brincar com coisas coisas sérias de margarida fonseca santos e rita vilela

19

Upload: rita-vilela

Post on 25-Jan-2017

153 views

Category:

Entertainment & Humor


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela
Page 2: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Margarida Fonseca Santos e

Rita Vilela

Brincar com Coisas Sérias

Viver através dos Contos

Page 3: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

www.oficinadolivro.pt

© 2010, Margarida Fonseca Santos, Rita Vilelae Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.

uma empresa do grupo LeYaRua Cidade de Córdova, 2

2610-038 AlfragideTel.: 21 041 74 10, Fax: 21 471 77 37E-mail: [email protected]

Título: Brincar com Coisas SériasAutoria: Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

www.margaridafonsecasantos.blogspot.comwww.rita-vilela.blogspot.com

Revisão: Silvina de SousaComposição: Informaster, Lda.em caracteres Sabon, corpo 12

Capa: Neusa Dias / Oficina do LivroImpressão e acabamento: Guide Artes Gráficas, Lda.

1.ª edição: Agosto de 2010

ISBN 978-989-555-528-4Depósito legal n.º 313244/10

Page 4: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

7

DEDICATÓRIA

R – Com carinho e gratidão, dedicamos este livro aos nos-sos maridos, fundadores da AMME.

M – E a todos os que, depois de lerem as nossas histórias – ou

de as ouvirem contadas por nós em sessões de contos –,

nos incentivaram a continuar…

R – E a todos os que estão a abrir os nossos livros pela pri-meira vez…

M – No fundo, no fundo, a todos os que dão sentido a este tra-

balho. Vá, diz lá o que é a AMME.

R – Achas mesmo necessário? Era uma piada privada.M – Conta lá, as pessoas querem saber.

R – Pronto, pronto, AMME é a Associação dos Maridos das Mulheres Escritoras… E mais não digo!

Page 5: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela
Page 6: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

9

R – Ora seja muito bem-vindo!

M – Ou reaparecido…

R – Reaparecido?…

M – Então, pode ser alguém que já tenha lido o nosso primeiro

livro, Histórias para Contar Consigo.

R – Tens razão, sim, pode ser alguém já nosso conhecido.

M – Mas não deixamos de o cumprimentar…

R – Claro, isso é que não! Sejam todos muito bem-vindos.

M – Bom, mas ainda não nos apresentámos… Eu sou a Marga-

rida.

R – E eu sou a Rita.

M – Este é um livro cheio de histórias escritas por nós… para si!

Histórias que ficam cá dentro a…

R – Então?! Vais dizer já o que acontece quando se lêem as

histórias?!

M – Não… Desculpa, excedi-me… Mas são histórias que nós

escrevemos, isso estava certo.

R – Certíssimo! E escrevemo-las com um enorme carinho.

M – Pois foi… para si…

R – Ah, e para quem já leu o primeiro livro, fica aqui um

esclarecimento: mandámos embora aqueles dois que

falavam.

M – Pois foi! Toda a gente pensava que éramos nós duas à con-

versa e então…

R – Achámos que podíamos mesmo ser nós. Hum… É aqui

que explicamos o livro?

Page 7: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

10

M – Tem de ser, não podemos deixar os leitores a circular por aí

sem saber o que devem fazer.

R – Mas há uns que não ligam nenhuma ao que nós dize-

mos… Já no outro livro andaram a ler como lhes apete-

cia…

M – Mas nós explicamos na mesma, é para isso que aqui esta-

mos. Pois, caro leitor, ou leitora!, este livro é um jogo.

Mesmo se todos cumprissem as regras deste jogo, dificil-

mente haveria duas pessoas a ler o livro da mesma forma.

R – Bem, a verdade é que isso acontece sempre porque,

mesmo os que lêem como lhes apetece, acabam por

inventar maneiras diferentes de o ler.

M – Exacto. A nossa ideia é propor-lhe o seguinte: leia o pri-

meiro conto. Quando terminar, colocamos-lhe uma ques-

tão.

R – Dependendo da resposta que escolher, ser-lhe-á indi-

cada a história que deverá ler a seguir. Fácil, não?

M – De vez em quando, vamos aconselhá-lo a parar. Pode, nessa

altura, regressar às primeiras questões – experimente esco-

lher outra resposta. Aonde será que essa o leva?

R – Nós sabemos…

M – Então?!

R – Desculpa… É que acho mesmo engraçado isto de esco-

lherem e avançarem pelos caminhos que nós fomos cozi-

nhando!

M – Mas há uma novidade: neste livro, damos-lhe muita liber-

dade.

R – Pois é, muito mais liberdade! Depois vai ver.

M – Só um pequeno aviso… Pode acontecer-lhe querer voltar

atrás e…

Page 8: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Brincar com Coisas Sérias

11

R – Nesses casos pode usar dois marcadores, para saber sem-

pre de onde veio e nunca se perder.

M – Mas no fundo, no fundo, pode avançar como quiser! O im-

portante é que se divirta!

R – Caro leitor, percebeu? Que tal experimentar?

M – Vamos à primeira história. Boa leitura e… boas escolhas!

Page 9: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela
Page 10: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

13

ERA UMA VEZ…

Era uma vez uma ideia que visitava a mente de alguém. Bom, para dizer a verdade, esta ideia já visitara a mente de muitos alguéns nos quatro cantos do mundo… muitos mesmo! Por isso, não adianta nada começar esta história com era uma vez, nem nada que se lhe pareça. Digamos só: vamos contar a história de uma ideia que andava de mente em mente.

A ideia já viajara muito sem assentar, já se cansara de entrar e sair de mentes tão diferentes umas das outras que a deixavam espantada, e foi num dia de calor que tudo aconte-ceu! Entrou na mente de alguém especial: um contador de his-tórias. Não se sabe ao certo se era daqueles que as escrevem, se era daqueles que as contam, se daqueles que as transfor-mam em imagens. Mas este contador deixou-se deslumbrar pela ideia, construiu um conto e… pô-lo a circular.

Conta a história deste conto, nascido dessa ideia, que primeiro foi transportado de boca em boca com alguma fide-lidade – fidelidade às palavras, ou ao som delas, ou às ima-gens do que contava. Isto acontecia porque o respeito que todos tinham pelo contador era grande. Depois… bom, depois deu-se a transformação.

Num dia de festa, quando a noite já ia avançada e todos pararam para contar e ouvir histórias, este conto foi apresen-tado pela primeira vez de uma forma inesperada: o fim do

Page 11: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

14

conto não foi explicado. Ficou apenas a pairar, espalhando pensamentos e sensações, interpretações e sorrisos.

Diz-se que naquela noite o conto contado ganhou uma vida diferente por cada mente que o escutou. E, tal como o sol se espalha devagar pela planície ao raiar da manhã, assim o conto foi recontado sem quebrar essa magia, avançando com preguiça de mente em mente. Quem o ouviu deu-lhe uma vida diferente… e voltou a contá-lo.

Mas, como a magia deste conto era poderosa, a inter-pretação era sempre diferente, e o final que cada contador dava ao conto contado ficava firmemente escondido, trans-formando-se em vidas diferentes por cada mente que tocava.

Parece que ainda hoje anda por aí, ganhando a cada mente sua vida, a cada ouvinte sua magia. Pensa-se que nunca irá parar. E há quem diga que, enquanto o conto for assim contado, o mundo vai poder sonhar acordado e adormecer embalado.

Page 12: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Brincar com Coisas Sérias

15

Que tipo de ideia mais o seduz?

Tirar prazer do que acontece

– siga para a pág. 51 – Um barco no lago

Mudar o que sente

– avance para a pág. 37 – O baile de máscaras

Livrar-se dos problemas

– continue e vá para a pág. 107 – Feira de trocas

Pôr fim ao sofrimento

– prossiga para a pág. 119 – Salvamentos

Avançar sem regras

– Força!

Page 13: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela
Page 14: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

17

A COLEIRA DO BERNARDO

Ele era um cachorro são-bernardo e tinha um pêlo bonito, macio, que lhe dava um ar meigo e fofo, mas, em família, chamavam-lhe Bernardo, apenas Bernardo, pois de santo não tinha nada.

Acontece que o Bernardo tinha uma característica que não conheço em mais nenhum animal: quando a vida não lhe corria como desejava, ficava sensível, irritadiço, não gostava que lhe tocassem.

Ora as crianças e os adultos, devido ao seu ar fofinho, andavam sempre à volta dele a tentar fazer-lhe festas. E esses carinhos, que os cães normalmente tanto apreciam, nessas alturas, incomodavam-no.

Uma tarde, ele estava especialmente sensível. Para que ninguém lhe tocasse, já tivera de mostrar os dentes a muita gente e pôr a milhas muitos miúdos com latidos e rosnadelas. Ora logo calhou ser nessa tarde que por ali passou uma fada que, vendo tão bonito cão, se aproximou para lhe dar um carinho.

A paciência do Bernardo tinha-se esgotado. Ao sen-tir mais uma festa indesejada, virou a cabeça e num impulso mordeu os dedos que o afagavam. Quando viu o sangue a sair da mão da fada, arrependeu-se, mas o mal já estava feito…

A fada, com um ar calmo e controlado, deixou que da sua mão escorresse um fio de sangue sobre a terra, for-

Page 15: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

18

mando um círculo. Bernardo não queria acreditar: no local onde caíra o sangue surgia agora uma coleira, uma coleira vermelho-escura. Em seguida, a fada tocou na coleira com a unha prateada do seu indicador e, em cada um dos pontos que ela tocou, nasceu um pedaço de metal aguçado. Quando terminou, com uma expressão triste, colocou aquela coleira no pescoço do Bernardo, comentando: “Para se ver por fora como estás por dentro.” Depois, partiu…

O Bernardo ficou fulo, maldisse a coleira, a fada, a vida… Como é que lhe podia acontecer uma coisa daquelas, justamente a ele, que detestava usar coisas ao pescoço?

Durante todo o dia, ele reclamou e tentou arrancar a coleira com as patas de trás, roçou-a pelo chão, pelos tron-cos, pelas paredes, sem qualquer sucesso, ela mantinha-se bem firme no seu pescoço.

Nessa tarde rosnou a seis pessoas, arreganhando os dentes e baixando as orelhas (o que lhe dava um ar perfeita-mente assustador), ladrou a toda a gente que passava, e che-gou mesmo a abocanhar três pessoas. Nos dias seguintes, o cenário repetiu-se, e Bernardo andava cada vez mais infeliz.

Um amigo, ao ouvi-lo queixar-se, comentou:– As fadas não fazem nada ao acaso! O que achas que

terás de fazer para quebrar o feitiço? Bernardo achou que tinha descoberto, e decidiu que dali

para a frente não iria ladrar, não iria rosnar, não iria mostrar os dentes: ele queria meeeeesmo libertar-se daquela coleira.

Durante uma semana, deixou as pessoas fazerem- -lhe festas. Por dentro fervia, mas por fora nem uma reacção. Bernardo permanecia quieto, engolindo tudo, suportando em silêncio as festas que não desejava.

Page 16: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Brincar com Coisas Sérias

19

E só à noite, em sonhos, se permitia rosnar e morder, aos outros e a si próprio, maldizendo a vida e a sua sorte.

Passados uns dias, a coleira magoava, picava, torna-ra-se insuportável…

– Não admira que te queixes – disse-lhe o amigo –, a coleira está ao contrário, agora tem os picos virados para a pele, assim deve incomodar imenso.

Apesar dos esforços empenhados de ambos, não con-seguiram virar a coleira. A conclusão era evidente: aquela mudança era obra da fada.

Revoltado, o Bernardo correu atrás de todos aqueles que lhe haviam feito festas durante a semana e vingou-se, distribuindo dentadas. No fim da tarde, a coleira continuava firme no seu pescoço, mas voltara à sua posição inicial, com os picos para fora.

Na manhã seguinte, um desconhecido aproximou-se de Bernardo, que o olhou, desconfiado. Como este não lhe tentou tocar, o cachorro permitiu-lhe que se sentasse ao seu lado e deixou que falasse. O homem conversou com ele durante um bocadinho e no fim contou-lhe um segredo: tinha medo quando os cães, para o cumprimentarem, corriam na sua direcção e lhe punham as patas em cima.

– E já explicou isso aos cães? Eles fazem isso porque gostam de si, não podem adivinhar... – explicou o Bernardo.

Assim que acabou de falar acendeu-se uma luz dentro da sua cabeça, e ele soube que aquilo que acabara de aconse-lhar ao homem era a solução para o seu problema.

Nessa noite, a coleira desapareceu… para nunca mais regressar.

Rita Vilela

Page 17: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

20

M – Gostava que deixasses aqui no livro aquelas frases que

dizes acerca do uso de histórias metafóricas ao longo dos

tempos…

R – Muito gostas tu dessa parte!

M – Vá lá, não sejas aborrecida…

R – Ao longo dos tempos, as histórias têm sido utilizadas para

transmitir mensagens, de pais para filhos, de educadores

para alunos, de líderes para seguidores…

M – E isto porquê? Porque, de facto, as histórias têm esta

capacidade de fazer viver determinadas experiências de

uma forma segura e resguardada. Aquilo que acontece,

acontece a outros (personagens), e não a nós, dá-nos pis-

tas sobre como avançar nas nossas vidas.

R – Quantas vezes já se viu na situação de ter de contar o

mesmo conto aterrador, vezes seguidas, a uma criança?

E isso sucede porque ela sabe que está a salvo, mas está

igualmente a aprender a sentir o medo, a dominá-lo,

a reenquadrá-lo, a contorná-lo.

M – Bom, mas estamos para aqui a falar e há quem esteja à

espera de umas perguntinhas, não é verdade?

R – Ora aqui estão!

Page 18: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela

Brincar com Coisas Sérias

21

Num dia mau, o que pensa?

Estou num beco sem saída!

– siga para a pág. 119 – Salvamentos

Os meus problemas são maiores

que os dos outros!

– avance para a pág. 107 – Feira de trocas

O que vai ser o futuro?

– continue e vá para a pág. 69 – Na curva da vida

Antes, estava melhor!

– regresse ao ponto de onde veio.

Page 19: Brincar com coisas coisas sérias de Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela