breve história da música

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Breve História da música Erudita por Isabela Pulfer Música Antiga e Medieval A Idade Média compreende da queda do Império Romano no Ocidente em 476 a.C. até o século XV. Porém existem poucos registros da música feita antes de 500 a.C e quando há sua notação não é decodificada. A música mais antiga que se tem registro é o cantochão (por volta de 600 d.C.), uma música fundamentalmente religiosa. Constituída por uma única melodia –homofônica- dentro de uma oitava com intervalos de um tom, com os ritmos irregulares e sem a marcação de pulsação; dependentes da acentuação das próprias palavras (em latim), e sem acompanhamento instrumental. O sistema de escalas era o de modos gregos, que consistia em se começar uma escala por uma nota pura e subir nota por nota, não ocorrendo uma seqüência determinada de tons e semitons como na notação do sistema temperado. Por volta do séc. IX começaram o surgir às primeiras composições polifônicas, que introduzia uma ou mais linhas de vozes com o propósito de refinar suas obras. Os motetos , os conductus, as danças e canções medievais também contribuíam para o cenário da música dessa época, que ficou conhecida como Ars Antiqua. A música antiga e a medieval tinham um intuito cerimonial de atingir determinados estados de espírito. Já a música profana era sempre um acompanhamento de um espetáculo, teatro, declamações de poesia, ou seja, por meio de alguma interação. Em ambos os casos existem uma ponte entre a música e uma intenção de relacioná-la à imagem, no caso da música sacra de evocar e reforçar imagens e valores religiosos e na música profana de interligar com outras artes, já servindo de base ou reforço de uma outra linguagem. Obviamente, posterior a essa fase, veio a Ars Nova, que trouxe consigo algumas mudanças significativas na música; tais como uma maior expressividade e flexibilidade no ritmo, na harmonia e nos contrapontos; o nome mais expressivo desse período foi o francês Guillaume Machaut (1300-1377), que foi o primeiro compositor que se tem conhecimento que compôs uma missa completa com arranjos polifônicos.

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Breve História da música Erudita

por Isabela Pulfer

Música Antiga e Medieval

A Idade Média compreende da queda do Império Romano no Ocidente em 476 a.C. até o

século XV. Porém existem poucos registros da música feita antes de 500 a.C e quando há sua

notação não é decodificada.

A música mais antiga que se tem registro é o cantochão (por volta de 600 d.C.), uma

música fundamentalmente religiosa. Constituída por uma única melodia –homofônica- dentro de

uma oitava com intervalos de um tom, com os ritmos irregulares e sem a marcação de pulsação;

dependentes da acentuação das próprias palavras (em latim), e sem acompanhamento

instrumental.

O sistema de escalas era o de modos gregos, que consistia em se começar uma escala

por uma nota pura e subir nota por nota, não ocorrendo uma seqüência determinada de tons e

semitons como na notação do sistema temperado.

Por volta do séc. IX começaram o surgir às primeiras composições polifônicas, que

introduzia uma ou mais linhas de vozes com o propósito de refinar suas obras. Os motetos , os

conductus, as danças e canções medievais também contribuíam para o cenário da música dessa

época, que ficou conhecida como Ars Antiqua.

A música antiga e a medieval tinham um intuito cerimonial de atingir determinados estados

de espírito. Já a música profana era sempre um acompanhamento de um espetáculo, teatro,

declamações de poesia, ou seja, por meio de alguma interação.

Em ambos os casos existem uma ponte entre a música e uma intenção de relacioná-la à

imagem, no caso da música sacra de evocar e reforçar imagens e valores religiosos e na música

profana de interligar com outras artes, já servindo de base ou reforço de uma outra linguagem.

Obviamente, posterior a essa fase, veio a Ars Nova, que trouxe consigo algumas

mudanças significativas na música; tais como uma maior expressividade e flexibilidade no ritmo,

na harmonia e nos contrapontos; o nome mais expressivo desse período foi o francês Guillaume

Machaut (1300-1377), que foi o primeiro compositor que se tem conhecimento que compôs uma

missa completa com arranjos polifônicos.

Música na Renascença

A Renascença é uma época de enorme interesse no saber, na cultura e com grande

influência das idéias e paradigmas gregos e romanos. É também marcado por grandes conquistas

na ciência, na astronomia, explorações e descobertas. Enfim, um período da história de grande

agitação no campo das idéias.

