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0 Tweetar 0Publicado em: 26/11/2013 |Comentário: 0 | Acessos: 309 |

Brasil: do neoliberalismo ao neodesenvolvimentismo , o vôo rasteiro de umaeconomia social que não decola

BRASIL: DO NEOLIBERALISMO AO NEODESENVOLVIMENTISMO , O VÔO RASTEIRO DE UMA ECONOMIA SOCIAL QUENÃO DECOLA.

João Carlos Mendonça Didier Silva Peixe[1]

Resumo: O artigo retoma o debate neoliberal, acolhido, na década dos anos 1990 no Brasil, interrompida pela criseeconômico/financeira mundial do ano 2008. A defesa do nacional desenvolvimentismo; Projeto de desenvolvimento econômicoassentado no trinômio: industrialização substitutiva de importações; intervencionismo estatal e nacionalismo, é retomado sob umprisma distorcido em relação aos ideários de Celso Furtado. Concluo afirmando, baseado na literatura explorada, que o Brasil além denão ter aproveitado o curto período de crescimento econômico, constatado entre 2003 e 2007, vem cometendo os mesmos errosestratégicos que comprometeram seu desenvolvimento estrutural nos últimos 40 anos. Baixa sustentabilidade de crescimento % doPIB; baixa capacidade produtiva; alta carga tributária com pouquíssimo investimento em infraestrutura; péssimas políticas públicasem saúde, educação, moradia, trabalho e segurança pública; altos coeficientes de desigualdade de renda agregada, apesar dadiminuição da Pobreza absoluta e extrema; péssimo desempenho da balança comercial com queda na participação industrial para ocrescimento econômico.

Palavras chave: Brasil, Desigualdade de Reanda, Nacionaldesenvolvimentismo, Neoliberalismo.

I – Introdução

Para Perry Anderson (ANDERSON, 1995: 22) sustentando a tese de que o neoliberalismo não é uma simples volta ao liberalismoclássico:

"O neoliberalismo é um corpo de doutrina coerente, autoconsciente, militante, lucidamente decidido a transformar todo o mundo àsua imagem, em sua ambição estrutural e sua extensão internacional. Eis aí algo muito mais parecido ao movimento comunista deontem do que ao liberalismo eclético e distendido do século passado".

Francisco de Oliveira (1996) destaca a vitalidade da sociedade civil em evitar o avanço da política neoliberal durante o governo Collor,mas afirma que a hiperinflação terminou por tornar o terreno fértil a política neoliberal, levada a cabo no governo Itamar Franco porseu então Ministro Fernando Henrique Cardoso.

(OLIVEIRA, 1996:26/27) afirma:

"O regime neoliberal possui no Brasil, duas facetas: a primeira é a mais evidente, pois, enquanto a economia se recupera, o socialpiora. A segunda é a desestruturação da capacidade de luta opositora (através dos sindicatos, partidos, organizações populares e dosmovimentos sociais) que compreende também dois movimentos: 1º. Pelo ataque as bases da esperança coletiva, da força deresistência popular, pelo apelo à amnésia brasileira; 2º. Pela instauração do medo da mudança, do novo, da experimentação, numareafirmação da raiz elitista que compõe a formação econômicosocial da elite brasileira, que marca seu atraso cultural, seupreconceito, seu ódio pelo povo"

Göran Therborn (THERBORN, 1995:41/45) fornece algumas teses sobre o neoliberalismo e sua relação com o chamado socialismoreal, no caso:

" O neoliberal é uma superestrutura ideológica e política que acompanha uma transformação histórica do capitalismo moderno;

A queda do socialismo real faz parte do mesmo processo de transformação de todo o sistema econômico mundial;

Ocorreu uma virada do desenvolvimento das forças produtivas, orientadas para uma direção de caráter mais privado, negando atese marxista que o desenvolvimento das forças produtivas seguiriam um sentido público e que entrariam em contradição com asrelações de produção capitalistas;

Essa nova direção expressa uma nova relação entre Estado e empresas, em decorrência da organização pósindustrial, que gerouempresas mais dependentes do mercado e da demanda dos clientes, o desenvolvimento de tecnologias flexíveis que aumentou acapacidade de respostas às demandas, e a enorme expansão dos mercados financeiros internacionais."

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Além dessas teses o autor (THERBORN, 1995:46/4550) apresenta algumas questões:

" Que o Estado de bemestar se manteve durante esse período inicial de estruturação do neoliberalismo supreendentemente bem,isto porque este chegou a ser uma instituição absolutamente central, nos países avançados e modernos, na vida cotidiana de grandeparte da população;

Que as crises constituem o ritmo de vida do capitalismo, mas no momento atual não há crise estrutural;

Que a contradição do capitalismo atual é ideológica, que se manifesta na destruição social criada pelo poder do mercado,constituindose numa contradição sociológica;

Que há uma reestruturação social em andamento: por um lado há a fragmentação e a diversidade social, mas por outro hátambém um processo de maior capacitação das classes populares;

Que o fim do eurocentrismo e do centralismo americano constitui um dos aspectos da mudança histórica, pelo aparecimento daseconomias asiáticas, por exemplo;

Que os processos de globalização da economia não são uniformes mundialmente;

Que há limites práticos, "preciosos", tanto para o capitalismo quanto para o socialismo clássico, mas que o marxismo sereconfirmou como instrumento analítico;

Que é necessário uma nova concepção acerca da transformação social e da prática política, uma concepção talvez, pósmoderna;

Que necessitamos de práticas diferenciadas, flexíveis, movimentistas, simultaneamente locais e globais;

Que a futura esquerda será mais novomundista que europeia."

Para a última nota de Thorborn (1995), é bom frisar o visionismo do autor, que apontou "a futura esquerda será mais novomundistaque europeia", sem ter assistido a profusão de governos de esquerda, ideologicamente ligados a corrente revolucionária bolivariana,"inventada" por Hugo Chávez, expresidente venezuelano, eleito pera seu primeiro governo em dezembro de 1998.

