoptera e Lepidoptera),

apenas duas (Orthoptera e Coleoptera) estão descritas na literatura como parte

integrante da dieta. Somente Homoptera, encontrada por Schubart et al. (1965) no

exame de um estômago, não foi constatada em nosso estudo. A maioria das descrições

de invertebrados como parte integrante da dieta de B. albicaudatadus é apresentada, de

uma maneira geral, sendo referida como inseto ou artrópode. Apenas grupos mais

consumidos, de mais fácil identificação ou indivíduos originários de eventos isolados de

observação direta são abordados mais especificamente. Decapoda (camarão-de-água-

doce), Callinectes sapidus (carangueijo-azul), Chilopoda (lacraia), Scarabaeidae

(escaravelhos), Gryllidae (grilos) e Acrididae (gafanhotos) fazem parte da compilação de

Voous (1969), Kopeny (1988), Farquhar (1992). Oligochaeta (Glossoscolex giganteus) é

citado por Schubart (1965) e Sick (1997). Lycosidae é mencionada também por Schubart

(1965). Dentre as outras classes de invertebrados citadas na literatura, apenas Araneae

foi encontrada na dieta de B. albicaudatus. O fato de não terem sidos encontrados

representantes da classe Oligochaeta e da ordem Decapoda pode estar associado à

variação regional ou individual destes itens na dieta. Decapoda, por exemplo, é descrita

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como item alimentar dos indivíduos do Hemisfério Norte, e pode não fazer parte da

alimentação dos espécimens ou da subespécie do sudeste do Brasil.

Dentre os itens consumidos pelo gavião-do-rabo-branco, o que chamou mais

atenção foi “casulo” (larva de Lepidoptera). Nas pelotas eram encontrados o invólucro e

pedaços de galhos. O consumo de larvas de Lepidoptera já foi relatado para outra

espécie do gênero, B. swansoni, na Argentina (Araújo, 1996) e para Ictinia plumbea no

Brasil (Pinto, 1944). Relatos de consumo de lagartas por Accipitridae também são

encontrados em Cramps & Simmons (1994) e del Hoyo et al. (1994). Este menciona que

o gavião-cuco (Aviceda cuculoides) e o gavião-pacífico (Aviceda leuphotes) consomem

largamente insetos, especialmente lagartas apanhadas nas folhagens. Nessa ótica,

podemos inferir que os remanescentes de galhos nas pelotas de B. albicaudatus sejam

provenientes desse comportamento.

Em relação às outras ordens não citadas na literatura como itens alimentares do

gavião-do-rabo-branco (Hymenoptera, Hemiptera, Odonata, Isoptera), todas constituem

presas de Accipitridae. O consumo de vespas é relatado para espécies do gênero Pernis,

que se alimentam constantemente de ninhos de abelhas ou vespas, dos quais

consomem larvas, adultos e mel (Lack, 1946; Cramps & Simmons, 1994). Schubart

(1965), encontrou Formicidae nos estômagos de pelo menos quatro espécies de

Accipitridae coletados no Brasil. Odonata (Aeshinidae) constitui um dos itens mais

importantes na dieta de B. swansoni na Argentina (Jaramillo, 1993) e também faz parte

da dieta de Circus buffoni na América do Sul (Bó et al. 1996). Dois de três estômagos de

Elanoides forficatus examinados por Schubart (1965) continham hemípteros. O autor

salienta ainda, que diversas famílias destes invertebrados fazem parte da dieta de

Accipitridae. Isoptera, mais especificamente Termitidae, é relatado por Haverschmidt

(1962) e Schubart (1965) como item freqüente na dieta de Ictinia plumbea. Esse hábito

de ingerir cupins é igualmente conhecido por um representante do Velho Mundo, Milvus

migrans (Reid, 1955 apud Schubart et al., 1965).

Considerando o número de indivíduos consumidos, pode-se dizer que o gavião-

do-rabo-branco apresenta uma dieta insetívora (82,4%), concordando com os relatos de

Hudson (1920), Snyder & Wiley (1976) e Sick (1997). No único estudo, realizado com

remanescentes de presas e pelotas, em que é apresentada a porcentagem do número

de indivíduos consumidos (Farquhar, 1992), o referido autor menciona que artrópodes,

em sua maioria Acrididae, constituem 49,2% do número total de indivíduos. Tal

constatação permite que a espécie possa ser classificada como carnívora/insetívora. Dos

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dois estômagos examinados também nos Estados Unidos por Cottam & Knappen (1939),

em que o volume foi medido, apenas um apresentou insetos (4% do volume). A análise

das presas remanescentes de seis ninhos no Texas (Stevenson & Meitzen, 1946) não

revelou o consumo de insetos.

No único registro brasileiro de quantificação de itens alimentares, realizado por

Schubart (1965) em exame de dois estômago, o autor constatou que o primeiro

apresentava um roedor e o segundo sete insetos (seis Homoptera - Cicadidae) e um

Arachnida (Lycosidae). A análise destes estômagos revelou que Insecta representa

77,8% do número de presas, Arachnida 11,1% e Rodentia 11,1%. Apesar de ser muito

pequena, esta mínima análise apresenta também os três grupos mais abundantes

encontradas em nosso estudo.

O baixo consumo numérico de vertebrados, principalmente de mamíferos, não

concorda com os registros feitos para a espécie por Stevenson & Meitzen (1946) e

Farquhar (1988). De acordo com estes autores, mamíferos respondem respectivamente

por 37,5 e 45,1% do número total de indivíduos na dieta. O baixo valor registrado em

nosso estudo também difere dos encontradas em estudos realizados com outras

espécies de Buteo. Olendorff (1973), reunindo 20 estudos sobre a dieta de B. regalis ,

constatou que mamíferos correspondem a 83,3% do número de indivíduos consumidos.

Blumstein (1989), analisando remanescentes de presas e pelotas de 10 ninhos de B.

jamaicenses, situados em três ecossistemas diferentes, registrou o consumo de 85% de

mamíferos. O estudo de remanescentes de presas de 20 ninhos de B. swansoni no

Colorado, revelou que a dieta era composta exclusivamente por vertebrados (aves, 50%;

mamíferos, 45% e répteis 5%). Restani (1991), pesquisando a repartição de recursos

por três espécies de Buteo, também verificou um alto consumo de mamíferos. Nesse

estudo, B. jamaicensis, B. regalis e B. swansoni respectivamente predaram 70,1%,

82,6% e 66,8% desse item. Um estudo mais complexo, realizado durante a estação

reprodutiva de cinco anos subseqüentes, revelou que o consumo de mamíferos por B.

regalis variou em porcentagens numéricas de 88,4 a 92,7% (Smith & Murphy, 1978).

Com exceção da nossa análise, os registros numéricos (e únicos) de anfíbios na

dieta de B. albicaudatus são provenientes da inspeção de dois estômagos (Cottam &

Knappen, 1939). Em um dos conteúdos, dois indivíduos de Rana pipiens representavam

55% do volume, enquanto no outro, esta era responsável por 99% do volume total. A

participação de anfíbios na dieta de Accipitridae é relatada em um número muito

reduzido de trabalhos (eg. Cottam & Knappen, 1939; Schubart, 1965; Seavy & Gerhardt,

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1998; Sergio & Boto, 1999), sendo que as maiores porcentagens numéricas são

originárias da análise do conteúdo estomacal (eg. Cottam & Knappen, 1939; Schubart,

1965; Beltzer, 1990). Possivelmente, esse grupo pode ser subestimado em análises de

pelotas e remanescentes de ninhos – talvez seus ossos sejam digeridos mais facilmente

pelo pH ácido do gavião.

De acordo com Oberholser (1974), pelo menos para a localidade estudada, o

gavião-do-rabo-branco apresenta uma dieta especializada em serpentes. Os poucos

registros numéricos sugerem que o grupo dos répteis é um dos mais consumidos.

Porém, não o item de maior número na dieta. Na análise de Stevenson & Meitzen

(1946), os répteis são o segundo grupo mais consumido (33%), enquanto Farquhar

(1988) reporta que este é o terceiro grupo mais predado (12,1%) juntamente com as

aves (12,1%). Nos estudos com estômagos, Cottam & Knappen (1939) salientam que

Pituophis sp foi o terceiro item mais predado, ficando atrás de anfíbios (R. pipiens) e

aves (Colinus virginianus). Dos cinco anos em que foi medida a porcentagem do número

de répteis consumidos por B. regalis (Smith & Murphy, 1978), três (1,1-1,9 e 2,0%)

apresentaram valores próximos ao encontrado no presente estudo (1,7%) e dois

revelaram um consumo maior (3,4 e 6,3%). No trabalho de Restani (1991), não foi

detectada a presença de répteis na dieta de B. regalis . No entanto, B. jamaicenses

apresentou números semelhantes (2,1%) ao encontrado por nós e B. swansoni

consumiu um número menor de répteis (0,6%).

As Aves geralmente representam um dos grupos mais importantes na dieta do

gavião-do-rabo-branco. Stevenson & Meitzen (1946), examinando remanescentes de

presas, constataram que 29% do número total de indivíduos consumidos pertenciam ao

grupo das aves. Dos dois estômagos inspecionados por Cottam & Knappen (1939), um

apresentou cerca de 27% do volume total devido a Colinus virginianus (uru-virgianiano).

Nos outros trabalhos com representantes do gênero Buteo, as aves mostraram ser

também uma parcela importante na dieta. Restani (1991) menciona que 13,2% dos

indivíduos consumidos por B. regalis são aves. Smith & Murphy (1978), estudando esta

mesma espécie, verificou que a proporção do número de aves consumidas varia de 5,4 a

9,2%. Já o estudo com B. swansoni efetuado por Andersen (1995), mostrou que as aves

representam metade da dieta. Todos estes estudos apresentam um valor numérico de

consumo de aves maior que os 1,3% registrado por este trabalho.

Apesar do número de presas individuais ser um nível de quantificação

fundamental e útil para comparações tróficas, especialmente no que tange ao impacto

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do predador sobre as populações de presas (Marti, 1987). A abordagem da dieta

considerando a representação de cada presa consumida em termos de biomassa reflete

melhor as necessidades energéticas do predador (Bozinovic & Mendel, 1988; Marti

1987a; Motta-Junior, 1996). Dessa forma, nas considerações que se seguem,

adotaremos este tipo de análise na discussão da dieta do gavião-do-rabo-branco.

A primeira mudança que ocorre, quando a abordagem é feita em termos de

biomassa consumida, se refere à classificação trófica. Esta que numericamente é

insetívora (82,4%) passa a ser carnívora (76,6%). A análise da biomassa estimada

reflete a importância dos vertebrados em sua dieta. Dessa forma, podemos perceber que

espécies/morfoespécies de presas representadas por poucos indivíduos podem constituir

uma importante fonte de energia. Outros itens com um alto número de representantes,

porém, com biomassa inferior, podem constituir uma fonte secundária de energia. No

único estudo realizado com estimativa de biomassa consumida pelo gavião-do-rabo-

branco (Farquhar, 1988), essa importância dos vertebrados é ainda maior (95,3% da

biomassa total consumida), revelando uma dieta quase estritamente carnívora. A

porcentagem de biomassa de mamíferos ingerida por B. albicaudatus neste estudo

(52,4%) está bem próxima do registro feito por Farquhar (1988) nos Estados Unidos

(45,1%), e reafirma que este grupo é o de maior importância na dieta deste predador.

Diferentemente do encontrado por Farquhar (1998), em que os artrópodes

correspondem apenas a 4,7% da biomassa total ingerida - sendo o grupo de menor

representatividade, o nosso estudo revelou que este é o segundo mais consumido

(23,4%). Em sua maioria é representado por Acrididae (17,8%) e constitui um

importante item na dieta ao longo do ano. A porcentagem de aves na dieta (11,1%)

encontrada neste estudo foi menor que os 33,8% constatados por Farquhar (1988).

Todavia, estas constituem um importante item alimentar na dieta de B. albicaudatus,

principalmente na estação chuvosa.