E isso certamente trouxe consigo um impacto nos artistas da época, que viam a arte como

uma forte aliada para expressar uma percepção de si próprio e do mundo.

Na música, os compositores começaram a perceber o valor da música profana, os

instrumentos vão conquistando um maior espaço dentro da obras, há um aumento no número de

instrumentos, as tessituras ficam mais ricas. Porém as composições continuam se concentrando

nas Igrejas, num estilo de “polifonia coral”, comumente cantada a cappella. Esse estilo musical vai

atingir seu máximo de beleza na segunda metade do séc. XVI, na música de grandes mestres

como Palestrina (1525-1594), William Byrd (1539 – 1623) e Tomás Luis de Victoria (1548 – 1611).

A música profana paralelamente também se desenvolveu, as canções populares

adquiriram uma maior versatilidade.

Os madrigais também tiverem grande notoriedade, causou grande furor na Inglaterra por

volta de 1590; foi dividido em três tipos: o tradicional, no qual sua maior característica era a

ausência de refrão, uma música contrapontística e com amplo uso da imitação; o balé que

consistia em concomitantemente existir dança e o canto, com uma variedade de acordes e a

presença de refrão; e o ayre onde todas as partes eram executadas por vozes, ora com

acompanhamento ora sem.

Os sons produzidos pelos instrumentos começaram a chamar a atenção dos compositores

que passaram a compor peças com maior ênfase nos instrumentos.

Na Renascença se nota uma fusão da música profana a da dita erudita, uma miscigenação

de valores dramáticos com estados de espírito.

Música Barroca

A arte no séc. XVII é caracterizada pelo excesso de ornamentos e detalhes; na música o

período delimita desde o aparecimento da ópera até a morte de J.S. Bach.

O sistema de modos ruiu de vez, os compositores aderiram de uma vez por todas o

sustenido e bemol nas notas, assim desenvolvendo o sistema tonal maior-menor que serviu de

base para toda a constituição da harmonia nos séculos seguintes. Houve a invenção de novas

formas musicais, tais como a ópera, o oratório, a suíte, o concerto, a sonata e a fuga. O baixo

contínuo se torna bastante aprazível entre os compositores da época. A grande marca da música

barroca é o equilíbrio encontrado na polifonia, não mais um exagero sem propósito como ema

alguns casos da música renascentista.

Expoente na arte da ópera e talvez o precursor foi Cláudio Monteverdi (1567-1643); sua

música acentuava o impacto dramático da história, sua orquestra era composta por cerca de 40

instrumentos, o mais variado possível , gerando uma maior riqueza cromática e freqüentes

dissonâncias; todos esses elementos compunham um cenário que tendia a provocar grande

comoção.

O oratório foi contemporâneo ao surgimento da ópera, porém se diferenciava pelo fato de

se basear em histórias sacras, normalmente tiradas da Bíblia; nos primeiros anos eram

representados, mas com o passar dos anos se limitaram a ser apresentações musicais, se

concentrando nas igrejas e em salas de concerto; o compositor que mais se destacou com seus

oratórios foi Georg Friedrich Handel (1685 – 1759).

No período Barroco uma outra grande evolução musical, foi o espaço conquistado pela

música estritamente instrumental, representada pelas fugas, suíte, sonata e concerto; outra

conquista relevante foi a da orquestra, que sofreu um aperfeiçoamento, tanto na qualidade dos

instrumentos em particular, como a própria organização de disposição dos instrumentos conforme

os diferentes timbres. E para finalizar uma nova concepção musical no período barroco, que foi o

concerto grosso.

Johann Sebastian Bach

Foi a síntese de tudo o que se tinha feito até então na música e precursor

de tendências e paradigmas seguintes da história da música.

Johann Sebastian Bach, nasceu em 1685, em Eisenach (Alemanha), em

uma família de músicos, o que tornou possível o aprendizado de alguns

instrumentos e uma impecável leitura musical de compositores da época,

como Buxtehude e Couperin. Notável músico compositor; suas primeiras

peças religiosas foram compostas entre 1703 e 1707 em Arnstadt, onde

foi organista; depois disso compôs cantatas, obras para órgão, suítes e verdadeiras obras primas

como os seis concertos de Brandemburgo Ocupou o cargo de cantor na igreja de São Tomás em

Leipzig em 1723, vale lembrar que nessa época, Bach tinha que compor peças numa produção

em massa, tinha uma regularidade imensa de obras comemorativas, uma rígida cobrança

profissional e mesmo assim suas peças são inovadoras e belas. Bach somou técnica e expressão

emocional como poucos na história. Foi grande influência para os grandes nomes da música e até

hoje é indispensável nos estudos de qualquer músico.

