breve histórico do desenvolvimento do conceito de promoção da saúde

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Breve histórico do desenvolvimento do conceito de Promoção da saúde A necessidade da inclusão de medidas preventivas na atenção à Saúde é uma noção que surge propriamente associada como uma das tarefas da medicina com Sigerist: A saúde se promove proporcionando “A saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e cultura física e formas de lazer e descanso”, descanso”, para o que seria para o que seria necessário necessário “o esforço coordenado de “o esforço coordenado de políticos, setores sindicais e políticos, setores sindicais e empresariais, educadores, médicos e empresariais, educadores, médicos e a população em geral” Em 1965, Leavel & Clark, amadurecem as propostas de prevenção no “Modelo da história natural da doença e níveis de aplicação de medidas preventivas” e tratam da PS como parte da Prevenção Primária. A idéia de PS começa a tomar forma durante a Convenção de Alma-Ata, em que se reformula o conceito de Saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de moléstia ou doença. Essa revisão do conceito de saúde vai de encontro à ideia anterior de saúde como um estado de ausência de doença, ampliando a definição para um campo maior que envolva o cotidiano individual. A Carta de Ottawa já firma o conceito de PS como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde incluindo uma maior participação do indivíduo no controle desse processo. São levados em conta, para essa revisão conceitual, os determinantes de Saúde, sendo analisadas as diversas condições da vida individual que possam ter inflência sobre a saúde do indivíduo. Nessa análise, fatores ambientais, comportamentais, socioeconômicos, psicossociais e políticos são considerados como determinantes do bem-estar e saúde, e não apenas uma visão dos fatores intimamente relacionados à prevenção de doenças. Conceito de promoção da saúde I como nível de atenção: ações destinadas a fomentar (no sentido de melhorar, incrementar) a saúde dos não enfermos. Como enfoque: visão holística do processo de saúde-doença e da forma de intervir no mesmo. Mudança na forma de entender e atuar em saúde.Conceito de promoção da saúde II: Processo de capacitação das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo o controle sobre os determinantes da saúde (Carta de Ottawa, 1986) Promover a saúde é capacitar comunidades para a melhoria da qualidade de vida. Através da construção de uma cultura de saúde baseada nos princípios de solidariedade, equidade, ética e cidadania e advogar por uma dinâmica de atuação que esteja sintonizada com a defesa da qualidade de vida do cidadão brasileiro,

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Page 1: Breve histórico do desenvolvimento do conceito de Promoção da saúde

Breve histórico do desenvolvimento do conceito de Promoção da saúde

A necessidade da inclusão de medidas preventivas na atenção à Saúde é uma noção que surge propriamente associada como uma das tarefas da medicina com Sigerist:

A saúde se promove proporcionando “A saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e cultura física e formas de lazer e descanso”, descanso”, para o que seria para o que seria necessário necessário “o esforço coordenado de “o esforço coordenado de políticos, setores sindicais e políticos, setores sindicais e empresariais, educadores, médicos e empresariais, educadores, médicos e a população em geral”

Em 1965, Leavel & Clark, amadurecem as propostas de prevenção no “Modelo da história natural da doença e níveis de aplicação de medidas preventivas” e tratam da PS como parte da Prevenção Primária. A idéia de PS começa a tomar forma durante a Convenção de Alma-Ata, em que se reformula o conceito de Saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de moléstia ou doença. Essa revisão do conceito de saúde vai de encontro à ideia anterior de saúde como um estado de ausência de doença, ampliando a definição para um campo maior que envolva o cotidiano individual.

A Carta de Ottawa já firma o conceito de PS como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde incluindo uma maior participação do indivíduo no controle desse processo. São levados em conta, para essa revisão conceitual, os determinantes de Saúde, sendo analisadas as diversas condições da vida individual que possam ter inflência sobre a saúde do indivíduo. Nessa análise, fatores ambientais, comportamentais, socioeconômicos, psicossociais e políticos são considerados como determinantes do bem-estar e saúde, e não apenas uma visão dos fatores intimamente relacionados à prevenção de doenças.

Conceito de promoção da saúde I como nível de atenção: ações destinadas a fomentar (no sentido de melhorar, incrementar) a saúde dos não enfermos. Como enfoque: visão holística do processo de saúde-doença e da forma de intervir no mesmo. Mudança na forma de entender e atuar em saúde.Conceito de promoção da saúde II: Processo de capacitação das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo o controle sobre os determinantes da saúde (Carta de Ottawa, 1986)

Promover a saúde é capacitar comunidades para a melhoria da qualidade de vida. Através da construção de uma cultura de saúde baseada nos princípios de solidariedade, equidade, ética e cidadania e advogar por uma dinâmica de atuação que esteja sintonizada com a defesa da qualidade de vida do cidadão brasileiro,

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potencializando as ações desenvolvidas pelo setor saúde e a busca pela realização do homem como sujeito de sua própria história.

Estão estabelecidas as funções da PS: modificar condições de vida dos indivíduos tornando-a digna, transformar os processos individuais na tomada de decisão no que se refere àsaúde e qualidade de vida; melhorar as condições de bem-estar físico e social. Conclui-se que a promoção da saúde tem caráter social, político e cultural, sendo contínua e dinâmica e ultrapassando o cuidado médico específico.

A promoção da Saúde e o empowerment

Focando no segundo conceito da PS supracitado, surge a necessidade de se aumentar a capacidade das pessoas de controle sobre os seus modos de vida e determinantes, de forma que essas possam ter uma participação no processo de construção do seu bem-estar. Dessa forma, passa a Saúde a ser uma responsabilidade não só dos hospitais e dos profissionais, uma vez que a prevenção de doenças e a melhora das condições de Saúde dependem também da participação individual.

Para isso, é preciso que hajam medidas educativas que visem a esclarecer pessoas e comunidades acerca desses determinantes de saúde e da forma como eles podem interferir para melhorar suas condições de vida. Ocorre, nesse momento, o compartilhamento do conhecimento científico relativo à saúde com as populações.

Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução. Buss, 2000

Faz-se necessário portanto desenvolver políticas educacionais que possam levar essa informação científica às pessoas. Por esse lado, é possível pensar que a PS possa ser um meio de se exercer biopoder, ao passo que a abordagem do tema possa estar relacionada à ditação de regras de conduta e comportamentos que possam levar a um aprisionamento do ser, diminuindo sua capacidade de escolha acerca de sua própria vida. Entretanto, a aproximação necessária às populações deve ser de forma que haja aumento da biopotência dessas pessoas e comunidades. Para isso, o conhecimento deve ser base de raciocínio próprio dessas populações para que elas possam conceber meios e condições de melhoria de sua própria saúde:

A atitude construtivista é aquela que melhor parece concorrer para que as pessoas possam de fato buscar e se apropriar de informações que façam sentido para elas, se mobilizar autenticamente e achar as alternativas práticas que permitam superar as situações que as vulnerabilizam. Ayres, et al. 2003

Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças

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A prevenção de doenças visa dar foco à doença, dar foco aos mecanismos de combate à doença, agir para deter, controlar e enfraquecer fatores de risco ou causas de enfermidades ou enfermidade específica.

Ao contrário da PS, a Prevenção se caracteriza como ações de tempo específico de forma a diminuir ou impedir a ocorrência de doenças em populações nas quais aquela tenha se tornado um problema de Saúde Pública. Está ligada, por tanto a mudanças comportamentais e não uma articulação completa com os determinantes da Saúde.

A base do discurso preventivo é o conhecimento epidemiológico moderno; seu objetivo é o controle da transmissão dedoenças infecciosas e a redução de riscos de doenças degenerativas ou outros agravos específicos. Os projetos de prevenção e de educação em saúde estruturam-se mediante a divulgação de informação científica e de recomendações normativas de mudanças de hábitos. Czeresnia, 2003

Claramente, a Promoção da Saúde aborda a Prevenção de Doenças como um dos dispositivos para a melhora da Saúde, mas não a tem como norteadora dos processos de empoderamento.

Referências Bibliográficas:

Czeresnia D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde. Conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003

Buss PM. Promoção da saúde e qualidade de vida. Cien Saude Colet 2000; 5(1):163-177.

Ayres JRCM, França Junior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In:Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde. Conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003.

Czeresnia D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde. Conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003