brinquedos e brincadeiras na creche

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Brinquedos e Brincadeiras de Creches

MANUAL DE ORIENTAO PEDAGGICA

Brinquedos e Brincadeiras de Creches

MANUAL DE ORIENTAO PEDAGGICA

Brinquedos e Brincadeiras de Creches

MANUAL DE ORIENTAO PEDAGGICA

BRASLIA, 2012

APOIO

REALIZAO

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHESMANUAL DE ORIENTAO PEDAGGICA

Realizao Apoio

Ministrio da Educao Fundo das Naes Unidas para a Infncia - UNICEF Tizuko Kishimoto Adriana Freyberger KDA Design Luis Augusto Gouveia Adriana Freyberger 1. Tom Kersten, 4 anos 2. Ti Bandeira Brasileiro, 3 anos 3. Mariana Atala, 2 anos e meio 4. Janaina Alves Bandeira, 3 anos e meio 5. Samuel da Nbrega, 3 anos

Elaborao do texto final

Projeto grfico e reviso de texto Ilustraes Ilustraes de arquitetura Ilustraes da capa1 2 3 4 5

Fotos

Arquivos Faculdade de Educao USP e Oficina de Brincar 100.000 exemplares

Tiragem

FICHA CATALOGRFICA

A reproduo desta publicao, na ntegra ou em parte, permitida desde que citada a fonte.

APRESENTAO

Prezado(a) Senhor(a),

Sua instituio est recebendo a publicao Brinquedos e Brincadeiras de Creche Manual de Orientao Pedaggica. Trata-se de um documento tcnico com a finalidade de orientar professoras, educadoras e gestores na seleo, organizao e uso de brinquedos, materiais e brincadeiras para creches, apontando formas de organizar espao, tipos de atividades, contedos, diversidade de materiais que no conjunto constroem valores para uma educao infantil de qualidade. O presente documento foi elaborado pelo Ministrio da Educao, por meio da Secretaria da Educao Bsica, visando atender ao estabelecido pela Emenda Constitucional n 59 que determinou o atendimento ao educando, em todas as etapas da educao bsica, por meio de programas suplementares de material didtico-escolar, transporte, alimentao e assistncia sade e contou com a parceria do UNICEF. O desenvolvimento do trabalho contou com a participao e colaborao da professora Dra. Tizuko Morchida Kishimoto, membro titular da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo (FE-USP) e da consultora Dra. Adriana Freyberger, arquiteta com doutorado em educao, especializada em espaos para criana. Esta iniciativa pretende esclarecer que o brinquedo e a brincadeira so constitutivos da infncia. A brincadeira para a criana um dos principais meios de expresso que possibilita a investigao e a aprendizagem sobre as pessoas e o mundo. Valorizar o brincar significa oferecer espaos e brinquedos que favoream a brincadeira como atividade que ocupa o maior espao de tempo na infncia. A aquisio de brinquedos para uso das crianas na Educao Infantil uma estratgia de implementao das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil. As propostas pedaggicas da Educao Infantil devero considerar que a criana, centro do planejamento curricular, sujeito histrico e de direitos que, nas interaes, relaes e prticas cotidianas que vivencia, constri sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constri sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. A partir dessa perspectiva, as prticas pedaggicas que compem a proposta curricular da Educao Infantil devem ter como eixos norteadores as interaes e as brincadeiras.

Sugerimos que este material seja colocado disposio de todos os interessados gestores municipais e escolares, professores, coordenadores, formadores, conselhos municipais de educao, pesquisadores, entre outros -, pois oferece orientaes para seleo, organizao e uso dos brinquedos e materiais ldicos seguindo os princpios das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educao Infantil DCNEI, publicada em 09/12/2009 no Dirio Oficial da Unio.

Secretaria de Educao Bsica / MEC Fundo das Naes Unidas para a Infncia UNICEF

SUMRIOINTRODUOMDULO I

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BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL1. BRINCADEIRA E INTERAES NAS PRTICAS PEDAGGICAS E NAS EXPERINCIAS INFANTIS a ) Conhecimento de si e do mundo b ) Linguagens e formas de expresso c ) Narrativas e gneros textuais, orais e escritos d ) A brincadeira e o conhecimento do mundo matemtico e ) Brincadeiras individuais e coletivas f ) Brincadeiras livres: cuidado pessoal, auto-organizao, sade e bem-estar g ) Brincadeiras e vivncias ticas e estticas com outras crianas e grupos culturais, para favorecer a identidade e a diversidade h ) Brincadeiras: mundo fsico e social, o tempo e a natureza i ) Brincadeiras com msica, artes plsticas e grficas, cinema, fotografia, dana, teatro, poesia e literatura j ) Brincadeiras, biodiversidade, sustentabilidade e recursos naturais k ) Brincadeiras e manifestaes de tradies culturais brasileiras l ) Brincadeiras e tecnologia 2. BRINCADEIRA E PROPOSTA CURRICULAR a ) Integrao das interaes, brincadeiras e experincias da comunidade b ) Preservar valores da comunidade e integrar tecnologias c ) Acompanhamento e avaliao do trabalho pedaggico d ) Registros de adultos e crianas (relatrios, fotografias, desenhos, lbuns etc.) 3. BRINCADEIRAS NAS TRANSIES DA CASA CRECHE E DA CRECHE PR-ESCOLA

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MDULO II

BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E MATERIAIS PARA BEBS (0 A 1 ANO E MEIO)1. BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA BEBS QUE FICAM DEITADOS 2. BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA BEBS QUE SENTAM 3. BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA BEBS QUE ENGATINHAM 4. BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA BEBS QUE ANDAM 5. ORGANIZAO DO BRINQUEDO COMO DIREITO DA CRIANA

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MDULO III

BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E MATERIAIS PARA CRIANAS PEQUENAS (1 ANO E MEIO A 3 ANOS E 11 MESES)1. SEGUNDO ANO a ) Brinquedos e materiais para a rea interna e externa b ) Papel do adulto na brincadeira com objetos e na reorganizao dos brinquedos c ) Atividades coletivas com agrupamentos de crianas de 1 a 2 anos d ) Conforto para a professora durante a observao 2. TERCEIRO ANO a ) Brincadeira de faz-de-conta: atividade principal da criana b ) Construo de mobilirio para reas de faz-de-conta c ) Ampliao da qualidade do brincar d ) Danar, pintar, desenhar e construir - outras formas de expresso ldica e ) Brincar na areia e na gua f ) Construo da identidade da criana por meio do brincar g ) Valorizao das diferenas nas crianas h ) Desenvolvimento de projetos e o conhecimento do mundo fsico, social e matemtico

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MDULO IV

ORGANIZAO DO ESPAO FSICO, DOS BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA BEBS E CRIANAS PEQUENAS1. AMBIENTES PARA BEBS a ) Entrada e acolhimento b ) Sala de atividades e de experincias c ) Espao do sono d ) Espao do banho e ) Solrio e jardim sensorial 2. AMBIENTES PARA CRIANAS PEQUENAS (1 A 3 ANOS) a ) Entrada e acolhimento b ) Sala de atividades c ) Sugestes de materiais d ) Espaos de banho, troca e sono e ) Parque f ) Sugestes de brinquedos para espao externo 3. PARQUE INFANTIL COMO ESPAO DE APRENDIZAGEM, EXPERIMENTAO, SOCIALIZAO E CONSTRUO DA CULTURA LDICA 4. DA SIMPLICIDADE ORIGINALIDADE: OS MATERIAIS PARA CRIANAS DE 4 A 6 ANOS

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MDULO V

CRITRIOS DE COMPRA E USOS DOS BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA INSTITUIES DE EDUCAO INFANTIL1. PROCESSO DE ESCOLHA E AS CARACTERSTICAS DO BRINQUEDO 2. ESCOLHA DOS MATERIAIS POR LICITAO OU TOMADA DE PREO 3. CRITRIOS DE COMPRA 4. CRITRIOS DE USO 5. IDADES E INTERESSES DAS CRIANAS 6. BRINQUEDO ADEQUADO INSTITUIO DE EDUCAO INFANTIL 7. PREO DO BRINQUEDO 8. CRITRIOS PARA COMPRA PBLICA QUE GARANTAM A QUALIDADE DO MATERIAL 9. ESCOLHA, SELEO E ESPECIFICAO DOS MATERIAIS PARA COMPRA PBLICA

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RECOMENDAES FINAIS E ORIENTAES BIBLIOGRFICAS

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INTRODUO

Este manual tem a finalidade de orientar a seleo, a organizao e o uso de brinquedos e brincadeiras nas creches destinadas especialmente a crianas com idade entre 0 e 3 anos e 11 meses, com base nas recomendaes das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil (MEC, 2009). Embora o universo de crianas com idade at 5 anos e 11 meses tambm seja objeto de ateno, a prioridade est sendo dada educao das crianas menores que, historicamente, foram excludas do sistema pblico de educao. A introduo de brinquedos e brincadeiras na creche depende de condies prvias: 1. Aceitao do brincar como um direito da criana; 2. Compreenso da importncia do brincar para a criana, vista como um ser que precisa de ateno, carinho, que tem iniciativas, saberes, interesses e necessidades; 3. Criao de ambientes educativos especialmente planejados, que ofeream oportunidades de qualidade para brincadeiras e interaes; 4. Desenvolvimento da dimenso brincalhona da professora. Tais condies requerem o detalhamento de aspectos que emergem na prtica pedaggica: Quais brinquedos selecionar e adquirir? Em que quantidade? H certeza sobre sua qualidade? Como utiliz-los? Como modificar e recriar o espao fsico para introduzir novos mobilirios, materiais e brinquedos? Os interesses e necessidades das crianas de diferentes segmentos tnicos, sociais e culturais esto sendo contemplados? Como possvel utilizar um conjunto de brincadeiras que seja, ao mesmo tempo, adequado individualmente e, tambm, a todo o agrupamento de crianas ? Como acompanhar e avaliar o trabalho pedaggico em conjunto com a famlia? A creche oferece s crianas e a suas famlias o melhor em termos de servios e materiais para a sua educao? A creche tem uma proposta curricular em que o brincar e a interao sejam contemplados?

