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BRASÍLIA, SEDE NO MEGAEVENTO DA COPA DO MUNDO 2014. A QUESTÃO DAS CENTRALIDADES CONJUNTURAIS DA CIDADE
ROMERO, Marta Adriana Bustos
Arquiteta e Urbanista, Professora Titular, FAU/UNB. [email protected]
RESUMO
O objetivo deste artigo é discutir três estratégias do governo de Brasília e dos grandes
capitais financeiros para acelerar o processo de produção espacial propiciado por
Megaeventos como a Copa do Mundo de 2014. Seguindo uma lógica que se arrasta há
cinco décadas, o governo de Brasília, uma das 12 sedes da Copa do Mundo, decidiu não
criar novas centralidades com a finalidade conjuntural de adaptar a cidade às necessidades
do megaevento. Em vez disso, concentrou os investimentos públicos numa área reduzida
no centro da cidade, denominada de ‘área de escala gregária’. As três estratégias
analisadas no artigo são: 1) realização de obras de mobilidade urbana no território do
Distrito Federal – DF; 2) implantação de terminal de passageiros do aeroporto, que faz parte
do planejamento e inserção da capital no mercado internacional de investimentos; e 3)
construção de obras do estádio Manê Garrincha no espaço central do Plano Piloto, obra de
engenharia para a qual foi convidado o mesmo escritório de arquitetura que projetou
inicialmente esse primeiro estádio da cidade. O nosso foco serão as tentativas de
transformação da legislação e o uso e destinação das áreas adjacentes ao estádio na
escala gregária do Plano Piloto.
Palavras-Chave: Copa do Mundo 2014; Planejamento Urbano em Brasília; Escala Gregária;
Estratégias do Plano Piloto.
ABSTRACT
The objective of this paper is to discuss three strategies of the government of Brasilia and
those of the large financial capital to accelerate the process of spatial production as fostered
by mega-events such as the 2014 World Cup. Following a logic that carries on since five
decades ago, the government of Brasilia, one of the 12 host cities to the World Cup, decided
not to create new centralities with the timely aim of adapting the city to the mega-event.
Instead of doing this, it concentrated public investments in a reduced area in the center of
the city, denominated ‘area of gregarious scale’. The three strategies analyzed in the article
are the following: 1) realization of works for urban mobility in the DF -Federal District’s
territory; 2) implementation of an airport terminal for passengers, part of the planning of the
city to be part of the international investment market; 3) building of the works for the Mane
Garrincha Stadium in the central space of the Pilot Plan, engineering work for which the
same architectural office that initially designed this first stadium in the city. Our focus will be
the attempts in transforming legislation and land-uses and destination of sites adjacent to
the stadium in the gregarious scale of the Pilot Plan.
Keywords: 2014 World Cup; Urban Planning in Brasilia; Gregarious Scale; Pilot Plan
Strategies.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é discutir três estratégias do governo de Brasília e dos grandes
capitais financeiros para acelerar o processo de produção espacial propiciado por
Megaeventos como a Copa do Mundo de 2014.
Seguindo uma lógica que se arrasta há cinco décadas, o governo de Brasília, uma das 12
sedes da Copa do Mundo, decidiu não criar novas centralidades com a finalidade
conjuntural de adaptar a cidade às necessidades do megaevento. Em vez disso, concentrou
os investimentos públicos numa área reduzida no centro da cidade, denominada de área de
escala gregária.
A primeira das três estratégias se refere às obras de mobilidade urbana no território do
Distrito Federal - DF, pensadas originalmente numa extensão e abrangência capaz de
solucionar os graves problemas de mobilidade da capital. O artigo abordará essa questão
da perspectiva de seu rebatimento espacial no território do DF e seu Entorno, para o qual
teceremos breves comentários sobre urbanização e povoamento. A segunda estratégia diz
respeito ao terminal de passageiros do aeroporto, que faz parte do planejamento e inserção
da capital no mercado internacional de investimentos, para os quais os megaeventos
servem como catalizadores, uma vez que as cidades são amplamente expostas na mídia
antes e durante a realização dos eventos. A discussão será realizada por meio da
elaboração de comparações com outros projetos contratados pelo governo local que visam
ao aproveitamento das centralidades existentes na cidade. A terceira estratégia se refere às
obras do estádio Manê Garrincha no espaço central do Plano Piloto, obra de engenharia
para a qual foi convidado o mesmo escritório que construiu esse primeiro estádio da cidade.
A centralidade da localização da arena esportiva motivou uma serie de ações especulativas
no entorno imediato; o nosso foco serão as tentativas de transformação da legislação e o
uso e destinação das áreas adjacentes ao estádio na escala gregária do Plano Piloto.
1 OBRAS DE MOBILIDADE URBANA
Voltando umas poucas décadas na história, logo que Juscelino Kubitschek assumiu a
Presidência da República, em 1956, a construção de Brasília passou a representar a meta
síntese da integração social. Para tanto, foram realizadas uma serie de ações que
culminaram com o concurso, ganho por Lucio Costa, para a Capital da República no
Planalto Central.
Lucio Costa foi ordenando e dispondo a cidade de Brasília com uma concepção morfológica
modelar, partindo do cruzamento de dois eixos viários, o Eixo Monumental—centro Cívico
da Administração Federal — e o Eixo Rodoviário Residencial, onde o espaço urbano seria
envolvido por grandes áreas verdes entre as habitações. Já em 1961 o urbanista
lamentava, junto à Companhia Urbanizadora da Capital — Novacap, o abandono de seu
plano de criar áreas de vizinhança que agrupassem diferentes classes sociais. No Plano
somente ficou a classe média e média alta em função dos altos valores imobiliários dos
apartamentos. E hoje a população sem ou de baixa renda está morando cada vez mais
distante (as cidades satélites iniciais ficavam a mais de 30 quilômetros) do centro gerador
de empregos e serviços1. Não apenas a população de baixa renda se estabeleceu na
periferia, mas a maior parte da população da cidade se estabeleceu fora do Plano Piloto,
em condomínios horizontais fechados, cercados com guaritas. Consequentemente,
fragmentou-se a estrutura urbana, pois foram constituídos espaços fechados, murados e
sem conexão com seu entorno imediato, e descaracterizou-se a paisagem ao alimentar as
estreitas vias que os comunicam com o sistema viário urbano.
As cidades satélites de Brasília foram consideradas, no início do Distrito Federal, manchas
isoladas e pontuadas no território. Na época, esse “modelo” polinucleado parecia o mais
adequado para a preservação ambiental do Lago Paranoá e do Cerrado. Mas hoje verifica-
se a conturbação entre as cidades, e o preenchimento dos vazios urbanos com novas
construções. Portanto, a benéfica solução ambiental dos núcleos múltiplos é praticamente
inexistente hoje.
No documento “Brasília Revisitada, 1985-1987”, Lucio Costa (2009) apresenta sua visão de
expansão do Plano Piloto. Propõe a localização de novos bairros para diversos estratos
sociais, como o Sudoeste, Noroeste, Nova Asa Norte, Nova Asa Sul, expansão do Guará,
expansão da Vila Planalto entre outros. Na conclusão do referido documento, Lucio Costa
declara imaginar que Brasília, com a criação das novas áreas, assim como a implantação
da cidade satélite de Samambaia, alcançaria o limite populacional máximo desejado, não
1 9, 80 % da população de Brasília mora na área central (tombada) e ai se concentram 47,72% dos empregos formais. IBGE, 2012 e PDAD, 2012.
sendo necessário, portanto, criar novos núcleos de adensamento. Na visão de Costa,
Brasília deveria permanecer uma cidade eminentemente político-administrativa, não sendo
interessante sua transformação em uma grande metrópole, pois, nesse caso, haveria o
risco de desvirtuar essa primeira função.
Os novos bairros deveriam formar uma unidade com o conjunto existente, ratificando o
caráter de “cidade parque”, por ele caracterizada como “derramada e concisa”, o que seria
um diferenciador entre Brasília e das demais metrópoles brasileiras. Lucio Costa tenta
assegurar, “o que se pretende preservar”, verificando em quais áreas convém à ocupação
residencial dentro da Bacia do Lago Paranoá e próximas ao Plano Piloto:
“A proposta visou aproximar de Brasília as populações de menor renda, hoje praticamente expulsas da cidade – apesar da intenção do plano original ter sido a oposta – e, ao mesmo tempo, dar também a elas acesso a maneira de viver própria da cidade e introduzida pela superquadra” (COSTA, 2009, p.74).
O adensamento urbano decorrente das ocupações irregulares e até mesmo dos núcleos
planejados hoje em dia saturam o trânsito. A falta de planejamento urbano e de uma política
de trânsito e transportes para a capital agrava os problemas de mobilidade urbana.
O modelo centro periferia é dominante e o modelo existente, de cidades dormitórios, com
alta concentração de emprego na área tombada produz um forte crescimento veicular dada
a baixa qualidade do serviço de transporte coletivo fornecido na cidade. Os ônibus estão em
péssimo estado de conservação e são muito antigos, existe um longo tempo de espera, o
metrô atende a menos de 5% da população e as distâncias a serem percorridas são muito
longas.
Segundo dados do IBGE (2012), Brasília tem uma população de cerca de 2,6 milhões de
habitantes, distribuídos em 31 núcleos urbanos ou Regiões Administrativas (RA) e no Plano
Piloto do Distrito Federal. Para 2,6 milhões de habitantes existem 1,2 milhão de veículos,
que poderão chegar a 1,5 milhão já em 2014 se continuar a taxa média de crescimento de
6,5% registrada nos dez primeiros meses de 2013. A média de ocupação/ carro vem
piorando: em 2014 não chega a duas pessoas por automóvel, 1,86, enquanto que em 2010
era de 2,08 pessoas por automóvel.
No Distrito Federal, a infraestrutura para o transporte coletivo apresenta baixo investimento
e manutenção. Como bem aponta Ribeiro (2013), os terminais e paradas de ônibus são
precários e deteriorados nos pontos mais periféricos; há carência de abrigos nas paradas
de ônibus, as tarifas estão consideradas entre as mais altas do país; há pouca e precária
acessibilidade para portadores de deficiência.
A imprensa local tem informado que, até agora, as ações para reverter o quadro de
inviabilidade de locomoção – como corredor exclusivo e troca da frota de ônibus – têm sido
construídas em ritmo lento, na contramão do crescimento avassalador da população. O
governo do Distrito Federal (GDF) prometeu2 construir, até a Copa, 600 km de ciclovias a
um custo de R$ 121 milhões. Até 2013 existiam 90 km prontos e mais 100 km em
construção; até a data deste artigo o GDF informa haver 433 km concluídos ou em
conclusão.
A intensa coluna diária de saída e entrada de veículos no quadrante sul/oeste onde está a
RA II - Gama, a RA III - Taguatinga, a RA IX - Ceilândia, a RA XII - Samambaia, a RA XIII -
Santa Maria, a RA XV - Recanto das Emas, a RA XVII - Riacho Fundo, a RA XX - Águas
Claras e a RA XXI - Riacho Fundo II, que concentram quase 50% da população urbana de
Brasília, é uma pressão rodoviária crescente sobre a área central. Exemplifica essa forma
de estruturação a circulação de automóveis em Brasília, uma vez que os coletivos não são
uma opção possível para a grande maioria da população. Também segundo Ribeiro, (2013),
dentre os efeitos adversos gerados pelo aumento veicular, podem ser citados dois que
impactam fortemente a população: elevação da quantidade de poluentes no ar e elevação
da temperatura, ambos em função da emissão de gases aquecidos pelos veículos.
2 O Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade – PDTU, aprovado em 2011 pela Câmara Legislativa do DF (CLDF), deveria ter sido enviado pelo GDF para a CLDF em 2009, e já tinha 36 anos, sendo que deveria ter sido refeito a cada 10 anos e revisado a cada 5. O PDTU abrange obras nos quatro principais eixos de circulação no DF: região sul (Gama, Santa Maria e o Plano Piloto); o sudoeste (Recanto das Emas, Núcleo Bandeirantes); no oeste (Ceilândia, Samambaia e Aguas Lindas de Goiás); eixo norte (Sobradinho e Planaltina de Goiás).
Figura1.- Distrito Federal e as áreas de maio concentração de população
Em Brasília, tal como no resto do país, a tendência de a organização sócio -econômica
refletir-se no espaço é confirmada pelas diferenças existentes entre as Regiões
Administrativas e seu centro. A parte central de Brasília, o Plano Piloto, concentra as
melhores habitações, serviços, ofertas de trabalho, infraestrutura, opções de lazer e
serviços de saúde e educação. De uma perspectiva sociológica, Wirth (2005) define uma
cidade como o local grande, denso e lugar permanente de indivíduos socialmente
heterogêneos. Assim quanto maior, mais densamente povoada e mais heterogênea for uma
comunidade, mais acentuadas serão as características associadas ao urbanismo. Tais
diferenças estão presentes desde o início da cidade, quando a periferia era ocupada,
principalmente, pela população mais pobre. Posteriormente, nos anos de 1980, a periferia
também foi a alternativa encontrada pela classe média e média alta devido ao alto valor e
baixa disponibilidade da terra na região central e seu entorno imediato.
Um dos grandes investimentos para a copa de 2014 estaria voltado para a estrutura viária e
para a mobilidade urbana. Segundo estudos da Codeplan publicado no ano passado3, em
junho de 2014, a população do Distrito Federal somados a 1.155 mil na periferia
metropolitana, pressagiava que teríamos na Área Metropolitana de Brasília - AMB
aproximadamente 4 milhões de pessoas.
A questão crucial de mobilidade em Brasília é reduzir o tempo gasto nas viagens ida e volta
do trabalho num serviço de péssima qualidade. A saturação das vias urbanas (quase sem
vias alternativas) e das rodovias distritais está num estágio tão avançado que qualquer
chuva, acidente, pequena manifestação é capaz de parar o trânsito. Em março de 2014,
foram liberados R$ 1,59 bilhão para o DF pelo Programa de Aceleração do Crescimento –
PAC, dos quais, 60% dos recursos eram para ser usados nos eixos Norte e Sudoeste do
Expresso DF. O restante seria para melhorias no Metrô (estudo para a expansão na Asa
Norte); para o Veículo Leve sobre Trilhos - VLT com expansão até a Asa Norte; para Ônibus
de Trânsito Rápido (Bus Rapid Transit) -BRT Sul4 e Sudoeste. O BRT Sul já foi testado em
fevereiro de 2014 e custará R$600 milhões – R$67 milhões a mais que o previsto
inicialmente e será entregue com um atraso de cerca de sete meses5.
Entretanto, a distancia entre as proposições urbanísticas e os problemas enfrentados nas
cidades, a forma como se dá o processo de urbanização e a capacidade de resolução dos
conflitos urbanos levaram a uma simplificação do fenômeno urbano. Assim a necessidade
de acomodar o excedente de população que acudiu ao planalto central para construir a
capital levou ao poder centrar a construir milhares de habitações na periferia do centro, a
mais de 30 quilômetros, em lugares sem infraestrutura, de onde a partir de suas cidades
dormitórios, em percursos pendulares diários, deveriam se deslocar os trabalhadores e suas
famílias para obter os serviços básicos na capital recém-implantada.
À dispersão nas periferias e à segregação que ameaça as relações sociais opõe-se, diz
Lefebvre (1972:171) uma centralidade acentuada nas decisões sobre a distribuição da
riqueza, o acesso à informação, o uso do poder, o tratamento da violência. Concordando
com Castells (1980), ressaltamos que quanto mais importante é a aliança das classes
sociais em uma determinada conjuntura, mais essencial é sua relação com o urbano. A
problemática urbana é inteiramente a expressão da ideologia dominante. Em lugar nenhum
isso é tão transparente quanto em Brasília, onde por trás do evidente caos urbano, existe
uma lógica que atende a determinados interesses de uma minoria, aqueles que sempre 3 Apresentados na revista de dezembro de número 15 de 2013 4 Começa com dois ramais: em Santa Maria e no Gama na altura do Catetinho, que se transformam em um só. Descem pela BR-‐040, passam pela floricultura, entram pela pista para o aeroporto, passam pelo túnel do balão da Dona Sarah e seguem até o viaduto Camargo Corrêa. 5 Segundo o jornal Correio Braziliense de 22.02.2014, p. 26.
estiveram ao lado do poder influenciando o processo de planejamento da sociedade
favorável ao capital, e não aos interesses da maioria da população.
2 TERMINAL DE PASSAGEIROS
Outra das obras de mobilidade previstas para a Copa são os acessos no entorno do
aeroporto, ponto critico de trânsito e também uma obra de ampliação do Terminal de
Passageiros, que consiste na Implantação do Módulo Operacional 2 e na reforma do Corpo
Central do Terminal de Passageiros, que passaremos a discutir.
O consorcio Inframerica (com a concessão até 2037) financia as obras de ampliação e
reforma do aeroporto, que terá sua capacidade ampliada de 16 para 21 milhões de usuários
anuais. O projeto é inspirado em experiências de cidades como Singapura, Hong Kong,
Frankfurt e Miami, onde terminais aéreos são uma das vias principais do trânsito de bens e
serviços. Seguindo o conceito de “aerotropolis”6, o aeroporto de Brasília será um centro
comercial com diversas opções de entretenimento, lazer, gastronomia e hotelaria. O
primeiro hotel está pronto, a 200m do terminal, com previsão de construção de outros dois
estabelecimentos na mesma área. As obras de acesso ao aeroporto, realizadas pelo GDF,
constam da ampliação da DF-047, com túnel e via exclusiva para ônibus, e vias marginais
para separar o trânsito local.
A capital federal teve, ao longo de cinco décadas, um crescimento demográfico considerado
alto, e o processo urbanizador formou um aglomerado que extrapolou problematicamente
as fronteiras políticas do DF. Como consequência, há um intenso processo de migração
pendular, caracterizado pela movimentação diária de milhares de pessoas para o centro
econômico do DF, pressionando os equipamentos urbanos da cidade, aumentando o
desemprego e a violência.
De tempos em tempos surgem projeções para o crescimento e desenvolvimento do Distrito
Federal e sua região de influencia ou Entorno: a última delas, encomendada a uma
empresa estrangeira pelo governo local para incentivar investimentos no Distrito Federal,
causou polemica por não ter sido discutida com as organizações de classe e a população
em geral.
As projeções do GDF, para Brasília 2060, realizadas pela empresa Jurong Consultants Pte,
de Cingapura7, preveem o aumento do fluxo de investimentos privados e estrangeiros, o
favorecimento do desenvolvimento descentralizado, a diversificação da economia da região 6 Termo criado pelo professor norte-‐americano John Kasarda, para caracterizar situações em que um aeroporto engloba zonas de desenvolvimento aeroporto-‐indústria, hotel, logística, entre outros. 7 Empresa responsável pela parte técnica do estudo
e, ao mesmo tempo, a preservação da área do Plano Piloto, tombada pela Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como patrimônio cultural da
humanidade. O plano prevê a expansão de três diferentes polos do DF. São eles: o Polo de
Desenvolvimento JK, em Santa Maria, o Centro Financeiro Internacional, próximo a São
Sebastião, e o novo aeroporto e cidade aeroportuária, próximo a Planaltina.
Os megaeventos e os compromissos das cidades-sede pressupõem obras de infraestrutura,
como a construção ou reforma de aeroportos, estádios e instalações esportivas, o que
implica um novo ciclo de construção e valorização do solo urbano na cidade-sede. Em
Brasília, no entanto, as pressões ambientais nesses ciclos são maiores. Tomemos como
exemplo as formas de deslocamento da fração sudoeste do DF, que substitui 4 linhas de
metrô e VLTs por 4 corredores de ônibus, na Estrada Parque Taguatinga – EPTG 8(a
chamada Linha Verde), com todos os eixos rodoviários de 4 e 6 pistas sendo alargados
para 10 a 12 pistas. Isso significa, minimamente, uma perda de 800 mil m2 de área verde. O
alargamento destruiu a vegetação lateral ao longo dos 12,7 km, aterrou as nascentes e
parte dos córregos do parque ecológico do Guará9.
A população que mora em áreas com pouca vegetação não se beneficia da melhora no
microclima que a vegetação é capaz de produzir. A escassez de vegetação é um fator de
diferenciação entre as Regiões Administrativas, que infelizmente afeta de forma negativa as
condições de vida em áreas periféricas. Para as classes desfavorecidas
socioeconomicamente, somente restam as periferias de ambientes pobres e deteriorados.
Fora do Plano Piloto e da Região Administrativa 1 - RA 1, nota-se a carência de áreas
verdes, seja na fase de elaboração do plano urbanístico, de implantação ou em outro
momento da fixação da população urbana.
É possível verificar que a cidade perdeu vegetação saindo do Plano Piloto indo em direção
à Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, passando pelo Guará, Vicente Pires e Águas Claras.
Também é possível identificar um vetor de crescimento em direção ao Gama e à Santa
Maria com acréscimo de áreas não vegetadas. As "áreas verdes" podem ser espaços
apenas gramados, sem atividade fotossintética significativa, porém a existência dessas
áreas possibilita que em algum momento haja vegetação no local. Quando não há previsão
dessas "áreas verdes" a existência futura de vegetação está comprometida, pois não há
8 Que de parque hoje não tem nada. 9 Além da EPTG não ter condições de substituir o volume de passageiros que deveria ser transportado pelo metrô, a impermeabilização causa as enchentes em Vicente Pires e na parte baixa do Park Way, de modo semelhante ao alagamento da W-‐3 Norte pela impermeabilização do Noroeste. Na atualidade,, o GDF está fazendo o segundo corredor (Santa Maria / Gama / Plano-‐Piloto, a Linha Laranja) e com isso destruirá a vegetação ao longo dos quase 37 km de extensão e impermeabilizará mais de 1 milhão e 850 mil m2 (50 m x 37.000 m).
onde inserir vegetação se o solo está construído ou pavimentado. Fato extremamente
preocupante dado que uma das consequências geradas pelo processo de ocupação e
desenvolvimento nas metrópoles é o fenômeno da ilha de calor urbana, que se verifica
justamente nas regiões com solo exposto. Nesses lugares, quantidades de ar quente se
fazem presentes em maior concentração, assim como no centro das cidades. E são essas
condições que dificultam a evaporação e reduzem o poder de dispersão dos poluentes
atmosféricos gerados trazendo complicações para uma boa ocupação.
Para pesquisadora Ermínia Maricato, o processo de urbanização acelerado e concentrado
cobra um alto preço: predação do meio ambiente, baixa qualidade de vida, gigantesca
miséria social e seu corolário, a violência. O rápido e espetacular processo de urbanização
brasileira, que combinou determinantes da expansão capitalista externa com favoráveis
condições internas, constitui um movimento avassalador do ponto de vista social, cultural e
ambiental.
Estudo de imagens de satélites realizado por Coelho (2012) observa a existência de
grandes áreas, distantes do centro, com atividade fotossintética muito baixa. Locais como
Ceilândia, Taguatinga, Samambaia e Recanto das Emas, que são espaços sem vegetação,
construídas ou expostas, praticamente não possuem atividade fotossintética. Um pouco
menos comprometidas estão Gama e Santa Maria, embora também acusem atividade
fotossintética muito baixa.
Os setores censitários em 2010 indicam crescimento da área urbana. Grande parte dessas
novas áreas era destinada ao uso rural, mas foram loteadas e passaram a ser de uso
urbano, e diversos condomínios estão aí localizados. Em algum desses locais, há mais
áreas vegetadas e com maior atividade fotossintética, mas o que tem contribuído para uma
menor área edificada e, consequentemente, uma maior área vegetada é o relevo mais
acidentado, dificultado o adensamento, como nas localidades próximas a São Sebastião.
Pensar e trabalhar ambientalmente supõe a construção, desenvolvimento e aplicação de
uma nova racionalidade, de toda uma revisão da teoria e a práxis social para compreender
a origem, as manifestações e as implicações da dinâmica social de todas as inter-relações e
interações permanentes e indissolúveis entre o meio humano, o meio natural e o meio
construído. Essas formas de pensamento e trabalho são essenciais neste momento,
quando poderiam estar associadas às novas categorias da mobilidade, da construção dos
terminais e do desenvolvimento de novas centralidades. Fica, então, a questão: o novo
terminal do aeroporto, pensado para ampliar a capacidade para 21 milhões de passageiros
por ano está em consonância com as projeções para Brasília de 2060?.
3 ESTÁDIO MANÉ GARRINCHA
Localizado ao lado do Setor Hoteleiro, o antigo estádio Mané Garrincha, com capacidade
para 45 mil espectadores, foi demolido e, no mesmo espaço construiu-se o Estádio
Nacional, para 71 mil espectadores, com investimento de R$671 milhões.
A construção do novo estádio, apresentado para avaliação ao Leadership in Energy and
Environmental Design- LEED, fundamenta-se em conceitos de sustentabilidade simples,
tais como o reaproveitamento de material de demolição (mais de duas mil toneladas) do
antigo estádio na forma de brita para a pavimentação das áreas externas; reaproveitamento
d’água de chuva (captada e armazenada em tanques instalados embaixo do campo de
futebol); captação de energia solar; incorporação de mictórios a vácuo e construção de
bicicletários que reduzem o número de vagas de estacionamentos permeáveis. Em 2011,
segundo o Governo do Distrito Federal e os autores do projeto do novo estádio, Castro
Mello Arquitetos, o projeto contava com 87 pontos de um total de 100 pontos necessários
para alcançar a categoria LEED Platinum, mas o selo nunca foi concedido porque não
foram atingidos os requisitos, e, por isso, foi abandonado um conjunto de medidas previstas
inicialmente, como placas fotovoltaicas, aquecimento solar de agua, etc.
Nas palavras de um dos gestores da Copa de 2014, em Seminário do BID em agosto de
2012, Brasília seria a única cidade-sede que faria a Copa em três quilômetros. O Comitê
Brasília 2014 afirmou em 2012, antes da competição, que o público poderia usar o
transporte coletivo sem restrições e circular a pé com tranquilidade por calçadas renovadas
no centro da cidade. Para essa Copa “a pé”, seria feito um investimento em calçamento em
toda a área central de Brasília.
No entanto, nada disso aconteceu: as obras de calçamento vão ficar para depois da Copa,
assim como os dois túneis para atravessar desde o centro de convenções para o estádio e
para o parque da cidade. Tornando a dimensão social do investimento ainda mais duvidosa,
o trabalho de Ribeiro (2013), supracitado, mostrou que a porcentagem da população que
seria afetada e teria acesso mais direto ao megaevento não chega a 2% do total de Brasília.
Fig. 2
Fig. 2 A copa em 3 quilômetros
Nesse setor mesmo, sem um arranjo paisagístico formal, existe uma série de lugares
criados pelos espaços convergentes dos próprios edifícios e seus recuos obrigatórios, uma
vez que a paisagem e as formas naturais do terreno constituíram as bases do projeto
urbano em Brasília. Sua conservação permite a existência do senso do lugar, da sua
identidade, sensibilizando o usuário para o contexto e tornando mais complexa e contínua a
escala percebida. Nesse sentido é que se faz tão importante o acesso ao Lago, que na
distancia fica visível, mas é, efetivamente, inacessível. Justamente pela declividade tem-se
a dimensão real da paisagem, pensada no plano original de Lucio Costa como amenidades
bucólicas, tais como campo de golfe, restaurantes e clubes, todos com baixo gabarito para
não interferir na paisagem.
Mas as invasões se sucederam em direção à beira do espelho d’água. Lucio Costa fez uma
acertada leitura do sítio, acomodando seu projeto à forma daquele. Estabeleceu um vínculo
com o espaço ao escolher para a localização da capital o triângulo contido entre os braços
do lago. Este triângulo ergue-se ligeiramente sobre os terrenos laterais mais baixos que
chegam ao lago. Na linha do espigão estabeleceu o eixo Monumental e, acompanhando as
curvas de nível que descem até o lago, acomodou o eixo Rodoviário. Isso dá ao “homem de
Brasília” a sensação de segurança no lugar e o domínio visual sobre a paisagem, que é
altamente legível, isto é, se faz compreender com facilidade através de relações espaciais
claras entre os seus elementos.
As descontinuidades, por outro lado, resultado das invasões, impedem a leitura do espaço
e, consequentemente, a apropriação prazerosa dele. De fato, existe um espaço raso sem
sombreamento, sem umidificação na seca, sem proteção dos ventos indesejáveis ou
amenização dos ruídos advindos das vias periféricas; em outras palavras, o espaço carece
das medidas bioclimáticas amenizadoras mínimas imprescindíveis para o clima tropical do
planalto central. Isso interdita qualquer possibilidade de pensar no uso de tecnologias
inovadoras de pavimentos resfriados, com refletância e absortância da carga térmica,
pensar também em galerias técnicas e em zonas de pedestres potencializando percursos e
passagens cobertas com o intuito de criar zonas de sombras durante o dia e luminosidade
durante a noite. Enfim todas tecnologias que a capital modernista, “museu de arquitetura a
céu aberto”, mereceria.
Outras obras do pacote Copa 2014 serão concluídas depois da competição. O GDF decidiu
contratação de uma única empresa10 para executar varias obras de revitalização da área
central de Brasília (tais como a urbanização e paisagismo do Complexo Ayrton Senna, a
construção de um túnel entre o Centro de Convenções e o Estádio Nacional e outro túnel
entre o Clube do Choro e o Parque da Cidade, para interligação das vias W4, W5 sul/norte
a urbanização do Centro de Convenções Ulysses Guimarães), mas o Ministério Público
suspendeu a licitação no entendimento de que deveria ser fracionada e não feita em bloco.
Em 2011 o GDF tentou lançar, sem sucesso11, a licitação da extensa área verde na Quadra
901 espaço adjacente ao Estádio Nacional, mas surgiram entraves entre as empresas
interessadas no espaço. Enquanto as grandes redes hoteleiras queriam que fosse licitado
um único lote, as pequenas queriam a divisão em 14 lotes. Empresários estimavam que a
Quadra 901 Norte mobilizaria 4 bilhões de reais em obras; somente o terreno, propriedade
da Terracap, valeria de 700 a 800 milhões.
A Quadra 901 caracteriza-se, predominantemente, por grandes lotes com baixa densidade
de ocupação e usos institucionais. Por ser o limite entre as Asas e os parques urbanos,
trata-se de área sensível, que deve manter baixa densidade de ocupação, altura reduzida (o
GDF propunha a construção de prédios de até 45 metros de altura) e intensa arborização.
10 Porém, em março de 2014, uma decisão da 1a vara da fazenda pública do DF determinou a suspensão de licitação de obras estimadas em mais de R$ 305,4 milhões, que serão concluídas depois da competição. 11 O GDF e a Terracap utilizaram os artigos 112 e 113 do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT) como amparo legal ao projeto hoteleiro do Setor das Grandes Áreas Norte – SGAN, onde se encontra a Quadra 901. Esses artigos preveem “ações de revitalização” dos setores centrais do Plano Piloto, entre os quais se inclui o Setor Hoteleiro Norte (SHN).
Nesse esforço para reforçar as centralidades já existentes, a partir da concentração de
investimentos públicos na capital, que buscava favorecer o capital imobiliário em detrimento
de outras áreas urbanas da capital, o governo declarou que o objetivo do lançamento era
aumentar a quantidade de leitos na capital federal e atender as demandas do mundial.
Todavia, não existia um déficit quantitativo na rede hoteleira brasiliense. O déficit é apenas
qualitativo e, portanto, a melhor solução para um evento como a Copa do Mundo de 2014
seria requalificar os leitos já existentes, por meio de políticas de incentivo. (Figura 3)
Figura3. Área central. Escala gregária. Setores Hoteleiros
A estratégia do Estado e dos grandes capitais foi, no entanto, frustrada pela mobilização da
sociedade: o parcelamento da Quadra 901 Norte foi incluído no Plano de Preservação do
Conjunto Urbanístico – PPCUB. O Plano de Preservação, por exigência da Unesco, para
manter a condição de Brasília como Patrimônio da Humanidade, entrou na pauta de
discussões da Câmara Legislativa do Distrito Federal. As entidades de classe dos arquitetos
e urbanistas, assim como as principais faculdades de Arquitetura e Urbanismo da cidade,
através de seus representantes junto com o Instituto de Patrimônio Artístico e Histórico
Nacional - IPHAN votaram contra o projeto no Conselho de Planejamento - Conplan e,
posteriormente, os parlamentares, ante a forte pressão social, se recusaram a votar o
projeto de lei no encerramento do ano de 2013.
Segundo a ONG “Urbanistas por Brasília”12 também merecem ser analisadas com
seriedade as distorções da lei, como, por exemplo, a existência de grande quantidade de
leitos tipo “Flat” ou “Apart hotel” na área tombada que são ocupados, de fato, como
12 ONG que reúne arquitetos em defesa de Brasília.
residências. Essa distorção é estimulada pela legislação distrital que permite que o IPTU
comercial das unidades (alíquota de 1% sobre o valor do imóvel) seja reduzido para IPTU
residencial (alíquota de 0,30%) após mero preenchimento de formulário junto à secretaria
de Fazenda do GDF. Esse desvirtuamento é verificado na quase totalidade dos oito novos
empreendimentos hoteleiros de Brasília localizados no Setor Hoteleiro Turístico Norte -
SHTN e Setor de Clubes Esportivos - SCE (na Orla do Paranoá), os quais foram
concebidos, comercializados e ocupados como “residencial com serviços”, ou seja,
condomínios fechados, de alta renda e com vistas ao lago Paranoá. Institui-se, assim, um
novo formato de privatização da Orla, empreendido pelas camadas sociais mais ricas e
influentes da cidade.
Somente o uso pleno da Quadra 901 será capaz de proteger os avanços predatórios dos
incorporadores imobiliários. Acredito que se deve propor um uso cultural do espaço, nos
moldes do Centro George Pompidou de Paris e do conjunto SESC Pompeia de São Paulo.
Assim, seriam criados, num único espaço, articuladores culturais, sem comprometer a
tranquilidade das superquadras contíguas com base em elementos cuja característica
básica é o seu dinamismo, sua capacidade de dar um sentido, uma direção ao
desenvolvimento cultural de uma região desprovida de espaços dessa natureza, abrigando
mediateca, biblioteca, cines (como o da Asa Sul), centro de artes, galerias, auditórios. Uma
concepção como essa requer um espaço livre, muito aberto, de uso irrestrito, com três ou
quatro subsolos de garagem para serem administrados numa parceria público ou privada
que geraria renda para manter o centro cultural.
Reconhecendo a especificidade do contexto, a articulação cultural em espaço livre público
sobre estacionamento de gestão pública ou privada construído no sub solo, com espaço
central de qualidade ambiental, propiciaria a reconfiguração urbana na adjacência,
preservando a permeabilidade com o entorno, estabelecendo conexões e continuidade e
favorecendo a criação de espaços ativos, intensamente utilizados para circulação e
permanência dos pedestres. Lembramos, ainda, que a destruição do espaço urbano
perceptível geralmente acontece quando este se reduz a um simples fato quantitativo
fragmentado com objetos arquitetônicos desconexos em torno de espaços externos que se
apresentam como vazios residuais.
4 CONCLUSÕES
Brasília a única cidade-sede que, de fato, sediará os eventos relativos à Copa numa área de
três quilômetros. O público comprovará a estreita relação que existe entre a qualidade dos
espaços e as atividades externas, pelo menos através do desenho do entorno físico, uma
vez que influi nos modelos de atividade que se desenvolvem na cidade. Em Brasília tudo
gira nas proximidades do estádio, ao redor da torre de TV e no caminho em que o eixo
monumental se abre para a esplanada dos ministérios e desce até o Lago. Tudo isso influi
no número de pessoas e acontecimentos que usam o espaço e no tipo de atividades que
nele podem desenvolver-se.
Dado que as obras de calçamento, assim como os dois túneis para atravessar do centro de
convenções até o estádio e o parque da cidade vão ficar para depois da Copa, a
permeabilidade do tecido urbano fica comprometida. Assim a questão posta em pauta pela
celebração da Copa, a estrutura urbana do centro de Brasília, especialmente nos Setores
Hoteleiros, com uma circulação crítica para o pedestre, que não conta com caminhos
contínuos nem qualificados, não foi solucionada. Brasília continuará sem separação entre
as vias de pedestres e as de tráfego motorizado, nas quais frequentemente falta espaço até
mesmo para calçadas. Além disso, o mau tratamento das áreas sob os embasamentos
assim como o avanço das garagens do subsolo na área pública, implantados
incongruentemente em relação ao terreno natural, constituem barreiras que privatizam o
espaço público, confundem os pedestres e aumentam a distância dos percursos. O legado
da Copa poderia ter sido na solução destas questões.
Brasília possui, como unidades morfológicas básicas, vias e áreas verdes em vez de ruas e
praças típicas das cidades tradicionais. Esses espaços arquitetônicos foram dados aos
usuários já prontos e, por esse motivo, as atividades que hoje neles se desenvolvem são o
fruto da decantação do tempo e de ações empreendidas pelos moradores que se apropriam
adequadamente deles. Na cidade projetada de Brasília não existem edifícios com alto grau
de adjacência, o que não significa que assistamos a uma coleção de edifícios agregados de
qualquer forma como em algumas deterioradas cenas urbanas. (Romero 2001, p. 159) A
noção de "legado" quase incorporada ao megaevento, com o adensamento da quadra 901
Norte, colocava em risco o patrimônio e podia provocar adensamento da área tombada há
mais de 25 anos13.
A visão da cidade desenvolvida por Lucio Costa – massa edificada que se organiza em
torno de eixos e centros – nos coloca frente a uma maneira de pensar o espaço urbano e a
atividade urbanística a partir de concepções e “maneiras de pensar” próprias da arquitetura.
Nesse sentido, a cidade é concebida enquanto construção, como espaço edificado e,
portanto, sujeita às mesmas leis que regem a concepção do espaço arquitetônico.
13 Tanto as regras de ocupação quanto a forma (ou desenho) do Plano Piloto foram protegidos quando foi tombado pelo Governo do Distrito Federal em 1987 e pelo Governo Federal em 1990.
Pensar e trabalhar ambientalmente supõe a construção, desenvolvimento e aplicação de
uma nova racionalidade, de toda uma revisão da teoria e a práxis social para compreender
a origem, as manifestações e as implicações da dinâmica social de todas as inter-relações e
interações permanentes e indissolúveis entre o meio humano, o meio natural e o meio
construído.
5 REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. “La Cuestión Urbana”, Editora Siglo XXI, México, 1980
COELHO, J. Machado. Evolução urbana em Brasília entre 2000 e 2010, dissertação de
Mestrado, UnB, Brasília, 2012.
COSTA, L. Brasília revisitada, 1985-1987: complementação, preservação, adensamento e expansão urbana, in Leitão, F. (organizador). Brasília 1960 2010: passado, presente e futuro. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Brasília. 2009
GEHL, Jan. La humanización del espacio urbano. Editorial Reverté, S. A. Barcelona. 2006.
LEFEBVRE, Henri. “O Pensamento Marxista e a Cidade”, Editora Ulissea, Povoa de Varzim, 1980.
_____________ “La Revolución Urbana”, Alianza Editorial, Madrid, 1972
RIBEIRO, Rômulo José da Costa. Copa do mundo no centro oeste do Brasil. In
Desigualdade regional e as politicas públicas. Copa do mundo de 2014: impacto e legado.
Artur Zimerman (org.). P 64 – 95. Univ.Fed. do ABC. 2013
ROMERO, Marta Adriana Bustos. Arquitetura do lugar. Uma visão bioclimática da
sustentabilidade em Brasília. Editora Nova Técnica, são Paulo, 2011
___________________________. Arquitetura Bioclimatica do espaço público, editora UNB,
Brasília, 2001
WIRTH, Louis. El urbanismo como modo de vida, Publicado originalmente em 1938, no
número 44 do American Journal of Sociology, tradução espanhol de Victor Sigal e publicada
por Ediciones 3 (Buenos Aires, 1962). www.bifurcaciones.cl. num.2, otoño 2005.