Três de seis filhos tiveram relevância na história da música, digamos que deram

continuidade na tradição familiar da música; foram eles Wilhelm Friedmann Bach (1710 – 1784),

Carl Philippe Emanuel Bach (1714 – 1788) e Johan Christian Bach (1735 – 1782).

Música Clássica

Todas as composições entre 1750 e 1827 foram denominadas “Clássicas”, porém é

comum se designar a toda a infinidade da música erudita como Clássica, um termo genérico que é

erroneamente e comumente empregado. O clássico pode ser empregado como algo tradicional ou

modelo, mas é mais preciso deixar o termo pra esse período exclusivo.

O estilo clássico se caracterizava como galante, cortês, uma forma mais simples, com

ênfase na melodia. Sua forma era equilibrada e moderada; isso também se dava no âmbito

emocional. Havia uma preocupação quase que unicamente estética na obras, um ideal de beleza

platônico. Outra marca forte também nesse período é a evolução dos instrumentos, alguns caem

em desuso como a viola da gamba, o cravo, o alaúde entre outros, garantindo uma peculiaridade

e um tom de novidade para os resultados sonoros. A orquestra passa por um desenvolvimento

pleno, começa o emprego de instrumentos de sopro de formas variadas, as cordas compõem a

base da música, a distribuição se torna mais fixa. Outra inovação foi à invenção de Bartolomeo

Cristofori que por volta de 1700 apresentou o gravicembalo col piano e forte, vulgo piano.

Enquanto no cravo as cordas são tangidas, no piano eram batidas por martelos, e isso propicia ao

executante tocar suavemente ou fortemente, gerando uma maior gama de dinâmica e

possibilidades de interpretações.

Mozart

“Dificilmente alguém pode se destacar diante do grande Mozart. Se eu pudesse imprimir na alma

de cada amante de música, e, sobretudo na dos poderosos deste mundo, o que compreendo e

sinto diante dos inimitáveis trabalhos de Mozart, as nações rivalizariam para ter semelhante

preciosidade”.

Joseph Haydn

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) na infância foi coberto de glória, pois desfrutava

de um talento prodigioso, iniciou nos estudos musicais com apenas quatro anos, aos cinco

compôs suas primeiras peças; com menos de 10 anos seu pai o levara a uma turnê pela Europa

acompanhado pela irmã Nannerl; na adolescência se torna maestro da corte de Salzburg,

enfrentou divergências com o Arcebispo e a partir de então inicia sua peregrinação em cargos

medianos com salários precários, sempre incompreendido, passou por constantes dificuldades

financeiras e por todo tipo de doença que o levou a morte por uremia, existe uma outra versão da

história de que seu falecimento foi causada por envenenamento tramada pelo seu rival Antônio

Salieri (1750 – 1825), um compositor menor e contemporâneo; enfim o fato foi que esse grande

mestre não foi apreciado em sua totalidade e seu reconhecimento não aconteceu em vida; foi

enterrado como indigente e hoje seu túmulo é um cenotáfio.

Atribuir adjetivos como inigualável ou supremo se tornou um lugar-comum nas

análises de vida e obra de Mozart, porém sua grande diferença foi a de se igualar

ou até mesmo superar grandes nomes da história da música erudita e não ter

feito alguma contribuição clara para essa evolução. Vejamos; Bach organizou,

formulou quase toda a estrutura musical clássica; Beethoven inovou

completamente o conceito na música tornando-a mais tempestuosa, sentimental

num âmbito completamente pessoal; já Mozart não trouxe consigo nenhuma

inovação ou avanço quanto à estrutura ou ao conceito da música, e mesmo assim é considerado

um dos grandes. Ele aprimorou o que já existia, atingiu a perfeição harmônica, compôs inúmeras

obras sempre com o caráter gracioso que lhe era peculiar, foi influenciado obviamente por muita

coisa que existia, mas com afirma Otto Maria Carpeaux tratava-se de “uma arte extra-temporal e

supra-temporal”

A obra de Mozart é bastante numerosa, cerca de 60 Sinfonias, 23 óperas, por volta de 176

músicas de câmara entre outras composições; o que também é notável é que ele compunha de

forma bem-sucedida nas mais diferentes formações. Sua vida e obra são um capítulo a parte da

história da música e talvez um dos maiores episódios.