II Balanços do Neoliberalismo no Brasil

Para (BOITO JR., 1999:122), sobre as condições históricas da implantação do neoliberalismo[2] no Brasil:

"A vitória da plataforma neoliberal no Brasil devese a uma conjuntura histórica complexa que articula a situação internacional àhistória brasileira. Nessa conjuntura interferem fatores de ordem econômica (alternância de recessões com períodos de crescimentomoderado, desemprego), de política internacional (reunificação do campo imperialista, desagregação da União Soviética), de políticainterna, fatores ideológicos (crise do movimento socialista) e outros. Alguns desses fatores são de longa duração, outroscircunstanciais – como as peculiaridades da eleição presidencial brasileira de 1989. Não é possível, portanto, explicar a vitória doneoliberalismo recorrendo a uma explicação estritamente econômica, como fazem os autores que se contentam em falar no"esgotamento do modelo substitutivo de importações". Tampouco nos parece correto o determinismo que decorre desseeconomicismo. É certo que a situação do início dos anos 90 impelia o Estado brasileiro para a política neoliberal. Mas para oneoliberalismo[3] chegar ao poder, foi preciso vencer, a duras penas, a eleição de 1989 e, menos de três anos depois reerguerse naconjuntura difícil da crise do impeachment."

Segundo FILGUEIRAS, 2006:179/180), os processos econômicos e sociais que levaram à vitória política do neoliberalismo no Brasilforam:

1) as forças sociais que formam a sua base de apoio e sustentação, às distintas frações de classe –hegemônicas e subordinadas–passaram a compor o novo bloco[4] de classe dominante, carreando consigo suas correspondentes contradições e disputas internas;

2) as mudanças estruturais que levaram à configuração de um novo modelo econômico, com os ajustes nos mecanismos do seufuncionamento e nas políticas econômicas adotadas, tentando uma forma de reduzir sua grande instabilidade macroeconômica e;

3) as consequências sociais e políticas decorrentes desse processo, dentre elas o impacto políticoideológico sobre as classestrabalhadoras e suas representações políticas.

Segundo Filgueiras (2006), o modelo econômico neoliberal no Brasil, se estruturou a partir de quatro dimensões:

1) a relação capital/trabalho;

2) a relação entre as distintas frações do capital[5];

3) a inserção internacional (econômicofinanceira) do país e

4) a estrutura e o funcionamento do Estado.

Para Filgueiras (2006) a ação política, a partir do aparelho de Estado, foi crucial para a estruturação, evolução e dinâmica do modeloneoliberal. Ao contrário de uma redução do poder do Estado, conforme propagado pela doutrina, a implementação e condução dessemodelo implicaram, e implicam, uma participação fundamental do Estado, com reforço e ampliação de seu poder.

Quanto às mudanças referentes à relação capitaltrabalho, afirma (FILGUEIRAS, 2006:187):

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"as mudanças decorreram, antes de tudo, do processo de reestruturação produtiva, que redefiniu radicalmente, no plano objetivomaterial, a correlação de forças existentes, com o claro enfraquecimento da capacidade política e de negociação da classetrabalhadora e de suas representações. A reestruturação produtiva das empresas –privadas e públicas–, através da reorganização dosseus processos de produção, com a introdução de novos métodos de gestão do trabalho e de novas tecnologias, teve implicaçõesdevastadoras sobre o mercado de trabalho. Esse impacto negativo foi reforçado pela abertura comercial e financeira da economia epelo longo ciclo de estagnação iniciado no começo dos anos 1980 –caracterizado por baixíssimas taxas de crescimento do PIB ereiteradas flutuações de curto prazo."

A partir de 1990 verificase um grande salto nas taxas anuais de desemprego, coincidindo com a abertura comercialfinanceira e aprofunda recessão. A partir do gráfico 1, abaixo notamos que as taxas de desemprego aceleram a partir de 1993, estabilizamse notopo (entre 12% e 12,2% ao ano) entre 1999 e 2003 e só começam uma tendência de queda a partir de 2004.

Gráfico 1: Desemprego – Taxa média anual (%) – evolução entre 1985 e 2010.

Fonte:http://brasilfatosedados.files.wordpress.com/2010/09/14gc1.png

Segundo Filgueiras (2006), acompanhando a explosão das taxas de desemprego, como produto de uma ampla desregulação domercado de trabalho, foram evidenciadas formas de contratação instáveis que em tese burlavam a legislação trabalhista vigente ecaracterizavam uma generalização da precarização das relações de trabalho, dentre as formas citadas por Filgueiras (2006), aampliação da informalidade, para o atual debate a contratação sem carteira de trabalho assinada.

O Gráfico 2 demonstra a citação de Filgueiras (2006) sobre a baixa criação de empregos formais no Brasil, notadamente acentuadano período do governo Collor de Melo (19901992).

Gráfico 2:Criação de empregos formais no Brasil – evolução entre 1986 e 2010.

Fonte: http://brasilfatosedados.wordpress.com/2010/09/09/criacaodeempregosformaisevolucao198620102/

Sobre a distribuição de renda afirma (FILGUEIRAS, 2006:188):

"assistiuse, desde o início da implementação do modelo neoliberal, a uma redução da participação do montante total dosrendimentos do trabalho na renda nacional (de mais de 50% para apenas 36%), tendo por contrapartida o crescimento daparticipação do montante total dos rendimentos do capital, especialmente os juros do capital financeiro, e das receitas fiscais doEstado."

Para deixar claras as observações de Filgueras (2006) quanto à distribuição de renda no Brasil no período da implementação domodelo neoliberal observar o Gráfico 3. Voltaremos ao tema para demonstrar que no período total do gráfico 3 (Diferença médiaentre ricos e pobres no Brasil: 1985 – 2010), podemos notar que do período de redemocratização até o primeiro governo Lula(2003), as desigualdades de renda no Brasil mantiveramse absurdamente estáveis, denotando políticas distributivas danosas para apopulação 50% mais pobre do Brasil, que no período apontado (1985 a 2003) nunca se apoderou de algo maior que 13% do ProdutoInterno Bruto (PIB) nacional.

Gráfico 3: Diferença Média entre ricos e pobres – Governos 1985 e 2010.

Contudo, e voltaremos ao tema, no período entre 2003 e 2010, governos Luis Inácio Lula da Silva, não foram evidenciadas quedassubstanciais na diferença entre ricos e pobres no Brasil. Em suma, as desigualdades de renda no Brasil diminuíram muito pouco, oque podemos evidenciar também pelo coeficiente de Gini, demonstrado no Gráfico 4.

Gráfico 4: Medição da desigualdade de renda no Brasil – índice de Gini – 1992/2009

Fonte: Micro dados Pnad (IBGE2010)

Formulação: João Carlos Peixe – 2012

Voltaremos ao tema, mas para o que Filgueiras (2006) sustenta como a queda percentual da participação da renda do trabalho sobreo total do PIB nacional, notamos que o período apontado pelo autor está evidenciado como o período de maior desigualdade nahistória econômica brasileira. Para isso basta notar no gráfico 4, o coeficiente de Gini entre 1993 e 2001.