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So muitas as questes e dvidas abordadas por este manual, mas fundamental o empenho da professora e da equipe da creche para que as sugestes possam ser recriadas, dentro do contexto de cada prtica e que, de fato, ocorra uma mudana duradoura, capaz de promover qualidade na vida das crianas e de suas famlias. A educao da criana pequena foi considerada, por muito tempo, como pouco importante, bastando que fossem cuidadas e alimentadas. Hoje, a educao da criana pequena integra o sistema pblico de educao. Ao fazer parte da primeira etapa da educao bsica, ela concebida como questo de direito, de cidadania e de qualidade. As interaes e a brincadeira so consideradas eixos fundamentais para se educar, com qualidade. A criana cidad - poder escolher e ter acesso aos brinquedos e s brincadeiras um de seus direitos como cidad. Mesmo sendo pequena e vulnervel, ela sabe muitas coisas, toma decises, escolhe o que quer fazer, olha e pega coisas que lhe interessam, interage com pessoas, expressa o que sabe fazer e mostra em seus gestos, em um olhar, em uma palavra, como compreende o mundo. O brincar ou a brincadeira - considerados com o mesmo significado neste texto - atividade principal da criana. Sua importncia reside no fato de ser uma ao livre, iniciada e conduzida pela criana com a finalidade de tomar decises, expressar sentimentos e valores, conhecer a si mesma, os outros e o mundo em que vive. Brincar repetir e recriar aes prazerosas, expressar situaes imaginrias, criativas, compartilhar brincadeiras com outras pessoas, expressar sua individualidade e sua identidade, explorar a natureza, os objetos, comunicar-se, e participar da cultura ldica para compreender seu universo. Ainda que o brincar possa ser considerado um ato inerente criana, exige um conhecimento, um repertrio que ela precisa aprender. O brinquedo visto como objeto suporte da brincadeira pode ser industrializado, artesanal ou fabricado pela professora junto com a criana e a sua famlia. Para brincar em uma instituio infantil no basta disponibilizar brincadeiras e brinquedos, preciso planejamento do espao fsico e de aes intencionais que favoream um brincar de qualidade. A pouca qualidade ainda presente na educao infantil pode estar relacionada concepo equivocada de que o brincar depende apenas da criana, no demanda suporte do adulto, observao, registro nem planejamento. Tal viso precisa ser desconstruida, uma vez que a criana no nasce sabendo brincar. Ao ser educada, a criana deve entrar em um ambiente organizado para receb-la, relacionar-se com as pessoas (professoras, pais e outras crianas), escolher os

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brinquedos, descobrir os usos dos materiais e contar com a mediao do adulto ou de outra criana para aprender novas brincadeiras e suas regras. Depois que aprende, a criana reproduz ou recria novas brincadeiras e assim vai garantindo a ampliao de suas experincias. nesse processo que vai experimentando ler o mundo para explor-lo: vendo, falando, movimentandose, fazendo gestos, desenhos, marcas, encantando-se com suas novas descobertas. A brincadeira de alta qualidade faz a diferena na experincia presente e futura, contribuindo de forma nica para a formao integral das crianas. As crianas brincam de forma espontnea em qualquer lugar e com qualquer coisa, mas h uma diferena entre uma postura espontaneista e outra reveladora da qualidade. A alta qualidade resultado da intencionalidade do adulto que, ao implementar o eixo das interaes e brincadeiras, procura oferecer autonomia s crianas, para a explorao dos brinquedos e a recriao da cultura ldica. essa inteno que resulta na interveno que se faz no ambiente, na organizao do espao fsico, na disposio de mobilirio, na seleo e organizao dos brinquedos e materiais e nas interaes com as crianas. Para que isso ocorra, faz-se necessria a observao das crianas, a definio de intenes educativas, o planejamento do ambiente educativo, o envolvimento das crianas, das famlias e das suas comunidades e, especialmente, a ao interativa das professoras e da equipe das creches. o conjunto desses fatores - as concepes, o planejamento do espao, do tempo e dos materiais, a liberdade de ao da criana e a intermediao do adulto - que faz a diferena no processo educativo, resultando em uma educao de qualidade para a primeira infncia. No se separa, portanto, a qualidade da brincadeira da qualidade da educao infantil. Assim, neste manual, a brincadeira sempre considerada com o sentido de um brincar de qualidade. Para educar crianas pequenas, que ainda so vulnerveis, necessrio integrar a educao ao cuidado, mas tambm a educao e o cuidado brincadeira. Tal tarefa depende do projeto curricular, um documento orientador das prticas cotidianas, das programaes dirias que acompanham a vida das crianas e que ampliam gradualmente suas experincias em todo o perodo de vivncia na creche e precisa ser construdo pela equipe junto com as crianas e seus familiares. O brincar e as interaes devem ser os pilares da construo deste projeto curricular. Para atender a essas preocupaes, o manual foi concebido em duas verses, com o mesmo contedo. A primeira verso corresponde ao livro, que inclui o conjunto completo das recomendaes propostas, para ser distribudo s instituies de educao infantil.

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A segunda verso a subdiviso do livro em cinco fascculos, que sero destinados s professoras. A opo por fascculos separados objetivou a produo de um material mais leve e focado nos agrupamentos infantis ou temas, como organizao do espao e compra de brinquedos. Os fascculos, por serem pequenos, funcionam como prticos guias para rpidas consultas especficas. Contedo dos FascculosMDULO I

Brincadeira e Interaes nas Diretrizes Curriculares para a Educao Infantil MDULO II Brinquedos, brincadeiras e materiais para bebs (0 a 18 meses) MDULO III Brinquedos, brincadeiras e materiais para crianas pequenas (1 ano e meio a 3 anos e 11 meses) MDULO IV Organizao do espao fsico, dos brinquedos e materiais para bebs, crianas pequenas e maiores MDULO V Critrios de compra e usos dos brinquedos e Materiais para instituies de educao infantil

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MDULO

BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

MDULO I

BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

Neste mdulo so analisados 3 itens contemplados pelas Diretrizes Curriculares de Educao Infantil: 1. Brincadeira e interaes nas prticas pedaggicas e nas experincias infantis 2. Brincadeira e proposta curricular 3. Brincadeira nas transies da casa creche e da creche pr-escola

1.Brincadeira e interaes nas prticas pedaggicas e nas experincias infantis

As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educao Infantil, de 2009, indicam que: as prticas pedaggicas que compem a proposta curricular da Educao infantil devem ter como eixos norteadores: as interaes e a brincadeira, as quais devem ser observadas, registradas e avaliadas. Para iniciar a anlise, preciso pensar no significado de Interao: ao que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas; ao recproca. (Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa). Na educao infantil, sob a tica das crianas, ocorrem interaes entre: as crianas e as professoras/adultos - essenciais para dar riqueza e complexidade s brincadeiras; as crianas entre si - a cultura ldica ou a cultura infantil s acontece quando as crianas brincam entre si, com idades iguais ou diferentes (maiores com bebs, crianas pequenas com as maiores); as crianas e os brinquedos - por meio das diferentes formas de brincar com os objetos / brinquedos; as crianas e o ambiente - a organizao do ambiente facilita ou dificulta a ao de brincar. Uma estante na altura do olhar das crianas facilita o uso independente dos brinquedos. Um escorregador alto no parque, alm do risco oferecido ao uso pelos pequenos, leva a uma situao de estresse no grupo quando a professora probe utiliz-lo.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

as crianas, as instituies e as famlias - tais relaes possibilitam vnculos que favorecem um clima de respeito mtuo e confiabilidade, gerando espaos para o trabalho colaborativo e a identificao da cultura popular da criana e de sua famlia, de suas brincadeiras e brinquedos preferidos.

Como ampliar a ao recproca entre a(s) criana(s) e a professora? A forma como a professora interage com a criana e seu agrupamento infantil, a relao corporal que estabelece e que envolve corpo e olhar, pode facilitar ou dificultar o dilogo. Tal relao pode ser de igualdade ou de superioridade, e ser exemplificado nas figuras que se seguem. Na figura 1, a professora est no mesmo nvel que as crianas e junto com elas. Sua postura corporal aberta revela disponibilidade para interagir com o grupo, o que representa uma forma de comunicao facilitadora. J na figura 2, a professora apenas observa, sua postura de vigia, ela no se inclui no grupo. A postura corporal isolada denota uma atitude de no interao com o grupo. Na figura 3, professora e criana mantm contato direto pelo olhar e estabelecem um dilogo que as envolvem. Essa forma de interao possibilita a construo de uma cultura partilhada entre a professora e a criana, criando um fluxo positivo que potencializa a aprendizagem. A figura 4 mostra uma relao corporal distante, de um adulto que sempre olha para a criana de cima e no facilita a criao de um vnculo de confiana e proximidade, fundamental para processos comunicativos na primeira infncia, em especial na faixa etria de 0 a 3 anos e 11 meses.

Portanto, as figuras 1 e 3 indicam interaes positivas e partilhadas e as 2 e 4, a ausncia de interaes facilitadoras para a comunicao. As interaes e a brincadeira, que no podem ser separadas na educao infantil, aparecem na forma de prticas pedaggicas planejadas pelas professoras e em experincias vividas pelas crianas.

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BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

FIGURA 1

FIGURA 2

Agregar, estar junto

Observar de fora, vigiar o grupo

FIGURA 3

FIGURA 4

Envolver com o olhar, ser parceiro

Olhar de cima, impor ao

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

As prticas pedaggicas devem garantir experincias diversas que contemplem os 12 itens que sero a seguir especificados:

a. Conhecimento de si e do mundo

Experincia corporal - ver-se diante de um espelho favorece ao beb o conhecimento de si mesmo e o leva a se identificar como distinto de outras crianas e dos objetos.

Espelho triangular no qual a criana entra dentro e v mltiplas imagens. Do lado externo, espelho comum material confeccionado sob encomenda.

Experincia com cores - o conhecimento de si prprio pode ser experimentado pela imerso no universo das cores, atravs das sensaes produzidas por folhas de celofane coloridas, que se penduram em varais Cortinas coloridas com aplicao de chocalhos e outros objetos sonoros tambm proporcionam aos bebs a descoberta de sons na relao com o corpo. O toque, a investigao e a curiosidade so formas de aquisio de conhecimento de si mesmo e do mundo que os cerca. Experincias corporais e afetivas - o adulto, ao pegar a criana no colo, troca olhares, sorrisos e oferece um clima afetivo e de bem-estar criando oportunidade para as primeiras descobertas; massagens no corpo e ambientes planejados com materiais diversos proporcionam novas experincias; brincadeiras corporais propiciam desafios motores, como subir em almofadas, pegar um brinquedo colocado a certa distncia, ou pegar vrios materiais com as mos; tocar seu prprio corpo, brincar com as mos, ps e dedos.

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BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

Explorao e conhecimento do mundo - as experincias motoras (corporais), possibilitam posicionar o corpo para a explorao dos objetos, de subir na almofadas ou entrar em um buraco, aes que favorecem o conhecimento do mundo. Ao colocar o brinquedo na boca, as crianas sentem sua textura, conseguem diferenciar algo que mole ou duro, mas tais caractersticas ainda esto no plano da experincia vivida, seu pensamento ainda no consegue conceituar. Essas experincias constituem as bases para que mais tarde possam compreender os conceitos. Tapetes com diferentes texturas e cores ou objetos que podem ser explorados, trazem experincias significativas para os bebs. Estruturas com materiais pendurados de diferentes cores, tamanhos e texturas que, ao serem puxados pelas mos ou ps dos bebs, emitem sons e permitem que eles decidam sobre o que querem fazer balanas, puxar, ver e ouvir.

BRINCAR COM FRUTAS E LEGUMES

Frutas e legumes, presentes em todas as regies brasileiras, possibilitam inmeras experincias que encantam os bebs por seus odores, sabores e colorido. Deve-se valorizar os legumes da poca, de diferentes consistncias e coloridos como cenoura, beterraba e tomate; o sabor cido da laranja e do limo, os odores do abacaxi, do maracuj .

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

As experincias expressivas entre as brincadeiras interativas que levam o beb a se expressar, muito conhecida a de esconder-e-achar com fralda, dizendo cucu, escondeu, achou. Essa brincadeira ajuda a criana a aprender os significados dos movimentos, regras e a expresso da linguagem oral e dos gestos. Mas somente quando o beb inicia a brincadeira e a conduz, escolhendo se vai esconder a si mesmo, ou seu bichinho de estimao, h aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Nesse momento, ele teve agncia (deciso prpria). Essa forma de brincar para esconder outros objetos desperta a curiosidade e o prazer da descoberta, da repetio e recriao da ao. H muitos brinquedos em que se colocam bolinhas dentro de estruturas com tneis que possibilitam a expresso do prazer do desaparecer e reaparecer. Brincadeiras de adultos e crianas de esconder objetos em baixo de almofadas ou copinhos, alm de divertirem as crianas que procuram encontr-los, criam desafios para as mentes infantis em desenvolvimento.

b. Linguagens e formas de expresso

As crianas expressam significaes quando brincam: com gestos, falam, desenham, imitam, cantam ou constroem estruturas tridimensionais. So tais aes que se denominam formas de expresso: gestual, verbal, plstica, dramtica e musical. No interior dessas formas de expresso se encontram diferentes modalidades de linguagem e gneros textuais: falar, escrever cartas, contos de fadas, contos fantsticos etc.EXPRESSO GESTUAL E VERBAL

As crianas comunicam-se por diferentes linguagens, por gestos, expresses, olhares, pela palavra. Os bebs se expressam inicialmente por gestos e sorrisos e, depois, pelas palavras. O aprendizado da fala (linguagem verbal) se inicia no nascimento com a comunicao entre as crianas e seus pais em casa e, depois, entre a professora e a criana ou entre as crianas na creche. H diversos estilos de comunicao familiar que levam as crianas a aprenderem a falar e que fazem parte de suas culturas quando ingressam na creche. A comunicao na creche, que valoriza as interaes e a brincadeira, acontece em diversos momentos: quando a professora conversa com o beb e ele responde com um gesto, olhar ou sorriso;

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BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

nas brincadeiras, ao relacionar nomes dos objetos e situaes do seu cotidiano; nas brincadeiras corporais de explorao dos objetos do ambiente; nas brincadeiras de imitao; nas danas e nas msicas; nos desenhos e grafismos; nas comunicaes cotidianas e no recontar histrias; na expresso de poesias, parlendas, adivinhas, cantigas de roda e de ninar.EXPRESSO DRAMTICA

A expresso dramtica comea a surgir quando as crianas manifestam o desejo de assumir papis, como os de motorista, me, professora. Quando entram no faz-de-conta compreendem as funes desses personagens na sociedade: do motorista que dirige carros, da professora que educa as crianas ou da me que d comida para o beb. As imitaes anteriores, embora importantes, so repeties de aes observadas pelas crianas sem a compreenso do significado dos papis desempenhados. A dramatizao de situaes imaginrias tanto nas brincadeiras de faz-de-conta como no recontar histrias deve ser livre para que as crianas possam expressar suas emoes e seus desejos. Nessa atividade, a variedade de acessrios, como bonecas de diversos tipos, bero, carrinho, caminhes de diferentes tipos cegonha, caamba, bombeiro, posto de gasolina, fantoches, bichinhos e kit mdico auxiliam a representao de papis, ampliandoo repertrio das brincadeiras.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

EXPRESSO PLSTICA

Atividades relacionadas s artes plsticas incluem brincar com tinta ou utilizarse da natureza para fazer tintas com plantas, com terra , possibilitando tanto experincias sensoriais e prazerosas quanto plsticas. Brincadeiras com cores iniciam-se com a explorao das tintas com as mos, com o corpo, com pinceis, mas ganham em qualidade ao saber mistur-las e recri-las. Para iniciar atividades relacionadas s artes plsticas para as crianas pequenas de creches, convm introduzir primeiro a brincadeira livre de explorar tintas, de sentir a sensao de pintar as mos, o corpo, o papel, de misturar tintas e utilizlas em diferentes tipos de papis, superfcies e objetos pequenos e grandes. Com as crianas maiores, avanar em projetos relacionados construo de uma paleta de cores o conjunto de cores de uma determinada obra, seja ela pintura, escultura ou desenho. Para as maiores da pr-escola, em uma atividade ligada construo de cores a partir de elementos da natureza, pode-se oferecer inicialmente uma paleta com tons marrons, terras e verdes. Em uma atividade plstica ligada a pintura de flores, pode-se oferecer outro conjunto com tons roxos, rosas, branco, verdes, azuis e laranjas. A paleta de cores uma combinao inicial que visa oferecer suporte s crianas em atividades plsticas que buscam aprimorar os conceitos de arte e esttica. Um brincar de qualidade inclui a experincia com a arte, as atividades plsticas e o uso de cores como suporte prvio para que as crianas encontrem prazer e reconheam na sua produo artstica uma esttica e uma beleza prprias. As diversas tcnicas voltadas para os trabalhos plsticos (argila, pintura, colagem etc.) requerem materiais apropriados. Crianas gostam de fazer marcas para expressar sua individualidade e as tintas, nas artes plsticas, so ferramentas que cumprem essa finalidade. Brincar com massinhas, argila, gesso ou materiais de desenho, pintar, fazer colagens e construes com diferentes objetos, so linguagens plsticas associadas a experincias sociais, motoras e sensoriais prazerosas. Entretanto, preciso dispor de grande quantidade de massinha e argila para que as crianas possam construir seus projetos (cerca de um quilo para cada uma).

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BRINCADEIRA E INTERAES NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAO INFANTIL

Uma quantidade pequena s possibilita a manipulao e no a modelagem das formas que expressam a imaginao, os desejos e as intenes de cada criana. A manipulao importante no incio, mas deve ser seguida de inmeras oportunidades para dar forma aos propsitos da prpria criana, o que s possvel com uma boa quantidade de argila. O desenvolvimento do imaginrio est relacionado com a oferta cotidiana de prticas que ofeream suporte para que as crianas possam realizar suas recriaes. Ver diferentes tipos de esculturas, dispor de tcnicas para compreender como se faz a modelagem e ter materiais disposio para uso independente, so prticas necessrias que auxiliam a expresso criativa. Para valorizar a autonomia das crianas, necessrio dispor de tempo e materiais em quantidade suficiente para que elas escolham estes materiais e as tcnicas adequadas produo do que desejam para suas expresses, quer seja no desenho, no gesto ou na modelagem.EXPRESSO MUSICAL

A msica essencial para a formao do ser humano. Auxilia o desenvolvimento do raciocnio lgico, traz envolvimento emocional e instrumento de interao. Brincadeiras de experimentar diferentes sons e instrumentos musicais contribuem para o desenvolvimento da linguagem e a formao integral das crianas.

as Algum es sugest para a ical o mus press ex

Ouvir e produzir sons, altos, baixos, acompanhados de movimentos e uso de recursos da natureza, do corpo, dos objetos e materiais diversos, assim como o conhecimento da diversidade de msicas infantis ampliam as experincias das crianas.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

Brincar de cantar palavras, como o nome das crianas, em diferentes ritmos e alturas, traz envolvimento afetivo e propicia interaes . Transformar conversas com crianas pequenas em momentos de musicalizao cria um clima de afetividade, de prazer partilhado e de encantamento. Ao falar com a criana, por exemplo Vamos tomar banho, cantar essa frase utilizando uma melodia conhecida. Tanto a palavra como a frase, que fazem parte da conversao diria, podem ser cantadas para que a criana entre em contato com a linguagem musical. Brincar com a voz, em repetio de sons, como o ba, ba, ba que o beb balbucia, com o uso de estruturas meldicas, mas sem as letras das msicas, proporcionam experincias prazerosas e contribuem para a musicalizao. Encontrar um tempo na rotina diria para transformar a conversa com a criana em um musical. A criana maior j utiliza a estrutura de uma cantiga ou parlenda para criar novas msicas ou at contar histrias. Para estreitar os vnculos entre a famlia e a creche e dar continuidade s experincias anteriores das crianas, aproveitar a cultura musical que elas j trazem de casa para valorizar suas identidades culturais para, depois, acrescentar novos tipos de msicas que enriqueam seus repertrios. Os brinquedos musicais de bero ou de manipulao para a produo de diferentes sons, ritmos meldicos contribuem no s para a musicalizao mas para a expresso das diferentes linguagens infantis. Pode-se criar sons batendo com uma colher de pau em panelas enfileiradas, batendo duas tampas de panelas ou tocos de madeira ao ritmo das msicas , falar ou criar sons dentro de tubos e caixas. Os bebs se divertem ouvindo os sons do despertador ou batendo em sinos e objetos pendurados que produzem sons. Pode-se criar um ambiente de explorao ao pendurar muitas tiras de papel laminado ou celofane colorido no teto, na altura das crianas, para que elas possam tocar e criar sons. Cantar msicas, recitar parlendas, ouvir histrias cantadas so recursos importantes para todas as crianas. Recolher as cantigas que as mes cantam para os seus filhos e cantar para as crianas. O repertrio individual torna-se coletivo, atende diversidade cultural e traz identidade s crianas.

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c. Narrativas e gneros textuais, orais e escritos

No processo de interao com o mundo, as crianas adquirem experincias de narrativas veiculadas pelas linguagens oral, escrita e visual. H vrias formas para narrar experincias e mostrar significados, seja utilizando cada uma das linguagens seja integrando-as. Para favorecer as experincias de narrar, as crianas podem ser levadas a apreciar as vrias modalidades de linguagens e com elas interagir:

FALADA

- praticar a conversao, ouvir msicas, cantar, contar e ouvir histrias, brincar com jogos de regras, com jogos imitativos, ver e comentar programas de TV, vdeos e filmes. - usar ambientes impressos, livros, cartazes, letras, revistas, jornais, embalagens de brinquedos e alimentos. - ver e criar imagens, desenhos, construes tridimensionais, ilustraes, retratos, animao, TV, filmes. - baseia-se em equipamentos que utilizam a tela como suporte e possibilitam a interao entre mquina e espectador, a exemplo dos computadores e da TV. Internet, jogos eletrnicos e filmes possibilitam a conjuno das linguagens falada, escrita e visual, enquanto as embalagens de brinquedos e alimentos, livros, revistas, capas de CD, privilegiam as linguagens escrita e visual. - ao analisar os programas televisivos ou propagandas pode-se ampliar a experincia das crianas por meio da mediao crtica da professora, que consiste em comentrios crticos durante as brincadeiras, enquanto olha a imagem de um livro ou v algum programa de TV. H dois fatores importantes para ampliar as narrativas das crianas: o trabalho integrado com a famlia e o uso da sua cultura popular . Quando se estreitam as relaes entre a casa e a creche ou se conhecem os brinquedos e brincadeiras preferidos pelas crianas, seus familiares e comunidade, ou seja, a sua cultura popular, caminha-se na direo da ampliao das experincias de narrativas infantis. Considerar os saberes das crianas implica em no rotular como inadequada uma msica cantada por elas, ou uma preferncia de dana ou um gesto, mas procurar ampliar suas experincias. Escutar as crianas - deixar as crianas falarem de situaes ou brincadeiras que aprenderam nos ambientes pelos quais circularam antes da sua vinda creche; Perguntar s famlias - quais so os brinquedos, materiais e brincadeiras preferidos pelas crianas, para dar continuidade na creche s experincias do lar.

ESCRITA

VISUAL

COMBINAO DE LINGUAGENS VISUAL / ESCRITA / FALADA

MEDIAES CRTICAS

as Algum es sugest

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Usar a narrativa das crianas - especialmente na hora da roda de novidades, ou no momento em que as crianas se renem para falar sobre o que fizeram no dia anterior, aproveitar qualquer narrativa sobre suas experincias e brincadeiras prediletas para a explorao das vrias linguagens. Se o menino conta que jogou bola com o pai, escrever em um papel ou cartolina Pedro jogou bola com o pai, mostrar para as crianas e ouvi-las, pois podem surgir discusses interessantes sobre as letras escritas no papel. Em outro momento, se Pedro quiser, poder desenhar usando essa cartolina com a frase criada com sua narrativa, desse modo haver continuidade da experincia significativa vivida por Pedro, e a linguagem verbal se transforma em linguagem escrita e depois em plstica, por meio do desenho. O letramento se fortalece com o uso da diversidade de linguagens para expressar os mesmos significados. A cada expresso as crianas vo ressignificando melhor suas experincias e, em contato com o adulto e outras crianas, vo aperfeioando sua forma de ver o tema de seu interesse. Dar um pequeno papel para desenhar o mesmo tema de interesse das crianas, depois outro maior, ou pint-los com diferentes tipos de materiais. Lpis, crayon, tintas variadas, criam sempre oportunidades para ampliar experincias. Visitar, se possvel, a casa de cada criana - para conhecer como brincam e quais so os seus brinquedos e brincadeiras. Pode-se, como alternativa, solicitar me ou criana para comentar quais so seus brinquedos prediletos. Ao comentar na creche a respeito dos brinquedos de cada um, a criana se sente valorizada. Solicitar s crianas que tragam brinquedos no mais utilizados para pendurar na sala ou fora dela, organizando o ambiente e tornando-o lugar de curiosidade, de explorao e de conversa-o. So objetos que lembram a casa e com muitas histrias para contar e partilhar. Valorizar a cultura das crianas - deixar as crianas contarem o que gostam de fazer em suas casas, valorizar experincias vividas, so oportunidades de trazer e ampliar suas narrativas. Aps essa escuta, a professora poder mostrar outros contedos da cultura oral, introduzindo novos contos, parlendas, trava-lnguas, adivinhas, msicas, danas, livros, programas de TV e outras brincadeiras, ampliando desse modo ainda mais as experincias das crianas. Participar da conversao diria com adultos e outras crianas, ouvir e cantar msicas, contar e ouvir histrias, brincar com jogos em que se discutem as regras ou os pontos ganhos ou perdidos, partilhar temas das brincadeiras de faz-de-conta com outros parceiros so momentos que enriquecem as experincias das crianas.

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O contato com a diversidade dos textos orais e escritos por meio da participao em conversas cotidianas, contato com outros textos, como bilhetes e receitas; acesso aos textos da cultura oral como cantigas de ninar, de roda, parlendas, trava-lnguas, frmulas de escolha, adivinhas, enigmas, linguagens secretas, histrias de bichos, de animais, contos e lendas brasileiras e de vrios povos, amplia o repertrio das narrativas infantis. Crianas que aprendem gneros de texto como Serra, serra, serrador, serra o papo do vov, facilmente tornam-se autoras quando inserem o seu prprio nome ou o de uma pessoa querida no lugar do vov. comum, tambm, o aproveitamento de frases de histrias que elas ouviram. As crianas ampliam suas narrativas ao dispor do acervo de textos da literatura e da cultura oral que permanecem como estruturas bsicas para novas recriaes.

ATENO:As crianas pequenas deixadas sozinhas permanecem passivas diante dos programas de TV ou filmes e pouco compreendem o que se passa, pela dificuldade da linguagem. Elas precisam de aes corporais, de explorao do ambiente e de interao para compreender o mundo e desenvolver a sua linguagem. Os momentos da programao para crianas maiores, em que se oferecem prticas de ver programas de TV, ver vdeos e filmes, devem ser acompanhados de conversas com a professora. No podem ser momentos estticos, em que as crianas apenas absorvem passivamente o que se passa nas telas desses equipamentos. Conversar com a professora nos momentos de ver e ouvir a TV, vdeos e filmes leva promoo da viso crtica atravs dos comentrios, sem proibir o que os especialistas chamam de letramento crtico. Ao ouvir e recontar histrias, as crianas experimentam o prazer de falar sobre o que viram na TV, o que conversaram com os amigos ou com os pais, incluindo suas experincias e outras histrias que conhecem. Quando as famlias partilham informaes com a equipe da creche / pr-escola sobre o que as crianas gostam de fazer em casa e escutam o que a professora diz sobre o que seus filhos fazem na instituio, criam-se pontes para a construo de um currculo que amplia a responsabilidade pela educao das crianas pequenas (pais e creche / pr-escola /comunidade). Essa a ponte de ligao para ampliar a imaginao e a brincadeira mas, tambm, para criar entre a professora e os pais um sistema de apoio contnuo, de mediaes que potencializam e enriquecem as experincias das crianas. O contedo da escuta das crianas deve ser ampliado pela insero de novos conhecimentos, especialmente provenientes da literatura infantil e da vida cotidiana. Essa prtica requer o planejamento curricular e programtico da creche, a formao das professoras para que tais gneros de textos estejam presentes nas suas prticas cotidianas. No se pode esquecer que h a necessidade de superviso das prticas para verificar a continuidade dessas experincias na creche e a ao poltica de dar suporte material para que elas sejam implementadas.

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Objetos e atividades que contribuem para as experincias narrativas As crianas fazem suas narrativas utilizando vrias linguagens: gestuais, orais e grficas. Brinquedos, materiais e atividades diversas servem para que as crianas expressem suas experincias utilizando vrios recursos para narrar o que percebem ao seu redor. Bebs utilizam os gestos e algumas vocalizaes para explicar como conhecem os objetos ao seu redor. Um beb, que ainda no domina a linguagem verbal, explica ao adulto o que quer utilizando, por exemplo, gestos com o corpo, com as mos, com expresses faciais, para narrar sua experincia. A experincia narrativa do beb corporal, gestual, com acompanhamento de alguns sons que consegue articular. Para ampliar as experincias narrativas das crianas fundamental que o adulto tenha um tempo dirio com cada criana para ouvir suas narrativas e observar o que elas fazem, para planejar novos suportes para ampliar tais experincias.

as Algum es sugest

NARRATIVA DE UM BEB

Um beb de um ano, nos momentos de brincadeiras com sua me, aprendeu a reorganizar as almofadas em uma varanda para brincar de fazer tneis, brincar de procurar brinquedos ou atravessar o tnel para encontrar sua me.

Na ausncia da me, outra pessoa que desconhecia essa forma de organizar o espao da brincadeira e ainda no compreendia a linguagem do beb, brincava na mesma varanda com almofadas. O beb tentava explicar pelos gestos e pelo corpo como queria brincar. Ao no ser compreendido, balanava a cabea e o indicador do dedo para dizer no assim, e verbalizava n, n, n. O beb tentava pegar as almofadas que eram grandes e pesadas e no conseguia empilh-las para fazer o tnel. Aps vrias tentativas para explicar, com sua narrativa gestual e algumas vocalizaes, a falta de leitura da fala corporal inviabilizou a compreenso da narrativa por gestos do beb. Mais tarde, quando a me chegou, foi possvel compreender a narrativa do beb. Toda criana j traz de sua casa inmeras experincias ldicas que podem ser aproveitadas na creche, se h dilogo entre a me e a professora. A continuidade e a ampliao das narrativas infantis depende do fluxo de informaes entre a casa e a creche. Esse relato mostra a importncia da professora observar as aes das crianas para compreender suas narrativas.

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Deve-se conversar com o beb, por meio de olhares, trocar carinhos, dar tempo para o beb responder a cada demanda que se faz. O beb sempre faz uma narrativa gestual, por sorrisos, gestos ou vocalizaes. Utilizar livros de pano, de papelo, plstico, com imagens para as crianas lerem sozinhas, com amigos ou com a professora e seu agrupamento, em um espao aconchegante da sala, com tapetes e almofadas, um ba com os tesouros, os livros, que podem ser levados para casa para que os pais continuem a experincia da leitura e ampliem as narrativas infantis. Emprestar livros para as famlias contarem as histrias em casa. Construir caixas com personagens para contar histrias. Envolver as crianas na construo dos personagens. Utilizar recursos simples, como um leno vermelho para ser a Chapeuzinho Vermelho ou qualquer outro personagem, de modo a criar um clima de envolvimento e convidar as crianas a ingressarem no mundo imaginrio. Deixar as crianas escolherem e pegarem os livros, pois as narrativas na creche se iniciam com a manipulao: segurar o livro, virar pginas, ver imagens, indicar com o olhar ou com o dedo figuras de interesse. Ouvir a narrativa de crianas pequenas significa observar tais aes e responder com pequenos comentrios para valorizar tais aes , Mediaes da professora so mais eficientes quando a histria partilhada; portanto, grupos menores so mais adequados. Enquanto a professora conta para um pequeno grupo, o outro pode brincar com materiais diferentes, ler os livros que esto no ambiente, na estante, ou envolver-se com outras experincias de seu interesse. Bebs precisam de ateno individualizada para as interaes com o livro. Dispor de um tempo para cada beb para ver as imagens do livro, fazendo os turnos de interaes: aps sua fala, deixar sempre o beb falar (por gesto, sorriso ou balbucio). Podem-se fazer narrativas por meio de desenhos. Os traos das crianas relatam experincias que elas vivenciam, falam do prazer em fazer os traos, nos desafios que isso representa, no encantamento de produzir marcas. Observar, escutar e valorizar tais aes amplia as experincias das crianas.

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As msicas e danas so outras formas de expresso da criana para narrarem suas experincias. Observar tais atividades significa compreender suas narrativas. A manipulao de objetos dentro do Cesto dos Tesouros (cesta de vime, redonda e sem ala) uma experincia narrativa da criana que mostra pelos gestos, expresso facial e envolvimento, seu nvel de explorao desses objetos.

Ouvir histrias e recontar As crianas gostam de ouvir vrios tipos de histrias e, tambm, fazer comentrios, mas no de ficar apenas ouvindo, caladas. Ao participarem, vo se tornando leitoras, ouvindo, vendo, falando, gesticulando, lendo, desenhando sua prpria histria e construindo novas histrias.

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As histrias podem ser contadas em qualquer lugar e a qualquer momento. No entanto, cada agrupamento deve dispor de um tempo cotidiano para essa importante atividade. Criar por exemplo, alguns rituais para iniciar o momento de contar histrias, como acender uma vela para criar envolvimento, usar um espao coberto com tecido, utilizar palavras mgicas que as crianas gostam ou trazer o personagem preferido , um boneco construdo por eles, para partilhar do momento da histria. Ler o livro, contar do seu jeito, dramatizar a histria, incluir diversas formas de recontar histrias usando diferentes gneros literrios. No gnero literrio dos contos de fadas, o mundo dos reis, princesas, bruxas, drages encantam as crianas. As histrias do mundo encantado trazem uma estrutura de comeo, meio e fim, acompanhadas de expresses tpicas, como era uma vez, depois..., e viveram felizes para sempre, que auxiliam as crianas a recontarem a histria e ampliarem suas narrativas. Somente quando as crianas tm agncia, ou seja, quando so elas que recontam de seu jeito, incluindo os personagens que querem, trazendo suas experincias do cotidiano, misturando personagens de outras histrias, elas vo se tornando leitoras, criando suas prprias narrativas.

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NARRATIVAS DAS CRIANAS

Uma criana de 3 anos, de um centro de educao infantil na cidade de So Paulo , aps ouvir vrias vezes a histria da Branca de Neve, discutia com seus amigos e a professora a razo de ser sempre branca a personagem. Props uma histria com a Morena das Neves, alternativa que reflete o contexto de diversidade em que vivem as crianas, em sua maioria, de famlias afrodescendentes. Outra criana utilizou a histria de Chapeuzinho Vermelho para criar uma narrativa sobre o lobo. Na sua histria, havia dois lobos, um bom e outro mau. O bom morava no zoolgico e o mau matava os animais de l. Essa verso expressa a vivncia da criana, por ocasio da matana dos animais do zoolgico por homens, fato ocorrido na cidade de So Paulo. Outra incluiu uma experincia familiar, ao dizer que Chapeuzinho Vermelho levava na cesta bolinhos de chuva que a vov gostava. Ouvir histrias de todos os gneros, deixar as crianas recontarem para inserir suas vivncias e seus saberes ampliam as narrativas . As histrias tm elementos diferentes conforme as idades, as origens tnicas sociais, culturais, o gnero e os interesses das crianas. Aos 3 e 4 anos, as crianas respondem mais fisicamente, representando, batendo palmas, imitando os personagens, as de 4 a 6 anos respondem por meio de movimentos corporais como danas e aplausos, compartilham descobertas em livros, por meio de aes e fazem representaes baseadas na literatura .

Ampliar a vivncia de ouvir e recontar histrias Essa uma tarefa que requer ampliao de dois tempos no cotidiano das creches: a escuta de muitas histrias e o tempo para o seu reconto pelas crianas.

Criar no tempo cotidiano momentos para contar histrias e deixar as crianas recontarem.as Algum es sugest

Modificar as formas de apresentar as mesmas histrias: lendo, contando de seu jeito, trazendo personagens para ilustrar a histria, montando uma tenda (um lenol pendurado no canto da parede, um tecido elstico, liso ou colorido, com diferentes texturas), ou sombra de uma rvore.

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Os brinquedos na forma de monstros, animais, bruxas, princesas, superheris, personagens preferidos das crianas, podem, tambm, desencadear um mar de histrias se for dada a liberdade para cada criana narrar suas experincias. Fantoches na forma de famlias, brancas e negras, animais domsticos ou do zoolgico, personagens do folclore, como o saci, o curupira, so importantes recursos nas atividades de narrativas. Dedos pintados com carinhas ou dedoches so alternativas simples e desencadeiam o imaginrio e o mundo de interaes por meio de brincadeiras . Caixas de papelo ou de madeira contendo cenas e personagens da histria. Esse material d visibilidade aos personagens e ajuda as crianas a acompanharem a histria por meio do cenrio montado na caixa, o que proporciona um maior envolvimento. Livros estruturados, contendo formas tridimensionais que aparecem subitamente na abertura das pginas, com figuras e cenrios que se abrem diante das crianas, como uma flor que desabrocha, ou um castelo que emerge, encantam as crianas e criam um clima de envolvimento, de prazer e de encantamento. Dramatizao da histria com a encenao de um teatro e participao das crianas e adultos (professoras, funcionrias/os , pais). As histrias podem ser contadas em qualquer lugar e em qualquer momento do tempo cotidiano. No entanto, cada agrupamento deve dispor de um tempo cotidiano para essa importante atividade. Promover, por exemplo, alguns rituais para iniciar o momento de contar histrias, como acender uma vela, para criar envolvimento, usar um espao coberto com tecido, utilizar palavras mgicas que as crianas gostam ou trazer o personagem preferido ( um boneco construdo por eles, para partilhar do momento da histria. Desde o nascimento, as crianas vo entrando no mundo letrado. Esse mundo se inicia com gestos, olhares, depois com a oralidade, desenhos e construes tridimensionais at chegar escrita propriamente dita. A oralidade, a escrita e a imagem visual tem papel importante nesse processo e integram o que se entende por letramento. Como ampliar o letramento para crianas menores?

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A linguagem escrita vai emergindo quando se planejam atividades em que as crianas entram em contato com diferentes materiais, que auxiliam a sua entrada no mundo letrado: letras em cartazes, propagandas, embalagens, refrigerantes, revistas e jornais. Brincar de colecionar, comparar e fazer lbuns com letras, verificar se uma tem perna de um lado ou de outro, partes abertas e fechadas e diferenciar os formatos dos nmeros so atividades interessantes que se pode fazer na sala. As letras, os nmeros, as formas geomtricas podem fazer parte de brincadeiras de pega-pega. Pode-se pendurar um cartaz nas costas de cada criana com a inicial de seu nome, ou a slaba. Sorteia-se o pegador usando par ou impar, dois ou um, tirar o palitinho ou jamquemp (papel/pedra/tesoura). O pegador dever correr atrs da letra que ele anuncia. Se a letra for M ou Ma, ento Mariana, Maria, Marcelo, devem correr e podem esconder-se entrando em um crculo formado pelas outras crianas, que protegem o colega que tem o nome procurado nas costas. O pegador pode furar o cerco e correr atrs do procurado. A criana que for pega pode anunciar o novo nome a ser procurado. A professora pode intervir trazendo para a brincadeira os nomes das crianas que ainda no foram chamadas. Brincar de pegar letrinha, alm de ser brincadeira motora, auxilia na construo da identidade, valorizando os nomes de cada criana e ferramenta para o ingresso no mundo letrado. As variaes dessa brincadeira podem incluir nmeros, formas geomtricas, cores, flores, frutas, personagens do mundo fantstico, histrias ou outras situaes que as prprias crianas escolhem. Brincar de fotografar ou desenhar letreiros, placas de carros, sinais de trnsito, propagandas; visitar um supermercado e verificar as sinalizaes e marcas dos alimentos um interessante passeio para iniciar a criana no letramento.

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ATENO Durante a brincadeira imaginria, a criana integra outros textos. Alm de usar a linguagem falada, pode escrever, com qualquer rabisco, tornando o ato simblico da escrita parte da ao de fazer receitas mdicas, colocar cartas no correio, construir outros textos com desenhos e imagens tridimensionais. Lembrar-se que a expresso da criana pequena s possvel por meio de linguagens. Integradas. A separao neste segmento apenas de natureza didtica. Portanto, a criana est sendo letrada quando v embalagens de alimentos, em programas televisivos ou nas reas de brincadeiras, discute com a professora e com os amigos, dana, fala, desenha ou modela personagens ou situaes que lhe interessa e utiliza a cultura oral e a potica para a expresso de suas narrativas. Em todas essas situaes, ela mostra que est compreendendo o mundo letrado utilizando vrias formas de expresso conjugadas. Portanto, filmar crianas brincando, deixlas ver o filme, solicitar que faam desenhos sobre o que esto fazendo nas cenas e pedir que falem sobre o que fazem, implica no uso de vrias linguagens: visual, gestual e grfica. As aes ficam mais significativas quando se tem oportunidade de rever as mesmas cenas com vrias linguagens.

d. A brincadeira e o conhecimento do mundo matemtico

Contextos significativos possibilitam experincias ricas para as crianas no conhecimento do mundo social, matemtico, artstico , etc. Na educao infantil, essas experincias ocorrem nas brincadeiras. Como experimentar contextos significativos que favoream a sua imerso no mundo matemtico? Os bebs experimentam a imerso no mundo matemtico usando o seu prprio corpo, movimentando-se no espao, subindo, descendo, entrando e saindo de caixas, tneis ou buracos. Brincando de rolar sobre rolos de espuma, subindo em estruturas preparadas para criar desafios, brincando de esconder e achar objetos, olhando de cima ou de baixo, deitado, sentado ou de p, apalpando objetos, encaixando peas, balbuciando sons ao ritmo de melodias, o beb est explorando a geometria dos objetos, o espao fsico, os sons e mergulhando no mundo matemtico.