Haydn

Outro grande nome da história da música na evolução da era clássica foi Franz Joseph

Haydn (1732 -1809). Sua família não tinha tradição musical e limitados recursos financeiros, mas

pode ingressar na carreira musical graças a sua voz, foi o pequeno cantor da catedral de Viena.

Após isso teve aulas de harmonia e composição. Com menos de trinta anos começou a compor

quartetos de cordas, depois foi evoluindo, escreveu inúmeras obras sinfônicas, oratórios, missas,

música de câmara, aliás, compôs por volta de 108 Sinfonias, gênero esse que muitos atribuem ao

compositor sua criação; talvez seja um exagero atribuir todo o decoro para um só compositor, mas

vale a ressalva que Haydn estabeleceu formas-padrão que guiaram toda a produção seguinte.

Possuía um estilo original que foi em vida reconhecido. Enfim foi peça importante na evolução

musical.

Beethoven

É uma figura imensurável na história da música. Atravessou duas

eras, é tido consensualmente como o divisor de águas desses dois

períodos: Clássico e Romântico.

A vida e obra de Beethoven são divididas em três fases (Carpeaux,

1977). A primeira fase é ainda bastante dependente da tradição

clássica, porém já se consegue notar características próprias do autor,

como nas sonatas feitas em quatro movimentos, que até então eram

compostas em três. As três primeiras sonatas utilizam-se do modo menor e as ousadas

modulações carregam personalidade, e principalmente as suas composições possuem um caráter

proceloso. As músicas de câmera também contêm certas sutilezas formais quanto à estrutura e os

temas têm uma marca de individualidade. Toda essa sua originalidade também ocorreu nas suas

primeiras sinfonias.

Beethoven além de ter uma notável qualidade musical, possuía uma outra diferença dos

demais compositores de sua época, não se curvava perante nobres para obter seus favores, era

até conhecido pela sua rudeza; ou em suas próprias palavras “É muito bom conviver com

aristocratas, mas é preciso saber como impressiona-los”. E para começar a segunda fase do

compositor nada mais exemplificado que sua Terceira Sinfonia, intitulada como Eróica – existem

documentos que provam que Beethoven desejava homenagear Napoleão Bonaparte,

personalidade de grande admiração pessoal até se declarar Imperador -, essa obra é tida como

revolucionária com inéditas construções que exigiam complexa compreensão; encontra-se

também nessa fase sua única ópera “Fidélio”. Suas outras sinfonias já carregam o caráter

descritivo.

A terceira fase de Beethoven caracteriza-se pelo compositor viver num mundo silencioso

no quais as notas soavam apenas em sua alma, tornando sua linguagem mais abstrata e talvez

até meditativa.

O feito notável da obra desse gênio foi a de expressar sentimentos de si, uma maior

liberdade e intensidade no plano emocional; característica base de todo período romântico,

Beethoven explora um potencial visual de forma nunca antes usada, ele busca e consegue

construir uma narrativa e externar idéias e emoções próprias através de sua música.

Romantismo

Muitos compositores da geração romântica tinham grandes afinidades com outras artes, e

isso acarretava com que muitas peças compostas nessa época tivessem inspiração em obras

literárias, plásticas tornando tênue a linha entre imagem estática e a metafísica da música. Alguns

gêneros musicais fundamentais para o nosso estudo surgiram nessa geração pós-Beethoven.

Inclusive é um período com um ano específico, 1827, ano esse da morte de Beethoven.

A música no século XIX era dividida em absoluta e programática; a primeira era a música

por ela mesma, a apreciação era estritamente musical; já a segunda carregava inspiração e

elementos extra-musicais, trata-se de um conceito romântico dos poemas sinfônicos e da sinfonia

descritiva.

A Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz (1803-1869) é considerado por muitos musicólogos

como a primeira sinfonia descritiva, pois ele teve como inspiração um sonho, trata-se de um

personagem tipicamente romântico que se apaixona por uma moça em um baile, enamoram-se e

se exalta com ópio, o jovem é tomado pela droga e sonha que assassina a amada, é condenado a

forca e então decapitado e enterrado. No túmulo sua amada invoca bruxas e fantasmas para

atormentá-lo. Tal inovação causou grande furor nos compositores da época e serviu de influência

pra muitas obras posteriores.