A detecção do consumo dessa ampla gama de itens alimentares e a diferença

numérica e de biomassa consumida pelo gavião-do-rabo-branco em relação aos estudos

mencionados acima podem ser atribuídas a diversos fatores. Primeiro, deve-se

considerar o número de amostras analisadas e a obtenção do material ao longo de um

ciclo anual e não apenas na estação reprodutiva. Segundo, os poucos trabalhos que

fornecem uma quantificação com base no número de indivíduos predados (Stevenson &

Meitzen, 1946; Oberholser,1974; Farquhar, 1988) utilizam remanescentes de presas

coletadas no ninho. Dessa forma, pode ter havido uma subestimação tanto na

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diversidade quanto no número de invertebrados predados. Insetos, por exemplo, podem

ser ingeridos inteiramente em pleno vôo do gavião, anteriormente a predação sobre o

indivíduo que será levado ao ninho e, mesmo os insetos que são levados ao ninho pelos

pais são ingeridos, na maioria das vezes inteiramente, pelo(s) filhote(s). Logo, não

fornecem remanescentes no ninho e só serão detectados na análise minuciosa das

pelotas. Terceiro, outro fator que merece atenção é a disponibilidade de presas, pois os

estudos de Cottam & Knappen (1939), Stevenson & Meitzen (1946), Oberholser (1974) e

Farquhar (1988) foram realizados na região Temperada e, quando comparados com

outras regiões (no nosso caso Neotropical), podem apresentar diferenças expressadas

pela oferta distinta de presas, devido à clima e heterogeneidade ambiental (Jaksic &

Marti, 1981; Motta-Junior, 1996). Pode-se ainda ser levado em conta o fato do gavião-

do-rabo-branco utilizar técnicas de caça que permitam o oportunismo, por exemplo,

busca ativa, caça de poleiro, caça em locais de queimadas (neste caso expressado pela

predação sobre diferentes tipos de presas). Algumas diferenças individuais ou

populacionais também podem ocorrer dentro de uma mesma espécie (Lack, 1946; Jaksic

& Marti, 1981), o que da mesma forma poderia implicar em um comportamento de

forrageamento distinto.

4.2 – Sazonalidade na dieta

A sazonalidade na dieta do gavião-do-rabo-branco é evidente, mostrando uma

dependência na freqüência absoluta de captura dos principais grupos de presas em

relação à estação climática. Os dois itens de maior importância em termos de biomassa

consumida mostraram-se dependentes. Os mamíferos foram mais consumidos na

estação seca e Acrididae na estação chuvosa, períodos em que estas respectivas presas

apresentam suas maiores abundâncias/padrões de atividade de no centro sul do brasil

(ver Alho, 1981, 1994; Dietz, 1983; Motta-Junior, 1996; Belentani, 2001; Queirolo,

2001). Entretanto, essa sazonalidade pode ser interpretada como uma exploração

temporalmente oportunística dos recursos por parte do gavião.

Outros três grupos de menor representatividade em termos de biomassa

também apresentaram dependência em relação a estação climática. No caso de

Coleoptera (maior consumo na estação chuvosa) pode estar havendo um oportunismo,

uma vez que estes também apresentam uma maior abundância (e/ou atividade) nesta

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estação. Diferente de Araneomorphae e artrópodes de solo, os besouros geralmente são

apanhados em vôo (obs. pess.). O fato de Araneomorphae e outros artrópodes terem

sido mais consumidos na estação seca pode estar relacionado com a diferença de

cobertura vegetal entre as duas estações. Na estação chuvosa, a vegetação se encontra

mais densa e com maior porte quando comparada à estação seca. Assim, na estação

chuvosa pode haver uma maior proteção nos micro-habitats utilizados por estes grupos.

Analisando as porcentagens de biomassa das grandes categorias de presa pode

ser observada uma possível complementação no consumo de uma em relação à outra,

principalmente entre aquelas que apresentam uma variação sazonal no seu consumo.

Aves e répteis apesar de não apresentarem uma dependência significativa em relação à

sazonalidade parecem ser utilizadas como complemento ao consumo de mamíferos na

estação chuvosa, no que tange a biomassa ingerida. As aves são um recurso igualmente

disponível ao longo de todo o ano (Motta-Junior, 1996), desta forma, parecem constituir

uma fonte alternativa e compensatória de proteína, uma vez que a maior predação sobre

este grupo ocorre quando há uma menor consumo de pequenos mamíferos. A biomassa

de répteis na dieta (12,5%) foi a terceira maior, bem próxima do registrado para aves. O

maior consumo na estação chuvosa, coincide com a época onde estes apresentam um

maior padrão de atividade (Greene, 1997; Sluys, 1998; Savage, 2002), o que sugere que

este grupo de presa tenha um papel semelhante ao das aves. Comparações com outros

estudos de B. albicaudatus e até mesmo de Accipitridae não são possíveis devido à

ausência de pesquisas que abordem a dieta ao longo de um ciclo anual.

4.3 - Amplitude de nicho trófico

A amplitude trófica ou diversidade da dieta se mostrou de intermediária para

baixa, variando de acordo com a abordagem adotada. O baixo valor encontrado a partir

do cálculo do número de presas consumidas em todas as 31 espécies/morfoespécies (Bp

= 0,0478), indica uma forte especialização na dieta de B. albicaudatus. Tal fato ocorre

devido ao alto consumo de Acrididae (2076 indivíduos – 63%) e ao número

relativamente grande de espécies/morfoespécies de presas com poucos indivíduos (42%

das espécies/morfoespécies apresentam menos de oito indivíduos e apenas 22%

possuem mais de 100 indivíduos). A análise destas mesmas espécies/morfoespécies,

porém, feita por intermédio dos dados de biomassa resulta num índice cinco vezes

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maior (Bp = 0,2315), indicando ainda uma tendência à especialização. Nesta avaliação

há um certo equilíbrio entre as espécies/morfoespécies de vertebrados e invertebrados.

No entanto, apenas sete espécies/morfoespécies tiveram um consumo acima de 10% ,

determinando assim, a tendência à especialidade.

O fato do teste U de Mann-Whitney não ter detectado diferenças significativas

entre os meses pertencentes às duas estações climáticas - para as 31 espécies

morfoespécies em relação ao índice padronizado de amplitude trófica - pode ser reflexo

do consumo de poucos itens alimentares em altas proporções e muitos em baixas

proporções. A semelhança entre as duas estações, tanto para dados de número e de

biomassa, gerados com dados das 31 espécies/morfoespécies, pode ser resultado dos

baixos valores mensais encontrados no índice de Levins padronizado. Desta maneira,

podemos inferir que quantitativamente o gavião-do-rabo-branco é uma espécie com

tendências a uma dieta especialista independente da estação climática.

No caso dos grupos funcionais de presas, a diferença sazonal revelada na

amplitude trófica (dados de biomassa) possivelmente é proveniente de um consumo

mais equilibrado entre os quatro grupos mais representativos (Mamíferos, Orthoptera,

Herpetofauna e Vertebrados voadores) na estação chuvosa, enquanto que na estação

seca há uma maior discrepância entre mamíferos e os outros três grupos. Esse maior

consumo de mamíferos na estação seca (período de maior abundância deste grupo na

área em questão, ver cap. 3) quando comparado aos outros grupos, concorda com as

predições de Lack (1946) e Emlen (1966). Segundo esses autores, em períodos de maior

oferta de recurso pode haver um consumo elevado de uma determinada presa ou grupo

de presa. Logo, a quantidade de recurso disponível pode determinar a amplitude do nível

trófico do gavião-do-rabo-branco, pelo menos para o estudo em questão.

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__________________________________

CAPÍTULO 3

Seletividade de presas e respostas numérica

e funcional na dieta do gavião-do-rabo-branco

Buteo albicaudatus no município de Juiz de Fora,

sudeste de Minas Gerais.

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RESUMO

Neste trabalho são apresentados dados de respostas ecológicas do gavião-do-

rabo-branco (Buteo albicaudatus) em relação à variação do número de presas. Os

objetivos específicos são verificar a existência de possíveis respostas numéricas e

funcionais na dieta desse gavião e verificar estatisticamente as prévias proposições de

oportunismo na escolha de presas por esse predador sugeridas por Stevenson & Meitzen

(1946), Farquhar (1986) e Kopeny (1988). O estudo foi desenvolvido em áreas abertas

do município de Juiz de Fora, sudeste do estado de Minas Gerais, no período entre

setembro de 2000 e setembro 2001. O material para estudo da dieta do B. albicaudatus

consistiu de pelotas de regurgitação, coletado simultaneamente com os dados de

abundância dos principais grupos de presas e do predador na área de estudo. Para a

abundância de pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e artrópodes de solo foram

utilizadas armadilhas de interceptação e queda, distribuídas em cinco estações. Os

insetos voadores foram amostrados por meio de redes entomológicas. O gavião-do-rabo-

branco teve sua abundância registrada por meio de rotas, utilizando-se um veículo.

Comparando-se a abundância do principal grupo de presa (pequenos mamíferos), em

termos de biomassa, no ambiente e os registros de B. albicaudatus percebe-se que em

nove dos doze meses há uma sincronia nas flutuações, caracterizando uma resposta

numérica (rs=0,864; p<< 0,001). Resposta funcional foi registrada para a ordem

Orthoptera (rs=0,762; p<0,01) e para a família Acrididae (rs=0,706; p<0,05). Com

relação à seletividade de espécies de presas, observou-se que dos 12 gêneros de

pequenos mamíferos capturados por armadilhas de interceptação e queda no ambiente,

apenas cinco (Calomys, Akodon, Oligoryzomys, Oxymycterus e Gracilinanus) fazem parte

da dieta de B. albicaudatus. Em relação a estes gêneros, o gavião-do-rabo-branco

apresentou seletividade para Calomys tener e rejeição para Akodon spp apenas na

estação seca. Os dados apresentados neste estudo sugerem que a abundância de

pequenos mamíferos pode determinar o comportamento seletivo ou oportunismo de B.

albicaudatus. No período de maior oferta de recurso há uma seletividade enquanto, no

período de menor abundância de alimento, há um oportunismo por parte do predador.

Este estudo revelou que o gavião-do-rabo-branco possui uma flexibilidade em sua dieta.

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ABSTRACT

The ecological responses of the White-tailed hawk (Buteo albicaudatus) to

variation in prey number were analysed in this study. The aims of this study were to

verify the presence of numerical and functional responses in the diet of this hawk and

validate statistically the previous suggestions, made by Stevenson & Meitzen (1946),

Farquhar (1986) and Kopeny (1988), that B. albicaudatus´s is an opportunistic species.

The study was conducted in open areas of farmlands in Juiz de Fora municipality,

southeast Minas Gerais State, from September 2000 to September 2001. The White-

tailed hawk’s pellets were collected simultaneously to the assessment of both the

abundance of the main prey groups and of this raptor in the study area. Abundance of

small mammals, reptiles, anurans and ground arthropods were obtained by the use of

pitfall traps, scattered in five stations. Foliage insects were sampled through sweeping

the herbaceous and shrub vegetation with the use of entomological net. The abundance

of the White-tailed Hawk in pre-stabilised routes was evaluated by road survey, which

was conducted with the use of a vehicle. The comparison of the main prey group (small

mammals) abundance in the environment, in terms of biomass, with the abundance of B.

albicaudatus, showed a synchronic variation in nine of the twelve months sampled,

characterising a numerical response (rs=0.864; p<0.001). Functional response was

accounted for Orthoptera (rs=0.762; p<0.01) and Acrididae (rs=0.706; p<0.05). The prey

selection analysis showed that, among 12 small mammal genera found in the

environment, only five (Calomys, Akodon, Oligoryzomys, Oxymycterus and Gracilinanus)

were consumed by B. albicaudatus. Only in the wet season, a clear selectivity on the

consumption of small mammals was detected. Calomys tener was consumed more

frequently than expected, whereas Akodon spp was preyed on less, according to their

abundances in the study area. These accounts suggest that abundance of small

mammals may determine the White-tailed hawk’s selectivity or opportunism. Selectivity

may be found in the period of high availability of food resources, whereas opportunism is

prevalent in periods of low prey abundance. This study revealed that B. albicaudatus is a

highly flexible predator concerning food habits.

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1 – INTRODUÇÃO

A relação predador/presa constitui uma interação de duas vias. Os predadores

podem afetar a presa diretamente causando-lhe injúria ou morte. De modo indireto,

interferem na estrutura da população (p. ex., seleção de fenótipos) e na organização da

comunidade (p. ex., reduzir o número de competidores potenciais) (Pearson, 1971;

Southern & Lowe, 1968; Fitzgerald, 1977; Erlinge et al., 1983; Sinclair et al., 1990; Jaksic

et al., 1992; Korpimaki & Krebs, 1996; Kitlein, 1997; Newton, 2000).