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A entrada no mundo da matemtica ocorre quando a professora sabe como encaminhar a criana para brincadeiras em que se vai descobrindo o significado dos nmeros. O beb ingressa no mundo matemtico pelo uso do corpo no espao, pelas experincias que realiza com os objetos. Crianas maiores j vo medindo a sala com cabo de vassoura, de braos abertos ou com as palmas da mo, fazendo marcas ou nmeros. Assim vo compreendendo o significado de tamanho e quantidade Brincadeiras para pensar sobre como medir e quantificar Desenhar os mveis e objetos dentro da sala. Brincar em diferentes posies: deitado, em cima, embaixo, do lado. Contar os dias, observar quantas crianas vieram e quantas faltaram, anotar no calendrio dirio, se h sol, chuva ou nuvens, verificar as atividades ao longo do dia. Classificar conjuntos de objetos com palavras como nenhum, muito, pouco, bastante. Criar smbolos para indicar quantidades. Fazer colees de objetos de modo que elas possam compor o cotidiano, a sala, os espaos de sua casa ou da creche. Brincadeiras, como a dana das cadeiras, de correspondncia entre a criana e a cadeira: a cada criana que sai tira-se uma cadeira. Boliche (de tecido, macio para os menores e mais duro, de plstico, para os maiores) ou argolas no poste, para contar os acertos. Brincar de medir as crianas. Apostar corrida para ver quem chega primeiro a um lugar marcado. Cantar, pular corda e recitar parlendas, trava-lnguas, em ritmo rpido e lento. Marcar as batidas com as palmas e os ps, aumentar ou diminuir o tom de voz. Jogar bolas coloridas, cada cor em uma cesta. Pescar e anotar com marcas ou nmeros os peixes pescados. Fazer compras em supermercado, pagando com dinheiro feito pelas crianas.

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e. Brincadeiras individuais e coletivas

As crianas brincam sozinhas ou em grupos em qualquer lugar, inclusive na creche. importante ter um tempo individual para pensar sozinho, para falar com seu amigo imaginrio, ou explorar um brinquedo. Uma educao de qualidade deve ofertar tempos para brincadeiras individuais e grupais. Valorizar a organizao da sala depois da brincadeira contribui para a construo da auto-estima e da identidade da criana e do grupo. A partir de um ano e meio, as crianas comeam a gostar de organizar seus brinquedos. Criar com elas sistemas de organizao faz parte da brincadeira, pegando, brincando e depois guardando os brinquedos. Toda situao nova pode trazer um pouco de tenso. O desconhecimento de brincadeiras pode levar a criana a se afastar do grupo, por isso, para uma boa integrao, nada melhor do que iniciar com brincadeiras conhecidas por todas. Brincadeiras tradicionais como esconde-esconde, pique, pular corda, amarelinha, brincadeira de roda, facilitam a integrao no grupo. Depois de integradas, elas adquirem confiana e pode-se ensinar novos jogos. Nas brincadeiras em pares, podem ser usados brinquedos como carros com dois lugares para os bebs serem puxados e triciclos, com assento regulvel e apoio traseiro, para pedalar e at dar carona a um amigo. Escolher um escorregador com a prancha larga para que duas a trs crianas possam escorregar juntas. Nas atividades individuais, pode-se oferecer a diversidade de materiais e brinquedos interessantes para as crianas. Um bom exemplo o recipiente com materiais de uso cotidiano, conhecido como Cesto dos Tesouros, em que as crianas podem manipular e explorar num mesmo lugar vrios objetos que lhes interessem, de acordo com seu ritmo. Para grandes agrupamentos, deve-se prever no s a diversidade, mas a quantidade de materiais e brinquedos para garantir o brincar de cada um e ampliar contatos sociais.

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O clima de confiana se estabelece quando se criam momentos em que as crianas ensinam as brincadeiras que conhecem aos novos coleguinhas, em situaes de cumplicidade entre crianas de idades iguais e diferentes.

ATENO: Cada criana diferente da outra. Uma vive no centro, outra na periferia, em bairros nobres ou populares. Algumas vivem em famlias que falam outras lnguas, tem hbitos alimentares e formas de brincar que so diferentes, porque trazem a cultura de outros pases. Enfim, todas so crianas, mas diferentes na forma de falar, pensar, relacionar-se e at de brincar. Desta forma, um agrupamento da mesma faixa etria pode ter interesses comuns especficos, mas a singularidade de cada criana precisa ser respeitada. Para aprender novas formas de brincar, as crianas precisam ter contato dirio com outras crianas no s do seu agrupamento, mas com as mais velhas em espaos de dentro e fora da instituio infantil.

f. Brincadeiras livres: cuidado pessoal, auto-organizao, sade e bem-estar

Muitos acreditam que a brincadeira livre natural nas crianas. Ao imaginar que as crianas nascem sabendo brincar, que no precisam aprender, que brincam em todo lugar e com o que existe, concluem inadequadamente que nada precisa ser feito. Deve-se lembrar que este manual aborda as brincadeiras de qualidade que precisam de planejamento. As brincadeiras livres devem ocorrer em ambientes planejados para essa finalidade, de modo que as crianas possam vivenciar durante esse processo experincias de cuidado com o corpo, capazes de lhes propiciar bem-estar e oportunidade de auto-organizao.

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Brinquedos e materiais em estantes baixas, na altura do olhar das crianas, separados e organizados em caixas etiquetadas com o nome dos brinquedos oferecem autonomia s crianas para peg-los, us-los e depois guard-los. A responsabilidade de cuidar dos objetos de uso coletivo adquirida nesse tipo de brincadeira. A auto-organizao da criana, nesse processo de pegar e guardar o brinquedo, contribui para a sua formao e passa a fazer parte da brincadeira. Esse sistema propicia, tambm, o desenvolvimento da linguagem escrita e visual, porque as crianas observam o desenho e o nome do brinquedo na etiqueta e vo gradativamente descobrindo o significado das palavras escritas durante esse processo de organizao. Com o apoio da professora, crianas pequenas exploram autonomamente os objetos, e so orientadas a guard-los aps o uso em sacolas ou caixas devidamente identificadas. A professora faz a mediao, indicando as peas que se encontram espalhadas e onde devem ser guardadas, at as crianas adquirirem o hbito da auto-organizao. Essa brincadeira de identificar o tipo do brinquedo e guard-lo na respectiva sacola/caixa, introduz, na educao infantil, a experincia prvia para a compreenso da classificao. Na educao infantil fundamental a integrao dos tempos de cuidar, educar e brincar. O planejamento coletivo sobre o uso do espao fsico da creche por professoras e gestoras, facilita a integrao entre cuidar/educar e brincar em todos os tempos da permanncia da criana na creche. Espaos de troca e banho integrados aos da sala de atividades possibilitam professora dar banho em uma criana, observar outras que brincam prximo a ela e, ao mesmo tempo, visualizar as que esto na sala de atividades. Esse um exemplo de ambiente que integra o cuidar/ educar/brincar. tambm divertido brincar de tomar banho de esguicho nos dias muito quentes. Enquanto a professora d banho em uma criana, pode convidar outras para brincar de encher e esvaziar canecas em uma bacia. muito prazeroso.

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Integrar o brincar com as aes de cuidado e educao faz com que, mesmo durante o banho, a professora olhe e fale com o beb. Ao responder com um sorriso, olhar ou balbucio, o beb interage e inicia o processo do brincar. Para a sade e o bem-estar da criana, fundamental que as brincadeiras ocorram em ambientes tranquilos, seguros, em espaos internos e externos, cotidianamente. Mesmo durante a alimentao, se o beb derrubar a colher, deve-se brincar dizendo: Caiu a colher! e observar como ele repete a ao: se h repetio com prazer, a brincadeira integrou o cuidar e o educar. O tempo da alimentao tambm o momento para a apreciao das cores, texturas, cheiros dos alimentos, alm de ser espao para imitao. Quando o beb quer dar de comer ao outro, colocar uma boneca perto dele para que possa repetir aes imitativas. Durante as brincadeiras, especialmente com bonecas, as crianas expressam seus conhecimentos sobre os cuidados pessoais: tomar banho, pentear o cabelo, vestir-se, trocar fraldas. Durante a brincadeira, podem surgir confrontos: um empurra o outro para tomar o brinquedo, o que obriga a professora a intervir, para a criana aprender a controlar sentimentos de raiva quando no consegue o brinquedo, levando-a a partilhar a brincadeira com o amiguinho. Os conflitos fazem parte da educao das crianas e devem ser experimentados, para que aprendam a compartilhar e a viver em grupo.

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BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CRECHES

As experincias mediadas que focam a sade e o bem-estar tambm esto relacionadas com a disposio e o planejamento do uso do espao no edifcio escolar bem como com as diversas opes de atividades para as crianas. A integrao de ambientes internos (sala de atividades) com os espaos externos (pequenos parques conjugados s salas) possibilita criana autonomia para entrar e sair durante determinado momento do dia, de acordo com a atividade e a proposta curricular da instituio. Estar ao lado de um parque pode fazer muita diferena nas atividades cotidianas de um berrio: para a criana, abre a possibilidade de estar ao ar livre e de ter mais espaos para brincar; para a professora, significa dispor de recursos que a auxiliem na realizao de um trabalho de qualidade que integre espaos internos e externos. O bem-estar das crianas tem relao com suas necessidades: dormir ou brincar, comer ou ficar com seus brinquedos afetivos. Deve-se promover atividades interessantes para aquelas que no querem dormir ou reservar sempre espaos para aquelas que, mesmo durante os tempos de atividade, precisam dormir. Deixar em espaos delimitados e conhecidos pelas crianas os seus brinquedos de afeto, para que possam peg-los quando quiserem, por exemplo, seu bichinho de estimao. Garantir essa tranquilidade exemplo de um ambiente de bem-estar. A edificao de estabelecimentos de educao infantil influi no bemestar das crianas. O projeto arquitetnico do edifcio da creche deve atender s normas brasileiras de conforto ambiental para que bebs e crianas pequenas no sejam submetidos a situaes de risco e desconforto (temperaturas muito altas ou baixas, rudos excessivos, pisos frios para engatinhar, refeitrios barulhentos, parques sem sombra etc.), prejudiciais ao seu desenvolvimento e sua sade. O edifcio da creche deve ser composto por ambientes acolhedores, reas diferenciadas para brincadeiras em ambientes internos (espaos de movimentao, espaos para apresentaes teatrais, espaos para artes,

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msica, salas de atividades etc.) e externos (parques com relevos, vegetaes e situaes que promovam desafios saudveis para bebs e crianas pequenas).

g. Brincadeiras e vivncias ticas e estticas com outras crianas e grupos culturais, para favorecer a identidade e a diversidade

VIVNCIAS TICAS INCLUEM:

- aes, como respeitar o espao de brincar do outro, guardar, emprestar os brinquedos e esperar sua vez de us-lo; - aes de responsabilidade e de democracia.