Sobre a carga tributária no período imediatamente pós implantação do modelo neoliberal, o gráfico 5 nos mostra que o período dogoverno Itamar Franco (1993 a 1994) foi o que adotou o maior incremento médio percentual da carga tributária, sobre o PIBnacional, na história do Brasil. Basta notar que, o gráfico 5 nos mostra, o incremento médio no primeiro período da ditadura militarfoi de 5,6% ao ano em relação ao período passado, enquanto em dois anos de governo Itamar Franco, sob os ditames do MinistroFernando Henrique Cardoso, responsável pela pasta da Fazenda, houve um incremento médio anual de 9,6%.

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Gráfico 5: Carga Tributária Entregue –% do PIB – Governos: 1947 e 2010.

Voltaremos ao tema, pois é interessante analisar que a política econômica vigente nos Governos do PT continuou uma tendência dearrecadação que aproxima o Brasil aos países mais avançados do mundo no que tange à arrecadação tributária, veremos que oretorno, ou seja, a qualidade dos serviços públicos prestados à população brasileira está longe de se aproximar dessas mesmaseconomias, que denominaremos nórdicas.

Segundo (FILGUEIRAS, 2006:195):

"A opção por instituir elevados superávits fiscais primários levou ao crescimento, sistemático, da carga tributária, através da criaçãode novas contribuições ou do aumento das alíquotas de contribuições já existentes. A ênfase nas contribuições, e não nos impostos,foi determinada pelo fato das mesmas não terem as suas arrecadações divididas entre a União, Estados e Municípios, isto é,pertencem apenas à União."

Sobre as mudanças nas relações intercapitalistas, denominadas por Filgueiras (2006) como as relações entre as distintas frações docapital, afirma (FILGUEIRAS, 2006:190):

"assistiuse, com a abertura e desregulamentação dos mercados financeiros, o aprofundamento da financeirização da economia,apoiada essencialmente na dívida pública e que abarcou todas as frações do capital – no sentido da predominância da lógicafinanceira no interior de seus processos de decisões."

Continua (FILGUEIRAS, 2006:190):

"O predomínio do capital financeiro na sociedade e na sua relação com o capital produtivo, se expressa, de forma contundente, naspolíticas econômicas implementadas e nos resultados econômicos (lucros) obtidos pelas instituições financeiras – esteja a economiacrescendo ou não."

Sobre os processos de abertura comercial e de privatização, acompanhados por uma política cambial de sobrevalorização do real, noprimeiro governo FHC, afirma (FILGUEIRAS, 2006:190):

"... levaram a um movimento impressionante de centralização de capitais, através de aquisições, incorporações e fusões,concomitantemente a uma maior desnacionalização e internacionalização da economia brasileira[6]."

Sobre as mudanças na inserção internacional, o Brasil a partir da adoção do modelo econômico neoliberal, (FILGUEIRAS, 2006:193):

"... no âmbito da inserção do país na nova divisão internacional do trabalho, há uma articulação e um processo complexos. De umlado, reprimarização das exportações – agronegócio e indústria de baixo valor agregado– em novas bases tecnológicas e financeiras(mas com uso intensivo de mãodeobra e recursos naturais) e, de outro, o fortalecimento de alguns segmentos industriais típicos daSegunda Revolução Industrial, modernizados pelas tecnologias difundidas pela Terceira Revolução (automóveis, petroquímica eaviões). Estes últimos segmentos integrados ou não em redes transnacionais e grandes grupos econômicos."

Sobre as mudanças na estrutura e funcionamento do Estado, evidenciados por (FILGUEIRAS, 2006:194) após implantação domodelo econômico neoliberal no Brasil, aponta o autor:

"... o Estado também se reestruturou, a adoção do modelo neoliberal deu início a um processo de desregulamentação – com aquebra dos monopólios estatais em vários setores da economia– juntamente com o processo de privatização das empresas públicas,reduziu bastante a presença do Estado nas atividades diretamente produtivas, fortalecendo grupos privados nacionais e estrangeiros– dando origem a oligopólios privados, redefinindo a força relativa dos diversos grupos econômicos e enfraquecendo grupos políticosregionais tradicionais; além de permitir demissões em massa e enfraquecer os sindicatos."

Adicionalmente, afirma Filgueiras (2006), a reforma administrativa, além de permitir a criação de mecanismos de demissão econtratação de funcionários, alterando as relações trabalhistas no setor público[7], implantou duas reformas da previdência social,redefinindo as regras de aposentadoria e reduzindo benefícios e direitos, em nome do equilíbrio fiscal, abrindo espaço para a atuaçãodos fundos de pensão privados.

Em síntese, aponta (FILGUEIRAS, 2006:195):

"a retirada do Estado de setores estratégicos da atividade econômica, juntamente com o agravamento de sua fragilidade financeira, aredução de sua capacidade de investimento e a perda de autonomia da política econômica, enfraqueceulhe a possibilidade deplanejar, regular e induzir o sistema econômico. O crescimento acelerado da dívida pública[8] – com encargos financeiroselevadíssimos–, juntamente com a livre mobilidade dos fluxos de capitais, é parte central da subordinação da políticamacroeconômica aos interesses do capital financeiro, ao mesmo tempo em que redefiniu a presença dos interesses das distintasclasses e frações de classe no interior do Estado[9]."

O resultado das mudanças introduzidas a partir da introdução do novo modelo econômico, que como afiançado por Filgueiras (2006),modificou as estruturas econômica, social e política no Brasil, o país aumentou sua dependência tecnológica e financeira, e foramagravadas a vulnerabilidade externa da economia e a fragilidade financeira do Estado.

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Conforme (FILGUEIRAS, 2006:196):

"É da natureza do modelo neoliberal periférico a reiteração permanente dessa vulnerabilidade e fragilidade, como condição dereprodução do capital financeiro e, portanto, de sua própria reprodução. Assim, a dinâmica do modelo é, intrinsecamente,instável[10]. E isto é verdadeiro mesmo quando da existência de superávits comerciais no balanço de pagamentos."

Segundo Filgueiras (2006), as sucessivas crises das décadas de 1990 e 2000, como o autor não abordou a crise internacional de2008 voltaremos ao tema, foram expressão aguda da extrema instabilidade do modelo, evidenciada pelo desempenho dasexportações como sendo decisivas para a remuneração do capital financeiro, dando, ao modelo neoliberal periférico, o mínimo deestabilidade e capacidade de enfrentar as crises cambiais (fugas de capitais) recorrentes com a menor desorganização possível daeconomia.