Outro gênero é o poema sinfônico, que foi criado por Franz Liszt (1811-1886), que se

baseava no recorrente uso do tema básico durante a peça, mas esse sofrendo contínua

transformação dependendo do estado emocional desejado, normalmente em um único

movimento. Porém esse gênero tinha uma estrutura musical bastante rígida o que limitava de

certa forma a criação de uma obra nesses parâmetros. São inúmeros compositores que se

dedicaram ao uso desse gênero, são eles Camille Saint-Säens com a Dança Macabra, Richard

Strauss (1864-1949) com Also Sprach Zarathustra,Vlatva de Smetana, O Aprendiz de Feiticeiro,

Dukas, Lês Preludes de Liszt entre outros.

Wagner/Drama musical

Influência fortíssima na história da música; Wagner deveras inovou e revolucionou a

estrutura e a concepção musical vigente, sendo influência para vários outros compositores

posteriores. Suas maiores –e numerosas- composições são as óperas ou dramas musicais como

ele próprio preferia, forma essa que o compositor serviu com maestria. Suas inovações abrangiam

desde aspectos práticos, como a orquestra ficar abaixo do palco como o leitmotiv, prática até hoje

empregada nos meios audiovisuais. O leitmotiv nada mais é do que o uso constante de um trecho

de uma música, de uma determinada melodia associada a um personagem específico. Wagner

usou essa técnica pela primeira vez em uma de suas óperas, “O Holandês Voador“. E tal prática

foi seguida por muitos outros compositores de ópera. Tal ferramenta descoberta por Wagner é

bastante importante na questão de associar uma música a imagens, e é largamente usada no

cinema e na teledramaturgia.

Nacionalismo

Até o séc. XIX a maior parte da música era de influência germânica, estilos musicais muito

sólidos estabelecidos por Haydn, Mozart e Beethoven. Compositores de outros países buscavam

de certa maneira se libertar dessa estética vigente e lançar uma nova com referências de seu

país. O lugar no qual isso ocorreu com mais veemência, foi a Rússia foi representada pelo “Grupo

dos Cinco”, são eles Balakirev, Borodin, Cui, Mossorgsky, Rimski-Korsakov; as obras desses

compositores carregavam lendas e histórias de sua terra. Na Boêmia isso também apareceu nas

obras de Smetana e Dvorák que se inspiraram na vida e lendas tchecas.

Temos também exemplos mais tardios, como os húngaros, representados por Bartók e

Kodály e estendendo isso para o Brasil, com Alberto Nepomuceno, Alexandre Levy e Villa-Lobos.

Claude Debussy

Nasceu em Saint-Germain-Em-Laye na França em 1862; veio de uma

família simples e de não músicos, mas isso não foi motivo suficiente para

diminuir o talento de Debussy. Com apenas dez anos foi admitido no

Conservatório de Paris, depois disso seguiu os estudos musicais;

começou a compor ainda bem jovem (com cerca de 20 anos), suas

primeiras obras causaram um estranhamento inicial, mas em poucos

anos o público reconheceu o valor de sua obra e principalmente

compreenderam suas concepções. De fato inovou completamente a

música no século XIX; o seu famoso Prélude à l’après-midi d’um Faune,

trouxe um grande experimentalismo bem sucedido na orquestração o que garantiu uma

originalidade , peculiaridade e notabilidade para o autor. Na definição do próprio de Debussy, “...

uma ilustração muito livre do belo poema de Stéphane Mallaremé.

Não visa absolutamente uma síntese desse último. Trata-se mais dos cenários sucessíveis

através dos quais se movem os desejos e os sonhos do Fauno mo calor desta tarde. E depois

cansado de perseguir a fuga amedrontada das ninfas e Náiade, ele se deixa levar pelo sono

inebriante, cheio de sonhos finalmente realizados, de posse total na natureza universal”. É

bastante interessante ouvir essa música depois dessa explanação lúdica do compositor.