VIVNCIAS ESTTICAS INCLUEM:

- uso dos objetos ao modo individual de cada criana; - uso de acordo com a cultura esttica de sua famlia e de sua comunidade.

as Algum es sugest

Brincadeiras com sucata e blocos desenvolvem a criatividade e tais materiais ganham formas variadas nas mos das crianas, que por meio deles expressam sua viso do mundo. Uma criana que, por exemplo, observa o pai reformar o jardim de sua casa e, na creche, reproduz a atividade a seu modo usando blocos de construo, fazendo um jardim similar ao construdo por seu pai, est oferecendo um exemplo de vivncia esttica. Ela reproduz na brincadeira a mesma esttica que o pai utiliza na organizao dos blocos para construir o jardim de sua casa.

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Espao do faz-de-conta - a esttica adotada por cada cultura diferencia, por exemplo, a panela de barro ou de alumnio utilizada para fazer comida; a rede, o bero ou o cesto para pr a boneca para dormir a criana organiza os utenslios domsticos no espao da casinha, conforme suas experincias prvias, adquiridas em casa. Respeitar as vivncias estticas de grupos culturais significa utilizar as prticas cotidianas das famlias na organizao do seu espao de vida cotidiano. A organizao da casa, do jardim, um exemplo de vivncia esttica que pode ser utilizado para organizar os espaos de faz-de-conta. As vivncias ticas podem aparecer nos jogos em que se ganha ou perde, em que se discutem as regras e as implicaes quando forem burladas. As vivncias ticas podem manifestar-se no respeito ao espao do brincar do outro, em no destruir a construo feita pelo amiguinho, de aprender a guardar os brinquedos utilizados, a partilhar os brinquedos, emprestando ou esperando sua vez de brincar. Para favorecer as vivncias ticas importante construir, com as crianas, regras para o convvio no dia a dia

CRIAR NORMAS

PASSO -A-PAS SO

1. Discutir com as crianas o que elas acham que est correto ou errado, o que se pode fazer ou no. 2. A professora escreve em uma frase cada norma criada pelas crianas. 3. As crianas fazem o desenho de cada norma. 4. As crianas selecionam o desenho que melhor representa cada norma. 5. A professora organiza um grande cartaz em que aparecem as normas escritas e os desenhos selecionados. 6. Colocar na parede ou em um grande quadro as normas escritas e desenhadas pelas crianas, que servem de guia para as aes do dia a dia.

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ATENO: Esse cartaz um suporte para que as crianas se lembrem do que o prprio grupo props como aes permitidas ou proibidas. A frase escrita pela professora tambm um recurso para o letramento, assim como o desenho da criana outra linguagem que facilita a compreenso do significado de cada norma. Se a professora fotografar, digitalizar e diminuir os desenhos pode-se ter um quadro de melhor dimenso para ocupar um espao menor nas paredes da sala. Lembrar que, para o criador da escola infantil italiana, Malaguzzi, o mobilirio e paredes fazem parte do ambiente educativo, como se um segundo adulto auxiliasse continuamente a educao de seu agrupamento.

SITUAES QUE FAVORECEM A IDENTIDADE E DIVERSIDADE CULTURAIS

As crianas so diferentes. Cada qual tem sua identidade prpria, vive em famlias distintas, provm de comunidades tnicas, ambientes culturais e nveis econmicos diversos. Como aproveitar essa diversidade utilizando as brincadeiras? possvel aprender brincadeiras tpicas com crianas de outros pases ou de comunidades indgenas, quilombolas, ribeirinhas, do campo e afrodescendentes. Por exemplo, no pega-pega, o pegador poder ser um personagem do mundo real ou imaginrio referente cultura do grupo, como ona, caador, cuca, bruxa, mula sem cabea, saci ou curupira. Brincadeiras de faz-de-conta - ao pentear o cabelo no salo de beleza, diante do espelho, as crianas tm conscincia da cor de sua pele e do tipo de cabelo, tendo a oportunidade de avaliar a esttica de seu grupo cultural. A mediao da professora, ao valorizar as caractersticas de cada uma, auxilia a construo da identidade da criana. Contar histrias dos diferentes povos e dos objetos por eles utilizados.

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Oferecer bonecas negras, brancas e objetos de enfeite de cada agrupamento cultural nas reas de faz-de-conta, o que possibilita vivenciar o modo de vida da criana e de sua famlia. Organizar, com os pais, vivncias de brincadeiras tpicas da comunidade para aumentar o repertrio de brincadeiras de todas as crianas e propiciar a aprendizagem do respeito s formas de vida dos vrios grupos. As crianas com deficincias, com dificuldades de aprendizagem ou as superdotadas requerem ambientes especiais, mas no devem ficar separadas das outras. Crianas com mobilidade reduzida utilizam carrinhos ou equipamentos especficos; o deficiente visual ou com baixa viso precisa de pisos diferenciados e corrimos para aprender a se deslocar. Essas crianas precisam de brinquedos e materiais especficos e diversos para elas, da superviso da professora e de amigos para observar e brincar junto.

ATENO: fundamental pensar em prticas especficas para cada criana. Mesmo apresentando algumas caractersticas comuns nos grupos culturais, uma diferente da outra, o que requer observ-las individualmente, para que os interesses e as necessidades de cada uma faam parte do planejamento curricular. No apenas na sua entrada na creche, mas a qualquer momento, em todos os dias, o cuidado com a individualidade e a diversidade aumentam as oportunidades de educao.

h. Brincadeiras: mundo fsico e social, o tempo e a natureza

MUNDO FSICO

O mundo fsico entendido como a forma cognitiva da criana experimentar situaes em que percebe pelos sentidos fsicos (viso, audio, tato, paladar, olfato) como a realidade sua volta. Ao brincar, a criana explora e experimenta o que se pode fazer com a gua ou com a terra e vai compreendendo o mundo ao seu redor. No se trata de propor criana a aquisio de uma definio cientfica do fenmeno fsico, pois essa a tarefa do ensino fundamental.

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as Algum es sugest

Brincando com gua usando tubos, peneiras, canecas e garrafas, as crianas questionam a razo da gua no parar na peneira, o que faz emergir a hiptese de segurar a gua com a mo debaixo da peneira. Brincando com gua, fazendo chuva, vapor ou gelo, as crianas aprendem a mudar a natureza das coisas do mundo fsico. Brincando com objetos para produzir som, desenhando com carvo ou giz de cera, fazendo sombra ou luz com vela ou lanterna, produzindo tintas com plantas e terra para criar cores, as crianas entram em contato com as transformaes do mundo fsico. Ampliam seu conhecimento quando o adulto propicia materiais, tempo para brincar, observar ou desenhar situaes em que se pode observar as transformao do mundo fsico utilizando gua, areia e terra.

MUNDO SOCIAL

As pessoas vivem em mundos sociais, com suas famlias e seus vizinhos, em locais em que compartilham suas vidas com as pessoas no mundo do trabalho, da escola, do lazer, da vida domstica, onde estudam, aprendem, trabalham , passeiam ou convivem com seus familiares .

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O mundo social, ao conter a diversidade de profisses, de situaes da vida na cidade, no campo, nos acampamentos, rico de experincias que as crianas aproveitam para ampliar seu repertrio de brincadeiras, por meio de interaes com outras pessoas e expressar novas formas ldicas.

as Algum es sugest

Conforme a regio do pas, h diferentes formas de brincar e denominaes diferentes para a brincadeira como pipa, pandorga, quadrado ou rodar pio com regras diversas. As prticas sociais de expresso de brincadeiras incluem desde fazer boneco de sabugo de milho a relgio de sol, pisar na sombra dos outros, desenhar os pingos da chuva, pisar nas poas dgua, esconder-se, ser perseguida pela mula-sem-cabea, o monstro ou o super-heri. Jogos de tabuleiro, brincadeiras em grupo e suas regras so criaes da sociedade e trazem tanto valores da competio, em que se ganha ou perde, quanto aqueles portadores de valores ticos como cooperao, proteo ao meio ambiente, sade, biodiversidade, entre outros. Para ampliar esse tipo de brincadeira, construir com as crianas maiores os jogos de tabuleiro, introduzindo as experincias das crianas no percurso do jogo. Uma ida ao zoolgico pode oferecer inmeras experincias que podem figurar nas caselas do jogo. Desenhar em uma cartolina, uma trilha contendo dois percursos iguais, ou um esquema em cruz com ponto de partida e chegada para dois jogadores. Em algumas caselas a criana desenha, por exemplo, a girafa e o elefante como animais maiores que requer parar para olhar. Outros personagens do zoolgico como o jacar e o leo podem figurar como perigosos e nessas caselas o jogador perde uma casela, tendo que voltar atrs. Momentos prazerosos como o de tomar sorvete ou brincar no parque representam a sorte, em que se avana uma casela. Discutir com as crianas as regras: sortear com os dados a quantidade de caselas que se pode avanar; quem chegar no final do percurso ganha; parar quando encontrar caselas com as figuras de animais como a girafa e o elefante; voltar uma casela quando encontrar um jacar ou leo. Avanar uma casela quando encontrar um sorvete ou um parque para brincar. Para crianas de creche, a professora j disponibiliza o tabuleiro com o traado e solicita s crianas que desenhem nas caselas os personagens , conforme as regras definidas. Para os pr-escolares o tabuleiro pode ser construdo por eles.

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Adquirir dados ou constru-los com cartolina ou argila. Desenhar os nmeros ou pontinhos nas suas faces. Cada dupla pode escolher os personagens e situaes que desejar para suas caselas. Depois s desenhar e brincar. A temtica do mundo social aparece na brincadeira de faz-de-conta, nos personagens que a criana assume: mdico, professora, motorista. Os personagens do mundo social nem sempre so os mesmos, pois dependem do contexto vivido pelas crianas. Se as crianas conhecem apenas o pediatra, pode-se ampliar a brincadeira introduzindo o ortopedista, o oftalmologista, o otorrino, o cardiologista e as prticas associadas a tais profisses. Dispor na sala e na rea da brincadeira de mdico, apetrechos como estetoscpio, termmetro, aparelho de medir presso, injeo, ataduras e bengalas. Nem sempre os personagens agem da mesma forma, pois cada criana experimenta situaes sociais que so diferentes. Cada criana expressa o personagem do mdico, conforme experincias prprias ou vivenciadas em filmes, nas revistas, nas conversas domsticas.

NATUREZA

A natureza farta de elementos que enriquecem o brincar infantil. Brincadeiras como fazer cabanas com folhas e galhos, brincar nos troncos das rvores, expressam valores relacionados a comunidades rurais, mas pode-se recriar tais modalidades em qualquer lugar. Os brinquedos carregam significaes de lugares e tempos diferentes.

as Algum es sugest

Usar recursos da natureza para fazer colares, anis e brincos ou utenslios domsticos, de caa ou pesca, utilizando frutos, cips, argila, madeira macia como a palmeira de meriti para, junto com as crianas, produzir brinquedos e objetos. Utilizar pedrinhas do rio e fazer desenhos em sua superfcie ou us-los como peas dos jogos criados pelas crianas valorizam a natureza e oferecem novas oportunidades de expresso . Aproveitar os troncos de madeira cados ou de rvores que foram cortadas para criar cenrios de brincadeiras de expresso motora em que se pula, sobe, desce, ou para fazer uma mesa, um banco, que servem para brincadeiras imaginrias.

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Amarrar nos troncos frondosos cordas para brincar de balanar. Utilizar as folhas e flores como alimentos nas brincadeiras imaginrias. Brincar de esconder atrs de arbustos, rvores ou morros; Brincar de colher musgos, conchinhas, pedrinhas, galhos, folhas e flores para fazer colees ou recriar a natureza sobre azulejos. A natureza se transforma em objeto de arte, em cultura feita pela criana.

TEMPO

O tempo pode parecer algo complicado para crianas pequenas. No entanto, elas vivem seu cotidiano mergulhadas em atividades que exigem a ateno para o tempo. Como utilizar o cotidiano para fazer as crianas pensarem sobre o tempo?

as Algum es sugest

Brincar de fazer previses de tempo, observar as fotografias da escola ou da casa da criana antes e depois da reforma, ver o calendrio dirio e semanal da creche so atividades que promovem vivncias sobre a noo do tempo. Os desenhos feitos pelas crianas, de um ano a outro, mostram como elas avanam em seus traos e significados: os rabiscos vo dando lugar a formas arredondadas e a detalhes do que se quer significar. Tais marcas mostram o grafismo e o tempo vivido por cada criana. Olhar fotografias do tempo em que entraram na creche como bebs e agora, com 3 anos, j crescidas e com muita experincia, outra maneira de ver o tempo passar. Olhar o mapa que contm as medidas da altura de cada criana de um ano para outro para verificar como elas cresceram e tambm mudaram de agrupamento. Os portflios individuais das crianas so documentos pedaggicos que devem ser vistos pelas crianas para que compreendam a noo do tempo: sua histria de vida ao longo de um perodo.

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ATENO: Ao jogar, as crianas vo aprendendo a noo de sequncia, as regras indicam o tempo de cada jogador. Saber esperar sua vez de jogar tambm a construo da noo do tempo no jogo. importante lembrar que brincadeiras do mundo fsico e social, o tempo e a natureza exigem uma clara inteno pedaggica da professora, desde o momento que a criana ingressa na creche. Brincar de fazer gelo ou vapor requer materiais e tempo para a atividade. Para se comparar fotografias de crianas, preciso guardar aquelas do perodo do berrio, quando elas eram bebs, e agora, com trs anos. Se vou utilizar a mudana na altura das crianas, para a compreenso da passagem do tempo no crescimento das crianas, preciso guardar e organizar as medidas sobre a altura de cada criana.

i. Brincadeiras com msica, artes plsticas e grficas, cinema, fotografia, dana, teatro, poesia e literatura

As manifestaes artsticas criam sempre oportunidades para inmeras brincadeiras. A diversidade de experincias culturais favorece brincadeiras coletivas e do oportunidades para as crianas se relacionarem. Tais experincias no campo das artes devem fazer parte da vida diria das crianas na programao curricular.

as Algum es sugest

Ir a festivais, teatros e exposies, assistir a filmes no cinema, aprender a fotografar, danar, recitar poesias e ouvir histrias so atividades que despertam essas manifestaes artsticas. Promover aes da instituio de educao infantil junto com as famlias e a comunidade que possibilitem o acesso das crianas a esses bens culturais. Convidar artistas da comunidade para divulgar a arte que dominam. Inserir na programao curricular de cada agrupamento os elementos necessrios para enriquecer a cultura artstica das crianas. Dispondo desse conhecimento cultural sobre as artes as crianas podem recri-las em suas brincadeiras. Qualquer atividade com msica, artes plsticas e grficas, fotografia, dana, dramatizao, recitao ou reconto de histrias pode tornar-se

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uma brincadeira divertida, quando se oferecem oportunidades para expresses livres. Lembrar que o brincar de qualidade significa que a criana deve ter iniciativa para comear uma ao como danar e cantar, mas necessita um suporte cultural. Se ela desconhece as danas e msicas, no poder expressar uma brincadeira de qualidade, que significa sempre a recriao de algo que a criana j domina. Se o contedo cultural da criana pobre de referncias, sua expresso tambm o ser. Lembrar que h necessidade de previso e planejamento desses programas culturais que devem fazer parte do currculo e necessitam sempre da mediao da professora, do apoio da equipe, da famlia e da comunidade que abre as portas para o mundo das exposies e atividades artsticas. As crianas utilizam os saberes adquiridos a partir dessas vivncias externas (programas culturais) para se expressar e se relacionar. Durante as brincadeiras, utilizam a experincia cultural que adquiriram, apropriando-se das canes, das danas, fazem desenhos, fotografam, dramatizam, tornamse poetas e narradoras durante suas expresses ldicas.

j. Brincadeiras, biodiversidade, sustentabilidade e recursos naturais

As crianas podem brincar tanto com brinquedos industrializados como artesanais, construdos por adultos e crianas, alm de utilizar materiais de sucata e da natureza. Como interagir com tais materiais e preservar os recursos que so escassos?

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as Algum es sugest

So muitos os brinquedos que podem ser feitos com materiais de sucata que divertem as crianas e devem ser utilizados com responsabilidade. importante aprender a usar, limpar, guardar e reutilizar os materiais. Respeitar o meio ambiente significa no jogar papis e brinquedos pelo cho, usar os materiais sem desperdiar, reutilizar caixas, copinhos de iogurte e garrafas de plstico para construir brinquedos. Lembrar que as crianas adquirem muito mais experincia quando podem explorar os espaos externos creche. Os passeios no quarteiro, no supermercado, na vendinha, no parque, nos espaos prximos creche so momentos importantes para a observao da natureza, da cidade, do campo, do trabalho e oferecem os contedos curriculares, que so as vivncias, para as conversas e projetos das crianas. Esses momentos devem ser programados e fazer parte do currculo de cada agrupamento infantil. Para explorar o mundo, as crianas precisam sair da instituio para observar casas, prdios, morros, florestas, rvores com flores e frutos, pssaros, animais, nuvens, o cu, plantaes, rios e riachos, jardins, ruas, bueiros, lixos, fumaa das fbricas, mangues, supermercado e carros. So referncias que podero ser utilizadas em outras atividades expressivas como desenhos, pinturas, esculturas, contao de histrias, danas, msicas e brincadeiras. Quanto mais uma experincia aparece sistematicamente representada livremente pelas crianas com uso de vrias linguagens, mais elas se tornam compreendidas de forma mais complexa. Brincar com gua, tomando cuidado para no desperdiar, aprender a preservar os recursos naturais. Fazer exploraes em parque e jardins no entorno da creche, para colecionar folhas e flores cadas, pedrinhas, cascalhos e utiliz-los na produo de obras de arte, de colees, classificaes e de suporte para suas narrativas. A sustentabilidade implica na oferta constante da mesma qualidade do trabalho ao longo dos anos. Uma atividade considerada rica pelas crianas, pelos pais e pela creche no pode ser exercida apenas de vez em quando. Ela deve integrar o currculo e ser oferecida sistematicamente na programao cotidiana, para que todas as crianas que chegam nessa fase da creche possam ter o direito a um brincar de qualidade. Esse o sentido da sustentabilidade das experincias significativas, que garante a qualidade do trabalho da instituio.

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k. Brincadeiras e manifestaes de tradies culturais brasileiras

A riqueza cultural do Brasil proporciona uma rica diversidade de manifestaes tradicionais do folclore, com as festas do boi bumb, maracatu, congada, festas juninas, carnaval, reisado, entre outros. Acompanham essas expresses os instrumentos musicais, os objetos e as fantasias. Como aproveitar essa riqueza das tradies da cultura brasileira?

as Algum es sugest

Convidar pais e membros da comunidade que conheam tradies do folclore brasileiro a repass-las s crianas da creche para que possam construir os instrumentos musicais que acompanham essas manifestaes. Incentivar os pais a levarem seus filhos para conheer as festas populares. As professoras podem promover a continuidade da experincia da casa na creche, ao aproveitar a cultura popular que as crianas j dominam para aprofundar a significao de tais tradies culturais brasileiras. As crianas podem construir com caixa de papelo e fitas decorativas o boi bumb, para ter o duplo prazer da construo e da brincadeira de ser o boi.

COMO CONSTRUIR?

1. Selecionar caixas de papelo que se encaixam no corpo da crianas e cortar as abas das caixas 2. Fazer um buraco no fundo de cada caixa para que a criana possa entrar dentro dela 3. Amarrar um fio nas duas laterais de cada caixa, de forma a possibilitar criana segur-la pelo fio que passa pelo seu pescoo. A caixa deve ficar suspensa pelo fio, na altura da cintura da criana. 4. Solicitar s crianas a pintura das caixas e a decorao nas suas laterais com pedaos de papel colorido ou fitas. 5. Oferecer s crianas toquinhos de madeira como instrumentos musicais para acompanhar as danas do boi bumb.

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CONTAR HISTRIAS, APRENDER AS MSICAS E DANAS LEVA A CRIANA A PENETRAR NO SIGNIFICADO DESSAS CULTURAS.

Cada povo tem sua identidade, sua marca cultural divulgada por suas histrias, seus contos e suas tradies na msica e na dana. A diversidade cultural brasileira, constituda por povos vindos de pases europeus, americanos, asiticos e latino-americanos, pode ser compreendida quando se conhece as histrias de cada povo, suas msicas e danas. muito mais fcil para uma criana pequena compreender a vida de diferentes povos que vivem em ambientes diferentes como na floresta, no deserto, na neve, nas cidades ou na zona rural, por meio dos contos, de suas msicas e suas danas. Como aproveitar a riqueza desses contos, msicas e danas?

as Algum es sugest

Cada famlia pode trazer para a instituio infantil os objetos valorizados por sua comunidade, criando um pequeno museu, fortalecendo as tradies e ampliando as oportunidades para comentrios de crianas e familiares. Visitar, com as crianas, as exposies e apresentaes de grupos culturais. Envolver os pais e a comunidade na divulgao de suas manifestaes culturais na creche. Convidar os grupos culturais da regio para visitas e apresentaes na creche. Contar histrias de vrias culturas e convidar as crianas a imaginar e recriar novas histrias. Ensinar msicas e danas de diferentes culturas . Dispor de livros de histrias que tratam da cultura dos diferentes povos para consulta de crianas e de familiares.

l. Brincadeiras