Portanto, afirma (FILGUEIRAS, 2006:198):

"tendo em vista a existência de livre mobilidade de capitais – agravada com a transnacionalização de frações do capital nacional – e aconsequência daí advinda, de sérias restrições à autonomia da política econômica dos países periféricos (tanto maiores quanto maioro tamanho da dívida pública), a obtenção de saldos positivos na conta de transações correntes, embora não elimine a instabilidadesistêmica do modelo, minimiza a sua extrema volatilidade – ao reduzir, no curto prazo, os indicadores de vulnerabilidade externa."

Gráfico 6: Exportações x Importações – U$ bilhões de dólares – Evolução – Governos: 1985 2010

Fonte: Secex / MCIC

O Gráfico 6 mostra que no período analisado por Filgueiras (2006) a balança comercial apresentou certa estabilidade, apresentandose levemente positiva, pequeno superávit entre os governos Sarney (1985) e Itamar Franco (1994), sendo negativa, quando ovolume de importações em bilhões de dólares superaram as exportações no período dos governos FHC (1995 A 2001).

Segundo (FILGUEIRAS, 2006:198): "... a dinâmica do mercado interno brasileiro fica condicionada à capacidade da economiaexportar e obter superávits comerciais, de modo a reduzir a vulnerabilidade externa e, assim, abrir espaço para o seu crescimentosem ter ameaça imediata de nova crise cambial."

O Gráfico 7 abaixo, demonstra a composição do volume de exportações brasileiras.

Gráfico 7: Exportações – Brasil – 2002 – As 14 principais mercadorias – Volume nominal U$ bilhões de dólares –participaçãopercentual

Fonte: Secex / MCIC

Sobre a composição da cesta de mercadorias exportadas pelo Brasil, avaliada por

(FILGUEIRAS, 2006:199):

" a composição do volume de exportações brasileira é constituída, principalmente, de produtos de baixo conteúdo tecnológico –intensivos em trabalho e recursos naturais, em especial commodities ou produtos associados à Segunda Revolução Tecnológica;

o papel estratégico assumido pelas exportações, reprimarização (agronegócio e industrias intensivas em mãodeobra) e indústriasarticuladas em redes produtivas transnacionais – pressionam por uma maior exploração da força de trabalho, com a queda dossalários reais e redução dos direitos trabalhistas e sociais (reforma trabalhista para a flexibilização dos direitos constitucionais ereforma da CLT), mantendo estrutura de distribuição da renda extremamente concentrada e desigual, reiterando, nesse aspectonegativo, o mesmo padrão do Modelo de Substituição das Importações."

III Neodesenvolvimentismo no Brasil

Para Lamoso (2012), por princípio o neodesenvolvimentismo se pauta na intervenção direta do Estado no setor produtivo,estratégias de planejamento de médio e longo prazo e investimentos em infraestrutura, medidas as quais foram acrescidas aprioridade ao comércio exterior e intensificação de políticas de assistência social.

(GRANJA E PINHO, 2011:12) assinalam que:

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"o recente desenvolvimentismo difere do desenvolvimentismo clássico estrutural cepalino, já que consideram que o atual discursoneodesenvolvimentista, apesar de ter continuidades com o modelo tradicional está marcado por diferenças importantíssimas que osingularizam daquele modelo anterior. A mais importante dessas diferenças é a combinação da intervenção estatal com a valorizaçãoe o respeito pela estabilidade monetária; outra é a aposta pela integração aos circuitos financeiros e comerciais globais – mesmo queresguardando a soberania. Assim, estes autores propõem um novo método para indicar a existência de políticas desenvolvimentistasnos governos de esquerda da América Latina: a combinação da análise de indicadores macroeconômicos, como crescimento do PIB,com indicadores que priorizem as capacidades institucionais do Estado."

Segundo Lamoso (2012), as características do pensamento nacional desenvolvimentista dos anos 1950 podem ser definidas assim:

Pensamento Nacionaldesenvolvimentista

Corrente desenvolvimentista do setor privado

Corrente desenvolvimentista do setor público

"não nacionalistas"

nacionalistas

Defesa dos interesses privados.

Preconizavam soluções privadas, de capital estrangeiro ou nacional, para investimentos na indústria e na infraestrutura;

Intervenção estatal em último caso.

Defendiam a estatização dos setores como mineração, transportes, energia, serviços públicos e alguns segmentos da indústria debase.

Defesa do financiamento do desenvolvimento através da poupança forçada concentração de renda como mecanismo de crescimentoeconômico.

Crença na contribuição do capital estrangeiro ao processo de industrialização do país.

Ceticismo quanto à participação do capital estrangeiro.

Liberdade de movimentação de capitais e remessa de lucros limitadas apenas pela existência de cambiais.

Não favoráveis à expansão dos investimentos estatais, que deveriam dar espaço aos investimentos privados.

Defesa da constituição de um capitalismo industrial moderno.

Mencionava a integração

dos mercados latinoamericanos

Valorização do papel do Estado para fazer frente à debilidade do empresariado nacional

Defesa da expansão do

crédito e medidas protecionistas

Não era refratária ao capital estrangeiro (ex: apoio às montadoras automobilísticas)

Ênfase na industrialização para a superação da pobreza, para a criação do emprego e elevação da renda nacional.

Constituição de bancos de financiamento de longo prazo

Ênfase na estabilização monetária

Prioridade ao planejamento do desenvolvimento e ao rompimento dos pontos de estrangulamento

Quadro 1: características do pensamento nacional desenvolvimentista dos anos 1950

Elaboração: LAMOSO (2012, pp. 393) com base em Bielschowsky (2000)

Segundo (GRANJA E PINHO, 2011:13) três indicadores dão conta da agenda política pósneoliberal de viés desenvolvimentista nosgovernos de esquerda:

(1) a capacidade do país de gerar e expandir o uso da tecnologia;

(2) o padrão de seu sistema produtivo (fundamentalmente, o comércio exterior); e, por último,

(3) a capacidade de estender os frutos do crescimento à sociedade

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Neste sentido, a questão social tem preponderância na agenda dos governos de esquerda da América Latina, sobretudo no Brasil.Embora a temática neodesenvolvimentista seja só uma característica a mais destes governos, como bem explicitaram Boschi eGaitán (2008:200), há certas continuidades e rupturas com o desenvolvimentismo clássico. Isto tem a ver com transformação daesquerda latinoamericana, que apresentamos anteriormente, que propõe um modelo neodesenvolvimentista híbrido, que pode serresumido como de coordenação macroeconômica centralizada no mercado ou capitalismo social.