Concomitantemente, a presa pode afetar seus predadores de várias formas. Por exemplo,

determinando a presença e a abundância de predadores de forma direta, e fornecendo

um eixo de recursos ao longo do qual os predadores podem se agregar (formando

guildas multiespecíficas), ou segregar (afetando a partilha de recursos de forma indireta)

(ver revisões em Jaksic & Simonetti, 1987; Marti, 1987). Neste último caso, a presa pode

afetar indiretamente a diversidade e as abundâncias relativas no nível trófico dos

predadores (Jaksic & Simonetti, 1987; Newton, 2000).

As reações de predadores à flutuação das populações de suas presas envolvem

dois fenômenos complementares, respostas numéricas e funcionais (Solomon, 1949;

Taylor, 1984; Sonerud, 1992). As respostas numéricas implicam em imigração e/ou

aumento local do recrutamento nas populações de predadores, quando ocorre aumento

na abundância de presas, e em emigração e/ou aumento da mortalidade, quando há uma

diminuição do número de presas (Anderson & Erlinger, 1977; Erlinger et al., 1983;

Korpimaki & Norrdahl, 1991; Nielsen, 1999; Poulin et al., 2001). Por outro lado, respostas

funcionais correspondem a alterações do padrão de forrageamento dos predadores,

sendo que estes passam a consumir mais uma determinada presa quando esta se torna

mais abundante ou a consome em menor quantidade, quando há um decréscimo

populacional desta (Solomon, 1949; Hooling, 1959; Korpimaki, 1986, 1988; Sonerud,

1992; White et al., 1996; Skalski & Gilliam, 2001). Esta resposta é considerada como o

componente central da relação predador/presa, pois pode capacitar o predador a

desempenhar papel fundamental na regulação de suas presas (Sonerud, 1992). A

flexibilidade da dieta do predador, ou seja, a capacidade que um predador tem para

mudar de presa de acordo com as suas abundâncias, é um fator primordial nas respostas

do tipo funcional (Pyke et al., 1977). A compreensão da dieta, ou mais idealmente, a

habilidade de prever alterações na dieta em resposta a mudanças no valor ou na

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disponibilidade das presas é um tópico importante da biologia moderna (Andrew &

Christensen, 2001).

Jaksic (1989a, 1989b) define o predador como oportunista quando ele consome

todas ou a maioria de suas presas de acordo com a abundância que estas ocorrem no

seu local de caça. De forma contrastante, o predador seletivo consome determinadas ou

mesmo todas as presas, em proporções diferentes daquelas que ocorrem no seu sítio de

caça. É importante destacar que as presas são aquelas dentro da capacidade de

manuseio por parte do predador (Jaksic, 1989b).

Várias hipóteses têm sido formuladas para tentar explicar a seletividade e/ou

oportunismo dos predadores frente aos diferentes tipos de presas. A relação entre os

custos envolvidos na captura e os benefícios energéticos desta está dentre as hipóteses

mais exploradas. Dentro desta ótica de relação custo/benefício duas linhas podem ser

adotadas. Na primeira, os predadores capturariam as presas mais proveitosas e não

necessariamente as mais abundantes (Korpimäki, 1985; Iriarte et al., 1989; Jaksic,

1989a). Enquanto a segunda menciona que os predadores capturariam suas presas

influenciados pelas abundâncias destas no ambiente (Jaksic et al., 1981; Jaksic, 1989a).

Corley et al. (1995) reportam a importância do sucesso do predador para

encontrar, capturar, manusear e consumir uma determinada presa, sugerindo que o

oportunismo ou seleção pode ser conseqüência tanto das diferenças morfológicas e

comportamentais entre as espécies de presas, como a morfologia e o comportamento do

predador. Adaptações antipredatórias, como por exemplo, comportamento de escape e

evitação ao predador podem diminuir a vulnerabilidade da presa e, por conseqüência,

incrementar sua chance de sobrevivência (Edmunds, 1974; Simonneti, 1989; Alcock,

1993; Abrams, 2000). A utilização diferenciada de hábitats e microhábitats pela presa

também pode afetar o número de encontros com o predador, independentemente de sua

abundância no ambiente (Endler, 1991).

Estudos evidenciando respostas funcionais e/ou numéricas de Falconiformes

(retardadas ou sincrônicas, em um ou mais anos), vêm sendo amplamente realizados em

diferentes regiões do mundo. São exemplos estudos com Falco tinnunculus na Finlândia

(Norrdahl & Korpimäki, 1996), Circus cyaneus e Falco peregrinus na Escócia (Thirgood &

Redpath, 2000), Buteo buteo na Espanha (Jaksic, 1989a), Falco rusticolus na Islândia

(Nielsen, 1999), Accipiter gentilis e Buteo regalis no Canadá (Doyle & Smith, 2001; Poulin

et al., 2001), Haliaetus leucocephalus nos Estados Unidos (Restani et al., 2000);

Parabuteo unicinctus, Buteo poliosoma e Geranoaetus melanoleucus no Chile (Jaksic et

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al., 1992). De modo contrastante, nenhum estudo enfocando respostas de Falconiformes

em relação à disponibilidade de presas é encontrado no Brasil.

A ausência de trabalhos que envolvam seletividade de presas por Falconiformes

também pode ser constatada em nosso país. Ao contrário do que ocorre em outras

regiões, como por exemplo, no Chile (Bozinovic & Medel, 1988; Jaksic et al., 1981, 1983,

1989b, 1997), e na Europa (Korpimaki, 1984, 1985; Korpimaki & Norrdahl, 1991;

Norrdahl & Korpimaki, 2000), onde há vários anos a seletividade por parte destes

predadores vem sendo analisada.

Informações sobre a ecologia do gavião-do-rabo-branco (Buteo albicaudatus),

incluindo a ecologia alimentar, são escassas e largamente descritivas. Dados referentes

ao tipo e ao número de presas receberam alguma atenção nos Estados Unidos (ver

Farquhar, 1992), já a seletividade e as respostas do tipo funcional e numérica não foram

examinadas em qualquer região. Segundo Stevenson & Meitzen (1946) e Kopeny (1988),

esta é uma espécie oportunista, que se alimenta de uma grande variedade de itens que

estejam disponíveis no seu sítio de caça. No único estudo em que a biomassa das presas

consumidas por este gavião foi avaliada, Farquhar (1986) reportou que cerca de metade

da biomassa ingerida era composta por mamíferos, além de sugerir oportunismo por

parte do predador. Apesar destes estudos sugerirem oportunismo na escolha de presas,

em nenhum dos casos foi testada estatisticamente a possível diferença entre a

abundância de pequenos mamíferos no ambiente e na dieta.

Diante do exposto, esse estudo tem como objetivos:

a) verificar a existência de uma possível resposta numérica de B. albicaudatus

frente à variação de abundância das principais presas no ambiente.

b) verificar a existência de uma possível resposta funcional de B. albicaudatus

frente às mudanças na abundância dos principais grupos de presas.

c) verificar estatisticamente as prévias proposições de oportunismo na dieta de B.

albicaudatus sugeridas por Stevenson & Meitzen (1946), Farquhar (1986) e

Kopeny (1988).

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2 – MATERIAL E MÉTODOS

2.1 – Área de estudo

A área de estudo onde foi desenvolvido o presente trabalho está descrita no

Capítulo 1.

2.1 – Análise da dieta

Os dados para esta abordagem foram apresentados no Capítulo 2.

2.2 – Abundância do predador.

O censo de B. albicaudatus foi realizado entre setembro de 2000 e setembro de

2001, mensalmente, utilizando-se o método de contagem por veículo em estradas (Fuller

& Mosher, 1981; 1987), definido por meio de rotas (Anderson et al., 1985; Verner, 1985;

Burnham et al., 1989). A busca foi efetuada nas manhãs (8 às 11 h e nas tardes (14 às

17 h), utilizando-se um veículo, com velocidade entre 20 e 25 km/h (Ellis et al., 1990;

Donázar et al., 1993). A contagem foi realizada em cinco rotas de 7 km (Figura 1), com

dois pesquisadores no veículo (Anderson et al., 1985; Ellis et al., 1990; Donázar et al.,

1993), sendo que um era responsável pela condução e o outro pela observação.

Ocasionalmente, parávamos para confirmar a identificação, principalmente quando o

indivíduo estava pousado e também quando indivíduos de fase preta voavam junto com

urubus. Os indivíduos foram censados com auxílio de binóculos Nikon e Pentax 8x45 e

10x50, e luneta Bushnnel 18x25x36.

Cada rota era distante uma da outra no mínimo dois quilômetros. Esse método é

amplamente utilizado para determinar abundâncias de aves de rapina diurnas em muitas

regiões do mundo (ver revisão em Ellis et al., 1990) e recentemente começou a ser

utilizado na América do Sul (Albuquerque et al., 1986; Ellis et al., 1990; Donázar et al.,

1993; Baumgarten, 1998).

Considerando que a região de realização do estudo compõe-se basicamente por

áreas abertas, essa técnica permite amostrar grandes áreas sem uma perda expressiva

na capacidade de detecção das aves (Ellis et al., 1990; Baumgarten, 1998). Áreas

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periféricas com vilarejos e estradas asfaltadas foram evitadas. As rotas foram escolhidas

de maneira a proporcionar uma maior cobertura da área e também que permitissem o

acesso durante todo o ano.

A rota a ser percorrida era determinada por meio de sorteio, sendo que os

horários eram fixos, a primeira rota sorteada era percorrida no primeiro horário, a

segunda rota no segundo horário e assim, sucessivamente. Todas as rotas foram

percorridas durante três dias sem chuva em cada amostragem, sendo o maior valor

obtido em um dos três dias, o índice da abundância mensal.

Objetivando verificar uma possível sazonalidade na abundância do gavião, os

registros mensais foram agrupados de acordo com a sua estação climática. Devido ao

fato de não ter sido possível haver amostragem no mês de novembro de 2000, cada

agrupamento contou seis meses.

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Figura 1. Imagem de satélite da área de estudo mostrando as rotas (linhas amarelas)utilizadas para realização do censo de B. albicaudatus.

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81

2.3 – Abundância das presas

Foram obtidas no ambiente as abundâncias dos principais itens alimentares

consumidos pelo gavião-do-rabo-branco. Posteriormente estas foram comparadas com os

valores obtidos, para estes mesmos itens, na análise das pelotas coletadas na área em

questão. Como recomendado por Jaksic (1979, 1989a, 1989b), procurou-se amostrar as

presas nos principais ambientes de caça do gavião, simultaneamente às coletas de

pelotas, assumindo que estas medidas correspondem às disponibilidades destas espécies

de presa no ambiente.

2.3.1 – Abundância dos pequenos mamíferos.

A amostragem de pequenos mamíferos foi obtida por meio de dois métodos: i)

captura em armadilhas do tipo gaiola (45x21x21 cm) (Figura 2) com isca suspensa; ii)

captura em armadilhas de interceptação e queda - pitfall (Figura 3). Nestas armadilhas

utilizou-se baldes de 36 litros (44 cm de profundidade e 39 cm de diâmetro) conectados

por uma cerca plástica de 50 cm de altura (tela plástica de construção civil), para

intensificar as capturas (Friend et al., 1989).

As gaiolas foram colocadas em oito estações de mesma fisionomia – áreas abertas

alteradas - distribuídas aleatoriamente na área. Cada estação continha 12 gaiolas,

distribuídas em três linhas paralelas, totalizando 96 gaiolas. A distância entre linhas foi de

30m e as gaiolas da mesma linha distavam 15m uma da outra (Figura 4). Como isca nas

armadilhas do tipo gaiola foi utilizado um composto que incluía banana, pasta de

amendoim, sardinha em óleo vegetal, farinha de milho e uma unidade de ração para cães

Frolic © (eg. Queirolo, 2001), com o intuito de atrair espécies de todos os hábitos

alimentares.