Século XX

Esse século foi repleto de mudanças sociais, políticas e tecnológicas, tais inovações

desempenharam papel determinante na concepção de música na época; a migração para o

cinema de alguns compositores como veremos mais adiante provocou um desequilíbrio para

alguns músicos, pois toda uma nova linguagem estava por vir. As pessoas agora tinham maiores

oportunidade de ter contato com outras culturas através da melhora do transportes, do

crescimento da mídia e meios, talvez um tímido início do que conhecemos por globalização. Enfim

pequenos e grandes fatores que culminaram numa nova idéia de música. Nas palavras de Nikos

Stangos, crítico de arte:

“No começo do século XX, a evolução aparentemente regular e

tranqüila no terreno das artes pareceu subitamente rompida. Isso

refletia, sem dúvida, uma mudança análoga na visão que o homem tinha

do mundo como todo. Transformações sociais, políticas e econômicas

ocorriam paralelamente ao desenvolvimento filosófico e científico, bem

como ao concomitante colapso de sistema e valores autoritários

tradicionais, não necessariamente em termos de perda de poder, mas

de autoconfiança e sobrevivência a longo prazo. Nas artes, a tradição

do passado, ou pelo menos, uma cega adesão a ela era contestada de

todos os lados. A própria contestação e a sensação de embriaguez que

acompanhou tornou-se motivação vital para o artista, mesmo quando as

alternativas que ele tinha a oferecer eram meramente especulativas ou

nulas.” (Nikos Stangos1998:7)

Alguns compositores continuaram a tradição romântica ainda no séc. XX, como no caso de

Gustav Mahler (1860-1911) e Richard Strauss, talvez os dois nomes mais fortes no pós-

romantismo. Mahler um dos últimos grandes compositores alemães pós-românticos; foi

compositor e interprete, e exercia ambas as funções com grande maestria. Foi maestro da

Philarmonic Society de NY e diretor de Ópera de Viena; aproveitava suas férias de verão para se

dedicar as suas próprias composições que incluem nove sinfonias completas, uma última a

terminar e canções para vozes solistas e orquestra. Suas sinfonias são tipicamente pós-

românticas, de caráter programático e a instrumentação exige grande habilidade técnica.

Nas canções a impressão que fica das obras de Mahler, é da constante busca do equilíbrio

entre o a sofisticação e a simplicidade, questões complexas de oposições cósmicas mais

elevadas e um tênue e indispensável lirismo.

Richard Strauss tal como Mahler também foi um maestro de renome, porém suas

composições já tendem a uma vertente romântica mais radical, a do poema sinfônico, que

consiste em uma tradução ou ilustração musical de algo estático ou não-musical, uma grande

referência desse tipo de programa é Berlioz. Sua composição é vasta, quinze óperas, três balés,

quatro sinfonias, mais de 150 canções. Não trouxe alguma inovação ou revolução musical, tal

como Debussy ou Schoenberg, mas com maestria compôs obras, em diferentes gêneros e

formações, peças essas que até hoje são muito presentes nas salas de concerto e em teatros de

ópera.

Música de Vanguarda

A palavra vem do francês avant-garde, que significa originalmente as forças avançadas de

um exército, as tropas que iam à frente, preparando o caminho para o corpo principal, e para

mostrar para os civis o que estava por vir. Na música, como em todos os outros campos da arte,

houve vanguardas, ou seja, estilos e obras mais experimentais, que já nascem doravante ao seu

tempo. E na maioria dos casos essas experimentações são de primeiro contato mal recebidas,

porém com o passar do tempo definem as característica daquele período, e seus precursores são

tardiamente reconhecidos. Porém quando se fala em vanguardas, fazemos a conexão com o que

temos de experimental na contemporaneidade, e numa breve reflexão no que o mundo das artes

faz hoje de mais a frente percebemos que nada mais é do que o surrealismo de quase 100 anos

atrás.

Na Idade Média, a música sacra era homofônica, os compositores que queriam escrever

obras harmônicas, com a utilização simultânea de várias notas, eram considerados hereges, que

queriam deturpar o ritual de adoração a Deus. E assim seguiu com cada passo na evolução

musical. O Imperador José II, da Áustria, disse que a música de Mozart “tinha notas em demasia”;

um crítico francês escreveu certa vez que A Sagração (Le Sacre) da Primavera de Stravinsky,

deveria chamar-se O Massacre (Le Massacre) da Primavera; e vejam só, escreveram que Chopin

“apesar de toda a sua delicadeza era alguém que se compraz nas mais absurdas e hiperbólicas

extravagâncias, cujas obras apresentavam uma mistura heterogênea de palavrosa hipérbole e

insuportável cacofonia.” ( Sadie, 1994:139)

Música de vanguarda é toda música que surge com alguma técnica inovadora no seu

tempo, o que Debussy escreveu no seu tempo foi bastante inovador, então é considerado um

compositor de vanguarda, indo ao extremo Schoenberg inovou completamente com a sua técnica

dodecafônica, também outro vanguardista e assim seguiriam inúmeros exemplos de compositores

vanguardistas para o seu tempo.