Segundo Sicsú (2005): "O projeto novodesenvolvimentista seria constituído por um Estado forte que estimula o florescimento deum mercado forte." (Sicsú 2005, pp. 2)

A tese de SICSÚ, 2005:3) é a seguinte:

"1 não haverá mercado forte sem um Estado forte,

2 não haverá crescimento sustentado a taxas elevadas sem o fortalecimento dessas duas instituições (Estado e mercado) e sem aimplementação de políticas macroeconômicas adequadas,

3 mercado e Estado fortes somente serão construídos por uma estratégia nacional de desenvolvimento; e

4 não é possível atingir o objetivo da redução da desigualdade social sem crescimento a taxas elevadas e continuadas."

A crise econômico/financeira mundial de 2008 provocou instabilidade financeira e um adiamento dos investimentos. A redução dadisponibilidade de crédito gerou incertezas nos financiamentos de grandes projetos. As medidas internas de emergência, em funçãoda necessidade de readequação ao evento, dependeram da capacidade produtiva e das reservas financeiras de cada país.

Segundo Lamoso (2012): "Para além dos diversos efeitos colaterais da crise, pensamos que sua principal contribuição foi oenfraquecimento do discurso neoliberal de redução da participação do Estado e supremacia das leis de mercado." (Lamoso 2012, pp.395)

A revalorização do papel do Estado passou a fazer parte da agenda dos movimentos no cenário internacional.

Segundo Lamoso (2012), variados movimentos internacionais representam impulsos exógenos que provocam reestruturaçãoprodutiva nos países sulamericanos e são absorvidos de maneiras diferentes, de acordo com as especificidades sócioespaciais decada país.

O Quadro 2, elaborado por Lamoso (2012) apresenta uma síntese desses movimentos.

Movimentos relevantes do cenário internacional e implicações para a

reestruturação dos países periféricos

Movimentos

Implicações

Crise financeira de 2008

Instabilidade no mercado financeiro, readequação das políticas públicas em favor da proteção do mercado interno; oscilação docomércio internacional.

Crescimento econômico da China

Maior demanda por matériaprima, valorização das commodities; expansão de investimentos estrangeiros em busca de fatores deprodução, contraponto à influência dos Estados Unidos e da União Europeia no continente.

Movimento de urbanização da China

Maior disponibilidade de mão de obra para o processo industrial, relativo barateamento do custo dos produtos industrializados e maiordemanda por alimentos.

Resultados da ação do Estado na China, Índia, Coréia e Taiwan

Crescimento das empresas com apoio e controle nacional e intenso investimento em P&D altera o padrão de concorrência nomercado internacional.

Regime de acumulação de dominância financeira

Fortalecimento das formas de exploração do trabalho; predominância da lógica financeira em detrimento da industrial; planejamentode curto prazo e valorização da distribuição de dividendos; crescimento da participação dos fundos de investimento como geradoresde estímulos macroeconômicos e novas formas de valorização e gestão da produção.

Crescimento da demanda por commodities e matériaprima

Maior procura pela terra como fator de produção; pressão nos recursos naturais; fortalecimento do agronegócio; conflitos pelo uso daterra.

Quadro 2: Movimentos relevantes do cenário internacional e implicações para a reestruturação dos países periféricos

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Elaboração: LAMOSO (2012, pp. 396)

Segundo (LAMOSO, 2012:397), estratégias neodesenvolvimentistas foram mais claramente elaboradas no segundo Governo Lula daSilva (20062010):

"No primeiro mandato, políticas pouco criativas e mais afastadas do espectro político proposto pela esquerda. No segundo mandadofoi colocada em prática uma maior intervenção do Estado no setor produtivo, estratégias de recuperação da infraestrutura instalada eda formação de capital. A política externa caracterizouse por priorizar a diversificação dos parceiros comerciais e maior integração sulsul, com especial atenção ao bloco econômico do Mercosul."

Políticas de planejamento de longo prazo foram retomadas. O retorno da elaboração de políticas industriais foi marcado pelaimplementação da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) sucedida pela Política de Desenvolvimento Produtivo(PDP), no segundo mandado.

Segundo Lamoso (2012): A política industrial é a arte de provocar a transição da "indústria que se tem" (mais competitiva emprodutos de baixa e média baixa intensidade tecnológica) para a "indústria que se quer ter (mais intensiva em tecnologia)." (Lamoso2012, pp397)

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MDIC (2010), A PDP trabalha com quatro macro metasque são, em (LAMOSO, 2012:397):

"a) Aumento da taxa de investimento, ou seja, da formação bruta de capital fixo;

b) Ampliação das exportações brasileiras no comércio mundial;

c) Elevação do investimento em Pesquisa & Desenvolvimento e

d) Ampliação do número de Pequenas e Médias empresas exportadoras."

Esta política industrial se distancia das práticas anteriormente adotadas, décadas de 1950 e 1960, baseadas na utilização deprotecionismo tarifário, incentivos/subsídios fiscais, esquemas de incentivo de duração ilimitada.

Segundo (COUTINHO, 2003:339 IN LAMOSO, 2012:397):

"a arte da política industrial e de comércio exterior reside precisamente em combinar a captura de novas oportunidades semabandonar as bases da competitividade já adquiridas nas commodities intensivas em recursos naturais, escala, energia e trabalho".

(LAMOSO, 2012:397) citando Almeida (2009), afirma, criticando a política selecionista do BNDS:

" a estratégia de discriminação dos grupos a serem internacionalizados se baseia na escolha de vencedores ("pick the winner"). Ovolume de capital colocado à disposição do BNDES para a execução da política funciona como "combustível" para o fortalecimento dedeterminados grupos de capital privado, tanto para a internacionalização, como para processos de fusões ou de aquisições no país eno exterior."

IV Nacionaldesenvolvimentismo às avessas, uma crítica ao neodesenvolvimentismo brasileiro

Reafirmando, como descrito anteriormente em Lamoso (2012), o Nacionaldesenvolvimentismo pode ser visto, de forma simplificada,como o projeto de desenvolvimento econômico assentado no trinômio: industrialização substitutiva de importações, intervencionismoestatal e nacionalismo.

No plano estratégico o Nacionaldesenvolvimentismo tem como foco o crescimento econômico, baseado na mudança da estruturaprodutiva (industrialização substitutiva de importações) e na redução da vulnerabilidade externa estrutural.