As armadilhas de interceptação e queda foram distribuídas em cinco estações, de

12 baldes cada, totalizando 60 baldes. Os baldes foram colocados nas mesmas distâncias

e na mesma disposição das gaiolas. A estação de interceptação e queda foi colocada

paralelamente à estação de gaiola, a uma distância de 30m (Figura 4).

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82

Figura 2. Armadilha do tipo gaiola (tamanho 45x21x21 cm).

M. A. Granzinolli

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Figura 3. Detalhe esquemático de um trecho de armadilha de interceptação e queda com cerca-guia. (a) representa a porção da tela enterrada. (b) representa os ganchos de arame que fixa a tela no solo.

M

. A. G

ranzinolli

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84

30 m

30 m

15 m

30 m

15 m

armadilhas de interceptação equeda

armadilhas do tipogaiola

------ cerca-guia de tela plástica

Figura 4. Esquema mostrando a disposição das armadilhas para captura de pequenos mamíferos no ambiente.

M

. A. G

ranzinolli

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85

O período de capturas desenvolveu-se de setembro de 2000 a setembro de 2001,

perfazendo 12 meses. Devido a problemas de logística não foi possível realizar

amostragem em novembro de 2000. O esforço total de captura foi de 2160 baldes-noite

e de 3456 gaiolas-noite. As amostragens foram feitas mensalmente, durante três dias

por visita. As vistorias, em ambos os tipos de armadilhas, eram feitas diariamente no

começo da manhã. Para cada indivíduo capturado eram coletadas as seguintes

informações: espécie, sexo, peso corporal, marcação, data, número da estação, número

da linha, número da armadilha e tipo de armadilha (gaiola ou interceptação seguida de

queda).

Os animais capturados foram marcados com perfurações nas orelhas, feitas com

perfurador de metal, permitindo uma posterior análise individual (Talamoni & Dias,

1999; Queirolo, 2001).

Para se obter a abundância dos pequenos mamíferos em cada mês foi

considerada apenas a primeira captura do mês, assim, recapturas dentro de uma mesma

amostragem não foram levadas em conta. Os animais cuja identificação não era possível

em campo foram levados ao Laboratório de Ecologia Trófica e ao Museu de Zoologia da

Universidade de São Paulo, para uma determinação mais segura. Também foram

conduzidos exames de cariótipo realizado pelo Laboratório de Citogenética da

Universidade de São Paulo. Todos os espécimes coletados neste trabalho foram

depositados na coleção de referência do Laboratório de Ecologia Trófica ou no Museu de

Zoologia da Universidade de São Paulo.

2.3.2 – Abundância de répteis e anfíbios

Para a captura e, consequentemente, a medida de abundância de répteis e

anfíbios foram utilizadas as mesmas armadilhas de interceptação e queda empregadas

na captura de roedores, durante o mesmo período, de acordo com Greenberg et al.

(1994) e Cechin & Martins (2000). Os répteis e anfíbios capturados foram identificados,

pesados e marcados com tinta atóxica. Recapturas dentro do mesmo mês também não

foram consideradas. Os indivíduos não identificados em campo foram coletados e

encaminhados a especialistas do Departamento de Ecologia da Universidade de São

Paulo e do Museu de Zoologia da mesma instituição para identificação.

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2.3.4 - Abundância de artrópodes.

Para abundância de artrópodes foram combinados os métodos de batidas com

rede entomológica e armadilhas de solo (Poulin & Lefebvre, 1992). No nosso caso, as

armadilhas de solo foram também as mesmas armadilhas de interceptação e queda

utilizadas para pequenos mamíferos, anfíbios e répteis. A batida com rede entomológica

foi realizada mensalmente, durante um dia, em cinco transecções de 200m,

determinadas aleatoriamente na área de estudo. As transecções usadas na primeira

viagem foram utilizadas durante todo o desenvolvimento do trabalho.

Com o intuito de determinar a variação de biomassa ao longo do ano, os

indivíduos capturados na rede entomológica foram coletados e colocados em álcool

70%. Ao chegar no laboratório, o líquido era escoado e os indivíduos eram colocados em

estufa a 60°C, durante 48 horas, para obtenção do peso seco (Motta-Junior, 1996).

A captura de artrópodes em armadilhas de solo também foi realizada

mensalmente, durante três dias, dentro da mesma vistoria dos vertebrados. Os

indivíduos capturados eram identificados medidos e/ou pesados. Consideramos

arbitrariamente, em ambos os tipos de armadilhas, apenas artrópodes maiores que 1,5

cm, já que indivíduos de tamanho muito pequeno não constituem item alimentar

freqüente na dieta do gavião (obs. pess.).

2.4 - Respostas numérica e funcional do gavião-do-rabo-branco

Para determinar a existência de uma possível resposta numérica e/ou funcional

do gavião-do-rabo-branco frente à variação mensal de suas presas no ambiente, ao

longo dos 12 meses de estudo foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearmam (rs

não-paramétrica, cf. Zar, 1996), conforme usado por Silva et al. (1995). Portanto, em

todas as correlações o N foi sempre igual a 12. Os cálculos foram realizados com o

auxílio do programa Statistica v. 5, para Windons e utilizou-se o nível de significância de

5% (á =0,05).

Com a intenção de complementar a interpretação da análise do consumo das

diferentes categorias de presas consumidas por B. albicaudatus realizou-se também uma

série de comparações, tanto em termos de número quanto de biomassa, entre os

principais grupos de itens alimentares. Para tal, foram utilizados os valores obtidos na

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dieta, buscando assim, verificar uma possível complementação ou substituição de um

item por outro. Neste caso, também foi utilizado o coeficiente de correlação de

Spearmam (rs). Outra análise adicional realizada foi a utilização de biomassa para a

verificação de uma possível resposta funcional na dieta. Trata-se de uma análise inédita,

e para este caso, foi confrontada a biomassa total dos indivíduos de um determinado

grupo amostrado no ambiente com a proporção da biomassa destes encontrada na

dieta.

2.5 – Seleção de espécies de presas

Buscando verificar uma possível seletividade de espécies de presas por parte do

gavião-do-rabo-branco, a abundância relativa dos pequenos mamíferos no ambiente foi

comparada com a incidência dessas presas na dieta por meio de teste de aderência,

segundo os procedimentos em Jaksic (1979, 1989a, 1989b), Bellocq (1987), Bellocq e

Kravetz (1994).

Seguindo Sokal & Rohlf (1969) e Jaksic (1989a), substitui-se o teste do qui-

quadrado de aderência, pelo teste G também de aderência. Este é similar ao qui-

quadrado, porém um pouco mais rigoroso. As freqüências observadas corresponderam

aos valores absolutos em que cada espécie de presa foi encontrada nas pelotas.

Enquanto as freqüências esperadas foram relativas ao valor total de presas presentes

nas pelotas, sendo calculadas a partir da proporção em que cada espécie foi capturada

nas armadilhas (Jaksic, 1979). Quando uma categoria apresentava valor esperado

inferior a um, esta era agrupada com outra, alcançando assim, um valor igual ou

superior a um (Zar, 1996). As hipóteses testadas foram: (Ho) não há diferença nas

freqüências observadas e esperadas de pequenos mamíferos e (H1) há diferença nas

freqüências (ocorre seleção ou rejeição). Para os cálculos foi utilizado o pacote

estatístico BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000). No caso de haver uma diferença

significativa, efetuou-se a análise de intervalos de confiança de Bonferroni, conforme

sugerido por Byers & Steinhorst (1984), com o fim de verificar separadamente como era

o consumo de cada espécie de presa.

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88

3 - RESULTADOS

3.1 – Avaliação da abundância do gavião-do-rabo-branco

Considerando a maior abundância dentro de cada amostragem, durante os doze

meses de censo foram anotados 145 registros do gavião-do-rabo-branco. O maior

número de registros foi obtido em julho de 2001 (n=17) e o menor em março de 2001

(n=6). Conforme pode ser observado na Figura 5, há um pico na abundância deste

gavião entre os meses de junho e agosto de 2001 e um decréscimo substancial no

período compreendido entre fevereiro e março. Quando os registros são agrupados por

estação climática, verifica-se que a estação seca compreende 91 avistamentos enquanto

a estação chuvosa responde por 54 avistamentos, revelando a existência de

sazonalidade na abundância de B. albicaudatus (G=11,425; p=0,04; g.l.=5) durante o

presente estudo.

Figura 5. Abundância de B. albicaudatus entre os meses de setembro de 2000 esetembro de 2001, no município de Juiz de Fora – MG.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

set out dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

abu

nd

ânci

a B

. al

bic

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atu

s

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3.2 – Avaliação da abundância das presas

3.2.1 - Pequenos mamíferos

Durante o período de amostragem foram capturados 417 indivíduos pertencentes

a 15 espécies. A armadilha do tipo gaiola, com um esforço total de 3456 armadilhas-

noite, capturou 155 indivíduos de nove espécies. Já a armadilha de interceptação e

queda, com um esforço total de 2160 armadilhas-noite, foi responsável pela captura de

262 indivíduos, pertencentes às 15 espécies registradas na área (Tabela 1). Três

espécies, Calomys tener, Oligoryzomys nigripes e Akodon lindberghi foram as mais

abundantes nas armadilhas de interceptação e queda, totalizando 90,8% (n=237). O

roedor C. tener foi a espécie mais abundante nos dois tipos de armadilhas (Tabela 1).

As outras duas espécies mais abundantes nas armadilhas de interceptação e queda, O.

nigripes e A. lindberghi, também ficaram entre as quatro espécies mais capturadas na

armadilha do tipo gaiola, porém, com suas posições alteradas (Tabela 1). Em relação a

sazonalidade na captura de pequenos mamíferos, tanto a armadilha do tipo gaiola

(61,3%; n=95) quanto à de interceptação e queda (75,6%; n=98) tiveram maiores

sucesso de captura na estação seca.

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Tabela 1. Número e porcentagem de pequenos mamíferos capturados pelas armadilhasde interceptação e queda e, do tipo gaiola no município de Juiz de Fora – MG, entresetembro de 2000 e setembro de 2001.

Tipo de armadilha

Espécie Interceptação e

queda

Gaiola Total

Número % Número % Número %

Akodon cursor 6 2,30 - - 6 1,44

Akodon lindberghi 52 19,92 44 28,39 96 23,08

Bibimys labiosus 2 0,77 - - 2 0,48

Blarinomys breviceps 1 0,38 - - 1 0,24

Bolomys cf. lasiurus 1 0,38 - - 1 0,24

Calomys tener 118 45,21 59 38,06 177 42,55

Didelphis marsupialis - - 7 4,52 - -

Gracilinanus agilis 3 1,15 1 0,65 4 0,96

Gracilinanus sp1 2 0,77 - - 2 0,48

Juliomys sp 1 0,38 - - 1 0,24

Oligoryzomys cf. flavescens 1 0,38 - - 1 0,24

Oligoryzomys nigripes 67 25,67 13 8,39 80 19,23

Oryzomys sp 3 1,15 4 2,58 7 1,68

Oxymycterus sp 1 0,38 25 16,13 26 6,28

Philander opossom - - 1 0,65 1 0,24

Thaptomys nigrita 1 0,38 - - 1 0,24

Rhagomys rufescens 2 0,77 - - 2 0,48

Silvilagus brasiliensis - - 1 0,65 1 0,24

Total 262 100,00 155 100,00 417 100,00

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Figura 6. Flutuação da abundância dos pequenos mamíferos segundo os dados dearmadilhas de interceptação/queda e armadilhas do tipo gaiola. Os dados foramcoletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora –MG.

3.2.2 – Répteis e anfíbios

As amostragens por meio de armadilhas de interceptação e queda capturaram

seis espécies de répteis, pertencentes às famílias Gimnophitalmidae, Anguidae, Scincidae

e Polychotidae (Tabela 2). Foram registrados no total 17 indivíduos, sendo que as

espécies Mabuia teniata e Ophiodes striatus foram as mais abundantes. Duas espécies,

Ecpleopus gandchandii e Enyalius perditus, foram representadas por dois indivíduos,

enquanto Heterodactilus umbricatus e Pantodactilus sp tiveram apenas um registro

(Tabela 2). O número de capturas na estação seca (n=9) foi muito próximo daquele da

estação chuvosa (n=8), indicando que não há dependência em relação a estação

climática (G=0,059; p>0,90).

Sessenta e dois indivíduos de anfíbios, pertencentes a seis espécies, foram

capturados, sendo Physalaemus cuvieri e Bufo crucifer as duas espécies mais

representativas (Tabela 2). A maioria das capturas (n=45) ocorreu na estação chuvosa,

indicando assim, uma sazonalidade na abundância de anfíbios (G=11,758; p < 0,001).

0

10

20

30

40

50

60

set out dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

meses

mer

o d

e in

div

ídu

os

gaiola intercepção e queda

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Tabela 2. Répteis e anfíbios capturados nas armadilhas de interceptação e queda entresetembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora – MG, com suasdistribuições por estação climática.

E. Seca E.Chuvosa Total

Número % Número % Número %

Répteis

Enyalius perditus 1 11,11 1 12,50 2 11,76

Heterodactylus umbricatus 1 11,11 - - 1 5,88

Ecpleopus gandichandii 1 11,11 1 12,50 2 11,76

Mabuya teniata 5 55,56 2 25,00 7 41,18

Ophiodes striatus - - 4 50,00 4 23,53

Pantodactylus sp 1 11,11 - 1 5,88

Total Répteis 9 100,00 8 100,00 17 100,00

Anfíbios

Bufo crucifer 3 17,65 13 28,89 16 25,81

Eleutherodactylus binotatus 1 5,88 6 13,33 7 11,29

Eleutherodactylus gr. guentheri - - 1 2,22 1 1,61

Hyla pardalis - - 2 4,44 2 3,23

Odontophrynus americanus - - 2 4,44 2 3,23

Physalaemus cuvieri 13 76,47 21 46,67 34 54,84

Total Anfíbios 17 100,00 45 100,00 62 100,00

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3.2.3 – Artrópodes

Nas armadilhas de solo foram capturadas oito ordens de artrópodes: Araneae

(Mygalomorphae e Araneomorphae); Orthoptera (Gryllidae e Acrididae); Julida (Julidae);

Chilopoda (Scolopendromorphae); Coleoptera (Scarabaeidae, Passalidae e

Cerambycidae); Homoptera; Blatodea (Blattidae) e Lepidoptera (representada

exclusivamente por larvas), totalizando 438 indivíduos. O grupo com maior número de

registros foi Araneomorphae (n=254; 58,0%). Lycosa foi o gênero mais abundante

(n=251; 98,8%) e apenas três indivíduos restantes de Phoneutria sp foram capturados.

Os outros grupos mais representativos foram Diplopoda (n=61; 13,31%), Gryllidae

(n=37; 8,4%), Lepidoptera (n=34; 7,8%) e Coleoptera (n=28; 6,4%) (Figura 7).

Separando os registros por estação climática, verifica-se que a estação chuvosa foi

responsável por 72,4% das capturas (n=317) e a estação seca por 27,6% das capturas

(n=121) de artrópodes, o que revela clara sazonalidade na abundância de artrópodes.

(G=86,816; p << 0,001).

Figura 7. Número de indivíduos de cada grupo de artrópodes capturados mensalmentenas armadilhas de interceptação e queda no município de Juiz de Fora – MG, durante operíodo de setembro de 2000 a setembro de 2001. Foram considerados apenasindivíduos com mais de 1,5 cm de comprimento (n=438 indivíduos capturados).

0

10

20

30

40

50

60

70

set out dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

meses

me

ro d

e i

ndiv

íduo

s

Homoptera

Chilopoda

Blatodea

Coleoptera

Lepidoptera

Orthoptera

Julida

Araneae

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A batida com rede entomológica nas cinco transecções capturou 1848 indivíduos,

representados pelas seguintes ordens: Orthoptera (Acrididae, Gryllidae e Tettigoniidae);

Mantodea; Odonata; Coleoptera (Cerambycidae); Lepidoptera; Hymenoptera (Apidae) e

Diptera (Muscidae e Asilidae). Este método mostrou-se eficiente principalmente na

captura da família Acrididae dentro da ordem Orthoptera, sendo esta responsável por

90,2% (n=1668) dos indivíduos capturados. Similarmente às armadilhas de solo, o maior

número de capturas acorreu na estação chuvosa (Tabela 3, Figura 8), evidenciando

também sazonalidade (G=356,788; g.l.=13; p<<0,001).

Tabela 3. Insetos capturados com batidas de rede entomológica no município de Juiz defora – MG, mostrando a distribuição de acordo com as estações climáticas do ano emtermos de número e porcentagem. Foram considerados apenas indivíduos com mais de1,5 cm de comprimento.

E. Seca E. Chuva Total

Número % Número % Número %

Acrididae 403 77,65 1118 84,06 1521 82,26

Gryllidae 34 6,55 102 7,67 136 7,36

Tettigoniidae 6 1,16 5 0,38 11 0,59

Mantodea 44 8,48 45 3,38 89 4,81

Odonata 5 0,96 20 1,50 25 1,35

Outros 27 5,20 40 3,01 67 3,62

Total 519 100,00 1330 100,00 1849 100,00

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95

Figura 8. Flutuação do número de indivíduos e da biomassa (g, em peso seco) dosinsetos capturados com batidas de rede entomológica nas cinco transecções. Os dadosforam coletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz deFora – MG.

0

5

10

15

20

25

30

35

set out dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

meses

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sa (g

)

0

50

100

150

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ídu

os

biomassa número de indivíduos

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3.3 - Resposta Numérica

Comparando-se a abundância dos pequenos mamíferos no ambiente com os

registros de Buteo albicaudatus, pode-se perceber que em nove dos doze meses

amostrados há uma sincronia nas variações (Figuras 9 e 10). Desta forma, foi

constatada uma resposta numérica do predador (rs=0,864; p<< 0,001) frente à variação

do grupo de presa mais importante na dieta, em termos de biomassa. Vale ressaltar, que

tanto a média dos registros do gavião-do-rabo-branco nos três dias de censo quanto o

somatório (obtido dos três dias de amostragens) também apresentaram uma correlação

altamente significativa. O valor da correlação obtido utilizando a média dos registros foi

idêntico ao valor da somatória (rs=0,908; p<< 0,001).

Figura 9. Abundâncias de pequenos mamíferos e B. albicaudatus, no município de Juizde Fora – MG, ao longo dos 12 meses de estudo.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

set out dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

meses

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Buteo pequenos mamíferos

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Figura 10. Relação da abundância dos pequenos mamíferos amostrados no ambiente pormeio de armadilhas de interceptação e queda com a abundância mensal de B.albicaudatus obtidos nas cinco rotas (rs=0,864; p<< 0,001). Os dados foram coletadosentre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora – MG.

3.4 – Resposta Funcional

Comparando a flutuação mensal da porcentagem do número de pequenos

mamíferos registrados na dieta com a disponibilidade de todos os pequenos mamíferos

no ambiente (amostragem da armadilha de interceptação e queda) verifica-se que não

há uma sincronia constante nas variações, estas só seguem as mesmas tendências em

cinco dos 12 meses (Figura 11). O resultado da correlação de Spearman mostra não

haver correlação significativa entre o número de indivíduos consumidos e a abundância

(disponibilidade) de presas no ambiente (rs=0,479; p=0,114).

02468

1012141618

0 10 20 30 40 50 60

pequenos mamíferos

B.

alb

icau

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us

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Figura 11. Flutuação da porcentagem do número de indivíduos de pequenos mamíferoscapturados no ambiente por meio de armadilhas de interceptação e queda (261indivíduos) e da porcentagem do número de pequenos mamíferos registrados naspelotas (dieta) de B. albicaudatus (293 indivíduos). Os dados foram coletados entresetembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora – MG.

Procedendo ao mesmo tipo de análise, no entanto, utilizando somente a

abundância dos cinco gêneros encontrados na dieta, também não ocorre resposta do

tipo funcional (rs=0,231; p=0,468) (Figura 12). A ausência de correlação também se

aplica às duas espécies de pequenos mamíferos mais abundantes no campo e na dieta

(Calomys tener e Oligoryzomys spp), analisadas em conjunto (rs=0,229; p=0,497), e

separadamente (rs Calomys =0,000; p=1,0) (rs Oligoryzomys = 0,083; p=0,796).

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Figura 12. Flutuação do número total de indivíduos dos cinco gêneros de pequenosmamíferos (Akodon, Calomys, Gracilinanus, Oligoryzomys, Oxymycterus) registrados nadieta de B. albicaudatus (176 indivíduos) e a variação do número de indivíduoscapturados no ambiente por meio de armadilhas de interceptação e queda (250indivíduos). Os dados foram coletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 nomunicípio de Juiz de Fora – MG.

Por outro lado, para os itens mais consumidos de invertebrados houve uma

correlação positiva e significativa no caso dos Orthoptera (rs=0,762; p<0,01) (Figura 13)

e dos Acrididae (rs=706; p<0,05) (Figura 14), o item com maior proporção de consumo

na dieta. De modo contrário, Araneae não apresentou correlação significativa (rs= -

0,4859; p=0,109) (Figura 15).

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Figura 13. Flutuação do número de indivíduos da ordem Orthoptera capturados no ambiente(1668 indivíduos) com rede entomológica e a proporção de Orthoptera registrada naspelotas (dieta) de B. albicaudatus (2393 indivíduos). Os dados foram coletados entresetembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora – MG.

Figura 14. Flutuação do número de indivíduos da Família Acrididae capturados no ambiente(1521 indivíduos) com rede entomológica e a porcentagem de Acrididae registrada naspelotas (dieta) de B. albicaudatus (2076 indivíduos). Os dados foram coletados entresetembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora – MG.

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Figura 15. Flutuação do número de indivíduos da Ordem Araneae capturados noambiente ( 252 indivíduos) por meio de armadilhas de interceptação e queda e aproporção Araneae registrada nas pelotas (dieta) de B. albicaudatus (184 indivíduos). Osdados foram coletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juizde Fora – MG.

Comparando-se as proporções do número de indivíduos consumidos dos

diferentes grupos de presas encontrados na dieta, observa-se que existe uma correlação

negativa e significativa entre Pequenos mamíferos e Orthoptera (Tabela 4; Figura 16).

Correlações não significativas, foram detectada entre Aves e Invertebrados e entre

Araneae e Orthoptera (Tabela 4). Nenhum tipo de associação significativa foi constatada

entre os diferentes grupos de vertebrados, quando comparados entre si (Tabela 4).

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Tabela 4. Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre a proporção do número deindivíduos das diferentes categorias de presas mais consumidas de B. albicaudatus nomunicípio de Juiz de Fora – MG, entre setembro de 2000 e setembro de 2001.

Categoria A Categoria B r s Probabilidade

Pequenos mamíferos Outros vertebrados 0,000 1,000

Pequenos mamíferos Aves + 0,153 0,633

Pequenos mamíferos Herpetofauna + 0,013 0,968

Pequenos mamíferos Orthoptera - 0,902 <<0,001

Aves Herpetofauna + 0,196 0,541

Aves Invertebrados - 0,167 0,602

Orthoptera Araneae - 0,232 0,467

Orthoptera Outros invertebrados - 0,690 < 0,05

Figura 16. Comparação entre a proporção do número de indivíduos de pequenosmamíferos e Orthoptera registrados na dieta de B. albicaudatus. Os dados foramcoletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora –MG.

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103

No outro tipo de abordagem, quando confronta-se os dados da biomassa total

dos pequenos mamíferos obtidos no campo com a porcentagem de biomassa encontrada

na dieta, constata-se que não há uma correlação significativa (rs=0,04; p=0,965).

Restringindo a análise apenas à porcentagem da biomassa dos cinco gêneros de

mamíferos encontrados na dieta, novamente verifica-se a ausência de correlação (rs =

0,263; p=0,433) (Figura 17). Esse resultado também foi obtido na análise das duas

espécies de maior representatividade de biomassa no campo e na dieta separadamente,

Calomys tener (rs=0,385; p=0,215) (Figura 18) e Oligoryzomys spp (rs=0,370;

p=0,235). No entanto, agrupando estas duas espécies percebe-se uma correlação

positiva marginalmente não significativa (rs=0,541; p=0,052) (Figuras 19 e 20).

Figura 17. Comparação da biomassa total dos cinco gêneros de pequenos mamíferos(Akodon, Calomys, Gracilinanus, Oligoryzomys, Oxymycterus) obtida no campo com aproporção de biomassa destes encontrada na dieta de B. albicaudatus. Os dados foramcoletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora –MG.

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Figura 18. Comparação da biomassa total de Calomys tener obtida no campo com aproporção da biomassa deste encontrada na dieta de B. albicaudatus. Os dados foramcoletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município de Juiz de Fora –MG.

Figura 19. Comparação da biomassa total de Calomys tener e Oligoryzomys spp obtidano campo com a proporção da biomassa destes encontrada na dieta de B. albicaudatus.Os dados foram coletados entre setembro de 2000 e setembro de 2001 no município deJuiz de Fora – MG.

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biomassa registrada no ambiente

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Figura 20. Relação da biomassa total de Calomys tener e Oligoryzomys spp obtida nocampo com a proporção da biomassa destes encontrada na dieta de B. albicaudatus.(rs=0,541; p=0,052). Os dados foram coletados entre setembro de 2000 e setembro de2001 no município de Juiz de Fora – MG.

Por último, confrontando-se os dados de biomassa estimada na dieta das

diferentes categorias verifica-se a existência de correlação negativa significativa entre

pequenos mamíferos e outros vertebrados (Figura 21 e 22, Tabela 5) e entre pequenos

mamíferos e aves (Figura 23; Tabela 5). Outros dois cruzamentos envolvendo pequenos

mamíferos também apresentaram correlação negativa, porém não significativa (Tabela

5). Correlação positiva foi detectada em três outras comparações. No entanto, apenas a

correlação entre Orthoptera e outros invertebrados mostrou-se estatisticamente

significativa (Tabela 5).

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Tabela 5. Coeficiente de correlação de Spearman (rs) da proporção de biomassaconsumida estimada entre as diferentes categorias de presas mais importantes de B.albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, entre setembro de 2000 e setembro de2001.

Categoria A Categoria B r s Probabilidade

Pequenos mamíferos Outros vertebrados - 0,778 < 0,01

Pequenos mamíferos Aves - 0,601 < 0,05

Pequenos mamíferos Herpetofauna - 0,529 0,076

Pequenos mamíferos Orthoptera - 0,538 0,070

Aves Herpetofauna + 0,210 0,511

Orthoptera Araneae + 0,246 0,439

Orthoptera Outros invertebrados + 0,587 < 0,05

Figura 21. Comparação da proporção de biomassa consumida estimada entre pequenosmamíferos e outros vertebrados na dieta de B. albicaudatus no município de Juiz de Fora– MG, entre setembro de 2000 e setembro de 2001.

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Figura 22. Relação da proporção de biomassa consumida estimada entre pequenosmamíferos e outros vertebrados na dieta de B. albicaudatus no município de Juiz de Fora– MG, entre setembro de 2000 e setembro de 2001. (rs = - 0,778; p <0,01).

Figura 23. Comparação da proporção de biomassa consumida estimada entre pequenosmamíferos e aves na dieta de B. albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, entresetembro de 2000 e setembro de 2001.

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aves pequenos mamíferos

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Figura 24. Comparação da proporção de biomassa consumida estimada entre Orthopterae outros invertebrados na dieta de B. albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG,entre setembro de 2000 e setembro de 2001.

3.5 - Seleção de presas

Dos 12 gêneros capturados pelas armadilhas de interceptação e queda (ver

Tabela 1) apenas cinco (Calomys, Akodon, Oligoryzomys, Oxymycterus, Gracilinanus)

foram registrados na dieta de gavião-do-rabo-branco. Comparando-se a abundância total

dos diferentes gêneros ou espécies de pequenos mamíferos capturados no ambiente e

sua incidência total na dieta (Tabela 6), foi constatada uma diferença nas freqüências

(G=32,432; g.l.=3; p<< 0,001), indicando a existência de seleção e/ou rejeição por

parte do predador.

Com o cálculo dos intervalos de confiança de Bonferroni constata-se que Calomys

tener (Figura 25) foi selecionado enquanto Akodon spp (Figura 26) foram rejeitados ou

evitados por parte do gavião (tabela 7). Os outros três gêneros, Oligoryzomys,

Oxymycterus e Gracilinanus, foram consumidos em proporções que se enquadram

dentro dos intervalos de confiança de Bonferroni, indicando um consumo semelhante à

proporção encontrada no ambiente (Tabela 7).

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Figura 25. Calomys tener, espécie de roedor mais abundante na área de estudo eselecionada pelo B. albicaudatus.

S. C. Belentani

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110

Figura 26. Akodon lindberghi, espécie responsável por 95% das capturas do gênero eprovavelmente evitada pelo B. albicaudatus.

J. C

. Motta-Junior

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Tabela 6. Análise da seleção de pequenos mamíferos por Buteo albicaudatus nomunicípio de Juiz de Fora – MG, entre setembro de 2000 e setembro de 2001. Osvalores absolutos da dieta correspondem ao número total de indivíduos observados naspelotas e os valores para o ambiente são derivados das proporções do número total deindivíduos capturados nas armadilhas.

Presas Observado (pelota) Esperado (armadilha)

Akodon spp 17 40,83

Calomys tener 113 83,07

Oligoryzomys spp 38 47,87

Oxymycterus sp 3 0,70

Gracilinanus spp 5 3,52

Total 176 176,00

G = 32,432 (gl = 3); P << 0,0001. Nota: para o cálculo do teste G agrupou-se Oxymycterus spcom Gracilinanus spp.

Tabela 7. Intervalos de confiança de Bonferroni com as proporções de uso observado,esperado e a indicação de seleção e/ou rejeição de pequenos mamíferos por parte de B.albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, entre setembro de 2000 e setembro de2001.

Presa Proporção de uso

Observado (P i)

Proporção de uso

esperado (P io)

Intervalos de

Bonferroni para Pi

Tendência

consumo

Akodon spp 0,097 0,232 0,039 ≤ pi ≤ 0,153 evita *

Calomys tener 0,642 0,472 0,548 ≤ pi ≤ 0,735 seleciona*

Oligoryzomys spp 0,216 0,272 0,136 ≤ pi ≤ 0,295 não seletivo

Oxymycterus sp 0,017 0,004 0,000 ≤ pi ≤ 0,042 não seletivo

Gracilinanus spp 0,021 0,020 0,000 ≤ pi ≤ 0,060 não seletivo

Total 1,000 1,000

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Efetuou-se também a comparação entre as proporções das abundâncias das

presas amostradas no ambiente em cada uma das estações com seus respectivos

registros nas pelotas referentes a estas. Para a estação seca (G=52,073; g.l.=3; p

<<0,0001) (Tabela 8), encontra-se diferenças significativas entre a proporção verificada

no ambiente e a proporção no consumo. Conforme ocorreu com a análise dos dados da

dieta anual, o intervalo de confiança de Bonferroni revela que Calomys tener foi

consumido em proporção maior e Akodon spp em proporção menor do que as

esperadas, respectivamente (Tabela 9). Na estação chuvosa, não houve diferença nas

proporções de esperado versus observado (G=7,679; g.l.=4; p>0,05) (Tabela 10),

indicando que há um consumo semelhante ao disponível no ambiente por parte do

predador. Esta igualdade também é confirmada quando se procede a análise do

intervalo de confiança de Bonferroni (Tabela 11).

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Tabela 8. Análise da seleção de pequenos mamíferos por B. albicaudatus na estaçãoseca no município de Juiz de Fora - MG. Os valores absolutos da dieta correspondem aonúmero de indivíduos observados nas pelotas e os valores para o ambiente sãoderivados das proporções do número de indivíduos capturados nas armadilhas deinterceptação e queda.

Presas Observado (pelota) Esperado (armadilha)

Akodon spp 11 33,47

Calomys tener 95 59,10

Oligoryzomys spp 24 41,30

Oxymycterus sp 2 0,71

Gracilinanus spp 4 1,42

Total 136 136,00

G = 52,073; (gl = 3); P << 0,0001. Nota: para o cálculo do teste G agrupou-se Oxymycterus spcom Gracilinanus spp.

Tabela 9. Intervalos de confiança de Bonferroni com as proporções de uso observado,esperado e a indicação de seleção e/ou rejeição de pequenos mamíferos por parte de B.albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, na estação seca.

Presa Proporção de uso

Observado (Pi)

Proporção de uso

esperado (Pio)

Intervalos de

Bonferroni para Pi

Tendência

consumo

Akodon spp 0,081 0,304 0,020 ≤ pi ≤ 0,141 evita *

Calomys tener 0,699 0,435 0,597 ≤ pi ≤ 0,799 Seleciona*

Oligoryzomys spp 0,176 0,246 0,092 ≤ pi ≤ 0,260 não seletivo

Oxymycterus sp 0,015 0,005 0,000 ≤ pi ≤ 0,041 não seletivo

Gracilinanus spp 0,029 0,010 0,000 ≤ pi ≤ 0,066 não seletivo

Total 1,000 1,000

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Tabela 10. Análise da seleção de pequenos mamíferos por B. albicaudatus na estaçãochuvosa no município de Juiz de Fora – MG. Os valores absolutos da dieta correspondemao número de indivíduos observados nas pelotas e os valores para o ambiente sãoderivados das proporções do número de indivíduos capturados nas armadilhas deinterceptação e queda.

Presas Observado (pelota) Esperado (armadilha)

Akodon spp 6 7,46

Calomys tener 18 23,73

Oligoryzomys spp 14 6,78

Oxymycterus sp 1 -

Gracilinanus spp 1 2,03

Total 40 40,00

G = 7.679; gl = 3; P > 0,05. Nota: para o cálculo do teste G agrupou-se Oxymycterus sp com

Gracilinanus spp.

Tabela 11. Intervalos de confiança de Bonferroni com as proporções de uso observado,esperado e a indicação de seleção e/ou rejeição de pequenos mamíferos por parte de B.albicaudatus no município de Juiz de Fora – MG, na estação chuvosa.

Presa Proporção de uso

Observado (Pi)

Proporção de uso

esperado (Pio)

Intervalos de

Bonferroni para Pi

Tendência

consumo

Akodon spp 0,150 0,187 0,004 ≤ pi ≤ 0,295 não seletivo

Calomys tener 0,450 0,593 0,247 ≤ pi ≤ 0,652 não seletivo

Oligoryzomys spp 0,350 0,170 0,155 ≤ pi ≤ 0,544 não seletivo

Oxymicterus sp 0,025 0,000 0,000 ≤ pi ≤ 0,088 não seletivo

Gracilinanus spp 0,025 0,050 0,000 ≤ pi ≤ 0,088 não seletivo

Total 1,000 1,000

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115

4 - DISCUSSÃO

4.1 - Presas

O ciclo de abundância registrado para os pequenos mamíferos, em especial

roedores, concorda com a maioria dos estudos realizados na região sudeste do Brasil, ou

seja, maior abundância na estação seca (eg. Vieira, 1997; Motta-Junior, 1996; Talamoni

& Dias, 1999). Dois outros estudos realizados no Estado de Minas Gerais (Belentani,

2001; Queirolo, 2001) também revelaram que os roedores, em geral, apresentaram

padrão sazonal de abundância semelhante ao encontrado no presente estudo.

O maior número de registros de anfíbios na estação chuvosa concorda com o

típico padrão sazonal da maioria dos membros desse grupo (ver Duellman & Trueb,

1985). De acordo com estes autores o ciclo reprodutivo e, consequentemente, a

abundância da maioria dos anfíbios depende diretamente das condições climáticas.

Assim, a maior precipitação e temperatura na estação chuvosa, na área em questão,

pode ter determinado o padrão sazonal esperado.

Variáveis ambientais como temperatura, umidade e disponibilidade de alimento

podem afetar a abundância de lagartos (Andrews, 1976; Ballinger, 1977; Tinkle et al.,

1993). Entretanto, conforme verificado por Vrcibradic & Rocha (1998), no trabalho

realizado no sudeste do Brasil, há uma maior abundância na estação chuvosa.

Contrariamente ao verificado pelos referidos autores, não foi encontrada sazonalidade

nas abundâncias dos lagartos da área em questão. Tal fato pode estar relacionado com

o baixo número de capturas e ao grau de degradação da região, ou mesmo por outros

fatores ambientais (Sluys, 1998).

A ausência de capturas de serpentes pode estar associado ao tamanho do

recipiente utilizado no presente estudo. De acordo com Cechin & Martins (2000), a altura

do recipiente pode influenciar no tamanho máximo dos indivíduos capturados, bem

como, na taxa de captura. Uma outra proposição dos autores acima revela que o

número de capturas de serpentes, por meio de armadilhas de interceptação e queda, é

bem menor quando comparado a anuros e lagartos.

O aumento da abundância de artrópodes na estação chuvosa e seu declínio em

períodos mais secos é um padrão também observado em outros estudos no sudeste do

Brasil (Motta-Junior, 1996; Brandão, 1999; Develey & Peres, 2000; Manhães, 2000) e

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116

em outras áreas neotropicais (Buskirk & Buskirk, 1976). Dessa forma, parece que há um

padrão de abundância em regiões com estações seca e chuvosa bem definidas,

concordando assim, com a sazonalidade verificada em nosso trabalho.

4.2 - Resposta Numérica

As flutuações temporais das populações de aves de rapina dependem da

interação de fatores como recrutamento e mortalidade e das variações destas. A

abundância de alimento é um dos principais fatores que pode influenciar estes

movimentos que, por sua vez, podem proporcionar dispersão, deslocamentos regionais e

migrações (Newton, 1979; Grant et al., 1991; Jaksic et al., 1992; del Hoyo et al., 1994).

A variação encontrada na abundância do gavião-do-rabo-branco em nosso

trabalho revelou uma associação significativa com a flutuação da abundância dos

pequenos mamíferos, caracterizando uma resposta funcional. Estudos referentes à

ecologia de aves de rapina indicam consistentemente que a densidade destes

predadores depende do suprimento de presas (ver Craighead & Craighead, 1956;

Schenell, 1967; Korpimaki & Norrdahl, 1991; Falkenberg et al., 2000). Craighead &

Craighead (1956), por exemplo, estudando seis espécies de aves de rapina no sudeste

de Michigan constatou uma sincronia entre as flutuações de roedores da Família Muridae

com cinco delas. Inclusive, três espécies do gênero Buteo (B. jamaicensis, B. lagopus, B.

lineatus) estavam entre as cinco que apresentaram sincronia com os roedores.

Em um estudo no Chile, onde foram analisadas as estações reprodutiva e não

reprodutiva, Jaksic et al. (1993) verificaram que Parabuteo unicinctus, Geranoaetus

melanoleucus e Buteo poliosoma tiveram uma diminuição de suas abundâncias, quando

houve uma queda na abundância dos pequenos mamíferos. Apesar desta diminuição,

tais espécies permaneceram na região, igualmente ao registrado em nosso estudo para

B. albicaudatus. Estas flutuações sazonais nas abundâncias de aves de rapina não-

migratórias parecem ser comuns na região Neotropical (ver Hayes, 1991; Jaksic et al.,

1992; Rivera-Milán, 1995). Segundo Jaksic & Braker (1983), essa sincronia pode ser

explicada pelo caráter oportunista das aves de rapina, pois quando não há alimento

disponível estas simplesmente vão para outro lugar. Logo, a disponibilidade de recurso

alimentar poderia determinar a variação populacional de uma espécie de rapineiro

localmente.

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117

Dentro dessa mesma linha, Newton (1979) reporta que a flexibilidade na

concentração de indivíduos de uma mesma espécie em uma determinada área pode ser

influenciada, principalmente, pela disponibilidade de recursos. De acordo com o referido

autor, o território de caça é determinado especialmente pela quantidade de alimento.

Quando o recurso é abundante, a área usada para a caça é menor e ocorrem poucos

deslocamentos regionais. De forma contrastante, em períodos de menor disponibilidade

de alimento, há uma expansão dessa área de forrageamento, um maior número de

deslocamentos regionais e migrações. Essas diferentes estratégias podem representar

um ajustamento progressivo em relação à variação na abundância das presas (Newton,

1979), podendo assim, explicar a maior abundância do gavião-do-rabo-branco no

período de maior disponibilidade de pequenos mamíferos.

As maiores abundâncias de B. albicaudatus coincidem com o período de

reprodução da maioria das espécies de Falconiformes na região Neotropical (del Hoyo et

al., 1994; Baumgarten, 1998, Granzinolli et al., 2002). No caso específico do gavião-do-

rabo-branco, a reprodução ocorre na estação seca (Baumgarten, 1998; M. Granzinolli

obs. pess.). Adicionalmente, podemos constatar que tanto no estudo realizado no Chile

quanto no nosso trabalho, a reprodução e as maiores abundâncias dos predadores

coincidem com o período que apresenta maior número de presas, enquanto que as

menores abundâncias correspondem com o período de escassez de alimento

(considerando pequenos mamíferos como principal categoria energética). Tal fato

corrobora as proposições de Newton (1979), que relata uma possível adaptação

evolutiva temporal entre recurso alimentar e reprodução, indicando que a disponibilidade

de recursos pode determinar o período reprodutivo das espécies de aves de rapina.

Apesar de Korpimaki & Norrdahl (1991) sugerirem que em áreas temperadas

ocorre uma forte resposta numérica e na região tropical o mais provável seria uma

resposta funcional, por parte das aves de rapina, nosso estudo revelou uma forte

resposta numérica (vide Figura 9). Além do trabalho supracitado no Chile, encontramos

também na África alguns outros casos de resposta funcional por parte dos Falconiformes

(Thiolay, 1978 apud Newton, 1979). De acordo com este autor, há uma forte correlação

entre a abundância de 11 espécies de aves de rapina insetívoras e a disponibilidade de

gafanhotos. Um outro estudo também no continente africano (Smeenk, 1974), revela

que em anos de maior precipitação, onde consequentemente há um maior número das

presas principais, há uma maior abundância de rapineiros.

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118

4.3 - Resposta Funcional

As disponibilidades das presas principal e alternativa, a flexibilidade na mudança

de presa e a competição interespecífica por alimento, interferem na resposta funcional

do predador (Andersson & Erlinge, 1977; Korpimaki, 1987). O tipo de caça adotado por

parte do predador é um outro fator que pode influenciar na resposta funcional (White,

1962; Goslow, 1971; Steenhof & Kochert, 1988).

Semelhante ao registrado em outros estudos com aves de rapina (eg. Steenhof &

Kochert, 1988; Korpimaki & Norrdahl, 1991; Jaksic et al., 1993, Restani et al., 2000;

Poulin et al., 2001), o gavião-do-rabo-branco apresentou resposta funcional em relação

à categoria de presa mais abundante na dieta, tanto para Ordem quanto para Família

(Orthoptera e Acrididae). De acordo com del Hoyo et al. (1994), a maioria das aves de

rapina é oportunista, capturando a presa mais abundante e mais acessível. Dessa forma,

podemos considerar que esta resposta pode estar relacionada com um possível

comportamento oportunista do gavião. Isto sugere, que Orthoptera, em sua maioria

representada por Acrididae, é consumida de acordo com sua disponibilidade no

ambiente. A maioria dos membros desta família de insetos possui atividade diurna em

áreas abertas (Borror & de Long, 1964; obs. pess.), similarmente ao predador.

Adicionalmente, podemos inferir que se trata de um grupo de presas relativamente

bastante vulnerável, podendo ser apanhado sob a vegetação ou em pleno vôo.

Diferentemente das presas não voadoras (como por exemplo, roedores), esse grupo

pode ser capturado pelos dois principais métodos de caça do gavião (cap. 1), o que de

certa forma pode contribuir para o oportunismo.

A ausência de resposta funcional para a relação do número de pequenos

mamíferos no ambiente e na dieta pode ser explicada pelo caráter seletivo de B.

albicaudatus (ver seletividade) e com a necessidade distinta de energia entre os

diferentes períodos do ano (Newton, 1979). No período reprodutivo há uma maior

necessidade de energia, podendo assim, levar os predadores a capturarem presas mais

valorosas energeticamente e não necessariamente as mais abundantes (Korpimäki,

1985; Iriarte et al., 1989; Jaksic, 1989a; Bellocq, 1998).

A utilização diferenciada de hábitats e microhábitats também pode afetar o

número de encontros aleatórios entre predador e presa, independentemente de sua

abundância no ambiente (Endler, 1991). No entanto, a utilização de diferentes

microhábitats por distintos grupos de presas pode influenciar na resposta funcional.

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Dessa maneira, a utilização de microhabitats diferentes entre Orthoptera e pequenos

mamíferos pode ser também um dos fatores a interferir na resposta funcional.

A comparação realizada entre as proporções numéricas das diferentes categorias

de presas revelou a existência de uma correlação negativa significativa entre o principal

grupo de invertebrados (Orthoptera) e principal grupo de vertebrados (pequenos

mamíferos). Isto pode ser interpretado como um comportamento oportunista frente à

disponibilidade dos diferentes grupos de presas ao longo do ano, seguindo as tendências

das abundâncias de cada grupo.

O resultado da comparação entre os grupos de presas, originados dos dados de

biomassa, demonstrou que existe uma complementação entre pequenos mamíferos e

outros vertebrados (aves, répteis e anfíbios) e também entre pequenos mamíferos e

aves. Esse resultado pode indicar uma possível compensação no consumo de biomassa

originada de proteína animal, demonstrando que há uma complementação por meio de

presas alternativas de vertebrados em substituição ao principal grupo de presa. Dentro

dessa abordagem, podemos inferir que aves parece ser um importante grupo de presa

alternativa, sendo capturado principalmente como substituição a pequenos mamíferos.

Por outro lado, a correlação positiva entre Orthoptera e outros invertebrados pode

fortalecer o indício da maior necessidade de proteína animal e/ou presas maiores em um

determinado período. Logo, no período de menor necessidade de energia, os

invertebrados seriam mais capturados. A flexibilidade na dieta de rapineiros é relatada

por Marti & Houge (1979), os quais ressaltam que em condições de baixa abundância ou

maior necessidade de energia, tais predadores podem mudar os métodos de caça.

Diante deste contexto, sugere-se que as complementações e o consumo diferenciado de

grupos distintos pode estar relacionado com a capacidade de utilização vários métodos

de caça por parte de B. albicaudatus.

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4.4 – Seleção de espécies

A relação entre os custos envolvidos na captura e no manuseio da presa e o

benefício energético obtido é amplamente utilizada para explicar o oportunismo ou

seletividade. Neste caso, o predador capturaria a presa com maior valor energético e

não a mais abundante. Uma outra presunção alternativa considera que as presas são

apanhadas de acordo com suas abundâncias no ambiente (Jaksic et al., 1981; Jaksic,

1986). No presente estudo, constata-se que no período de maior abundância de

pequenos mamíferos (estação seca), ocorreu uma seletividade por parte do gavião.

Entretanto, na época com menor abundância desses pequenos mamíferos (estação

chuvosa), houve um oportunismo por parte do predador. Estes resultados suportam as

hipóteses de Lack (1946) e Emlen (1966), os quais reportam que o predador é seletivo

quando o alimento é abundante e oportunista quando o recurso é escasso. Isto sugere

que o gavião-do-rabo-branco explora seus recursos dependentemente da quantidade de

seus recursos alimentares. Dessa forma, pelo menos para a área de estudo em questão,

a abundância de pequenos mamíferos pode determinar o comportamento seletivo ou

oportunista de B. albicaudatus.

A seleção de presas não é conseqüência apenas da energia que pode ser obtida,

mas também do sucesso do predador para encontrar, manusear e consumir cada tipo de

presa (Sih, 1985). Endler (1991) enfoca que o sucesso da predação segue uma

seqüência de estágios: detectar, identificar, aproximar, subjugar e consumir a presa. A

preferência pode ser conseqüência das diferenças entre as diversas presas em um

destes estágios (Sih, 1993). Tais diferenças podem ser geradas tanto pela morfologia

e/ou comportamento da presa quanto do predador (Endler, 1991; Corley et al., 1995).

A alta predação sobre C. tener pode estar relacionada com sua maior

vulnerabilidade (Corley et al., 1995). Estudos realizados enfocando a ecologia alimentar

de corujas no sudeste do Brasil (Motta-Junior 1996), mostraram que este pequeno

roedor é o mais predado, mesmo não sendo o mais abundante no ambiente, o que

sugere uma alta vulnerabilidade. Belentani (2001), analisando a seleção de presas por

parte do lobo-guará em uma localidade do Triângulo Mineiro, constatou que as espécies

do gênero Calomys (C. callosus e C. tener) são consumidas em proporções maiores do

que o esperado. Esta espécie é aparentemente terrícola e não apresenta habilidades

para escavar buracos (Eisenberg & Redford 1999; Nowak 1999). Por outro lado, segundo

Emmons (1990), as espécies do gênero Akodon podem caminhar em túneis sob a

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serapilheira e fazer ninhos em buracos no solo. Assim, essas habilidades demonstradas

por Akodon spp quando, comparadas a C. tener, possivelmente permitem uma maior

eficiência de escape e/ou proteção perante a predação do gavião-do-rabo-branco.

Em um outro estudo no Estado de Minas Gerais, englobando a ecologia alimentar

do lobo-guará, Queirolo (2001) constatou que mesmo sendo a segunda espécie mais

abundante no ambiente, A. lindberghi não foi consumida por este predador. Isso reforça

a menor vulnerabilidade desta espécie em relação às outras espécies de presas, o que

pode ser proveniente de diferenças comportamentais e/ou morfológicas.

A seletividade da presa mais abundante na estação seca, período que coincide

com a época da reprodução do gavião, pode fortalecer a hipótese de seleção como

maximização de energia obtida. Uma das formas de maximizar a energia seria a seleção

de espécies de maiores tamanhos dentro da possibilidade de manuseio do predador

(Krebs & Davies, 1987), como ocorre, por exemplo, com Tyto alba na Argentina (Bellocq,

1998). Entretanto, esse fator parece não ser determinante, pois C. tener e A. lindberghi

apresentaram pesos médios similares (ver Apêndice 1). Novamente, podemos inferir que

a seletividade pode ser conseqüência da maior vulnerabilidade por parte de C. tener.

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CAPÍTULO 4

Considerações Finais

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Os dados obtidos neste trabalho demonstram que, para o sudeste brasileiro, o

gavião-do-rabo-branco (Buteo albicaudatus albicaudatus) é uma espécie polífaga,

consumindo sete ordens de invertebrados e cinco ordens de vertebrados representadas

por 31 espécies/morfoespécies. Das 12 ordens integrantes da dieta, seis não estão

descritas na literatura.

Em termos de número de indivíduos consumidos, os invertebrados compõe a

maior parte da dieta do gavião-do-rabo-branco, sendo os Acrididae (gafanhotos)

responsáveis por 63% das presas, o item mais importante na dieta. Entretanto,

tróficamente, o gavião pode ser classificado como insetívoro.

Quando a análise é feita em relação à biomassa de presas consumidas, verifica-

se uma inversão na representatividade dos diferentes itens da dieta. Neste caso os

vertebrados são responsáveis pela maior porção da dieta, com os roedores constituindo

mais da metade da biomassa ingerida. A referida abordagem permite classificar o

gavião-do-rabo-branco como carnívoro, revelando os itens que em termos de aporte

energético realmente são os mais importantes. Tal abordagem é ainda pouco utilizada

em trabalhos com Falconiformes.

A grande maioria das presas capturadas pelo gavião-do-rabo-branco é de

pequeno porte (< 21 g), 95% em termos de biomassa e 99% em termos de número.

O valor da amplitude trófica, para as 31 espécies/morfoespécies, revela que em

termos quantitativos (número e biomassa) o gavião-do-rabo-branco consome poucos

itens em altas proporções e muitos em baixas proporções. Os valores obtidos para estes

itens, nas referidas estações climáticas, não apresentaram diferença estatística. Esta

semelhança indica que o gavião apresenta uma dieta especialista ao longo de todo o

ano. No entanto, quando procede-se à análise dos sete grupos funcionais (em termos de

biomassa) foi revelada diferença estatística em relação à estação, indicando uma dieta

com tendência generalista na estação chuvosa e especialista na estação seca.

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132

Sazonalmente, o gavião-do-rabo-branco explora seus recursos de acordo com a

estação climática. Cinco das nove categorias analisadas apresentaram dependência de

consumo quanto à estação climática. Em geral houve oportunismo temporal na dieta,

visto que quando certos itens eram mais abundantes/ativos no ambiente, eram também

mais consumidos.

O gavião-do-rabo-branco mostrou uma forte resposta numérica em relação ao

principal grupo de presa em termos de biomassa (pequenos mamíferos). Estudos

referentes à ecologia das aves de rapina indicam que a densidade desses predadores

depende do suprimento de presas. Essa flexibilidade na concentração dos gaviões na

localidade estudada pode ser resultado de: a) uma expansão da área de forrageamento,

b) deslocamentos regionais, ou c) pelo conjunto estação reprodutiva/maior

disponibilidade de recurso alimentar; determinados pela abundância das presas.

Este gavião apresentou uma resposta funcional para o principal item da dieta

(Acrididae). Dessa forma, pode-se considerar que esta resposta esteja relacionada ao já

mencionado comportamento oportunista temporal do gavião, sugerindo que tais

recursos sejam consumidos de acordo com sua disponibilidade no ambiente.

A correlação negativa e significativa apresentada entre o consumo de pequenos

mamíferos e outros vertebrados, e entre pequenos mamíferos e aves sugerem uma

possível complementação de proteína de carne animal. Aves e outros vertebrados podem

ter sido utilizados em substituição a pequenos mamíferos, indicando assim, a

necessidade de um aporte constante de proteína.

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Os padrões de oportunismo e seletividade exibidos pelo gavião-de-rabo-branco

também foram dependentes da estação do ano. Esse gavião selecionou Calomys tener e

rejeitou Akodon spp apenas na estação seca, período de maior abundância dos roedores.

Estes resultados suportam as hipóteses elaboradas por outros autores, que salientam

que o predador é seletivo quando o alimento é abundante e oportunista quando o

recurso é escasso. Dessa forma, a abundância de roedores pode determinar o

comportamento seletivo ou oportunista de B. albicaudatus, pelo menos para a área

estudada.

A avaliação da dieta ao longo do ano, fato inédito pelo menos para o gênero

(pois a maioria dos estudos analisa a dieta apenas no período reprodutivo), mostra a

importância deste tipo de análise no entendimento das relações ecológicas. Conforme

evidencia-se neste estudo, o predador apresenta exploração de recurso alimentar e/ou

determinados comportamentos dependentemente da estação climática.

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134

Apêndice 1. Lista das espécies/morfoespécies e dos grupos de presas encontrados nadieta do gavião-do-rabo-branco, com a média de seus pesos corporais adotada naanálise de biomassa estimada, com indicação de origem e o número de indivíduosconsiderados na obtenção da média. Origem dos dados: área (área do estudo emquestão); (1) Motta-Junior(1996); (2) Marini et al. (1997) e Sick (1997); (3) AdrianaBueno (dados não publicados); esp. (consulta a especialista).

Espécie/morfoespécie ougrupo

Biomassaestimada (g)

N indivíduosanalisados

Origem dos dados

Arachnida 0,48 75 áreaAcrididae pequeno 0,26 50 áreaAcrididae médio 0,76 50 áreaAcrididae grande 1,17 50 áreaTettigoniidae 0,77 50 áreaGryllidae 0,83 50 áreaMantodea 0,65 14 áreaOrthoptera n. ident. 0,6 50 áreaBlatodea 1,96 3 área + (1)Scarabaeidae 0,83 27 áreaCarabidae 0,65 - (1)Passalidae 0,65 - (1)Coleoptera n. ident. 0,65 - (1)Vespoidea 0,015 100 (1)Formicidae 0,2 - (1)Cydimidae 0,17 - (1) + esp.Aeshinidae 0,28 (1)Termitidae (operários) 0,06 100 (1)Lepidoptera (larva) 1,0 - esp.Hylidae 8 4 área + esp.Colubridae 16 - esp.Anguidae 18,2 19 museu unicampPasseriformes peq-peq. 10 - (2)Passeriformes médio 20 - (2)Aves médio-médio 43 - (2)Aves médio-grande 72 - (2)Gracilinanus spp. 20 50 área + (3)Calomys tener 11,95 152 áreaAkodon spp 13,25 75 áreaOligoryzomys spp 11,05 80 áreaOxymycterus sp 72,8 20 áreaMuridae n. ident. 12 392 áreaChiropetra 60 36 (1)

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Apêndice 2. Lista sistemática das presas encontradas nas pelotas do gavião-do-rabo-branco, com indicação de número, biomassa total (g) e porcentagem de biomassa consumida. Os dados estão apresentados por estação climática e dieta total.

Itens alimentares Chuva Seca TotalNum BioTotal %Bio Num BioTotal %Bio Num BioTotal %Bio

Arachnida Aranaemorphae 26 12.48 0.59 158 75.84 1.49 184 88.32 1.23Orthoptera Acrididae pequeno 179 46.54 2.19 636 165.36 3.26 815 211.90 2.94

Acrididae médio 377 286.52 13.51 604 459.04 9.04 981 745.56 10.36Acrididae grande 72 84.24 3.97 208 243.36 4.80 280 327.60 4.55Tettigonidae 61 46.97 2.21 127 97.79 1.93 188 144.76 2.01Gryllacrididae 8 6.32 0.30 6 4.74 0.09 14 11.06 0.15Gryllidae 27 22.41 1.06 80 66.40 1.31 107 88.81 1.23Orthoptera n. id. 2 1.20 0.06 6 3.60 0.07 8 4.80 0.07

Mantodea 0 0.00 0.00 2 1.30 0.03 2 1.30 0.02Blatodea 2 3.92 0.18 1 1.96 0.04 3 5.88 0.08Coleoptera Scarabeidae 15 12.45 0.59 12 9.96 0.20 27 22.41 0.31

Carabidae 1 0.65 0.03 0 0.00 0.00 1 0.65 0.01Passalidae 0 0.00 0.00 1 0.65 0.01 1 0.65 0.01Coleoptera n. id. 9 5.85 0.28 1 0.65 0.01 10 6.50 0.09

Hymenoptera Vespoidea 3 0.05 0.00 193 2.90 0.06 196 2.94 0.04Formicidae 1 0.20 0.01 2 0.40 0.01 3 0.60 0.01Hymenoptera n.id 3 0.30 0.01 3 0.30 0.01 6 0.60 0.01

Heteroptera Cydimidae 4 0.68 0.03 0 0.00 0.00 4 0.68 0.01Odonata Aeshinidae 4 1.12 0.05 9 2.52 0.05 13 3.64 0.05Isoptera Termitidae (operário) 25 1.50 0.07 18 1.08 0.02 43 2.58 0.04Lepidoptera (larva) 0 0.00 0.00 14 14.00 0.28 14 14.00 0.19

Total Invertebrado 819 533.40 25.14 2081 1151.85 22.70 2900 1685.24 23.42Anura Hylidae 2 16.00 0.75 2 16.00 0.32 4 32.00 0.44Serpentes Colubridae 8 128.00 6.03 16 256.00 5.04 24 384.00 5.34Lacertilia Anguidae 14 254.80 12.01 17 262.60 5.17 31 517.40 7.19Passeriformes peq-peq 8 80.00 3.77 17 170.00 3.35 25 250.00 3.47Passeriformes médio 5 100.00 4.71 6 120.00 2.36 11 220.00 3.06Aves médio-médio 5 215.00 10.14 1 43.00 0.85 6 258.00 3.59Aves médio-grande 0 0.00 0.00 1 72.00 1.42 1 72.00 1.00Didelphidae Gracilinanus sp. 1 20.00 0.94 4 80.00 1.58 5 100.00 1.39Muridae Calomys tener 18 215.10 10.14 95 1135.25 22.37 113 1350.35 18.76

Oligoryzomys sp. 14 154.70 7.29 24 265.20 5.23 38 419.90 5.83Oxymycterus sp. 1 72.80 3.43 2 145.60 2.87 3 218.40 3.03Akodon sp 6 79.50 3.75 11 145.75 2.87 17 225.25 3.13Muridae n. id. 16 192.00 9.05 101 1212.00 23.88 117 1404.00 19.51

Chiroptera 1 60.00 2.83 0 0.00 0.00 1 60.00 0.83Total Vertebrados 99 1587.90 74.86 295 3923.40 77.30 392 5511.30 76.58

Total 918 2121.30 100.00 2376 5075.25 100.00 3292 7196.54 100.00