Expressionismo

No campo da pintura este movimento é caracterizado por tons enérgicos e principalmente

por expressar as experiências mais profundas e obscuras do artista, gerando obras fantásticas no

sentido literal da palavra. Na música expressionista houve certo exagero nas primeiras

composições, um pós romantismo exacerbado na dose; a maior característica dessa vanguarda

foi a inovação no estilo atonal, com harmonias dissonantes e melodias desconjuntadas, levando o

ouvinte a certa suspensão. Os compositores que se destacaram nesse movimento foram Arnold

Schoenberg e seus discípulos, Alban Berg e Anton Webern, o trio ficou conhecido com os

membros-fundadores da Segunda Escola de Viena.

Dedecafonismo ou Serialismo

O estilo mais ousado foi o dodecafonismo; o nome vem do grego dódeka, que significa 12,

um sistema atonal, ou seja, não se estrutura sobre um eixo harmônico central. Um sistema

inovador, mas que prendia e limitava muito um compositor e todas essas regras formavam uma

ambiente quase que pungente. O criador e com certeza o maior compositor dessa inovação

estrutural foi Arnold Schoenberg (1874-1951), gerou muita polêmica e controvérsias no século XX.

Dois outros grandes nomes, menos citados, mas não menores que Schoenberg, foram

eles, Anton Webern (1883 – 1945) e Alban Berg (1885 – 1935). Webern desenvolveu a técnica

dodecafônica de forma muito elaborada e variada, vale ressaltar que tal forma de escrever música

era extremamente complicada, pois ao mesmo tempo em que modificava toda a forma de se fazer

música, prendia o compositor a uma série de regras e diretrizes. Webern foi maestro de grande

sucesso na década de vinte, sua música, no entanto foi proibida pelos nazistas, sendo classificada

como arte degenerada. Alban Berg escreveu poucas peças, mas todas intensas, dramáticas e até

programáticas. Compôs peças atonais e dodecafônicas.

Concreta

Um compositor francês, Pierre Schaffer, no final da década de 40

começou a fazer experimentos com fitas magnéticas. Ele registrava sons

naturais como o de uma porta batendo, um balanço, algum ruído, enfim

objetos dessa natureza. Em seguida ele transferia isso para outra fita,

sobrepondo esses sons, alterando aleatoriamente a altura do som e a

rotação da fita e ás vezes também a executava no sentido inverso. Enfim,

uma montagem que resultava num som curioso e suspenso, que foi chamado de musique

concrète.

Eletrônica

Em 1897 Thaddeus Cahil inventou o dinamofone, primeiro instrumento eletroacústico. Uma

máquina que era capaz de produzir diferentes freqüências sonoras, comandada por um teclado,

que estava conectado a uma linha telefônica, e essa ligada em amplificadores acústicos que

ficavam nas ruas. Pela logística não muito prática, pelas interferências das linhas telefônicas, esse

novo experimento não obteve grande sucesso. Passado algum tempo, estudaram um meio de

tornar esse processo mais simples e compacto. Surgiu então o theremin que controlava a altura e

o volume do som a partir dos movimentos das mãos; o órgão Hammond; Giveleta e as Ondas

Martenot.

Em 1910, Luigi Russolo, compôs The Art of Noises, uma música a partir de qualquer fonte

sonora. Edgard Varèse também contribuiu para a expansão dos limites tradicionais de

composição erudita. Darius Milhaud e Percy Grainger começaram a alterar a velocidade de

rotação de um vinil e testar os sons produzidos por este.

Enfim, inúmeros experimentos com timbres, freqüências; releituras que também só foram

possíveis graças à evolução tecnológica. Porém vale ressaltar que tais experimentos não eram

muito bem aceitos, o que limitava a continuidade de criação.