No plano da política econômica o Nacional Desenvolvimentismo implica, segundo (GONÇALVES, 2012:1):

"... planejamento econômico, política comercial protecionista, política industrial pró ativa (incentivos ao investimento privado naindústria de transformação), investimento estatal nos setores básicos, preferência revelada pelo capital privado nacional esubordinação da política de estabilização macroeconômica à política de desenvolvimento. Esta subordinação pode se expressar empolítica fiscal expansionista, juro real negativo, expansão de crédito seletivo e câmbio diferenciado."

(GONÇALVES, 2012:2) entende a redução da vulnerabilidade estrutural externa como assentada nos seguintes pilares:

"1 alteração do padrão de comércio exterior (menor dependência em relação à exportação de commodities, mudança na estruturade importações e redução do coeficiente de penetração das importações industriais);

2 encurtamento do hiato tecnológico (fortalecimento do sistema nacional de inovações), e;

3 tratamento diferenciado para o capital estrangeiro (ou seja, ausência de tratamento nacional via, por exemplo, discriminação nascompras governamentais, restrição de acesso a determinados setores, imposição de critérios de desempenho e restrição na obtençãode incentivos governamentais). Vale notar que o Nacional Desenvolvimentismo reserva papel protagonista para o capital nacionalindustrial e para o investimento estatal, ainda que conte com suporte do financiamento e investimento externos. Ou seja, em

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termos estratégicos, o Nacional Desenvolvimentismo envolve mudanças nas estruturas de produção, comércio exterior epropriedade."

Gonçalves (2012) sustenta criticamente que, nos governos Luis Inácio Lula da Silva, o desempenho da economia e as estruturas deprodução, comércio exterior e propriedade caminharam no sentido contrário ao que seria o projeto Nacional Desenvolvimentista.

Ao contrário para (GONÇALVES, 2012:1): "as estratégias e políticas no Governo Lula implicam resultados que são consistentes com oque se pode chamar de Nacionaldesenvolvimentismo às Avessas."

A análise empírica, realizada por Gonçalves (2012), está dividida em seis partes: estrutura produtiva; padrão de comércio; progressotécnico; estrutura de propriedade; vulnerabilidade externa; e dinâmica financeira.

Sobre a estrutura produtiva do período analisado por Gonçalves (2012), o autor chega à conclusão de que a fronteira de produção doBrasil tem viés prómineração e próagropecuária e antiindústria de transformação.

Visto que (GONÇALVES, 2012:3): "... a participação do Brasil no valor adicionado da indústria de transformação mundial caiu de2,5% no período 199099 para 2,3% em 200007."

O autor ainda afirma que no Governo Lula o processo de desindustrialização[11] é acompanhado pela dessubstituição deimportações.

Sobre o padrão de comércio aplicado pelo governo brasileiro no período analisado, Gonçalves (2012) chega à conclusão de queocorreu uma reprimarização[12] das exportações, evidenciadas segundo o autor, pela maior participação dos produtos básicos(25,5% em 2002 para 38,5% em 2010), enquanto o autor observa tendência de retração no valor das exportações dos produtosmanufaturados (56,8% em 2002 para 45,6% em 2010).

Sobre o progresso técnico, Gonçalves (2012) afirma que ocorreu aumento da dependência tecnológica do Brasil em relação aos paísesmais avançados no mundo. O autor utiliza um indicador que relaciona as despesas com importações de bens e serviços intensivos emtecnologia e os gastos de ciência e tecnologia no país. Esta relação aumenta de 208% em 2002 para 416% em 2010. Ou seja, háduplicação do grau de dependência tecnológica[13].

(GONÇALVES, 2012:9) afirma ainda que houve desnacionalização[14] da economia brasileira, utilizando como indicador verificador adistribuição das vendas das 500 maiores empresas segundo a origem de propriedade. "No Governo Lula a predominância dasempresas estrangeiras no núcleo central do capitalismo no Brasil é evidente e aumenta e, ademais, cresce a importância destasempresas no núcleo moderno (500 maiores empresas)."

No governo Lula, Gonçalves (2012), constata de um lado, ganhos de competitividade[15] internacional nos produtos primários e, deoutro, perda de competitividade nos manufaturados.

Para ilustrar este argumento, (GONÇALVES, 2012:10) faz uma análise comparativa entre a evolução do comércio exterior do Brasilna indústria extrativa mineral e na indústria de transformação:

"O coeficiente de exportações (exportações / valor bruto da produção) aumenta continua e significativamente na indústria extrativamineral de 42,3% em 2002 para 68,9% em 2010, enquanto o coeficiente correspondente da indústria de transformação sobe noperíodo 20022007 e cai em seguida."

Segundo Gonçalves (2012) a reprimarização das exportações envolve, por um lado, maior competitividade internacional emcommodities (produtos agrícolas, matériasprimas e minerais) e, por outro, menor competitividade em produtos manufaturadosintensivos em recursos naturais, o que para o autor caracteriza perda na competitividade econômica internacional.

Gonçalves (2012) afirma ainda que no Governo Lula houve aumento significativo do passivo externo[16] total do país, que passou deUS$ 343 bilhões no final de 2002 para US$ 1294 bilhões no final de 2010.

Gonçalves (2012) aponta para a relação entre remessas de juros, lucros e dividendos e o superávit da balança comercial como sendoesclarecedores da dinâmica entre desequilíbrios de estoque e fluxo. Esta relação cai de 162,0% em 2002 para 101,8% em 2007 esobe para 231,1% em 2010. O resultado é a crescente hipossuficiência[17] do superávit comercial para cobrir as despesas com opassivo externo. Ou seja, o crescente desequilíbrio de estoque gera crescente desequilíbrio de fluxo de renda de fatores no GovernoLula.

No período 2002/2010 (GONÇALVES, 2012:16/18) nota dois processos simultâneos: concentração e desnacionalização.

Assim evidenciados:

" Concentração[18]: pela relação percentual entre o valor total das vendas das 5 maiores empresas e o valor total das vendas doconjunto das 500 maiores empresas (CR5) aumenta de 15,7% em 2002 para 19,3% em 2010. O núcleo central das 50 maioresempresas controla 44,0% das vendas das 500 maiores empresas do país em 2002 e 48,6% em 2010;

Desnacionalização: A participação das empresas estrangeiras no núcleo central do capitalismo brasileiro aumenta de 17,6% em2002 para 19,6% em 2010."

Segundo Gonçalves (2012), a política econômica no período analisado foi pautada por amplo domínio de dominação financeira[19].

Segundo o autor:

"A dominação financeira tem expressão concreta na apropriação do excedente econômico. Para ilustrar, a taxa média de rentabilidade(lucro/patrimônio líquido) dos 50 maiores bancos é sempre superior à das 500 maiores empresas em todos os anos do período 200310. Neste período a taxa média de rentabilidade das maiores empresas é 11,0% enquanto a taxa dos bancos é 17,5%."

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Para efeito de conclusão sobre as analises de Gonçalves (2012), sobre o período denominado neodesenvolvimentista, que tem seuprograma assim definido por (BOITO JR.,2012:4):"é um programa de política econômica e social que busca o crescimento econômicodo capitalismo brasileiro com alguma transferência de renda, embora o faça sem romper com os limites dado s pelo modeloeconômico neoliberal ainda vigente no país."

Segundo Boito Jr. (2012) para buscar o crescimento econômico, os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff (o governo DilmaRousseff não foi analisado empiricamente por Gonçalves, 2011) lançaram mão de alguns elementos importantes de políticaeconômica e social que estavam ausentes nas gestões de Fernando Henrique Cardoso.

Assim (BOITO JR.,2012:4) enumera os elementos:

"a) políticas de recuperação do salário mínimo e de transferência de renda que aumentaram o poder aquisitivo das camadas maispobres, isto é, daqueles que apresentam maior propensão ao consumo;

b) forte elevação da dotação orçamentária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para financiamento dasgrandes empresas nacionais a uma taxa de juro favorecida ou subsidiada;

c) política externa de apoio às grandes empresas brasileiras ou instaladas no Brasil para exportação de mercadorias e de capitais(DALLA COSTA, 2012);

d) política econômica anticíclica – medidas para manter a demanda agregada nos momentos de crise econômica e,

e) incremento do investimento estatal em infraestrutura."

Contudo (GONÇALVES, 2012:19), a despeito dos esforços acadêmicos de viés contrário, em provar o sucesso do modeloneodesenvolvimentista aplicado inicialmente nos governos Lula, argumenta criticamente:

"Durante o Governo Lula os eixos estruturantes do Nacional Desenvolvimentismo foram invertidos. O que se constata claramente é:desindustrialização, dessubstituição de importações, reprimarização das exportações, maior dependência tecnológica, maiordesnacionalização, perda de competitividade internacional, crescente vulnerabilidade externa estrutural em função do aumento dopassivo externo financeiro, maior concentração de capital; e crescente dominação financeira, que expressa a subordinação da políticade desenvolvimento à política monetária focada no controle da inflação."

O Quadro 3, abaixo, sintetiza os eixos estruturantes do Nacional Desenvolvimentismo e a inversão dos mesmos, sustentados porGonçalves (2011), como sendo sinal do modelo econômico, político e social que vem sendo denominado comoneodesenvolvimentismo no Brasil.

Nacionaldesenvolvimentismo

Nacionaldesenvolvimentismo às

Avessas – Governo Lula

Industrialização

Desindustrialização

Substituição de importações

Dessubstituição de importações

Melhora do padrão de comércio

Reprimarização das exportações

Avanço do sistema nacional de inovações

Maior dependência tecnológica

Maior controle nacional do aparelho produtivo

Desnacionalização

Ganhos de competitividade internacional

Perda de competitividade internacional

Redução da vulnerabilidade externa estrutural

Crescente vulnerabilidade externa estrutural

Desconcentração de capital

Maior concentração de capital

Subordinação da política monetária à política de desenvolvimento

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Dominação financeira

Quadro 3: Características do Nacionaldesenvolvimentismo e do Nacionaldesenvolvimentismo às Avessas do Governo Lula

Formulação: Gonçalves (2011), pp. 19

V – Considerações Finais

Enfim, o Brasil avança a passos curtos, nos dando uma impressão de estabilidade econômica e política frente a crises internacionais,mas sem transformar estruturalmente sua sociedade, o que pode ser um erro crucial frente a perspectivas de se alcançar um cenáriode prosperidade que inclua todos os brasileiros.

Alguns desafios a enfrentar. O primeiro desafio seria o de manter as taxas de crescimento do PIB brasileiro, as taxas apontadas porespecialistas variam, mas fundamental é um crescimento sustentável. Para atingir essa meta o Brasil deve controlar a inflação,mantendoa a taxas que devem ser menores que as das pretendidas para o crescimento. Deverá ainda reduzir as taxas de juros quedificultam o crédito a iniciativas de livre investimento e equalizar o câmbio, que ao manter o Real supervalorizado prejudica aindústria nacional, consequentemente a balança comercial. Contudo devemos entender que crescimento de PIB, per capita, dependeda pujança de um Estado financiador de sua economia e garantidor de estabilidade social.

O segundo desafio é aumentar o percentual orçamentário federal de investimento para educação e saúde, garantindo uma gestãointegra dos recursos alocados. Maiores investimentos em educação são ainda necessários para que o Brasil possa fornecer educaçãode qualidade a todos os brasileiros, independentemente das regiões ou espaços urbanos que habitem. Mesmo um incremento demais 5% do PIB, somados aos atuais 2,4% do PIB, não traria de imediato, em curto prazo, resultados amplamente positivos, sendonecessária então, a manutenção desses níveis de investimento em médio prazo.

Para a saúde, igualmente em estado deplorável, apesar de não encontrarmos depreciação sistemática para o cálculo do IDH brasileiro,necessitase maior investimento aliado a uma gestão republicana e competente. Talvez esta variável não venha comprometendo ocálculo do IDH brasileiro por estar ligada à longevidade, mas devemos lembrar que a taxa de natalidade vem caindo, o que contribuipara o equilíbrio desse quesito. O que certamente é um desafio é a gestão da saúde no Brasil. Combater a corrupção e diminuir aimpunidade nesse setor é fundamental para que a população passe a desfrutar de um atendimento humano. É lamentávelassistirmos ao descalabro que assola o sistema de saúde no Brasil, onde os que podem pagam por planos privados de saúde,enquanto os que não podem contar com o atendimento privado aguardam atendimento em filas e corredores de Hospitais Públicos,que mais se parecem com depósitos de seres humanos.

Um terceiro desafio é manter o atual sistema de participação política. A democracia, sem percalços, é recente no Brasil. Apesar demuitos acreditarem ser um direito adquirido e dado, Democracia para o atual desafio proposto é muito mais que o simples depósito deum voto a cada dois anos. Democracia é a liberdade de participação de todos nas decisões da nação, deve ser fomentada pelo governoe amplamente difundida pela sociedade civil. Sociedade civil ampliada, hegemônica e detentora das liberdades que a fazem igualitáriae fraterna.

Somado a esse terceiro desafio, o que pode resultar das iniciativas populares, legitimamente representadas, participativas einclusivas. Luta incessante pelos direitos das minorias, pelo respeito ao planeta do ponto de vista ambiental, pela justa aplicação dosimpostos públicos em serviços, pelo decréscimo da judicialização em contrapartida a uma formulação republicana de direitos edeveres éticos.

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[1] Mestrando do Programa de Pósgraduação do Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

[2] Sobre as condições históricas da implantação do neoliberalismo no Brasil, ver BOITO JR, Armando. Política neoliberal e sindicalismono Brasil. São Paulo: Xamã Editora, 1999, pp. 111 a 122.

[3] Filgueiras(2006) diferencia conceitualmente, neoliberalismo, projeto neoliberal e modelo econômico neoliberal periférico. Oprimeiro diz respeito à doutrina políticoeconômica mais geral, formulada, logo após a Segunda Guerra Mundial, por Hayek eFriedman, entre outros a partir da crítica ao Estado de BemEstar Social e ao socialismo e através de uma atualização regressiva doliberalismo (Anderson, 1995). O segundo, se refere à forma como, concretamente, o neoliberalismo se expressou num programapolíticoeconômico específico no Brasil, como resultado das disputas entre as distintas frações de classes da burguesia e entre estas eas classes trabalhadoras. Por fim, o modelo econômico neoliberal periférico é resultado da forma como o projeto neoliberalseconfigurou, a partir da estrutura econômica anterior do país, e que é diferente das dos demais países da América Latina, emboratodos eles tenham em comum o caráter periférico e, portanto, subordinado ao imperialismo. Em suma, o neoliberalismo é umadoutrina geral, mas o projeto neoliberal e o modelo econômico a ele associado, são mais ou menos diferenciados, de país para país, deacordo com as suas respectivas formações econômicosociais anteriores.( Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura,dinâmica e ajuste do modelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experienciasnacionales. Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto2006. ISBN: 9871183569)

[4] Sobre a incapacidade hegemônica do projeto neoliberal, ver: Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica eajuste do modelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales.Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN:9871183569, pp. 180 a 186)

[5] Na prática existem, pelo menos, quatro modos – não necessariamente excludentes de se identificar, caracterizar e distinguir asdiversas frações do capital, quais sejam: 1) A distinção clássica a partir da oposição entre produção e circulação, que identifica, de umlado, diferentes formas de capital produtivo (agrário e industrial) e, de outro, distintas formas que podem ser assumidas pelo capitaldinheiro (bancário e comercial); 2) A distinção pela origem ou procedência do capital: nacional, estrangeiro ou associado; 3) Adistinção pelo tamanho do capital: grande, médio e pequeno; 4) E, por fim, a distinção pelo lugar de realização dos lucros: o mercadointerno, o mercado externo ou ambos os mercados. : Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste domodelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales.Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN:9871183569, pp. 179 e 180)

[6] "O processo de desnacionalização, que acompanhou o Plano Real, foi crescente e atingiu todos os setores: indústria, comércio eserviços. Isto decorreu da natureza dos investimentos estrangeiros no Brasil, entre 1994 e 1998. De um total de US$ 65,5 bilhões,55,4% (US$ 36,3 bilhões) foram para a compra de empresas brasileiras já constituídas." (Filgueiras, 2000: 162)."O número deaquisições de empresas brasileiras por estrangeiros, entre 1994 e 1998, cresceu 146%, passando de 63 para 237, totalizando, noperíodo, 676 operações sem contar incorporações, acordos e associações. O estoque de investimentos estrangeiros, quecorrespondia, até 1995, a 6,11% do PIB, passou a representar, em 1998, 12,34%." (Filgueiras, 2000: 163). Entre os 100 maioresgrupos econômicos privados do Brasil, no ano de 2001, pelo menos 50% eram estrangeiros (Exame, 2002). IN: Filgueiras, Luiz. Oneoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste do modelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo y sectores dominantes.Tendencias globales y experiencias nacionales. Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de CienciasSociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN: 9871183569, pp. 190)

[7] "Na reforma administrativa, a questão básica foi a separação dos diversos segmentos do Estado de acordo com as denominadasfunções ‘próprias' de Estado e as ‘outras', abrindo, assim, a possibilidade da terceirização de uma série de atividades na área socialpara a atuação de empresas privadas. Isto está associado à questão da estabilidade do funcionalismo, identificada como o empecilhofundamental para ajustar as contas públicas, em especial dos estados e municípios. Assim, aprovouse a possibilidade de demissãopor excesso de quadros – quando os salários pagos ultrapassarem mais de 60% das receitas – e por ineficiência." (Filgueiras, 2000:111). IN: Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste do modelo econômico. Em publicación:Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales. Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO,Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN: 9871183569, pp. 195)

[8] 5 A Dívida Líquida do Setor Público saiu de U$S 153 bilhões, em 1994, para quase U$S 1 trilhão ao final do terceiro ano doGoverno Lula. Nesses últimos três anos foram pagos mais de U$S 400 bilhões de juros; apesar disso, seu valor absoluto só fezcrescer e o seu valor em relação ao PIB reduziu muito pouco, em virtude, principalmente, do processo de revalorização do real apartir de 2003. IN: Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste do modelo econômico. Em publicación:Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales. Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO,Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN: 9871183569, pp. 195)

[9] Com relação ao orçamento da União, por exemplo, a criação de um instrumento como a Desvinculação de Receitas da União(DRU), permite desvincular 20% do montante total das receitas, possibilitando uma transferência crescente de recursos dapopulação, que deveria ir para educação, saúde, previdência social, estradas etc, para o pagamento dos juros da dívida pública. IN:Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste do modelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo ysectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales. Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, ConsejoLatinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN: 9871183569, pp. 195)

[10] Sobre a instabilidade apresentada no primeiro governo FHC, ver: Filgueiras, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmicae ajuste do modelo econômico. Em publicación: Neoliberalismo y sectores dominantes. Tendencias globales y experiencias nacionales.Basualdo,Eduardo M.; Arceo, Enrique. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. Agosto 2006. ISBN:9871183569, pp. 196 e 197)

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João Carlos Peixe Perfil do Autor:

Mestrando do Programa de Pósgraduação doDepartamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio deJaneiro

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Palavraschave do artigo: brasil, desigualdade de reanda, nacional desenvolvimentismo

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Fonte do Artigo no Artigonal.com: http://www.artigonal.com/ensinosuperiorartigos/brasildoneoliberalismoaoneodesenvolvimentismoovoorasteirodeumaeconomiasocialquenaodecola6842910.html

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