brochado e monticelli. regras práticas na reconstrução gráfica das vasilhas de cerâmica guarani...
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REGRAS PRTICAS
NA RECONSTRUO GRFICA
DAS VASILHAS DE CERMICA GUARANI
A PARTIR DOS FRAGMENTOS
Jos Proenza Brochado
Gislene Monticelli**
INTRODUO
Um dos problemas contnuos da arqueologia a reconstruo grfica
das formas das vasilhas a partir de seus fragmentos. Alguns consideram esta
tarefa muito difcil, ou mesmo impossvel, pelo menos quando se trata de
fragmentos pequenos. Defendemos que, comparando com as vasilhas intei-
ras, a maior parte dos fragmentos de borda permite a reconstruo grfica
da cermica Guarani arqueolgica, com boa possibilidade de acerto.
Para efetuar a reconstruo grfica das vasilhas relacionando-as com
a sua funcionalidade, seguimos os seguintes passos:
A. A classificao etno-histrica de cermica Guarani do sculo XVII, a
partir de Montoya, [1650] 1876, cf. Brochado. In: La Salvia Bro-
chado, 1989: 121-145;
Doutor, Professor na Pontifcia Universidade Catlica (PUCRS), em Porto Alegre.
Lic. e Bel. Cincias Sociais UFRGS), acadmica de Geografia (UFRGS), mestranda
em Arqueologia (PUCRS).
Estudos Ibero-Americanos. PUCRS, v.Xx, n.2, p. 107-118, dezembro, 1994
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B. A identificao destas classes entre as vasilhas Guarani arqueolgicas
inteiras depositadas em museus e colees, principalmente as do
Centro de Estudo e Pesquisas Arqueolgicas (CEPA-PUCRS) e as do
Laboratrio de Arqueologia (UFRGS);
C. O estabelecimento das regras de proporo entre as partes destas
vasilhas, separadamente para cada classe; ver Brochado, Monticelli
Neumann In: Veritas, 1990: 727-743;
D. O uso destas formas na reconstruo grfica atravs de fragmentos.
Os trs primeiros passos j foram efetuados e seus resultados publica-
dos. As regras resultantes foram utilizadas, em larga escala, no estudo do
material obtido durante as pesquisas do Projeto Arquelgico Uruguai, con-
vnio entre a ELETROSUL (Centrais Eltricas do Sul do Brasil) e a PUCRS
(Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul), mas os resultados
s constam nos relatrios entregues financiadora do projeto. (La Salvia,
Brochado
Naue. Naue, 1989 e La Salvia
Brochado, 1990).
Neste trabalho indicaremos quais as regras prticas que foram sendo
estabeleci das ao longo das pesquisas, atravs do estudo de mais de 5 mil
fragmentos de bordas.
Para encontrarmos a funcionalidade das vasilhas de cermica Guarani,
recuperadas arqueologicamente, recorremos analogia etnogrfica obtida a
partir das descries encontradas no Dicionrio Guarani-Espanhol de Ant-
nio Ruz de Montoya ([1650] 1876).
Montoya indica a existncia de diversas classes de vasilhas em uso
entre os Guarani e cita suas funes. Na maior parte das vezes o termo em
espanhol foi suficiente para dar uma idia da forma, por exemplo,
yapep
olla = panela. Inferncias como esta foram feitas tambm para as outras
classes de vasilhas no
Glossrio
que faz parte do livro
Cermica Guarani
(La Salvia
Brochado, 1989: 125-145), onde h a comparao dos termos
em Guarani com os termos em Espanhol e a explicao destes atravs de
comentrios.
Identificamos pelo menos seis classes de vasilhas Guarani entre que-
las descritas por Montoya. So elas:
1 - panelas para cozinhar
yapep);
2 - caarolas para cozinhar
iiaet
ou
iiae);
3 - pratos para assar beiju iiampu ou iiamypiu)
4 - jarras para bebidas em geral, especialmente bebidas fermentadas
alcolicas cambuch);
5 - pratos para comer iiaemb ou teembir);
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6 - tigelas para beber cambuch caguba).
Identificamos estas classes entre as vasilhas de cermica Guarani
inteiras, depositadas em museus e colees, e por comparao com estas foi
possvel reconstruir graficamente a forma daquelas vasilhas que esto rep-
resentadas apenas pelos seus fragmentos.
Conforme a poro da rea total da vasilha, representada pelo frag-
mento da borda usado na reconstruo, estabelecemos critrios restritos de
como agir em cada caso.
Estes critrios sero explicitados a seguir para cada classe de vasilha
(entendendo por classe, todas as vasilhas que teriam a mesma funo).
importante observar que as reconstrues grficas servem apenas
para indicar algumas possibilidades de forma e dimenses dentro de cada
categoria (vasilhas da mesma classe, que s se diferenciam por pequenas
variaes na posio e perfil da borda). Isto no indica que, a partir de um
fragmento da sua borda, possamos conhecer a forma exata que a vasilha teria
tido. O que, porm, no prejudica nossa classificao, uma vez que nossa
preocupao com a reconstruo da funcionalidade das vasilhas.
As seis classes de vasilhas Guarani identificadas so (Figura 1):
1 Yapep:
No dicionrio de Montoya (cf. Brochado), as vasilhas usadas para a
preparao de alimentos por fervura sobre o fogo, aparecem mencionadas
como yapep, e so descritas como tendo formas bojudas, com bordas
cncavas, verticais ou inclinadas para fora.
Montoya traduz o termo yapep pelo vocbulo espanhol olla, que em
portugus corresponde panela. Dicionrios de espanhol ilustram a forma
mais freqente das panelas tradicionais: um recipiente esferoidal, com as
paredes infletidas e a borda inclinada para fora, com dimenses variadas. As
panelas europias antigas realmente correspondem a esta descrio, exceto
pelo fato de possuirem alas e apoios em forma de patas.
No foi difcil reconhecer a classe das vasilhas denominadas yapep
nos conjunto das vasilhas inteiras de cermica Guarani arqueolgicas. De
fato, so muito comuns os recipientes de base conoidal e paredes infletidas,
com bojo bem marcado e borda cncava, vertical ou inclinada para fora, que
salvo os detalhes, parecem homlogos das panelas europias. Conclumos,
ento, que deveriam ser estas as vasilhas a que Montoya se referia ao citar
o termo yapep.
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FIGURA 1: Principais formas das vasilhas de cermica arqueolgica Guarani, divididas
em seis classes: 1. panela =
yapep;
2. caarola =
at;
3. prato para assar =
iiampiii;
4, jarra para bebida = cambuch; 5, prato para comer = naemb; 6. tigela para beber =
cambuch caguab.
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la Bordas:
Montoya identificou duas variedades de bordas nesta classe de vasi-
lhas: a vertical e a inclinada para fora; assim como encontramos nos
exemplos arqueolgicos. Nas vasilhas inteiras, cuja forma se assemelha ao
yapep, se observa que apresentam uma variao na posio da borda que
vai ligeiramente inclinada para dentro, passando pelas verticais, at as
inclinadas para fora.
lb Base:
Montoya define duas categorias de yapep quanto forma da base:
conoidal e arredondada, e assim procuramos represent-Ias ao fazer a sua
reconstruo grfica.
lc Dimenses:
Montoya classificou os yapep quanto as dimenses em pequenos,
mdios e grandes. Partindo desta informao e observando as variaes nas
dimenses do dimetro nas vasilhas inteiras e fragmentos de borda, conven-
cionamos classificar como pequenos yapep myri) aqueles com o dimetro
de boca entre 12 a 16cm; mdios yapep boy) de 18 a 30cm e grandes
yapep gua), maiores de 32cm. As vasilhas da mesma forma, mas com
o dimetro da boca menor que 12cm foram classificadas como miniaturas
(porque dificilmente poderiam ter sido usadas para a preparao de alimen-
tos sobre o fogo.
ld Funo:
A funo do yapep como panela de cozinhar fica clara nas diversas
frases e expresses mencionadas por Montoya (cf, Brochado), onde o termo
relacionado com a preparao dos alimentos por fervura.
le Critrios para a reconstruo grfica:
Reconstruimos graficamente, como yapep, todos os fragmentos in-
fletidos que apresentam borda cncava, seguida por um bojo arredondado.
A borda pode ser vertical, ligeiramente inclinada para dentro ou para fora,
predominando esta ltimas. Excetuam-se aquelas bordas cncavas cuja
posio ou a posio da inflexo da parede que se segue, requer sua
reconstruo como tigela.
bom lembrar que tigelas infletidas com a borda
cncava inclinada para fora so raras entre as vasilhas inteiras.
Na reconstruo grfica representamos todos os
yapep
com o bojo
pronunciado, preferentemente arrendondado do que carenado, porque esta
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uma caracterstica de sua forma, e todos com bases conoidais, s foram
utilizadas no caso das miniaturas, conforme se observa nas vasilhas inteiras.
Excluem-se da classe dos
yapep
aqueles fragmentos pintados interna
ou externamente, que foram classificados como cambuchi com forma de
yapep
(ver
cambuch),
porque estes obviamente no poderiam ter sido
usadas sobre o fogo.
2.
Naet:
Montoya traduz faet pelo termo espanhol cazuela, isto , caarola.
Estas vasilhas europias tinham uma forma aproximadamente tronco-cni-
ca, com borda direta, contnua com a parede, aproximadamente vertical ou
inclinada para fora e base aplanada ou levemente arredondada. Como a
caarola, o faet serviria para cozinhar alimentos por fervura sobre o fogo.
Nas colees de vasilhas Guarani inteiras, recipientes abertos, de
forma conoidal ou elipsoidal, com dimenses relativamente grandes, apare-
cem usados como tampa das jarras ou talhas cambuch) ou das panelas
yapep, usadas como urnas funerrias.
2.a. Dimenses:
Montoya classifica os faet quanto s dimenses em tamanho normal
faet)
e grande
faet guau).
Convencionamos como medianos aqueles
com o dimetro da boca variando de 30 a 48cm, e grandes aqueles com
dimetro maior de SOcm.
3.
Nampy:
Montoya denomina iiampy ou famypiu uma classe de vasilhas cujo
nome traduz por tostado r ou torrador, com toda a probabilidade de estar se
referindo aos pratos rasos para torrar farinha de mandioca e/ou assar o beiju.
2.b.
Critrios para a reconstruo grfica:
Reconstruimos graficamente como faet, os fragmentos da borda
contnua com a parede, ligeiramente inclinada para fora, vertical ou inclina-
das para dentro, s vezes levemente infletida, que tenham as dimenses
necessrias.
Excluem-se as bordas pintadas interna e/ou externamente, pelo mesmo
motivo j considerado para os yapep. Estas so reconstrudas como tigelas,
representadas com menor profundidade do que se tivessem sido repre-
sentadas como faet.
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Nas colees de vasilhas inteiras so raramente encontrados, porque,
como os pratos de comer
tembiiru),
no faziam parte dos sepultamentos,
nem como urnas para cont-Ios, nem postos no interior destas.
No entanto, o
iampy
so fceis de serem identificados devido a
borda convexa muito baixa ou apenas vestigial, formando uma espcie de
prato ou tigela muito rasa.
3.a.
Dimenses:
Montoya divide os tostadores em de tamanho normal iampy) e
grandes
iampy
guau). Convencionamos como normais aqueles com
dimetro da boca variando de 18 a 32cm e grandes aqueles com dimetro
maior de 34cm. Vasilhas com a mesma forma, porm, com dimetro igual
ou menor de 12cm, que por suas dimenses no deveriam ter a mesma
funo, foram classificadas como miniaturas da sua classe.
3.b. Critrios para a reconstruo grfica:
Os
iampy
so representados com base plana ou levemente arredon-
dada, conforme sugere o prprio fragmento. Excluem-se as bordas pintadas
interna ou externamente, pelo mesmo motivo j considerado para os
yapep
e iaet. Estas so reconstrudas como pratos ou tigelas rasas.
4 Cambuch:
Montoya denomina
cambuch
a vasilha utilizada para conter lquidos;
principalmente aquelas para servir bebidas fermentadas alcolicas, mas
tambm, possivelmente as usadas para guardar gua.
O termo
cambuch
foi traduzido indiferentemente pelos vocbulos
espanhis:
tinaja, cntaro
e
jarro,
correspondendo em portugus a talha,
cntaro e jarro. As formas europias tm em comum a forma elipsoidal
vertical ou duplo-cnica, com o dimetro maior situado no bojo, acima da
metade da altura, base conoidal, parte superior restringida formando um
pescoo e borda extrovertida.
Os cambuch foram identificados como vasilhas usualmente pintadas
e de grandes dimenses, encontradas enterradas nos stios arqueolgicos,
com evidncia de terem sido usadas para sepultamento primrios ou secun-
drios. Seu uso anterior para preparar e servir bebidas fermentadas alcolicas
ou para armazenar gua sempre foi aceito, com base em evidncias etnogr-
ficas.
Estas vasilhas tem a forma de jarras ou talhas, de contorno complexo,
segmentado, como vasilhas sobrepostas, com vrios pontos de ngulo, o
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mais baixo deles, correspondendo ao maior dimetro e situado acima da
metade da altura. Estes pontos de ngulo formam o que se denomina carena
ou carenagem e a segmentao pode se repetir at 3 vezes, formando o que
se denomina ombros .
4.a. Bordas:
O termo usado por Montoya para a borda do cambuch diferente dos
termos usados para as bordas do yapep. Isso se relaciona provavelmente ao
fato das vasilhas inteiras, que podem ser identificadas com a definio do
cambuch, apresentarem geralmente borda carenada ou reforada externa-
mente. A borda cncava extrovertida, que como vimos caracterstica do
yapep, aparece mais raramente nas urnas funerrias pintadas, que ento
foram descritas como cambuch com forma de yapep.
4.b. Boca:
Montoya divide os cambuch entre os de boca estreita e os de boca
mediana. Esta diviso, observvel nas vasilhas inteiras, no pode ser usada
quando no possvel considerar a relao entre o dimetro da boca e o
dimetro do bojo.
4.c. Base:
Montoya tambm divide o cambuch pela forma da base, existindo os
de base conoidal, arredondada e aplanada. Esta diviso, observvel nas
vasilhas inteiras, tambm no pode ser aplicada na reconstruo do material
fragmentado, porque no podemos relacionar a forma das bases com as
respectivas bordas.
4.d. Dimenses:
Montoya dividiu os cambuch, quanto as dimenses, em pequenos e
grandes. Convencionamos classificar como pequenos cambuch miri) aque-
les com o dimetro da boca variando de 18 a 34cm e como grandes
cambuch gua) aqueles com dimetro maior de 36cm. As vasilhas da
mesma forma, mas menores de 12cm e que no deveriam ter a mesma
funo, foram consideradas miniaturas.
4.e. Critrios para a reconstruo grfica:
A maioria das bordas carenadas, reforadas externamente, pintadas ou
no, so reconstrudas graficamente na forma de cambuch, excetuando-se
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aquelas cuja inclinao da borda ou posio da inflexo da parede que se
segue requer sua reconstruo como tigela
Na reconstruo grfica, os cambuch foram representados com um
bojo pronunciado, preferentemente carenado do que arredondado, porque
esta uma caracterstica de sua forma.
Alguns so representados com a base conoidal, outros, mais raramente,
com a base arredondada. Nas vasilhas inteiras da rea estudada (RS e SC)
no aparecem bases aplanadas, as quais existem porm em So Paulo e no
Paraguai.
As miniaturas dos cambuch so reconstrudas com forma esferoidal,
porque assim se apresentam nas colees.
Montoya descreve outro tipo de cambuch, o cambuch yaruquai, que
deveria ser constringido na parte mdia, formando corpo duplo. Realmente
so encontrados fragmentos de borda e que podem ser reconstitudos com
esta forma. Na regio do Alto Uruguai, onde existem, tem a superfcie
alisada e enegrecida por esfumaamento .
5. e 6.
Tigelas:
Naemb ou tembiiru e cambuch caqub.
Montoya denomina naemb ou tembiiru uma classe de vasilhas, cujo
nome traduz por prato, loua; implicando seu uso para comer. O termo
tembiiru traduzido como prato, claramente derivado de tembi, comida.
Este uso indica a existncia de pratos coletivos ou comunais, conforme a
expresso: o que come comigo em um prato .
Os naemb so fceis de serem identificados devido a sua forma:
pratos e tigelas muito abertas, com a borda convexa, contnua com as
paredes, aproximadamente vertical ou inclinada para fora. So, no entanto,
raramente encontrados nas colees de vasilhas inteiras, porque no faziam
parte dos sepultamentos.
Montoya indica a existncia de outra classe de recipientes, vasilhas de
beber cambuch caguaba), cujo nome traduz como: vaso onde se bebe
vinho, instrumento de beber. Este termo est relacionado tambm com os
cambuch miri, traduzido por copo ou vaso, mas que em sentido genrico,
poderia ser qualquer vasilha em que se bebe. Montoya, porm, no descreve
o
cambuch caguba,
nem d qualquer sugesto a respeito de sua funo. O
uso do termo cambuch como parte do nome no parece indicar a forma, pois
aparentemente, podia ser usado para qualquer vasilha relacionada prepa-
rao, servio ou consumo de bebidas.
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Atravs da analogia etnogrfica se chegou a concluso que as vasilhas
de beber dos Guarani deveriam ter a forma de tigelas, tanto aquelas feitas de
cermica, como as de cuia. Neste caso, se observa nas colees um grande
nmero de recipientes pintados externamente e mesmo internamente, s
vezes de contorno muito elaborado e que faziam parte quase que obrigatria
do acompanhamento dos restos humanos nas urnas funerrias.
Sendo ambas as classes -
naemb
ou
tembiiru
e
cambuch caguba -
compostas por tigelas, fica difcil diferenci-Ias a partir dos fragmentos da
borda. O que se percebe ao observar vasilhas inteiras que se distinguiram
principalmente pela forma da base: os naemb ou tembiiru possuiriam base
aplanada ou levemente arredondada, enquanto os
cambuch caguba
apre-
sentariam base perifrica, elipsoidal ou conoidal.
5.a.
Dimenses:
Montoya classifica os naemb ou tembiiru em pequenos e grandes.
Convencionamos classificar como pequenos aqueles com dimetro da boca
de 12 a 16cm, medianos aqueles com dimetro de 18 a 26cm e grandes,
aqueles com dimetro de 28 a 34cm. As vasilhas menores do que 12cm de
dimetro da boca foram consideradas miniaturas e no teriam a mesma
funo de prato de comer.
Assim haveriam pratos individuais (pequenos), pratos usados por
pequenos grupos (medianos) e pratos comunais (grandes) usados por grupos
maiores.
6.a
Para os
cambuch caguba
no h informaes quanto a dimenso.
Consideramos como pequenas as tigelas com o dimetro da boca, entre 12
e 16cm, medianas, as de 18 a 26cm de dimetro da boca foram consideradas
miniaturas e no teriam a mesma funo.
5.b. e 6.b. Bordas:
As bordas diretas, isto , contnuas com as paredes, convexas, ligeira-
mente inclinadas para dentro foram reconstrudas como tigelas, sempre que
sua posio assim o sugeria.
Uma maneira de diferenci-Ias com certo grau de probabilidade, foi
usar o critrio da relao dimetro-profundidade (altura). Assim as mais
rasas (2,4 a 4,5) seriam pratos de comer naemb ou tembiiru) e as mais
profundas (0,5 a 2,49), tigelas de beber
cambuch caguba).
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Tambm foram reconstrudos como tigelas de beber aquelas bordas
infletidas ou complexas, carenadas, cuja posio assim o sugeria; uma vez
que nas vasilhas inteiras estes perfis de borda aparecem unicamente naquelas
tigelas que podem ser interpretadas como tendo esta funo.
Na reconstruo grfica asbases so representadas levemente arredon-
dadas ou aplanadas para os pratos de comer e esferoidais, elipsoidais ou
conoidais para as tigelas de beber, conforme se observa nas vasilhas inteiras.
Entre as vasilhas Guarani inteiras, existem ainda outras formas que
no podem ser includas nas seis classes morfolgico/funcionais que iden-
tificamos acima. Estas vasilhas, porm, so raras e parecem estar limitadas
determinadas reas. Muitas destas vasilhas aparecem ilustradas, por exem-
plo, no livro Cermica Guarani (La Salvia Brochado, 1989).
grande a importncia na reconstruo grfica e da inferncia sobre
a funcionalidade das vasilhas, principalmente, nas tentativas de identificar
qual teria sido a alimentao
pr-histrica,
tanto qualitativa, como quantita-
tivamente. Do ponto de vista qualitativo, quais seriam os tipos de alimentos,
como eram preparados e consumidos; e, quantitativamente, pela contagem
das vasilhas identificadas, estimar os nmeros mnimo e mximo da popu-
lao nas aldeias, hoje representadas por stios arqueolgicos .
Agradecemos a Joo Felipe Garcia da Costa pela arte-final da ilustra-
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tup
I: Vocabulrio espaiol-guaran ( Tupi)-espaiol. Nueva edicin: Viena, Faesy
y
Frick; Paris, Maisonneuve
y
Cia. 1876 (1640). Edio organizada por F. A.
Vernhagen, Visconde de Porto Seguro.