Paralelo ou conciliado a música eletrônica, ocorreram outros movimentos, como a música

concreta, a elektronische musik, o serialismo da Segunda Escola de Viena.

Foram se desenvolvendo pesquisas em torno dessa nova vertente musical, como cálculos

de freqüência em relação aos harmônicos, reverberação, intensidade, inversão sonora e outras

possibilidade eletrônicas. Na década de 60 e 70, a música eletrônica, que era uma ramificação em

pesquisa da música erudita, caiu em uso em algumas composições populares e começaram

algumas misturas como o jazz fusion, que usavam sintetizadores em suas composições

jazzísticas.

Na década seguinte os sintetizadores passaram de analógicos para digitais, surgiram os

primeiros samplers, que iam sorrateiramente conquistando espaço e se viabilizando numa

projeção de maior escala.

Daí surge novas vertentes, como o electro que é uma mistura

de hip-hop com sintetizadores analógicos, o techno, o house, o

trance, o acid house que é uma derivação do house em que se

utilizam de sintetizadores e um seqüenciador Roland TB-303,

um gênero de som bem característico e que acabou por

influenciar posteriormente o drum and bass, música de batida

rápida e seca da bateria sempre acompanhado por um baixo.

Enfim, inúmeras vertentes, que se diferenciam pelo ritmo da batida, pelos timbres

utilizados. Atualmente os softwares que existem são de possibilidades infinitas, existem

composições com a presença de instrumentos acústicos agregados, e pode ser considerada uma

música erudita em alguns casos, no qual é uma música bem elaborada pela preocupação de

estrutura musical, como uma clara divisão de movimentos, de noção de harmonia, contraponto,

criando assim inúmeras possibilidades sonoras.

Minimalista

Esse estilo de música começou a aparecer na década de 70, numa evolução da então

música sistemática, no qual suas características fundamentais eram harmonias estáticas, ritmos e

repetições padronizados. Podemos também considerar o minimalismo um desenvolvimento das

obras de Erik Satie ou John Cage, pois também se baseia nisso no preceito desses compositores,

na reprodução de pequenas e constantes células de um motivo de harmonia única, pulsação

imutável, harmonia simples. Podem ser tonais ou modais, exploram timbres isolados e prolongam

notas. Entre os principais compositores de música minimalista estão Steve Reich, Philip Glass e

La Monte Young.

A música contemporânea não tem um perfil único, não cabendo alguma definição

engessada, pois a quantidade de influências e a constante comunicação entre culturas

possibilitam um perfil heterogêneo da música. Ocorrem influências do passado obviamente, pois

para qualquer mudança, fatalmente há um infra-estrutura anterior; tentativas de mudanças

arrojadas que ainda não passaram por um crivo sensato de qualidade também ocorrem. Em uma

expressão cultural nacional um antropofagismo cultural, ou melhor, musical também compõe essa

cena; uma música ou mesmo um compositor transita por várias vertentes de estilo, bebendo em

diversas fontes de inspiração.

“Alguns compositores sempre se interessaram pelo público, e neste último

quarto de século têm sido cada vez mais os compositores que destinam

suas obras ao público, e não aos outros compositores, estudantes de

música ou analistas. A preocupação suscitada pelo fosso entre compositor

e o ouvinte levou a uma simplificação e mesmo uma minimalização do

conteúdo, à criação de estilos híbridos, derivados de cruzamentos entre

música erudita, popular, étnica, oriental ou folclórica, trazendo à superfície a

organização musical, em vez de dissimulá-la, bem como as diversas

tentativas no sentido de fazer a ponte entre a música familiar do passado e

a do presente.”

(Grout e Machado 1997:755)

Referências Bibliográficas: BENNETT, Roy(1982). Uma breve história da música.1° edição, Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor CARPEAUX, Otto Maria (1977). Uma Nova História da Música. 6ª Edição, São Paulo: Alhambra GROUT, Donald J. e PALISCA, Claude V. (1997). História da música ocidental.1° edição, Lisboa: Gradiva NESTROVSKI, Arthur (2005).Notas Musicais, Do Barroco ao Jazz. 1° edição, São Paulo:Publifolha STANGOS, Nikos. (2000). Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar. MCLEISH, Kenneth e Valerie. Guia do ouvinte de música clássica. (1986) Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar. SADIE, Stanley. Dicionário Groove de música. (1994) Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar.